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Im periais
Edm undo Cam pos Coelho
As
P r o fis s õ e s
im p e r ia is
Medicina, E ngenharia e
Advocacia no Rio de Janeiro
1 8 2 2 -1 9 3 0
A __________
E D I T O R A R E C O R D
R IO DE JA N E IR O • SÃ O PA U LO
CIP-BrasS. Catalogação-na-foute
Sindicato Nacional dos Editores de livros, RJ.
Coelho, Edmundo Czropos Em I a de janeiro de 1999 transcorreram exatos trinta anos de minha
C6I5p As profissões uapesiaís: medicina, engenharia
e advocacia no Rio de Janeiro, 1822-1930 / admissão no corpo docente do Iuperj, que nestas três décadas foí minha
Edmundo CamposCoelho.—Rio de Janeiro: Record,
1999. única Casa. Não encontro forma toais feliz de comemorar por antecipa
ISBN 85-01-03653-7 ção do que dedicando este ensaio aos que criaram o Instituto, nele per
1. Profissões - Kio de Janeiro (RJ) - História. maneceram ou a ele recornaram e aqui generosamente me tem acolhi
2. Advocacia - Rio de Janeiro (RJ) - História.
3. Medicina - Rio de Janeiro (RJ) - História. do. A Cândido Mendes, Wanderfey, Maria Regina, Cesar, Machado,
4. Engenharia—Rú>deJaneiro(RJ)- História I. Título.
Carlos, Renato Boschi. E ao Bolívar Lamouníer que em 1969 me fez o
CDD —981.04
99-0778 CDU —981“1822/1930” convite.
IS B N 85-01-05653-7
P E D ID O S P E L O R E E M B O L S O PO ST A L
C a ix a P o s ta l 2 3 .0 5 2
R io d e Ja n e iro , R J - 2 0922-970 EDITORA AFIL1ÂD&
SESPA
& tty /200Q
P R E FÁ C IO
P R Ó L O G O <À G U IS A D E T E O R IA )
1. R e g u lan d o as profissões 19
2 . E stad o , m ercado e as profissões 36
PRÓ TA SE
3 . O s profissionais n a sociedade d a C o rte 71
E P ÍT A S E
4 . O D r . J o b im e sua A cadem ia 105
5 . Á m aç o n a ria d e Q uincas, o Belo 151
6 . Â apoteose d e M m e L ab at 192
CATÁSm SE
7 . lib e r d a d e profissional: u m a controvérsia republicana 227
CATÁSTROFE
8 . A cam inho d a Revolução 265
E P ÍL O G O
9- D e v o lta ao P rólogo 289
PRÓLOGO
(À GUISA DE TEORIA)
*
R egulando as profissões
‘W anderiey G uiiberm e dos Santos, Cidadania ejustiça. Rio de Jaaeiro: Editora Cam pus, 1979,
pp- 74-79-
^ o b re w n classificação, idem , ibldem, p . 58.
ção d a s e lite s p ro m o v id a p e lo m o v im e n to rev o lu c io n á rio d e 3 0 ro m p e tido d e adesão pública, a u m credo religioso e , ta m b é m , o a to d e to m a r os
com a rig id e z id eo ló g ica d a R e p ú b lic a V elha, a b rin d o a b re c h a q u e h a vocos d e u m a o rd e m religiosa. E ste é u m dos sentidos e m q u e o term o fora
veria d e p e r m itir o exercício d e e n g e n h a ria social c o n su b sta n c ia d o na em p reg ad o e m P o rtu g a l no século X V II, como se lê n o p a d re A ntonio V ieira
reg u la ç ã o o c u p a c io n a i e n a p o lític a p re v id e n c iá ria q u e a e la se se g u iria . ao le v a n ta r ele dúvidas sobre o p erte n c im e n to à o rd e m do seu confrade
E m su m a , e n te n d o q u e o q u e W a n d e rle y G u ilh e rm e d o s S a n to s re g is tra , jesuíta, o Pe. A n to n io N oíasco, q u e além de '‘to ta lm e n te id io ta” ad m itia
e q u e c u id a d o sa m e n te deixo a q u i a n o ta d o , é o fra g o r d e u m a a b r u p ta q u e “sua profissão foi n u la...”3. E m Vieira en co n tram o s a seg u n d a acepção
fra tu ra e s tr u tu r a l n a so c ie d a d e b ra s ile ira , u m a d e ssa s in s ta n c ia s d e d o te rm o , a in d a n u m a refe re n d a ao Pe. N olasco q u e “é religioso m ercen á
d e sc o n tin u id a d e h istó rica e m vários p la n o s q u e b e m ju stific a m a c e ie b ra - rio, cuja profissão é rem ir cativos...’’. Peio texto e n ten d e-se q u e a atividade
Ção d a s ru ín a s d e u m ancien régime. h a b itu a l d e ta l sacerdote, seu “oficio” n a província d o P ará, não eta o d e set
Isso p o s to , re to m o o te m a d a reg u la ç ã o o c u p a c io n a i o b se rv a n d o q u e pároco nas igrejas d o s índios, m a s o d e aco m p an h ar soldados po rtu g u eses
W an d erley às vezes u tiliz a in te rc a m b ia v e lm e n te o s te rm o s “p ro fissã o " e e m suas incursões p e lo in terio r p a ra liv rar índios cativos d e trib o s inim igas
o cu p a ç ã o ”, o u tra s vezes su g e re q u e c a d a q u a l te m u m re fe re n te d is tin e vendê-los e m seguida aos colonos. E m o u tro te x to , diz V ieira q u e “os
to (“profissões e /o u ocu p açõ es”), m a s se m p re co n fia n d o e m q u e o le ito r p ad res d a C o m p an h ia d e Jesus, q u e residim os nesce E srado, não só som os
sa b e rá e sta b e le c e r c o n c e x tu a ím e n te as d ife re n ç as. E le s u g e re a p is ta religiosos p o r p ro fissã o , m as p o r ofício som os p á ro c o s d a s igrejas dos
m e n c io n a n d o u m a vez n o te x to u m p ro fissio n a l d e nível s u p e rio r, o ín d io s..."4.
sociólogo, ao e x em p lificar a d issem in ação d o co n c e ito d e c id a d a n ia re “D eclaração p ú b lica”, “v o to ” e “ofício” são o s significados p a ra profis
g u la d a n a c u ltu r a cívica d o p a ís. D e v o d iz e r q u e , d e fa to , a d istin ç ã o n ã o são registrados e m to d a s as edições n o século X I X do Dicionário da Língua
é re le v a n te n o te x to d e W a n d e rle y G u ilh e rm e , já q u e p a r a o s e u a r g u Portugueza d e A n to n io M oraes Silva. N ã o sei q u a l edição d o M oraes Silva
m e n to nã© in te re ssa m as im p o rta n te s diferen ças e n tre a forma de regulação registrou-o p o r p rim e ira vez, m as a 4 a d o C ândido d e F igueiredo, d e 192 5 >
d a s profissões d e nív el su p e rio r e a d a s d em ais o c u p a ç õ e s. A lé m d esse a in d a n ã o havia an o ta d o o term o “profissões liberais".5 O L audeiino Freire,
p o n to , to d a v ia , n ã o a p en as as diferen ças e n tre as fo rm a s d e re g u la ç ã o d e 1943 tra z o reg istro : “Profissões liberaes: a m edicina, o professorado, a
m a s p rin c ip a lm e n te as razões dessas diferenças to rn a m -s e essenciais p a ra advocacia”.6 O rig in a lm e n te , o te rm o latin o liberalis designava o indivíduo
o meu a rg u m e n to , te n d o e m v ista , e m p a rtic u la r, a s c o n tro v é rsia s q u e o q u e , adem ais d e liberdade política, gozava de boa situação m aterial, o que
te rm o “p ro fissão " e o se u uso em d ife re n te s so cied ad es tê m su sc ita d o n a lh e p e rm itia d ed icar horas d e lazer ao escudo o u , m ais precisam ente, às artes
lite ra tu ra so ciológica. P a ra d e s lin d a r o p ro b le m a é n e cessária e sb o ç a r liberales q u e co n stitu íam su a m ais a d e q u a d a educação. N a In g la te rra e nos
p re lim in a rm e n te e s ta d istin ç ã o , e p a r a ta l p ro p ó s ito p e rm ita -m e o le ito r E stados U nidos d o século X V III, as liberal arts significavam u m a educação
a b rir u m lo n g o p a rê n te s e d e n a tu re z a lexicográfica. d e co rte h u m an ístico , ab ra n g e n te e suficientem ente v e n tila d a p a ra ser p ró
3Pe. A ntonio Vieira, “ín fo n n a ç ia sobre o m odo com que foram tom ados e sentenciados po r
cativos os índios do a n o de 1655“’, etn Obras completas, voh V , Obras varias (III). Prefácio e notas
d e A ntonio Sérgio e H e m ân t Cidade. Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1951, p. 4 1.
‘‘“Representação ao senado da caarara do Pará”, idem , ibídem , p p. 153-154.
5A prim eira edição do Dicionário de Moraes Silva data de 1789; a 8 a e últim a no século X IX , de
U m a d a s dificuldades com o term o “profissão” ad v ém d e sua n a tu re z a 1891, e a 10a é de 1948; a 9 a edição não tem data e n ã o a encontrei nas principais bibliotecas do
polissem iea.D erivado do vocábulo htinoprojèssm, significava o rig in alm en te Rio de Janeiro. O de C ândida d e Figueiredo é o Nova dicionário da Língua Portuguesa, 4a edição.
Lisboa: A rthur Brandão & C a., 1925-
^Grande e novíssima dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Á N oite Editora, 1943-
p ria d a s sbree: kam edprofm ions, q u a is sejam : d m n ity, physica nd lavP . D a í à p re te n d o d esig n ar som ente os estu d o s clássicos d a poesia, d a eioqüencia e
v in c u la ç ã s dzsl3&ra.larts com âsliberalprofessiom foi u m passo, m a s a ênfase d a g ra m m a tic a g e ra l, m as ta m b é m esses alto s estu d o s d e p hilosophia, das
se m p re esteve n o c o n teú d o d esta m o d a lid a d e de educação e n a d ig n id ad e s d e n d a s históricas e philoíogícas...”.I<J A in d a assim , sem serem “cultas”,
d a s profissões q u e n e ia se fu n d av am . A liberal educatim in g lesa o u am erica e ra m as “profissões liberais” (a m edicina, o m agistério, a advocacia) as esco
n a incorporava— o u ainda in co rp o ra— as conotações d a Bildung germ ânica lhas m ais apropriadas aos indivíduos livres e aos espíritos in d ep en d en tes.
e a velha, distinção q u e os gregos d a A n tig u id a d e estabeleciam entreeleutherios N o te -s e q u e esta trin d a d e profissional diverge d a v arian te anglo-am ericana
ebanamos,„e n tre a educação q u e p ro m o v e o cultivo d a m e n te o u d o espírito p ela substituição d a teo lo g ia p ela educação, m as não sei com o explicar a
e a edu cação n a s artes m ecânicas o u técnicas, a educação “v u lg a r”.8 divergência. Seja com o for, os dicionários m ais antigos n a d a acrescentaram
Assim ,, e se dicionários são confiáveis g u ia s nessas m a té ria s, “profissão ao q u e o Laudelino já registrara: n e m novos vocábulos relacionados a “p ro
lib eral” n ã o te ria sido term o usado e m P o rtu g a l o u no Brasil a n te s d o século fissão” nem significados novos p a ra o te rm o . Passo, e n tã o , ao A u rélio 11.
X X . E q u a n d o o reg istram p o r p rim e ira vez p o d e-se su p o r p o r desenvolvi N o A urélio o prim eiro significado d e profissão é o d e “declaração ou
m e n to s posteriores q u e a ênfase, ao c o n trá rio d a v a ria n te anglo-am ericana, confissão p ú b lica d e u m a crença, sen tim en to , opinião o u m o d o d e ser” (1);
foi p o s ta n o exercício “livre” o u au tô n o m o d a s trê s profissões, m ais no a tri o seg u n d o é o d e “atividade o u ocupação especializada, e q u e supõe d e te r
b u to d e “liberais” d o que p ro p ria m e n te no d e “cu ltas". M as dicionários não m in a d o p rep aro ”: a profissão de engenheiro, a profissão d e m o to rista (2). O
são confiáveis nessas m até ria s. O te m ia já e ra u sado n a lin g u a g e m coloquial terceiro, d e “atividade o u ocupação especializada que encerra certo p restí
d o século. X IX , e a conotação q u e se d a v a a “profissões liberais” não as g io pelo c a rá te r so d a l o u intelectual”: a profissão de jo rn alista, d e ator; as
v in cu lav a a. q u a lq u e r preparação sem elh an te a u m a liberal education, e ra ra profissões liberais (3). E ste terceiro sentido resu lta d a adição ao an te rio r do
m e n te eram vfecas no Brasil cu lto com o profissões “cu lta s”. E m u m in te re s a trib u to d o prestíg io social o u in telectu al, d e form a q u e o b té m -se aqui a
s a n te d e b a te n a C âm ara, e m 1 8 7 7 , sobre lib erd ad e d e ensino, o d e p u ta d o so m a das seguintes características: especialização q u e re q u e r a lg u m preparo
C u n h a L eitão referia-se à ad v o cad a e à m ed icin a n ã o com o profissões libe + p re stíg io social o u in telectu al. O q u a rto significado é o d e “carreira": a
rais, m as se m p re com o “profissões lucrativas” q u e n ã o se fu n d a v a m n u m carreira jurídica (4). O q u in to , o de “m eio d e subsistência rem u n erad o re
“ensino elevado”, m a s n u m a instrução “p rá tic a ”;9 to d av ia, n a m esm a época, s u lta n te d o exercício de u m tra b a lh o , d e u m ofício” (5)- E e sta a acepção
e ta m b é m dítscatindo a lib erd ad e d e en sin o , F rao k lin D ó ria m e n d o n a v a o c o rre n te n o p o rtu g u ê s coloquial e q u a n d o se p e rg u n ta ao indivíduo q ual
d ip lo m a d a s nossas faculdades com o u m “p a ssa p o rte p a ra as profissões libe su a profissão deseja-se sab er apenas q u a l seu m eio h a b itu a l d e g a n h a r o
rais”, m a s fa@3 a d ia n te co n trastav a-o com os “g rao s p u ra m e n te rientífícos” s u s te n to , e a re sp o sta c o rre ta p o d e ser q u a lq u e r das “profissões”, espe
concedidos p d a s universidades alem ãs, la m e n ta n d o , adem ais, q u e o s p ro je cializadas o u não especializadas, d e p restíg io o u sem p restíg io s o d a l o u in
to s p a ra u m a universidade n o B rasil não incluíssem u m a “facu ld ad e d e le telectu al: “so u en g enheiro”; o u “so u m o to rista ” ; o u “so u a to r”, etc.
tra s : e , senhores, q u an d o m e refiro à litte ra tu ra , e s tá b e m visto q u e não F in a lm e n te , q u a n d o se acrescenta ao vocábulo “profissão”, n o terceiro
sen tid o acim a m e n d o n a d o , o term o “liberal” ob tém -se a se g u in te definição
7B ruce Kimbal3»T,Ôeí‘2r»? ProfessionalIdeal”m America:A History. Boston: R ow m aa & Littlefield, a o A urélio: “profissão d e nível superior caracterizada p e la inexistência de
1 995, especialm ente p p . 9 9 -1 0 2 . Seria cansativo m encionar p o n to p o r p o n to e m sucessivas
n o tas a extensão, d o m e u d é b ito nesta seção com este excepcionai livro.
q u a lq u e r vinculação hierárquica e pelo exercício p re d o m in a n te m e n te técní-
S h e ld o n Rocfiblktt, ”I h e lim bs o f Osiris: Fiberaí education in th e E nglish-speaking world", em
Síefcfoô R othbíatt e Björn W k tto c k (orgß.\ The European and American University since 1800: “ íd em , sessão de 4 d e o u tu b ro de 1877, p p . 32-39-
Historical and Sodolagkai Essays. Cam bridge: Cam bridge University' Press, 1 993, p . 2 5 . “Aurélio Buarque d e H olanda Ferreira, Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio d e Janeiro:
3'Anaisda Cãmam-dosDeputados, sessão de 4 de setem bta de 1877, A ppendice, p p . 135-146. N ova Fronteira, 2 a edição, 33a impressão, 1996.
AS PROFISSÕES IM PERIAIS / / 25
l3"Q t!ier so-caíÍed sktlls m ay b e entirely nonexísteat, sach as th e case o f th e social worker,
aÍSéíTenEe “ " T bím ° m3ÍS ~ -vela que nlim* whose profèssional rhetcmc covers u p activities as w elfite functiooaríes, o r ©f psychiatrists
whose cures do n o t exceed ene proportion expectabFe b y chance." Randall CoFlins, The Credential
Scciety: A n HistorkalSocíohgy o fEducation and Stratfkation. N ova York: Acadeinic Press 1979,
p . 1 3 3 . Collisis cham a a estas ocupações de pseudoprofessioni.
I4Fie£dsoa, op. cit-, p . 129-
çao su p en o r, p re stíg io social, n a tu re z a técnica d o co n h ecim en to ) sejam n e III
cessárias n a definição das seg u n d as. P o r e u tro la d o , n e m to d a s as ocupações
q u e sociologicam ente são hoje profissões tin h a m t a l e s ta tu to no p assad o . O É p o ssív el a g o ra e n te n d e r as h e sita ç õ e s te rm in o ló g ic a s d e W a n d e rle y
q u e o s sociologos ch am am d e “profissionalização" co n siste p recisam en te no G u ilh e rm e do s S a n to s. O q u e ele afirm a é q u e a reg u la ç ã o e s ta ta l fox ex
processo peio q u a l ocupações a d q u ire m o sta tu s d e profissão, e boa p a r te d a ten siv a à s ocupações d e nível su p e rio r com o a m ed ic in a , a e n g e n h a ria , a
lite ra tu ra d esd e pelo m en o s os anos 6 0 tr a ta d e esclarecer o c a rá te r h isto ri fa rm á c ia. N o e n ta n to ele não disp õ e d e u m te rm o p a ra d istin g u i-la s das
c am en te c o n tin g e n te d e ste processo e suas form as e variações d e sociedade d em ais o cupações. “Profissão”, com o já se v iu , in c lu i ta n to as de nível
p a ra sociedade,
su p e rio r q u a n to o u tra s q u e re q u e re m “d e te rm in a d o p re p a ro ”, m as não
T à l W isso b aste p a ra situ a r o le ito r n o s m e a n d ro s c o n ceitu ais, o s d e n e c essariam en te a d q u irid o nas u n iv ersid ad es. E n a acepção q u e lh e d á o
senso c o m u m e os sociológicos. Todavia é b o m ad v e rti-lo so b re a o b serv a A u rélio “profissão lib e ra l” d eix aria d e fo ra m u ita s profissões d e nível s u
ção d e FreM son d e q u e “profissão" é p o ssiv e lm e n te u m co n ceito fo lk cujo p e rio r: a e n g e n h a ria , p o r exem plo, o u a farm ácia, m e sm o se o te x to de
uso d ev eria s e r reserv ad o p a ra c o n te x to s nacionais e h istó ric o s específi W a n d e rle y d a ta sse d e 1 9 3 0 . N ã o o b s ta n te a carên cia d e u m v ocábulo q u e
cos.15 D iferences sociedades a trib u e m -lh e significado diverso e a lg u m a s a fixe, te ria sido im p o rta n te q u e a d istin ção e n tre a s o cupações d e nível
n e m m e sm o c o n h ecem o te rm o .16 F o ra d o s te x to s d e sociologia n ã o existe su p e rio r e as d em ais houvesse ficado b e m e stab elecid a p e lo sim ples uso do
q u a lq u e r e q u iv a le n te em alem ão p a r a o te rm o prafesnon e po d e -se a firm a r te rm o profissão. P o r quê?
o m esm o, c o m relação ao francês: professiam se m o qualificativo libérales E n tre o u tra s razões, p o rq u e as profissões (de a g o ra e m d ia n te , p a ra d e
refere-se & q u a lq u e r ocu p ação .57 E m su m a , o s sociólogos p re te n d e m q u e sig n a r ocupações d e nível superior) não estão inseridas n o processo p ro d u ti
se ja u m co n c e ito genérico q u a n d o se tr a ta d e u m co n c e ito h isto ric a m e n te v o o u n o d e acum ulação strictu sensu.18 O q u e os profissionais pro d u zem , ao
c o n tin g e n te r a m raízes e m in stitu iç õ e s in g lesas e n o rte -a m e ric a n a s. D ito co n trário do operário in d u stria i o u do artesão, é d e n a tu re z a intangível e
isso, o le ito r d e v e rá re fle tir se ria m e n te so b re a su g e stã o d e J a ra u s c h : sim qu ase sem p re inextrincaveim ente vinculado à pessoa e à personalidade do
p le s m e n te a p o s e n ta r p a r a efeitos d e análise a acepção a n g lo -a m e ric a n a p ro d u to r.19 T am bém o regim e d e tra b a lh o do profissional n o início dos anos
associada & “p ro fissão ”.
3 0 e ra in te ira m e n te diverso d o reg im e a q u e estava su b m e tid o o operário.
M édicos e advogados e ra m p re d o m in a n te m e n te au tô n o m o s o u “liberais”, e
18A propósito, este. é a razão pela qua! as profissões de nível superior provocam ex cruciantes
S tU d y * * * o f FormalKnowledge. C h ic a dores d e nos autores marxistas q u e procuram acomodá-las d e n tro do clássico esquem a
g o . T h e U iu v e rs jS y o f C h ic a g o P re s s , 1 9 8 6 , p p . 3 0 - 3 5
d e classes d o m arxism o roais ortodoxo. O s analgésicos analíticos produzidos p o r neomarxistas,
- S i n c e t f c e ig h te e n th c e n tu ry n o tio n o f Professions e v e n t u a l l y d i s a p p e a r e d , t h e w o r d sendo O íin W right o m ais notório deles, resultam irônica e freqüentem ente e m sucessivos e
S S Ï T * “ “ * * * 10 - * ™ * » s o d a l s c ie n tis ts a f t e r d T s Z d transitórios estados d e alívio analítico caracteristicam ente neoweberianos. Ver Eric O ü n W right,
W o r ld W a n The ganam g G e r m a n c o n c e p t w a s B eruf a P r o t e s t a n t s e n s e o f c a l lin g t h a t d u r i n g "R ethinking once again th e concept o f class structure”, em Eric O lin W right (ed) The Debate
“ T fT * W ith tK e ia t£ feUdaf l‘dea °f ^W >d e n o t i n g s o d a ! e s ta te , to On Classes. Londres: Verso, 1987, especialm ente p p . 2 6 9 -3 4 8 . Tam bém o cáustico texto de
fo r m t h e t y h n d Benfsstand. D u r i n g th e e m p ir e t h e h ie ra rc h ic a l c o lle c tiv e t e r m n a r r o w e d t o fra n k Parkin, Marxism and Class Theory:A Bourgeois Critique. Londres: Tavistock, 1979. Tam bém
^ henj m0dl'fied * *** aclject’ve akadenmch, d e s i g n a t e d a n a c a d e m ic a lly R aym ond M u rp h y Social Closure: The Theory o fMonopolization and Exclusion. Oxford: Claredon
JT C t’ “T h e G e r m â n P s o k s s io D S * ^ r y a n d theory**, e m Press, 1 9 8 8 . U m a excelente análise e m apeam ento da questão foi feito p o r Marli D iniz, 0s
U o i v e J t y P r e s s . ^ p ^ ' i 3” ' N o v a York: O xford donos do saber: Profissões e monopólios profissionais. Rio de Janeiro: Tese d e D outorado, IUPERJ,
Í9 9 6 .
iV Ï? “ * iîÈ éif f a : in te lle c tu e l ( a rc h ite c te , a v o c a t, m é d e c in ) q u e I o n e x e rc e ^M agali Sarfatti Larson, The Rise o f Professionalism: A SociologicalAnalysis. Berkeley: University of
li b r e m e n t o u s o u s Se s e u l c o n trô le d ’u n e o r g a n is a t io n p ro fo ssio n n e lîe ."’ Petit Robert, 1 9 7 3 .
California Press, 1977, p . 14.
AS PROFISSÕES IM PERIAIS / / 29
s a s t e s s it S S S S E S S 2 ;
dos d e ensino superior oficiais o u reconhecidos serão válidos em todo o ter
ritório nacional, entende-se, n a tu ralm ente, q u e se tr a ta d e validade p ara
efeitos legais- N o â m b ito das atividades p artic u la res não é necessário q u e apenas na esfera d a form ação profissional através das freq ü en tes e m inucio
u m curso seja reconhecido p a ra q u e seu d ip lo m a seja aceito com o idôneo sas resoluções do Conselho F ederal de E ducação. O p a n tag ru élico a p e tite
para. q u alificar profissionalm ente seu possuidor. N a esfera d a s atividades regulatório do Conselho to m o u -se p artic u la rm en te insaciável d u ra n te os
profissionais n ã o reguladas p o r lei, a validade de u m d ip lo m a h á d e se m ed ir governos m ilitares pó s-6 4 . Em tese, e ra lim itad a sua com petência no que
tão -so m en te p ela eficiência do curso co m p ro v ad a n a p rá tic a profissional.”21 dizia respeito aos cursos q u e p re p a ra v am p a ra as profissões re g u la m e n ta
Isso significa q u e , em se tra ta n d o d e profissões re g u la m e n ta d a s (aquelas das: “N ão cabe a este Conselho o p in ar sobre a conveniência de reg u lam en
cujos cursos acadêm icos d e form ação achavam -se so b c o n tro le do C onselho ta r profissões, criando o privilégio do exercício profissional, m as tão-som en
F ederai d e E ducação), o v alo r d o d ip lo m a com o a te sta d o d e com petência te a com petência p a ra fixar os currículos m ínim os e a duração d o s cursos
profissional in d e p e n d ia de q u a isq u e r dem onstrações prá tic a s d e perícia p o r q u e forem reg u lam en tad o s.”22 N ã o e ra pouca coisa. M as havia m ais. Q u a n
p a rte d o p o rta d o r, ocorrendo o inverso com as profissões não re g u la m e n ta d o o governo dispensou do “exam e d e o rd e m ” os bacharéis em D ireito p a ra
d a s, aq u elas cujos cursos acadêm icos d e form ação n ã o necessitavam p a ra efeico de inscrição no q u ad ro d a O rd e m dos A dvogados, to rn o u -se com pe
fu n cio n ar d e autorização do C onselho. N o prim eiro caso, a p osse do diplo tência d o C onselho Federal d e E ducação disciplinar o estágio d e p rá tic a
m a concedido pelas escolas era prim a fa d e evidência d e p erícia e g a ra n tia u m forense e d e organização judiciária, q u e substituiria o exam e.25 N a p rá tic a
m e rc a d a “p ro te g id o ”; no se g u n d o , e ra a com petição n u m m ercad o literal coube-lhe fixar as condições p a ra o exercício legal d a advocacia, d a d a a exi
m e n te livre q u e havia d e co m p ro v ar a co m petência profissional. gência, ta m b é m legal, de inscrição n a O rd e m . N a form ação d o s m édicos
E x tin ta s a s condições p o lític a s e ideológicas q u e e n c a m in h a ra m nos era tam b ém o C onselho q u e m disciplinava o In te rn a to . E m sum a, era sua a
anos 3 0 a o rg an ização c o rp o ra tiv a d a s p rofissões, n ã o su rp re e n d e q u e o com petência d e re g u la r o d iâm etro do funil pelo q u a l necessariam ente d e
m o d e la te g u la tó rio te n h a sobrevivido às c irc u n stâ n c ias q u e o g e ra ra m . veriam passar, ao finai dos cursos acadêm icos regulares, os candidatos ao
T odas a s profissões não re g u la m e n ta d a s p a ssa ra m a a sp ira r aos privilégios exercício das profissões reg u lam en tad as.
d a regulação e , p o rta n to , investiam n a m a n u te n ç ã o d o m o d e lo corporativo, É razoável su p o r q u e p o r d e trá s d e m u ita s das resoluções d o C onselho
a té p o rq u e © se u aspecto p re su m iv e lm e n te n e g a tiv o , o d a tu te la do E sta F ederal d e E ducação estivessem as elites profissionais re p re se n ta d as nos
do e a au sê n c ia d e capacidade a u to -re g u la tó ria , v irtu a lm e n te d eix ara h á G ru p o s d e Especialistas aos q u a is os conselheiros p o d ia m re co rrer p a ra
m u ito d e e x istir. A vinculação ao M in istério d o T rab alh o to rn o u -se p u r a assessoram ento. N o s anos 7 0 as resistências à autorização p a ra a b e rtu ra
m e n te n o m in a l; os Conselhos profissionais fo ra m “b a k a n íz a d o s ” p elas as de novas escolas de m edicina o u p a r a o c red en ciam en to definitivo d e o u
sociações e sin d icato s q u e , n o â m b ito d e a lg u m a s profissões, fe rre n h a - tra s já e m fu n cio n am en to fo ra m in sp irad as p o r escudos d e u m g ru p o de
m e n te d ísp u ra v a m se u co n tro le. R eplicando o q u e o co rria e m v irtu a lm e n te em in e n te s m éd ico s c o n stitu íd o s e m C om issão E special pelo M inistério d a
to d a s a s o cupações sindicalizadas, as lid eran ças d a s associações e sindica Educação.
to s p ro fissio n ais desenvolveram sólidos interesses n a conservação d a e s
tr u t u r a im p la n ta d a no p ó s-3 0 . T am b ém o s C onselhos a fe rra ra m -se ao
m o d e la c o rp o ra tiv o q u e lh es p ro p o rc io n a v a preciosos canais d ie n te lís tk o s
e p o d e re s consideráveis.
■
“ Parecer 352/73, Conselho Federal de Educação.
A o fim e ao cabo, a ingerência efetiva d a E stad o to rn o u -se conspícua 2,Lei a° 5842 de 6 de dezembro de 1972. O Parecer 162/72 do CFE fixara ero 2-700 horas a
duração (m ínim a) das atividades escolares para cum prim ento do currículo m ínim o; a Resolução
n° 15 de 2 d e m arço de 1973 fixava em trezentas horas as atividades para cum prim ento do
estágio.
28 tí E D M U N D O C A M PO S C O E L H O
A S PROFISSÕES IM PERIAIS // 29
na Câm ara e no Senado. N orm alm ente haverá u mlobby d a profissão p a ra acom se n a E te ra tu ra u m “m odelo anglo-am ericano” e u m “m odelo eu ro p eu -co n -
panhar nas casas legislativas a tram itação d o processo, m as ao fim. to d o o em pe rinental” d e processos d e profissionalização, d u a s m atrizes históricas das
nho pode ser frustrado p o r u m veto presidencial. E m todo caso, a iniciativa te m quais te ria m surgido ao lo n g o do século X I X as form as institucionais das
pertencido à com unidade profissional interessada. profissões m o d e rn a s. D esd e logo cada m odelo p o stu la e n tre o E stad o e as
Seja com o for, esgotadas as condições históricas q u e a in sp iraram em profissões u m a e s tru tu ra relacional q u e é o reflexo especular do q u e se vê no
sua form a a tu a l, é difícil d istin g u ir hoje o específico interesse d o E stad o n a o u tro : e m u m , a intervenção e statal; no o u tro , a auro-regulação profissio
regulação profissional. E m p articu lar, e utilizando a fó rm u la do an tig o C on nal. A dem ais, o “m odelo anglo-am ericano” é n a lite ra tu ra p e rtin e n te o d a
selho Federal de E ducação, não é facií enconcrar razões d e E stad o p a ra a profissionalização bem -sucedida; o “m odelo e u ro p eu -co n tin en tal”, u m a his
existência do híbrido sistem a com posto d e u m lado p elo “â m b ito d a s ativi tó ria d e fracasso. E m b o ra contestados, m a s à falta d e u m a terceira via, em
dades p articulares” identificado com a esfera das atividades profissionais q u a l d o s m o d elo s encantar o caso brasileiro?
não reg ulam entadas, e d e o u tro , p o r c o n tra ste , p e la esfera d a s atividades S ituá-lo n o contexto d e sta controvérsia é tarefa na d a fácil. E talvez in ú
profissionais reg ulam entadas q u e seria o “âm b ito das atividades públicas”. til, se ad m itirm o s, com o ad m ito , qu e não h á u m a re sp o sta única o u inequí
O u, se quiserem , o m isto de laissez-fatre c o m a m ais e strita reg u lação . M ais voca q u e d ê fim ao velho e desgastado d e b a te a respeito d e se o E stado
níddos ficaram , e n tre ta n to , os interesses de seg m en to s diversos d a socieda brasileiro no período form ativo das profissões (basicam ente ao longo do
de dvit. N u m a atm osfera já d esim pedida das pesadas n u v en s d o arbítrio século XTX) e ra fo rte o u fraco, p a trim o n ia l o u burocrático, ktissez-fairiano
jn ü ttar e ao sopro das m ais generosas aspirações civis, foi su b m e tid a à A s o u intervencionista, e tc ., e tc. Receio q u e ele te n h a sido cada u m a dessas
sembléia C o n stitu in te d e 1988 a p ro p o sta d e instauração d o reg im e d e li coisas e m m o m e n to s diferentes e com relação a qu estões d istin tas, e assim
berdade profissional em term o s q u e sugeriam q u ase u m re to m o à le tra d a m esm o q u a n d o se concede às categorias q u e p re te n d e m c a p ta r a “essência”
Constituição d e 1 8 2 4 .24 A C onstituição C idadã, todavia, m a n te v e os m eca- deste E stad o o u d a sociedade tão -so m en te o e sta tu to de m etáforas do que
rep resen taram n o co ntexto histórico q u e as g e ro u . N e s to r D u a rte , p a ra
»N o capítulo dos D ireitos e G arantias Individuais, a proposta da Comissão Afonso A rínos
rezava que: a) a íeí não poderá im pedir o Üvre exercício de profissões vinculadas à expressão
direta do pensam ento, das ciências e das artes; b ) a lei só estabelecerá exclusividade p a ra o
exercício da profissão q u e envolva risco d e rid a e d e privação da liberdade, o u q u e possa causar ^ lo tis o X III d o A rt. 5a: É livre o exercício de q u alq u er trabalho, ofício ou profissão, atendidas
grave dano ao indivíduo ou í coletividade. as qualificações profissionais q u e z íei estabelecer.
exem plificar com u m a análise hoje clássica, a d m ítid a m e n te u tiliz o u o con rom ancista q u e se ga b a de tr a ta r seus personagens com o escravos d e galés,
ceito d e feudalism o n e sta acepção m etafórica: u m feudalism o atípico, se p re te n d o q u e os m e u s te n h a m im p o sto o ru m o à narrativ a e escorraçado o
quiserem , sem as cores tradicionais d o sistem a e u ro p e u , a n te s d e anacronís- autor. E , n ã o sendo eles sociólogos profissionais, h á escasso diáLogo com
m os e arrem edos e m ais d e ten d ên cias...’*.2* A s categorias w eb erian as (buro q u a lq u e r teoria. O u m elhor: suspeito que exista u m a a organizar a n a rra ti
cracia, p a tn m o n ia lis m o , e tc .) n ã o tê m c o n h e c id o d estin o m e lh o r n a va, m as não esto u seguro sobre se seria capaz de expô-la de form a sistem á
indiscrim inada aplicação au to riz a d a p elo cô m o d o p re ssu p o sto d e q u e to - tica. E la está , digam os assim , no su b tex to e talvez seja m ais p ru d e n te deixá-
dos-sabera-o-que-entendo-por-patrim oniafism o-e-por-estado-burocrático.27 la aí. Confio e m q u e o s especialistas em sociologia d a s profissões saberão
Isso p o sto , procederei d a seg u in te fo rm a . E x p o n h o no p ró x im o cap ítu lo identificá-la, a té p o rq u e m e u pressuposto é o de q u e to d o s-sab em -a-q u al-
os dois foodelos correntes (em b o ra contestados) n o e stu d o d a s relações en te o ria -e sto u -m e-re fe rin d o . P o r ú ltim o , ad v irto o le ito r d e q u e ele não
tr e E stado e profissões. Á exposição é d e c a rá te r histó rico -co m p arativ o e e n co n trará n e n h u m a conclusão su b stan tiv a com o fecho deste ensaio e a este
concede-m e u m a certa m a rg e m d e lib erd ad e p a ra indagações às q u a is não respeito não h á n a d a q u e e u p ossa fazer (apenas confessar o q u a n to custou-
p ro ponho q u a lq u e r resp o sta, e isso p e ia sim ples razão d e q u e n ã o te n h o m e e v itar u m a conclusão conclusiva).
n e n h u m a . D e q u a lq u e r fo rm a , o cap ítu lo p o d e rá servir ao le ito r c o m incli A o fim e ao cabo reconheço ao le ito r to d a s as razões p a ra su sp eitar de
n a r e s “teóricas” com o p a n o de fu n d o p a ra o q u e v e m a seguir. E o q u e v em u m ensaio q u e não d á resp o sta a coisa a lg u m a e te rm in a no nad a. M as pode
a segm r é m in h a versão do processo d e constituição das profissões tradicio u m a u to r desejar m e lh o r p o n to d e p a rtid a p a ra u m a lo n g a, ed u cativ a e
nais (m e d id n a , advocacia e e n g e n h a m ) ao lo n g o do século X IX e d a s p ri esclarecedora conversa?
m a r a s décadas d o se g u in te. D e i ênfase à dim en são in stitu c io n a l, m a s não
fia d a s relações profissÕes/Estado o k à m m if à o en red o , m a s tã o -so m e n te o
fio q u e unifica a tra m a e lh e d á a lg u m a u n id a d e . A o c o n trá rio d e certo
grotqj o f neighbors for th e iaw -abid.ng behavior and political compliance o f every m em ber ”
° £ S° u !l GUaKk NacionaL N os “ « » d e prestação individual de s e i w Z Ütúrgicos
^cfem am fas do soberano não podiam ser arbitrárias e as obrigações eram fixas,
inveiso d o q u e ocorria na G uarda Nacional o nde n ão taram enm os c o m a n S ^ t T S T .r
advocacia te n h a m estado n a F rança e n a A le m a n h a q u ase q u e p e rm a n e n te do m onopólio dos físicos, tratav a-se de acom odar as dem an d as das ordens
m e n te so b pohcícas reg u lató rias, os m édicos e os ad v o g ad o s alem ães não m édicas inferiores, m as sem deslocam ento excessivo de valores e sem ofen
concebiam a regulação e sta ta l com o fa to r adverso p a ra os seus p ro je to s p ro d er ero dem asia os guardiães m ais exacerbados do laissez-faire. D a í tam b ém
fissionais. c m prim eiro lu g a r p o rq u e tais profissões não haviam conhecido a m an u te n ç ã o d a “liberdade de cu rar” .
n o século X V III a. a u to n o m ia d e q u e d esfru taram suas congêneres n a F ra n
ça. E m seg u n d o lugar, o burocraca alem ão, so b retu d o o ju rista d o E stad o ,
c o n stitu ía u m m odelo ocupacional d e excepcionai prestíg io e p o d e r, razão ill
p e k q u a l m édicos e advogados não viam n a instituição d e u m m e rc a d o de
Ao fim e ao cabo, talvez se pudesse dizer q u e identificar laissez-faire com
serviços livres a m e lh o r v ia p a ra a estabilidade e p a ra o sucesso profissionais.
ausência d e ação e sta ta l e regulação com “m ais E sta d o ” constitui rigorosa
O s m édicos não se o p u n h a m ao princípio d a “lib e rd a d e d e c u ra r" e , de fa to ,
m en te u m a ilusão de perspectiva. C om en tan d o a expansão do credo laissez-
n e g a ra m apoio à legislação q u e p u n ia os p ra tic a n te s não licenciados. A d e
mais^ co m p artilh av am com o re sta n te d a classe m é d ia e d u c a d a (a Bildung- fairiatio n a In g la te rra após 1830, K a rl Polanyi observava q u e a via p a ra o
livre m ercad o foi a b e rta e assim m a n tid a p o r u m m o n ta n te sem precedente
bürgmum ) u m a visão escatista-eorporativa d a sociedade d a q u a l n ã o estav a
a u se n te u m a acen tu ad a inclinação p a ra co o p erar c o m o g o v e m o . M esm o no d e intervenção e sta ta l e q u e , assim , “não h av ia n a d a d e n a tu ra l no laissez-
curso d o processo d e liberalização nas décadas de 6 0 e 7 0 advocacia e m e d i faire £...} o próprio laissez-faire foi im p o sto pelo E stad o . O s anos trin ta e
cin a m a n tiv e ra m u m a e stre ita associação com o E stad o . In v e rsa m e n te , os q u a re n ta viram não apenas u m a explosão legislativa repelindo regulações
restritivas, m as ta m b é m u m enorm e acréscim o nas funções adm inistrativas
advogados franceses p artic ip a ram ativ am en te d a q u e d a d o s sucessivos regi
do E stad o , a g o ra d o tad as de u m a burocracia cen tra l capaz d e realizar as
m e s a té a Terceira R epública, tra n sfo rm a n d o fre q ü e n te m e n te o s trib u n a is
tarefes p o sta s pelos seguidores d o liberalism o £...} o laissez-faire não foi um
n u m eficiente in stru m e n to d e p ro p a g a n d a po lítica. A lém disso, a a m p litu
m éto d o p a ra se o b te r algo, ele era o algo a ser o b tid o ”.12 N estes term os, não
d e d a regulação profissional n a F rança e ra m en o r, b a sta n d o o b serv ar nova
haveria q u a lq u e r paradoxo na afirm ação d e q u e em sociedades d e pouco
m e n te q u e a incapacidade d a m ed icin a francesa d e se a u to -re g u la r com o
E stado, com o o s E stados U n id o s e a In g la te rra , u m a das condições d a a u to
corporação não im p e d iu q u e os m édicos in d iv id u alm en te exercessem seu
nom ia das profissões foí a intervenção do E stado. N o s m esm os term o s, seria
ofícto d e n tro dos m esm os m o ld es “liberais” co m q u e o exerciam os m édicos
am ericanos o u ingleses. razoável rever os estudos sobre a fase fo rm ativ a das profissões no m u n d o
anglo-am ericano, pois é p ouco provável q u e o laissez-faire in stitu íd o pelos
T am bém as trajetó rias d a s profissões n a In g la te rra e n o s E sta d o s U n id o s
to rn a m -se superficialm ente sem elh an tes q u a n d o exam in ad as p e k ó tic a d a jacksoníanos te n h a escapado à “equação Polanyi .
M as Polanyi ain d a não resolve to d a a q u e stã o . Ele apenas qualifica seus
oposição e n tre a u to n o m ia profissional e regulação e sta ta l. A a tiv a po lítica
anti-reguiacória d a era jacksoniana, fu n d a d a com o estava e m valores ig u ali term os sem abandonar, todavia, u m a visão essencialm ente convencional da
a n títese intervenção estatal /laissez-faire. C om o tê m sugerido revisões con
tários, co n tra sta v a com o liberalism o in d iferen te o u , n a m e lh o r d a s h ip ó te
tem p o rân eas ta n to d a h istó ria das instituições políticas inglesas q u a n to das
ses, c o m o ate n u a d o e reativo intervencionism o d o P a rla m e n to in g lês. N o s
suas articulações com a Revolução In d u stria l d eflag rad a n a m e ta d e do sécu
E stad o s U n id o s trata v a -se d e n e g a r às profissões o s ta tu s diferenciado q u e
reclam avam com base e m critérios “aristocráticos” com o educação fo rm a i e lo X V III, é possível ag o ra reler o laissez-faire m enos com o o resultado dè
o b stru ía m o trabalho do s legisladores com o a rg u m e n to d e q u e os e sta tu to s agências. D ev iam se r elas a ex ten são d a cidadania a n tes do q u e in stru m en to
p o d ia m su p le m e n ta r a camman law o a esfera d a s relações de tra b a lh o m a s dos políticos, e sua. tarefa era essencialm ente a d m in istrativ a e não a de legis
não ãLterá-ia substancialm ente, em b o ra não oferecessem a m esm a resistên lar o u fazer com q u e as leis fossem aplicadas...”.22 O in ten so trabalho ideo
cia n o cam p o do direito com ercial. F o r quê? P orque, ta l com o as relações lógico d e legitim ação d a nova o rd em , o ingente esforço p a ra conservar o
e n tre cônjuges, o u en tre p ais e filhos, as relações e m p re g a d o -p atrã o tin h a m m ito do “E stado fraco” e d e u m ap arato burocrático essencialm ente distinto
raízes e m íeis n atu rais”, ao passo q u e as relações d e negócios e ra m “artifi das burocradas fortes e centralizadas dos E stados eu ro p eu s não foram de
ciais”. O u po d ia m os juizes invocar o princípio d a n ão -retro ativ id ad e, con todo bem -sucedidos: “u m ‘sentido de E stad o ’ to m a c o n ta d a política am eri
sag rad o n a common law, p a ra invalidar os e sta tu to s com o a rg u m e n to d e q u e cana con tem p o rân ea. Trata-se do sen tim en to de u m a organização com p o
a lte ra ra m post boc as condições so b as quais e m p reg ad o s e p a trõ e s haviam d e r coercitivo q u e o p e ra p a ra além d e nosso controle im ed iato e q u e p e n e tra
estabelecido seu c o n tra to . E m síntese, “e m su a m a io r p a rte , a le i tra b a lh ista em todos os aspectos d a nossa vida. A esta organização tem o s cham ado de
am ericana p erm an eceu com o cmrnon law , p ro d u to d a s decisões ju d ic ia is__ Estado administrativo, Estado burocrático, Estado capitalista, Estado corporativo,
d e fato* legislação judicial — , basead a e m a n tig o s precedentes,, sem p a rtic i Estado pós-industrial, Estado regulatório, Estado do bem-estar, m as tem o s ainda
pação seja d o s legislativos estaduais, seja dos legisladores nacionais”.21 D e de considerar a g ran d e ironia histórica q u e p erm an ece p o r d e trá s destes
fã te , a p le n a soberania do C ongresso e d o s legislativos estad u ais n a fe itu ra rótulos. Pois, afinal d e contas, é a ausência d e u m se n tim e n to de E stado o
d a s íeis viria, no en ten d im en to d e O rre n , com o o p ro d u to d a ação coletiva q u e te m sido o g ra n d e traço distintivo d a c u ltu ra política am ericana” (ênfa
d o s trab alh ad o res am ericanos n o século X IX e m resistência l.common law âo ses no original).23
senhor-e-servo. E p o r a q u i descobrim os a chave p a ra o u tro en ig m a: com o O ra , o fato d e q u e em vários E stados am ericanos a regulação d a advoca
re g u la r se m ap aren tem en te ab d icar d e u m “E stado fraco”. cia e o re to m o d a legislação reg u lató ria d a m edicina te n h a m sido p a rte
P o r v o lta d e 1870 to rn o u -se b a sta n te claro p a ra os am ericanos q u e a deste am plo processo d e “reconstrução” do E stado cobre d e densas nuvens
p o íth c a d e laim z-faire produzira efeitos colaterais indesejáveis: incensa u r d e ceticism o a tese d a predom inância do m ercado no processo de profis
banização seg u id a de tensões sociais sem p reced en tes n a h istó ria d o país, sionalização nos E stados U nidos.
rá p id a centralização d o p o d e r econôm ico p ela via d a cartelização e concen
tração d a econom ia, crescentes pressões sobre o ideal d a ig u a ld a d e d e opor
tu n id a d e s e am pliação das desig u ald ad es sociais. N a v ira d a d o século, a IV
extensiva intervenção das a u to rid ad es p a ra c o n tro la r o processo d e m u d a n
ç a havia, d a d o cabo do “caráter excepcional" da. sociedade am ericana, pois H á , finalm ente, a q u estão do “projeto profissional”, u m conceito im p o rta n
e n tre 1S77 e 1920 foi se p u ltad o o se n tim e n to d a “ausência d o E stad o ” . te nas análises d e institucionalização das profissões. C u n h ad o p o r M agali
A g o ra h av ia a “busca de o rd e m ", e a saíd a foi a criação de u m sem -núm ero Sarfari L arson, ele rem e te às estratégias pelas quais, n a fase d o capitalism o
d e agências adm inistrativas e re g u la tó ria s fu n cio n alm en te especializadas, com petitivo, as lideranças profissionais n a In g la te rra e nos E stados U nidos
in d e p e n d e n te s e escassam ente articu lad as en tre os diversos níveis d e gover
no.. N o com entário de H a m ilto n e S u tto n , “a fam ília, a criança, a co m u n i ^G ary H am ilton e Jo h n R. Sutton, “T he problem o f contraí in th e w eak state: dom ination in
th e U nited States, 18 8 0 -1 9 2 0 ”. Theory and Society, 18/1, janeiro d e 1989, p . 32.
d a d e , o m ercado e o consum idor — estes e ra m os objetos d a atenção das ^Stephen Skowrooek, Building a Mew American Stale: The Expansion o f National Administrative
Capacities, 1877-1920. Cambridge: C am bridge University Press, 1982, p . 3. Citada na nota
anterior^ o trabalho de H am ilton e Sutton ocupa-se precisam ente do esforço ideológico de
Zlidem 7 ibidem , p . 103.
legitimação do novo Estado interventor.
m overam -se em direção ao monopólio d o m ercad o d e serviços, p o r u m lado, sance d u clien t. E n au c u n cas ií. ne p e u t être exsgé,”26 Funcionários públicos
com licenciatura e m direito não o b tin h a m m a tríc u la n a Ordres a q u a l, invo
Mobilidade coletiva, p o r o u tro , n u m a o rd e m social ta m b é m
em ergente que se organizava em to rn o 'd o cash nexus. L iteralm en te: ‘‘Vejo a cando a proibição de assalariam ento e a rejeição a relações d e subordinação,
5a0 como o processo pelo q u a l p ro d u to re s d e serviços espe traçou u m a rígida fronteira e n tre a advocacia e o serviço p ú b lic o . D esde
ciais procuram cnr... ■ . 1822 o exercício d a profissão era incom patível com o d e atividades com erciais
wiistituir e controlar u m m ercad o p a ra su a perícia. E p o rq u e
sacionável 0urn mercacj0 é u m e lem en to crucial n a e s tru tu ra o u de interm ediação d e negócios, e 20 lo n g a das décadas seg u in tes a Orâre
d a desigualdade m A im pôs regras ainda m ais restritivas à adm issão n o Tableau. A p a rtir d e 1865
moderna, a profissionalização surge também com o u m a afir-
ficava pro ib id o aos advogados franceses servir e m q u a lq u e r função e m e m
d StatUS esPec‘a^e com o 11111 processo coletivo d e m o b ílid a-
_ 2sce°dente (ênfases no original).24 P rojeto profissional talvez seja presas públicas o u sociedades an ô n im as, q u a n d o seus agressivos colegas
importante na análise d e L arson, aq u ele q u e o rganiza to d a am ericanos j á en trav am n a era d a advocacia em p resarial.
visao d o desenvolvimento d a m edicina e d a advocacia nos E stados C om o m o stra K a rp ik , foi n a esfera po lítica q u e os advogados franceses
U n id o s e n a Inglaterra. estabeleceram as bases d e se u p ro je to coletivo.27 N o s períodos e m q u e o
conflito e n tre E stado e sociedade civil se ac e n tu o u , eles la n ç a ra m m ão da
"d ^ ersPectlva não e tn o c ê n tric a, a q u e s tã o su sc ita d a é: e nas
_ , e 0 Estado, e não o m ercado, c o m a n d o u a organização das retórica, d a m obilização política e d a e stim a q u e a leí lh es e m p re sta v a p a ra
possível aí resgatar an alitic a m e n te u m p ro jeto profissional? O en carnar fielm ente a opinião p ú b lica, n u m a lu ta incessante p a ra lim ita r os
q u e supostam ente j . poderes d o E stado. E , ta m b é m , p a ra recu p erar su a in dependência através
e Pode significar “profissionalização” n a A le m a n h a a té o
X3ínn^O1 do } d a restauração d a a u to n o m ia d a Ordre. O s trib u n a is tra n sfo rm a ra m -se em
, X IX , onde ascender individual o u coletivam ente
amento estam ental estav a sim p lesm en te fo ra d e to d a cogi- arenas político-jurídicas, so b re tu d o p o r ocasião dos ju lg am en to s m ais im
1 . ° m on°pólio de m ercado d e serviços e ra u m a noção fo ra do p o rta n te s. D ivergindo e n tre si, v io le n ta m e n te às vezes, n a p o lític a o u n a
_ ’ arespeito, o caso d a advocacia, a profissão m ais p ró x im a das C âm ara, “não hesitavam e m defen d er o s adversários n o s trib u n a is o u em
^ ia do em qualquer sociedade. reu n ir seus tale n to s n u m a causa co m u m ; a indiferença q u e exibiam nos
França a Qrdre adotou u m a posição n itid a m e n te an ticap ítalista e trib u n ais pelas cores políticas p o d e ser explicada pela existência d e u m in
» e»garantida a p rerro g ativ a d o s avocats d e a p re se n ta r os casos teresse to ta lm e n te com partilhado* q u e a apresentação do s casos jam ais dei
pera as cortes, não se em penhou ela e m m o n o p o lizar o u tra s funções le x o u de m o stra r: a exigência d e u m a .urdem legal capaz de garantir as liberdades
gai a dos avouês, dos agréés e dos notaires. O código d e ética d a profis- fundamentais"2* (ênfase no original)..
goroso, e a Qrdre aplicava punições p esad as nos casos d e infração.25 N a A lem an h a e ra d e o u tra n a tu re z a o p ro je to coletivo d o s advogados n a
prá tic a privada.29 O b jeto fre q ü e n te d a h o stilid ad e do E sta d o , o p ro jeto d a
su a independência profissional e sta v a m in te rd ita d a s aos advo
ga publicidade, a procura d e clientela e a exigência d e honorários:
etre un p résen t libre, u n tr ib u t volontaire d e la reconnais- “ G uilhaum e Ernest Cresson, Usageset n g ksd i ktpnfession d’awcat. M s : Larose & Parcel,vol.
1 ,1888, p. 3 0 5 . , _ ,
KMagaÍf S atiãti la rs o n 7 7 , D- ^P rojeto coletivo não equivale a p r o j e t o ^ ^ W i u m concerto q u e descarto p o r razoes q u e logo
afCalifoaaik Press, I 9 7 ' K ° f Professionalism: A SociologicalAnalysis. Berkeley: U niversity
e estratégias perfeita ’ F Larson adverte q u e ° conceito de “projeto” não postula objetivos ficarão claras ao leitor.
antes enfatiza a “ - ente daros para os participantes, nem m esm o para as lideranças. Ele ^ Í a X o ld ^ r ív a d a n a A le iW ^ s ig a d e p e r r a o p n m o r o s o e s m d o d e K e m ie th F .L e d f o r d ,
ífe srôas j * COQsist«icia qu e p odem ser reveladas ex postfacto num a variedade
Frcm General Estate to Speãal Interest: Germm Lawjers, 1878-1935 - Cam brsdge: Cambn. ge
^ c o m e n tá d o s ^ ! r SCOnexas” <P- 6>‘ University Press, 1996.
S e n te s sigo Karpik, op. d t .
A ém katut eom ou-se indissociável d o p ro jeto político liberal d a Bürgeríum, fundido d o reino de H an ô v er p a ra alguns o u tro s E stad o s, e n a Prússia os
d a qual os advogados eram u m elem ento c o n stitu in te . B asicam ente, o p ro "conselhos d e honra" concediam aos advogados privados a lg u m a a u to n o
jeto liberal, a o tes e após a unificação dos E stados alem ães e m 18 7 1 , consis m ia d is c ip lin a r. Á A sso c ia ç ã o d o s A d v o g a d o s A le m ã e s (Deuíscher
tia em estabelecer o im pério d a lei, in stitu ir u m a o rd e m legal {Rgchtsstaod) Anuiahverein), de âm b ito nacional, já existia desde 1 8 7 1 , e p a rte substancial
que. im pusesse iimices ao p o d e r arbitrário d o E stad o , protegesse os direitos do p ro g ra m a d e reform as veio e m 1878 com o E sta tu to dos A dvogados
individuais, abrisse espaço p a ra a auto-afirm ação d a cid ad an ia e liberasse o ('ggcbísarm/ahsordnung)?2 A p a rtir d e sta d a ta a advocacia n a A le m a n h a to r
indivíduo d a cam ísa-de-força d e u m a o rd em e sta m e n ta l. N o p en sam en to nou-se progressiva e e stru tu ra lm e n te m ais assem elhada às suas congêneres
liberal alem ão , o caráter universal desse projeto residia n a universalidade d a nos E sta d o s U n id o s e n a I n g la te rra , m a s s e m e lim in a r d e to d o suas
Bürgeríum c o m o p o rta d o ra dos interesses do co n ju n to d a com u n id ad e cívi vínculações com o E stado.
ca.30, O ra , p o r su a c u ltu ra e perícia nos a ssu n to s legais, p ela p rá tic a profis N ã o im p o rta q u e, elim inados os gran d es focos d e a trito com o E stado a
sional in d e p e n d e n te , p o r su a atividade cívica e po lítica, os advogados ti p a rtir d a Terceira R epública, o prestígio d a advocacia francesa te n h a e n tra
n h a m , n a concepção d o s teóricos d o liberalism o alem ão, a m issão histórica do em declínio o u q u e a Advekatur te n h a fracassado n a função d e p o rta d o ra
d e lid e ra r a realização do p ro je to lib e ra l C abia a eles “serem os educadores, do p rojeto liberal d a Bürgeríum , 33 A m b as tiveram seu p rojeto coletivo (não,
guias e p o rta-v o zes da Bürgeríum, despercando-a p a ra seus d ireito s legais de obviam ente, u m “projeto profissional” no sentido q u e L arson d á ao term o),
proteção c o n tra a arbitrariedade governam ental, rep resen tan d o -a d ia n te dos ainda q u e as respectivas agendas de profissionalização não te n h a m sido or
trib u n a is e m su a lu ta p e la certeza e regularidade n a aplicação d a lei civil, e ganizadas p rio ritariam en te em to rn o d o casb nexus. P ercorreram u m a e ou
servindo com o seus tu to re s e rep resen tan tes, prim eiro a nível local e even tr a se u trajeto histórico nos lim ites do q u e L ucien K a rp ik ch a m o u de eco
tu a lm e n te a nível nacional, a té q u e a Bürgeríum crescesse o suficiente em nom ia d a m oderação” e nos trilhos de u m a “função representativa” n a esfera
m a tu rid a d e po lítica p a ra a d q u irir a au to d e te rm in a çã o seg u n d o o m odelo política, am b as ausentes com a m esm a in ten sid ad e d a experiência d e suas
inglês”'.2,1Todavia o s advogados não hav eriam de desincum bir-se d o seu p a congêneres inglesa e am ericana.
p e l e n q u a n to o E stado regulasse o nú m ero dos q u e p o d ia m d e n tre eles apre
sentar-se d ia n te d e q u a lq u e r trib u n a l, e n q u a n to estivessem su b m e tid o s à
m e sm a disciplina d o s funcionários pú b lico s (e com estes fossem confundi 32Em 1876 haviam sido prom ulgados o Código Civil, o C ódigo Criminal e a Lei da Constitui
ção dos Tribunais. O s advogados privados participaram ativam ente nos debates q u e antecede
d o s pelo pú b lico e m geral), e n q u a n to estivessem im p ed id o s d e estipular ram a redação final do Código Civil, e ju n to com os juristas do Estado garantiram a abrangência
seus. p ró p rio s honorários. nacional d o Código, bloqueando a inclusão de cláusulas relativas a interesses setoriais ou regi-
onais. V er Michael Jo h n , “T he peculiarities o f th e G erm an state: bourgeois law and society in
À re fo rm a d a advocacia p riv a d a e ra , assim , u m a p reco ed ição p a ra a th e Im perial era”. Past and Present, a . 119, m a io d e 1 988, p p . 105-131-
realização d o p ro jeto liberal: a extinção d a nurmrm clausm , a auto-regulação 33Nestes term os, a própria Biir^erturn teria fracassado na missão de assum ir a liderança na política
e n a sociedade, dilacerada internam ente ao se confrontar com as forças de preservação da
profissional através d e associações a u tô n o m as, a lib erd ad e d e c o n tra ta r li hegemonia tradicional dos Junkers, po r um lado, e com a política de massas do Partido Social
v re m e n te c o m os clientes. E nfim , a instituição d a freie Aduokatur. M as al Democrático. E seu fracasso teria colocado a Alem anha na “via especial” (Sonderweg) que a con-
duziriáà era do nacionalsocialismo. Ledford, o p. cit., p . xxi- E ntretanto, advirto o leitor de q u e a
g u n s sucessos já estavam consolidados. D esde 1 8 4 8 , a instituição d a Kamrmr, tese do fracasso da Bürgeríum, um a ortodoxia na historiografia alem ã que Ledford aparentem en
ó rg ão pcofissionai disciplinar de c a rá te r oficiai e com pulsório, havia se di te endossa, foi brilhantem ente contestada po r GeoffEiey» “T he British Model an d the G erm an
Road: R ethinking the Course o f Germ an H istory Before 1914”, em D avid Biackboum e G eoff
Eley, The Peculiarities o fGerman History: Bourgeois Society and Politics in Nineteenth-Century Germany.
30A Bürgrtum seria a versão liberal do "Estado gera!" q u e H eg el identificara com os aitos Oxford: O xford U niversity Press, 1984, pp. 3 9 -1 5 5 -0 ensaio de Blackboutn no m esm o volume
fü n ao o árib s d o Estada.
(‘T h e Discrer Charm o f the Bourgeoisie: Reappraising G erm an H istory in the N ineteenth-
3‘Ledford, o p. c i t , p . 4 .
Centnry”) vai na m esma direção.
IV d a s e n sa ta a d v e rtê n c ia de B a u d ritla rd .36 Pois b e m , h a v ía m o s deixado
J o h n so n q u a n d o ele nos dizia q u e as profissões c o n s titu e m u m a condição
A o fim e ao cabo, q u a l e n tã o a a lte rn a tiv a à an tin o m ia e n tre a u to -reg u lação d a form ação do E sta d o e q u e a fo rm ação d o E sta d o é u m a d a s condições
profissional e regulação e sta ta l? T e n ta tiv a m e n te, p o d e -se seg u ir u m a vez d a a u to n o m ia d a s profissões — o n d e e la ex iste. E le re to m a a conversa
m ais a J o h n s o n e afirm ar q u e e s ta é u m a falsa a n tin o m ia . C om o u m a in tro d u z in d o o co n ceito d e g o v e rn a b ilid a d e (gpverttmentality) to m a d o d e
fo rm a d e in stitucionalização d a perícia, as profissões te ria m sido d e sd e o em p réstim o ao célebre m âitn apenser. G o v e rn a b ilid a d e , n o s diz ele, “são
início do século passad o , m esm o em países d e “p o u c o ” E sta d o , p a rte in te to d o s os p ro c e d im e n to s, técnicas, m ec a n ism o s, in stitu iç õ e s e co n h ecim en
g r a n te d o g o v ern o o u , o q u e significa a m e sm a coisa, d o processo d e for to s q u e , e m c o n ju n to , energízam os p ro g ra m a s e o b jetiv o s d o g o v ern o (e
m ação d o E sta d o . A ssim , p ro p o sta s p a ra red u zir a a u to n o m ia d o s barristers
q u e ta is p ro g ra m a s estejam a lin h ad o s c o m o processo d e “n orm alização” e
fracassaram p o r ex ig ê n d a d a s in stitu içõ es d o E sta d o lib e ra l d em o c rá tic o ,
“d is d p lin a m e n to ” d o s sujeitos n ã o in te re s s a m u ito a J o h n s o n , e m b o ra seja
as qu ais e m e rg ia m n a d e p e n d ê n d a d a d o u trin a d a separação d o s p o d e re s
o coração d a m a té ria p a ra F o u c a u lt). O r a , e fácil p e rc e b e r o n d e e n tra m ai
e d a in d e p e n d ê n c ia d o judiciário. O u , com o diz J o h n s o n , n a I n g la te rra o
as profissões c o m se u corpo d e co n h e c im e n to s e técn ica. E las são p a rte
E stad o e sta v a se to m a n d o d e p e n d e n te d a in d e p e n d ê n d a das In n s o f C o u rt.
in te g ra n te d o processo d e g o v ern o e d a g o v e rn a b ilid a d e , indissociáveis
P o r s e u la d o , n o c o n te x to d o Im p é rio britânico a m ed icin a te ria sido o
deles e , p o r ta n to , d o Estado,, q u e é a p e n a s o “resíd u o in stitu cio n alizad o
exem plo d e u m a p ecu liar m istu ra d e profissão e d e E sta d o q u a n d o a B ritish
d o governo”, a fo rm a q u e ele a d q u iriu n a s sociedades m o d e rn a s. J o h n so n
M ed icai A sso ciatio n negociava m elh o res condições d e tra b a lh o e d e salá
d ispensa, p o is, a noção de E sta d o co m o a g e n te cujo p o d e r cresce n a p ro
rio p a r a o s m édicos coloniais, m as go zan d o sim u lta n e a m e n te d a condição
p o rção e m q u e in te rv é m n a sociedade civil (p o r e x e m p lo , re g u la n d o as
de corporação autônoma e su p ran acio n al em su a fu nção d e c o n su lto ra do
profissões). D e sa p a re ce , sim u lta n e a m e n te , a id é ia d e q u e a s profissões se
C olonial O ffice.
fortalecem e se a u to n o m iz a m n a m e s m a p ro p o rç ã o e m q u e o E stad o se
L o g o , com o q u e r Jo h n so n , a fo rm a ad e q u a d a d e e n te n d e r as relações
en fraq u ece. Belo c o n trá rio , elas sã o , d e sd e o inicio, p a r te in te g ra l d o a p a
e n tre E stad o e profissões seria e m term o s d e u m processo histórico n o q u a l
ra to in stitu c io n a l e d o s recursos d e g o v e rn a b ilid a d e q u e c o n stitu i o E s ta
“as profissões emergem como uma condição da formação do Estado e a formação do
Estado como uma condição maior da autonomia profissional — o n d e esta ú ltim a d o , e , p o rta n to , dissolve-se a d u a lid a d e E stado-profissões, a a n tin o m ia
exista”54 (ênfase no original). m e rcad o -E stad o n a q u a l a, lite ra tu ra sociológica e n c e rro u o processo d e
profissionalização.
N e s te p o n to devo reg istrar u m a dificuldade. Pois, se Jo h n so n leva a
V sério F oucault,37 ele deve ad m itir q u ã o in te ira m e n te v ã é su a p retensão (e a
pretensão d e q u a lq u e r o u tro sociólogo) d e e tn a d a r a dinam ica das relações
L a m e n ta v e lm e n te , e m tra b a lh o p o ste rio r35 J o h n s o n deixa-se se d u z ir p elo s e n tre E stado e profissões (o u a d e q u a lq u e r o u tro processo histórico) fo ra d a
d elírios e p ístêm ico s e p e la p re stid ig ita ç ã o v e rb a l d e F o u c a u lt a d esp eito m o ld u ra do foucaultianism o, ta n to q u a n to é in ú til bu sc a r n a h istoriografia
os o o n trafattu ais à “história" d e F o u c a u lt, p a ís seu p ro je to é precisam ente o
14Idem , p . 189.
^T enyjofeoson, “G ovem m eatality and the institutionalization o f expertise”, em Terry Johnson,
Gerry Larkin e M ike Saks (eds), Health Rnpectives and the State in Europe-. Londres: Routledtre ^Jea n BaudoHard, Oublier Foutatdt. Paris: É ditions Galilée-, 1977-
1995, p . 7 -2 4 . 0 * q u e , devo esdarecer, não é o m eit casa.
56 ft EDM UNOO c a m p o s c o e l h o
AS PROFISSÕES IM PERIAIS / / 57
E scoiho. pois, . ° d a l° 80 6 P ” ” 8 ' * “ COnVeiSa' profissão {m edicina} é o E stado” . S u rpreendente seria q u e os governos das
Isso posro, comern ^ > sociedades contem porâneas orientassem seus p ro g ram as pelas definições dos
im torã^a, * V t °bSm a P e rfd a é > * fe“ » « * leigos o u q u e os adeptos dos Florais de Bach falassem pelo E stado em m a té
restriçõ es a > W „ NS» « «™ > W ria de saú d e pública.
aeoxraE dadedaperíc- ° ^ “° S g ° VemQS d e p e n d e m d a J o h n so n se equivoca, to d av ia, ao p ro p o r q u e “o sucesso dos m édicos
d o observa que “a “ £* a to m a r S -vernáveis realidades sociais’ o u q u a n - na co n stru ção d e u m a realidade social u n iv e rsa lm e n te v álid a é u m a conse
sões e a autoridade “ a ” ÍdadeS P ríd c a a d “ P » S - qüência d o seu reconhecim ento oficial com o p e rito s” . A o co n trário , o re
Drocesso d e t o m a r « * ™ cu !ad a „ profissionalism o estão im plicadas no conhecim ento oficial d o s m édicos com o p e rito s é conseqüência d o seu
c o g n o sd v e is, pr a t íci, * ” f Í m 0dem a ^ “ “ £ ' “ n ím ia * sucesso n a c o n stru ç ã o d e u m a realidade u n iv e rsa lm e n te válida. Profissões
« firm an d o q u e o co n h « O T e rn o ” - E u Jo hnson q u e , co m o a m edicina o u a e n g e n h a ria , p o d e m em ú ltim a in stân cia a p o n
estão , d e f e t o . d i s s e n T T “ “ CSpedaliZado e a P e d d * <•<* p ro fissio n a is ta r p a ra o s fu n d a m e n to s científicos de sua base co g n itiv a e so b re tu d o p a ra
*> q u a n to p j r a os J ! ^ S° d e d a d e e disP o o ív eis ta n to p a r a o g o v e r- os re su lta d o s p rático s d e suas técnicas e p ro c e d im e n to s acu m u la ra m ao
m esm o p a ra a o u e fa ^ * ° P 5 em a° S P r0« ram as d o S " ™ » e ate' iongo d e ste século u m m o n ta n te in d isp u ta d o d e “créd ito social” e u m a
do dizer se o E stad o no Im p ério e ra fo rte , firaco o u o q u ê ; se o '‘dom ínio nifica, p o r exem plo, q u e o e stu d o d a m ed icin a em sua fase fo rm a tiv a re
privado” prevaleceu sobre o “dom ínio p ú b lic o ” o u vice-versa, o u o q u ê . O q u e r a te n ç ã o p a ra o q u e ocorre e m o u tra s profissões com o ele m e n to s
E stado bricolage não se deixa revelar através d este jogo a b stra to e conceituai c o n stitu tiv o s d o seu am b ie n te in stitu c io n a l. E m se tra ta n d o de pro b lem as
d e antinom ias. Talvez exija, u m pouco m ais d e intuição e d e im aginação. públicos (crim in alid ad e, alcoolism o, p ro stitu iç ã o e saúde p ú b lic a ), é p o s
E , se assim é o u p arece ser, ao Invés d e b u sc a r a essência d e s te E sta d o , sível tra d u z ir o co n flito p o r jurisdição e m te rm o s d e c o m p etição p ela
d e in q u irir so b re o q u e ele era-, não fe ria m ais sen tid o o b se rv a r o q u e que se propriedade do p ro b le m a e pela responsabilidade p o r sua solução.5 C om o
passava, 0 que acontecia? O b se rv a r o q u e este E stado fa zia ou deixava de o b serv o u G usfieid, am b o s p o d e m co nvergir n u m a m e sm a agência, m as
fazer?*4 este não é necessariam ente o caso, pois q u e m reclam a a p ro p rie d a d e do
p ro b le m a (a a u to rid a d e p a ra definir su a n a tu re z a e fo rm u la r teo rias sobre
sua cau salid ad e) n e m sem p re deseja a resp o n sab ilid ad e p ela solução. In
¥11 v ersa m e n te , h á q u e m d isp u te a resp o n sab ilid ad e sem desejar a p ro p rie d a
de d o p ro b le m a . N ã o é raro q u e a resolução d a d isp u ta p e ia responsabili
Seria reco m en d áv el ap lic a r o m esm o p ro c e d im e n to ás p rofissões e m su a dad e v e n h a do E stad o através da form ulação d e políticas p ú blicas, q u an d o
fase fo rm a tiv a . O q u e faziam os nossos m éd ico s, ad v o g ad o s e en g en h eiro s não assum e ele p ró p rio am bos os te rm o s d a equação. D e q u a lq u e r form a,
n o século passad o ? A lé m d a razão a n te rio rm e n te m e n c io n a d a , u m a o u tra a com p etição envolve u m a dim ensão co g n itiv a o u , se q u ise re m , u m a d i
re c o m e n d a e s ta lin h a d e inv estig ação . M u ito d o q u e as lid e ra n ç a s e as m ensão c u ltu ra l: q u e m legisla so b re a “essência” do p ro b le m a e form ula
sobre ele a “teo ria causal” prevalecente — se é q u e a lg u m a te o ria prevale
‘Esta e o u tras cartas d b D c. Pedro foram transcritas em Bella H ersoo, Cristaas-novos e seus
descendentes na medicinabtasikèm (1500/1850). São Paulo: E dusp, 1 996, p . 4 0 2 . O D r. Pedro
era o m édico p o lonês P jb trO srm e w ic z , a u to r dos popularíssim os Dicionário de medicina popular
e Formulário ou guia medka d® 3razilu usados pelas famílias, fazendeiros, d é rig o s d o in terio r e
p o r to d o s os q u e não podiam, te z acesso aos serviços dos m édicos.
....... saa
í'
iüm iaa trouxe &o a u to r e ta n ta irritação ao e d ito r d o s A rrnaes d e M edicina onfie rodopiava a alta sociedade. N o Prim eiro Im pério, e n tre u m baile na
n en se/ m ansão do m arquês d e Á brantes e o urro na residência do com endador Joao
A cidade q u e acolheu o D r. N apoleão era “feia e suja” seg u n d o todos os B atista N o g u eira, cônsul de P ortugal, ia-se ao São Pedro ouvir o "gorjeio
cronistas d a época— e o m esm o juízo fariam d e la o s ta m b é m e n v erg o n h a m erencório e suave d a Candiani, trilando adoravelm ente a Casta D iva"?
dos ctOQistas do fim do século até q u e ap ro x im a d a m e n te u m terço d a sua S ab e -se q u e , q uando aqui aportou o D r. Chernovitz, o m unicípio teria
regia© central fosse dem olida e reconstruída e depois o u tra vez dem o lid a ao então algo em to rn o de 137 m il habitantes e p o r volta d e 9 0 m édicos, aproxi
longo dos tem pos. E ra verdade, no e n ta n to , q u e havia m u ito negros n a m adam ente 6 p o r 10 m il habitantes ou , alternativam ente, 1 p a ra cada 1.533
ridadejem 1838 os escravos já eram 3 8 % d a população, m as o D r. Chernovitz habitantes.6 C o n s i d e r a n d o - s e apenas as paróquias urbanas, visto que nelas
nao iria testem unhar os esforços m ais ta rd e p ro v id e n d a d o s p a ra o adequado concentravam -se o grosso do contingente médico e o d a população (71% do
branquearneoxo C orte. E e m m eio a ta n ta feiúra h av ia sem p re algo a se to ta l dos habitantes), seria de 9,2 a razão médicos/iO.OOG h a b ., u m quadro
louvar*como o d e q u e os estrangeiros (e to d o s brancos) representavam bem m enos favorável. Mais: subtraindo-se os escravos d a população das paró
a época da chegada d o D r. C hernovitz cerca de 10% d a p o p u lação . quias u rb a n a s— pois não iam a m édico n em recebiam visita deles — , a razao
Era de esperar q u e a cidade fosse a d q u irin d o ares m ais civilizados, e foi médicos/lO.QOO hab. iria a 15, e neste caso é de supor q u e o D r. C hernovitz e
precisamente o q u e ocorreu. E m 18 4 4 o Rio d e ja n e iro já co n ta v a com 19 colegas de profissão tivessem boas razões p a ra queixas. É m uíto provável que
lojas de m odas (proprietárias francesas em su a m aioria), 1 0 lojas d e ch aru - lhes faltassem clientes- U m indicador m oderno do m ercado d e serviços m édi
^ 5 lojas d e rapé, 10 livrarias, 14 lojas d e c h á e 15 lojas d e calçados, cos e d a natureza “liberal” d a profissão é o tem p o gasto pelos d outores nos
embora a g rande m aioria d a população fosse m iserável, a n a lfa b e ta e andasse consultórios. O Almanak Lamm erf publicou p a ta vários anos a relação no
descalça. M elhor estava a C orte em 1 8 6 5 , pois e n tão havia m ais professores m in a l dos m édicos d a C orte com seus horários de ate n d im e n to , e, exam i
de piano e d e c an to do q u e den tistas e engenheiros: 7 4 c o n tra 19 e 2 7 , nando-as, o leitor concluirá que pelos nossos padrões era bem escasso seu
respectivamente. E , p a ra não deixar desafinados os in stru m e n to s, havia 2 4 tem p o de perm anência nos consultórios. E m 1854, 1865 e 18 7 7 , anos que
afinadores e consertadores d e pian o .3 exam inei, não m ais do que três horas em m édia, alguns m edicos advertindo a
E cantava-se e dançava-se m u ito na C orte.4 E com o os q u e valsavam rara clientela de que após o horário anunciado poderiam ser encontrados e m casa.7
mente viam a cidade do ponco d e vista d a rua, p a ra eles o Rio d e Janeiro não Todavia é bom lem brar que o atendim ento aos pacientes e ra u sualm ente feito
sena feio n e m sujo, m as d eslum brante n a elegância e n a riqueza dos salões
>E a ouvi-la, confessava enlevado o jovem Francisco O taviano, “tiv e cãibras, tive dores de
I.ylrNT S ° k Ceve demissão de m em bro titu la r d a sessão m edica da A cadem ia o sr. dr. Pedro cabeça, quase tive faniquitos". W anderley Pinho, Salões e damas da Segunde Remado. Sao Paulo:
dever Chernovitz. D esde qu e pertencem os a esta corporação n u n ca tivem os o prazer Livraria M artins Editora, 3a ed., 1959, p- H l e 2 6 6 . ^
a nosso Eado o sr. C hernovitz; e se não nos erta a m em ória, tam b ém n em -u m dos nossos «Valores m uito aproximados. A população inform ada é a do ano de 1838; o num ero de médicos
o de 1844. Para a primeira, EuláUa Maria lah m ey er Lobo, Histéna do Rw dejanetro (do capital
_ antígos «xslíegas póde contar essa ventura p o r m ais d e um a a té duas vezes. D iversas
ouvíam os d ar com o explicativas da não in terrom pida ausência d e nosso colega: __
comercial ao capital industrial efinanceiro). Rio de jan eiro : IBMEC, 1978, p . 136; para o segundo,
o Almanak Laernmrt. . . , ,
so!!:dt£aS,’^>Q<^ rnOS acre£kta r’ PorcJue nao Q0S capacitam os q u e o titu ío d e um a Academia se 70 leitor mais curioso gostará de saber que em 1854 o femoso D r. Francisco Xavier S.gaud, um dos
so p ara ornar o frontispício de aígum a obrinha, com o p o r exem p lo — a tradução de um
fundadores da Academia Imperial de Medicina, dava consultas a rua da Misencordia das 9 as 10 da
-. tvtoavtvdicmadomestica, etc....etc[...}. Felizm ente o sr.C b em o v itz teve consciência: e das 2 às 4 da tarde; mais sistemático, o D r. Antonio da Costa atendia a rua do Hospício de
F gou <Je st para st (e julgou m uito bem ) q u e ihe era indecoroso ser m em bro de um a
6 às 8 da m anhã no verão e d e 7 às 8 no inverno; em 1865 o D r. Gama Lobo, “oculista e medico das
s^Q aça°e sem concorrer em nada para o seu brilho e engrandecim ento; e p o r isso enviou seu
moléstias do ouvido”, diva consultas todos os dias úteis do meio-dia as 2 na rua Direita, ja o Dr.
1 ° e demissão. H onra lhe seja feita, e agradeçam os-lhe tão acertada deliberação” (ênfases Cados Luiz dos Santos atendia clientes à rua da Q uitanda de 11 à 1 da tarde e no Andarai-Pequeno
^o ^ g in af^ri/iT zsta-^ medicina brasiliense, voi. 4 , n. 6 , dezem bro de. 1848, p p . 128-129. de 5 da tarde às 9 da noite, uma jornada de trabalho bastante mcomum. O famoso D e . Hilano da
■"'Edln 05 dado3 extraídos òa Almanak Laemncen para os respectivoss anos. Gouvea atendia à rua dos Ourives de mao-día às 2 d a tarde e seu colega não menos famoso, o Dr. 8a
QÇou-se m crÍTo a té o Enai do Im pério. Valsando caiu a M onarquia. Ferreira d e 9 às 11 “n a Ê n n á d a darua doGeneraí Bolidoro, e d e 11 às2 da tarde na rua 1 deMarço .
na residência destes, bem ao estilo d a m edicina d e beira-da-eam a q u e prece devía ser invejável. Inferior, to d av ia, d o s m édicos d o reduzido círculo d a
deu a medicina hospitalar. D e qu alq u er fôrm a, tu d o ap o n ta p a ra u m a concor elite e s C o rte, os q u ais, alé m d e a te n d e r u m a clien tela d o m ais alto p o d e r
rência acirrada, e a dísputa de clientela parece cer sido b a sta n te intensa pelo aquisitivo, fre q ü e n te m e n te acrescentavam aos g a n h o s d o consultório a re
que se deduz de u m a crônica publicada em 1862 n a Gazeta Mêdtca d o Rio de m uneração p o r vantajosos cargos públicos. N o m esm o ano e m q u e o D r.
Janeiro. ... os médicos, desesperados com o lisonjeiro E stado sanitário (d a Oliveira Santos m eticulosam ente re g istra v a seus créditos, o d ire to r d a Esco
CorteJ, 'vingam-se uns dos outros, procurando cada u m deslocar o colega de la d e M e d i c i n a do Rio d e Janeiro recebia u m salário an u a l de 6 :0 0 0 $ m ais os
alguma casa de p artido, prom etendo fazer o m esm o serviço m ais b aratin h o , ganhos d e co n su ltó rio , as v an tag en s d a vitaliciedade e d a isenção d e im pos
censoranda as receitas do o u tro ...”.8 to s sobre o m agistério e a ap o sen tad o ria com v en cim en to s integrais p a g a
Sends m enor a concorrência n o in terio r d a província, o m édico talvez pelo governo.
pudesse desfrutar alí de u m a situação m ais confortável. Clinicando em 1882
no município de Parahyba do Sul, o D r. O liveira Santos deixou-nos o n om e i T a b e la d e H o n o rá rio s M é d ico s d » B r . O liv eira S a n to s — 1S82
“Fem andoNay, RmBarbosa: Ensaio biográfico. Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1955, p.
‘ em fogueira, O advogado R ui Barbosa. Belo H orizonte: N ova Alvorada Edições, 1996, «M aria Bárbara Levy, A indústria do Rio de Janeiro através de suas sociedades anônimas. Rio de
p‘o5. Janeiro: Editora UFRJ, 1994, pp. 51-66. . , ,
“Wanderley PmLo, “Infanda e Mocidade de Saraiva”, em Política e políticos no Império. Rio de 14Maria Yedda Linhares, “As listas eleitorais do Rio de Janeiro no secalo X IX : Projeto de classm-
Janeiro: Imprensa Nacional, 1930, p p . 24-28. cação sócio-profissional”. Cahier du Monde Hispanique et Luso-BrésÜkn, 2 2 ,1 9 7 4 , pp. 41-67.
AS' PROFISSÕES IM PERIAIS H 7 9
sociológica, reconstitui a e s tru tu ra ocupacionai d o s eleitores do m unicípk Q u a d r o 2 — C a teg o rias S ó cio -p ro fissío n ais e R e n d a M é d ia — 1 8 7 6 (c o n t.)
do Rio d e Ja n e iro a p a rtir d e centenas d e inform ações q u e a a u to ra classifi
5 - P a trõ e s (a g ric u ltu ra , f s d ú s tr ia , c o 7 - E m p re g a d o s e m fisc aliza çã o d e tr a
cou e m nove ca te g o ria s (seis c o m b ase n a s listas eleito rais), as q u a is
m é rc io , fin a n ç a s ] (2r998$/19,9% ) b a lh o e serv iço s
prazerosam ente, reproduzo no Q u a d ro 2 .15
50. Fazendeiros 7 0 . Fiscalização de escravos, (feitor, capataz)
51. Patrões A pesca 71- F«scaFi2 ação de o bras (m estre-de-obras,
Q u a d ro 2 — C a teg o rias S ó c io -p ro fissío n ais e R e n d a M é d ia __
52. Com erciantes e negociantes aparelhador)
53* Patrões A indústria
0 - A g ric u ltu ra e a tiv id ad e s e x tra tiv a s 2 3 . D iversos (tropeiros, carroceiros, 5 4. Finanças (tip o : pm prieíári®, corretor, 8 - T ra b a lh o esc ra v o
(2 8 1 $ /I8 ,4 % ) arreadores) capitalista)
2 4 . Sem especificação 5 5. A tividades interm ed S rias (tipo: agen 80. Serviço dom éstico
00. Lavradores (lavoura de subsistência) te , despachante) 81. Com ércio
01. Lavrador-arrendatário 3 - E m p re g a d o s a serviço d o E sta d o 56- Diversos 82. A rtes e oficios
(tipo: m eeiro, rendeiro) (1:735$/213%> 83. M anufaturas
02. Trabalhadores rurais (tipo: cam arada, 6 - P ro fissõ e s lib e ra is 0 * 3 8 8 $ /8 ,6 % ) 8 4. Lavoura
campeiro, lenhador) 30. Em pregados públicos sem especificação
03- Pescador 31. Em pregados da Casa Im perial 6 0 . C ategorias superiorra (trpoc tabelião, 9 - D iv e rso s
04. Serviço doméstico rural 3 2. E m pregados aposentados m édico, advogado),
33- Funcionários públicos de alto nível (tipo: 61 C ategorias m édias (tipo: professor, jor 90. Serviço dom éstico (urbano)
1 - T rab alh ad o res u rb a n o s e arte sã o s m agistrado) n alista, solicitador) 91 - E studantes
(721$/24,6% > 3 4. D efesa do Estado (oficiais) 6 2 . Categorias inferiores (tipo: m úsico, ator) 92. Soldados e m arinheiros
3 5. Igreja 6 3 . Q uadros superiores (ripo: engenheiro) 93. Sem profissão
10. Artífices (tipo: artista) 36. Diversos 6 4 . Q uadros m édios (tip o : adm inistrador) 94. Indigentes
11. A rtesãos d e e sta tu to in te rm e d iá rio
entre o artesanato e o salariato (tipo: 4 - E m p re g a d o s a se rv iç o d e
marceneiro, pedreiro, sirgueiro) e m p re sa s e d e e n tid a d e s p ú b lic a Ibate: ver nota 15 (ensxe parênteses: à esquerda, renda, média; à direita: % do cocai A eleitores).
12. Operários saio discriminados e p riv a d a (l:2 6 0 $ /4 ,6 % )
13. Operários especializados (tipo:
tipógrafo, torneiro) P a ra le itu ra desce q u a d ro , a p rim e ira observação a se r re tid a é q u a n to à
4 0 . Em pregados sem especificação
14. Oficios ambulantes 4 1 . Em pregados n o comércio (tipo: caixei re n d a m ín im a a n u a l d e 2 0 0 $ , q u e , e n tr e o u tro s c rité rio s, q u alificav a
15. Aprendizes e ajudantes de oficio ros, guarda-livros) leg alm en te o s eleitores. É o v a lo r q u e o nosso D r. O liveira S antos cobraria,
4 2 . E m pregados especializados (tipo: tele
2 - E m pregados em tra n sp o rte s grafista, taquígrafo)
seis anos d ep o is, p o r « m a ú n ic a visita à faz e n d a d o cliente. M a ria Yeda
(959$/i,9% ) 43- Serviços auxiliares n ã o burocráticos (ti T.ínhflfp-s n o ta c o rre ta m e n te q u e com re n d a abaixo d e ste v a lo r estav am os
p o : andador, pagador) in d ig en tes, q u e e ra m , a o q u e tu d o indica, a m aio ria d a p o p u lação . S egunda
20. Transportes coletivos urbanos 4 4 . Diversos
21. Transportes marítim os observação: a legislação exigia apenas a com provação d a re n d a le g a l d e d u
22. Transportes ferroviários zentos m il réis, o quie significa q u e , a te n d id a e sta exigência, o e le ito r p o d ia
declarar q u a lq u e r o u tro v alo r o u deixar aos recenseadores d e q u a rte irã o a
uCalculei a renda média para as categorias de patrões e d e profissões liberais, suprindo sua falta ta re fa de fix ar n m a re n d a a n u a l p re su m id a . Â p ró p ria lei p re su m ia q u e cer
no texto mencionado na nota anterior. O bviam ente, a professora Linhares n ã o te m q u a lq u er
ta s categorias d e eleitores a ten d iam prim afack ao critério legal, e os recensea
responsabilidade pelos resultados de m eu m anejo da m atem ática elem entar. Entxe parênteses,
a renda média anual das categorias sócio-profissíooaís e sua participação (% ) no total de 15.958 dores a n o ta v a m sim p lesm en te: “d a le T . E sta e o u tra s particu larid ad es d a iei
eleitores.
reco m en d am c a u tela n a In terp retação d o s registros. N ã o o b s ta n te este e
A S PROFISSÕES IMPERIAIS / / 81
b) R enda p o r
to s , m édico v á ria s vezes ele ito d e p u ta d o , d e c la ro u ig u a lm e n te u m a re n
Profíssá© d a a n u a l d e 6 :0 0 0 $ e m b o ra fosse p ro p rie tá rio d e u m a c a sa d e s a ú d e e
M édicos A dvogados E n g en h e iro s m n d o s sócios d a F á b ric a P a u G ra n d e d e te c id o s. D e o u tro s re g is tro s h á
Renda Média 4:823$ 5:142$ 4:169$ n ie n o s m o tiv o s p a r a d ú v id a s. D a r e n d a d e 6 :0 0 0 $ d e c la ra d a p e lo m é d i
Anual
co e b a rã o d e P e tró p o lis, e le ito r d a p a ró q u ia d e P a q u e tá , p ro v a v e lm e n te
Renda Modal 6:000$ 6:000$ 6 :0 0 0 $ a m a io r p a rc e la c o rre sp o n d ia a se u s p ro v e n to s d e a p o se n ta d o d o m a g is
(52% ) (6 3 % ) (23% )
té rio n a F a c u ld a d e d e M ed ic in a , e n e s te caso n ã o vejo razõ es p a r a c o n
c) Classes d e R e n d a p o r tro v é rsia s.13 O D r . H e n riq u e C a rn e iro L e ã o , c o m n u m e ro s a c lie n te la
Profissão (% )
e u m d o s m a is a fa m a d o s m éd ico s d a C o rte , d e c la ro u r e n d a d e 1 6 :0 0 0 $ ,
Menos d e 2:000$ 10,1 7,6 su p e rio r e m q u a tr o c o n to s d e réis à d e u m c o le g a n ã o m e n o s fa m o so , o
14,3
2:000 - 2:800$ 13,8 11,5 D r . H ilá rio Soares d e G o u v ê a . C o n s ta d o s re g istro s q u e e r a d e 1 0 :0 0 0 $
18,2
3 :0 0 0 -5 :5 2 0 $ 19,4 12,2 35,1 a re n d a a n u a l d e A n d ré R eb o u ças, id ê n tic a à d o e n g e n h e iro F rancisco
6:000$ 52,5 6 2 ,6 2 3 ,4
Mais de 6.-000$ 4,1 6,1 P in h e iro G u im a rã e s.
9
N ã o o b s ta n te a p o u c a confiabilidade d e alg u n s d o s reg istro s, ce rta m e n
Tbta! 100,00 100,00 100,00
te nãr> h á erro n a afirm ação de qu e o obscuro D r. Jo se Luciano P ereira, com
(217) (131) (77)
re n d a d e clarad a d e 2 :0 0 0 $ , d e fe to não p e rte n c ia ao m esm o e s tra to profis
sional e sociaí d a D r. C arneira Leão, q u a lq u e r q u e fosse a re n d a re a l d e u m
e d e o u tro . O u seja: ad m itin d o -se q u e a diferença e n tre as re n d a s declaradas
É difícil fazer q u a lq u e r afirm ação m ais fu n d a d a so b re a co n fia b ilid a d e fosse a p ro x im ad am en te pro p o rcio n al à diferença e n tre as re n d a s efetivas
das te n d a s a rro la d a s n o s dois Q u a d ro s . M in h a im p re ssã o , b a se a d a e m q u a isq u e r q u e fossem elas, o q u e parece razoável, e n tã o é possível su p o r que
inform ações b a s ta n te circ u n sta n c iais, é d e q u e m u ito s d o s ilu s tre s elei as feixas d e re n d im e n to no Q u a d ro 2 ta m b é m refletem ap ro x im a d a m e n te o
tores foram m o d e sto s n a d eclaração d e se u s g a n h o s a n u a is . N ã o creio perfil d a estratificação profissional: u m a m p lo estrato in term ed iário (rendas
q u e o D r. Luiz J o a q u im D u q u e E s tra d a Teixeira, u m ad v o g a d o b a s ta n te
conhecido n a C o rte e u m do s sócios m a is a tiv o s d a O rd e m d o s A d v o g a "In s titu to H istórico e Geográfico Brasileiro, l a t a 30 3 , Pasta 9 . Provavelm ente p o rq u e era dos
m ais sim ples, o co n tra to adm itia q u e o D r. D ó ria “subestabdecesse a procuragao . isto e,
dos B rasileiros, tiv e sse o b tid o a p e n a s 6 :0 0 0 $ d e te n d a a n u a l. O r a , p a r a pagasse a outro advogado, ou m ais provavelm ente a u m solicitador, p a ra se encarregar do caso.
prom over u m a sim p le s c o b ra n ç a d e “tre s le ttr a s , com g a r a n tia d e h ip o Por o u tro lado, n o valor estabelecido com o honorários estavam incluídas as despesas com custas
s Com. outras peças processuais (entre o u tias, o Livro IU das O rdenações), o C ódigo d o Processo
C a m e rc ã í era utilizado tam b é m nas «auras cíveis.
“ í“ T 1: - - ^ pr°M ‘* * * «Sobre ações d e liberdade v er o instigante te x to de Keila G rinberg, Uberatcu A lei da ambiguida
p T i ^taEF’ rheSaáal Iransformatitm tfAm & lcanftkdjçin). t f c v a T ir k : f e s íe B o o Ç ^ í^ g á ^ de. A s ações de liberdade da CorU de Apelaçãodo Rio deJaneiro noséculo X IX . Rio d e Janeiro: Relume-
D um ará, 1 9 9 4 . E ra considerável o núm ero de solicitadores n a C orte e o leitor encontrara a
publicidade d e seus serviços em q ualquer nú m ero àa Almanak Lammert. U m exemplo de 1871:
“Bernardo Pinto Carvalho, procurador e solicitador, encarrega-se de todas e quaisquer questões
ov eis, com m erdaes, inventários, apellações e revistas, e tu d o o m ais concernente ao foro. Tàmbern
se encarrega d a administração de quaisquer bens, ccsno predíos, escravos, apólices e acções dos
eu fizeram parte N ab u co de A raújo, S aldanha M arinho, F ran H in D ó ria (ba- tuíção do jú ri p o p u la r não exfetíu no- cível;31 e d o juízo cn iru n al (pouco
tao de Loreto), Rol Barbosa, Francisco I g n a d o de C arvalho M oreira (barão recom endável pela com posição po p u la r do jú ri, p e k extração social dos réus
de Penedo), Frandsco O ctaviano, T ito Franco, Francisco G ê d e Acayaba e pela p ró p ria n atu re z a d a s causas) ra ra m e n te p articiparam esses form idá
Montezuma (barão de Jeq u itin h o n h a), M achado P ortela, P erdigão M alheiro veis advogados, exceto q u a n d o em apuros alg u m a celebridade ou. p o te n ta
d o local. Assim é q u e eram literalm ente advogados de escritório e nele deixa-
e canros outros % urões do Im pério (e ta m b é m d a R epública). D a lista é
razoável inferir que o prestígio destes ho m en s era função m en o s d e sucessos •ram-se ficar a redigir petições, alegações finais, articulados e, principalm ente,
no exercício d a advocacia do q u e d a atividade política, em p a rtic u la r das pareceres p o r co n su ltas da clientela m ais a b astad a, p o is d a í tiravam eles a
funções pata. as quais foram eleitos o u dos cargos q u e o cu p aram n a alta p a rte d o leão.32
O escritório d e advocacia do conselheiro N ab u co de A raújo (ru a dos
administração do E stado. C om binando em diferentes m o m e n to s d e sua car
reira passagens pela m ag istratu ra, m inistérios, p re sid ê n d a d e p ro v in d a s, O urives n° 1 9 , 1° a n d a r — aluguel d e 1 20$) pode não se r típico, m as d á
Conselho de E stado, Senado o u C âm ara, vía de reg ra esses advogados n o tá u m a precisa idéia d a escassa atividade p ú b lica d a elite d o s advogados.33 O
veis unham o escritório de advocacia com o u m a estação inicial d e o n d e Conselheiro m u ito ra ra m e n te com parecia ao escritório; tra b a lh a v a em casa.
embarcavam p a ta a aventura d a política, p la ta fo rm a d e baldeação e n tre U m p o b re Sr. L obo, provavelm ente u m solicitador m a l p a g o (salário de
dois ramais políticos o u adm inistrativos e estação te rm in a l no p o e n te d a 8 0$), esfalfava-se d o escritório à residência d o Conselheiro e vice-versa Le
vida pública. Seja com o for, o que se conhece sobre a advocacia n o século vando e trazendo processos, tu d o a n o ta d o no D iário d o escritório de u m a
XIX refere-se a esses cavalheiros, os quais, pelas razoes expostas (e a exem form a sui gemrisz as páginas d a esq u erd a e ra m reservadas às anotações (n u
plo das notabilidades m édicas d a C orte), não eram profissionais acessíveis a m eradas) d o Conselheiro (ex.: ~Veja o E stado d a d ita revista" — 2 1 1 8 ), as
qualquer bolsa ou, pelo m enos, à bolsa p o p u lar. E m u m a ação de lib erd ad e d a d ire ita ao sócio, provavelm ente o filho Sizenando (ex.: “E stá com o {mi
estanam certam ente ao serviço do sen h o r d e escravos, e m b o ra fossem m u i n istro] A lbuquerque"— 2 1 1 8 ). T rata-se, com o se vê, d e u m D iário diaiógico
tos deles... abolicionistas! no q u a l o in terlo cu to r d a esq u erd a é q u ase sem pre lacônico e freq ü en te
Pode-se im aginar q u e form idável fig u ra fariam esses ilu strad o s, te m í m ente m u d o . À s vezes o Conselheiro p e rd ia p é no vaivém d a p a p e la d a (“C au
veis e poderosos varões perorando nos tribunais! E no e n ta n to q u ã o d ista n sa n° 6 d e 1869?” — 2 2 3 9 ), cabendo ao sócio restitu í-lo à superfície (“E stá
tes estavam d a clássica e ciceroniana im ag em d o advogado elo q ü e n te , do finda; foi c o n tra ” — 22 33),. ocorrências p a ra as qu ais d o u a seg u in te expli
intrépido wator no patrocínio d e u m a causa. Pois m a l falavam , se ta n to , cação: o D iário reg istra n a d a m enos d o q u e 37 processos vindos d e 1868,
reservando seus estim áveis recursos d e orató ria p a ra a trib u n a d a C âm ara cada u m e m fase diferente, e m ais u m a dúzia d o ano d e 1869- A lém disso, o
ou do Senado.36 A despeito do que e statu ía a C onstituição d e 1824, a in sti-
31N este e e m tantos outro s p o n tas a Constituição d e 1824 e ra extrem am ente elástica, até
porque em seu art. 178 Ü w e : “É só constitucional o qu e diz respeito aos iunites, e atr.buiçoes
respectivas dos Poderes Políticos, aos D ireitos Políticos, e individuais dos Cidadaos. Tudo o que
. N° COme5d21;. P °r esemP io> «as ações sum árias leria o advogado a petição
não é constitucional, p o d e ser a lc e a d o , sem as form alidades referidas, pelas Legislaturas
2 Í d ei d e - p o n n d e v iv a ™ ^ ^ in te nÇã ° .. : '( a r t . 2 38); em seguida “o r é o o u
O rdinarias.” , . ,
o À Ív n 0\ í í f \ 0ra} 0UpOt eSCrípt0> exhlbindo 05 docum entos q u e tiver...“ (art «H avia a í u m princípio de estratificação profissional de venerável m d iç a o nos países de cm t tow.
239). Ver Decreto n 737 de 2 5 de novembro de 1850 (D0 Prócer Cmmerciat). Q uando m inistro
da Justiça, jo se de Alencar propos que se instituísse “a discussão orai, com o base no processo Desde a idade clássica ern Roma as funções da advocacia eram estratificadas: a m ais nobre,
n& m drn, consistia n a exposição de u m a questão legal em resposta a um a consulta, e m típica
SU~ ° e “ rKS“ ° ’ e «>™> com plem ento nos processos ordinários substituindo as
razoes finaes escnptas que se usão actualm ente". Relatório á Asm nbkia Geral. Rio de Janeiro- dos ju ris ta s;* ^ « , a defesa orai do constituinte p e ran te os tribunais, típica d o advogado forense,
a&ere, a redação de testam entos, contratos e outros docum entos, típica dos n o tanos ou tabehoes.
? EeD5 r ' 9 ’ P ’ 11S' 119- A eXPOS^ ° 0ra! e pÚbIí^ *> cível, sem pre Estas distinções sem pre foram m uito atenuadas aos países de emrmitt lauf.
io x .„ d“ N a A ,“ " h* ■***■ HV e rn o ta 2 I.
Conselheiro respondia a dezenas d e co n su ltas (honorários e n tre 10 $ e 2 0 $ ,
atividade “m ecânica”. N ã o e ra m de tra b a lh a r n o s canteiros d e obras, de
raramente 30$ p o r consulta) sem descanso aos sábados (“R esidência à ru a
“p ô r a m ã o n a m assa”, com o faziam os ingleses o u o s am ericanos q u e cons
da Princeza d a C a tte te n° 1, o n d e recebe to d o s os sa b b a d a s, d e sd e as 6 d a
tru íram as ferrovias, os cais das cidades p o rtu á ria s e as obras d e in fra-estru
Etfde, as pessoas q u e o pro c u ra re m ”).54
tura u rb a n a . Exam inavam contratos, escreviam pareceres, fiscalizavam obras.
N ão creio qu e a ro tin a dos colegas d o Conselheiro fosse m u ito diversa. Q uase to d o s funcionários públicos n u m a sociedade a g ro e x p o rta d o ra onde
Seja coma for, fechados em seus escritórios, afastados d o p o v o , é p o u co p ro
pouco lu g a r havia p a r a a perícia técnica e escasso e ra o capital p a ra av en tu
s e i que o hom em das ru as tom asse conhecim ento d a existência desses ras em presariais, os nossos engenheiros d esfru tav am d e d e p au p erad o pres
q u e os ilu stres cidadãos to m a sse m tígio s o d a l e ex ata m e n te p o t isso, m ais d o q u e os m édicos e os advogados,
conhecimento d a existência d o p o v o . L ogo, o p restíg io d e q u e d e sfru ta v a m atrib u íam d e sp ro p o rd o n a l im p o rtân cia aos títu lo s acadêm icos e ao anel de
cmha lim itado raio e e ra a rigor d istrib u íd o interpores, À sem elhança d a elite g r a u ( a m a io ria e ra d e d o u to re s em m a tem áticas e ciências físicas e n a tu
méâk®^ c M a v a a dos advogados n u m m eio s o d a l e x tre m a m e n te rais). O s m ais notáveis e ra m “lentes” n a Escola C e n tra l e, depois dela, na
rarefeito e hom ogêneo.
Polytechnica. A despeito disso, alguns p o ucos a fo rtu n ad o s (u m a m inoria
Finalm ente, os engenheiros. A rig o r só com eçam a a p a re c er no cenário reduzidíssim a, é verdade) po d iam ch eg ar a receber os m ais altos salários do
da Corte com a construção das prim eiras e strad as d e ferro n a s e g u n d a m e ta Im pério, n ã o raro superiores à re n d a dos m édicos e dos advogados de m e
de do século e só ad q u irem a lg u m a visibilidade social a p ó s a criação da lh o r clientela. O d ire to r d a E stra d a de Ferro D . P edro II, n o rm a lm e n te um
°?a PoIy t e c t o a em 1874. E ra m en g en h eiro s d e u m a espécie b a sta n te engenheiro, g an h av a e m 1876 exatos 1 8 :0 0 0 $ , d u a s vezes o salário de um
peculiar, evitando sem pre a identificação d e se u oficio c o m q u a lq u e r tip o de juiz d o Sup rem o T ribunal d e Ju stiç a e m ais d o q u e o d e u m m in istro de
E stado. Pela direção d a ferrovia passaram , e n tre o u tro s m enos notáveis, Paulo
d e F ro o tin , C hristiano O ctoni e Francisco P ereira Passos.
I w J Í S Í y f 1“ "5 ^ te X tu a l à d o c o n s e lh e iro
p e rfo c b t ^ « d t a d b . c o n tra íd a s n o M édicos, advogados e engenheiros criaram associações p a ra intercâm
mtT ° í ■JUStÍSa’ D ê **• * e ie ®a s t o u * vez q u e ocupou o bio d e experiências e p a ra estu d o d e m atérias d e suas especialidades: a A ca-
^ P - d e u m p r im e ir a p a s s a g e m p e lo g o v e r n o , o c o n s e J h e ir o ti n h a
dista e n c o l a « t e r e s s a d o n a s d e s p e s a s (e n o p a d r ã o d e v i d a ) d o i n s i g n e e s t a - d e m ia lm p e ria l d e M edicina, o In s titu to d o s A dvogados Brasileiros e o Ins
^ 3 6 í' H > d o In stitu to titu to Poíytechnico do Brasil. Com suas diferentes categorias de sócios (titular,
Osas comer " .‘® * StD B“ * * “ o ( C ontas — recibos e notas fiscais d o C o n s. com diversas
agosto a 30 d e d e i r ^ U ™a am o stra: Confeitaria d o le ã o : 760$2Ó 0, de 4 de a d ju n to , correspondente), apresentação d e m em órias, sessões fechadas e
apenas ev e n tu a lm e n te a b ertas ao público, seções especializadas, prêm ios e
3 3 5 1 ^ ^ E D e“ ÍS> CabeUeiteiros d a O s a Im perial:
3' ^ ^ b“ deí854(^ s decharotos,eseo«demarfiípata m ed alh as, o m odelo a p a re n te m en te e ra a A cadém ie des Sciences parisiense.
^ t o d e ^ ^ e s c ^ p a « unhas, e tc .iJa c q u e s& v e íh -.M a sc a te R o m a n o iS U ÍT m
N ã o ta r a vez as sessões m ais solenes (aniversário d a associação, p o r exem
* 7 ^ ' ^ 1 8 5 4 (^ nC?íe re d e s^ ^ « “ d e s e t K r o ^ p a r a c r i a n ç a s ,
1 8 5 5 -^ r . ? ^ C r UKr S 6 M odístas: 7 7 0 5 0 9 0 de dezem bro d e 1 8 5 4 a abril de plo ) e ra m ab rilh a n ta d a s p ela presença do Im p e ra d o r; em o u tras a presença
v - J à S 1* Ír2 6 5 $ 2 0 0 d e 13 d e Janeiro a 2 9 de ab ril d e 1855 (1 2 earrafes
d e S M 1 era p o r si m esm a m otivo d e salenidades. M ais ta rd e vieram o C lub
l8 5 ? S re l 5 7 3 * 0 0 0 d e 2 5 d e Janeiro a 2 6 d e dezem bro d e d e E n g e n h a ria e a Sociedade d e M edicina e C iru rg ia do Rio de Janeiro.
o f£ de casirmra- » l e t e de veludo O tto m a n , calça d e casim ira cetim Dara
u Í o? 0 r ° & W aM erT ' W i r o s : 4 1 0 $ d e 9 d e fe v e re iro a 1 0 d e a g o s t o d e 1 8 5 5 '
M as, a lé m d e suas próprias associações, o s profissionais d isp u n h a m de
um se m -n ú m e ro d e o u tra s sociedades d e c aráter literário e c u ltu ral freqüen
OcanleibeimN Para resum jr: QUma som a p a rd a l d e despesas desse tip o
ta d a s ig u a lm e n te p ela n a ta d a intelectualidade d a C o rte. O In s titu to H istó
»» epoca de 7 .ÜÜÜ$ o saiario de u m m uustro de Estado.
rico e G e o g ra p h ic o (lá e sta v a m e n tre o u tro s o s en g e n h e iro s b arão de
C apanerna e P a u la Freitas), o In s titu to dos Bacharéis, a Sociedade de G eo m eirinhos, os exam inadores e os escrivães q u e c o m p u n h a m as com issões de
g ra fia ( q u e c ed ia suas salas q u a n d o tu m u lto s estu d an tis n a escola de enge- devassa e as ju n ta s de examinação» sem esquecer d e en v iar p a r a a M etrópole
oharia im possibilitavam as reuniões d o Inscituro Polycechnico), a S odedade o quinhão a q u e faziam jus o Físico e o C irurgião-m or. A s rabeias das p ro p i
P ro p a g a d o ra d a s Beilas A rtes e a té m esm o u m a Associação d e H o m e n s d e nas sugerem q u e não saíam b a ra to aos candidatos o s ex am es a q u e se su b
Letras q u e ed itav a a revista Bibliotheca Brasileira, e m cujo terceiro núm ero m etia m p a ra o exercício dos ofícios curativos. Se apiicado no P orto o u em
(setembro d e 1 863) o leitor e n co n trará indexado u m p o e m a d e M achado de C oim bra custavam 2 0 $ 9 0 0 aos can d iáad o s a cirurgião, a í incluídas as des
Assis 0 s ondinas), u m “rom ance in éd ito ” de Q u in tin o B ocayuva (A morte pesas com a carta (“feitio, im pressão, a ssig n a tu ra ”), e u m p o u co m ais
Moral) e u m “rom ance indígena” d e J o a q u im F e lía o d o s Santos (Acayaca). (2 1 $ 5 0 0 ) se aplicado nas p ro v in d as. O s m édicos e cirurgiões estran g eiro s
O u tra associação im portante, fre q ü e n ta d a principalm ente p o r engenheiros, q u e desejassem c u ra r nos dom ínios p o rtu g u eses p a g a v a m 3 7 $ 0 0 0 pelos
era a Sodedade Auxiliadora d a In d u stria N acional. Todas elas trocavam en exam es a q u e ta m b é m eram su b m etid o s.35 N a s colônias esses exam es não
tre si convites p a ra as solenidades aniversarias e enviavam às sessões com e- tin h a m m u ito v a lo r p rático e e ra m ocasião p a ra fre q ü e n te s ab usos d o s
moradvas das coirm ãs suas graves comissões d e representação. Tudo com delegados d o F ísk o -m o r, os quais, diga-se d e passagem , não tin h a m em su a
um saboroso e índisfarçável to q u e provinciano. M as o q u e esperava o leitor? m aioria q u a lq u e r qualificação. T ratava-se nesses casos d e p u ro e sim ples
interesse fiscal no s m o ld es d e u m a econom ia m e rcan tilista: a C oroa vendia
privilégios (as licenças p a ra curar), p erm itin d o q u e seus funcionários se ap ro
III
p ria sse m d a s re n d a s e p e n a liz a n d o se v e ra m e n te o s q u e c u ra sse m o u
p artejassem sem as devidas provisões.30
g ta n to b asta p ara a p re se n ta r m in h a e lite d e p ro fissio n a is, ta m b é m C om a In d e p e n d ê n d a e a criação d a s escolas superiores, as taxas escola
profissional da elite. O problem a é q u e m u ito pouco h á o q u e dizer sobre a res no Brasil foram , d e certa fo n n a , os equivalentes d a s p ro p in a s p ag as aos
massa de advogados, m édicos e engenheiros, sobre os q u e não deixaram delegados d a Fisicatura. A té m esm o as q u e a C oroa p o rtu g u e sa cobrava
rastro nos arquivos e que a história ig n o ra. In d ire ta m e n te, e n tre ta n to , é p a ra exam e d o s “físicos” e d ru rg iõ e s estrangeiros p e rm a n e c era m n a legisla
possível esboçar um quadro dos obstáculos a q u e tin h a m d e fazer frente em ção fiscal brasileira e nos regulam entos acadêm icos sob a rubrica d e tax as e
SÊU coddiano de estreitos horizontes, e u m dos m enores n ã o e ra o d e fazer d e im p o sto do selo. O governo ta x a v a a licença p a ra ad v o g a r sem d ip lo m a
frente às despesas com sua form ação profissional e com os im p o sto s q u e lhes (a ch a m a d a ad v o c a d a p ro visionada) e cobrava pelo ch am ad o “em p reg o v i
cobrava o governo. Vamos ao p o n to .
talício d e advogado não form ado”; tax as in d d ia m ain d a sobre a concessão
Garantir aos “físicos’' form ados em C oim bra o m onopólio d a co n su lta e
do s g ra u s d e d o u to r e bacharel fo rm ad o e m d ê n c ia s jurídicas e m edicina;37
da prescrição e aos cirurgiões o d e tra ta r d e doenças ex tern as; fiscalizar as
boticas para que não vendessem substâncias nocivas o u m edicam entos p o r
35Sobre as origens e evolução da Fisicatura e do C irurgiao-roor, v e r Eduardo de A breu (D r), A
preços que onerassem a econom ia dos súditos; exam inar can d id ato s a cirur Physicatura M ór e o Cirurgião M or dos Exércitos do Reino d e Portugal e Estados d o Brasil”.
gião, sangrarior, parteira o u d en tista passando atestações oaprovisões aos ap ro Revista Trimestral do Instituto Histórica e Geograpbico Brasileiro, Tomo LV1II, P arte I, 1901, pp.
1 5 4 -3 0 6 .0 origina! d ata de 1886.
vados» taís eram os cuidados d a C oroa p o rtu g u e sa com seus súditos. N o s wjá nessa época, um a das mais severas penas p a ra os m etropolitanos q u e violassem as regras era
domínios ultramarinos os delegados d a F isicatura e d o C iru rg ião -m o r (m ais o degredo para o Brasil.
37Tabeia anexa à Lei n ° 2 4 3 de 30 de novem bro de 1841 (Parte I — D o s em pregos e vencim en
sobre estas instituições no C apítulo 4) in cum biam -se d estas benéficas fu n tos: 5° — D o em prego vitalício de advogado não formado, 6Q$00G; }7 D o grao de
ções peias quais recebiam suaspropinas assim com o ta m b é m as recebiam os doutor em sciencias jurídicas e sotiaes ou m edicina, 40$0GQ; 8 o— D o grao d e bacharel nas ditas
srieacias, 30$QG0).
AS PROFISSÕES IM PERIAIS / / 99
f e iç ã o
. T T *
( t
p a s t a arrecadação do S e lf a .0 a rt 2R rT V nl •• - f P rovts°nam ente- o R egulam ento
e hterarios) estipulava e m 2 5 $ 0 0 0
c a irta d e d o u to ro u bacharel form ada“’,, e em 1 5 S 0 0 0 » j
16 d e janeiro ú k im o , relativo a exibição q u e c s m agistrados e advogados devem fazer dos
respectivos diplom as ou títu lo s científicos”. Ver ainda o Aviso n ° 2 5 d e 12 d e julho de 1887, do
indivíduo q u e n ã o seía fom-iadr." licença p a ra advogar o M inistério da Justiça, com o m esm o teor.
? cS l . ■="i s “ ’e * «Aviso n ° 53 de 30 de agosto d e 1882, do M inistério da Justiça, advertia o Presidente da Província
d o Rio d e Jan eiro de q u e nã o cabia im pedit a posse de u m Ju iz Municipal p o r não te r este
Ji z t n 20 S í f iAt r i r ^io010^
e em 1 8 8 l o
0í otda
u m b ro
D e c re to a ° 8 0 2 4 d e 1 7
**>*-*■- *
d e 1 8 4 3 d o b ro u e s te v a lo r ( a r t. 1 6 ) ;
apresentado seu títu lo , visto q u e o juram ento já havia sido deferido: “E m resposta cabe-me
declarar q u e , conquanto o citado aviso-circuiar {de 16 de janeira do m esm o ano] expedido a
c ad a u m a d as ^ e m 1 0 2 $ O O Q o v a f o r d a m a tr í c u la p a r a
4 0-, , s e t e s e rie s de exam e s d o c u rso d e m e d ic in a ( a r t. 1 1 ) requisição do M inistério d a Fazenda, tivesse o in tu ito m anifesto de evitar a defraudação dos
direitos nadonaes, devidos pelo títu lo acadêmico, é certo, todavia, q u e o m eio de obstar ao
exercício nas circunstancias expostas, era evitar o juram ento, que, um a vez prestado, to m a apto
o funcionário para assum ir o exercício, comm unicando-se as autoridades com petentes, sem
de o u tra formalidade ou sujeição a qualquer incerferencia probibltíva não expressa
m en te prevista em íeí.” Para. caso idêntico relativo a um juiz de direito, v er o Aviso n° 23 —
Justiça -—- Em 15 de jaseico de 1881.
eram exercidas as profissões n o Im p ério . O Aviso n ° 135 de 12 d e n o v e m p ela concorrência no m ercad o , tin h a m escassas pro b ab ilid ad es de b u rla r o
bro de 1846 m an d av a cobrar o im p o sto d e escritório aos funcionários p ú b li fisco e apenas o s m ais bem -sucedidos po d iam dar-se ao luxo de. e sta m p a r
cos q u e praticassem a advocacia fo ra das h o ras de serviço, "ad v ertin d o , p o nos jornais o u revistas as excelências de sua perícia.
rem que,, não c o m p etin d o às auto rid ad es fiscais conhecer se os q u e exercem O m ais curioso em tu d o isso é q u e os valores arrecadados não justifica
a advocada são o u não daqueles a q u e m as leis a p e rm ite m , o u p ro íb e m , a v a m as atribulações causadas aos p o b res profissionais. N o Im pério as m a trí
n enhum servirá de arg u m en to p a ra justificar-se do exercício indevido a ale culas nos cursos superiores não re n d ia m ao governo n e m m esm o o suficien
gação. de te r p a g o o im p o sto ”. T am bém não in teressava à F azenda se os te p a ra cobrir as despesas com as escolas, e o valor cobradG sobre os diplom as
m édicos m ilitares po d iam o u não exercer sim u lta n e a m e n te a clínica civil, seria u m a parcela ínfim a d o to ta l arrecadado com o im p o sto do selo 40 F ran
lim itando-se a co b rar o im posto dos q u e o faziam .43 cisco Ignãcio de C arvalho M oreira, o fu tu ro b arão de P enedo, ad m itiria d u
Isso p o sto , o le ito r p o d e concluir que n ã o e ra n a d a fácil a v ida d o s p ro ra n te d e b a te n a C âm ara q u e , se as altas taxas cobradas p e k s escolas não
fissionais m en o s aquinhoados p e ia sorte. À s vezes o g o v ern o im ag in av a fór m elhoravam o estado do tesouro nacional, tin h a m no e n ta n to o im p o rta n te
m u las m ais eficientes de cercá-los o u d e dificultar suas atividades. P o r ex em efeito d e blo q u ear aos brasileiros m ais pobres as o p o rtu n id a d e s d e u m a car
p lo , com o já referido im p o sto so b re escritório: tax av a-se o m éd ico , o reira profissional, fazendo delas m onopólio d e u m a m in ú scu la elite.
advogado e o engenheiro p o r u m v alo r p ro p o rd o n a l à locação d o im óvel Seja com o for, e com o a vida não é frita apenas d e fracassos e n e m ape
o n e exerciam suas atividades, visto q u e e ra m ais fácil m a n te r u m cad astro nas de triste z a , quero, encerrar este capítulo com u m a u tên tico happy end.
im obiliário razoavelm ente atualizado do q u e u m registro profissional.44 Logo, P razerosam ente, inform o ao leito r q u e o B r . Pedro Luiz N apoleao C hem ovitz,
nao surpreende a quantidade d e pequenos advogados, rábulas e ptovisionados q u e e n co n tram o s no início d e ste cap ítu lo e m p recária situação, fez fo rtu n a
nas im ediações das sedes dos trib u n a is a te n d e n d o os eventuais clientes em com edições sucessivas d o s seus Dicionário de medicina popular e Formulário
p le n a m a (e o le ito r p o d e im a g in a r o q u e e r a essa clien tela). M édicos médico do B razil e m u ito feliz d a v id a regressou à E u ro p a.
m icavam e m suas residências o u c lan d estin am en te nos fu ndos d e farm á
cias. O im p o sto sobre indústrias e profissões, in stitu íd o em 1867 com o u m a
agregação d o *de escritório” e d e o u tro s, o b e d e d a à m e sm a fórm ula, exceto
p a ra os engenheiros aos quais se tax av a "em razão d a im p o rtâ n c ia d o s lu g a
r e s o n d e e x e rd a m a profissão.« M édicos e advogados q u e desejassem fazer
p u b licid ad e d e seus serviços, u m a p rá tic a q u e iria se to rn a n d o necessária
O Dr. Jo b im e s u a A cadem ia
to a a Earopa para preciosas lições de anatom ia e pato lo g ia. N ão o b stante, n a p rim e ira m e ta d e d o século X IX ,16 se u p ro g ra m a e ra o q u e era: um a
^ túiímm terapêutico nasceu nos hospitais públicos franceses, e o p ro - irrealizável aspiração d e com partilhar p le n a m e n te o poder do Estado, de
0 t^eaçanto com as infundadas prom essas d a m ed icin a clínica se disciplinar física e m o ralm en te a sociedade, d e fo rm u la r as leis gerais d e sua
spraioa catno uma contagiosa onda de v iru len ta p e ste profissional, m as evolução. A c k e rk n e c h t lem bra ap ro p riad am en te o clim a in te le c tu a l p ro p í
® a íetafidade necessária para sepultar as inúteis e b árb aras “terap ias h e cio a tais devaneios, pois a dos higienistas e ra ta m b é m a época d e S aint-
róicas”.12 Sim on, C o m te , P ro u d h o n , Fourier, Je a n -B a p tiste Say e LguÍs B lanc, e n tre
o u tro s.17 Isto explica e m p a rte po rq u e em. m ead o s d o seculo X I X a b a n d o
Simultaneamente aos fracassos d a m edicina clínica, o u a té m e sm o p o r
n a ra m as velhas idéias sobre as causas d a s doenças epidêm icas — fatores
sadeíes;>g “higienismo" o u “m edicina social” to rn o u -se n a F ran ça u m a
clim áticos e am b ien tais geradores das “em anações deletérias”, d o s “m iasm as
peae d e i^ lc| í'smo durante a prim eira m e ta d e d o século X IX .13 C om
e d e o u tra s indefinidas e voláteis en tid a d e s atm osféricas — p a ra tr a ta r d a
2 í^ í1^ 0 abrangente do seu cam po d e atu ação , os m édicos híg ien is-
pobreza o u d a s condições d e vida nas incipientes ag lom erações industriais.
preteodiam pouco m enos do que realizar a u to p ia d e u m a ciência do
Pois b e m , n a C o rte d o Rio de Jan eiro os m édicos d a A cad em ia Im p erial
3(12 higiene: “a higiene pú b lica”, escrevia u m d e seus ex-
copiaram n ã o so m e n te os m étodos terap êu tico s d e B roussaís,18 m a s ta m
p^ ntes, Eameatis, em 1839, “se ocupa d o h o m e m n a sociedade, e o co n -
bém im p o rta ra m e m bloco o ideário d o s higienistas franceses. A ssim , e ao
moespéde. Religião, governo, tradições e co stu m e s, in stitu içõ es,
co n trário d o q u e o co rrera n a França, o n d e o m o v im e n to afastara-se, p o r
^ oes de homem a hom em , e de povo a povo, tu d o isso e s tá e m seus
desencanto e n tre o u tra s razões, d a m ed icin a clínica, n o Brasil fu n d iram -se
manos. te£n a ver, em u m a p alavra, com to d a s as facetas d e n o ssa
as d u a s v e rte n te s, u m a com binação h etero d o x a se v ista c o n tra o p a n o de
5ÜStenCía mais ainda p o rq u e ela te n d e , com o q u e ria C ab an is, a
fundo d a m a triz francesa. P ara com eçar, lem b ro q u e a S o d été Royale de
p tfeiçoar a natureza hu m an a geral”.14 P re te n d ia m ad em ais os hig ie n is-
M édecine, a precu rso ra no ancien régime d o higienism o d o século X IX , não
le ^ S^ Ca^ 0s nas no£Ões d e “m edicina política” (san itarism o e m e d ic in a tin h a r a Í 7 P«: a r a f l ê m r r a s e en co n tro u fo rte resistência n a d i t e d a F aculté de
® e poííck m édica” d ifundida pelo cam eralísm o ale m ã o , in s titu ir
M édecine, receosa d e p e rd e r sua posição d e c o n su lto ra do g o v e rn o . A lém
01112 e despótica disciplina sobre a sociedade c o m a c o b e rtu ra d e
disso, o s hig ien istas franceses eram em p ro p o rção considerável m édicos e
nm desmesur-, 4„m eíjte e m aj definido p ro g ra m a d e h ig ien e p ú b li-
a£a entre a m edicina e o E stado, necessária p a ra im p ie m e n tá -
“ Sobre a s origens da Société Royale de M édecine e su a estreita colaboração com o Estado sob
o patrocínio d e A im e-R obert Turgol, v er C arolíne C . H annaw ay, “T b e Société Royale de
preseatKta-' aos a u sw n os relatos médicos da época não se deve a q u a lq u er desvio M édecine an d Epidêm ica in tb e Ancien Régime”. Balkdrt ofthe History o f Medicine, v. 4 1 , 1972,
critérios é t ^ e8 ‘c‘m a avaliação dos resultados da m edicina do século X IX com os p p . 2 5 7-273.
dentes de f 7na *^e século X X . O s médicos sabiam q u e não sabiam , estavam ‘«Ackerknecht, o p . cit-, listou 2 5 2 livros editados e n tre 1315 e 1848.
I3Erwin H^A CUravam e da inutilidade das suas terapias. "Idem , íbidem , p . 144.
v y jr n 7 € ec^'t>“Hygíene in France, 1815-1848”. Bulletin o flhe History ofMedicine, v. “ Alguns, é verdade, não punham fé na teoria <fe excitação d e Broussaís. O D n Jo b im , que
certam ente considerava-a m ais um a das “extravagâncias, n a soencia”, perguntava retoncam ente:
mmj ; á ^ w s°^bd * 1948, p' 14°.
WA T- ^34- fera um paralelo entre o higienismo e as ciências sociais (D urkheira, em "E ntretanto o q u e é feito de tantas promessas e bravatas, q u e é feito do seu [de Broussaís]
system afrascezem França mesmo?“A nnaes de MedicinaEm xiiknse,4 o armo, vol. 4, n . 5, novem
bro d e 1848, p p . 121-122.
CAM POS C O E L H O
gresso d a C o rte a íb rtu g a í.20 E sta peça de legislação c o n tin u a ria em vigor
^ ‘gjoes vereranos das guerras napofeõ nicas e , e m com paração -com os
após a Independência, com o de resto todas “as ordenações, leis, regim entos,
" ^ei^ tltaVam nem P °^ e r nem d e posições d e lid eran ça. P o u -
alvarás, decretos e resoluções prom ulgados pelos Reis d e P o rtu g a l, e pelas
•conavam em universidades, geralm ente nas cadeiras d e higiene, q u e
quais o Brasil se governava até o dia 25 de abril d e 18 2 1 ”. A ssim d eterm i
gozavam a t prestígio científico. E m síntese, o m o v im en to higienista,
n o u a C arta de Lei d e 2 0 de ou tu b ro d e 1823 levada ao Im p e ra d o r p o r um a
1í o ^ ^ U^ iam S^ ° suas realizações, p a re c e te r p ro je ta d o u m a des-
com issão d e constituintes e p o r ele assinada. Pois be m , o R eg im en to do Ju iz
ímagem em seu tempo e na história d a m edicina francesa. Seu
o resgate tem sido obra de pesquisadores d o século X X . Com issário dava co n ta das seguintes categorias: os m édicos, os cirurgiões e
os boticários. Todavia, a q uem lhe requeresse, ap resen tan d o certidão de
Na Brasa, <®contrário, quase tudo o q u e se te m escrito so b re a m e d id -
q u a tro anos d e aprendizado com M estre aprovado, p o d ia o Ju iz Com issário
seculo XIX e princípios do nosso fora-se no higienism o (o u sanitarism o).
a d m itir a exam e d e farm ácia passando-lhe, se aprovado, a co m p eten te Cer
0 apenas as das vincolações e interesses ín s d tu d o n a ls e
tidão. N a s localidades o n d e não houvesse m édico o u fosse insuficiente o
res os pesquisadores, em bora estas n ã o sejam irrelevantes.19 M ais
portante é o fato de que é a elite a parcela d a so d ed ad e q u e deixa regis- núm ero deles p o d ia m os cirurgiões, “em núm ero certo”, p ra tic a r a m edicina
após subm eterem -se a exam es p e ra n te o Comissário D e le g a d o . E nas Locali
^ ^ p a r n a íiEtória, e do Dr. José Martins, d a C ruz J o b im ao D r. O sw aldo
dades onde não houvesse m édicos nem cirurgiões nem boticários, “os que
higienismo brasileiro foi sem pre u m m o v im e n to d a elite m édíca, e
não sendo C irurgiões se tiverem aplicado ao estudo d a m edicina e observa
po razões mais ou menos óbvias. Em prim eiro lugar, oferetia-lh e to d o s os
ção d o s m edicam entos d o país” poderiam ser exam inados e m m edicina e
^LmeQC0S ^ ue necessitava para reivindicar a instituição d a “m edicina
p ^ t o com. sua polícia médica”, e com e s ta u m a parcela d o p o d e r do farm ácia, “segundo o s seus poucos conhecim entos”; e se julgados necessá
rios naqueles Lugares rem otos o Comissário D elegado lh es passaria licença
. _ ' ^S^ndo, o higienismo abria-lhe o cam inho p a ra cargos n a a d -
a n u al d e C uradores. Por esses atos, e tam b ém pelas visitas às boticas, inclu
tração pública, desejáveis não apenas com o fo n te d e re n d a m a s ta m -
sive a dos navios, pag av am os interessados (exam inandos, boticários, p ro
„ COm° 1111131“ P^cie de participação vicária n o p o d er. D o s dois, o p ri-
prietários de navios) p ropinas ao Físico-mor, ao seu C om issário D elegado e
projeto esteve desde o início fãdado ao fracasso, m a s b e m sabiam os
a c a d a u m dos q u e c o m p u n h am seu ju íz o (u m escrivão, dois visitadores
aros o quanto m anter viva a u to p ia e ra necessário ao sucesso
do mais. mundano deles exam inadores, u m m eirinho e seu escrivão). Com a finalidade d e fazer ob
servar este R egim ento devia o Comissário prom over devassas anuais in q u i
rin d o os iten s seguintes: “se alg u m a pessoa, que mio e ra M edico, o u não
II tin h a licença p a ra su b stitu ir a falta de Medicos, applicava rem edios ás enfer
m idades internas, receitando o u p o r qualquer outro m odo; se alg u m Boticário
~^ -^hrara de 22 de Jan eiro d e 1 8 1 0 , o R e g im e n to do Ju iz vendia rem edios activos, suspeitosos, perigosos o u venenosos sem receita de
ãrío Delegado do Physico-m ór d o R eino foi, p ro v av elm en te, a ú lti- pessoa auto risada; se os Boticários haviavão receitas d e m edicina passadas
p ça de legislação m édica assinada pelo P rín cip e R e g e n te a n te s d o re p o r pessoas ilegítim as; se tinhão parceria com alg u m M edico o u C irurgião;
®Do p e q u en a g ru p a inicial q u e organizou a Saciedade q u a tro socios eram form ados em Paris
(José M artins d a C m z jo b m i, Francisco Freire Alemão, Francisco d e Pa.uk C ândido, Jo aq u im
Cândido Soares d e M eireles) e um em Estrasburgo (José Francisco X avier Sígjuid).
^ . . M á i - b m á > íxh a,m imigi0 de l 8 2 4 ° l r L o 7 L l” T ? ° r fqUe
te te E k h im tG e o v r a tò k o B ra sile iro Tr,rA r , ^P A dditional . R g v ista do InsU-
3 0 as citações, do. Preâmbulo aos estatutos d a Sociedade, foram extraídas <k Alfredo Nasci
m en to , OanCenáriodzAcadkmiaNacionalde Medicinado Rhdejaneinf, 1829-1929. Rio de Janeiro:
op. peci ’ m> 19101 301-318-
Im prensa N acional, 1929, pp- 52 a 54.
m V a s a o e m a r d a d a s g e m i a s , p ro p o n d o íeis s a n ita m * e m W i o n i a “aco stu m ad o ao gozo d e in te ira e a b s o lu ta lib e rd a d e d e tu d o fazer q u a n to
c o m o E sta d o a to a i d o s conh ecim en to s m é d ic o s...”. A S ociedade não era lhe a p ra z ...”'.33 D o lado d o E stado não havia, e n tre ta n to , q u a lq u e r d isp o
pois, u m * associação profissional. E la n ã o fo ra c ria d a p a r a o rg a n iz a r a sição o u co m p ro m isso em c o m p a rtilh a r seu p o d e r c o m associações civis
m assa d o s m édicos, cirurgiões e farm acêuticos e re p re s e n ta r seus in te re s e m relação às q u a is, d ig a-se de p a ssa g e m , a M o n a rq u ia n u trira e n u triria
ses profissionais e n e m se d isp u n h a a tais p ro p ó sito s. O s v alo res q u e a n i sem p re a m a is to ta l desconfiança. A fo rm a ro tin e ira c o m q u e e ra m g e ra l
m a v a m os sócios e ra m os d a H u m a n id a d e e d a M ed icin a, os d a F ila n tro p ia m e n te apro v ad o s os e sta tu to s dessas associações n ã o deve obscurecer o
o d a Ciência to d a a p a u ta ideológica d o líu m ín ísm o — , co m o co n v in h a fa to d e q u e tin h a m d e ser su b m etid o s à aprovação do g o v e rn o , q u e dessa
a a u s te ra s le n te s d a acad em ia m é d ic a d a C o rte , a in flu e n te s d o u to re s exigência n ã o a b ria m ã o . O s d a Sociedade de M ed icin a do R io de Ja n e iro
p a ia a a n o s ^ e a p ró sp e ro s clínicos d a elite , n o ta n d o -s e q u e n o m a is das fo ra m aprovados e m 15 d e janeiro de 1 8 3 0 , e v ale a pe n a o reg istro de qu e
vezes as tre s posições convergiam em sig n ificativ a p ro p o rç ã o d o s sócios.31 m éd ico s (e p a d re s) fre q ü e n te m en te h av iam sido ativ o s e m sociedades se
A firm a v a o D r. J o s é M a rtin s d a C n iz jo b im , m édico d e suas a ltezas im p e - cretas e em m o v im e n to s libertários. N ã o q u e necessariam en te fosse ocor
n a is , q u e n a m ed icin a h av ia se m p re d u a s classes, “u m a d e m édicos sábios rer o m esm o com os esculápios d a Sociedade de M edicina, m as u m a eficiente
e o u tra d e m éd ico s p u ra m e n te p rá tic o s q u e , sem c o n h e c e rem in fin itas fó rm u la p re v e n tiv a , so b retu d o e m época de ta n ta s co n tu rb açõ es políticas
cu rio sid ad es científicas, são co n tu d o ó tim o s p rá tíc o s.f...} U m a coisa € p r a com o fo ra a R egência, p o d e ria ser a d e “oficializá-la”, com o de fato ocorreu
tic a r lo u v a v e lm e n te a m ed icin a e a c iru rg ia , o u tr a m u ito d iv ersa é se r e m 18 3 5 ao tra n sfo rm á -la o governo em A cadem ia Im p e ria l d e M edicina.
c a p a z d e c o n trib u ir p a ra os p ro g resso s d a ciência”.32 O ra , o D r . J o b im e M as e s to u rn e a d ia n ta n d o à história.
seus co leg as d a Sociedade d e M edicina d o R io d e J a n e iro n ã o se viam n a
classe d o s p u ra m e n te p rático s” e , sendo h o m e n s d a ciência, não co m p a r
tilh a v a m « m a m a ssa d o s clín ico s e c iru rg iõ e s q u a is q u e r in te re sse s IV
p rofissionais. S im p lesm en te ig n o rav am su a existência.
E b o m o b se n ra r ta m b é m q u e a s boas disposições c o m q u e a Sociedade E m sua breve existência a Sociedade de M edicina do Rio de Jan eiro com pôs
o fe re c ia se u s se rv iç o s (n ã o s o lic ita d o s ) fariam , p a r t e d e u m p ro jm u m currículo d e m o d estas realizações, com exceção, talvez, d e u m a m ais
m s n tu c io n a l d e c o m p a rtilh a r o p o d e r d o E sta d o . P a rte . p o is. d a s aspirações notável p o r razões q u e e m seguida esclareço. D iscutia a Com issão de Saúde
d e u m a e lite profissional q u e , n ã o o b s ta n te fa lta r-lh e a u to rid a d e c u ltu ra l P ú b lica d a C âm a ra d o s D ep u tad o s u m a nova organização p a ra as academ ias
(o u e x a ta m e n te p o r isso), n ã o via c h e g a d a a h o ra d e d isc ip lin a r u m po v o m édico-citúrgicas, q u a n d o decidiu solicitar à Sociedade sua colaboração,
rem eten d o -lh e p a ra exam es os pro jeto s até e n tão apresentados. F orm ada
jO ® í,m !oS d e n o b re z a «sãc eram mcoim ms e a tre os lentes d a Eacaidade de Medi«»*» su a p ró p ria com issão d e notáveis, a Sociedade elab o ro u u m prim eiro projeto
q u e ficou e m d e b a te interno de o u tu b ro de 1830 a julho de 1831, o q u e d á
& B ? J r T Z ? de ^ is a b d 0eate d e ^ f o g l a E x t e r n a em 1852), B a S o
^ ‘•Representação a S.M . o Im perador acerca das infracções das leis da saúde e dos abusos na
A natom ia e m 1857), BarSo de Maceió (lente de A o a to m Í e m I s Í l H "
profissão m édica, etc. etc. Apresentado pela Comissão adfaoc, era 12 de julho de 1849 -Annaes
de Medicina Brasiliense, vol. 4 , n ° 12, junho de 1849, p- 2 7 7 . Starr, o p. cit-, p . lo , define
autoridade cuhitral como “probabilidade de que definições particulares da realidade e julgam entos
de valor e d e significados prevalecerão com o válidos e verdadeiros”. O leitor não deve estranhar
C ãm piaense GeXetraSj fi0 12, 1964 ’ arnP iQas- Academia
a remissão à revista d a Academ ia Im perial de Medicina quando de referências à Sociedade de
'^Rsginâldo Fernandes, qj». cit, p . 148.
M edicina do Rio de Jan eiro , pois, como ser verá em seguida, são um a única e m esm a instituição.
b e m a idéia diaim portância q a e a trib u ía à q u e stã o .34 Pode-se su p o r q u e esta lo g o viria o A to A diciona! p a ra a g lu tin a r o cam p o lib eral. É difícil não
fosse u m a excepcional ocasião p a ra q u e firm asse seus p o n to s d e v ista sobre
discernir u m afago aos liberais qu a n d o se lê o a rt. 16 do projeco inicial: “nas
a p rá tic a d a m edicina, sugerindo aos d e p u ta d o s noEmas m ais rígidas p a ra
capitais das pro v in d as m ais longinqtias e populosas se estabelecerão escolas
seu exercício.. S u rp reen d en tem en te, ta n to a versão inicial q u a n to a final d o
secundárias d a m a n e ira q u e fo r d e te rm in a d o p o r u m a lei especial. Estas
p la n o p ro p o sto e ra m excepcionalm ente tím id as, e dois dos vários artigos
escolas darão o direito d e curar so m e n te nas províncias e m q u e existirem , e
m erecem referência especial. O a rt. 12 d a p rim e ira versão d isp u n h a q u e
naquelas em q u e não as houver”. O curioso n este artig o , elim in ad o d a ver
“so m e n te p o r consenso das escolas d o Brasil se p o d e rá curar, ser boticário e
são final, é q u e ele criava u m a v arian te brasileira do efficiat de santé%ab o m i
p a rte ira . Á s cam aras m unicipais velarão sobre a execução d o p re se n te a rti
nado pelos m édicos franceses, e. ig u a lm e n te inviabilizava n o Brasil o irrestrito
g o ” . O significado desse “consenso” é p ro b le m á tic o , e fica-se sem saber m onopólio m édico ta l co m o ocorrera n a França. E no a rt. 8 ° d a s D isposi
c o m o d ele p o d e ria re su lta r a regulação d a m edicina, o u m esm o com o po d e
ções Gerais ocorreu à Sociedade d e M e d id n a p ro p o r q u e “o ensino d e m ed i
ria s e r nego ciad o e n tre duas escolas tã o d iferentes (e tã o d is ta n te s u m a d a a n a fica livre: q u a lq u e r pessoa, nacio n al o u estran g eira, p o d e rá estabelecer
o u tra com o s m d o s d e com unicação d a época) q u a n to as do Rio e d a B ahia. cursos particulares sobre os diversos ram os das ciências m édicas e accessorias,
Talvez quisessem os m édicos prevenir-se c o n tra a in g erên cia d o E stad o nes- e lecionar à s u a v o n ta d e , sem oposição q u a lq u e r da p a rte d a s Faculdades”.35
ca m a té ria g a ra n tin d o p a ra si, através d e acordo e n tre as academ ias, capaci
E sta disposição lhes v aleria no- fo tu ro sérios aborrecim entos. M as n a época a
d a d e au to-regislatória. Todavia a im pressão q u e se o b té m é q u e a Sociedade Sociedade d e M edicina não p o d ia v islu m b ra r no nascente o brilh o de o u tro s
d e M ed ic in a o p to u p o r u m a posição d e excessiva p ru d ên cia, acé d e tim idez, ascros capazes d e d isp u ta r com ela o m onopólio das luzes sobre a saúde do
p o r n ã o s e r capaz d e p re v e r a reação d a C â m a ra n u m a q u a d ra p o liticam en te Im p ério .
c o n tu rb a d a . Â deferência inicial às câ m a ra s m u n icip ais, d a s q u a is já se D e q u a lq u e r m o d o , o u tra foi a a titu d e d a Com issão d e S aúde P ú b lica d a
conhecia a ineficiência desde q u e a Lei d e 3 0 d e a g o sto d e 1828 lhes d e ra C âm a ra dos D e p u ta d o s, presidida pelo m édico baiano L ino C o u tin h o .36 N a s
a tn b u iç õ e s n a á re a d a saúde pública, su g ere ig u a lm e n te u m a razoável dose em en d as ao p la n o d a Sociedade e la su b stitu iu o “consenso d a s escolas” p o r
d e in se g u ra n ç a . Tkm bém o a rt. 4 0 d isp u n h a q u e “as pessoas hab ilitad as algo incisivo e definitivo: “Sem u m titu lo conferido o u a p p ro v ad o pelas
p a r a c u ra r serão ob rig ad as a apresen tar os títu lo s às C âm aras M unicipais, Faculdades de M edicina d o Im pério, n in g u é m p o d e rá curar, te r botica o u
q u e d e p o is d e reconhecerem sua legalidade, inscreverão o n o m e e m o rad ia partejar, e n q u a n to disposições p artic u la res q u e re g u le m o exercício d a m e
d e suas pessoas e m u m a lista, q u e estará afixada à p o rta d a s m esm as C âm a d id n a não providenciarem , a respeito. N ã o estão com preendidos n esta dis
ras” . A Sociedade, com o se vê, escrupulosam ente observou a legislação vi posição os M édicos, B oticários, C irurgiões e Parteiras le g a lm e n te autoriza
g e n te , n o caso a L ei d e 11 de o u tu b ro de 1 8 2 8 , q u e m a n d a v a m édicos e d o s e m v irtu d e d e lei anterior. ”' D e u m a só p e n a d a a C om issão estabelecia o
cirurgiões av erb arem suas cartas n o Senado d a s câm aras. R egistre-se, p o r d ip lo m a com o critério d e credenciam ento e licenciam ento p a ra o exercício
outED la d o , q u e as forças d a descentralização p o lítica g a n h a v a m ím p e to e
Ao contrario do q u e se cre, & Lef de 3 tfe o u tu b ro de 1832 não inovou ao ad m itir o ensino
54 Plano d e organização das Escolas de Medicina do Rio de Ja n e iro e Bahia, p a ra ser apresentado livre, segundo o p lan o d a Sociedade de M edicina. O D r. Jo a q u im Cândido Soares de Meirelíes,
à C am ara dos Srs. D e p u tad o s pela Sociedade de M edicina do Rio de Jan eiro , em satisfação ao u m dos fundadores da Sociedade, obtivera, e m 1828 licença para ab rir u m curso- de medicina
convite q u e ih e fox feito pela m esm a Camara a 7 de o u tu b ro de 1 8 3 0 ” (versão inicial) / “Plano prática. Aviso n° 145 — Im pério — E m 4 d e o u tu b ro de 182S — Concede licença para a
«fe- organizagao das escolas m édicas do Im pério do Brasil, redigido p ela Sociedade d e Medicina abertura de um Curso de medicina, pratica nesta C orte.
do Rio d e Jan eiro , p o r convite que a A ugusta C am ara dos D eputados lhe dirigio em 7 de ^ E m e n d a s ao P lano de Organização das Escolas de M edicina d o Im peiio ofFereadas pela
o u tu b ro d e 183QT (Versão final). Annaes Brazilienses de Medicina, a° 10, Tomo X IX , m arço de commissão de Saude Publica". Ammm BraziUsmes de Medicina, n ° 10, m arço d e 1868, Tomo
18 6 8 , p p . 4 5 2 -4 5 7 e 4 5 8-464.
X I X pp- 473-476.
d a m edicina, na p rá tic a criando o m onopólio m édico. A s escolas ficaram a Seja com o for, os e sta tu to s d a A cadem ia não diferiam su b stan cialm en te
dever ta m b é m aos d eputados u m a considerável m a rg e m d e a u to n o m ia d i dos d a Sociedade, a té p o rq u e tratava-se, d e faro , de u m a única e m esm a
dática e ad m in istra tiv a , visto q u e iriam reger-se d u ra n te a lg u n s anos pelos associação. T am bém a A cadem ia era “especialm ente in s titu íd a p a ra resp o n
estatu to s e regim ento d a Faculdade d e M edicina de Paris, a té q ue o Legislativo d e r às p e rg u n ta s d o G overno sobre tu d o q u a n to possa interessar à saúde
providenciasse sobre a m até ria . Seja com o for, com as escassas em en d as da publica, e principalm ente sobre as epidem ias f...} ocupando-se além disso
C om issão d e Saúde P ública o plan o d a Sociedade de M e d ia n a viria a ser a d e rodos os objetos d e estu d o , e de indagações q u e p o dem concorrer p a ra o
Lei d e 3 de o u tu b ro de 1832, u m m arco n a h istó ria d a m e d ia n a brasileira progresso d o s diferences ram os d a arte de c u ra r” (a rt. 4 5 ). E, sem abdicar
seg u n d o o s seus historiadores, p o r representar u m p o n to d e inflexão no dos seus alto s ideais d e serviços à H u m a n id a d e e à G ê n d a , lem b raram -se
ensino m édico. R ecom endável, todavia, é reter, com binados, dois artig o s d a d esta vez os esculápios d e incluir nos e sta tu to s preocupações m ais m u n d a
Lei d e 3 de o u tu b ro pelo q u e iriam rep resen tar em dores d e cabeça p a ra a n a s e interesses m ais terrenos, inscrevendo n o a rt. 7° q u e “o Lugar de m e m
elite m édica. O a r t. 13 repetia a e m en d a dos d e p u ta d o s: “Sem títu lo confe b ro d a A cadem ia é u m títu lo d e recom m endação p a ra to d as as com m issões
rido, ou aprovado p elas Faculdades, n in g u é m p o d e rá c u ra r, te r b o tic a o u o u em pregos relativos ao exercício d a m edicina...”. O s reg u lam en to s, q u a n
partejar...“ (ênfase m inha). O a rt. 3 3 estabelecia o ensino livre: “O ensino d o p ro n to s, seriam subm etidos à aprovação d o G overno (a rt. 30), o q u a l
d e m edicina fica livre: q u alq u er pessoa nacional o u e stra n g e ira , p o d e rá es po d eria, adem ais, rejeitar sob certas condições candidatos a m em b ro s h o n o
tab e le c er cursos p articu lares sobre os diversos ram os d a s ciências m edicas, e rários (a rt. 2°). O Tesouro N acio n al supriria a n u a lm e n te a A cadem ia com
lecionar à s u a v o n ta d e sem oposição alguma de parte das Faculdades. ” (ênfase u m a so m a p a ra despesas com publicação d e u m periódico e com prem iação
m inha). O bserve-se q u e o a rt. 33 não se refere à c o m p etên cia desces cursos d e m em órias (a rt. 29).33
p articu lares p a r a conceder d ip lo m a o u g r a u acadêm ico. N e m diz sim , nem A s inclinações d a Sociedade B rasileira de M edicina e ra m definitivam en
diz não. te repressivas, p a ra não dizer policialescas. P a ra com eçar, e m anifescando-se
se m p re p e la p e n a d o re d a to r d e s u a re v ista oficial, jam ais absolveu os
reform adores liberais (“p la n ta d o re s d e s t a sem en te revolucionaria, e n tão
IV
senhores d a im p ren sa e d a trib u n a ”) d o equívoco d e haverem abolido, “sem
a m e n o r reflexão”, leis q u e encerravam a experiência de séculos, e n tre elas a
Tem os, e n tã o , q u e q u an d o a Sociedade de M edicina do Rio d e Janeiro foi
q u e criara a Fisicatura, instituição q u e com su a au to rid ad e fo ra tão ú til e
oficializada” e m 1835 com o n o m e de A cadem ia Im p e ria l d e M edicina, as
benéfica.39 E e m b o ra feliz com o m o vim ento conservador d o Regresso, não
escolas d o Rio e d a B ahia já controlavam a concessão dos diplom as e a m edicina
tã o radical com o ela o desejara, lam en tav a a A cadem ia Im p erial a om issão
“oficial” já disp u n h a d o m onopólio legal d a prestação d e serviços m édicos.57
d o s delegados d e polícia n a repressão às inflações das leis d e saúde, recrim i
Bem vistas as coisas, não havia m u ita inovação nisso, pois, d e certa form a, as
n av a a ju stiça ordinária q u e to m a ra a st “a a rd u a tarefa d e absolver os crim i
academ ias d e m edicina apenas to m av am o lu g a r d a Fisicatura o u d o s seus
nosos”,40 lastim ava n o Legislativo “a m ania d e tu d o em endar, a in d a aquillo
Delegados,. A fo rm u la d a regulação perm anecia a m esm a: exam es (agora ao
fim de uxo curso acadêm ico) e diplom a (em lu g a r das antigas “cartas”).
^Eata som a variou en tre u m e dois contos de réis a té o fina! do Im pério, u m a q uantia irrisória
te n d o em vista as pretensões da Academia.
^ D ecreto de 8 d e m aio de 1835 — C onverte a Sociedade d e M edicina do Rio de Ja n e iro em 35R o b erto J o rg e H a d d o ck Lobo, “A A cadem ia im p e ria l d e M edicina e a rep ressão ao
Academ ia, com o titek» d e — Academia Im perial de M edicina do Rio de Janeiro- e dá-lhe charlatanismo'’. Annaes de Medicina Brasilieme, vol.. 4 , a° 12, junho de 1849, pp - 274-5.
estatutos. ^ d e m , ibidem , p . 280.
q u e com todo o esm ero é feito p o r profissionaes", e criticava os d e p u ta d o s
u m a a fio n ta à dig n id ad e dos sócios e u m a am eaça p o te n c ia l à jurisdição d a
q u e “co m p le ta m e n te hospedes e m assum ptos de nossa a rte , se ju lg u e m com
m e d ia n a “oficial”, to d a e la o b tid a so b a ég id e d a “ciência” m éd ica alopática.
d ire ito d e legislar naquillo que ig n o ra m ”.41 Inconform ada e impotente, ela
M ais intolerável e ra , todavia, a adesão q u e as tetap ias hom eopáticas o b ti
im ag in av a a existência d e u m a “classe rival”, a dos advogados e m a g istra
n h a m n a p o p u lação , p artic u la rm en te nos círculos m ais elevados d a socieda
dos, q u e c o n tra e la estaria conspirando n a C âm ara e nos trib u n a is e espera
d e 45 A h o m e o p a tia e ra não apenas m ais acessível às cam adas m ais p o b res,
v a “q u e a b o n d a d e de D e u s nos livre d a judicocracia, q u e e m tu d o influe” 42
q u e o s h o m eo p atas p ro cu rav am a te n d e r g ra tu ita m e n te , m a s ta m b é m m ais
E ste re g istro agressivo nas m anifestações d a A cad em ia Im p e ria l d e
assem elhada, às p ráticas curativas p o p u la re s e um a b e m -v in d a a ltern ativ a às
M edicina coincidiu com o surgim ento d a h o m eo p atia no B rasil e c o m sua
sangrias,, p u rg a s, vom itórios, sanguessugas e o u tro s m é to d o s agressivos d a
crescen te p o p u la rid a d e a p a r tir d a d é c a d a d o s 4 0 ; e g a n h o u adicionais
te ra p ê u tic a “oficiai”. Essas m esm as v a n ta g e n s relativas co n quistavam sim
decibéis, to rn an d o -se estridente, q u an d o convenceram -se os associados m ais
p a tiz a n te s n a a l t a so cied ad e d a C o r te , c ie n te d a d ifu s ã o d o sis te m a
in flu en tes d e q u e © governo não reprim iria as atividades d o In s titu to H o
h ah n em m an ian o n a E u ro p a e ta m b é m m ais cética q u a n to à superioridade
m eopático d o B rasil n e m as d e sua dissidência, a A cadem ia M édico-H om eo-
d a m ed icin a convencional. D isp o sta a u s a r d e q u a lq u e r recurso c o n tra os
p á tic a .43 D e faro, invocando o a rt. 33 (o d a liberdade d e ensino) d a L ei d e 3
ho m eo p atas, a A cadem ia Im p e ria l p ro ta g o n iz o u episódios d e explícito e
d e o u tu b ro d e 1 8 3 2 , o governo, e m 1 8 4 6 , d e u reconhecim ento oficiai à
p re m e d ita d o d ra m a tism o com o q u a n d o am eaçou “ir e m corpo a n te o 'S o
E scola H o m e o p á tic a m a n tid a peio In s titu to e, confirm ando ta m b é m o d i
n o ” e arm n riar ao Im p e ra d o r stia autodíssolução: “E p ra z a a D e u s, q u e a
re ito q u e tín h a m o s seus egressos d e p re sta re m exam e d e suficiência p e ra n te
revolução q u e o ra se p re te n d e fazer n a a rte d e curar, n ã o seja ta m b é m a
a s bancas d a s faculdades, abria-lhes, desde q u e aprovados, a via do exercício
precursora d e u m a o u tra q u e te n d e a a n iq u ila r o s sagrados direitos d e V M .I.,
kg a l d a m e d itin a e m to d o o Im pério.44 D e n ad a v aleram os p ro te sto s d a
e d a religião d o estad o ”, concluía c o m indisfarçável m á-fé.46 Todavia era m
A cadem ia Im p e ria l d e M edicina c o n tra o “despotism o” d o executivo e con
m édicos d iplom ados os q u e aderiam e m nú m ero c a d a vez m a io r ao sistem a
tr a a in c o n stím d o n a íid a d e ” do a to g o v ern am en tal.
h a W m m fln ig n nj e , q nando &dissidência fu n d a d a pelo D r. D u q u e E stra d a
A m e ra existência dessas instituições co n stitu ía u m desafio à A cadem ia,
g a n h o u peso n o co rrer do s anos, a E scola d e M edicina to rn o u -se a ú ltim a
•“ “O s m édicos a s p ad am en to : esperanças bem fundadas”. Annaes de Medicina Brasilieme, v. 4 , lin h a d e resistência d a m edicina a lo p ática, p o is e ra crucial e v ita r q u e m a té
n ° 5 , novem bro d e 184S, p . 103- A Redação da revista assume a autoria destas críticas n a seção rias d a d o u trin a e d a te ra p ê u tic a rival fossem alojadas no currículo d a esco
Folhetim ; o autor, todavia, é o D r. R oberto Jo rg e H addock Lobo, red ato r dos Annaes.
“ "Resposta do Redactor à carta do Sr. D r. MeireHes inserta no n ° 6 dos A nnaes”. Annaes de la. E sta línha os hom eopatas não conseguiram cruzar, a despeito das investidas
Medicina^ Brasiliemet v o l 4 , n° 7, janeiro de 1849, p p. 152-3 (seção Folhetim). c o m an d ad as p e lo D r. Jo a q u im M u rtin h o no início d a décad a d e 8Q.47
430 In stitu to Hom eopático foi fundado em 1 8 4 4 no Rio de Janeiro pelo francês Benoít M ure,
representando a corrente m ais ortodoxa q u e professava a separação radical e n tre a hom eopatia e
a alopatia; a Acadeaua M édico-Hom eopática, cujo líder dissidente era o D r. D om ingas de Azeredo
C o atin h o D u q u e Estrada, foi fundada em 1848, representando a concepção de q u e a hom eopatia
só p o d ja ser praticada p o r médicos formados nas escolas oficiais. Para um a história da hom eopatia
45C o n stara q u e a princesa Isabeî e o coo d e cf'Eu eram adépcos d a hom eopatia. Ver Santos Filho,
aio Brasil e das disputas com a m edicina “oficial”, tendenciosa nos julgam entos m as rica de.
detalhes factuais, v e r José Rodrigues G alhardo (D r), Historia da homeopatia no Brasil. Kio de op. cit., p . 395 -
Janeiro: Editora d o In stitu to H ahcem m am ano do Brasil, 1928. “'Annaesde M edkina Brasiiknse, vof. I, nt° I I , abril d e 1846, p . 449- N este trecho a Academia
Aviso de 2 7 de m arço de 1846, do Ministério d a Justiça, advertia q u e os hom eopatas forma lem bra ao Im perador a doutrina feurieristada q u a l era adepto B enoit M ure, e associava d e m á fé
dos n a Escola H om eopática não podiam exercer legalm ente a medicina antes de se habilitarem a hom eopatia ao "comunismo”.
p e ran te as faculdades asm as provas que a lei exige dos que apresentam diplomas de outras escolas'’. O 47Fem ando A ntonio Faria docum enta a bsttaiha travada, nas páginas do Jornal do Commemo,
a rg u m en to frequentem ente usado pelos homeopatas era o de que a homeopatia nãem nwf.Vi.y». m ostranífo tam b ém persuasivam ente com o a questão m ais im portante era, de fero, o controle
fogo, os q u e a pratica v aia n ã o estavam infringindo a lei. das farmácias hom eopáticas. Vee o seu Querelas brasileiras: Kcmeopatia e política imperial. Rio de
Janeiro: N otrya Editora, 1994, especialmente os capítulos 4„ 5 e 7-
V os m aís em c o n ta de pobres de espirito... Pela aversão q u e [esta gente} te m a
alguns delles [m édicos], e lk aborrece e persegue a ciasse inteira, e não perde
A feroz resistência à h o m eo p atia era, e n tre ta n to , apenas u m a das faces d o occasião d e guerreal-a.”49 Seja com o for, a proposta d o D r. Jo b im não vingou,
projeto d e hegem onia que a A cadem ia Im perial te n ta v a desesperadam ente m as u m a o u tra comissão foi criada com a incum bência d e redigir u m projeto
im plem entar, m a s sem m u ito sucesso. P orque, ao fim e ao cabo, ela aspirava a d e lei relativo ao exercício d a m edicina.
ser o próprio E stado em m atéria m édica e d e saúde pública: aconselhando, M as não e ra apenas a p rática d a m edicina q u e os d o u to re s d a A cadem ia
legislando, fiscalizando, julgando e executando ta l com o fazia o trib u n a l d a Im p e ria l d esejav am colocar n u m a c am isa-d e-fo rça, m a s ig u a lm e n te o
Fisicatura d e tã o p ra n te a d a m em ória. O D r. C ruz Jo b im , len te d e m edicina com ércio de m edicam entos e d e d ro g as. H á m u ito a A cadem ia solicitava
legal e presidente d a A cadem ia, desejava nada mais n a d a m en o s d o q u e refor u m a lei rigorosa de saúde pública e a instituição de u m a au to rid a d e m édica
m a r os códigos crim inal e do processo: “Considerando a A cadem ia q u e o codigo c om a feição d a a n tig a Fisicatura. M ais p o r razões d e n a tu re z a fiscal, ta m
crim inai e do processo q u e estão e m vigor, c o n tém varias disposições m enos bém ao E stado interessava m uitíssim o o controle sobre o com ércio d a s b o ti
acertadas, e m u i defeituosas e m vários p o n to s relativos à m edicina legal o u cas, so b retu d o o dos m edicam entos e das substâncias im p o rta d a s p a ra a
forense, e além disso varias lacunas respectivam ente a e sta m até ria , ju lg o u fabricação d e rem édios “secretos”.50 A ssim foi q u e e m 16 de julho d e 1846
necessário não só inform ar o governo im perial sobre esse p o n to senão ta m o D r. R o b erto Jo rg e H ad d o ck L obo ap resen to u à A cadem ia u m p ro je to de
b ém habilital-o a prover a este inconveniente, oíferecendo-lhe u m p rojeto de lei q u e incorporava velhas aspirações d a elite m édica. N o s seus 4 4 artig o s o
lei d e reform a ou. m esm o u m codigo.”48 Bem poderiam os juristas e m ag istra p ro jeto consolidava a m aioria das disposições co n tid as nos an tig o s reg im en
dos, q u e e ra m os peritos e m m atérias legais, to m a r declarações d esta natu reza to s d o P ro v ed o r-m o r e d a Fisicatura, sem se esquecer o a u to r d e avançar
com o m anifestação d e hostilidade. P orque a A cadem ia Im p e ria l d e M e d íd n a sobre searas alheias.51 Vale a p e n a esm iuçá-lo, visto q u e revela o espírito e as
n u tria um persistente inconform ism o com sua exclusão d a fe itu ra das leis d e disposições com q u e foi redigido.
saúde pública, com. as alterações q u e a C âm ara dos D e p u ta d o s in tro d u zia e m O p ro jeto criava n a capital d o Im p ério , com o a u to rid a d e superior, u m
suas p ro p o sta s (q u a n d o to m a d a s e m consideração), com a le n tid ã o e o C onselho d e Saúde P ública com posto de sete vogais efetivos: 4 m édicos, 2
form alism o dos ritos processuais d a justiça, com a inflexibilidade d a leL Beira farm acêuticos e 1 “jurisconsulto” (a rt. I o). Seriam vogais n ato s o presid en te
v a à paranóia sua. a titu d e com relação aos d eputados bacharéis e m direito, aos d a A cadem ia Im p e ria l d e M edicina e o d ire to r d a Escola d e M edicina, no
juristas e m a g istrados: "... e o nosso g rao elevado d e iiiustraçao e m varios m e a n d o o governo os dem ais m em b ro s d e n tre os len tes d a Escola e os sócios
ram o s do saber h u m an o , cousas m u ito m a l encaradas p e la inveja e org u lh o d e d a A cadem ia (listas sêxtupias). N a s capitais d a s províncias seriam criadas
certas notabilidades, q u e com algum as lições àejus q u e e stu d aram , julgam -se com issões m édicas delegadas d o C onselho, co m p o stas d e três m édicos, que
as unira s capacidades e os untcos b o n s servidores do E stado, havendo a todos n a B ahia seriam selecionados d e n tre os lentes d a Escola de M edicina (art.
E m m e io a to d o esse caos é n o m ín im o tem erário a firm a r q u e p o líticas hig ien istas e com o crêem os pesquisadores m e u s co n te m p o râ n e o s. P orque
hig ien istas te n h a m sido efetiv am en te im p le m e n ta d a s n o R io d e Ja n e iro n o ra stro d a s vistorias h av eriam d e v ir ain d a os respectivos a to s adm inis
p o r o b ra e g ra ç a d o “p o d e r m édico” . É v erd ad e q u e o D r. B a ra ta R ibeiro, tra tiv o s d e e m b a rg o s d e c o n stru ção , in tim açõ es p a ra reform as e p a ra d e
u m flo ria o ista d a m a is p u ra estirp e jaco b in a e tã o in clin ad o ao d e sp o tism o m olição e o u tra s providências afins, le m b ra n d o -se q u e e m 1 8 8 8 já exis
q u a n to o se u p o d e ro so am ig o , foi co m p arad o a “u m H a u s m a n n “ e m u m tia m n a cidade 1-331 cortiços e apenas n a ru a São Jo sé 16 casas d e côm odos.73
s u rto d e ex ag erad o entusiasm o d e 0 Paíz. Pois o q u e ficou e fe tiv a m e n te P a ra a g ra v a r a situ ação , in fo rm a Syivia D am azio q u e o s cortiços m u ltip lí-
inscrito n a b io g ra fia d o D r. B a ra ta , im o rta liz a n d o -o p a r a a p o ste rid a d e , c aram -se nas ú ltim a s décadas d o século X IX , a lg u n s sem licença d a p re
foi u m a ú n ica e co n sa g ra d o ra o b ra , a dem olição e m 1893 d o cortiço C a fe itu ra e m u ito s e m fla g ra n te desrespeito às p o stu ra s m u n icip ais, 0 que,
beça d e Barco.69 A d m ito , to d av ia, q u e o a rg u m e n to a in d a n ã o é suficien c o n v en h am o s, não reco m en d av a m u ito n e m a a d m in istração d o D istrito
te m e n te sólido p a r a p è rsu a d ír o leito r, razão p e la q u a l p eço su a a te n ç ã o F e d e ra l n e m a e te rn a v igilância d o s h ig ie n ista s. Q u a n to aos estáb u lo s
p a r a o se g u in te : e n tre 1 8 1 8 e 18 2 2 foi em m é d ia d e 2 1 ,8 p o r 1 .0 0 0 h a b i
ta n te s o n ú m e ro d e vacinações c o n tra a varíola n a cid ad e d o Rio d e J a n e i 70As estatísticas de vacinação encontram -se em Sidney Chalhoub, Cidadefebril: Cortiços e epide
ro ; s e te n ta e no v e anos depois, em 1 9 0 1 , d e 2 0 ,9 p o r 1.0 0 0 h a b ita n te s , o mias na corte imperial. São Paulo: Com panhia das Letras, 1996, p p . 112-113 e l t í i .
71A s estatísticas estão em Emerson Gium belli, 0 cuidado dos mortos: Uma história da condenação e
q u e p e d e u m a co n v in cen te explicação p o r p a r te d o s estu d io so s q u e h á legitimação do espiritismo. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1997, p p . 28 8-294.
51Richard G raham , “G overnm ent Expenditures and Political Change in Brazil, 1880-1899: W ho
G o t W h a t”. Journal of Interamevkan Studies and World Affairs, voi. 19, n° 3, agosto de 1977, p.
®AvaIíaxio coaiosatts& is critérios cariocas de administração m unicipal, o D r. B arata parece te r 368.
sido usn dos prim eiros e m ais hábeis criadores de factóides. ,3N úm eros q u e o leitor encontrará em Sylvia F. Dam azio, Retrato socialdo Rio deJaneiro na virada
do século. Rio de Janeiro: EdUerj, 1996, p p . 56 (cortiços) e 163 (funcionários).
esp alh ad o s p o r diversos p o n to s d a cid ad e, e q u e so m a v a m 2 0 4 e m 19 1 0 , im p le m e n tá -lo s e m m e ia ã. escassez d e recursos, à in flação , à a n a rq u ia
“n e m o p re fe ito Passos conseguiu so lu c io n a r o p ro b le m a ”.74 p o lítica e ao caos a d m in istra tiv a .
N ã o e s to u su g erin d o que o m o v im e n to h ig ie n ista te n h a sido u m a fic A d em ais o le ito r deve m a n te r p e rm a n e n te m e n te n a le m b ra n ç a q u e
ção in v e n ta d a p o r historiadores, p siq u ia tra s e a n tro p ó lo g o s in teressad o s aos m édicos não in teressav am ta n to p olíticas h ig ie n ista s tout court, m as
n a m a té ria . A p e n a s suspeito que p ro d u z iu -se u m a lite ra tu ra pleo n ástíca, so m e n te a q u e la s sobre as q u a is tivessem o m áx im o d e c o n tro le . O d e se n
excessiva n a avaliação do p o d e r d o s m éd ico s e d a in flu ê n c ia d a s idéias canto q u e e x p e rim e n to u o D r. C ru z J o b im com a j u n t a C e n tra l d e H y g ie n e
hig ien istas (d a m e sm a fo rm a com o os esculápios ex a g e ra v am p o r razões em 1 8 5 1 ex p e rim e n ta ria m nas p rim e ira s d écad as re p u b lic a n a s os clínicos
óbvias a d im en são d o p ro b le m a san itário ),75 n ã o d eix an d o p o r m e n o s ao doublés. de h ig ie n ista s. O s sucessivos arran jo s in stitu c io n a is n o â m b ito d a
descrever os e v e n to s com expressões tais co m o a "o p e ra ç ã o d e g u e rra ” saú d e p ú b lic a ficavam irrita n te m e n te aq u é m d o s seus p ro je to s e, se já não
c o n tra os cortiços, a “g u e rra d e p ic a re ta s” do D r. B a ra ta R ibeiro q u e te ria so n h a v a m com reedições d o trib u n a l d a F ísicatu ra, n e m p o r isso a b d ic a
“ac a b a d o ” c o m o s casarões “infectos”, a “e n o rm e re p e rc u ssã o ” d a confe ra m d a aspiração p o r u m Ju íz o san itário so b c o n tro le m é d ic o . O q u e m ais
fím b rias d a C o rte , às paró q u ia s su b u rb a n a s. E , d e fa to , o B rasil foi desco desolado re d a to r d o s Annaes, “é, e m v e rd a d e , u m a tris te re a lid a d e ” ;93
b e rto pelo higienism o apenas nas p rim e ira s d u a s décadas do século X X .88 q u a to rz e anos depois diria o D r. J o b im q u e a A c a d e m ia “com o e stá ou
A q u i as com parações são inevitáveis. O s h ig ien istas d a A cad ém ie Royale te m E sta d o a té ag o ra , não vale o q u e com e, não vaie os 2 :0 0 0 $ q u e o
E stad o lh e d á , p o rq u e passam -se anos e anos q u e n ã o se v ê reu n irem -se
d e M édeeine, o orig in ai o ito c e n tista d a c ó p ia brasileira, n a d a te ria m o b ti
senão q u a tro o u seis m em b ro s, q u a n d o m u ito , q u e , ap e z a r d e se u zelo,
d o sem a. a m p la rede d e oficiais d a ad m in istra ç ã o real, os intenãerüs e seus
p o u co o u n a d a p o d e m fazer”.94 A d e riu à R epública c o m d e sp u d o ra d a p re s
d e le g a d o s, q u e se esten d ia p o r to d a s as províncias francesas;89 e n o século
teza (m u d a n d o o nom e p a ra A cadem ia N a c io n a l d e M edicina) e tã o inglória
X I X p u d e ra m se a p o ia r no officiat de santé. N a Itá lia , a in d a u m a sociedade
q u a n to fo ra su a g u e rra aos h o m e o p a ta s foi sua b a ta lh a c o n tra os espíritas
a g rá ria , p o b re , fra g m e n ta d a e o c u p a d a p o r p o tê n c ia s e stra n g e ira s, e ra o
no novo re g im e .95 E , com o te m e ra C ruz Jo b im n o s idos d e 1 8 5 0 , as so iu -
v a sto n u m e ro d e m a l-re m u n e rad o s mediei condotti, e m p re g a d o s p elas m u
n icipalidades e m re g im e tem p o rário d e tra b a lh o , q u e re sp o n d ia pela.ques 91Em 1846 consultava o govem o a Academia sobre: “a) um as capsulas gelatinosas do Sr. Blanc,
tione sanitaria e p o r v o lta d e 1 8 7 6 c o n stitu ía m 4 9 % d e to d o o c o n tin g e n te objeto de fabricação para a qual o Sr. Blanc requeria u m privilégio; b ) duas m em órias do Sr.
D r. Faivre, um a sobre as aguas thermaes de Caldas N ovas, ou tra sobre a m orphea ou elephantiasis
m édico d o p a ís.90 O ra , as faculdades d o Rio de Ja n e iro e d a B ahia e ra m dos G regos; c) um a representação de G erm ano C onstant, ao q u al, p o r determ inação da camara
in cap azes d e su p rir a carência d e m édicos, e o s apelos d o D r. J o b im p e la m unicipal, se negava n o m atadouro publico a com pra de sangue de boi para m eio de refinação
do assucar; d) a efficada do guano no tratam e n to da elephantiasis dos G regos”. Annaes de
criação d e escolas provinciais não c o n se g u ira m ven cer o velh o a rg u m e n to Medicina Brasiliense, vol. 2 , n ° 2 , julho de 1846 (“Relatoriodos trabalhos da Academia Im perial
d o excesso d e d ip lo m a d o s, a v e tu s ta defesa d a distinção co n fe rid a p e io d i de M edicina fido na sessão publica annual em 30 de jun h o d e 18 46").
92Para se te r um a idéia do escasso prestígio da Academia aos olhos do govem o, um carregam ento
p lo m a . de assacu (nr) foi enviado pelo presidente da provinda do Pará a pedido dos acadêm icos para
exame d e su a eficáda contra a “elephantiasis dos Gregos”. A conta de 96$ foi cobrada pelo
Ministério do Im pério nos seguintes term os: “... H á S .M J. p o r bem q u e a Academia entre com
a referida quantia para o thesouro nacional.” A resposta da Academia: “... e sendo assim julga
V il q u e nem é justo que a Academia pague p o r objetos que ella soliidtou do Govem o, não para seu
uso particular, m as para o fim d e poder satisfazer a um a consulta d ’este e para u m objeto de
Utilidade e serviço publico; e m uito mais p o r não ter ella fiindos consignados para estas despesas,
m al chegando a consignação annual que tem para as despesas ordinarias.” O M inistério term inou
F eitas to d a s a c o n ta s, o sta tu s d a A cad em ia Im p e ria l d e M edicina foi, d e
p o r assum ir a despesa. Annaes de Medicina Brasiliense, 4 o anno, voL 4 , n . 1 0, abril de 1849, P-
fa to , m u lto m a is m o d e sto d o q u e p re te n d e m fazer cre r seus cro n ista s e 2 7 5 -Alfredo N ascim ento, o p .cit., narra a epopéia da Academia em busca de um a sede, realizan
do suas sessões até m esm o n a residência do D r. De-Símoot, seu perpétuo e fiel secretário.
histo riad o res. À s consultas q u e lh e fazia o g o v ern o e ra m d e relevância
99Annaes de Medicina Brasiliense, 4 o anno, vol. 4, n . 5, novembro de 1848, p . 104. Em 1844 a
Academia contava em seu quadro de sócios titulares com 38 nom es, entre médicos, cirurgiões e
farmacêuticos; em 1871, com 40, im acréscimo de 2 sóciosem. 27 anos. A inda em 1849 o secretário
53A história desta descoberta e de seus desdobram entos foi contada exem plarm ente p o r G il De-Sim oni não conseguia atinar com as razões pelas quais os jovens médicos não se inscreviam
b erto H ochm aa, A Era do Saneamento: A s Bases da Saúde Publica no Brasil. Rio d e Janeiro: Tese n a classe dos sócios adjuntos “onde poderiam vir a brilhai; e fazec conhecer seus talentos, e suas
de doutorado, IU PERJ, 1996. luzes". Annaes de Medicina Brasiliense, vol. 4 , n . 8 , fevereiro d e 1849, p . 1 7 6 .0 núm ero de sócios
^C aroline C . Hannaway, op. cít. está n o Abnanak Laemmert para os anos de 1844 e 1872.
30 Paolo Fraseani , “Betw een th e state a n d th e m arket: physicians in liberal Italy”, em M aria MReginaldo Fernandes, op. rit., p . 161.
Malatesta (ed), Society and Professions in 1860-1914■ Cam bridge: Cam bridge U niversity ^Ivonne M aggie, Bglações entre magia e poder no Brasil.. Rio de Janeiro: Arquivo N acional, 1992;
Press, 1995, pp.. 145-174. Emerson G ium belfi, O cuidado dos mortos... o p. cít.
ções d o s e n g en h eiro s, so b re tu d o n a v ira d a do século, te rm in a ria m p o r
im p o r aos m édicos u m desconfortável re g im e d e co n d o m ín io n a esfera d a
saú d e p ú b lic a , com. p o n d eráv eis d ú v id a s a resp eito d e q u e m e ra efetiva
m e n te o síndico. O so n h o d o D r. C ru z J o b im , já tão fu g a z n o velh o re g i
m e , o d e v er u m siste m a d e saúde in stitu íd o so b insp iração e g o v e rn o d o s
m éd ico s, e sfu m o u -se p o r in te iro n a R e p ú b lic a V elha n o d e s p e rta r d e u m a
m a g is tra tu ra re n o v a d a e revigorada p e la C o n stitu ição d e 1891» e com o a 5
d o Im p é rio ig u a lm e n te d e te rm in a d a e m não ced er à m e d ic in a u m c e n tí
m e tro d e suas p re rro g a tiv a s. A d v o g ad o s e ju rista s, m a g is tra d o s e d e le g a A maçonaria de Quincas, o Belo
d o s d e polícia (a m e sm a “classe rival”, a v e lh a judicocraeid) c o n tin u a ria m a
a sso m b ra r o esp írito d o velho, co m b ativ o e h o n ra d o D r . J o s é M a rtin s d a
C ruz Jo b im .
“O leitor acom panhará coda a confusão {encfo as atas d as sessões cie 16, 19 e 21 d e dezem bro de
1871 na Revista do Instituto dos Advogados Brasileiros, Tomo V III, 1871-1880, p p . 20 2-214.
2“Q uando surgia, afastando u m reposteiro blasonado dos Viscondes d a Silva, alto, erecto, o olhar
m eio tem o, o bigode artisticam ente cofiado, ostentando os requintes da ultim a moda nos exageros
de u m incroyabk* Q uincas o Belo parecia u m avatar.” W anderíey Pinho, op. cit., p . 144. Sobre a
ptitseinnha, idera, ibidem , p - 318, n o ta 2 -
feita a u m d e seus m em bros im p o rta a offensa d e to d o s” e q u e , p o r isso, o legislação p á tr ia as q u estõ es ain d a não en c o n tra sse m solução, recorria-se
D r. Lopo B in iz “offendeu os deveres d e cavalheiro, d ia n te d e cada u m dos ao d ire ito ro m a n o p a ra as d e o rd em te m p o ra l d esd e q u e disso não resul
advogados, v íctím as de seus atos”. E m ais: q u e... tasse "p ecad o ”, e ao direito canônico ta n to p a ra as d e o rd e m e sp iritu a l
M as o le ito r só fará sentido d a indignação dos cavalheiros aqui reunidos q u a n to p a ra aq u elas de o rd e m te m p o ra l q u e as “leis im p eriais” n ã o resol
e dispostos a u m a ação disciplinar (de resto leg alm en te inexequível) co n tra viam sem “p e c a d o ” ; p ersistin d o dú v id as, p o d ia m os trib u n a is e os legistas
o D r. Lopo D in iz q u a n d o souberm os u m pouco m ais sobre o sistem a leg a l e se so co rrer prim eiro d a s G losas d e A c u rd o , e d e p o is d o s C o m e n tá rio s de
so b re a organização d a advocacia no Im pério. B árto lo , o s d o u to re s auto rizad o s p a ra in te rp re ta çã o do d ire ito ro m an o ;
falh an d o estes recursos, cab ia ao Rei em ú ltim a in stâ n c ia d a r a “in te rp re
tação a u tê n tic a d a lei”.
I N a s O rdenações M anuelinas g u ardou-se a h ie ra rq u ia d a s fo n tes, m as
com alterações im p o rta n te s: o direito canônico p assou a ser aplicado apenas
A lé m d a s O rdenações Filipinas, co n ju n to d e leis com piladas e sistem atiza
nos trib u n ais eclesiásticos, dando-se prim azia ao direito rom ano p o rq u e fu n
d a s em 1603* o B rasil ta m b é m ad o tav a p e la C a rta d e Lei d e 2 0 de o u tu b ro
dado n a “b o a razão” — a razão ju sta o u razão n a tu ra l, aquela q u e conduzia
d e 18 2 3 u m v a sto e disperso corpo de disposições legais q u e ig u alm en te
à eq ü id ad e e às “soluções m ais h u m an as”; e os com entários d e A cursio e de
n ã o coubera n a s O rdenações anteriores, as ch am adas leis e x trav ag an tes.3
B ártolo seriam acatados apenas se a “opinião co m u m ” d o s d o u to re s, e n te n
A dem ais, e e ste é o p o n to principal, faziam p a rte d a heran ça a a n a rq u ia e o
d id a com o a d a “m aioria qualificada”, a eles não fosse co n trá ria . M as com o
caos ju risp n id en ciai q u e aco m p an h aram a h istó ria d o direito p o rtu g u ê s.4
d istin g u ir n a p rá tic a a opinio communis constituía m a té ria controversa e “h a
D e sd e p e lo m e n o s as O rd en açõ es A fonsinas, P o rtu g a l re c o rre u ao d i
via regras u m pouco p a ra to d o s os gostos”.5 D e fato, as causas sub judice
re ito ro m a n o e ao d ire ito canônico p a r a p re e n c h e r as lacu n as d e se u in su
resolviam -se pelo arbítrio d o s juizes, ad o tan d o -se m a is ta rd e n a p rá tic a fo
ficien te o rd e n a m e n to jurídico. O p re d o m ín io d e sta s d u a s fo n te s su b sid iá
rense o critério d e to m a r a p ra x e o u jurisprudência do s trib u n a is superiores
rias d u ro u q u a s e seis séculos, a té p e lo m e n o s a re fo rm a d a U n iv ersid ad e
com o expressão d a “opinião co m u m ”, d a í o prestígio das obras q u e recolhiam
d e C o im b ra e d o s seus cursos jurídicos, o rd e n a d a p e lo m a rq u ê s d e P o m b a l
e co m en tav am ta l jurisprudência, la m b e m era controversa a in te rp re ta çã o
e m 1 7 7 2 . E , c o m efeito, h ouve é p o ca e m q u e o s le g ista s e o s trib u n a is
d a “b o a razão” com o critério d e recurso ao direito rom ano com o fo n te su b
re c o rria m m a is às “leís im periais” e aos “sa n to s cân o n es” d o q u e às leis d a
sidiária, e a lg u n s ju ristas su g eriam q u e , se o e n te n d im e n to e ra d e q u e
te r r a com o fo n te d e soluções p a r a os p ro b le m a s jurídicos c o m o s q u a is
to d o o Corpus luris Civilis fundava-se nesta boa razão, ela m e sm a p o d e ria ser
tin h a m d e se haver. A s O rdenações A fonsinas fix aram , e n tã o , u m a h ierar
fonte subsidiária d e direito.
q u ia d e fo n te s d o d ire ito d e fo rm a a re a firm a r a p rec e d ê n cia d a s “leis do
Á s respostas a tais questões seriam fixadas não nas O rdenações Filipi
R eino, estilos d a C o rte e co stu m es” sobre as d em a is; e se no â m b ito d a
nas, m as n a Lei de 18 d e agosto d e 1769 d u ra n te o consulado d o poderoso
sociedade im periais a m a análise, po r sucinta que seja, da m oldura jurídica d o país. Se não po r de Lei de 2 3 de setem bro de 1828. A prim eira dessas leis é u m belo docum ento de garantia dos
outras razões, &negligência surpreende tendo em vista a recomendação de Wfeber d e que, em bo direitos individuais contra o arbítrio e merece a transcrição de seusprincipais pontos: “E constando-
ra possa n ã o lhe interessar o conteúdo teórico d e um a norm a legal, “the sociologist... will norm ally m e que alguns Governadores, Juizes Criminais e Magistrados, violando o sagrado depósito da
sta rt from th e observation th a t 'factual' powers o f com m and usually claim to exist ‘by virtue o f jurisdição que se lhes confiou, m andam prender p o r m ero arbítrio, e antes de culpa formada,
law '. I t is exactly for th is reason th a t the sociologist cannot help operating w ith th e conceptual pretextando denúncias em segredo, suspeitas veem entes e outros m otivos horrorosos à hum ani
operations of law". M ax Weber, op. clt., v. 3 ,1 9 6 8 , p . 94 8 . Por outro Sado, o sm a is autorizados dade, para im punem ente conservar em masmorras, vergados sob o peso dos ferros, hom ens que
weberianistas tê m insistido na importância da sociologia do direito de W éber para a compreensão se congregaram p o r os bens que lhes oferecera a instituição das sociedades civis, o primeiro dos
d e sua sociologia d a dominação. Schluchter recomenda m esm o q u e a segunda seja lida em cone quais é sem dúvida a segurança individual; E sendo do m eu prim eiro dever e desempenho de
xão com a p rimeira e , de fato, põe em prática a recomendação cora excelentes resultados. W olfgang m inha palavra o prom over o m ais austero respeito à lei e antecipar q u a n to se possa os benefícios
Schluchter, The Rise sfVCístem Rationalism: M ax Weber's DevelopmentalHistory. Berkeley: University de um a Constituição liberal; Hei po r bem excitar pela m aneira m ais eficaz e rigorosa a observân
o f California Press, 1981, p p. 85-86. Talvez valha a pena acrescentar q u e as m ais recentes e cia da sobremencionada legislação, amptiando-a e ordenando, como p o r esse D ecreto ordeno: I o)
interessantes revisões da sociologia da dom inação de W eber têm adotado com o pon to de partida Q u e desde sua data em diante nenhum a pessoa livre no Brasil possa jam ais ser presa sem otdem
exatam ente sua sociologia do direito. Ver, entre outros, G ary G. H am ilton, “Patriarchalism in p o r escrito do juiz ou m agistratura crimina! do território exceto som ente o caso de flagrante
Im perial China and W estern Europe: A Revision o f W ebers Sociology o f D om inance". Theory delito, era q u e qualquer do povo pode prender o delinquente; 2 °)Q u e nenhum juiz ou magistrado
and Society, v. 13, a® 3 , m aio de 1984, 393-425', G ary G. H am ilton e J o h n R. S utton, “T he criminal possa expedir ordem de prisão sem proceder culpa formada p o r inquirição sum ária de
Problem o f Control in. th e W eak State: D om ination in th e U nited States, 1880-1920". Theory três testem unhas, duas das quais jurem contestes, assim o feto e m lei expressa seja declarado
and Society,v. 18/1, janeiro d e 1989,1-46; Joachim J . Savelsberg, ““Law T h a t D oes N o t Fit Society: culposo, como a designação individual do culpado; escrevendo sem pre sentença ínterlocutória
Sentencing Guidelines as a Neoclassical Reaction to th e D ilem m as o f Substantivized Law”, que o obrigue à prisão e livramento, a qual se guardará em segtedo a té q u e possa verificar-se do
AmericanJournal ofSociology, v. 9 7, n° 5, março d e 1992, pp. 1.346-1.381. qu e assim tiver sido pronunciado delinqüente; 3o) Q u e quando se acharem presos os qu e assim
t£0 Código C riminal m antinha procedimentos bárbaros. O ritual da aplicação da pena d e m orte forem indiciados criminosos, se lhe faça im ediatam ente e sucessivamente o processo, q u e deve
p o r enforcamento- n ão diferia m uito daquela a q u e o despotismo português subm etera Tiradentes: findar dentro de quarenta e oito horas perem ptórias, improrrogáveis, e contadas do m om ento da
‘A rt. 4 0 . 0 réo. com o seu vestido ordinário, e preso, será conduzido pelas ruas m ais publicas até prisão, prinapiando-se sem pre que possa ser p o r confrontação dos réus com as testem unhas que
a forca, acom panhado do Ju iz Criminal do lugar, aonde estiver, com o seu Escrivão, e da força os culparem, para assim fecilitar os meios de justa defesa, q u e a n inguém se deve dificultar ou
m ilitar, q u e se requisitar. Ao acom panham ento precederá o Porteiro, lendo e m voz a lta a se n tença tolher, excetuando-se p o r o ra as disposições deste parágrafo os casos q u e , provados, merecerem
q u e se for executar; Are. 4 2 . O s corpos dos enforcados serão entreguesa seus parentes ou amigos...; p o r as Leis do Reino pena d e m orte, acerca dos quais se procederá infalivelmente nos term os dos
m as não poderão entesral-os com pom pa, sob pen a de prisão p o r u m m ez a u m a o n o “. Incluídos §§ 1° e 2 “ do Alvará d e 31 d e março de 187 2 ; 4°) Q u e em caso nenhum , possa alguém ser
a o repertório d o Código estavam as penas de banim ento (A rt. 50. “... q u e privará para sem pre os lançado em segredo ou masmorra estreita, escura, ou iafecta, pois a prisão deve só servir para
réos doa direitos, de cidadão brasileiro, e os inhibirá perpetuam ente de h a b ita r o tem to rio do guardar as pessoas e nunca as adoecer e flagelar; ficando im plicitam ente abolido para sem pre o
Im pério”), d e g^Iês (A rt. 44. "... sujeitará os réos a andarem com calceta n o pé, e corrente de uso d e correntes, algemas, grilhões e outros quaisquer ferros inventados para martirizar homens
feno, juntos o u separados...”), de degredo e de desterro. Dizia o A rt. 6 0 : “Se o réo for escravo, e ainda não julgados a sofrer qualquer pena aflitiva p o r sentença final; entendendo-se, todavia, que
incorrer e m pena,, q u e não seja a capital, ou de galés, será condem nado na de açoutes, e depois de os juizes e m agistrados criminais poderão conservar p o r algum tem po, em casos gravíssimos,
os soffrer, será entregue a seu senhor, q u e se obrigará a trazei-lo com u m ferro, pelo tem po, e incomunicáveis os delinqüentes, contanto que seja em casas arejadas e cômodas e nunca m anie
m aneira q u e o Juiz designar. O num ero de açoutes será fixado n a sentença; e o escravo não tados ou sofrendo qualquer espécie de torm ento; 5°) Determ ino, finalm ente, que a contraven
poderá levar p o r dia. m ais d e cincoenta.” Finalm ente, o A rt. 53: “O s condem nados á galés, á ção, legalm ente provada, das disposições do presente D ecreto, seja irremissivelmente punida
prisão com trabalho,, ã prisão simples, a degredo ou a desterro, ficam privados do exercieio dos com o perdim ento do em prego e inabilidade p e rp étu a para qualquer outro em q u e haja exercício
direitos politicos de cidadão brazileiro, em quanto durarem os effeitos da condem nação.” d e jurisdição.”
Consolidação das leis civis observava Teixeira d e Freitas q u e , ainda q u e fosse pos N o â m b ito dos litígios e n tre o s p articu lares e a adm inistração e sta ta l, o
sível — e não o era — considerar o Livro XV das O rdenações Filipinas com o d o c h a m a d o contencioso ad m in istrativ o , a situação n ã o e ra m e lh o r: “um
nosso código civil, “estaríam os ainda assim envolvidos n a im m ensa ceia das Leis verdadeiro caos , afirm ava o visconde de XJruguai, “n o q u a l a in d a não pen e
extravagantes, que se têm acum ulado no decurso de m ais d e dois séculos e tro u u m só raio d e luz”. E c o n tin u av a: “M u i p o ucos são os p o n to s definidos
m eto”.12 E havia mais;: o recurso freqüente aos direitos rom ano e canônico, o e fixados, não direi em leis, m as em reg u lam en to s(...) N o s casos q u e nascem
arbírrio fom entado p e k L e i d a Boa Razão, o subsídio dos estilos e costum es, d a aplicação d a s atribuições adm inistrativas do s M inistros d e E stad o , e dos
“tu d o concorreu, paxaque os nossosJuristas carregassem suas O bras de P residentes d e P ro v in d a , e das circunstâncias q u e revestem os m esm o s ca
estranhos, ultrapassando mesmo as raias dos rasos omissos. A s cousas te m chegado sos, é e x tra o rd in á ria e n tre nós a coofusão(„.) (Q u a n to à legislação) quase
a tal p o n to , q u e m enos se conhece, e estuda, nosso D ireito pelas leis, q u e o n a d a te m sido feito nessa p a rte . O s arestos não tê m c aráter e n a tu re z a p ró
constituem ; d o que pelos Praxistas que as invadiram ”. M as Trix^tra d e Freitas p ria, n ã o fixam princípios claros; são as m ais das vêzes ta n g e n te s p a r a esca
sabiit quão indispensáveis eram em meio a esse caos as obras dos praxistas, visto p a r a u m a dificuldade, adiando u m a solução d a ra e franca. N ã o estão coligidos
que p ara a m aioria dos advogados e juizes era impossível o acesso ao texto origi e classificados. M u ita s soluções n e m estão im pressas. N ã o h á p ro p ria m e n te
nal d e dispersas e seculares leis extravagantes o u às raríssim as compilações que p rá tic a e ju risp ru d ên cia ad m in istrativ a.”15
se fizeram delas Sabei ele tam b ém que apenas u m a ínfim a fração deles podia Creio q u e a g o ra fica razoavelm ente clara a razão o u razões p e la s quais
dispensar as lições dos praxistas, e que m esm o dentro d a elite dos “jurisconsultos” nos trib u n a is o s processos esten d iam -se p o r longos prazos à c u s ta d e recur-
poucos seriam capazes d e prosseguir p o r sí sós n a elucidação de com plicadas sos e apelações in terp o sto s p elas p a rte s. O ad v o g ad o h á b il o u experiente
questões de exegese jurisprudencial.14 p o d ia sem p re e n c o n tra r u m co stu m e esquecido n o te m p o , u m a filigrana
processual au to riz a d a p o r a n tig o s estilos e praxes do foro, u m a in te rp re ta
u A ugusto Teixeira d e Eoeítas, Consolidação das leis civis. Rio d e Ja n e iro : Ja c in tb o Ribeiro dos
ção avalizada p o r este o u aq u ele prax ista, à q u a l o adversário p o d e ria con
Santos, Q u in ta Edição, 1915, p p . xxv-xxvi. A prim eira edição é de 1S58.
I50 próprio Teixeira d e S e ita s adaptou às necessidades d o foro brasileiro obras d e praxistas p o rtu tra p o r a abalizada opm ião e m co n trário d e a lg u m o u tro p ra x ista . E m ú ltim a
gueses, quando n ã o utilizou ele próprio suas lições nas causas q u e defendeu. Ver, p o r exemplo, suas
analise, tra ta v a m d e u tilizar o s recursos disponíveis p a r a g a n h a r a causa
“tasões d e appeiação” o a m d o s casos mais rumorosos n o foro da C orte em “Causa Celebre”, Revista
do Instituto dosAdvogados Bam&iras, Anno II, Tomo II, el° 4„ outubro/novem bro de 186 3 ,1 4 1 -1 6 2 . p a ra o d ie n te e receber os correspondentes honorários sem d e m asiad a p re o -
E ntre as obras adaptadas. A s Primeiros Linhas Sobre o Processo CivilporJoaquimJosé Caetano Pereira e
cupaçao com u m a e tic a profissional nebulosa. Se os liberais ch am av am a
Souza, Advogado da Casa da Suplicação — Accommodadas ao FSro do Brasil, até o armo de 1877, por
AaptíSo Tkòzira de Freitas, advogado na Corte do Rio deJaneira. Rio d e jan e iro : B. L. G am ier, 1880. isso d e chicana , associando tais p ráticas com os m ales d a h era n ç a colonial,
KA este respeito, as notas que o mesmo Teixeira de Freitas acrescentou ao corpo d e sua Consolidação,
o s cien tistas sociais nao tê m p o r q u e d ar-lh es o seu aval com o faz F lo ry ao
e e m particular suas réplicas aos comentários de A ntonio Pereira Rebouças, constituem u m exce
lente repertório destas complicações hermenêuticas e das divergências entre os juristas. Sobre os descrever o foro d a C o rte co m o u m “bazar judicial”.16 A té p o rq u e não se
costum es com o fonte d e dEreito tanto quanto sobre as confiisõesno foro, u m caso exemplar: Teixeira
tr a ta d e pecu liarid ad e d a h istó ria brasileira.
d e Freitas afirmava q u e o costum e de embargar exmjudiciaEmente u m a obra atirando-lhe pedras
— perjactam lapida — estava e m desuso; A ntonio Rebouças discorda: “N ão ê tão exacto, como se N a s colônias am erican as os ad v o g a d o s n ã o g o zav am d e b o m conceito,
poderia crer d a N ota exposta, q u e não está mais em uso: esse direito porquanto: D e facto proprio
e a s restrições p e rsistira m p o r razoável te m p o após a in d e p e n d ê n c ia. TS-
sabemos, q u e , estando-se a íkexx p o r parte da Alfândega desta Capita! do Im pério um a sova o tua,
que prejudicava ao trapiche a ella iramediato, foi essa obra. em bargada symbolíeamente po r parte
da proprietária do visinho trapiche, lançando-se-lhe tres pequenas pedras perante testem unhas, de “ Visconde d e Usugun!,Emawsah?âdirei[o administrativo. Rio d e Janeiro: M inistério d a Justiça,
que assim a m esm a nova ©bea ficava embargada .... Participou-se dessa occoaencia ao Im peetor da 1 960, p . 1 0 4 . A p n m e u a edição ê d e 1 862. Aproveitei tam b ém da leitura d e Nvrno Pinheiro
Alfândega, que então era. om Jurista notável po r sua iRustragão; e, apresentando-se eüe, um a vez d e A ndrade, “O Contencioso A dm inistrativo: Teve Elle U m a O rganização Regular?”. Revista
informado tk> occotkio, acceáeti, respeitando o facto pelo direito. Effectuado o em bargo symboíico, do Instituto Historko e Geograpbxe Brasileiro, Tbmo EspedaJ, Parte III, 1916, p p . 6 6 3 -6 9 1 .
foi ao depois, ratificada, ou feito judiciai, peio competente Ju iz Municipal, e teve d e seguir seu “ O p . cit., p . 3 8 . Flory usa e abusa do testem unho de viajantes estrangeiros d e passagem pela
termos legais.” Teixeira, d e Freitas aceitou o reparo. Qmsolsiação, op. cit., nota 2 , p p . 472-473. C orte.
' .
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160 t! E D M U N D O CAM POS C O E L H O
nham . -s. ver, e m p rim eiro iu g a r, com as resistências religiosas ao litíg io servava L edfòrd q u e p a ra o m in istro é s J u s tiç a d e Frederico IX, J o h a n n
co m o fc rm a d e resolução d e d isp u ta s e n tre p a rtic u la re s .17 O s advogados H e in ric h C assirer C arm er, “se o verdadeiro d e v e r d o s ad v o g ad o s e ra b u s
eram . tid o s p e lo s m inistros calvinistas, p re sb ite ria n o s, b a tista s o u c o n g re - c a r a verdade, não im p o rta n d o a q u a l caso ta l p ro c u ra aju d a o u preju d ica;
gaciom stas co m o in stig ad o res d e discórdia, e, a p a re n te m e n te sob su a ins e não escondê-la o u m ascará-ia se eía c o n tra ria os interesses do cliente,
p ira ç ã o , as leis de várias colônias penalizavam as pessoas “tu rb u le n ta s e e n tão a relação básica e n tre ad v o g ad o , c lien te e trib u n a l d ev eria se r m u
litigiosas” q u e iniciavam processos “v erg o n h o so s”.18 A ênfase religiosa n a d a d a ”.20 Isso significou a extinção d a advocacia privada, e m 1781 e a su b s
h a rm o n ia c o m u n itá ria privilegiava a m ediação e o a rb itra m e n to co m o for titu ição dos advogados p o r “conselheiros a ssisten tes’'', q u e e ra m fu n c io n á
m a s de solução d e conflitos. M esm o após a in d e p e n d ê n c ia os ad v o g ad o s rios públicos.21 T ratava-se d e u ra p e rm a n e n te esforço- p a r a s u b m e te r os
e ra m visto s co m reservas, p a rtic u la rm e n te p o rq u e a advocacia e o s tr ib u advogados p articulares ao co n tro le do E sta d o , su p o sta m e n te in ib in d o o
n ais e sta v a m fre q ü e n te m e n te envolvidos com a c o b ra n ç a d e d é b ito s e p rin cip al estím ulo ao litígio e n tre os cidadãos. N a Icãlia a h o stilid a d e vo l
im p o sto s; a té n a lite ra tu ra in fa n til sua im a g e m e ra a d e u m a “ocupação ta v a -se c o n tra osstrascinafaccende(p ro m o to res e p ro lo n g a d o re s d e litígios),
p a ra sitá ria ” .19 N a P rússia c o n sta q u e a razão s u p o s ta m e n te a p re se n ta d a co n tra os spicciafaccende (acusados d e n eg o ciar c o m o s funcionários ju d i
pelo re t F rederico G u ilh e rm e I p a ra a p ro m u lg a ç ã o d e u m a lei exigindo ciais a conclusão dos casos) e, fin alm en te, c o n tra os faccendierit in te rm e
d o s ad v o g ad o s p artic u la res u m vestuário p e c u lia r e ra d e q u e “assim to d o s diários que agenciavam clientes p a ra os ad v o g ad o s.22
p o d e m rec o n h e c er os chicanistas d e lo n g e e p ro te g e re m -s e d eles”; e o b Seja com o for, e exceção fe ita aos lib e ra is e n tre 18 2 7 e 1 8 3 7 e aos
histo riad o res e c ie n tista s sociais d e fin ais d o século X X , n ã o e n c o n tre i
q u a lq u e r e v id ên cia m a is só lid a d e h o s tilid a d e c o n tra o s a d v o g a d o s
,7B ruee A K im b a ll, o p. cit., especialm entecap. 3 -N u m estudo sobre a advocacia na M aryland
colonial cwatro a u to r observou que aí “a hostilidade [com relação aos advogados] era m o d era brasileiros no p e río d o p ó s-in d e p e n d ê n c ia . A e lite d o s b ac h a ré is, to d a
da e n u n ca a tin g iu a ferocidade indisferçadam ente m anifesta e m o u tras colonias”. A iao E
v ia , n ã o esteve im u n e a p re c o n c e ito s c o n tra os co leg as d e m e n o r d is tin
Day, “Law yers ira C olonial M aryland, 1 6 6 0 -1 7 1 5 ". American Journal o f Legal History, 17,
1973, p . 161.. Paia o período seguinte G a ry B. N ash , “T he Philadelphia B ench an d Bar, ção, n ã o fosse e la ta m b é m lib e ra i e m p ro p o rç ã o co n sid e rá v e l d e seus
180Q -I8âl'*. ComparativaSiudies m Society and History, v. V II, n . 2 , janeiro de 1 9 6 5 , especial
m e m b ro s. N o e n ta n to p a re c e te r havido n o p e río d o c o lo n ia l razo áv el
m en te p p . 2 0 9 -2 1 2 .
^Ktmhalí,, o p . cit-, p p . 87-88. dose d e ho stilid ad e d o s co lo n o s com relação à m a g is tra tu ra , ao q u e tu d o
19ídem , ibidem» p p . 110-11. Aparentem ente em todos os idiomas a literatura do séc. X IX não
indica p o r boas razoes. N o Im p é rio , todavia, e sta resistência tra n sfo rm o u -
condescende seja. com a ambigüidade m oral q u e o leigo ou o hom em com um vislum bra na
advocacia sejja com seus critérios de excelência. E m um texto ironicam ente intitulado ‘A lgo se a p a r tir d a abdicação d e P ed ro I em c a m p a n h a d o E x ecu tiv o c o n tra o
so b re os; a d vogados em g eral. M inhas in g ên u a s e in co m p e te n te s presunções”, escreveu
Ju d ic iá rio . E co m o , a lé m d o corpo d e leis, o s trib u n a is c o n s titu e m o
Dostoievsky;. “Parece-m e que, falando genericam ente, é difícil para um advogado evitar a falsi
dade e preservar a honestidade e a consciência assim com o o é para qu alq u er indivíduo alcançar o u tro p a râ m e tro d a a tiv id a d e d o s a d v o g a d o s v ale a p e n a d e d ic a r a lg u
o Estado paradisíaco. D e feto, tem os tido a oportunidade de ouvir d e advogados nos tribunais o
m a s lin h as a ta is escaram u ças.
virtual juram ento — ao se dirigirem aos jurados — de q u e tom aram a defesa do cliente po r
estarem convictos de sua inocência. E quando se ouvem tais juram entos a mais desagradável
suspeita, qu e de im ediato e inevitavelm ente irrom pe na m ente é: ‘M uito bem , e se ele está
m entihdò e agsndo assim apenas po r dinheiro?’ E, de feto, com freqüência fica provado em
seguida, q u e o cliente, defendido com tanto ardor, é com pleta e indiscutivelm ente culpado." F.
M . Dostoievsky, Diary o f a Writer. Nova York: G eorge Braziller, 1954, p . 21 3 (m iaha tradução),
D e M eíriJle o leitor se lem brará do patrão do patético Bartieby, o pequeno advogado, o burguês “ Ledford, op. cit., p p . 32-33.
d e sentim entos convencionais. H erm an Melville, Bartleby, The Scrivener: A Story ofW all Street. 31 Esta mudança não vingou, restaurando-se a advocacia privada em 1783-
N ova Yòtk::Sim©n& Schuster Editions, 1997. A C ourtofC hancery ocupa u m espaço central na “ Adrian Lyttelton, "The m iddle class in liberal Italy", em Jo h n A . D avis e Paul G insborg (eds.),
Londres d e D-iclaens q u e traça dos seus juizes e advogados u m perfil pouco recomendável. Charles Society and Politics tn the Age o f Risorgbnenvo. Essays m Honour o f Dennis Mack Smith. Cambridge:
Dickens, B kak House. N ova York: W W! N orton, 1985. Cambridge University Press, 1991, p. 23 7 .
II d ú v id a s inum eráveis", dizia e m se u relató rio d e 1857 o m in istro d a Ju stiç a
(o m esm íssim o N a b u c o d e A raújo), o c u p a d o com o sem p re estav a com as
P ela C o n stitu iç ã o d e 1 8 2 4 e ra a trib u iç ã o d o L e g islativ o fa z e r as leis, “questões p o líh cas o u com plexas”; e ta m b é m p o rq u e su a existência era tra n
in te rp re tá -la s, su sp en d ê-las e revogá-las (a rt. 15, n° V IU ); ta m b é m cabia- sitória, p o rq u e leis m terp re ta tiv a s d e m o ra ria m a se r fo rm u lad as e, final
lhe velar n a g u a rd a d a C onstituição (a rt. 5°, n° 9)- A o Executivo ca b ia , além m e n te , p o rq u e ex istia a herm enêutica p a r a revelar as intenções d o legisla
d e no m ear, rem over, p ro m o v e r e a p o se n ta r os juizes, ta m b é m ex p e d ir d e d o r, fazen d o -se necessária a m anifestação d o C o rp o L egislarivo ap enas
c re to s, instruções e reg u lam en to s p a ra a boa execução d a lei (a rt. 102 § 12). “q u a n d o sua v o n ta d e não p o d e ser sabida”.24 E assim , afirm ava o m inistro,
O R eg u lam en to tí° 124 d e 5 de fevereiro d e 1845 d a v a ao C onselho d e o E xecutivo, “so b o im pério sucessivo d e tô d a s as opiniões políticas, com o
E sta d o (recriado p ela Lei d e 2 3 de n o vem bro d e 1 841) a atrib u ição d e assis assen tim en to d o s d em ais Poderes, te m exercido o direito d e in te rp re ta r as
tir o P oder M o d e ra d o r n a resolução d e conflitos en tre as a u to rid a d e s ad m i leis p o r via d e a u to rid a d e ”; o u p o rq u e “e n tre nós, co m o e m o u tro s países
n istrativ as e judiciárias, assim com o n a fe itu ra dos citad o s d ecreto s, re g u la constitucionais, fre q u e n te s vezes o P oder Legislativo d e le g a ao Executivo a
m e n to s e instruções p a r a a boa execução d a s leis. A s Im p eriais R esoluções m issão d e desenvolver e co m p letar p o r m eio d e re g u la m e n to s o pen sam en
assim to m a d a s so b co n su lta ao C onselho d e E stado seriam execu tad as com o to do legislador” .25
q u a isq u e r sentenças judiciárias e p e la fo rm a com o elas o era m . Isso p o sto , nã o cab ia aos trib u n ais n e m q u e stio n a r a constitucionalidade
D e p e n d e n te d o E x e c u tiv o p a r a o b te r recu rso s e s u b o r d in a d o ao d a s leis n em in te rp re tá -las, m as tão-só aplicá-las aos casos ocorrentes e ain
L egislativo, a a u to n o m ia d o Judiciário era u m a ficção. E assim qu eriam q u e d a assim ap enas no â m b ito d o s litígios e n tre os p articu lares. P orque não era
perm anecesse o s o u tro s dois poderes. D iz ia e m 1857 o conselheiro N a b u c o concebível q u e o s juizes se im iscuíssem nos litígios d o s p articu lares com o
d e A raú jo q u e o Executivo e o Judiciário e ra m poderes rivais; e sem p re foi E stado (p a r exem plo, e n tre o Fisco e o cidadão), o ch am ad o contencioso
e sta a com preensão q u e prevaleceu no Im p é rio . A in d a n o p e río d o regencial a d m in istrativ o : “se o s ato s d o governo forem subordinados aos juizes ord i
Feijó, m in istro d a Ju stiç a , queixava-se d e q u e “ao G o v ern o co m p e te d irig ir nários, este s c o n stitu irão o verdadeiro governo e a adm in istração , sacrifi
D e c re to s, R eg u lam en to s e Instruções a d e q u ad o s á b o a execução d a s le is ; can d o p o rv e n tu ra o b e m publico ao p articu lar, e gu ian d o -se p o r apreciações
m a s q u a lq u e r h o m e m lhe d isp u ta a in te lig e n tia delias; o M a g istra d o se e stra n h a s e m orosas”.20
a rro g a esse diceiro; fo rm am -se duvidas, reais o u ap a re n te s; e o G o v e rn o é D u a s conseqüências resu ltav am d a p rá tic a leg iferan te do E xecutivo. A
m e ro espectador dessa confusão {„.J C ad a J u iz e n te n d e a L ei e ju lg a com o p rim e ira é q u e juizes, delegados d e polícia, presidentes d e Relação congestio
lh e convem ; e o G o v ern o , q u e é o p rin cip al e x ecu to r d e la , n e m ao m en o s navam o s m inistérios e o C onselho d e E stado com sucessivas consultas a
p o d e fixar sua inteligência p a ra exigir a s u a execução. Á A ssem bleia com pe respeito d a aplicação d a lei in te rp re ta d a p o r avisos, resoluções, reg u lam en -
te p ô r te rm o a e s ta colisão, e declarar o d ire ito d o G o v ern o firm a r a inteli
g ên c ia d a s Leis, pelo m en o s e n q u a n to o P o d er L egislativo n ã o in te rp re tá -la s ^'íran scríto Joaquim N abuco, o p -d t-, vol. I, p . 2 8 1 .
z ídem , ibidem , p . 2 8 0 .
díversam en te “.2i T odavia o Legislativo ja m a is exerceu su a a trib u ição consti 3 Voto do m arquês d e São Vicente na sessão de 21 de fevereiro de 1 8 7 4 do Conselho d e Estado.
tu c io n a l d e in te rp re ta r as leis. P o r quê? Ver Im periais resoluções tom adas sobre consulta da Seção d e Justiça do Conselho de Estado,
desde o anno d e 1842, em q u e começou a ?uaccionar o m esm o Conselho, a té hoje, colligidas pelo
P o rq u e o C orpo Legislativo não d isp u n h a d e te m p o p a r a d ecid ir “essas bacharel José Ptospero j enovah da Silva Coroa tá . Rio de Janeiro: B. L. Garnier, vol. II, 1884, p.
1 6 8 8 .0 Conse&o deliberou se podia z Cia. Soro cabana entrar com recurso arbitrai no Juizo dos
Feitos da Fazenda para contrapor-se a a to d o presidende da Província de São Paulo. Decidiram os
3 R elatório d a Repartição dos Negócios da Justiça apresentado à Assem bléia G eral Legislativa conselheiros q u e se tratava de contencioso adm inistrativo e que,, p ortanto, não cabia ao Judiciá
n a sessão ordinária, dfc 18 3 2 , p p . 13-14. rio questionar o ato do presidente da província.
cos e circulares não raras vezes inconsistentes q u a n d o não co n trad itó rio s tu cío n al e os estadistas tão h a b itu ad o s a ig n o rá -la q u e , neste p o n to , o o b stá
e n tre si. A C ircular de 7 d e fevereiro de 1 8 5 6 , do M inistério d a Ju stiç a , culo era m ais ap aren te do q u e reaL O óbice verdadeiro foram as resistências
tinha, o p ro p ó sito m enos de regular, p a ra e v ita r abusos, os p ro ced im en to s d o s políticos cujas preferências e ra m , definitivam ente, p o r u m ju d iciário
do Executivo n a interpretação das leis do q u e de c o n te r a e n x u rra d a de dócil à “herm en êu tica” do p a rtid o no poder.29 A té a proclam ação d a R epú
co n su ltas q u e a ele chegava dos tribunais de to d a s as províncias; e ta n to era blica a com petência d o Suprem o perm aneceria lim ita d a à concessão d e re
assim q u e no m esm o d ia 7 o Aviso n° 7 0 , dirigido ao P resid en te d a P ro v in vistas, p o d e n d o as Relações revisoras decidir as causas com o se n a d a h o u
d a d o Rio de Ja n e iro , insistia p a ra qu e “cesse o abuso q u e co m etem m u ita s vesse ocorrido nas o u tra s instancias.
A u to rid ad es judiciárias deixando d e decidir os casos co rren tes, e su jeitando- T udo isso refietia-se n a advocacia, m as a in d a não e ra tu d o , N a F rança,
o s c o m o dú v id as à decisão do G overno Im p e ria l”; e n o dia seg u in te o Aviso n a P rússia e n a A lem an h a unificada, n a In g la te rra e nos E stad o s U nidos, os
n° 7 4 , dirigido a g o ra ao Presidente d a Província do P iauí, reafirm ava q u e juizes sem pre foram a m ed id a p e la q u a l o s advogados m e d ia m sua pró p ria
“não é lícito ao Ju iz dem o rar a adm inistração d a Ju stiç a á esp era d a decisão e s ta tu ra . Q u a n to m ais alco o prestígio do Judiciário, m ais a advocacia foren
d o G o v em o Im p erial, q u e não te m com petência p a ra decidir casos p e n d e n se buscava preservá-lo preservando o u elevando a si m esm a. A té p o rq u e em
tes e sujeitos ao P oder Judiciário”.27 Estas co n su ltas n u n c a cessaram , e p a ra países com o In g la te rra e E stad o s U n id o s o bench recrutava n o bar. Q u an d o
a in teligência d a Lei n° 2 0 3 3 d e 2 8 de setem bro de 1871 (a d a re fo rm a do após a G u e rra Civil a m anipulação d a s cortes d e justiça p elas m áquinas
ju d ic iá rio ) m ais de u m a c e n ten a d e avisos fo ram p u b licados. E m 1 8 8 8 a in políticas nas g ran d es cidades to m o u a d im ensão d e u m escândalo, a reação
d a e sta v a o Executivo instruindo o Judiciário ao cen su rar o Su p rem o T ribu d o s advogados am ericanos foi im ed iata, refletindo-se n u m a excepcional p ro
nal d e J u s tiç a e as dem ais cortes d e justiça p e la falta de fu n d a m e n ta ç ão nas liferação de associações p o r todo o país, à fren te com o m o d elo a A ssociatíon
revistas concedidas e nas sentenças.28 A se g u n d a conseqüência d a atividade o f th e B ar o f the Q t y o f N e w 5í>rk fu n d a d a em 18 7 0 .30 N a F ra n ç a do ancien
h e rm e n ê u tic a g o v ern am en tal era que, ao co n trário do qu e afirm ara o conse regime, a Ordre, a d espeito d o s conflitos com a nobreza e n c astelad a nos
lheiro N a b u c o d e A raújo, não se uniform izava a jurisprudência. Pelo con parlements, desafiava o p o d e r d a M o n a rq u ia A b so lu ta (até m esm o com p a ra
trá rio , o caos jurisprudencial agravava-se, visto q u e as in te rp re ta çõ e s ofere lisações) p a ra defen d er a tradição d e ind ep en d ên cia d o Ju d ic iá rio , q u e a si
cidas p e lo Executivo eram tão p erm a n e n te s q u a n to o s g a b in e te s q u e se m e sm o considerava com o “u m feeio a u tô n o m o às ações do m onarca” e o
sucediam .
E m s u a prim eira passagem pelo governo, no g a b in e te d a Conciliação ^Jo aq u im N abuco gastaria to d o o seu arsenal de sofism as e todas as suas habilidades literárias
presidido p eio m a rq u ê s de P a ra n á (6 d e setem b ro d e 1853 a 4 d e m aio d e para justificar a inconstância e a inconsistência p a tern a nesta questão: “M ais tard e terem os
ocasião de ju lg a r detidam ente essa dualidade d e concepção q u e fez com q u e N ab u co , o defensor
1 857), N a b u c o d e A raújo quis atrib u ir ao Suprem o T rib u n al d e Ju stiç a a e pa tro n o d a independência e predom ínio da m agistratura, seja o m aio r interp retad o r da lei
co m p e tê n c ia p a ra decidir em ú ltim a instância as causas e m q u e concedesse p o r aviso, o subjugador à ortodoxia m inisterial do> livre exam e dos m agistrados, p o r últim o o
aposentador e principal sustentador das aposentadorias forçadas dos juizes vitalícios”. O p . cit.,
revista. P o r esca fo rm a po d eria o T ribunal uniform izar a ju risp ru d ên cia, a te vol. X, p . 122. N abuco de A raujo proposers d ar ao Suprem o Tribunal de Justiça a competência
n u a n d o o caos rein an te. H avia, e n tre ta n to , dois obstáculos: u m , a C onsti p a ra firm ar jurisprudência, mas resistia eux Incluir no seu pro jeto d e refotm a do Judiciário a
incom patibilidade da m agistratu ra para as eleições legislativas. Seria perigoso, dizia ele, sufo
tu ição , q u e d e term in av a fossem as Relações trib u n a is d e ú ltim a in s tâ n d a . car as aspirações políticas da m agistratura.. Jo sé M urilo de Carvalho desenvolve um a excelente
M a s & C a rta d e 18 2 4 e ra tão flexível na definição d o q u e e ra m a té ria consti- exposição sobre o peso da m agistratura n a C âm ara e sobre a votação do projeto q u e finalm ente
estabeleceu a incom patibilidade. Ver o seu l-Á construção da ordem. ll-Teatro de sombras. Rio de
jan e iro : Editora U FEJ/R elum e D um ará, 1996, p p . 159-165-
27A Circular de 7 de fevereiro de 1856 era dirigida a todos os presidentes de província e está ^T erence C . Halliday e Bruce G . C arruthers, "M aking th e Courts Safe for th e Powerful: the
reproduzida em Jo aq u im N abuco, op. cit., vol. I, pp. 2 8 3 -2 8 4 . Com mercial Stimulus for ju d icial A utonom y in Reforms o fth e U nited States’ B ankruptcy Law”,
»Aviso d ° 83 — ju stiç a — E ra 17 de dezembro de 1888. e ra Terence C. Halliday e Lncien K arpik (ids), o p . cit., p p . 270-271.
p rin c ip a l su ste n tá c u lo d e u m a ju stiça im parcial.51 N a A le m a n h a o e ru d ito razoavelm ente se possão m a n te r”. E não havendo e m q u a lq u e r lu g a r Procu
ju rista do E stad o , o m ag istrad o severo, solene e poderoso e ra o m o d e lo e m u radores d o n ú m e ro “p o d erá p ro c u ra r q u e m quizer, sem as d itas Provisões,
lado pelos ad v o g ad o s particulares. sendo pessoa id ô n ea, e a q u e p e r nossas O rdenações, o u p e r D ireito com m um
N o Im p ério do Brasil, e n tre ta n to , u m J u d id á rio in e rm e , d e p e n d e n te e não seja defeso” .
su b o rd in a d o fez p a r c o m um a a d v o c a d a forense d e s titu íd a d e b rilh o e d e  o rg an ização d a advocacia no B rasil após a In d e p e n d ê n c ia se g u iu
h o n ra . m u ito d e p e rto a d a p o rtu g u e sa .33 H a v ia , e m p rim e iro lu g a r, o bach arel
e m d ire ito fo rm a d o em C o im b ra e , a p a r tir d e 1 8 2 7 , nas escolas d e São
P au lo e O lin d a (depois, Recife). O d ip lo m a e r a su ficien te p a r a o exercício
Ifl d a advocacia, disp e n sa n d o exam es e licenças e p o d e n d o o b ac h a re l p r o tu -
r a r e m q u a l q u e r d o s tr ib u n a is . V in h a m e m s e g u id a o s a d v o g a d o s
A s O rdenações Filipinas d istin g u ia m p recisam en te q u e m p o d ia , e o n d e ,
pro v isio n ad o s, aq u e le s q u e , não te n d o g ra u s acadêm icos das escolas de
procurar o u a d v o g a r nos Reinos.32 H a v ia e m p rim e iro lu g a r o s L etra d o s, d ire ita , s u b m e tia m -s e a exam es teóricos e p rá tic o s d e ju risp ru d ê n c ia p e
“ho m e n s d e b o a fa m a e consciência”, com o ito anos d e e stu d o s d e D ire ito
lo s p re sid e n te s d o s trib u n a is d a R elação. P o d iam p ro c u ra r ap e n a s nos tr i
Canônico o u C ivii cursados n a U n iv ersid ad e d e C o im b ra, e só a eles era b u n a is d e I a in stâ n c ia e nos lu g a re s o n d e n ã o houvesse ad v o g a d o fo rm ad o
p e rm itid o p ro c u ra r o a C asa d e Suplicação d e L isboa, o n d e seriam e m n ú o u o s h ouvesse e m n ú m e ro insuficiente para. o b o m a n d a m e n to d a justiça.
m ero d e q u a re n ta . P ara p ro c u ra r n a C asa d o P o rto exigia-se ta m b é m o d i F in a lm e n te h a v ia o s solicitadores, sem d ip lo m a com o os provisionados,
p lo m a d e C oim bra, dispensando-se, to d av ia, os rigorosos exam es a q u e e ra m q u e s u b m e tia m -se p elos juizes d e d ire ito a ex am es a p e n a s so b re a p rá tic a
su b m e tid o s o s L etrad o s. A lém desses, “os q u e forem g ra d u a d o s p e r exam e, d o processo. T an to s estes q u a n to os ad v o g ad o s pro v isio n ad o s necessita
e tiverem o te m p o d e oito annos, p o d erão pro c u ra r n a s correições, C idades,
v a m re q u e re r renovação d e suas licenças o u provisões n o p ra z o d e dois a
Villas e lu g a re s d e nossos R einos e S enhorios, sem p a r a elio te re m necessida q u a tm anos.
d e d e licença, m o stra n d o aos J u lg a d o re s as C artas d e seus g rá o s, e c ertid ão
E ra essa a e s tru tu ra básica. N a p rática, interesses os m ais diversos cria
a u th e n tic a d o s cursos. P orém , nas correições, o u alçadas, q u e m a n d a rm o s v a m desvios q u e os repetidos avisos m inisteriais e ra m incapazes d e corrigir.
p e lo R eino, o n d e h o u v e r certo n u m e ro d e P rocuradores, não p o d e rã o p ro P residentes d e Relação concediam núm ero exag erad o d e provisões, presi
c u ra r sem n o ssa licença”. F inalm ente havia aqueles q u e , não p o ssu in d o g ra u s d e n te s d e p ro v ín cia usurpavam a atribuição d e concedê-las o u e ra m as p ro -
acadêm icos, su b m e tia m -se a exam es p elo s D e se m b a rg a d o res d o P aço e q u e ,
u m a vez ap ro v ad o s, recebiam suas C a rta s, “havendo p rim e iro inform ação
®A legislação é dispersa. Veja-se, en tretan to . Lei de 2 2 d e setem bro de 1828: 'Aos Presidentes
d e q u a n to s h á nas correições, C idades, o u Y iilas, p a r a o n d e p e d e m a s d ita s das Relações com pete conceder licença para q u e advogue hom em q u e oão he form ado nos
lugares o nde h o u v er feita d e Bacharéis form ados q u e exerção este officio, precedendo para isso
C artas, e d o s q u e são necessários: d e m an eira q u e n ã o sejão m a is d o q u e
exam e na sua presença” (§VTí a rt. 2 o}, D ecreto de 3 d e janeiro de 1833 — D á R egulam ento
para. as Relações d o Im pério. Pelo §5 do art. 7o com petia ao presidente d a Relação "conceder,
3,D av íd A . Beii, Lawyers and Ciim ns: The M aking o f a Rolitical Elite m Old Regime France. N o v a precedendo exam e, licença para q u e advogue hom em , q u e oão é form ado, nos lugares onde
\ó r k : O xford U aiversíty Press, 1994, especialm ente o prim eiro capítulo. O s parfements, dos houver feita d e Bacharéis formados, q u e exerçam este officio, e p a ra advogar em q ualquer
quais o m ais im p o rta n te era o Parhment de Paris, constituíam o ápice d o sistem a Judiciário iugaroscidadãos brazileíros formados, ou doutorados, e m U niversidades estrangeiras"; tam bém
francês n o século X V III e seus m agistrados eram recrutados n as cam adas superiores d a nobhsse o D ecreto n . 5 6 1 8 de 2 de m aio d e 1 8 7 4 — D á novo R egulam ento às Relações do Im pério, §§
de robe. 9 e 1 0 d o art- 14, e Cap. IV (“D o s Advogados provisionados e solicitadores”), a rt. 4 3 a 48;
^Ordenações e leis do Remo de Portugal'recopiladasper mandada dehei D. Filippe o Primeiro-, undécima Aviso n,013 9 0 — Ju stiça — Em 4 d e setem bro de 1875: “A faculdade conferida aos Presidentes
edição segunde a nana, Coimbra, 1824. Coimbra: N a Imprensa, da Universidade,. 1847,. liv r o I, das Relações, de concederem licença para advogar a m dividoos não form ados é dependente da
T ítu lo XLVUI. condição d e feita, d e Bacharéis, e cfe conveniência do serviço d a adm inistração da Justiça.”
visões concedidas p a ra lugares o n d e já e ra b a sta n te o n ú m ero d e bacha espécie.. P oúe o cego advogar? É co m p a tív e l o exercício d o lu g a r d e pároco
réis.54 O advogado provisionado po d ia iivrar-se d a inconveniência d a ren o c o m o d a profissão de advogado e p ro c u ra d o r? 'É c o m p a tív e l o exercício d a
vação periódica d e su a licença p a g a n d o a tax a de 6 0 $ (em 1 841) pelo “e m advocacia com o cargo de secretário d e província? U m in d iv íd u o suspenso
p reg o vitalício d e advogado não fo rm ad o ” o u provisão vitalícia, e te n d o p o r p ro n ú n c ia d o s em p reg o s d e c u ra d o r dos órfãos e g u a rd a -m o r d a s te r
notório sab er e influentes relacionam entos po d eria o b te r d o governo a con ras m inerais dev e sê-lo d a profissão d e ad v o g a d o n ã o fo rm ad o ? E stá o
dição de d o u to r e m leis.35 Tudo isso provocava razoável g ra u d e incerteza, ad v o g ad o sujeito à disciplina judiciária? Pode a d v o g a r q u a n d o em exercí
m e sm o e n tre o s p e rito s . N o p rim e iro d ia de se u fu n c io n a m e n to , os cio o su p le n te do ju iz su b stitu to ? 37 D e u m a fo rm a o u d e o u tra , to d a s estas
desem bargadores d a Relação de O uro P reto in d ag av am , indecisos, se as q u e stõ e s en v o lv iam d isp u ta s p o lític a s locais* decisões q u e c o n tra ria v am
provisões passadas pelo presidente d a província autorizavam a ad v o g ar p e interesses e q u e , e m ú ltim a in stâ n c ia , solicitavam u m a in te rp re ta ç ã o a u
ra n te a Relação o u apenas n a I a instância, se o n ú m ero de provisionados to riz a d a e final. In te rp re ta çõ e s c o n tra d itó ria s n ã o e ra m in fre q u e n te s, e
m arcado p a ra a província pelo presid en te d a Relação d a C orte deveria ser u m a q u e stã o em pa rtic u la r, fu n d a m e n ta l p a t a a caracterização d a ad voca
observado e se as provisões vitalícias im plicavam o direito de ad v o g ar em cia c o m o p ro fissão , não o b te v e re sp o sta defin itiv a: é a advocacia u m a
a m b as as instâncias.50 “in d u stria p riv a d a ” o u u m “oficio p ú b lic o ” ? E m 1 8 6 0 , c o n su lta d o o M i
M as p a r a alé m dos “em p en h o s”, do favor p re sta d o a correligionário nistério; d a J u s tiç a pelo p re sid e n te d a província d o R io d e Ja n e iro se o juiz
o u am igo p o r via d e u m a provisão; p a ra além dos interesses q u e interferiam d e C abo Frio e ra c o m p e te n te p a r a “p ro c e ssa r co m o e m p re g a d o s públicos
n a a d m in istração d a justiça d a q u a l ad v o g ad o s e so licitadores e ra m p a rte não privilegiados” o s advogados q u e aco nselhavam c o n tr a as O rdenações
c o n s titu in te , h a v ia u m a a m p la m a rg e m de im precisão acerca d a p ró p ria e c o n tra & D ire ito expresso, re sp o n d e u -lh e o conselheiro c o n su lto r dos
n a tu re z a d a advocacia, particu larm en te sobre suas in c o m p atib ilid ad es com N e g o d o s d a J u s tiç a que, p o r exercerem u m a “in d u s tria p riv a d a ”, não es
o exercício d e carg o s públicos, o q u e ta m b é m facilitava ab usos d e to d a tav am os ad v o g ad o s sujeitos ao a r t. 1 6 0 d o C ódigo C rim in a l.38 Ib d a v ia ,
em. 1 8 6 6 , a u m a co n su lta d o p re sid e n te d a p ro v ín c ia d e M in as G erais
34Aviso n ° 4 8 0 — Justiça — Em 25 de agosto de 1836 — A o Presidente da R eiaçãodo Rio de so b re se e stra n g e iro s p o d ia m ad v o g ar, re sp o n d e u o C onselho d e E stado
Jan eiro , restringindo as licenças para advogarem pessoas não formadas; Lei 111 d e 6 d e abril q u e o ad v o g ad o “é u m in te rp re te d o u trin a l d a s leis d o E stad o , u m a e n ti
d e 1838 (Lei Mineira): “A rt. I o— O Presidente da Província é autorizado a prover os Advogados
n ã o formados d a m esm a m aneira p o r q u e faz o Presidente da Relação, poden d o conceder-lhes d a d e p u b lic a ...” e, m ais a in d a, q u e a profissão d e a d v o g a d o “na ad m in is
que se habilitem p e ran te os Juizes de D ireito das respectivas Comarcas. A rt. 2 o — Ficam tra ç ã o d a ju stiç a não p ó d e se r classificada com o p u r a e a m p la profissão
revogadas as disposições em contrario”; Aviso n ° 160 — Justiça — Em 2 de m aio d e 1874 —
H avendo Bacharéis em num ero sufficiente, não se devera d ar novas licenças aos Advogados industrial, titu lo unico q u e po d eria favorecer o estra n g e iro ”.39 O R egim ento
provisionados.
35Lei n° 243 de 30 de novembro de 1841 — Fixa a Despesa e orça a Receita para o exercício F N a m esm a ordem das questões ver: Resolução de 4 de m arço de 1863 — Seção de Justiça do
1842-18431(Parte I — D os empregos e vencim entos, art. 5o); D ecreto n° 4 6 6 de 4 de setem bro
Conselho d e Estado (o cego pode advogar); Resolução de 4 d e agosto de 1863 — Seção de
de 1847 — H abilita A ntonio Pereira Rebouças para advogar em todo o Im pério, independente Jusríça do Conselho de Estado (é incom patível); Aviso de 2 4 de o u tu b ro de 1 8 6 4 — ju stiç a e
de licença dos presidentes das Relações: “A rt. I o — A ntonio Pereira Rebouças está habilitado
Resolução d e 8 de janeiro de 1881 — Seção de ju stiç a do Conselho d e Estada (é incom patível);
para advogar em todo o Império, independente de licença dos Presidentes das Relações, com o se Resolução d e 6 de abril d e 1867 — Seção de ju stiç a do Conselho de Estado (não deve ser
fora Bacharel Formado, ou D outor em ciências jurídicas e sociais; A rt. 2 o — Fica, para este fim , suspenso); Resolução de 23 de novem bro d e 1863 — Seção de ju stiç a do Conselho de Estado
dispensada a Lei de vinte e dois de Setembro de m il oitocentos e v in te e oito, A rtigo segundo, (não e3 tá sujeito à disciplina judiciária); Aviso de 2 3 de m aio d e 1 8 7 4 — Justiça (não pode
paragrafo sétimo.” Trata-se do pai dos famosos engenheiros A ntonio e Á ndré Rebouças. Sua advogar).
petição encontra-se reproduzida em A ntonio Pereira Rebouças, Recordações da vida parlamentar. ^Aviso de 2 9 de setem bro d e 1860 — Justiça.
Rio de Janeiro: Laemmert, 1870, p p . 559-578. Sobre a Lei de 22/9 /1 8 2 8 , ver nota 29- i9lmpenairmelações... op. cie^ v o l.II, p . 1259- Após expurgadas das m inúcias das razões legais e
36A ugusto d e Lima }s.xTribunalde Relação (1874-1897) . Belo Horizonte: Im preosa Oficial, 1965, das controvérsias snterpretativas em que se envolviam os conselheiros da Seção de justiça, um a
p p - 51-54. versão resumida das resoluções era. publicada a o D iário Oficial.
d a s C u s ta s Ju d iciárias d e 1855 m arcav a as ta x a s d e v id a s aos ad v o g ad o s tivessem exercício.43 lã m b é m o C ódigo d o Processo C rim inal estabelecera
p o r a to s legais (petições de conciliação, lib elo s, e m b a rg o s, e tc .), e q u ip a - q u e “será p erm itid o a s p a rte s c h a m a r os advogados o u p ro cu rad o res que
ra n d o -o s, assim , aos dem ais funcionários judiciais m a s p e rm itin d o -lh e s , quiserem ” ( a r t. 3 2 2 ), significando isso lite ra lm e n te qu e qualquer pessoa p o
p o r o u tr o lado, socorrer-se d e a rb itra m e n to no caso d e não se c o n fo rm a d ia re p re se n ta r as p a rte s n o trib u n a l do jú ri desde q u e m u n id a d a necessária
re m com os valores estip u lad o s no R e g im e n to ;40o de 1 8 7 4 (q u e a lcerav ao procuração.44 O s rá b u la s, com o e ra m cham ados estes “p ro cu rad o res p riv a
d e 1 8 5 5 ) p e rm itia ao advogado firm a r c o n tra to d e serviços (sem p re escri d o s”, sobreviveriam a té a terceira d écad a d o nosso século à condenação p e
to ) c o m o cfiente, reconhecendo o c a rá te r p riv a d o d a profissão, m as ad v er los advogados d e elite . F in alm en te, e ra m b a sta n te im precisos os contornos
tin d o q u e “e m fe ita d e c o n tra c to escripco c o m a p arce, e n te n d e -s e q u e o d o cam p o d e n tro d o q u a l se pudesse increver a advocacia com o conjunto
A d v o g ad o se su je ito u às taxas do R e g im e n to ” .41 d istin to d e qualificações e atividades. Tem -se fre q ü e n te m en te a im pressão
M e s m o a q u e s tã o a re s p e ito d e q u e m p o d ia a d v o g a r s u s c ita v a d e q u e , desco n tad o o q u e e ra lícito fazer a té ao cidadão a b so lu ta m e n te leigo
controvérsias. U m a interpretação m ais e stre ita d a legislação qu eria q u e "p ro nas q u estõ es forenses, resum ia-se a advocacia a u m a categ o ria profissional
residual. C o n su ltad o sobre se ao estrangeiro era perm itid o req u erer em juízo,
curadores” fossem apenas os advogados (form ados e provisionados) e os
resp o n d eu o M inistério d a Ju stiç a q u e “se as nossas leis p ro ib e m ao e stra n
solicitadores e q u e só eles p u dessem ser a d m itid o s e m juízo, n ã o estabele
geiro o exercido d a advocacia, p o r considerá-la u m munus publico, não lhe
cendo q u a lq u e r diferença e n tre u n s e o u tro s.42 O s p rax istas, e n tre ta n to ,
v e d a m , e n tre ta n to , o s a to s q u e a p ró p ria p a rte po d e p ra tic a r e m juizo, b em
socorriam -se d a s O rdenações p a ra fixar q u e p ro c u ra d o re s judiciais p o d ia m
com o assin ar re q u e rim e n to d e conciliação, in q u irir te ste m u n h a s, defender
se r ro d o s aq u eles q u e as íeis n ã o excluíam , e e ra m excluídos os seguintes: a)
n o ju ri e o u tro s q u e n ã o são privativos d o p ro cu rad o r judicial c o m p e te n te
o m e n o r d e 21 anos; b) o furioso o u d e m e n te e o p ró d ig o depois d e sentença
m e n te titu la d o ”.45
q u e o privasse d a adm inistração d e bens; c) a m u lh er, salvo se a cau sa fosse
N a p rá tic a , a g r a n d e lin h a d e diferenciação e n tre ta is categ o rias de
sua, d e s e u m a n d o , o u de seus p a is le g itim a m e n te im p ed id o s; d ) o q u e
p ro c u ra d o re s e r a d e n a tu re z a social e c u ltu ra l, relegado o crité rio fo rm a l-
houvesse sido condenado p o r falsidade, o u houvesse p e rd id o o ofício p o r
Legal a se g u n d o p la n o . O c o rte e ra estabelecido p e la e lite e consistia em
erro nele co m etid o ; e) as pessoas poderosas e m razão d e ca rg o ; f) o s m ag is
d istin g u ir o s “verdadeiros” advogados d o s q u e não eram dignos deste nom e.
tra d o s e seus oficiais, exceto pelas pessoas a q u e m fossem suspeitos; g) os
Isso p o rq u e , d iz ia C a e ta n o A lb e rto Soares em 1 8 6 7 , “o ad v o g ad o {digno
clérigos e o s religiosos, exceto p elas igrejas e pessoas m iseráveis, p o r seus
d e s te nom e} p re c iso u se m p re , com o d iz M erlin, re u n ir as q u alid ad es de
d escen d en tes e irm ãos; h) os em p reg ad o s d a fazen d a nas rep artiçõ es e m q u e
u m e sp írito re to e ilu s tra d o às q u a lid a d e s a in d a m ais estim áv eis do c o ra
ção b e m fo rm a d o , ta is com o u m sacrifício c o n sta n te e g en ero so d e seus
'K'D eereto a “ 1 569, d e 3 de m arço de 1855 — A pprova o R egim ento d e custas judiciarias
d iv e rtim e n to s e p ra z e res, e d a p ró p ria lib erd ad e e m b e m d a ju stiç a e d a
m andado organizar p ela Lei n° 6 0 4 de 5 cie ju lh o d e 1 8 5 1 . A té essa d ata os honorários h u m a n id a d e ; u m a c o ra g e m cap az d e v en cer q u a isq u e r o b stácu lo s q u e
advtjcatícios estavam regulados pelas O rdenações (L ivio 1°, T itu lo 4 8 § 11 e T itu io 92 ) e peio
Alvará d e 10 d e o u tu b ro de 1754.
41 D ecreto n ° 5737, d e 2 d e setem bro de 1 8 7 4 — A ltera o R egim ento das custas judiciarias. 43A lberto A n to n io d e M oraes Carvalho, Praxe forense ou diretorio pratico d o processo civil
Existem evidências de q u e há m uito os advogados m ais solicitados cobravam m u ito a d m a das brasileiro, conform e a actua! legislação do Im pério, 2a edição revista e au m en tad a pelo juiz de
taxas, estipuladas no R egim ento de 1855. direito Levíndo Ferreira Lopes. Rio de Janeiro: Livraria Popular d e C ruz Coutinho, 1888, pp.
■,2O tym p!o Giffenihg de Niemeyer, "Exetcrcid d a profissão de advogado. Reíatorio fido em sessão 4 8 -4 9 - T am b ém a a O rd e n aç õ e s, L ivro I, T itu lo X LV III, § 19 (“Q u a es n ã o podem ser
de 6 de dezem bro de 1875 •— D eve ser adm ittido e m juizo a requerer p o r ou trem quem não seja Procuradores”).
sofiritador o u advogado?”. Fevisia do Instilunx da Ordem- dos Advogados Brasileiros, Tom o VIU, 44E receber as custas com o se advogado ou solicitador fosse.
LSSl (1871-1880), pp. 71-73. 45Aviso n 0 79 — ju s tiç a — E m 14 de fevereiro de 1881.
168 / / E D M U N D O C A M PO S C O ELH O
visões concedidas p a ra lugares o n d e já e ra b a sta n te o n ú m ero d e b acha espécie. P ode o cego advogar? E co m p a tív e l o e x e rc id o d o lu g a r de p ároco
réis.34 O advogado provisionado po d ia livrar-se d a inconveniência d a ren o
com o d a p ro tis s ã o d e advogado e pro c u ra d o r? É c o m p a tív e l o exercício d a
vação periódica d e su a licença p a g a n d o a tax a de 6 0 $ (em 1841) pelo “e m ad v o c a d a .co m o cargo de secretário d e província? U m in d iv íd u o suspenso
p re g o vitalício d e advogado não fo rm ad o ” o u provisão vitalícia, e te n d o p o r p ro n ú n c ia d o s em pregos d e c u ra d o r dos órfãos e g u a rd a -m o r das te r
notório sab er e influentes relacionam entos po d eria o b te r d o governo a con ras m inerais d ev e sê-lo d a profissão d e ad v o g a d o n ã o fo rm ad o ? E stá o
dição de d o u to r e m leis.35 Tudo isso provocava razoável g ra u d e incerteza, ad v o g ad o su jeito à disciplina judiciária? P o d e a d v o g a r q u a n d o em exercí
m e sm o e n tr e o s p e rito s . N o p rim e iro d ia de se u fu n c io n a m e n to , os cio o su p le n te d o juiz su b stitu to ? 37 D e um a. fo rm a o u d e o u tra , to d a s estas
d esem b arg ad o res d a Relação d e O u ro P reto in d ag av am , indecisos, se as q u e stõ e s en v o lv iam d isp u ta s p o líticas locais, d e d s õ e s q u e c o n tra ria v am
provisões passadas peio presidente d a província autorizavam a ad v o g ar p e
xnteresses e q u e , e m ú ltim a in stâ n c ia , solicitavam u m a in te rp re ta ç ã o a u
ra n te a Relação o u apenas n a I a instância, se o n ú m ero de provisionados
to riz a d a e final. In te rp re ta çõ e s c o n tra d itó ria s n ã o e ra m in fre q u e n te s, e
m arcado p a ra a província pelo presid en te d a Relação d a C orte deveria ser u m s q u e stã o em pa rtic u la r, fu n d a m e n ta l p a r a a caracterização d a ad voca
observado e se as provisões vitalícias im plicavam o direito de ad v o g ar em cia co m o profissão, não o b te v e re sp o sta d efin itiv a; é a advocacia u m a
am b as as in stancias.30
“in d u stria p riv a d a “ o u u m “oficio p ú b lic o “? E m 1 8 6 0 , c o n su lta d o o M i
M as p a ta alé m dos “em p en h as", d o favor p re sta d o a correligionário n istério d a Ju sriç a peio p re sid e n te d a p ro v ín cia d o R io d e Ja n e iro se o juiz
o u am ig o p o r via d e u m a provisão; p a ra além dos interesses qu e interferiam d e C abo Frio e ra c o m p e te n te p a ra “p ro c e ssa r com o e m p re g a d o s públicos
n a ad m in istração d a ju stiça d a q u a l advogados e solicitadores e ra m p a rte não priv ileg iad o s” os advogados q u e aco nselhavam c o n tra as O rdenações
c o n s titu in te , h av ia u m a a m p la m a rg e m d e im precisão acerca d a p ró p ria e c o n tra o D ire ito expresso, re sp o n d e u -lh e o conselheiro c o n su lto r dos
n a tu re z a d a advocacia, p artic u la rm en te sobre suas in c o m p atib ilid ad es com N egócios d a J u s tiç a q u e, p o r exercerem u m a “in d u s tria p riv a d a ”, não es
o exercício d e carg o s públicos, o q u e ta m b é m facilitava ab u so s d e to d a tav am os ad v o g ad o s sujeitos ao a r t. 16 0 do C ódigo C rim in a l.38 lò d a v ia ,
e m 1 8 6 6 , a u m a co n su lta do. p re sid e n te d a p ro v ín c ia d e M in as G erais
34Aviso D° 4 8 0 — ju stiç a — Em 25 de agosto de 1836 — A o Presidente da Relação do Rio de so b re se estran g eiro s p o d ia m ad v o g ar, re sp o n d e u o C onselho d e E stado
Jan eiro , restringindo as licenças para advogarem pessoas não formadas; Lei 111 de 6 de abril q u e q ad v o g ad o “é u m in te rp re te d o u trin a l d a s leis d o E sta d o , u m a e n ti
d e 1838 (Lei M ineira): “A rt. I o— O Presidente d a Província é autorizado a prover os Advogados
n ã o form ados da m esm a m aneira po r q u e faz o Presidente da Relação, podendo conceder-lhes d a d e p u b lic a ...” e, m ais ainda, q u e a profissão d e ad v o g a d o “na a d m in is
qu e se habilitem p e ran te os Juizes de D ireito das respectivas Com arcas. A rt. 2o — Ficam tração d a ju stiç a não p ó d e ser classificada com o p u r a e a m p la profissão
revogadas as disposições em contrario”; Aviso n ° 160 — Ju stiç a — Em 2 de m aio de 1 8 7 4 —
H avendo Bacharéis em num ero sufficience, não se devem d ar novas licenças aos Advogados industrial, titu lo unico q u e po d eria fav o recera estra n g e iro ”.39 O R egim ento
provisionados.
35LeÍ n° 243 de 36 de novembro de 1841 — Fixa a D espesa e orça a Receita para o exercício
37Na. m esma ardem das questões ver: Resolução d e 4 de m arço de 1863 — Seção de ju stiç a do
1 842-1843 (Parte 1— D os empregos e vencim entos, art. 5o); D ecreto n° 4 6 6 de 4 de setem bro
Conse&o d e Estado (o cego pode advogar); Resolução d e 4 de agosto de 1863 — Seção de
d e 1847 — H abilita Antonio Pereira Rebouças para advogar em todo o Im pério, independente
Justiça do Conselho de Estado (é incom patível); Aviso de 2 4 d e o u tu b ro de 1 8 6 4 — ju stiç a e
de licença dos presidentes das Relações: “A rt. I o — A ntonio Pereira Rebouças está habilitado
Resolução d e 8 d e janeiro d e 1881 — Seção d e ju stiç a do Conselho de Estado (é incom patível);
para advogarem todo o Im pério, independente de licença dos Presidentes das Relações, com o se
Resolução de 6 de abril de 1867 — Seção d e ju stiç a d o Conselho de E stado (não deve ser
fôra Bacharel Form ado, ou D o u to rem ciências jurídicas e sociais; A rt. 2 o — Fica, para este fim,
suspenso} Resolução de 23 de novem bro d e 1863 — Seção de ju s tiç a do Conselho d e Estado
dispensada a. Lei d e vinte e dois de Setembro de m il oitocentos e v in te e oito, A rtigo segundo,
(não e s ti sujeito à disciplina judiciária.); Aviso d e 2 3 de m aio de 1 8 7 4 — ju sriça (aão pode
paragrafo sétimo.” Trata-se do pai dos famosos engenheiros A ntonio e Á ndré Rebouças. Sua advogar).
petição encontra-se reproduzida em A ntonio Pereira Rebouças, Recordações da vida parlamentar. 38Aviso de 2 9 de setem bro de 1 8 6 0 — justiça.
Rio de Janeiro: Laemmert, 1870, pp. 559-578. Sobre a Lei de 22/9 /1 8 2 8 , ver nota 29-
^Imperiaisnsolações... op. cit., vol. II, p . 1259- Após expurgadas das m inúcias das razões legais e
^A ugusto d e Lima j r ., Tribunalde Relação (1874-1897). Belo Horizonte: Im prensa Oficial, 1965,
das controvérsias interpretatívas em que se envolviam os conselheiros da Seção de ju stiça, uma
p p. 51-54.
versão resum ida das resoluções era. publicada n o Diário Oficial.
d a s C u s ta s Ju d iciárias de 1855 m arcav a as ta x a s d ev id as aos ad v o g ad o s tivessem exercício.45 la m b e m o C odigo d o Processo C rim inal estabelecera
p o r a to s legais (petições de conciliação» lib elo s, e m b a rg o s, e tc .), e q u ip a - q u e “será p erm itid o às p a rte s c h a m a r os advogados o u p ro cu rad o res que
ra n d a -o s , assim., aos d em ais funcionários judiciais m a s p e rm itin d o -lh e s , qu iserem ” Cart. 3 2 2 ), significando isso literalm e n te q u e qualquer pessoa p o
p o r o u tr o lado, socorrer-se d e a rb itra m e n to n o caso d e não se co n fo rm a d ia re p re se n ta r as p a rte s n o trib u n a l d o júri desde q u e m u n id a d a necessária
re m com os, v alo res e stip u la d o s no R e g im e n to ;40 o d e 1 8 7 4 (q u e a lte ra v a o procuração.44 O s rá b u la s, com o e ra m cham ados estes “p ro cu rad o res priva
d e 1 8 5 5 ) p e rm itia ao ad v o g ad o firm a r c o n tra to d e serviços (sem p re escri d o s”, sobreviveriam a té a terceira décad a do nosso século à condenação p e
to ) c o m o c lie n te , reco n h ecen d o O1c a rá te r p riv a d o d a profissão, m as adver los advogados d e elite . F in alm en te, e ra m b a sta n te im precisos os contornos
tin d o q u e “e m fe ita d e c o n tra c to e sc tip to c o m a p a rte , e n te n d e -s e q u e o d o cam p o d e n tro d o q u a l se pudesse increver a advocacia com o conjunto
A d v o g ad o se su je ito u às taxas d o R e g im e n to ” ,41 d istin to d e qualificações e atividades. Tem -se fre q ü e n te m e n te a im pressão
controvérsias. U m a interpretação m ais estre ita d a legislação qu eria q u e “p ro nas q u estõ es forenses, resum ia-se a advocacia a u m a ca te g o ria profissional
curadores” fossem apenas os advogados (form ados e provisionados) e os residual. C onsultado sobre se ao estrangeiro era p erm itid o req u erer em juízo,
resp o n d eu o M inistério d a Ju stiç a q u e “se as nossas leis p ro ib e m ao e stra n
solicitadores e q u e só eles p u dessem se r a d m itid o s e m juízo, não estabele
g eiro o exercício d a advocacia, p o r considerá-la u m munus publico, não lhe
cen d o q u a lq u e r diferença e n tre u n s e o u tro s.42 O s praxiscas, e n tre ta n to ,
v e d a m , e n tre ta n to , o s a to s q u e a p ró p ria p a rte p o d e p ra tic a r e m juizo, bem
socorriam -se d a s O rdenações p a ra fixar q u e p ro c u ra d o re s judiciais p o d ia m
com o assin ar re q u e rim e n to d e conciliação, in q u irir te ste m u n h a s, defender
se r to d o s aq u eles q u e as leis n ã o excluíam , e e ra m excluídos os seguintes: a)
n o ju ri e o u tro s q u e n ã o são privativos do p ro cu rad o r judicial c o m p e te n te
o m e n o r d e 2 1 an o s; b) o furioso o u d e m e n te e o p ró d ig o depois d e sentença
m e n te titu la d o ” .45
q u e o privasse d a adm inistração d e bens; c) a m u lh er, salvo se a causa fosse
N a prática» a g ra n d e lin h a d e diferenciação e n tre ta is c ateg o rias d e
sua, d e s e u m arido, o u de seus p ais le g itim a m e n te im p ed id o s; d ) o q u e
p ro c u ra d o re s e r a d e n a tu re z a social e c u ltu ra l, releg ad o o crité rio fo rm al-
houvesse sido condenado p o r falsidade, o u houvesse p e rd id o o ofício p o r
íe g a l a se g u n d o p la n o . O c o rte e ra estab elecid o p e la e lite e co n sistia em
erro n ele com etid o ; e) as pessoas poderosas e m razão d e carg o ; f) os m agis
d istin g u ir o s “v erdadeiros” advogados dos q u e não eram dignos d este nom e.
tra d o s e seus oficiais, exceto pelas pessoas a q u e m fossem suspeitos; g ) o s
Isso p o rq u e , d iz ia C a e ta n o A lb e rto Soares em 1 8 6 7 , “o ad v o g a d o fd ig n o
clérigos e o s religiosos, exceto pelas igrejas e pessoas m iseráveis, p o r seus
d e s te nom e} p re c iso u sem p re, co m o diz M erlin , re u n ir as q u a lid a d e s de
d escen d en tes e irm ão s; h) os em p reg ad o s d a fazenda nas repartições e m q u e
u m e sp írito re to e ilu s tra d o às q u a lid a d e s a in d a m ais estim áv eis do c o ra
ção b e m fo rm a d o , ta is com o u m sacrifício c o n sta n te e g en ero so de seus
® D ecteto a “ I5<59» d e 3 de m arço d e 1855 —— A pprova o R egim ento d e custas judicia rias
d iv e rtim e n to s e prazeres» e d a p ró p ria lib erd ad e e m b e m d a ju stiç a e d a
m andado o rganizar p ela Lei n° 6 0 4 de 3- d e ju lh o d e 1 851- A té essa d ata os honorários h u m a n id a d e ; u m a c o ra g e m cap az d e v en cer q u a isq u e r o b stá c u lo s q u e
advocatídos estavam, regulados peias O rdenações (Livro 1°, T itu lo 4 8 § 11 e T itulo 9 2 ) e pelo
Akvará. deT O d e outuirco de 1754.
"‘'D e c re to a ° 5737, d e 2 d e setem bro d e 1 8 7 4 — A ltera o Regim ento das custas judiciárias. 43A lberto A n to n io d e M oraes Carvalho, Praxe forense ou diretorio pratico d o processo civil
Existem evidências de que há m uito os advogados m ais solicitados cobravam m uito acima das brasileiro, conform e a acm aJ legislação do Im pério, 2a edição revista e au m en tad a pelo juiz de
taxas, estipuladãs no R egim ento de 1855. direito Levindo Festeira Lopes. Rio de Janeiro: Livraria Popular de C ruz Coutinho, 1888, pp.
4201ym pü>G ifFénihgdeN iem eyer, “Exercício d a profissão d e advogado. Relatorio lido em sessão 4 8 -4 9 - T am b ém a s O rd e n aç õ e s, l i v r o I, T itu lo X L V III, § 19 (“Q u a es n ã o p o d e m ser
de 6 de deaem bro d e 1875 — D eve ser a d m in ü o e m juízo a requerer p o r o u trem quem não seja Procuradores“).
solicitador o tt advogado?”. Revista do Instüum da- Ordem- das Advogados Brasileiros, Tom o V IU , receber as custas com o se advogado ou solicitador fosse.
1881 (1871-1880), pp. 71-7 3 . 45Aviso n ° 79 — ju s tiç a E m 14 de fevereiro de 1881.
possam a p re se n ta r-se no desem penho d e s u a n o b re m issão; u m zelo ar lh eirn Francisco Octzvs&ao la m e n ta v a , e m 1 8 7 5 , q u e estivesse d e sa p a re
d e n te d.e so co rrer o desgraçado, d e defen d er o in o c e n te ; u m a n o b re fra n cen d o o solicitador, “© c e n tro do trab alh o m ecânico, d ig a m o s assirn, de
q ueza p a ra fa la r sem pre a lin g u a g e m d a v e rd a d e , q u a isq u e r q u e sejam as nossa profissão” e q u e , em consequência, se visse forçado o ad v o g a d o a
circunstâncias; e m ais q u e tu d o u m desinteresse ta l, q u e n a d a p o s s a a lte “a c u m u la r com o tra b a lh o d o espírito a ta re fa m a té ria !” ;49 e B ulhões de
ra r a g ra n d e z a d ’a lm a qu e o deve c aracterizar” .46 G conselheiro S a ld a n h a C arvalho, já n a R epublica ain d a insistia e m q u e “a p ro v a do m ais elevado
M arinho a d v e rtia p a ra qu e não se confundisse “o ad v o g a d o c o m o m erca se n tim e n to jurídico se revela n a c o m p le ta separação de d u a s classes — a
d o r d o d ire ito , com o c o rreto r d a justiça, co m o ré p til do foro q u e p o r a í se dos q u e exercem a a rte e a do s q u e professam a ciência do d ire ito ”.50
a rra sta , e m b u sc a so m en te d e sórdido l u c r o P r o b i d a d e , desinteresse, E b a sta n te provável q u e to d a esta devoção à “ciência” d o D ire ito , este
in d e p e n d ê n c ia , d e v o ta m e n to , a b n e g a ç ão , tra b a lh o in cessan te, ciência, desgosto inconrido com os q u e e x e rd a m m e ra m e n te a “a rte ” escondessem ,
a m e n id a d e n o tr a to , sem q u e b ra d a indispensável en e rg ia , tais são os a tri de fato , u m p ro fu n d o desprezo p e la advocacia forense, se não p ela advocacia
b u to s indispensáveis àqueles q u e quiserem te r o d ire ito ao n o m e d e ad v o tontcrnrtcom o u m a atividade m ercan til. Jo a q u im N a b u c o , com seus exage
g a d o — vir banus, dicentiperitus” ,47 O “v erd ad eiro ” ad v o g ad o , acre sc en ta ros d e sensibilidade estética (m u ito m ais do q u e ética), não é u m b o m exem
va B u lh õ es d e C arvalho, é, adem ais, “o obscuro e h u m ild e ju risc o n su lto ” plo d a m en talid ad e d a época m a s, d e q u a lq u e r m o d o , fornece u m a p ista.
q u e “no silêncio d e seu g a b in e te , e stu d a os m eios d e realizar a re g ra a b s D izia ele q u e “h á a lg u m a coisa d e h u m ilh a n te , p a ra a nobreza d o pen sa
tr a ta nas aplicações concretas d a v ida e a d a p ta c a d a u m a d a s in stitu içõ es m e n to , no espetáculo d e u m a g ra n d e inteligência p o n d o to d a a sua p e n e tra
novas ao g ra n d e m ecanism o fo rm ad o peça a p e ç a p e la trad ição d a ju ris ção, ciência, recursos, a o serviço, p o r exem plo, d e u m a operação com ercial,
p ru d ê n c ia e m o v id a pelo gênio in sp ira d o r d o d ire ito ”; e e s ta ciência do d e u m a especulação- o u esperteza, p o r m ais le g ítim a q u e seja; e m tô d a d e
d ire ito , so b re a q u a l se d eb ru ça o ad v o g ad o , n a d a te m a v e r com a ob scu
m a n d a h á em geral, d e ca d a la d o , alg u m a coisa q u e o advogado te m de
rid ad e e a.confusão das leis v ig en tes n em com “a falsa ciência d o s p rá tic o s,
m itig ar, esconder o u explicar; adquíre-se, le g itim a m e n te , sem delicadeza;
q u e se c rê e m g ra n d e s ju risco n su lto s p o r se re m m u ito e n te n d id o s em
fazem -se c o n tra to s p erfeitam en te válidos, sem n e n h u m requisito m o ral; o
p e q u e n in a s fó rm u la s de processo e e m ro d a s as arg ú cias e e stra té g ia s fo
direito m ais p u ro p o d e te r o rigens im puríssim as, form ar-se com o a tra n sp a
renses. Esses conhecedores dos can to s e re c a n to s d a s salas d o s p asso s p er
rência d o gêlo sôbre a á g u a e sta g n a d a ; h á u m a g ra n d e p a rte nêle, e m q u e a
d id o s d a J u s tiç a e das câm aras e a n te c â m ara s d o s trib u n a is sem p re existi
ra m e m to d o s os tem p o s, corvejando no m eio d a s n o b re s pelejas d o s q u e
^Conselheiro Francisco G ctavíaao, discurso na sessão de 7 de setem bro de 1875 do In stitu to
c o m b a te m p e lo d ire ito ...”.48 C om freq ü ên cia usav am ta m b é m os a d v o g a
dos Advogados Brasileiros. Revista da Instituto dosAdvogados Brasileiros, Tomo V III, 1871-1880
d o s d a e lite u m critério d e distinção m ais c o rre n te n a sociedade e q u e p . 301.
^'Bulhíies de Carvalho, o p . r ik , p . 8 . C om o ena vários outro s aspectos, Rui Barbosa foi im ba-
consistia e m d istin g u ir o tra b a lh o in telectu al d o tra b a lh o m a n u a l. O conse-
tívei o o uso dessa retórica q u e edificava freqüentem ente o qu e o pro£ W andetley G uilherm e
dos Santos, lendo um a versão prelim in ar deste trabalho, cham ou com precisão e argúcia de
^C a e ta n o A lberto Soares, discurso na sessão de 16 de julho de 1867 do In stitu to dos Advogados “belos exem plas de conjunta vazio“. D izendo-se “patro n o da lei e não da p a rte ”, afirm ava Rui:
Brasileiros. Revista do Instituto dos Advogados Brasileiros, n ° 1/2/3, A no U, Tbma 3(A), jan./out. “N ão liao pelos interesses d e a m a clientela: bato-m e p o r u m direito, qu e as m ais antigas leis
d e 1865,. p - 3 1 . d a N ação fizeram m eu , p ela inteireza da constituição, q u e representa a fórm ula perfeita da
47Conselheiro Saldanha Marinho, discurso n a sessão de 7 de setem bro de 1875 do In stitu to dos solidariedade de todos os cidadãos n o reg im e legal.” C om o se vê, outro belo exem plo de
Advogados. Bta&iieiros. Revista do Instituto dos Advogadas Brasileiros, Tòm o V III, 1871-1880, p . conjunro vazio, a té p o tq u eC 1p róprio Rui Verbosa, digo, Barbosa com um a exquisita inclinação
298. a com entar publicam ente sobre seus ganhos profissionais, anunciava q u e d e m arço a outubro
U - E. Sayãb d e B ulhões de Carvalho, discurso na sessão de 15 de janeiro de 1893 n o In stitu to da d e 1896 gaofaara com su a banca p equena fortuna de “680:000$00Q em honorários ajustados
O rdem dos- Advogados Brasileiros. Revista do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiras, Torno com vários com erciantes desta praça”. Fernando N ery, op. cit., p . 7 9 ; R ubem N ogueira, op.
X III, janeko, 2a edição, 1893, p- 6 . cit., p . 5 2.
ética saciai m a n d a a te n d e r à m an u te n ç ã o d a lei, a n te s q u e à h o n o rab ilid ad e adm inistração d a justiça, to rn a n d o acessível ao cidadão co m u m a com preen
d o fato ".51 são de seus deveres e direitos. M esm o após a Reconstrução, q u an d o o vazio
d e p o d e r ap o n ta v a o Judiciário com o o m enos co rru p to dos poderes e p a re
ciam ex istir as condições p a ra a precedência d a bench e d a “ciência lib eral” e
ISI acadêm ica d e L angdeil, E liio t e W rig h t, o bar p e rsistiú e m rejeitar ta n to tal
“ciência” q u a n to os códigos, e com am b o s a heg em o n ia de u m a classe supe
É verdade q u e & M eai dessas v irtu d e s aristocráticas não estev e m e n o s p re
rior d e advogados cultos dedicada exclusivam ente a u m a advocacia d e re
sen te e m n u tra s sociedades. B a sta m en cio n ar os ad v o g ad o s am ericanos q u e
curso (appelate advocacy). A s lideranças d o bar c o n tin u a ra m a v ir dos advoga
K o b e rt G o trio n iden tifico u com a “ciência lib eral” d o d ire ito , o s q u e ,
d o s p ra tic a n te s, d o s q u e viviam das disp u tas nos trib u n ais, m u ito s deles
la stim a n d o ncs ú ltim o q u a rte l d o século as im perfeições d a common law , so
form ados no sistem a d o apprenticeship e quase to d o s inclinados a su b o rd in ar
n h a v a m e m edificar u m a ciência so b re a noção d e siste m a e sobre u m a es
o id e a l d e p u re z a ética aos interesses d e seus clientes.53 E era aí, nas disp u tas
tr u tu r a a b s tra ta e lógica à feição d a civil lau/?1 E ra m o s q u e d e fen d iam a
nos trib u n a is, n o tra b a lh o do foro (q u e a elite dos bacharéis brasileiros abo
devoção a prin cíp io s a n tes q u e a preced en tes, u m a devoção q u e deveria
m inava), q u e advogados e juizes am ericanos in terp retav am a C onstituição,
e s ta r a c o m p a n h a d a d a eloqüência, d a erudição, d a re p u lsa ao com ercialism o
form avam jurisprudência e a d m in istrav am a justiça.
e à p rá tic a p u ra m e n te técnica d a advocacia. H o m e n s d a academ ia, L a n g d e li
Isso não ocorria no Brasil onde a a lta advocacia e a alta m a g istra tu ra ,
e E liio t em. H a tv a rd , D w ig h t e m C o lu m b ia (os renovadores d a educação
isoladas no am b ie n te herm ético da s Relações e, n a C o rte, ta m b é m do Supe
leg a l n o s E stad o s U nidos), e sta v a m p ersu ad id o s (ta n to q u a n to o s “juris
rior T ribunal d e Justiça, p o d ia m alim entar, sem contestação, delírios de g ra n
co n su lto s”’ brasileiros) d e q u e a escassa d e m a n d a p o r ta l ciência do direito
d eza, d e c u ltu ra jurídica e d e h eg em o n ia profissional. Lem bre-se ta m b é m o
d evia-se à m difeeenciação e n tre a “a rte d o attomey ” e a “ciência d o councelor”.
le ito r q u e no Im pério d o Brasil, ao contrário d o q u e se passava nos Estados
E sta e ra a distinção q u e antes já p arecera intolerável à dem ocracia jacksoniana
U n id o s e n a In g la te rra , onde os juizes po d iam ser recrutados e n tre os advo
e n ã o a p e n a s p o r se u te o r elitista. C o m efeito, e n q u a n to o s aristocráticos
g a d o s p ra tic a n te s, a m a g istra tu ra era u m a carreira e a alta advocacia, nor
fe d e ra lista sK /é^ d o an te -g u e rra (os precu rso res d a “ciência liberal” d o direi
m a lm e n te d e recursos, era c o m p o sta d e considerável núm ero d e ex-m agis
to ) e le g ia m a s técnicas jurídicas com o in stru m e n to s Ae.lawmaking e erig iam
tra d o s. Som e-se a tu d o isso a m ediocridade dos “lentes” das academ ias de
o Judiciário (assistido pelos c u lto res d a “ciência” e p elo s seus tra ta d ista s)
direito e a dependência e a subordinação do Judiciário aos dois o u tro s p o d e
c o m o o g ra n d e d e fin id o r d e direito s, os jacksonianos o p ta v a m pelos p ro c e
res, so b re tu d o ao Executivo n o q u e dizia respeito à interp retação das leis,
d im e n to s d em o cráticas d o Legislativo. N ã o é p o r o u tr a razão q u e o m o v i
m e n to p e la codificação d a s I d s tin h a p a ra o s jacksonianos o se n tid o d e res 530 típ ic o ad v ogado am ericano se assem elharia a A rchibald W rig h t e Edw in M . Yerger,
trin g ir a. eapaeM ade d o s juizes d e fazer leis e o p ro p ó sito d e sim plificar a a m b o s d a cidade d e M em phis e com ta le n to n a tu ra l para a advocacia forense. “A s alegações
d e A rchibald W rig h t, um dos m ais im p o rta n te s advogados d e M em phis, eram cuidadosas,
laboriosas, pen o sas e disformes, ap resen tan d o to d a prop o sta q u e p o rv e n tu ra pudesse pesar
51Jo aq u ím N a ím e e, sp~ c it^ vol. IV, p . 1 4. N abuco dedica e m a s p oucas páginas à atividade a o caso. Poucos se igualavam a êle n a erudição q u a n to às leis do Tennessee e aos principais
advocatícia d b p a t (usais precisam ente 16 pág in as n u m a obra e m q u a tro volum es), assim m esm o processos julgados n o Estado £...} O prin cip al crim inalista dos anos 50 foi Edw in M . Yerger.
para defèndê-ío d e aeesações ou insinuações d e co m portam ento po u co ético. Seja com o for, U m dos o ito irm ãos espalhados pelo Tennessee (sete deles advogados), Yerger estava obvia
talvez sua percepçãoda advocacia refletisse a opinião do p a i q a e declarara te r exercido a profissão m e n te e n tre o s gran d es advogados ‘n a tu ra is’ do Estado. Tinha escassa form ação acadêm ica e
apenas para p o d e r p a g a r dívidas. forte aversão pelo s detalhes na preparação dos casos. Consideradas m enores, ta is deficiências
KR o b e rtW G o rd o s, “Legal th o u g h t an d legal p ractícein th e a g e o f A m erican eaterprise, 1870- eram facilm ente com pensadas p o r u m a m e n te a ten ta, p o r seus poderes de argum entação,
1920’’- Em, Geral d I_ G eison (ed), Prqfèssàms and Professbmal ídeaíogks in America- Chapei H ill: pela voz m elodiosa e p o r seus faiscantes tale n to s cômicos.” Sam uel H arber, o p . cit-, p p . 125-
T h e University o f N o tíít Caroiina Press, 1983, pp - 70-110. 126.
pouco m ais re stan d o -ih e do que seguir o risco dos avisos m in isteriais e das c ã o lhes p e rm itia m c- luxo d o cultivo d a “Ciência” d o D ireito e d a s a b stra -
resoluçõesdo C onselho de E stado,54 D escontados a retórica e o exercício de võ f; jurídicas, o u a r e a ú n d a aos usos e costum es do foro, às v a n ta g e n s d a
eloqüência, havia nas expressões desta elite u m indisfarçávei desprezo p o r confusa e dispersa legislação p o rtu g u e sa e d a s in ú m eras leis avulsas do Im
este pequeno advogado das pequenas causas, pelos anônim os solicitadores e pério, so b re tu d o as do processo, fu n d a m e n to d e s e u segtedo profissional e
provisionados q u e , m anuais dos praxistas à m ão, em pen h av am -se m ais p e d e su a especial perícia.
los interesses d o s clientes e p o r seus próprios interesses d o q u e p ela p u re z a U m a fro n te ira sÓcío-cultural tão m are a d a m en te esculpida c o n tra o pano
d a “ciência” do D ireito . Para estes, a p rática das “qu alid ad es estim áveis de de fundo d a adm inistração d a justiça pode explicar, pelo m enos p arcialm en
u m coração b e m form ado” nas lides d o foro (e so b retu d o n o trib u n a l do te , a d esin teresse d a e lite d o s ad v o g ad o s p e la am pliação d e seu cam po
júri), aliás ra ra m e n te freqüentado pela elite dos advogados,55 rep resen tav a p ro fissio n al, c descaso p e lo te rre n o o c u p a d o p o r o b sc u ro s ad v o g a d o s,
m ais freq ü e n te m en te u m a causa p e rd id a e honorários incertos. O n ú m e ro solicitadores, provisionados e “procuradores p articu lares” . A d istân cia en tre
crescente d e concorrentes e a reduzida clientela d e baixo p o d e r aquisitivo o s dois e x trem o s era tão a m p la e m term os sociais e culturais q u e , d e fato,
eles co n stitu íam dois universos distintos,, dois círculos q u e não a d m itia m
^ “Esca autorização, porém , concedida com a clausula de — provisoria — ou enquanto o poder interseção. Tanto era e s tra n h a e inacessível à m assa do s “p ro cu rad o res ju d i
legislativo não decide o contrário, será semelhante às autorizações todos os dias concedidas ao
podeF executivo afim d e fazer regulamentos para o complemento das leis, será outrossim justificada ciais”1a esfera e m q u e se m oviam N a b u c o d e A raú jo , M o n tezu m a, S aldanha
pela impossibilidade em que se acham as camaras legislativas preocupadas com as questões po M arinho, Francisco O ctaviano e ta n to s o u tro s figurões d o Im p ério , q u a n to
líticas e grandes interesses do Estado, de providenciar sobre as dificuldades qu e frequentem ente
ocorrem n a aplicação d a lei...”. Comissão de Legislação do Senado, parecer lido q& sessão de 6 de p a ra estes u m m o v im e n to e m direção aos a n típ o d a s c u ltu ra is e sociais
agosto de 1867 (sobre assentos da Casa de Suplicação de Lisboa, tomados após a criação da Casa co rresp o n d eria a u m c o n tág io m o ral irreparável.
de Suplicação do Brasil). Revista do Instituto dos Advogados Brasileiros, A nno V II, Tomo V I (janeiro-
junho), 1868, p . 154. A Comissão era formada po r N abuco de Araújo, Silveira da M otta e Barão N o e n ta n to , aos Ideais aristocráticos ta n to q u a n to ao desprezo d evotado
de Piiapam a- D o jurista e deputado Perdigão Malheiro ouviu-se na sessão de 7 d e outubro de à m assa d o s profissionais anônim os não co rresp o n d iam m anifestações visí
1869 da câmara; “Eu entendo que, desde que o Poder legislativo não pode p o r si exercer a
atribuição q u e lhe está conferida, é preciso lançar m ão d e outro m eio; deverá o Poder executivo veis de m a io r lu stre in telectu al d a elite, excetuadas ocasionais incursões pelo
continuar a interpretar, po r via de autoridade, as leis, em forma de avisos ou d e outros atos m em orialism o, ensaísm o político, crítíc a M terátia, jornalism o e produções
em anados, com o a té aqui se tem feito?... N o entanto, ainda hoje o G ovem o se v ê na dura ne
cessidade, m uitas vezes, de dar pronta solução a questões de direito, que lhe são subm etidas, afins. D e fa to , a despeito das devotas m a nifestações d e u m exaltado cu lto à
mesmo de direito privado. E a lei da necessidade; porque nem o Poder legislativo te m podido “ciência” d o d ire ito , a p ro d u ção d o u trin a l e jurisprudencial d e s ta elite foi de
fàzê-lo, nem o p ode n a ocasião, nem tão cedo o poderá, Tampouco o tem feiro o Poder judicial,
pela ausência d e tradição, de uniformidade, de jurisprudência.” Revista do Instituto dos Advogados u m a p o b reza fianciscaaa. O elevado conceito em q u e se tin h a repousava, na
Brasileiros, A nno IX , Tomo VIII, nQ 1, janeiro/julho, 1871, pp. 222-225. verdade, e m fundações b e m pouco sólidas; o u m elhor, em u m a espécie de
35A aversão dos advogados aos trabalhos do foro era bem conhecida e bastante an tig a. N o discurso
de posse com o prim eiro presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros, M ontezum a censurava c u ltu ra o rn a m e n ta l e genérica q u e ta n to m ais ate n d ia a u m a exigência so
os advogadas “q u e hoje desappareeerão das Audiências; tu d o está entregue aos cuidados e zelo cial q u a n to m ais lh e falta v a e m relevância profissional. U m a d a s razões po
d e pessoas, q u e com q uanto sejão revestidas de Poderes com petentes, com tu d o não se derão,
com poucas excepções, ao estudo da Jurisprudência Patria, e m u ito raenos ao dos outros Ramos d ia se r a d e q u e , não existindo n a C orte faculdade de direito, haveria de
indispensáveis para merecer o honroso titu lo de Advogado, apparecendo este no Fôro unicam en
faltar-lhe o q u e e m o u tro s países as escolas- tin h a m e p ro d u z ira m e m g en e
te pelas suas Aílegações escriptas e assignadas, a m ór p arte das vezes po r quem as não redigio”
(Discurso na. sessão de 7 de setem bro d e 1843 do Instituto dos Advogados Brasileiros. Revista do roso n ú m e ro : u m a ciasse d e advogados e d e ju ristas m enos interessados
Instituto dos Advogados Brasileiros, A nno I, Tomo I, 1862, p . 105). Em seu relatório de 1835 ó n u m direito p u ra m e n te in stru m e n ta l d o q u e n o e stu d o e n a construção de
miniscro M anoel Alves Branco, d a Justiça, faz tam bém reparos à ausência dos advogados nas
audiências (p. 25). E consultado sobre se era perm itido ao advogado falar sentado nas audiências sistem as jurídico-form ais a b stra to s. A lém disso, talvez fosse razoável le m
judiciais, respondeu o Conselho de Estado “que este privilegio deve ser-lhes m antido até porque b ra r q u e u m agitado ce n tro com ercial, político e adm inistrativo com o era a
será O' m eio d e os fazer frequentar as Audiências ”. Resolução de 2 6 de julho d e 1 856, em
Imperiais Resoluções..., op. cit., vol. I, p . 609- cidade do Rio d e Ja n e iro , com suas exigências de u m a v id a p rá tic a e de
sociabilidade in ten sa, não co n stitu ía am b ie n te propício ao tip o d e tra b a lh o A li se dizia, q tie a finalidade das d u a s academ ias d e direito q u e se fun d av am
intelectual q u e u sualm ente se associa à em blem ática fig u ra d o jurisconsulto.56 no Im pério e ra a d e form ar “sabios M agistrados, e p e rito s A dvogados, de
M a s São Paulo satisfazia am bas as condições (o sossego d e u m a d d a d e p ro q u e ta n to se carece; e o u tro s q u e possam vir a ser d ig n o s D e p u ta d o s, e
vin cian a e u m a academ ia d e direito), e , n ã o o b sta n te , a p ro d u ç ã o d o s seus Senadores, e a p to s p a ra occuparem os lu g ares diplom áticos, e m ais e m p re
acadêm icos não foi m en o s escassa e in d ig e n te ,57 p a ra n a d a dizer so b re a gos d o e sta d o ...”. E c o m ta l propósito de form ar indivíduos p a ra a te n d e r às
escola d e O lm d a-R ed fè, p ró d ig a e m m a g istra d o s-líte ra to s e e m bacfiaréis- funções d o E stad o , e ra necessário não incorrer no equívoco dos eru d ito s
filósofòs, m as ig u a lm e n te avara q u a n to à p ro d u ção p ro p ria m e n te jurídica.58 au to res dos e s ta tu to s d e C oim bra p ela “profusão com q u e a d e rra m a ram [a
M as a trad ição p o rtu g u e sa , cão in flu en te n o B rasil, e ra a dos p rax ístas e erudição} n a su a o b ra , o m u ito e dem asiado cuidado com q u e in tro d u ziram
a d o s com entários aos textos legais, e foi este tip o d e p ro d u ç ã o q u e p re d o o estudo d e an tig u id a d e s e as am iudadas cautelas q u e ensinaram p a ra a
m in o u . O le ito r e n c o n tra rá u m a bo a q u a n tid a d e d e o b ra s d edicadas a g lo inteliigenela d o s te x to s, e q u e só deveriam servir p a r a aclarar, e alcançar o
sar, artig o p o r a rtig o , a C onstituição do Im p é rio , os C ódigos C rim in al e d o sentido d o s difficies, fizeram q u e os estu d a n te s sahissem d a U niversidade
P rocessa, o C odigo Com ercial e o u tra s peças legais. U m a p ro d u ç ã o q u ase m a l aproveitados n a Science d o direito patrio, e sobrecarregados de subtilezas,
n u n c a o rig in al, d e alcance p u ra m e n te p rá tic o , u m ta n to q u a n to m im érica e an tig u id ad es, q u e m u i pouco uso p re sta ra m n a p ra tic a d o s em pregos a
d a lite ra tu ra francesa nos co m en tário s d e n a tu re z a m ais d o u trin á ria , m a s q u e se d estin aram ” . E e n tre ta n to s ou tro s excessos aos quais estivera expos
o u tr a coisa n ã o se esperaria dos egressos d e escolas d esd e su a origem orien ta u m a geração d e brasileiros, incluído a í o próprio visconde, e m su a passa
ta d a s p a ra o s aspectos práticos d a s profissões d o d ireito . O s e s ta tu to s d o g e m p e la refo rm ad a U niversidade de C oim bra, m encionava ele o direito
visconde d e C achoeira co n stitu em n este p a rtic u la r u m d o c u m e n to ím p ar.59 rom ano q u e p o r se r subsidiário e d o u trin a l “não po d ia jam ais ser ensinado
com ta n ta p ro fu são e extensão á cu sta do direito p a trio ...’’.
5êW eber observou m ais d e um a vez. q u e a prática da advocacia, q u an d o estruturada em to m o P ro v a v e lm e n te te r á sido esse m esm o esp írito p rá tic o e avesso às a b s
d os interesses econômicos e da rem uneração do advogado, te m sido historicam ente incom pa
tív e l com a atividade intelectual do jurisconsulto: “T h e existence o f such a special class o f trações ( d o a rra ig a d o ta m b é m nos nossos estad istas) q u e in d u z iu o m in is
p e g a lj honoratiores is, genera Illy speaking, possible only w here legal practice is n o t sacredly tr o d a J u s tiç a Jo s é d e A len car a en x e rg a r excessos n o Esboço d e código
dom inated and legal practice has n o t y e t becom e to o involved w ith th e needs o f u rb a n com m erce
£...) I t is, o f course, tru e th a t w hen commercial activity is in ten se th e functions o f th e legal civil, a v a s ta e e ru d ita o b ra de codificação elab o ra d a p o r T eixeira d e F reitas.
honoratiores is m erely drifted from th e co nsultants to th e cautelary ju rist”. O p . c it., vol. 2 , p p . Pois u m có d ig o d v ii, dizia A len car em se u R elató rio d e 1869» “não é o b ra
7 9 2-793-
i;E m seu detalhado estudo da academia d e direito d e São Paulo, Sergio A dorno coochri q u e os d a c ie n d a e d o ta le n to u n icam en te; é so b re tu d o a o b ra do s co stu m es, das
“feotes” tin h am escassa produção jurídica e pouco deixaram com odoutrinadores ou jurisconsultos. trad içõ es, e m u m a p alav ra, d a dvilização b rilh a n te o u m o d e s ta d e u m
Q u a n to ao ensino q u e a escola oferecia “apenas esporadicam ente produziu juristas d e notorieda
d e nacional e dontrinadores do D ireito; foi celeiro, entretanto, de u m verdadeiro “m andarinato p o v o ”.®7Á s sociedades m u d a m le n ta m e n te p o r processos seculares e não
im perial’ d e bacharéis“. Os aprendizes do poder: O bachatelismo liberal na política brasileira* Rio d e se p o d e ria e sp e ra r a aplicação a u m a so d e d a d e com o a brasileira d e “u m a
ja n e iro : P aze lé rra , 1988, p p . 7 9 e 120-134.
5“D o is aspectos im pressionam na história da academ ia de OIínda-Recife: o fantástico núm ero de lei civil, a o n ív e l d o m ais alto desen v o lv im en to social” (“se n este v asto
bacharéis com pretensões literárias (raro o qu e n ão ten h a produzido um livro de sonetos, u m te rritó rio d e 2 9 7 .0 0 0 leguas qu a d ra d a s ap en as u m espaço d e 10 a 2 0 .0 0 0
rom ance, u m a peça teatral e p o r at a fbta) e a com pleta anarquia q u e m arcou p o r um largo
período a vida académ ica da escola pernam bucana. H ouve ocasiões em q u e o corpo docente c o m p o rta rá a b o a execução d a legislação a c tu a l”).61 A m esm a restrição,
to rn o u -se literalm ente refem da arrogância e da violência, física inclusive, dos estudantes. C lovk aliás, m a n ife sta d a p o r Jo a q u im N a b u c o n a com paração d o pai com Teixeira
E e v ih q u a Historia da Bxvldade de Direito ds Becife. Brasília: In stitu to Nacional do Livro, 1977.
®Projeta de regulamento ou estatutospara e canoJuridico cnado pelo Decreto de 9 de Janeiro de 1825,
organizado pelo Conselheiro de Estado Visconde da Cachoeira, e mandado observar prmnsoriamenSs nes ®José M artiiriaao As Alencar, Relatorio á Assembleia Geral. Rio d e Janeiro: Im prensa N acional,
CursosJurídicos e&S. Pauloe Olindapelo art. 19 desta lei. O s estatutos estavam anexados ao te x to da 1869, p - 1 1 6
6IIdem , ibidem , p . 117
Lei.de I I de agosto d e 1827 que criou os cursos de Olinda, e S o Paulo.
d e F re ita s: o conselheiro N a b u c o d e A ra u to seria o ju risco n su lto com visão publicidade d o s d ire ito s. Q u a n d o não há lei escrita, o u q u a n d o a le i é incer
d e h o m e m d e E sta d o , os pés so lid a m e n te p la n ta d o s n a re a lid a d e do país e t a o u fu n d a d a e m p re c e d e n te, tu d o é q u e stã o : as decisões são arb itra ria s,
sen sív el às su a s n ecessidades sociais; o o u tro , o sáb io d e g a b in e te , o os ju lg a m e n to s c o n tra d k o rio s, e os processos se m u ltip lic a m ...'’’(ênfases
ju risc o n su lto d e escola e de p rin cíp io s.62 O q u e se sab e, alé m dessas rea no o rig in a l) 65 R eferindo-se à c o n tro v é rsia sobre a codificação das leis civis
ções in d iv id u ais, é d a ab so lu ta in d iferen ça c o m q u e a Consolidação e o Esbo n a A le m a n h a , C arvalho M o reira id en tificav a T h ib a u d com o p re se n te e
ço fo ra m recebidos nos m eios jurídicos.65 Seja com o for, e e m b o ra a Conso com a “id ealid ad e e n th u sia sta d a u n id ad e d a p á tria a ile m ã ” e Savigny com
lidação ap e n a s sistem atizasse as leis já ex iste n te s, o se n tid o d e a m b a s as o passad o , c o m “a a n tig a G e rm a n ia , corn seus círculos, suas m esclas de
restriçõ es p o d ia b e m ser q u e , h o m e n s p ú b lic o s d e esp írito prático» ta n to p o p u laçõ es e nacionalidades d istin c ta s”, com as “trad içõ es p a te rn a is” e
A le n c a r q u a n to J o a q u im N a b u c o , a m b o s bacharéis e m d ire ito , resistiam
c o m o s "co stu m es hered itário s” . E sta lu ta d e co rre n te s era , e m su m a , a do
a o fo rm alism o d a m e n ta lid a d e ju ríd ic a n a fe itu ra d e leis o u , com o d iria
“an tig o p riv ileg io c o m a sociedade m o d e rn a ”. E C arvalho M o reira tin h a
W e b e r, p ro c u ra v a m “em a n c ip a r d o ad v o g a d o profissional a lei, p o r via d o razão.
e sclarecim en to d ire to d o p ú b lic o p e lo p ró p rio leg islad o r...” .64 N ã o creio,
G s g ra n d e s m o v im e n to s d e codificação d a s leis civis n a E u ro p a c o n
todavia» q u e e s ta seja u m a in te rp re ta ç ã o a d e q u a d a , a té p o r fa lta d e ste
tin e n ta l — d o C ó d ig o Civil d a P rú ssia (1 7 9 4 ), p a ssa n d o p e lo C ódigo
p ú b lic o que» a o co n trário d o s franceses, o s ad v o g a d o s brasileiros jam ais
N a p o ie ã o (1 8 0 4 ) e p e lo d a S ax ô n ia (1 8 6 3 ), a té o C ó d ig o C ivil A le m ã o
so u b e ra m criar. Receio q u e as restrições não e ra m p ro p ria m e n te à o b r a d e
d e 1 8 9 6 — a te n d ia m a aspirações d e b u rg u e sia s a sc e n d e n te s. T ra ta v a -
Teixeira d e F reitas m as à codificação e m si.
se ta n to d e s u b s titu ir o s p riv ilég io s d a a risto c ra c ia d a v e lh a o rd e m p o r
E m 1845 o bservava o fu tu ro b a rã o d e P enedo q u e " u m a codificação
d ire ito s d o in d iv íd u o , q u a n to de lim ita r o a rb ítrio d o s m o n a rc a s. T ra ta
sim ples» c la ra e breve é u m im enso benefício p a ra u m a n ação ; p o rq u e
v a -se , e m síntese» d e im p le m e n ta r a clássica a g e n d a lib e ra l d a rule oflavj,
a s s e n ta , e p õ e fo ra d e d iscussão o s d ire ito s d e c a d a u m ; a s s e g u ra a
d a lib e rd a d e individual» d o s d ire ito s civis e d a re p re se n ta ç ã o p o lític a . Se
o b serv ân cia d o s m esm os d ire ito s v u lg a riz a n d o o co n h e c im e n to deles; é o
é c e rto q u e a p rin c íp io n e m to d a a a g e n d a £òi a b so rv id a p e la b u rg u e sia
m a is fo rm id áv el e vig ilan te in im ig o d o a rb ítrio ; e m u m a palavra» te n d e a
(co m as re striç õ e s clássicas co m o , p o r ex em p lo , a d o p rin c íp io cen sitá rio
satisfazer a necessidade, q u e te m to d o p a is co n stitu c io n a l, d a Jixidade e
p a r a a re p re se n ta ç ã o p o lític a o u , c o m o e m a lg u n s países, a d a exclusão
d a m u lh e r c a sa d a d o acesso a d ire ito s fu n d a m e n ta is ), ta m b é m é certo
^Jo aq u im N ab u co , op. clt., vol. IX p p . 8 4 -8 6 . Cancelado o contrato com Teixeira d e Freitas
p a ra a elaboração d o C ódigo Civil, e m 1 872, o u tro contrato foi feito pelo governo com o q u e p e lo fim d o século o b u rg u ê s b av ia p e rd id o a p rec e d ê n cia p a r a o
conselheiro N a b u co de Araújo que em q uatro anos, a té sua m o rte, deixou redigidos apenas
c id a d ã o c o m a sig n ific a tiv a a m p lia ç ã o d a s fra n q u ia s p o lític a s e sociais.
3 0 0 artigos. Ã opinião de alguns especialistas com o Pontes d e M iranda n ão é particularm ente
lisonjeira em. relação ao talento de codificador d o Conselheiro. T a m b é m n o s E s ta d o s U n id o s o m o v im e n to p e la codificação a b rig a v a
®Â exceção ficou p o r conta d e A ntonío Pereira Rebouças que, a propósito, nem diplom a de
advogado tinha. u m c o m p o n e n te in o v a d o r e d e m o c rá tic o (ra d ic a lm e n te d e m o c rá tic o na
“ M a s W eb e ^ o p . d t ., vol. 2 , p . 8 5 7 .0 leitor terá percebido q u e refiro-m e aqui à clássica distin su a g e n u ín a v e rsã o jack so n ia n a ) q u e p u n h a e m q u e s tã o a ca p a c id ad e do
ção weberiana en tre racionalidade formal e racionalidade substantiva, isto é, entre escolhas com
e stn ta base em norm as gerais e abstratas o u, inversam ente, com base em outras norm as qualita Ju d ic iá rio d e s u b s titu ir o L eg islativ o n a p ro d u ç ã o d e leis com o n a tra d i-
tivam ente distintas {eqüidade, conveniência política, m oralidade, etc.). D e um a perspectiva
propriam ente weberiana é óbvio que a preferência p o r critérios formais ou po r critérios substantivos
d epende do sistema de dominação em cujo contexto as decisões são tom adas. Como exem plo, í5‘D a revisão geral e codificação das leis d v is e do processo no Brazil (M emória lida em sessão
W e b e r m en c io n a com o característica d o p a triarc a h sm o m o n árq u ico “th e desire for a n do In stitu to a 7 de setem bro de 1845, e offeredda ao m esm o In stitu to pelo so d o effetivo
a dm ioistration o f justice which w ould stríve fo r so b stan tiv e justice unaffected b y ju n stic Frandsco Ig n a d ò d e Carvalho Moreira)”. Revista do Instituto dos Advogados Brasileiros, A nno I,
hairsplitting a n d íbrmaiism...”. Idem , íbidem» p . 8 5 6 . o° 3 , julho/agosto/aetem bro de Í8 õ 2 » p p . 147-169-
ç ã a ãscomman- (ame C o n sid e ra d a s as diferen ças d e c o n te x to , os o p o sito re s n h e c im e n ro d e q u e a codificação d a s leis civis e ra im p o r ta n te n o ap erfei
a m e ric a n o s d a codificação re sp o n d ia m e m te rm o s se m e lh a n te s a o s de ç o a m e n to d a o rd e m ju ríd ic a e d a a d m in istra ç ã o d a ju s tiç a , a q u e s tã o
J o s é d e A le n c a r: o s c o stu m e s, p ro d u to d a se c u la r ev o lu ção d a so c ie d a d e , n ã o p ro s p e ro u , p o ssiv e lm e n te p o rq u e n ã o a te n d ia a n e n h u m d o s in te
e x p re ssa ria m m e lh o r o e sp írito d e m o c rá tic o d o p o v o ; l á c a b ia a o s juizes, resses c rista liz a d o s.69 N ã o é difícil p e rc e b e r q u e ao e lim in a r leis já em
n ã o aos le g isla d o re s, d e sc o b rir e e x p o r a h i c o s tu m e ira ; n o B rasil, ao desuso, ao sistem atizar o conjunto de o u tra s que perm aneciam dispersas
E x e c u tiv o .56 e a cujo te x to n e m to d o s tin h a m p r o n to acesso, ao d a r so lu ção a in c o n
M as, ad em ais d a fbnção crítica q u e coube aos m o v im en to s de codificação sistên cias e c o n tra rie d a d e s e n tr e o u tra s m a is e a to d a s d a r fo rm a c la ra e
d a s íeis civis n a instauração d o s regim es p a rla m e n ta re s n a E u ro p a , desejo o rg a n iz a ç ã o n u m s is te m a ló g ico , a e x istê n c ia d e u m có d ig o fav o recia a
ressaltar d o is p o n to s m ais. E m prim eiro lugar, a posição crucial q u e coube in te lig ib ilid a d e d a s leis e d o s pro cesso s, d isp e n sa v a o E x e c u tiv o d a im
n a condução desses, m o vim entos aos setores c u lto s d a classe m é d ia (os p ro p o r ta n te fu n ç ã o d e In te rp re tá -la s a tra v é s d o s re g u la m e n to s , avisos m i
fissionais liberais n a F rança, a Bildungsbiirgertum n a A lem an h a, a borguesia n iste ria is e d a s Im p e ria is R esoluções n a sc id a s d a s c o n su lta s ao C onselho
d e E sta d o .70 In e v ita v e lm e n te o Ju d ic iá rio g a n h a ria c o n sid e rá v e l g r a u d e
tm a n h tka n a Itá lia ), m a s, em particular, o d estacad o p a p e l d o s advogados e
in d e p e n d ê n c ia , q u e e r a tu d o o q u e o E xecutivo n u n c a p ô d e a d m itir,
suas associações.® N ã o fo i p o r acaso q u e n a F ra n ç a a Terceira R epública, a
a in d a q u e a a u to n o m ia re c la m a v a com o P o d e r (in te r p r e ta r as leis, ju lg a r
d o reg im e b u rg u ê s e lib eral p o r excelência, te n h a sido ta m b é m ch a m a d a de
d e s u a c o n s titu c io n a iid a d e , e tc .) fosse u m a q u e stã o c o n s titu c io n a l q u e
R epublica d o s A d vogados. O segundo d e sta q u e refere-se à v a sta pro d u ção
u m c ó d ig o civil n ã o resolveria.
jurídica e m to m o d a codificação das leis d v is . N o s E stad o s U n id o s a c o n tro
N o â m b ito d a so c ie d a d e , os in te re sse s com erciais já d is p u n h a m d e s
vérsia p r o d u z ia “várias cen ten as de livros, a rtig o s e p an fleto s n o s ú ltim o s
d e 1 8 5 0 d o s e u p ró p rio có d ig o e ta m b é m tin h a m s u a p r ó p ria le i (c o stu
tr in ta a n o s d o século*“;65 n a A lem an h a, v a sto s tra ta d o s ; n o B rasil, coisa al
m e ira ) o s se n h o re s d e te rra s n a soleira d e cujas casas d e tin h a -s e a ju stiç a
gum a.
oficial. E o s ju rista s? E a re fin a d a e lite d e a d v o g a d o s? A d isp o n ib ilid a d e
M a s o d e s in te re s s e d o s m eio s ju ríd ic o s n ã o fo i ap e n a s c o m relação à
d e u m có d ig o s im p le sm e n te elim in a ria b o a p a r te d a d is tâ n c ia p ro fissio -
Consolidação o u a o Esboço, talv ez ju stific á v e l p o r q u e a in d a nã o s u rg ira n o
h o riz o n te q u a lq u e r fo rm a ç ã o n e m d e lo n g e a s s e m e lh a d a a u m a b u r g u e
®Em to ra o da codificação d o direito civil seria necessário u m enfoque analítico sem elhante ao
s ia , m u ito m e n o s a sc e n d e n te . O c e rto é q u e a d e s p e ito d a u n a n im id a d e
q u e M angabeira U n g e r sugeriu para explicar a Institucionalização da ruk o f law na E uropa
d e o p in iã o e m to m o d o E sta d o caó tico d o s is te m a íe g a í, d o c la ro reco - O cidental: “to find a satisfactory explanation [...] w e m u st m ove tow ard a dynam ic view o f the
w ay these groups [rulers, aristocracy, bureaucracy, noblem en, m erchants] reacted and adjusted
t o o n e a n o th e r in tile course o f th eir fig h t for pow er. [...} For all parties concerned, th e rule o f
law, like life insurance an d like liberalism itself, was a n a tte m p t to m ak e th e b e st o f a bad
® 0 Feitor encontrará' a essencial d a controvérsia exposto d e m an eira ágil e m M orton J . H orw itz, situation”- R oberto M angabeira U nger; Law and Modem Society: Toward a Criticism o f Social
The Transformation o f Amerkan Law, 1870-1960. The Crisis e f LegalOrthodoxy. N o v a York: Oxford Theory. N o v a York: T h e Free Press, 1976, p p . 74-76.
U niversity Preso, 1 9 9 2 , p p . 1 Ï7 -1 2 3 - ^M ax Rheinsteín cham a a atenção para a forma pela qual a codificação facilita a administração
®îfetx a A lem an h a a referência é Ledford, o p . cit.; p a ra a Itália, M arco M eriggi, “T h e Italian da justiça ao m encionar a experiência da Inglaterra n a extensão da common law às colônias. A
Borghesia”, e m J ü rg e n K ocka e A llan M itchell (eds), Bourgeois Society in Nineteenth-Century solução encontrada para superar a grande complexidade da common law e perm itir que fosse
Europe. OxfottT: B erg Publisher; 1993, pp- 42 3-43S, e Fulvio C am m arano, "T he professions In adm inistrada p o r coloniais a q u e m não seria possível d ar u m treinam ento apropriado nas sutilezas
p arliam ent”, e m M arfa M&Iatesta (ed), o p. cit., p p . 2 7 6 -3 1 2 ; para a França, L . G irard, Ler d o processo e n a vastidão da jurisprudência já firmada, foi elaborar u m conjunto d e códigos,
libéraux français, 1814-1875. Paris: 1 9 8 5 , e P h ilip N o rd , “Les orig in es d e la Troisièm e prim eiro para a India (Indian C ontract Code, Indian Penal Code, Indian Easem ent A ct, etc.) e
R épublique e n F rance(1 8 0 0 -1 8 8 5 )’\ Actes de la Recherche en Sciences Sociales, 1 1 6 /1 1 7 , m arço de logo introduzidos nee territórios da Africa O riental. Ver ‘‘Problems o f law in the new nations o f
1997, p |t . 5 3 -6 7 . Africa”, em Clifford G eeriz (ed), Old Societies and New States: The Questfo r Modernity in Asia and
“ H orw itz, o p . c it., p.. 117.. Africa. Nova York: T he Free Press, 1 9 6 3 ,p p . 244-245.
184 / / E D M U N D O CAM POS C O E L H O AS PROFISSÕES IM PERIAIS / / 185
n a l q u e h av ia in te rp o s to e n tre si e a m a ssa d o s p r a tic a n te s . C ó d ig o n a gão M alhe iro;72 e se Teixeira d e F reitas n e n h u m dispositivo legal sobre a
m ã o , ta n to v a le ria u m F ra n k lin D ó ria q u a n to u m o b sc u ro rá b u la do “escravidão dos negros’’ kiclum em sua Consolidação, ta m b é m é verd ad e q u e a
fo ro , pois as diferen ças, q u e não p o d ia m s u rg ir d o e n sin o u n ifo rm e m e n elite dos nossos juristas e advogados, os devotados cultores d a “ciência” do
te m edíocre d a s academ ias d e Recife e São P aulo, seriam m ais d e e x p eriên D ireito e d a s lib erd ad es, não p ro d u z iu u m a única e escassa o b ra jurídica
cia e de ta le n to p e sso a l do q u e d e p o ssibilidades d e acesso a caros tra ta d o s sobre o reg im e d o tra b a lh o escravo.73 E no e n ta n to , ainda rep etin d o Perdi
de ju ris p ru d ê n c ia , a raros te x to s d e leis c e n te n á ria s e o b sc u ra s, a u m a gão M alheiro, o escravo et&coùa e propriedadep o r um a ficção do nosso direito.
A o fim e ao c a b o , o p ra g m a tis m o , tã o avesso às form ulações m ais
fo rn id a b ib lio te c a d e o b ras de p ra x ista s. P o r o u tro la d o , se é c e rto q u e
a b stra ta s, p o d e re su lta r e m graves efeitos colaterais, e c e rta m e n te foi no
n m código d o p ro cesso fa cilitaria m u itíssim o a elim in ação d a c h ic a n a
Brasil u m dos fatores d a notável a p a tia e om issão d a advocacia com relação
nas a tiv id a d e s forenses, sobre o q u e , e n tã o , ed ific a riam os ju ris ta s e a
a ta n to s d o s p ro b lem as q u e afligiam a so d e d a d e . C om o observou D avid
a lta advocacia sua ascendência m o ral? C om ênfase talvez excessiva, apo a to
T ru b ek n u m im p o rta n te tra b a lh o , “esforços p a ra to m a r o p en sam en to ju rí
a q u i p a ra a q u e s tã o do c o n tro le d o co n h e c im e n to e d e su a o rg a n iz a ç ão
dico m ais in stru m e n ta l p o d e m fazer a o rd em leg a l cada vez m ais d e p e n d e n
social, e p a r a as d is p u ta s in tra p ro fissio n a is q u e ao r e d o r d e la se a rtic u
te d o a p a ra to d o E stad o . {T...3 Isto ocorre q u a n d o o in stru m e n ta lism e corrói
la m . A q u e s tã o estev e p re s e n te o n d e q u e t q u e se te n h a d is c u tid o a
codificação d a s leis civis e o n d e q u e r q u e te n h a s u rg id o u m a a d v o cacia ^ “Q u e ro fãilar das leis sobre a escravidão n o Brasil. É sabido q u e quasi nenhum as temos
e stra tific a d a . N o s E sta d o s U n id o s, L a n g d e il a firm a v a q u e os v e rd a d e i próprias q u e regulem essa classe, infelizm ente não pouco num erosa da nossa sociedade. A
excepção do direito crim inal e d o processo respectivo, é sabido q u e a legislação m oderna do
ros p e rito s e ra m os p rofessores d e d ire ito e os m a g is tra d o s c u lto s; J a m e s ím perio quasi não tem d ’etla curado f...] Essa m esm a legislação crim inal relativa aos escravos
C . C á rte r, os juizes a q u e m c o m p e tia “d e sc o b rir” n o s c o stu m e s os p r in é digna d e em enda, já em razão das penalidades e classificação dos delictos, já em razão da
forma d o processo. Â m o rte e os açoutes perseguem o escravo. O s recursos lhe são denegados.
c íp io s le g a is ; D a v id D u d le y F ie ld , o c a m p e ã o d o m o v im e n to d e Parece an tes um e n te execrando lançado fora das leis dos hom ens, do q u e um a criatura hum a
codificação, a v o n ta d e p o p u la r re p re s e n ta d a no le g isla tiv o e n a m a g is n a qu e tenha o direito d e defender-se plenam ente, e de ser p u n id o (quando crim inoso) com
pen a proporcional ao d e líc to e não infam ante. A legislação civil, q u a n to aos escravos, fluctua
tr a tu r a e l e i t a / 7 N o B rasil, A le n c a r b e m p o d e ria t e r d ito q u e os su m o s n o v ago e indefinido. D e m odo q u e , alguns espiritesfortes, apezat de viverem no seculo X IX e
d e professarem a regíigíão deC hristo, não querem v e r no escravo senão ximacousa, exactam ente
sa c e rd o te s d a v e rd a d e ira “ciência” d o D ire ito n ã o e ra m os c u lto re s d e
com o um anim al, ou o u tra sem elhante; preten d em applicar-Ihe, conseguintem ente, a theoria
a b stra ç õ e s ju ríd ic a s (com o T eixeira d e F re ita s, p o r s in a l u m a d v o g a d o geral da propriedade em toda o seu rigor, sem se lem brarem de que o escravo não é cousa pela
natureza, e apenas re p u tad o ta l p o r um a ficção de direito, que sanccionou o facto revoltante da
p ra tic a n te ), n e m as m ed io c rid a d e s q u e e n sin a v a m n a s a c a d e m ias n e m sujeição do hom em ao dom inro d e o u tro hom em . E studar essa m atéria, fixar a sua theoria
o s “c o r r e to r e s d a ju s tiç a ” , e s te s q u e , p a r a u s a r u m a e x p re s s ã o d o acom m údada ao Estado accual da sociedade no seculo em q u e vivemos, aos nossos costum es e
Índole, tem perando o rigor d o direito com a equidade (justiça para o escravo) e com balsamo
re q u in ta d o a n g ió filo J o a q u im N a b u c o , o fe n d ia m o s “deveres d e c a v a da verdadeira e sã philosophia d o christiaoism o, é p o r certo tarefa dig n a do In stitu to . E, em
lh e iro ”, m as a “m a ç o n a ria d e h o n ra ” c o n g re g a d a n o I n s titu to d o s A d v o q u a n to as circunstâncias do p a iz n ão p erm íttem a abolição com pleta da escravidão, seria tam bem
dig n o d ’elle, estudar os m eios e providencias para m elhorar o seu Estado, a sua sorte, preparar
g ad o s B rasileiros, os ju ristas e advogados p ra g m á tic o s com o Jo sé T h o m a z o s escravos para o gozo da liberdade, disp ô r a abolição gradual; até q u e em epocha apropriada
N a b u c o d e A ra ú jo . possa ter lugar a extíneção absofnta d ’esse cancro, introduzido pela cobiça, e q u e nos corroe a
sodedade e a propria industria.”' Bevista do Instituto dos Advogados Brasileiros (sessão magna m 7
M as não e ra ap enas sobre a questão d a codificação das leis civis q u e de setembro ds 1862), A n n o V III, Tbmo V II, o n c/nov/dezem bro de 1870, p- 149- A gostinho
nossos advogados e juristas nad a tin h a m a dizer. Se a legislação civil q u a n to M arques Perdigão M aíheiro foi a exceção qu e confirm a a regra, pois é dele a mais im portante
(e provavelm ente a única) obra jurídica sobre o regim e servil, A escravidão no Brasil: Ensaio
aos escravos flu tu a v a “no vago e indefinido”, p a ra u sa r a expressão d e P erdi- histórico, jurídico, sociaL Petrópoiis: 3* edição, 2 vol. 1976.
7íEm Um estadista do Império- Jo aq u im N abuco duas vezes refere-se, corretam ente, à tradição
antíescravista dos presidentes di> IAB- Coletivam ente o Instituto nunca produziu um único docu
7 1H orw itz, o p . c it. Tkmbém Harber, op. cit., p p. 2 0 6 -2 IS . m ento contra a escravidão.
a le g itim id a d e d e u m p e n sa m e n to jurídico a u tô n o m o e , c o m o co n seq ü ên d e precedências e regras protocolares serviam com o estra té g ia d e afirm ação
cia» n e g a a juizes, e ad v o g ad o s q u a lq u e r prem issa válida p a ra q u a lq u e r to d e itatus e m otiv av am até m esm o consultas ao C onselho de E stado.77 For
m a d a de decisão q u e n ã o seja a d e im p le m e n ta r as políticas d o E sta d o ”.74 m alm ente» o IA B d esfru tav a d e m a io r consideração d o q u e associações
N a ausência de' u m sistem a com petitivo e p lu ra lista , o p e n s a m e n to jurídico congêneres e d o u um exem plo: p elo D e c re to n° 6 1 4 2 de 10 de m arço de
fu n d ad o em arg u m e n to s ab strato s e form ais p o d e ser u m m eio m a is efetivo 1 8 7 6 o Suprem o T ribunal de Ju stiça p o d ia to m a r assentos “a requerim ento
d e resistência a to d a s a s fo rm as d e absolutism o e d e d e sp o tism o . feito pelo In s titu to d a O rd em dos A dvogados” (art. 4 o, 3);78 e, reconhecida
a necessidade do assento, o T ribunal “p o d e rá ta m b é m ouvir, q u an d o julgue
conveniente, o In s titu to d a O rd e m do s A dvogados...” (a rt. 6° § 2 0).79
IV
U m a p e q u e n a am ostra das q uestões ag itad as nas sessões do In stitu to
incluiria as seguintes: Código d o Processo C rim inal (1 8 4 4 ), casam ento de
E r a n o I n s t i t u t o d o s A d v o g a d o s B ra sile iro s q u e s e c o n g re g a v a m o s
não-católicas (1848), o Digesto de Corrêa Telíes (1 8 5 l) ,30 a bancarrota (1864),
cavalheiros.75 F u n d a d o e m 1842» o IÀ B assem elhava-se e m certo s aspectos
o R eg im en to das C ustas Judiciárias (1 8 7 2 ), ação de arresto (1872), separa
à A cadem ia Im p e ria l d e M edicina, so b retu d o nas c o n su lta s q u e lhe fazia o
ção Ig teja-E stad o (1 8 7 3 ), o casam ento civil (1873), a revista n as causas de
governo e m b o ta não desfrutasse do c a rá te r “oficiai" d a A IM . P areciam -se
a lçad a (1 8 7 7 ), o valor jurídico d o te le g ra m a (1 8 9 4 ), lib erd ad e profissional
ta m b é m as d u a s associações n a desconsideração c o m q u e o g o v e rn o recebia
(1 8 9 4 ), refo rm a d o Código Penai (1 8 9 7 ). O regim e d a escravidão m ereceu
os pareceres e relatórios laboriosam ente prep arad o s p o r com issões d e só
a p en as d u a s sessões (em 1845 e 1887), e o m esm o n ú m ero a codificação das
cios. A o co n trário d a A cadem ia, o In s titu to não recebia subvenção go v ern a
leis civis (1 8 4 6 e 1888). O IA B evitava escrupulosam ente as questões polí
m e n ta l; e ta m b é m diferia dela ao se colocar com freq ü ên cia n a defesa dos
ticas, qu ase n u n c a criticava o governo, e alg u n s sócios tin h a m sérias dificul
interesses d o s advogados — a in d a q u e apenas dos q u e c o m p u n h a m o q u a
dades em definir a natureza do In stitu to , considerando-o uns com o “associa
d ro . Esce interesse e ra quase sem pre o d a “h o n ra ” profissional — u m a o b ção literária”.
sessão q u e levava a “m açonaria d e h o n ra ” a c o m p o rta m e n to s d e absoluto
O re g u la m e n to de 1888 d isp u n h a q u e o IA B fo ra criado para: “ 1) o
non-sense, com o a decisão d e aplicar a u m juiz as n o rm a s disciplinares do
e stu d o d o d ireito , n a sua historia, no seu m ais am plo desenvolvim ento, nas
In s titu to o u a d e re p re se n ta r co n tra o u tro q u e não p e rm itira a u m ad v o g a
suas aplicações práticas e com paração com os diversos ram os d a legislação
d o fa la r se n ta d o d u ra n te u m a audiência.76 P equenas escaram uças e m to m o
estran g eira; 2 ) a assistência judiciária”, e p o d ia m ser m em b ro s efetivos d o
5Q surgim ento tardio da “cultura escolar” n a engenharia inglesa pode ser comprovado em R.
A . Buchanan, “The Rise o f Scientific E ngineering in Britain”. British Journalfo r the History o f
‘‘São vários os. estudos q u e ressaltam o caráter teórico do ensino na École Polytechnique. Ver,
e n tre ou tro s, Eda. K ranakis, “Social determ inants o f engineering practice: a. com parative view
Science, v. 18, 1 985, p p - 2 1 8 -2 3 3 . Segundo Buchanan, somados os inscritos no Institution o f
Civil Engineers e n o In stitu tio n o f Mechanical Engineers, havia p erto de mil engenheiros no
o f France a n d America in th e nin eteen th century '".SocialStudies o f Scknce, vo l. 19, 1989, 5-70;
pais em 1850 ‘an d virtually all these ’professional’ engineers had acquired th eir skills b y a
Terry C h in n , “D e s Corps de l’E tat aux secteur industriel: genèse de la profession d'ingénieur,
process o f pupilage in th e office o f an e a s tin g engineer, in a m an n er derived directly from
1 750-1920'’. Revue Française de Sociologie, X IX , janeiro/m arço de 18-78, p p . 3 9 -7 1 . A resistên
tim e-hallowed experience o f the practical train in g o f apprenticeship" (p. 2 1 9 ). Ver tam bém
cia d a École Polytechnique a m udanças n o seu “estilo" foi estudada, p o r lee ry Shinn, “Reactionary
A nna G uagnim , "La form ation des ingénieurs en G rand-B retagne à la fin du X IX e. siècle”.
technologists: th e stru g g le over the École Polytechnique, 1880-1914". Minerva, vol. X X ÏÏ, a .
Culture Technique, 12, 1984, pp. 292-303- A predom inância dos ingleses no Brasil explicava-se
3 -4 , 1 9 8 4 , p p . 329-345- As necessidades do processo de industrialização foram atendidas po r
pelo fato de qu e vinham da Inglatetra os capitais necessários aos em preendim entos.
in stitu to s de formação técnica, como as Écoles d ’A rts e t M étiers das quais a m ais famosa foi a
^Praticamente todos os cais dosportos das principais capitais m arítim as do Brasil foram obras de
Ecole C entrale des. A rts e t M anufactures. Ver C . R. Day, “T he m ak in g o f m echanical engineers
engenheiros e de empresas estrangeiras. E ntre estas grandes obras, a exceção foi a construção de
in France: th e Écoles d ’A rts e t Métiers, ! 803 T 9 1 4 " . French Historical Studies, v. 1 0 ,1 9 7 8 ,p p.
u m cais no porto de Santos que perm itia a atracação de vapores transoceânicos, a prim eira
4 3 9 -4 6 0 ; G oran A hlstrom , “H igher technical education and th e en g in eerin g profession in
concedida pelo governo a um a empresa nacional em 1886, a Cia. Melhoramentos do Porto de
France a n d G erm any d u rin g th e 19th cencury”. Economy and History, vol. X X I, 2 , 1978, p p .
51-88. Santos. Ver Milton Vargas, ‘A engenharia civil na República Velha”. Em M ilton Vargas (org.),
História da técnica e da tecnologia no Brasil. São Paulo: Editora Unesp, 1994, p p . 189-209.
fru stração . S em recursos próprios, d ep e n d e n te s d e favores d o governo e às nava estrangeiros, e ad m itia ao C orpo d e E ngenheiros os “q u e tiv erem o
v o ltas com a crônica,escassez de capitais e d e sócios p a ra o s em p reen d im en curso d a ex tin ta academ ia o u d a a c tu a l escola de m a rin h a ” d esd e q u e pres
to s, p o u co s fo ra m os q u e obtiveram a lg u m sucesso.7 A g ra n d e m aio ria era tassem pro v a especial de habilitação com o engenheiros civis.9
ab so rv id a p e la burocracia im perial, que g e ra lm e n te os encam in h av a p a ra o A p a re n te m e n te a legislação re g u la tó ria era iniciativa exclusivam ente
se to r ferroviário. g o v ern am en tal, em b o ra u m o u o u tro engenheiro de m aior p re stíg io p u d es
E ra natural,, assim , q u e as prim eiras leis so b re o exercício d a en g en h aria se ocasionalm ente re d a m a r reg u lam en to s m ais rigorosos q u e excluíssem os
se d e stin a sse m a re g u la r se u em p reg o no serviço p ú b lic o . F oi precisam ente “co n stru to res” e os m estres-de-obras d o estreito m ercado d e construções.
o q u e o c o rre u e m 1 8 6 2 com a criação d e u m C o rp o d e E n g en h eiro s civis Se e ra necessário o d ip lo m a p a ra curar, p re p a ra r m ed icam en to o u extrair
d e n tro d a S ecretaria d a A g ric u ltu ra , C om ércio e O b ra s P úblicas.8 O decreto d en tes, p o r q u e não exigir o m esm o p a ra o exercício da profissão de “cons
q u e lh e d a v a u m R eg u lam en to ad m itia p a ra as posições d e In s p e to r G eral e tru to r” ?, p e rg u n ta v a L uis R a p h a e l V ieira S outo. P o r q u e p e rm itir q u e se
d e E n g e n h e iro ap enas os q u e tivessem o curso d a Escola C e n tra l o u o das arvore em engenheiro q u a lq u e r m estre-d e-o b ras, sujeitando os cidadãos aos
a n tig a s A c a d e m ia e E scola M ilitar, o u a in d a o s q u e ap resen tassem títu lo s de riscos d e d esab am en to d e prédios e preju d ican d o a higiene civil e o bem -
escolas e stra n g e ira s acreditadas (art. I o §4), p e rm itid o o em p re g o ta m b é m e s ta r d a população?10 N ã o o b s ta n te a referência, engenheiros com o Vieira
d e estrangeiros; d e sd e q u e tivessem a “necessaria a p tid ã o e reconhecido Souto tin h a m escasso interesse neste m ercado, g eralm ente de construção de-
m erecim en to ” ( a r t .l ° §5); m as n este caso n ã o fazia o R eg u la m e n to referên m oradias, peq u en o s sobrados e edificações de sem elhante escala. S eu hori
c ia a cu rso s form ais, a títu lo s acadêm icos o u a q u a lq u e r o u tro critério de z o n te era m ais vasto: ob ras públicas d e san eam en to , co n ju n to s p a ra h a b ita
a p tid ã o o u d e com petência. U m novo R eg u la m e n to , d e 1 8 7 1 , não m e n d o - ção p opular, ate rra m en to s e d e s m o n te d e m o rro s; obras, e m su m a , d e m aior
p o rte e qu e reclam avam generosos investim entos. Inclusive era n este te rre
7Ã s frustrações d a engenheiro A ndré Rebouças foram narradas carinhosam ente p o r M aria Alice
no q u e os engenheiros p o d ia m ev e n tu a lm e n te d e m o n stra r sua superiorida
d e Carvalho em. & quinto século: André Rebouças e a construção do Brasil. Rio de Janeiro: Revan/
IU PERJ, 1 9 9 8 . M ariaA lice nao se d e u conta, todavia, da nzvaiszagaucbe do q u e ela cham a de d e técnica sobre os “construtores” e sobre os m estres-de-obras. N ã o o b stan te,
“ianquism o” d o insigne engenheiro. A insistência com q u e Rebouças b a tia à p o rta d os gabine m esm o n a escala m e n o r trata v a -se d e m o s tra r q u e u n s e o u tro s edificavam
te s ministeriais, q u a a d o nã o im portunava o próprio Im perador com queixas pessoais ou com
solicitações d e fãwotes, contrasta vivam ente com a carreira dos prim eiros “engenheiros” mecâ casas m a l v entiladas, deficientes e m ilum inação n a tu ra l, anti-higiênicas e
nicos am ericanos, m iríada sem títu lo s acadêmicos e sem patro cín io oficial nas oficinas de fabri d estitu íd as d e q u a lq u e r estílo o u q u alid ad es estéticas. M as e m am bas as
cação o u de re p aro d e m áquinas; ou co rn ad o s “engenheiros” civis iniciada em cargos gerenciais
assalariados nas em presas privadas. D e feto, nada m enos conform e ao espírito de u m genuíno escalas, iam tra ta n d o os engenheiros d e vincular sua profissão aos tem as
“ianquism o” d o q u e o com portam ento do nosso ilustre engenheiro- E n ão poderia ser diferente sem pre candentes do saneam ento e d a higiene p ública, acrescentando-lhes
n a época, ainda q u e © p róprio Rebouças não o perceba e se deixe em b alar p o r um a im agem
n eg ativ a e razoavelm ente equivocada de seus colegas e p o r o u tra extrem am ente lisonjeira de si o co m p o n en te d a estética u rb a n a . M as n e m to d o s seguiam V ieira Souto.
m esm o: a d o eogenlsãnoinodem o e em preendedor n u m a socfedadette acom odados engenheiros
A n d ré R ebouças m anifestou-se e m m ais d e u m a o p o rtu n id a d e favorável à
burocratas. Registro, st propósito, q u e as biografias d e Rebouças e seus próprios escritos sugerem
inequívocos traços d e paranóia. Sobre "ianquismo" ele teria m u ito o q u e a p ren d er com o amigo liberdade de profissão no sentido m ais am p lo , e A arão Reis aprovava o faro
q u e registrou: o se g u in te sobre a socialização das crianças americanas: "N ão h á p orém , no
de q u e “a carreira d e en g enheiro e stá, felizm ente, e n tre g u e à livre con-
m u n d o u m a escola igual a essa para se aprendet o qu e , d o ta e m dian te pelo m enos, é o mais
im p o rta n te d o s preparatórios da v id a — a a rte de contar consigo só.”Jo a q u im N abuco, Mtnha
formação, o p . cíc. p . 193- Sobre os engenheiros am ericanos v e t D an iel C alhoun, The American
C ivil Engineer: íh ig izs and C m flkt. C am bridge, Mass.: M IT Press, 1960; M o n te Calvert, The ^Decreto n ° 46 9 6 d e 16 de fevereiro d e 1871 — A pprova o novo R egulam ento d o Corpo de
Mechankal Engineer m America, 2830-1910: Prafessional Cultores in Conflkt. Baltim ore: Jo h n s Engenheiros Civis.
H opkrns U niversity Press, 1967- ,0Raphael Vieira Souto, O melhoramento da Cidade do Rio deJaneiro. Critica dos trabalhos da respectiva
8Decset® s f 2 9 2 2 d e í D d e m aio de 1862 — Crêa um Corpo de Engenheiros civis ao serviço do Commissão. — Coikção de artigospublkados noJom al do Commercio de 23 de fevereiro a 15 de abril de
M inistério ek. Agricuizm a, Com mercio e O bras Publicas, e approva o respectivo Regulam ento. 1875. — Rio de Janeiro: Lino Teixeira & C., 1875, pp- 71-72.
cutrencía, não í privilegiada”, q u eren d o d íz e r q u e o diplom a, ao co n trário III
do q u e ocorria n am edícm a-e n a advocacia, não g a ra n tia m ono p ó lio d e m e r
cado.11 Seja c o m o for, p e lo D ecreto n° 30 0 1 d e 9 de o u tu b ro de 1 8 8 0 v o lto u o
M esm o e n tre engenheiros que, como Vieira S outo, v ia m necessidade de g o v ern o a estabelecer o títu lo acadêm ico co m o requisito p a ra o p reen ch i
regulação profissional, a reação à concorrência d e "práticos"' ra ra m e n te m e n to d e cargos técnicos n a adm inistração im perial, ta n to p a ra os nacio
produzia reg istro s exacerbados à m an eira d o s m édicos. O ra , o s m édicos n ais q u a n to p a ra os estran g eiro s.15 Todavia logo se d e u c o n ta das graves
satisfazem u m a necessidade v ital e universal d e consum idores individuais inconveniências do D ecreto nos term os d a seg u in te co n su lta ao C onselho
de seus serviços e a d e m a n d a é v irtu a lm e n te ilim ita d a , ain d a q u e sensível ao d e E sta d o : “N ão havendo n a In g la te rra escolas d e en g en h aria q u e confiram
p adrão ou a variações n o p adrão de v ida d a pop u lação . E não se p o d e esque d ip lo m a s officiais, p ó d e o G overno Im p e ria l, á vista do q u e prescreve o
cer q u e existe n a m edicina e ste co m p o n en te essencial q u e a diferencia ta n to a t a d o a r t. I o d a L ei 30 0 1 de 9 d e o u ru b ro d e 1880, aceitar com o titu lo
de o u tra s profissões: a relação im ediata, in d ividualizada e ín tim a com o cientifico d e capacidade d o s E ngenheiros inglezes o d ip lo m a d e m e m b ro ou
p aciente, u m a d a s fontes do p o d e r profissional. O mercado- d e serviços de s o d a d o In s titu to d o s E ngenheiros d v ls d e Londres?” Pode, resp o n d eu o
engenharia reage m ais ao nrvel dos investim entos públicos e. p riv ad o s e aos C onselho, sendo naquelle paiz m elh o r titu lo de aptidão a p ra tic a profissio
ciclos econôm icos, e o consum idor final ra ra m e n te é q u e m o s c o n tra ta o u n a l, q u a n d o se tr a ta d e serviços com o o s d o s E ngenheiros, em q u e , m ais do
c o m p ra; e n tre o engenheiro e o consum idor final d o s serviços in te rp õ e m -se q u e as theorias e especulações scientificas, valem a experiencia e o exercido
o u o E stado ou. a em presa privada, o u am b o s. P a ra a en g e n h a ria o m o n o p ó d iu tu rn o d a profissão... E ssencialm ente p rá tic o s, os inglezes p referem ás
lio o u quase-m onopóíio d o m ercado soluciona fiação m e n o r d o p ro b le m a , grad u açõ es acadêm icas a p ra tic a d a en g en h aria com o titu lo d e habilitação
visto q u e o co m p o rtam en to d a d em an d a d ep en d e d o nível a g re g a d o dos profissional .14 P o r p o u co não a d m itiram os conselheiros q u e os cursos,
in v estim en to s. Isso posto, o prestígio social d a profissão te m n o rm a lm e n te d ip lo m a s, títu lo s e anéis d e g ra u d a Escola Polycechnica e ra m m eros ador
sido o fa to r q u e g e ta a insegurança nos profissionais e lh es in c u te u m a ex nos d e u m a form ação profissional equivocada e in ú til.
tre m a d a preocupação com m obilidade social. A in d a assim , o m ono p ó lio E n q u a n to isso, o exercido d a engenharia no se to r privado perm anecia
p o d e ser e m d e te rm in a d a s circu n stân cias u m a eficaz d e fe sa c o n tr a as d esreg u lad o . N a construção d e m oradias c o n tin u a ra m dom in an d o os m es-
flutuações econôm icas. A despeito de su a satisfação c o m a lib e rd a d e de tre s-d e -o b ra s, exím ios n a aplicação d e técnicas sim ples, m as perfeitam en te
m ercado, A a r ío Reis não deixava d e se expressar c o m dose apreciável de a d a p ta d a s às condições e necessidades locais.15 A s obras m o n u m en tais o u os
a m b ig ü id ad e ao n o ta r q u e “os diplom as d a nossa escola d e e n g e n h a ria não p alacetes residenciais d ep en d iam d a “a rte ” em p írica dos estran g eiro s, inclu-
conferem d e facto privilegio a lg u m ; pois, n ã o só as em p rezas p a rtic u la res
não se e m b araçam com eíles e a té n e m lhes d ã o o valor q u e re a lm e n te m e a D e c re ro n o 3001 de 9 de o utubro de 1 8 8 0 — Estabelece os requisitos q u e devera satisfazer os
E ngenheiros G v is, G eographos, Agrim ensores e os Bacharéis formados em m athem aticas,
recem , com o o p ró p rio governo não lhes lig a a m ín im a im p o rtâ n c ia e tr a ta nacionais ou estrangeires, para p oderem exercer em prego ou conunissões de nom eação do
G o v ssio .
m esm o de desconsiderai-os, p a te n te a n d o a nem u m a confiança q u e lh e in s
64D ecreto n ° 8 1 5 9 de 1 de julho de 1881 ——Consulta, a q u e se re fe re o Decreto n ° 8 1 5 9 de I de
p iram ” .12 ju lh o de 1881 — Declara que, n a expressão-“carta, de habilitação scientifica" a q u e se refere o
art. I d a Lei n 3001 de 9 de o utubro d e 1880, se comprehendem os diplom as de m em bro
eSétivo d o Instituto dos Engenheiros civis de Londres.
“ E m São Paulo, com a intensificação da imigração ítafiana a p a rtir de 1874, ruas inteiras foram
uAarão Leal de Carvalho Rêis,A ItssSrucção superior na Império. Rio d e Ja n e iro ; Tÿp. d e D o m in co naruidas p o r mestres-de-obra italianos, muitos dos quais se tornariam proprietários de cons
gos Luiz dos Santos, IS 7 5 , D. 41- trutoras. A nita Salmont e Em m a Debenedem,Arquitetura italiana em São Pado. São Paulo: Pers
!2Iderat ibidem , p . 41- pectiva, 1 981, especialmente p p . 56-73..
sive p a ra a in tro d u ção de novos m ateriais d e c o n stru ção . E m v ista disso, o IV
I n s titu to Po-iytechntc© B razileiro, a m esm íssim a associação q u e e m 1862 o
b arão d e C a p a n e m a p en sara b a tiz a r com n o m e diverso, oficiou e m 18 8 8 ao M a s o to m d a reivindicação e ra o a d e q u a d o à n a tu re z a d o I n s titu to
m in istro d a A g ric u ltu ra , C om m ercio e O b ras Publicas su g erin d o q u e fosse Poíytechnico, criado com o u m a associação dedicada ao e stu d o d e tem as téc-
exigido o d ip lo m a o u a carta de habilitação p a ra a p rá tic a d a en g e n h a ria e nico-científicos, não com o entidade representativa d e interesses corporativos.
d a a rq u itetu ra, n a s cidades m ais im p o rta n te s d o Im p é rio , e q u e a construção Á m a n e ira d e o u tra s associações assem elhadas e m q u e foi fecundo o Im p é
e reco n stru ção d e casas nestas cidades fossem au to rizad as exclusivam ente rio, ta m b é m o In s titu to destinava-se à difusão d a s luzes d a G ên cia. O a rt.
m e d ia n te a ap resentação d e p ro je to s elab o rad o s p o r en g e n h e iro s e a rq u ite I o d o s E sta tu to s de 1862 estabelecia q u e seus p ro p ó sito s eram “o estu d o e a
to s le g a lm e n te qualificados p o r títu lo acadêm ico. O ofício le m b ra v a ao m i difusão d o s conhecim entos teóricos e práticos d o s d iferentes ram os d a E n
n istro q u e a exigência d o d ip lo m a e m itid o p o r faculdade o u p o r escola supe g en h aria, e d a s ciências e artes accessorias”. N o discurso d e posse, n a sessão
rio r já e ra u m a p rá tic a con sag rad a n a m edicina e nas profissões d o direito, d e 19 d e m arço d e 1 8 6 7 , o conde d B u , seu p resid en te a té a q u e d a d a m o
q u e e ra ju sto este n d ê -la à en g en h aria, acrescentando q u e e m b o ra a Lei n° n arq u ia , in clu iu a associação e n tre as q u e “v o lu n ta ria m e n te se ded icam à
3 0 0 1 d e 9 d e o u tu b ro d e 1 8 8 0 houvesse regulado a m a té ria n o aspecto discussão d a s m a té ria s cientificas”, m a s alertan d o os sócios p a ra q u e não
relativo a o exercido d e em p reg o s e com issões d o g o v e rn o c e n tra l, pouco restrin g issem os estu d o s apenas “aos conhecim entos gerais d e n a tu re z a
havia a d ia n ta d o essa providência à fe ita de definição d a s áreas especializadas especulativa”, lem brando “o auxilio q u e ao governo im perial p o d e m p re s ta r
d e a tu a ç ã o d o s diversos profissionais (arq u iteto s, ag rim en so res, bacharéis as luzes d o In s titu to em assuntos q u e perte n ç a m aos tra b a lh o s públicos o u
e m m a te m á tic a s, en g en h eiro s civis, etc.), alé m d o q u e a reg u lam en tação com estes te n h a m relação”.18
n ã o tin h a força d e lei p e ra n te a s câm aras m u n icip ais.16 M as e ra chocho o A o fim e ao c a b o , o q u e c a ra c te riz o u os tr a b a lh o s d o I n s titu to
to m d a reivindicação, falta v a ênfase ao ofício, u m d o c u m e n to q u ase enver P oíytechnico foi a abrangência d o s interesses. N isto se refletia c laram en te o
g o n h a d o e , d e fe to , houve sócio d o In s titu to q u e lem b rasse o princípio d a enrieiopedism o d a form ação ad q u irid a n a E scola C en trai e n a Polytechnica.
lib e rd a d e pro fissio n al p a ra se o p o r à re g u la m e n ta ç ã o , c o m o fez A n d ré O c aráter a b stra to o u teórico das m em órias e d o s d eb ates devia-se n ã o so
R ebouças.17 m e n te à presen ça dos doutores e m m atem áticas e ciências físicas, m a s ta m
b ém à g en eralizada carência d e tre in a m e n to e d e experiência p rá tic a . A lé m
disso, após 1 8 7 4 a g ran d e m aioria d o s sócios veio a se r d e professores d a
P olytechnica com o afastam ento progressivo d o s en g en h eiro s m ilitares, a
p e q u e n a fração q u e disp u n h a d a experiência p rá tic a nos arsenais, nos e sta
WA m in u ta d o oficio fcã lida na sessão d e 6 d e o u tu b ro de 1 8 8 6 . Revista do Instituto Polytecbnico leiros d a M a rin h a e nas comissões d o governo. U m a fotografia b a sta n te
Brasileiro, T om o X IX , 1 889, p- 9 6 .
l7Ma verdade, não houve propósito deliberado d e redigir o offcio. Ele nasceu de »m a peodenga n ítid a d o perfil intelectual do In s titu to Poíytechnico Brazileiro po d eria ser
e n tre o engenheiro-arquiteto aiemão LuizSchreiner, sócio do Instituto, e o conselheiro e arquiteto c o m p o sta com a seguinte am o stra das m em órias lidas pelos sócios:
Francisco Joaquim B ithencourt da Silva, discípulo de G randjean de M ontigay, a respeito da
construção d o edifício da Praça do Comércio da qual B ithencourt era o fiscal de obras. A s críticas
d e Schreiner à arq u itetu ra q u e então se fazia, e destinadas a ferir o desafeto, evoluíram p a ia um a 1. N a sessão d e 18 d e junho d e 1863 “o sr. A m érico d e B arros lê u m
proposta de alteração dos currículos das escolas d e engenharia e arq u itetu ra e daí para a proposta
d e regulação profissional. Ver de Schreiner os “Discursos sobre as O bras da N ova Praça do trab alh o sobre o anel de S aturno, tra b a lh o q u e é apenas a p a rte p relim in ar
C ommercio e sobre a A rchitectura no Btasil”. Revista do Instituto Polytecbnico Brasileiro, Tòmo
X V I, 1 884. Pradcam ente todo o tom a está dedicado aos trabalhos de Schreiner, q u e financiou
parcialm ente a edição. ^Revista do Instituto Poíytechnico Brasikiro, Tomo I, n° I , julho de 1867-
de u m tra b a lh o geral sobre a luz radical, q u e ap resen tará m ais ta rd e , n 'o u tra 7 . “O san eam en to d a cidade do Rio d e Ja n e iro ”, conferência do enge
sessão”. nheiro A n to n io de Paula Freitas, na sessão d e 7 d e abril d e 1 8 9 7 (prim eira
d e u m a série de cinco conferências sobre o m esm o tem a).
2. N a sessão d e 8 de setem bro de 18 6 4 o D r. Pereira Passos “a p re se n to u
m a p a in dicando a duração relativa d e q u a re n ta e d u a s espedes d e m ad eiras 8 . “A m eteorologia no Brasil”, pelo B r. A lfredo Lisboa, e m sessão de 8
em pregadas com o dorm entes n a estrada de ferro D . Pedro l í , e m via lastreada d e m aio de 1901.
A n d ré Rebouças, H e n riq u e Eduardo H argreaves, Francisco Soares d ’A ndrea, d e 4 de n o v em b ro q u e a lte ra v a a L ei d a s Sociedades A n ô n im a s, elim in a n
e n tre o u tro s. Seja com o for, o q u e, e m su m a, A arão Reis su g e ria e ra ta n to a d o a lg u n s d o s o b stácu lo s in te rp o sto s p e la fam osa “le i d o s e n tra v e s” d e
refo rm u lação d o ensino n a Escola P olytechnica quanco in v estim en to s em 1 8 6 0 .36 A lém disso, e atendendo* aos reclam os dos in teressad o s, a L ei n°
obras, inclusive privados, ta m b é m com o fo rm a d e propiciar instrução p rá tic a 3 5 4 9 de 2 0 d e o u tu b ro de 1887 d e so b rig av a as em p resas c o n stru to ra s
aos engenheiros.34 d o s custos d e dem olição dos cortiços e d e indenização aos p ro p rie tá rio s n o
N o te -s e q u e p o r essa época agravava-se o processo d e d e cad ên cia d a v alo r das o b ra s realizadas. O c o n ju n to dessas m ed id as re£letiu-se n a cons
c u ltu r a d o c afé n o V ale d o P araíba e o s c a p ita is com erciais acu m u lad o s titu iç ã o d e em p resas im obiliárias e d e c o n stru ção d e cujo c o rp o d e acio
p ro c u ra v a m n ovas aplicações m ais se g u ra s. In fo rm açõ es sistem atizad as nistas p artic ip a v a m en g e n h e iro s com o V ieira S outo, P a u la F reitas, C arlos
p o r M a ria B á rb a ra L evy m o stra m q u e e n tre 1 8 8 0 e 18 9 1 a particip ação Sam paio, B elford R oxo e P aulo d e F ro n rin ; e d o s benefícios concedidos
ac io n á ria d e n e g o c ia n te s nas em p resas têx teis d o Rio d e Ja n e iro cresceu p elo governo ta m b é m se a p ro v eitaram alg u m a s in d ú stria s d e tecid o s p a ra
c o n sid e ra v e lm e n te , su p e ra n d o e m alg u m a s a m a rc a d o s 9 0 % ; m ais im c o n stru ir casas p a ra o s operários.17
p o r ta n te p a r a o m e u a rg u m e n to é , e n tre ta n to , a co n sta ta ç ã o d e q u e e m A in d a q u e não caiba resenhá-las a q u i, fica ta m b é m o reg istro d e q u e as
b o ra d a s 1 3 3 $ e m p re sa s co tad as n a B olsa d o R io d e J a n e iro e m 1891 crises econôm icas q u e ag ita ra m o p rim e iro decênio republicano deixaram
a p e n a s 2 9 p e rte n c e sse m ao se to r d a c o n stru ç ã o civil, o c a p ita l realizado ao final u m saldo b a sta n te positivo p a r a a in d ú stria d o R io d e Ja n e iro . O
e r a d e 1 3 0 m i c o n to s d e réis, superior ao d a s em p resas d e seto res com o o “encilham ento* re p re se n to u u m im p o rta n te esforço d e superação d o passa
d e fiação e c e a d o s , nav eg ação , alim e n to s e b e b id a s e co lonização.34 E p ro do agrícola d o p aís, e n o se u período crítico os em préstim os à in d ú stria e
v áv el q u e o in teresse d o governo n a c o n stru ç ã o d e h a b ita ç õ e s p o p u la re s u m a decididapoiítica protecionista a b rira m u m im p o rta n te p reced en te. P ara
te n h a in iciad o e e stim u la d o o afluxo d e c a p ita l m e rc a n til p a r a a c o n stru m u ito s o “encilham ento” m a rc o u a gênese d a acum ulação d e c a p ita l in d u s
ç ã o civil. O D e c re to n° 3 1 5 1 de 9 d e d ezem bro d e 1882 concedia condições tria i no p aís. N e ste c o n te x to , o interesse d o s engenheiros e m m aciços inves
ex cepcionais a o s Investidores: d ire ito d e d esap ro p riação de te rre n o s p a rti- tim e n to s seja e m o b ras públicas seja n a incipiente base in d u stria l e n c o n tro u
^ N ã o obstante* os.engenhalros, q u e seriam os nossos primeiros "econom istas"práticos, estiveram 35S obie as habitações populares e a legislação d a época consultar l i a de A q u ia o Carvalho,
sem pre às voltas. n o setas“ferroviário com cálculos d e tarifas, relação custo-benefício de bitolas "C ontribuição ao estudo das habitações, populares: Rio de Janeiro, 1 8 8 6 -1 9 0 6 ”, e m Oswaído
la rg a e estreita, análise «fe projetos de financiam ento de construção d e ferrovias e outras ques Porto Rocha e l i a d e A quino Carvalho, A. ers das ckmoliçõislHabàafõespopulares. Rio de Janeiro:
tões «iimilarpg, s&n. eosssax q u e adquiriam considerável experiência gerencial n a administração Secretaria M unicipal de Cultura, 1995-
d as estradas d e ferro. V ários deles passaram pela presidência d a Estrada d e Ferro D . Pedro II ^Conhecida como “lei dos entraves”, a L ei n® 1 0 8 3 d e 22 de agosto de 1860, reagindo aos
(Chrcstiano O ttonf* Pfesesra Passos, Ewbank da Câm ara, Jerônsm o R odrigues de M oraes Ja r m ovim entos especulativos q u e haviam causado grave crise no comércio da praça do Rio d ejaneiro,
d im , Paulo d e F ro n tal, A arão Reis, entre outros). A p a rtir d e 1863 o pro g ram a d a Escola im punha rigoroso controle governam ental sobre a constituição de sociedades anônim as. Consultar
C entral incluiu as disciplinas de EcoQQmía Política, Estatísticas e Princípios d e D ireito A dm i a respeito M aria Bárbara Levy, op. eít.
n istrativo com o 2? cad eira d o 6 o ano, todas elas m antidas n o prim eiro pro g ram a da Escola 37As pesquisas de Roberto Moses Pechman e d e Lufe César Queiroz Ribeiro indicam a existência
Polytechnica para: as- esssos especiais (Engenharia Civil, d e M inas e A rtes e M anufaturas). de u m “mercado de concessões de privilégios” mais do q u e efetiva construção de habitações
35A depto, com o bom pcaritívista, da liberdade profissional e do ensino livre Aarão Reis referia-se populares.D e qnalquer m odo, de 1887 a 1895 teriam sido edificadas cerca de 8 .4 2 0 casas, o q u e
a estudos práricosadquiridos em qualquer estrada de ferro ou obra, m esm o particulares, que é um núm ero considerável. Ver dos autoras “Á Com panhia de Saneamento do Rio de Janeiro:
são, p o r b e m dizer,, escfeoias livres de engenharia". O p . cit., p . 71. contribuição à história da formação d ocapiraí im obiliário1’, Revistado Rio deJaneiro, v o l-1 , n ° 1,
* O p .c ic ,p .l3 te l5 I - setjdez. de 1 9 8 5 ,p p . 105-113-
expressão- p a rá c o ía rm e a c e ex em p lar nas críticas d e R a p h a e l V ieira Souto à V II
po lític a recessiva. e anriinduscriaiista d e Jo a q u im M u rtin h o , m in istro d a
Fazenda d e C am p o s Sales: “O acuai Ivfinistro d a F azenda p re te n d e q u e a P o r e n q u a n to , desejo le m b rá -lo d e q u e a irrita ç ã o d o D r. J o s é d a C ruz
N ação deve re strin g ir suas despesas ao p ro d u to d o s im p o sto s a n u a lm e n te J o b ím n a q u e la sessão d a C â m a ra e m 3 d e s e te m b ro d e 18 5 0 p ro v a v e l
arrecadados (...) e hoje não hã econom ista o u financista q u e subscreva sem e m e n te fo i c a u sa d a p e la p re m o n iç ã o d e q u e a com issão d e e n g e n h a ria
lh a n te d o u trin a .”38 O ra , reto rq u ia V ieira S outo, “o abuso d o s im p o sto s é e m b u tid a n o p ro je to de criação d a J u n t a C e n tra i de H y g ie n e e ra a p e n a s
m ais desastroso do q u e o do crédito e, q u a n d o os p rim eiros não b a sta m p a ra o início d e a lg o b em m a is te m ív e l. Se assim fo i, ela c u m p riu -se n a s ú lti
a satisfação d a s despesas sociais, forçoso recorrer aos ú ltim o s”, m ais a in d a m a s d é c a d a s do século X I X q u a n d o a frá g il a u to rid a d e c u ltu ra l d a m e
q u a n d o , “a lé m d a s circunstâncias excepcionais q u e o b rig a m os governos a d icin a m ais se e sg a rç o u n o c o n fro n to com a técnica dos e n g e n h e iro s.
lan çar m ão d o s em préstim os, u m a causa g eral e p e rm a n e n te a tu a em id ê n N ã o im p o r ta assin a la r p re c isa m e n te o m o m e n to o rig in a l e m q u e a e n
tico sen tid o : a necessidade d e a u m e n ta r a força e o p o d e r p ro d u tiv o do g e n h a ria a in d a tim id a m e n te h a s te ia su a b a n d e ira no espaço d a ju ris d i
país’'.35' E à afirm ação de M urtinho d e que os em préstim os to m a d o s no passa ção m é d ic a . M as o re la tó rio d a C om issão d e N o tá v e is n o m e a d a e m 1 8 7 4
d o p a ra obras, p úblicas tin h am sido estéreis V ieira Souto c o n tra p u n h a os p elo m in is tro d o s N e g ó c io s d o Im p é rio é c e rta m e n te u m d o s m a rc o s d a
benefícios d a s ferrovias, os q u ilô m etro s de linhas telegráficas c o n stru íd o s e invasão.. N o d o c u m e n to os e n g e n h e iro s M arcelin o R am os, J e rô n im o de
as obras d e ab astecim en to d ’á g u a ao m unicípio, p a ra concluir q u e n a d a M orais J a r d im e F rancisco P e re ira Passos p ro p u n h a m v árias m e d id a s
disso po d eria te r sido feito apenas com o p ro d u to do s im p o sto s e d a s rendas p a r a m e lh o r a m e n to s d a c id a d e , p rin c ip a lm e n te das suas co n d ic õ e s
ordinárias. D e fe to , M u rtin h o não deixaria boas recordações: d u ra n te sua h ig iên icas e sa n itá ria s, não fa lta n d o as desairo sas referências aos m e s-
adm in istração a en g en h aria nacional te ria sido “a legião licenciada pelos tre s -d e -o b ra s e às suas casas in sa lu b re s. D e 2 3 d e fevereiro a 15 d e a b ril
Poderes P úblicos” n a expressão d e F ro n tin q u a n d o p re sid e n te d o C lu b e de d e 1 8 7 5 V ieira Souto an a liso u d e tid a m e n te nas páginas d o Jornal do
E n g en h aria; e A lfredo Lisboa, o u tro engenheiro d e prestíg io , lem b rar-se-ia Commeirio as p ro p o sta s d a C om issão n u m a série de artig o s m a is c o m e n
queix o sam en te já n o governo R odrigues A lves d a “ferocidade ... p o r elle ta d o s d o q u e o p ró p rio re la tó rio .41 D u r a n te a década s e g u in te o sa n e a
{Joaquim M u rtin h o ] d u ra m e n te exercida c o n tra a eng en h aria nacional” (ên m e n to d a cid a d e , as suas condições d e sa lu b rid a d e e d e h ig ie n e to r n a
fase no original).40 ram -se o b je to p e rm a n e n te d a a te n ç ã o d o s engenheiros, d eslo can d o -se,
D eixo a q u i o le ito r com a sugestão d e q u e o te rm o “en g e n h a ria nacio p rim eiro , p a ra o â m b ito d o In s titu to P oíytechnico com o aval d o go v e rn o .
nal”, usado p o r F ro n tin e Lisboa n a euforia dos prim eiros anos d o século F o ra m m u ita s a$ sessões do In s titu to pre sid id a s pelo Im p e ra d o r nas q u ais
X X , iria se to m a r m u ito m ais fre q ü e n te d o q u e havia sido a té e n tã o , u m se tr a to u d e ste s p ro b le m a s. A p e n a s p a r a ilu s tr a r a te n d ê n c ia , e m co n -
p o n to ao q u a l a in d a farei referência. co rrid íssim a n o ite solene S .M .I p re s id iu a sessão de 28 d e a b ril d e 1882
d ed icad a ao te m a “O reserv ató rio D . P ed ro I I p a ra abastecim ento d a g u a
à cidade d o Rio d e Ja n e iro ”. E m 2 4 d e no v em b ro de 1886 v o lta o soberano
a p re sid ir o u tra sessão solene p a ra o u v ir a exposição do D r. A n to n io de
^L uiz Raphael Vieira Souto, “O u ltim o relatorio da Fazenda, 1 9 0 2 ”, em N i a a Yillela Luz
(org-X Idéias econômicas deJoaquim Murtinho. Brasília e Rio de Janeiro: Senado Federal/FCRB,
1980, p.. 3-50. Vieira Souto era professor d e Economia Política na Escola Polytechaica. 4£Primeira Relatório da Commissão de Melhoramentos da Cidade do Rio deJaneiro. Rio de Janeiro-
^ Id e ra , ibidem , p . 351- Typogtaphía Nacional, 1875; Rapbael Vieira Souto, O melhoramento da Cidade do Rio deJaneiro.
^A lfredo Lisboa, “O bras do porto do-Rio de Janeiro”. Kosmos, A ono 1, n ° 2, fevereiro de 19 0 4 (a Critica dos trabalhos da respectiva Commissão — Colleção de artigos pMkados noJornal do Cmmtrno
revista não trazia num eração de pãgiaa). de 2$ de.fevereiro a 15 deabnlde 1875. Rio de Janeiro: Z in o C. Teixeira e C., 1875.
P a u la F re ita s, le n te d a P olytechnica e u m d o s m a is ilu s tre s e n g e n h e iro s N o p la n o p rá tic o não se fez m u ita coisa, é v e rd a d e . E n tr e ta n to m in h a
d a c a sa , so b re o s a n e a m e n to d a c id a d e .42 p ercepção é d e q u e os m édicos, p io n eiro s d a s idéias h ig ie n ista s, fo ra m aos
E ste e stu d o foi su b m etid o ao lo n g o d e várias sessões à apreciação dos p o u co s p e rd e n d o te rre n o . E m lu g a r d a s especulações m éd icas so b re os
sócios a té sua aprovação final em dezem bro, após a q u a l foi rem etido ao efeitos d o "m efitism o ”, d a s “e m an açõ es d eletérias” e d e o u tra s fa n ta s
g o v ern o com o “p en sam en to oficiai” do In stitu to . C onsultas q u e décadas m ag ó ricas e n tid a d e s atm osféricas n a p ro p ag ação d a s doen ças; e e m su b s
a trá s te ria m sido e n cam in h ad as à A cad em ia Im p e ria l d e M ed icin a são titu iç ã o às p ro p o sta s genéricas e fre q ü e n te m e n te inexequíveis d e in te r
en dereçadas aos engenheiros. E m 1887 o C lube de E n g e n h a ria su b m e te a v en ção n o espaço u rb a n o para. fin s san itário s, o s e n g e n h e iro s tra z ia m
u m a criteriosa avaliação relatório n o q u a l u m a com issão d a J u n t a C entral e stu d o s e su g estõ es e m lin g u a g e m incisiva e p recisa, a lin g u a g e m d a c iên
d e H y g ien e p ro p u n h a obras relativas ao saneam ento d a cidade.43 J á n a Re cia “p o sitiv a”. A e n g e n h a ria já lev av a so b re a roedirin« a v a n ta g e m d e
p ú b lic a , e m 1 8 9 6 , é o C onselho M unicipal do D istrito F e d e ra l q u e m con soluções te cn icam en te dem o n stráv eis c o m o s recu rso s d a é p o ca e u m a
su lta o In s titu to Polytechnico “acerca d a p ro p o sta firm ada p o r J o h n M ackíe, p reo cu p ação c o m seus aspectos econôm icos q u e e ra in te ira m e n te e s tra
com o re p re se n ta n te de u m syndicato anglo-brasiieiro, p a ra o saneam ento n h a aos m édicos, m a s im p o rta n tíssim a p a ra o s g o v ern o s. A C om issão d e
d e s ta cap ital”; o m esm o Conselho solicita parecer sobre o u tra p ro p o sta se N o tá v e is já m o stra v a e m seu p rim e iro re la tó rio q u e se fossem investidos
m e lh a n te ap re se n ta d a p o r José E d e Souza D a n ta s; em 1897 o D r. Carlos 3 2 .0 0 0 :0 0 0 $ n a s o b ras de m e lh o ra m e n to , 7 5 % d o in v e stim e n to p o d e
d e Sam paio, presid en te d a E m presa In d u stria l de M e lh o ram en to s d o Brazil ria m s e r re c u p e rad o s, p rim e iro c o m a v e n d a d o s te rre n o s disponíveis com
e fu tu ro prefeito d a cidade, é q u em solicita ouvir d o In s titu to sobre vários a dem olição d e m u ito s p réd io s in sa lu b re s e daq u eles q u e im p e d ia m a n e
qu esito s acerca d o arrasam ento do m o rro do Senado e aterro d o s p â n ta n o s cessária a b e rtu ra d e novas ru as e aven id as e , se g u n d o , com a v e n d a do
d a s p ra ia s d e F orm osa e d e Lázaros.44 P atrocinado pelo C lube d e E n g e n h a
m a te ria l re su lta n te das dem olições; o s serviços d e q u e n ecessitariam as
ria e m 1 9 0 1 , o P rim eiro C ongresso N acio n al de E n g e n h a ria esgocou sua
n ovas ru as e avenidas arejadas, a m p la s e m o d e rn a s p o d ia m g e ra r re n d a s e
a g e n d a com as q uestões relativas ao saneam ento e “em b elezam en to ” d o
im p o sto s d a o rd e m d e 6 4 0 :0 0 0 $ an u ais p a ra am o rtização d a p a rc e la res
D is trito FederaL
ta n te d o in v estim en to inicial. E m su m a , o s e n g e n h e iro s avaliav am cu sto s,
35U m a clara antevisão do desapreço dos brasileiros pelas atividades “mecânicas” tev e Jo aq u in
Lebre to a , chefê da M issão A rtística Francesa, ao m anifestar ao C onde da Barca seu desejo de ^E sta capacidade cultivadas ê o q u e B rain chama d e “gosto" (farte}. A cultura de elite e a
q u e não se repetisse aqui o q u e ocorria n a França onde as famílias pobres, ao invés d e m an d ar associação com alguns mecenas foi utilizada pelos primeiros arquitetos americanos parara separar
seus filhos para as oficinas dos artesãos, eneam inhava-os para a École des B eaux-A rts. M ario o desigs d o processo de edificação* e assim para diferenciarem-se dos construtores q u e faziam
Barata , “M anuscrito inédito de Lebreton: sobre o estabelecim ento d e dupla Escola de A rtes n o ' “arqu itetu ra". D avtd Brain,. “D iscipline & styte: th e École des Beaux-A rts a n d th e social
Rio de Ja n e iro e m 18 1 6 “. Bevhia do Departamenío do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 14, production a f an Am erican arehiteeture”. Theory andSociety, vol. 18* n ° 6 , novem hro de 1989,
1959, p p . 2 8 3 -3 0 7 .
C A T Á ST A SE
7
L iberdade profissional:
u m a c o n tro v é rsia rep u b lican a
sJ osé A ntooío Pim enta Bueno,. D^eàopM icobrasikira e análise da Comtàuiçãado Império. Brasília:
Senado Federal, 1978, p . 191. A. obra foi p o r primeira, vez publicada, e m 1857.
CATÄSTASE
7
Liberdade profissional:
lima co n tro v é rsia rep u b lican a
d ire ito d e se c o n s u lta r com q u e m m e lh o r lh e conviesse. N e sse s te rm o s , p o r ta is serviços e n c o n tra v a -s e e m fra n c a e x p a n sã o . E m São P a u lo e r a a
o d isp o sitiv o c o n s titu c io n a l d isp e n sa ria q u a lq u e r in te rp re ta ç ã o a d icio c o n c o rrê n cia d e m éd ico s e stra n g e iro s, so b re tu d o ita lia n o s , q u e in sp iro u
a o d e p u ta d o e m ed ico D r . M ira n d a A zevedo a s in g u la r te se d e q u e e ra m
n a l, se n d o o s e n tid o lite ra l o ún ico ad m issív e l. E ssa e r a a p o sição d o s
a q u e le s o re síd u o “p e r tu r b a d o r ” e “p e rig o so ” d o e x c e d e n te p ro d u z id o
p o sitiv ista s. E tin h a m eles seus tru n fo s n a d is p u ta , e n tr e os q u a is o fa to
p e la s fa c u ld a d e s e stra n g e ira s, o s déclassés q u e tra ria m a d e so rd e m m e n
d e q u e o § 2 4 do a r t. 7 2 d a C o n stitu iç ã o e ra e m tu d o id ê n tic o a o a r t . 3 7 ,
t a l e social ao p a ís .5 A lé m disso, c o m a le m b ra n ç a a in d a v ív id a d a s b a ta
n ° X I X d o p ro je to c o n stitu c io n a l d e M ig u e l L e m o s e T eixeira M e n d e s,
lh a s tra v a d a s c o n tr a o s h o m e o p a c a s e s u a e sc o la n o s a n o s 4 0 , n ã o
d a ta d o d e 1 8 9 0 , isto é, a n te rio r à convocação d a A sse m b lé ia C o n stitu in te .
d e sc u ra v a m os m éd ico s d a s possíveis vincuíações e n tr e lib e rd a d e p ro -
C o m p a re -se :
fissio n a i e lib e rd a d e d e en sin o e d a s am eaças q o e re p re s e n ta v a m p a r a o regim en u n itário e centraÜ sador d a M o n a rc h ía V A lé m d o m ais, a experiên
m o n o p ó lio d o c o n h e c im e n to m éd ico c o m sede n a s fa c u ld a d e s oficiais. cia d e o u tro s países m o strav a q u e a erradicação d o exercício ilegal d a m e d i
N ã o s u rp re e n d e , p o is , q u e te n h a m v o lta d o su a s b a te r ia s c o n tr a o s cina e d o charlatanism o era ex trem am en te difícil ou im possível, e qu e te n
p o sitiv ista s, tra n sfo rm a n d o -o s no g ra n d e in im ig o . O D r . N in a R o d rig u es tativas d e regulação haviam gerado freq ü en tem en te a crença de que seus
n ã o o s p o u p o u » e m b o ra visasse m e n o s os “o rto d o x o s ” d o q u e aq u eles propósitos eram os de beneficiar os m édicos p e la restrição d a com petição,
q u e c h a m a v a d e “ sim p ático s” o u “p o sitiv ista s in c o m p le to s ” , p e rc e b e n o u os de “su p p rim ir os credos schism aticos”, resu ltan d o e m q u e “a lei cabe
d o q u e a te se d a lib e rd a d e p ro fissio n a l p o d e ria g a n h a r a d e p to s e n tr e os em descredko e é revogada o u torna-se le ttra m o rta ”. Sendo u m a boa regra
e s p írito s m a is lib erais. deixar ser explorados os q u e o desejam ser”, ta m b é m era necessário im ita r
Boa p a rte do arg u m e n to d o m édico baiano consistiu e m c o n tra p o r aos os ingleses e h ab ilitar as pessoas q u e carecem de serviços m édicos a distin
positivistas o u tro evolucionista, H e rb e rt Spencer, e com o C o m te adversário g u ir o p ratico qualificado do não qualificado”.8 E m elh o r do q u e b ran d ir
d a intervenção do estado.6 O ra, ensinava ele, S pencer esperava q u e o E stado c o n tra os curandeiros o Código Penal seria in stitu ir u m a “lei severa d e res
ponsabilidade profissional”.
mínima viesse a caracterizar apenas as sociedades industriais, q u e rep resen ta
v a m u m estágio» avançado d a evolução social ain d a não atingido n e m m es C o n tra to d o s os a rg u m e n to s c te d e n ria lista s, os p o sitiv istas não se
m o pelas nações m ais desenvolvidas. O q u e dizer» e n tã o , d e u m a sociedade lim itavam a a p o n ta r as sem elhanças do controvertido dispositivo c o n stitu
com o a brasileira, a in d a n o estágio m ilitar , em q u e a R epública acabara de cional com o d o projeto de M iguel le m o s e Teixeira M endes. E scolhendo os
m édicos com o os adversários m ais tem íveis, fo ram direto ao coração da
ser aclam ada p e io Exército e p e la A rm a d a , q u e carecia d a u n id ad e étn ica
m atéria: não havia qu a lq u e r evidencia d e que a m edicina oficial fosse m ais
q u e lh e p e rm itiria despreocupar-se com os conflitos raciais e q u e im p o rta v a
d a E u ro p a to d o s os elem entos civilizatórios. E m sociedades com o e sta a efetiva do q u e a a rte dos curandeiros o u a p rática dos em píricos. J á em 1887
M iguei L em os, n u m m anifesto c o n tra m édicos d a C orte que haviam proces-
intervenção reg u lad o ra do E stado era indiscutivelm ente leg ítim a p a ra evi
t a r q u e a lib erd ad e de uns se transform asse e m licença lesiva d o s direitos sado um cidadão p o r crim e d e charlatanism o, observava que a m edicina, ao
d o s o u tro s. N e la s, em q u e é “n u lla o u insufficente a acção d a cooperação contrário d a engenharia, não era um a “a rte perfeitam en te racionalizada”,
b astando observar a “anarchia m e n ta l” em que ela se encontrava: “cada um
ex p o n ta n e a ” capaz d e criar “in stitu to s d e ensino m édico com pletos”, cabe
te m as suas teorias e a sua p ratica e não hesita em accusar de charlatanism o
ao E sta d o cria r escolas m édicas oficiais e só a ele a trib u ir os g ra u s acadêm i
o u ignorancia tu d o q u a n to se afasta do seu m odo d e pe n sa r”.9 Com o p ro
cos. E “p o r m ais depreciado q u e se considere o d ip lo m a scientifico, sem pre
c o n stitu e elie u m a especie d e selecção, defeituosa, insuíficiente, m a s selecção pósito único d e defender seu m onopólio, erguia a m edicina oficial “barreiras
e m to d o caso” .
M a s se o U r . N in a R odrigues julgava a b su rd a a tese d a desregulaçao
’N ina Rodrigues faz aqui um a dupla referenda à constituição do Rio G rande do Sul, que
total do en sin o e d a p rá tic a m édicas, ta m p o u c o d e fe n d ia ele a h era n ç a instituíra a liberdade profissional e a de ensino» e ao governador positivista Ju lio de Castilho,
sugerindo q u e outros Estados poderiam ir na m esm a direção.
re g u la tó ria d o Im p ério , p o is “será erro p a lm a r p re te n d e r conservar in ta c ta e eA referência aqui é ao Medicai Registar, instituído em 1858 na Inglaterra, uma relação de todos
inteiriça, n a R epublica federativa, a organização q u e p o ssu ia a m ed icin a no os médicos qualificados com seus títulos e endereços. Esta lista era publicada pata orientação dos
que necessitassem procurai serviços médicos. Note-se que o MedicaiA ct não extinguiu a “liberdade
de curar”, m as pum a severamente os que, não sendo médicos qualificados, se apresentassem
6Liberdade Pmfisskmalem Medicina— Conferencia de abertura do Ctmo de Medicina Legal na Facul como tal. G arantia o monopólio do título, mas não o do exercício profissional.
dade da Badid, peio Ur- N ina Rodrigues. São Paulo: Publicações da R evista Medica de São Paulo, A liberdade espiritual — 0 exercício da medicina. Rio de Janeiro: C entro Positivista do Brazil,
q uasi insuperáveis à evolução dó p en sam en to h u m a n o ” e o p rim ia o cidadão II
q u e o u se su b m etia aos cuidados d e u m “m edico official” o u ficava ao d e
sa m p a ro . O D r. Jo a q u im B agueira ia m ais lo n g e e m ais c o n tu n d e n te ao Á princípio, en g en h eiro s e advogados tiv eram p o u co com q u e c o n trib u ir
cern e d a q uestão. M édico form ado p ela F acu ld ad e d e M edicina d o R io de p a ra o d e b a te sobre a liberdade profissional, e m b o ra viesse a c a b e r aos b a
Ja n e iro , cirurgião d o Exército, o D r. B agueira p u b lic o u o se g u in te n a o rto charéis em direito — juizes e m ag istrad o s — p ô r u m fim à controvérsia. A
grafia p ositiva; “(...) 6 o. Q u e a sciencta deve inpor-se p e la d em o n stração i lei 30 0 1 de 18 8 0 p e rm a n e c e m a té a v ira d a do século com o o dispositivo
p e rd e sua d ig n id ad e to rn an d o -se suspeita, cu an d o q u e r inpor-se p e la força; reg u lató rio m ais im p o rta n te n o cam po d a en g en h aria, e as insufidências
7 o. Q u e o academ icism o não te m u m a teo ria ezata das funções d o cerebro, nacionais n e ste ca m p o co n stitu íam ain d a o nó d a q u e stã o . T an to isso é ver
n e n p o r conseguinte d e sua pato lo g ia, nen d a s relações do fizico i d o m o ral d a d e q u e em 1901 a legislação a in d a m a n tin h a a e x ig ê n d a d e exam es d e
d o o m e n , í m o stra desconhecer a indivizibilidade d a n a tu re z a u m a n a pelo habilitação n a s faculdades oficiais p a ra m édicos e advogados estrangeiros,
cultivo ezajerado d a s especialidades; 8 o. Q u e o m esm o academ icism o não m as sem q u a lq u e r m en ção a engenheiros, sinal d e q u e a c o n tra ta ç ão de
te m u m a teoria e z a ta d a n atu re z a das m oléstias, e n je ta l, d e seu m o d o de ingleses e n o rte-am erican o s sem form ação acadêm ica a in d a e ra u m a neces
invazão i d e prop ag ação , nen possui m eio a lg u n infalível p a ra as in p e d ir o u sidade.11
d eb elar; 9 o- Q u e n ã o é justo conferir o m onopolio d e cu rar a q u e n desse P o r razões j ã m en cio n ad as, o s ad v o g ad o s, a o c o n trá rio d o s m édicos,
m o d o e stá fo ra d a s condições de ezecutar cabalmente o q u e propõe; (...) 12®. n ã o h av iam e sta d o p a rtic u la rm e n te interessad o s e m d e lim ita r jurisdição
Q u e o em prego ab ítu al dos m edicam entos sendo bazeado som ente n a efícassia profissional o u e m esta b e le c er m o n o p ó lio d o s serviços leg ais. O grosso d a
m a n ife sta d a e m cazos parecidos, i n ã o avendo teo ria acadêm ica alg u m a q u e advocacia e ra feito p o r a d v o g ad o sp ro v isio n ad o s, p o r so licitadores o u m e s
esplique ezatammte 2. sua ação, fica a terap êu tica oficial re d u zid a a p u ro m o p o r leigos e n ã o e ra raro q u e rá b u la s estabelecessem re p u ta ç ã o d e
em pirism o, i n ã o é ju sto que se p ro te ja certos em píricos d e preferencia & n o tó rio s a b e r ju ríd ico , com o fo ra o caso de A n to n io B sreira R ebouças no
o u tro s ; 13® Q u e , sendo assim , o s m édicos e sp o n tâ n e o s, b e m c o m o o s Im p é rio , o u d e E v aristo d e M oraes ao fim do século.12 É e x a to q u e m u ito
d ip lo m a d o s, p ó d en ap re z e n tar rezultados terapeudicos valiozos, o q u e aiiaz d a lib erd ad e profissional n o cam p o d a advocacia e ra exercido n a esfera
é univ ersalm en te reconhecido, não te n d o o u tra o rig en a a rte d e cu rar; (...) crim inal, u m te rritó rio p o u c o resp eitáv el q u a n d o n ã o e ra ilu m in a d o , p o r
17°. Q u e , a p re te sto d e saude publica, o verdadeiro fin d a g u e rra aos c u ra n ocasião ànscauses célebres, p e la luz d e a stro s d a g ra n d e z a d e F ra n k lin D ó ria,
d e iro s é a fa sta r a co n c u rre n cia p a r a m e lh o ra r a situ a ç ã o d o s m édicos, o barão d e L o re to . P o r q u e não e ste n d ê -la ao cível, in q u iria u m ad v o g ad o
e n b a ra ç a d a pelo se u nu m ero essesstvo; (...) 2 1 °. Q u e a p erseguição aos cu p o sitiv ista, se e la ex istia n o â m b ito d a s q u e stõ e s m ais im p o rta n te s , q u e
ran d eiro s n ã o afastará a co n c u rre n d a, pois não averá lei n e n h u m a capás d e e ra o d a lib e rd a d e in d iv id u a l.13A re sp o sta d o s c re d e n d a lista s co n sistia em
im p e d ir o s cidadãos, m esm o os ricos i le tra d o s, e a té m édicos, d e pro cu ra m o s tra r q u e na. e sfe ra c rim in al o ju iz e ra so b eran o , p o d e n d o decidir se
re m seus conselhos; (...) 2 3°. Q u e av en d o x arlaran ism o ta n to e n tre o s g u n d o su a convicção» in d e p e n d e n te m e n te d a s p ro v as d o s a u to s o u dos
d ip lo m ad o s, com o e n tre os espontâneos, o m onopolio e n vês de afastá-lo, so
consegue ptevilejiá-lo” .10 ’’D ecreto n° 389Q d e-1 d e janeiro de 1901 — A pprove o Codigo dos In stitu to s Official's de
Ensino Superior e Secundário, dependentes do M inistério d a Ju stiça e N egocios Interiores
(A rt. 226).
l2Vêr Evaristo de Mota es, Renriniscêncús de um rábula criminaíista. Rio d e Janeiro: Ed. G rande
Livraria Leite Ribeiro, 1922.
“ O rejimen republicano — O livre ezercicia da medicina. Rio de Janeiro: Tip. C entra!, 1890. BA , de Souza Pinto, Cutara Acadêmica^ A n n o 1, vol. 1, janjfev. 1905, pv. 2 7 .
a c e rto s e d e sa c e rto s dos advogados, os q u a is, d essa fo rm a , tin h a m pouco classe em cujo exercício se a g ita o direito d o cidadão, q u e r em relação à sua
efeito o o re s u lta d o final; n o cível ocorria e x a ta m e n te o o p o s to , e a í o êxito v ida, q u e r e m relação à su a liberdade, q u e r em relação à su a p ro p rie d a d e ”.
d a causa, d e p e n d ia d a c o m p etên cia dos ad v o g ad o s, d a sua c u ltu ra ju ríd i Profissões q u e , com o a advocacia, “tão d e p e rto in teressam a sociedade e
c a .14 E n ã o foi sem a lg u m a hesitação q u e o In s titu ro d a O rd e m d o s A d v o ain d a m ais pro x im am en te o indivíduo” não p o d ia m ficar “à m ercê de u m a
g a d o s B razileiros definiu-se com relação à m a té ria . S u a C om issão d e J u s falsa lib erd ad e d e in d ú stria ”; e “se h á casos em q u e precisa o indivíduo da
tiç a re d ig iu p arecer, lido e discutido n a sessão d e 17 d e m aio d e 1 8 9 4 , nos im e d ia ta vigilância do E stad o , o do exercício profissional é u m dos m ais
se g u in te s te rm o s : “Á advocacia p o d e ser ex ercid a p o r q u a lq u e r cidadão salientes”.
(C o n stitu iç ã o , a r t. 7 2 § 2 4 ). O s advogados n ã o c o n s titu e m « m a ciasse o u O u tr a v e rte n te d o p en sam en to jurídico (ou a m esm a v e rte n te e m cir
casta. Á esco lh a do p a tro n o a m ax im a lib e rd a d e . O s profissionais d e m e cunstâncias diferentes) p o ria a ênfase m enos nos interesses do indivíduo do
re c im e n to im p õ e m -se m e n o s p elo d ip lo m a , q u e p o u c o v ale, d o q u e pelo q u e n a natureza d o E stad o . Isso p o rq u e "o m esm o E stado q u e consagra a
sab er, c a ra c te r e ín d ep en d en cia.” C o n tra e s ta posição p rev aleceu , e n tre liberdade profissional, reserva-se o direito d e contrasteal-Ia, p o rq u e essa re
ta n to , o p a re c e r d o sócio Isaías G u ed es d e M ello q u e p ro p u n h a a exigência serva assen ta n a p ró p ria base d e sua existência, q u e depende d a re g u la m e n
de d ip lo m a p a ra o exercício d a profissão, e m b o ra incluísse os p ro visionados tação de todas as m anifestações d a actividade h u m a n a . E stado é organiza
n a c a te g o ria d o s q u e p raricav am le g a lm e n te a adv o cacia.15 O In s titu to ção politico-juridica. E stado é regulamentação. O E stado se fu n d a sobre a lei
iria m a n te r d e sd e en tão a tese credencíaíista. O q u e m u d o u c o m su rp re e n E sta é a sua base. Tòdas as liberdades q u e elle reconhece o u concede ficam
d e n te fre q ü ê n c ia e n tre os ad v o g ad o s fo ra m as razões a p re se n ta d a s com o sujeitas à su a fundam entação, po rd e p e n d e n c ia m aterial. N ã o h á liberdades
fu n d a m e n to p a r a a regulação e x clu d en te. in d ep en d en tes. É preciso ser pleonasrico e dizer com clareza d e lu z solar:
O a rg u m e n to “histórico” no parecer d e Isaías G u ed es não tin h a fu n d a não bã liberdades livres, há liberdadesjurídicas (...). U m regim en d e liberdades
m e n to d o u trin á rio indispensável a cultos advogados, e não e ra adm issível a livres seria u m regim en de confusão e anarchia. U m reg im en d e liberdades
defesa d a lib erd ad e profissional com base n a sim ples razão d e q u e assim jurídicas é u m regim en d e o rd em , de segurança”17 (ênfases n o original). O ra ,
haviam de c id id o os constituintes. Sua base deveria ser m ais sólida: tra ta v a - co n tin u av a o arg u m e n to , as profissões liberais são “actividades q u e os cida
se d o s dire ito s do s cidadãos. N o m esm o ano d a apresentação d o p arecer foi d ãos pratic a m ; logo, a sua regulam entação se c o n tém d e n tro d o s fins soci
p u b lic a d a a m e m ó ria d o D r. M anoel  ívaro d e Souza Sá V ian n a, I o secretá ais; a su a liberdade é sujeita a d ita regulam entação, sem o q u e excederia o
rio d o In s titu to d a O rd e m dos A dvogados B rasileiros, lid a n a sessão com e d om ínio d o E stado, ficando além do dom inio do direito, o q u e é ab su rd o ”.
m o ra tiv a d o 5 0° aniversário d a instituição.10 Sá V ian n a re to m a v a o te m a d a N e ste s term os, pouco im p o rta v a a form a p ela q u a l o E stado escolhesse fazer
criação d a O rd e m dos A dvogados com o u m im p erativ o d a c o m p le ta consti a regulação do exercício profissionaL, e a exigência de d ip lo m a não era a
tuição d© Ju d iciário , do q u a l a advocacia seria p a rte c o m p lem en tar, e ap o n q u estão principal.18 O que im portava e ra reg u lar p o r q u a lq u e r m eio “a capa-
ta v a e s ta providência com o u m a fo rm a d e n ã o d e ix a r “d esab rig ad a” u m a
" “Parecer da Commissão de Justiça e Legislação do In stitu to d a O rdem dos Advogados -
Brasileiros sobre o Projecto de creação da O rdem dos Advogados Brasileiros”, em A rm ando
14H e n riq u e B arreto Praeger, Uberdade profissional. Bahia: Litho-Typographia Á lm eira, 1907, Vídal, A Ordem dos Advogados no Brasil. Rio d e Janeiro: Typographia Revista d os Tribunais,
p p . 2 3 -2 4 ,
1917, p p - 193-213- Aurelino Leal foi o relator do parecer, assinado tam bém p o r Esmeraldino
ts% r Isaías Melío, o p . cit. O Instituto aprovou o parecer p o r 35 votos contra 3 em sessão de 22 Bandeira, C anuto de Figueiredo e Jo ão Marques.
de m aio d e 1895- !9Isso posto, "si, pois, o projecto e o substitutivo [da criação da O rdem dos Advogados Brasileiros]
x^Cinqnenta Armes de Existência— Memória lida na sessãosoknase commemorativa do 50aaniversario da exigem para a iosctípção n o quadro da Ondem, quanto aos advogados, a exhibição do diploma
fundação do' Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros pela I a secretario ManoelAhraro de Souza Sá acadêm ico é apenas porque, queiram ou não queiram, esta é ainda, felizmente, a nossa situação
Vianna- R io d e Janeiro: Im prensa Nacional, 1894. jurídica..." (ênfase minha). Idem , ibidem, p . 194.
tid a d e do indivíduo q u e se d estin ar a p a te n te a r os seus conhecim entos» deíles
III
se valendo paira a p ra tic a d a profissão judicial”. A razão d e ser d a re g u la
m entação profissional não era o dispositivo constitu cio n al q u e a autorizava O p a re c e r d e Isaías d e M ello, vitorioso no In s titu to d o s A dvogados Brasilei
e exigia, m as “o d ire ito in tim o , visceral, im m a n e n te , q u e o E stado te m de ros, tin h a a p a rtic u la rid ad e d e conservar a velha fó rm u la do Im p ério seg u n
su b m e te r à disciplina jurídica os p h e n o m e n o s d e q u a lq u e r o rd e m q u e se do a q u a l n ã o im p o rtav a co m o o u o n d e houvessem os provisionados a d q u i
desdobram n a co m u n h ão ”. rid o se u c a b e d a l d e conhecim ento jurídico, b a sta n d o o exam e d e suficiência
E ste d iscu rso e s ta tis ta e o b v ia m e n te p ra g m á tic o d e s a b a ria fra g o ro - p e ra n te as Relações p a ra h abfiltá-los p a ra o exercício legal d a advocacia.
s a m e n te q u a n d o o E sta d o se d isp u sesse a re g u la r c o n tr a o s in te re sse s e T am bém o a rt. 6 6 dos e sta tu to s d a E scola Folytechníca já ad m itia , e m 18 7 4 ,
p riv ilég io s d o s a d v o g a d o s. N e s ta s ocasiões o u tro s ju ris ta s le m b ra ria m o m e sm o princípio: “O s indivíduos estran h o s à Escola, q u e p re te n d e rem
ao E s ta d o , p o r v ia d e ação ju d ic ia l, q u e a re g u la ç ã o p ro fissio n a l d e v e ria p re s ta r ex a m e d e q u a lq u e r d a s m a té ria s nella ensinadas, o po d erão fazer,
t e r seus lim ite s n o q u e a u to riz a v a o § 2 4 d o a r t . 7 2 d a C o n stitu iç ã o d e satisfeitas as condições exigidas e m re g u la m e n to especial, o u as d o artigo
1 8 9 1 q u e ele s in te rp re ta v a m d e m a n e ira p e c u lia r. P ois n o e n te n d im e n an te c e d en te .”20 E é b o m le m b ra r q u e a despeito d a s resistências d a A cade
to d e e m in e n te s ju ris ta s e la d e v e ria se re s trin g ir à c o n s tru ç ã o d e b a rre i m ia Im p e ria l d e M edicina nos anos 4 0 , dispositivo legal idêntico p e rm itira
ra s à e n tr a d a n a s profissões e à exclusão d a q u e le s q u e n e la s h a v ia m sido aos egressos d a Escola H o m eo p ática p re s ta r exam es nas faculdades p a ra se
a d m itid o s p e la s leis a n tig a s se m a in d isp e n sá v e l e v id ê n c ia d e p e ríc ia , a h a b ilita re m ao exercido d a m edicina.
p ro v isão o u o d ip lo m a . A advocacia, com o a s d e m a is p ro fissõ e s lib e ra is e F re q ü ê n c ia livre e exam es liv re s e ra m dois d o s asp ecto s so b re os qu a is
d ife re n te m e n te d a s ocupações co m u n s, e ta u m a p ro fissã o livrer e o E s ta p ro sse g u iu , d e sd e a p ro x im a d a m e n te 1 8 6 9 , o d e b a te so b re a lib e rd a d e
d o e x o r b ita r ia e m s e u p o d e r r e g u la tó rio se e x ig isse d o s a d v o g a d o s d e e n sin o o u e n sin o livre.21 C u rio s a m e n te a p a rta n d o lib e ra is d e liberais
inscrição o u m a tríc u la e ra a g ê n c ia fa z e n d á ria c o m a fin a lid a d e d e fisca e a lin h a n d o v á rio s d e ste s c o m os co n serv ad o res, u m d o s p o n to s m ais
lizar o re c o lh im e n to d o im p o sto d e re n d a e , d e m a n e ira g e ra l, se ria in c o n tro v e rtid o s referia-se à criação d e facu ld ad es liv res. Q u a l seria, o u
c o m p a tív e l co m a lib e rd a d e a sse g u ra d a p e la C o n s titu iç ã o q u a lq u e r o u d e v e ria ser, a a m p litu d e d e ssa lib e rd a d e ? N e s te p o n to as d iv erg ên cias
l90 Imposta sobre a Rendados Profissionais Liberais: A acção de Instituto dos Advogados em defesa da ^‘O art- 6 5 sim plesm ente dízis q u e "para os alunm os da Escoia a approvação nos exam es de
classe. A petição de interditoproibitorio apresentadapelo Doutor Edmundo de M iranda Brandão ao ju iz generalidades su b stitu e a freqezencia d e aulas em todos os seus effeitos...”. Isto é: u m a vez
federal da 2? sara. Rio d e Janeiro: J . Miccoiis, 1923- E sta ação foi m ovida pelo In stitu to dos m atriculado n a Poíytechníca» © a í u n o podia estudar onde e com quem quisesse, faltar a todas
Advogados contra. disposições do D ecreto n° 15589 de 2 9 de ju lho de 1922 q u e aprovou o a s aulas às Escola e, ainda assim, p re star os seus exames desde q u e o requeresse ao D ire to r e
regulam en to para.a arrecadação e fiscalização do im posto de renda. O In s titu to se socorre do § pagasse a tax a estipulada.
2 4 do a rt. 7 2 da C onstituição de 1891 p a ra se o p o t à exigência, d e m atrícu la dos profissionais 2lT àato q u a n to sei, a m elhor exposição sobre este debate está e m Roque Spencer Maciel de
Barras, A Ilustração Brasileira e a Idéia de Universidade. São Paulo: Editora Convívio/Edusp,
no órgão arrecadador.
âade âe estudar — “a lib e rd a d e d a d a à m o c id a d e d e e s c o lh e r o p ro fe sso r p ro p rio E s ta d a d e c u ja p ro te c ç ã o elia se p rev alece, u m a c o n c u rre n cia
cu ias th e o ría s e m e c h o d o de ensino m e lh o r lh e a p ro u v e r” — e a liberda p o d e ro sa n o te rre n o v e rd a d e ira m e n te leig o e n a c io n a l d e ensino su p e
de de ensinar — “a exiscencia d e p ro fesso res p a rtic u la re s e a creação d e r io r ” .25 Q u a n to ao g r a u acadêm ico, a firm a v a N a b u c o , ele e ra um “a rre s
cu rso s e e sta b e le c im e n to s livres, fa c ilita n d o assim a c o n c u rre n c ia q u e
ta d o d e c o m p e tê n c ia q u e o E sta d o d á ”, e não se d ev e d a r à Ig re ja ta l
p e lo a r t . I o se rá p e r m ittid a à n o ssa m o c id a d e ” .22 M a s já asso cíav a-se a
m o n o p ó lio , q u e só p e rte n c e ao E s ta d o . “O s n o b re s d e p u ta d o s ”, c o n ti
lib e rd a d e d e en sin o à lib erd ad e profissional (ou, in v e rsa m e n te , à regulação
n u a v a ele, “q u e n ã o recu am d ia n te d e id ea a lg u m a a d ia n ta d a , p o rq u e
d a s profissões) e , d a n d o -se c o n ta d o s riscos q u e a v in c u la ç ã o tr a r ia ao
razão não p e d e m com o nos E sta d o s-U n id o s q u e não h a ja g rã o s? P orque
se u p ro je to , C u n h a B u e n o tr a to u d e c o n to r n á - la ao c o n te s ta r u m a p a rte
n ã o p e d e m q u e to d o s sejam m é d ic o s, q u e to d o s p o s s u a m o ditefco saig-
d o d e p u ra d o C o rrê a d e A ra ú jo se g u n d o o q u a l a lib e rd a d e d e en sin o
nandi, purgandi, occidendil F o rq u e é q u e os n o b res d e p u ta d o s não q u e -
le v a v a à d e so rd e m d a s profissões e e x ig ira n a I n g la te r r a a re g u la ç ã o d a
re m q u e to d o s te n h a m a m esm a fa c u ld a d e d e a d v o g a r, q u e to d o s p o s
m e d ic in a .
sa m se r m a g istra d o s? N o s E sta d o s-U n id o s é assim ; só h á d e u s p rin cíp io s
C u n h a B u e n o a p resso u -se e m e sclarecer q u e o M edicai A ct d e 1858
ío g ico s, co n v en çam -se os n o b res d e p u ta d o s , o u in te ira lib e rd a d e de p r o
n a d a riv e ra c o m su p o sto s m a le s d a lib e rd a d e d e e n s in o , m a s c o m os
fissão, o u o g rá o conferido so b a g a r a n tia do E s ta d o .”26
in c o n v e n ie n te s d a lib e rd a d e p ro fissio n a l.23 T e n ta v a , a ssim , d isso c ia r os
N ã o era b em assim, e a lógica de N a b u c o tin h a p ro p ó sito s p u ra m e n te
d o is te rm o s d a eq u a ç ã o . U m a re sp o sta c la ra m e n te e q u iv o c a d a , o u p ro p o -
retóricos. Ele escolheu a dedo o exem plo, pro v av elm en te p a ra in stig a r o
s íta lm e n te fa lse a d a . O lib e ra l F ra n k lin D ó ria , f u tu r o b a rã o d e L o re to ,
espirito de corpo d o s m agistrados, dos advogados e d o s m édicos no p a rla
a c o m p a n h o u C u n h a B u en o e m su a p r o p o s ta d e e s ta b e le c im e n to s o u fa
m e n to e neste caso ele não m en cionou nem a experiência d a A lem an h a,
c u ld a d e s livres, p o is e m su a o p in iã o e ra necessário d a r fim no en sin o
o n d e a "liberdade d e cu rar” e o livre exercício d a advocacia e ra m tolerados a
s u p e rio r a o “o p p re ssiv o sy ste m a d a tu te lla official” . D ó r ia re c o n h e c ia
d espeito do m onopólio estatal dos g rau s acadêm icos, nem o d e sua qu erid a
e n tr e ta n to q u e , se m a ca p a c id ad e d e e x a m in a r e co n c e d e r g r a u s , o s e s ta
In g la te rra , onde os barristers m onopolizavam a advocacia em b o ra se educas
b e le c im e n to s n ã o oficiais p e rd e ria m c o m p e titiv id a d e , p o is “q u a e s são os
sem nas In n s o f C o u rt que não e ra m instituições e statais d e ensino.27 E ele
e s tu d a n te s q u e fte q u e n ta riã o este s e s ta b e le c im e n to s , se elle s n ã o lh es
b e m o sabia. M as N ab u co receava, não apenas q u e as faculdades livres se
offerecem o m e sm o p ro v e ito q u e os e s ta b e le c im e n to s officiaes?". A d e s
tornassem “a p ro p a g a n d a do fanatism o, a creação do s bispos”, m a s tam b ém
p e ito d isso , co n c lu ía ele, “a coliação d e g rá o s , Sr. P re s id e n te , é u m a p re r
ro g a tiv a q u e assu m e n o tá v e l im p o rtâ n c ia so b o asp e c to d o s effeitos legaes q u e se convertessem n u m a “especulação in d u strial q u e não d a ria resu lta
a ttr ib u id o s aos g rá o s e m relação ao exercicio d a s p ro fiissõ e s” , e q u a n to a dos . P ara ele as deficiências do ensino superior reclam avam so bretudo q u e
a u to n o m a s e a u to - r e g u la d a s . T a m b é m a e d u c a ç ã o d o s generalpractkionen o c o r r e u o u a tr a v é s d o
d o r, p a r a o p o r-se d e m a n e ira rad ical à lib e rd a d e d e e n s in o a n re s q u e a appnnticeship o u n o s c u r s o s e e s c o la s f u n d a d a s p e lo s p r ó p r io s c ir u r g iõ e s - a p o te c á r io s . A d e s p e i to
s u b m e te r a o s e x a m e s d o R o y a l C o lle g e o f P h y s ic ia n s . D e m a n e ir a g e r a i, a s o rg a n iz a ç õ e s p r o f is
s i o n a i s d e f i n h a m o c o n t r o l e s o b r e a f o r m a ç ã o p r o f i s s i o n a l . U m a e x c e l e n t e e x D o s íç a o d e s ta m a t é
22Annaes da Camara dm Deputados, Appendke, s e s s ã o e ra 4 d e s e te m b r o d e 1 8 7 7 , p p . 1 3 5 - 1 4 6 .
ria e s tá e m M ic h a e l B u r r a g e , " F r o m p r a c ti c e t o s c h o o l- b a s e d p r o f e s s io n a i e d ú c a tío n : p a t t e m s o f
s íd e m , p . 1 3 7 - 1 3 8 .
c o n f h c t a n d a c c o m m o d a ti o n i n E n g l a n d , F r a n c e a n d t h e U n i t e d S t a t e s " , e m S h e í d o n . R o r h b l a t t
s * I d e m , T ò i n o X s e s ^ d e s n 4 d e o u tu b r o d e 1 8 7 7 , p p . 3 2 - 3 9 - e B jö r n W i r t r o c k ( e d s ) , o p . c i t . , p p . 1 4 2 - 1 8 7 .
de sobre as faculdades tirasse o E stad o suas g a rra s, concedendo-lhes a m ais afin al, m e d ic in a ? O n d e so c o rre r-se d e a u to r id a d e c u ltu ra l n a esfera d o s
a m p la a u to n o m ia . c u id a d o s à saú d e? A q u a l c o rp o d e c o n h e c im e n to c o rre sp o n d e ria ta l a u
A u to n o m ia e r a ta m b é m o q u e desejavam p a ra as facu ld ad es oficiais to rid a d e ? Q u a í o c rité rio d e p e ríc ia m é d ic a ? O s p o sitiv ista s d iria m q u e
D ó ria e C u n h a B u en o , m as n u m reg im e c o m p e titiv o o n d e a p e n a s a c o n n u m 1re g im e d e lib e rd a d e p ro fissio n a l o m e rc a d o d a ria a m e lh o r resp o s
cessão d o s g ra u s acadêm icos p erm anecesse sob o m ono p ó lio d o E sta d o . t a a ta is q u e stõ e s em te rm o s d o ún ico critério v á lid o , a eficácia te ra p ê u tic a
P o r q u e essa restrição? D e p u ra d a s d o anticlericalism o, e to m a d a s e m c o n d a s v á ria s m e d ic in a s c o n c o rre n te s . N u m c o n te x to p ré -p a s te u ria n o , e n
ta as especiais relações e n tre o E sta d o e a Ig re ja católica no p a ís, as razões tr e ta n to , to d a s o b te ria m a p ro x im a d a m e n te a m e s m a p o n tu a ç ã o n este
d e N a b u c o n ã o e ra m in te ira m e n te in fu n d a d a s, e m e sm o u m p o sitiv ista ite m , p e s a n d o n a e sc o lh a d o c o n s u m id o r d e serviços m éd ico s a p en as su a
n ã o o rto d o x o com o P ereira B a rre to p re fe ria m a n te r n a “fase d e tra n siç ã o ”
lib e rd a d e in d ív id u a ip a r a se le c io n a r p ro v e d o re s individuah-, fossem eles
a função ed ucacional d o E sta d o , v isto q u e só ele e a Ig re ja p o d ia m a rc a r
h o m e o p a ta s , c u ra n d e iro s o u b a c h a ré is. Ã c o rp o ra ç ã o m é d ic a , o u a m e
com ta m a n h a e m p re sa .28 E n tre ta n to não h á evidências d e q u e e s te fosse o
d ic in a c o m o profissão oficiai, d e s in te g ra r-s e -ia e m fu m a ç a , p o is sua exis
a rg u m e n to q u e resp ald av a a restrição e m D ó r ia e e m C u n h a B u e n o , com o
tê n c ia e m a n a v a d o a v a l q u e o E sta d o d a v a aos se u s “p r o d u to s ” e à “p ro
n ã o h á evidências d e q u e fosse e sta a razão q u e viria d e m a rc a r o s lim ite s
d u ç ã o d e seus p ro d u to re s ”.
p riv a tiz a n te s d a re fo rm a p ro m o v id a p e lo m in istro Leônclo d e C a rv a lh o .
M a s seria esse u m p ro b le m a ta m b é m p a ra o E stad o , a p o n to de criar
C o m efeito , as faculdades livres d a re fo rm a d e 1 8 7 9 d ev eriam s e r réplicas
e ste considerável g r a u d e consenso e n tre liberais e conservadores? U m a das
d a s oficiais, o b rig a d a s a a d o ta r o currículo d a s fac u ld a d e s e s ta ta is e su b
teses m ais interessantes d e J o h n so n é a d e q u e a existência d e form as con
m eter-se à fiscalização d o g o v e rn o , p a ra fazerem jus ao priv ilég io d e c o n
c o rren tes d e perícia não apenas cria obstáculos à profissionalização das ocu-
c e d e r g ra u s a p ó s u m p erío d o p ro b a tó rio d e se te anos.29 P o r q u e e s ta res
pações, m a s ta m b é m reduz a coerência d o s p ro g ra m a s g o v ern am en tais.30
trição?
T raduzida a te se p a ra o contexto d o século X IX , com o p o d e ria o E stado
D o p o n to d e v is ta d o s p ro fissio n ais n ã o é difícil e n te n d ê -la . N o s
p ro g ra m a r d e m aneira consistente o c o m b a te aos tem id o s su rto s epidêm i
a n o s 4 0 a A c a d e m ia Im p e ria l d e M ed ic in a v is lu m b ro u as p re c isa s c o n se
cos d a cólera o u d a febre a m arela se as diversas “m edicinas”, tão diferentes
q ü ê n c ia s p a r a a p ro fissão m é d ic a d a ex tin ç ã o d o m o n o p ó lio e s ta ta l d o
u m a s d a s o u tra s e m seus fu n d am en to s e terap ias, ao fim e ao cabo se equi
d ip lo m a . D e f a to , se a E scola H o m e o p á tic a p u d e sse c o n c e d e r g r a u s , se
valiam ? A resp o sta m ais razoável é a d e q u e o E stado fatia sua opção p o r
o s seus e g re sso s n ã o h o u v essem d e se s u b m e te r aos ex a m e s d a F a c u ld a
a q u e la q u e contasse c o m m aio r capacidade d e “persuasão ideológica”, e ao
d e d e M e d ic in a p a r a o b te r o d ire ito ao exercício p ro fissio n a l, o q u e se ria ,
fazê-lo concederia algo sem elhante a u m “m ono p ó lio d e credibilidade” de
n a tu re z a p ú b lica.31
28R oque Spencer M acieí de Barros, op. cit., p p . 3 4 7-348.
 te se d e Jo h n so n é engenhosa, m a s é p o r d em ais fo u cau ltian a n a sua
^ D e v e ria m ser“ porque, com o se sabe, a criação de faculdades livres era a m dos pon to s do
D ecreto de 1879 « q a implementação dependia de aprovação íegislariva. O Aviso d e 2 1 de m aio form ulação e e m su a lim ita d a validade histórica. N ã o existem evidências
d e 1879, a que se resum iu a chamada Reforma Leôncio de Carvalho, pu n h a em execução apenas
historrcas d e q u e os surtos epidêm icos q u e assolaram os E stados U n id o s no
alguns dos dispositivos contidos no referido decreto, com o o da freqüência livre. N a sessão
legislativa referida na n o ta 2 5, N abuco discute esse p onto: "Então, senhores, © decreto não tem século X IX te n h a m levado as leg islaturas e sta d u a is a “oficializar”, m esm o
alcance prático; sí não se pode realizar em nenhum a das suas p artes essenei&es independente
m en te do voto do parlam ento, não é decreto, não é u m acto com pleto do po d er executivo..." (p.
2 03). O período probatório a qu e m e refiro eram os sete anos consecutivos ao longo dos quais as Jo h n so n , G overam entafity and th e institutionalization o f expertise“, o p. cit., p . 15.
faculdades livres deveriam te r quarenta de seus alunos aprovados nos exames, das faculdades verdade, esta nãò e a resposta de Johnson, qu e não sngeriu aenhum a, m as de Larson, op.
oficiais. QC,.pv 38.
provisoriam ente, q u a lq u e r d a s “m edicinas” q u e concorriam n o m ercado.
{K urksfm èezt} e x istiu a n te s e após a unificação, e o s “c u ra d o re s n a tu
D a d a a su a superioridade num érica, os m édicos regulares tin h a m condições rais” (h o m e o p a ta s, herb a lista s e o u tro s) g o z a ra m d e g ra n d e co n ceito e n tre
d e , a nível local, discrim inar os ho m eo p atas, os ecléticos e o u tro s “sectá
a s e lite s d o T erceiro R e ic h .^ E o a d v o g a d o não d ip lo m a d o {Rechtskon-
rios”, excluindo-os d a s comissões sanitárias o u dos po sto s hospitalares, m as
sulenten) so b re v iv e u à v ira d a d o século a d e sp e ito d a h o stilid a d e d a s a s
não se tra ta v a a í d e decisões d e governo. N a v erd ad e, S ta tr ob serv a q u e sociações p ro fissio n a is.35
tan ro a im p ren sa q u a n to os trib u n a is e os legislativos m an tiv eram -se sem
Ha» e n tr e ta n to , trê s exem plos históricos d e “oficialização" das p ro fis
p re d istan tes dos conflitos e n tre as “m edicinas” concorrentes» g u a rd a n d o
sões p e la v ia d o sistem a educacional nos q u a is definições c o n c o rre n tes de
u m a a titu d e rigorosam ente agnóstica, e q u e q u an d o pressionados p e la o p i
profissão fo ra m p o sta s n a ilegalidade p o r razões d e E stad o , m a s não exa
nião p ú b lic a já a g astad a os legisladores encam inhavam soluções d e c o m p ro
ta m e n te p o r aq u elas d e q u e se socorre J o n h s o n . H m p rim e iro lu g a r, a
misso» com o o co rreu no E stado d e M ichigan em 1875 q u a n d o o legislativo
F ran ça. A reg u la ç ã o profissional e ra indissociável d a s re fo rm a s no ensino
o b rig o u a M e d ic a i S chool d a u n iv e rsid a d e e s ta d u a l a in c o r p o r a r os
superior, e esta s não fo ram pro m o v id as p o r N a p o le ã o p o r razões p e d a g ó
h o m eo p atas no seu quadro d o cen te e as disciplinas hom eopáticas n o c u rrí
gicas, m a s p o r razoes d e E stad o . A té m esm o p o rq u e fo ra m p e rm itid a s
culo.32
un iv ersid ad es provinciais, a un ifo rm id ad e social e a e sta b ilid a d e p o lític a
N a I n g la te rra , o p e río d o d e 1 8 3 4 a 18 54 foi ch a m a d o d e “o s an o s d e
to m a ra m -s e u m a preocupação c e n tra l n a re fo rm a na p o leô n ica. A m b a s, a
c ó lera” , m a s ta m b é m d e “a e ra C h a d w ic k ” p o r refe rê n cia a sir E d w in
u n ifo rm id a d e e a estab ilid ad e, d ev eriam se r servidas p o r co rp o s docentes
C h ad w íck , a p rin c ip a l fig u ra associada à saú d e p ú b lic a , u m d o s trê s m e m
m o d e la d o s à m an eira das corporações: estáveis, p e rm a n e n te s, so b u m con
b ro s (n e n h u m m édico) d o G e n e ra l B o ard o f H e a lth (criad o p e lo P u b lic
ju n to unificado d e re g u la m e n to s m a s ta m b é m d e d o u trin a e d e ação.36 As
H e a lth A c t d e 1 848), u m advogado a d e p to d a s soluções d e e n g e n h a ria
in stitu iç õ e s educacionais refletiriam o m a is fie lm e n te possível a idéia de
p a r a o s p ro b le m a s d e sa ú d e p ú b lic a e d e escassa c re n ç a soluções
u m E sta d o u n itá rio e centralizado q u e disp en sav a ta m b é m e m su a relação
m é d ic a s.33 P o r o u tro lado» se o M e d ic a i R e g is ta r re p re s e n to u , se m d ú v i
c o m a sociedade a m ediação d a s associações, Inclusive as profissionais.
d a , u m av al d o P a rla m e n to à m e d ic in a re g u la r (a lo p á tic a ), ta m b é m é
E v id e n te m e n te , havia ta m b é m u m p ro p ó sito p ra g m á tic o . A s faculdades
v e rd a d e q u e a “lib e rd a d e d e c u r a r ” p e rm a n e c e u le g a lm e n te p ro te g id a
oficiais fo rm a ria m os profissionais d e q u e necessitava o E sta d o , m as a ên
n a I n g la te r r a p e lo M edica! A c t, menos dentro da burocracia estatal. N a
fase p ra g m a tic a d o p ro jeto napoleônica estav a m u ito m ais nas grandes écoles,
A lem anha» o a rq u é tip o d o E s ta d o c e n tra liz ad o , com a excelência e p re s
in stitu íd a s p a r a fo rm ar a e lite do Estado» do q u e n&sfacultes com s e u e n s i-
tíg io d e s u a s u n iv e rs id a d e s , to d a s e s ta ta is , a “lib e r d a d e d e c u r a r ”
q u e p o d e ria m se r adotados em to d a s as m atérias nos cinco anos d e duração b re disciplina (“p o liria acadêm ica” o u “po líc ia d a E scola”) d e stin a d o aos
d o curso.46 D u ra n te o Im pério n e n h u m governo, co n serv ad o r o u liberai, e stu d a n te s.50 A “opressiva tu te la oficial” a q u e se referia F ra n k lin D ó ria
a b riu m ã o d a p re rro g a tiv a de indicar o u aprovar os co m p ên d io s utilizados sufocava; “o p ro fesso r”, queixava-se Tavares B elfbrt, d a F a c u ld a d e d e D i
n o s cursos d a s escolas d e direito, não sem resistências p o r p a rte d a s co n g re re ito d o R ecife, “n ã o p o d e o rg a n iz a r u m p la n o d e e n sin o , n ã o p o d e
&A s razões para ta n to zelo podem ser inferidas pelo seguinte com entário d o Visconde sobre o
D ire ito P úblico: "8 ° — Com o, porém , a base essencial deste direito seja o com plexo dos direi
to s e obrigações das nações para com os Soberanos, e reciprocam ente, cum pre qu e com m u ito ““ Aviso q ° 19 9 — Im pério — Em 2 0 de dezembro de 1828 — O rdena q u e as aulas preparatórias
discernim ento se m o stre aos discípulos a n atureza dos m esm os direitos, e obrigações, e se do Curso Ju ríd ico de São R ndo fiquem a cargo dos respectivos D iretores, ficando som ente sob
estabeleçam os seus verdadeiros lim ites, do qu e depende a tranquilidade publica, e a consoli a inspecção d o Presidente da p ro v in d a as aulas de prim eiras letras.
dação d o govem o- 9 o — E sendo boje m u i discutidas estas m atérias, as explicará com m u ita ^A viso— Justiça — E m 22 d e fevereiro de 1845.
m adureza, e cuidado...”. 50N a Escola Polytechnica as provas do concurso para preerrciumento das vagas d e Substituto
^A viso a® 145 — Im pério — Em 4 de outubro de 1828 — Resolve as duvidas propostas pelo m eteriam do govem o instruções detalhadas sobre sorteio dos pontos, o núm ero de qnestões da
L ente da 2a cadeira do 2o ano do Curso Jurídico de São Paulo sobre as m atérias que deve ensinar prova e a fornia pela qual seriam enunciadas, o tem po d e duração do exame oraí, votação ( “p o r
e sobre o com pendio p o r onde há d e lecionar: Em 1860 o governo forçou a congregação da escrutínio secreto") sobte o “merecimento de cada candidato" (“p o r escrutínio secreto”), a forma
Faculdade d è D ireito de São Paulo a recuar de um a decisão segunda a qual pertenceria à “a u to de classificareis aprovados (tam bém po r “escrutínio secreto”), e outras questões da mesma n a tu
nom ia d a C ongregação a escolha dos compêndios”. A resposta do governo veio n o Aviso ri* 6 0 0 reza. N o Regulam ento d e 1881 para os exames da Faculdade de Medicina o govem o achou
de 2 9 de dezem bro do m esm o ano: “a autonom ia d a Congregação, pelo m odo porque ela qu e r necessário incluir a proibição de troca de lugares entre os estudantes (Art. 40). Para a Polytechnica,
entende-la, não existe, nem podia jamais existir; os estatutos a repelem . A adoção dos compêndios D ecreton0 5 6 0 0 d e 2 5 d eab rií de 1874 (3a Parte, A rt. 3 2 ,3 6 ,3 7 ), para a Faculdade d e Medicina,
n ão é direito exclusivo ou privativo dos lentes, porque im portaria isto p rivar o G ovem o de D ecreto n° 8 0 2 4 de 12 de março de 1881. Tudo à revelia das congregações e do diretor.
exercer interferência e inspecção a respeito d e um a m atéria tão transcendente n o ensino pubíico, 51j . j . Tavares Belfort, “Memória. Histórica da Faculdade de D ireito do Recife”, em Relatorio do
■esq u e é inadmissível”. Datava-se, no caso, d e um com pêndio sobre D ireito Romano de autoria Ministério do Impem — 1874 (Anexo B). Rio de Janeiro: Imprensa Oficiai, 1874, p.. 17. A p rep a
d o lente D c. Em es to Ferreira França. ração destas “mem órias históricas1' era. a m a exigência do govem o.
IV e s tu d a n te s d e d ire ito se v a i rarefazen d o p o rq u e é m u ito p e n o so u m a m a
tric u la q u e c u s ta 1 0 0 $ F”54 N a v e rd a d e , não h o u v e red u ção d e m atríc u la s,
M as havia ainda duas o u tra s funções desem penhadas peias faculdades oficiais, m a s as tax as e sta v a m e fe tiv a m e n te fo ra d o alcance d e u m la rg o se g m en to
e não m e n o s im p o rta n te s, o clientelism o e a seleção social. O s m esm os d a sociedade.
d etalh ad o s dispositivos q u e regiam a adm inistração escolar e ra m fre q ü e n te B em ex am in ad o s, o q u e h á d e co m u m e n tre estes trê s e x em p lo s, e o
m e n te desconsiderados peio governo n o a te n d im e n to a u m a significativa q u e esclarecem ele s so b re este já co m p licad o en red o ? E m p rim e iro lugar,
clientela política.. F o ra m centenas os decretos p e lo s qu a is m a n d a v a -se m a rev o lu çõ es, re v o lta s p o p u la re s e forças reg io n ais c e n tríp e ta s in tro d u z ira m
tric u la r n a escola.©u e m determ in ad o ano» o u a d m itir a exam es, can d id ato s o a a g e n d a d o s g o v e rn a n te s o p ro b le m a d a u n id a d e n ac io n a l, e n e ste p a r
sem as m ín im a s qualificações, n u m fro n ta l d esc u m p rim e n to d o s e s ta tu to s e tic u la r o c o n tro le d o siste m a ed u cacio n al foi u m in s tru m e n to e stratég ico .
re g im e n to s, se m p re “revogadas as disposições e m co n trário ’’'.52 E se solicita É b o m le m b ra r q u e n o B ra sil o m e sm o p ro b le m a re ssu rg iria n a R epública
ções d e e m p re g o n a s faculdades (com o professor o u e m posições adm inis n o s d e b a te s so b re o re g im e fed e ra lista , e q u e d a solução re p u b lic a n a cons
trativ as) não era m as m ais freqüentes, não deixavam d e te r se u peso d e n tro t o u a padro n ização d o en sin o su p e rio r p e la v ia d a equiparação d a s in s titu i
d o clien telism o im perial.55 ções p a rtic u la re s às oficiais q u e lhes serviriam d e m o d e lo . E m segundo
Q u a n to à função d e filtra g e m social, d u r a n te discussão d o o rç a m e n to lu g a r, ta n to n a F ra n ç a q u a n to n a Itá lia e n o B rasil, a e lite e a lid eran ça
n a C â m a ra e m 1 8 4 $ , Francisco Ig n a c ío d e C a rv a lh o M o re ira , fu tu ro b a profissionais sa íra m d a s facu ld ad es e s ta ta is , n ã o d a m a ssa d o s p ra tic a n te s
rão d e P e n e d o , le m b ra v a o patronato com o “a p o r ta fra n c a p o r o n d e e n trã o se m q u alificação fo rm a l, c o m o n o s E sta d o s U n id o s e n a In g la te rra . Elas
e saem o s m a is estú p id o s bacharéis”, m a s s o b re tu d o c ritic a v a o g o v e rn o nasc e ra m d e n tro d o E s ta d o , n u trira m -se no E sta d o e nele se fo rtaleceram
p e io v a lo r d a s m a tríc u la s q u e im p e d ia m a e n tr a d a d o s c a n d id a to s m ais a tra v é s, e n tre o u tro s recursos, d a “oficialização” d e su a s associações cultas
p o b re s. “A té com so rp re sa sua”, dizia e le, “vio q u e já e m a lg u m te m p o (acad em ias d e ciências, in s titu to s , e tc .). E m terceiro lu g a r, o E sta d o e ra o
n e s ta c a m a ra se disse q u e e ra necessário ele v a r a ta x a d a s m a tric u la s p a ra g ra n d e e m p re g a d o r d o s profissionais, seja nas faculdades oficiais, seja na
q u e n ã o c h e g a sse m a ser h a b ilita d a s c o m u m d ip lo m a d e u m a acad em ia b u ro c ra c ia g o v e r n a m e n ta l ( m a g is tr a tu r a , h o s p ita is p ú b lic o s , m u n i
d e d ire ito p esso as p e rte n c e n te s a classes in fim a s d a sociedade! C om o se a cip alid ad es n a Itá lia , co rp o s d e en g e n h e iro s no B rasil e n a F rança). E m
n o ssa c o n stitu iç ã o tivesse m arcado o berço a c a d a u m d o s b ra rile iro s, com o c e rto se n tid o a b u ro cracia e sta ta l, c o m s u a e s tru tu ra h ie rá rq u ic a e h o ri
se a c o n stitu iç ã o rivesse designado q u a e s e rã o as classes d o n d e devião sahir z o n ta lm e n te d iferen ciad a, e stratifico u as profissões a n te s m e sm o q u e elas
o s m a g is tra d o s , o s p a rla m e n ta re s, os e sta d ista s d o pais; co m o fin a lm e n te , p u d e sse m desen v o lv er seus p ró p rio s c rité rio s d e diferenciação in te rn a (pe
se a co n stitu ição não tivesse g ara n tid o expressam ente o e n sin o d o s collegios rícia, especialização, e tc .). A b u ro cratização p reced eu a profissionalização
e u n iv ersid ad es Q u e m ig n o ra , p o r e x e m p lo , q u e h o je o n u m e ro d o s e , a sso ciad a a c rité rio s p a rtic u ía rista s, c o n trib u iu sig n ificativ am en te p a ra
a s consideráveis desig u a ld a d e s in trap ro fissio n ais. A n in h a d o s no cu m e d a
d e d o u to r (1 0 0 $ ) e o respectivo títu lo (2 5 $ 0 0 0 ), a lé m d e o u tr a s d esp esas p ó lio e s ta ta l d o s g rau s resultasse em corrupção das idéias, dos costum es
políticos e n u m a real am eaça à M o n arq u ia. O rigoroso c o n tro le q u e o g o
c o m e x p e d ie n te s acadêm icos.60 R esidindo fo ra da s pro v ín c ia s o u d a s c id a
v e m o m a n tin h a sobre a seleção d o s co m p ên d io s nas faculdades de direito
d e s o n d e se localizavam a s escolas, as d esp esas d o s c a n d id a to s à s p ro fis
não foi arrefecido d u ra n te o Im p é rio , e a in d a assim havia q u e m , com o o
sões cresciam d e sm e su ra d a m e n te . E screvendo ao se u “avô p o stiç o ” e m
se n a d o r Jo sé M a rtin s d a C ruz Jo b im , condenasse a le itu ra d o Contrato social
1 8 4 2 , o b aian o  n to n ío Saraiva, d e o rig e m m o d e s ta e fu tu ro conselheiro
pelos e stu d a n te s d e direito de São Paulo com o u m risco descabido: “N in
d o Im p é rio , solicitava a u m e n to d a m e sa d a d e 3 0 $ 0 0 0 p a r a 4 0 $ 0 0 0 p a ra
g u é m d e boa fé o u d e boa form ação jurídica”, afirm ava J o b im , “adm itiria
fa z e r fre n te a g a s to s pessoais e n q u a n to c u rsa v a a esco la d e d ire ito e m São
ta m a n h o despaurério. O Senado conhece o ex trem ad o m o d o p o r q u e esse
F a u lo .61 F e ita s a s c o n ta s, fa z e r u m b a c h a re l e m d ire ito o u e m m e d ic in a d e
a u to r ÊJ.-J. Rousseau} p re g a as suas d o u trin a s. E ssa o b ra su ste n ta o concra-
u m c a n d id a to exilado d e su a p ro v in d a d e o rig e m o u n ã o re s id e n te n o Rio
senso d e q u e o s governos das nações dev am ficar sob o arb ítrio d a v o n tad e
d e Ja n e iro , São P a u lo , S alvador o u Recife c u sta v a a lg o e m to rn o d e 2 :5 0 0 $
dos povos” .64 M o n arq u istas com o Jo b im , anticlericais com o N a b u c o , libe-
(dois c o n to s e q u in h e n to s m il réis), u m a p e q u e n a fo rtu n a p a r a a s fa m ílias
d e p o sses m a is m o d e sta s, u m d isp ê n d io in im a g in á v e l p a r a a g r a n d e m a io
®PeIo câm bio da época (1$ — U S$0,55) e tom ando-se em conta apenas as taxas escolares, um
ria d a população.,® estu d an te d e m edicina no Brasil e nos Estados U nidos tinham o m esm o custo em 1850 (US$
6 0 3 no Brasil, US$ 60 0 nos Estados U aídos). Á s diferenças, q u e faziam a formação profissional
n o Brasil significativam ente mais cara, estavam nos custos de oportunidade; isto é, n o q u e o
^Relatório do Ministério ã& império, 1835. estu d an te estaria deixando de ganhar se estivesse trabalhando, e no que renderiam US$ 6 0 0 se
®Era 1854 cobrava-se-ms Escolas d e Medicina 50 0 réis p o r certidão do exam e preparatória, 1$ estivessem aplicados a um a certa taxa de juros- N o Brasil estes custos seriam contados p o r seis
p o r certidão de a to acadêmico, 2$ p o r certidão de g ra u d e doutor; 1$ p o r certidão de q ualquer anos; n o s Estados U nidos, po r m enos d e q u a tro (três anos d e apprenticesbip com plem entados
objeto pela I a página e p o r cada p á g in a adicional, etc. Ver D ecreto n ° 1497 d e 2 3 d e dezem p o r aproxim adam ente 26 semanas d e cursos form ais). Para u m estu d an te americano Starr
b ro de 1 8 5 4 — A pptova tabela dos em olum entos q u e se devem perceber n a Secretaria da Facul calculou estes custos de oportunidade e m US$ 1 5 0 (tem po) e em US$ 125 (capital, a um a taxa
dad e de M e d ian a desta C orte e da Cidade da Bahia. d e 10% ), elevando o custo da formação profissional para US$ 875- Ver Starr, op. cit., p . 456,
^'Correspondência transcrita em W anderley Pinho, ‘Infância e M ocidade de Saraiva", o p . cit. nota de rodapé n ° 1 2. Para o câmbio da época, Stanley J . Stein, Vassouras: A Brazilian Coffee
^ A p en as pata efeito de. avaliação algo impressionista d o investim ento e d o seu reto m o , e n tre CosmSy’r 1850-2890. N ova York: A theneum , 1970, p . 2 9 3 (Appendix). D efendendo no Senado,
1871 e 1882 o rendim ento anual d e um. prom otor público e m comarca d e segunda exitrância n o em 1 8 6 2 , a am pliação do núm ero de escolas m édicas, o Dx. C ruz Jo b im falava em custos
interior (Rio Preto e M areie Espanha em MG, Itajaí, SC, São Bernardo das Russas, C E ) estava em superiores a 10:000$ para a formação d e u m médico residente fora do Rio ou da Bahia. Reginaldo
t o n o de 1:200$'; Decretes a® 48 2 8 de 33 d e novem bro de 1871; D ecreto n° 6381 d e 3 0 de Fernandes, o p . cít., p . 149-
novem bro de 18 7 6 ; D ecreto n° 8 7 5 7 de 18 de novem bro de 1882. 34ReginaIdb Fernandes, op. cit., p . 170.
rais com o D ó ria , conservadores com o C u n h a L eitão, e a té positivistas com o privados, devia en c o n tra r rem édio e m diques m en o s frágeis, e m e stru tu ra s
Pereira B arreto , todos acalentavam tem ores de que sobreviesse algum a ca estatais erigidas p a ra p ro v e r a sociedade com m odelos e p a ra d ig m a s, com
tástro fe social n a eventualidade d a extinção do m onopólio e sta ta l dos g ra u s ordem e segurança. Tanto q u a n to N a b u c o ou. D o n a , N in a R odrigues estava
e d a instituição d a liberdade profissional. im p reg n ad o de u m liberalism o e sta tísta q u e descria d a capacidade d e o rg a
O espírito d e corporativism o profissional, alim entado nas escolas oficiais nização d a sociedade, m enos p o r razões objetivas d o q u e p e k . crença na
an tes m esm o q u e as profissões se organizassem no m ercado, ta m b é m ele im a n e n te carg a de d e so rd e m q u e ele associava a o livre jogo dos interesses
g e u o ensino oficial como o ancoradouro seguro de privilégios. V inte anos privados, im p o n d o -se, como indispensável, a regulação discíplinadora do
após a intervenção de N abuco na C âm ara, e q u an d o já estava em curso a E stado.
re fo rm a L e o n d o de Carvalho, N in a R odrigues a p o n ta v a as escolas oficiais
d e ensino su p erio r com o o últim o b alu arte d a ciência e d a perícia profissio
n a l. P ara o m édico baiano o governo deveria fiscalizar as faculdades livres VI
p a ra g a ra n tir o valor profissional dos diplom as p o r elas conferidos. Q u a n to
às faculdades oficiais, m ais do que “corporações docentes” au tô n o m as e m ais Áo fim e ao cabo, venceram os credenciaiistas. M as os positivistas p o r d u a s
d o q u e sim ples escolas profissionais, deveriam se co n stitu ir em “padrões d o vezes te n ta ra m re v e rte r a situação. P rim eiro, su b m e te ra m à Com issão de
ensino m édico e grandes centros de c u ltu ra das sdencias biológicas. Q u a n C onstituição, Legislação e Ju stiç a d a C âm ara o p ro jeto d e lei in te rp re ta tiv a
d o a m an h ã, d estru íd o o frágil dique d a actu al exigencia d a m odelação das n ° 2 4 d e 16 d e ju lh o de 1891* cujo prim eiro artigo dizia q u e “o exercício das
F aculdades livres nas Faculdades offidais, tiver auctorisação p a r a conferir profissões d e q u a lq u e r o rd em , m o rai, intelectual e in d u stria l, a q u e se refere
d ip lo m a de m edico q u a n to hospital, q u a n ta reunião de alg u n s m édicos se o a rt. 7 2 , § 2 4 , d a C onstituição, n ã o d epende d a obten ção o u exhibição de
q u iz e r co n stitu ir, o abaixam ento do nivel d a instrucção clínica e n c o n tra rá q u a lq u e r titu lo o u diplom a”; o segundo artig o , q u e “ficam revogados os
correctivo n a s escolas convenientem ente organisadas p a ra q u e se h á d e a rts. 156, 157 e 158 d o Codigo Penal, o capitulo V d o D e c re to n ° 1 6 9 , de
ap p eliar com o centros de aperfeiçoam ento, e o G overno saberá o n d e buscar 18 d e janeiro d e 1 8 9 0 , e todas as dem ais disposições q u e forem expressa e
profissionaes n a a ltu ra de auxilia-lo n a grave m issão d e zelar pela saude im plicitam ente contrarias ao livre exercido d e q u a lq u e r profissão sdentifica,
p u b lic a e p e la segurança in te rn a e ex tern a d a N ação ” .65 E m síntese, N in a iitteraria, te c h n ic a o u p ra ric a " . E n tre o u tra s razões p a ra rejeitar o p ro je to , a
R odrigues, professor d a Faculdade d e M edicina d a B ahia, não se co n te n ta v a Com issão afirm ava q u e o dispositivo co n stitu tio n a l não tin h a o p ro p ó sito
c o m a uniform ização do ensino, com a im posição do m odelo d a escola ofi de ex tin g u ir d ip lo m as e títu lo s científicos com o critério d e adm issibilidade
cial d e q u e era. destacado p ro d u to e re p ro d u to r; deseja ta m b é m a estre ita a alg u m as profissoes, pois o b e m geral e o do- indivíduo ficavam m elh o r
fiscalização das. faculdades livres pelo p o d e r público com o m eio d e vigiar a p ro teg id o s com precauções indispensáveis n a p rática d e certas artes e tiê n -
execução d o m odelo. Como tan to s do seu tem po. N in a R odrigues desconfiava tias. N o sentido contrário, afirm ava a Com issão, ia o p ro jeto d e lei ao p er
d a organização dos interesses privados n u m a esfera co n stitu tiv a d a ordem m itir fran cam en te o curandeixism o, a m a g ia e a carto m an cia, m odalidades
social. N u m p la n o m ais geral, a desordem profissional (“q u a n to hospital, d e exploração d a credulidade pública, ao dispensar as p ro v a s autên ticas de
q u a n ta reunião d e alguns m édicos se quizer constituir. q u e tra rá abaixa idoneidade p a ra o exercício, d a fa rm á tia e d a m edicina. D e s ta fo rm a, carecia
mento d o s p ad rõ es e que vem n a vag a d a livre e aleatória reunião d e interesses ele d e fu n d am en to p a ra ser aprovado.66
“ O t e x t o i n t e g r a l d o p r o je t o e d o p a r e c e r d a C o m i s s ã o d e C o n s t i t u i ç ã o » L & g í s l a c ã o e Ju s t i ç a
® N ia a R o d n g tie s , op. c i t . , pp. 48- 49. e s tã o e m A g e n o r d e R o u r e = o p . c i t . , , p . 6 7 7 - Ó 7 8 .
Á se g u n d a te n ta tiv a veio no c o n te x to d o s arran jo s p o lítico s p a ra a n a â n sia d e e lim in ar d o m ercado os “charlatães” e os “curandeiros”, a fragi
fo rm ação d o m in istério d e H e rm e s d a F onseca. Á no m eação d e R ivadávia lid ad e d a s denuncias e o s vícios d o s in q u éritio s in sta u ra d o s p e la s a u to rid a
C o rrê a p a ra a p a s ta d a J u s tiç a a te n d ia aos interesses d e B o rg es d e M edeiros d e s policiais resu ltav am q u ase se m p re e m absolvição dos indiciados o u em
q u e e sp erav a não a p e n a s n eu tra liz a r, com o b o m p o sitiv ista , a influência a rq u iv a m e n to dos processos. M as, excluídos os casos d e insanável vício p ro
d o g o v e rn o fed eral no en sin o superior, m a s ta m b é m im p le m e n ta r, ao lado cessual, os juizes inclinavam -se a ig n o ra r o D ecreto n° 8 6 5 9 e a proferir
d e P in h e iro M a ch ad o , o “p ro g ra m a o rg â n ic o ” d o s g a ú c h o s.67 N o m e a d o , sentença co n d en ató ria. U m acórdão d o T ribunal d e J u s tiç a d o E stado de
R iv ad áv ia e d ito u , p o r auto rização legislativa, o D e c re to n ° 8 6 5 9 , cujo a rt. São Paulo declarou-o “e m d iam e tra l opposição à letra e esp írito do a rt. 7 2 ,
I a e ra c u rto e sim p les: “A in stru ç ã o su p e rio r e a fu n d a m e n ta l, d ifu n d id a s § 2 4 , d a C onstituição F ederal B rasileira, cuja disposição te m sido tão m a l e
p eio s in s titu to s c ria d o s p e la U n ião , não go zarão d e p riv ilég io d e q u a lq u e r so p h isticam en te in te rp re ta d a ”.70 T am b ém o Suprem o T ribunal F ederai ig
n a tu re z a .”68 H a v ia m a is: “O C onselho S u p e rio r d e E n sin o , criad o p e la n o ro u o D e c re to n° 8 6 5 9 , reafirm ando a exigência d e d ip lo m a p a ra o exer
p re s e n te le i, s u b s titu irá a função fiscal do E sta d o ; e sta b e le c erá as ligações c id o profissional.71
se , a R e fo rm a R ivadávia desoficializava o siste m a d e e n sin o su p erio r, ex m o u a m esm a d o u trin a : a exigência d o d ip lo m a e a valid ad e leg a l apenas
p e la R e fo tm a E p itá tio Pessoa (D ecreto n ° 3 8 9 0 d e 1 d e ja n e iro d e 1 9 0 1 ), cred en d alism o acadêm ico p erm an eceu com o princípio c o n te sta d o a despei
to d e sucessivas decisões judiciárias q u e o consagravam , e vale re g istra r u m a
e in s titu ía a lib e rd a d e profissional a o e lim in a r o s p riv ilég io s v in cu lad o s
d a s ú ltim as contestações a n tes q u e revisões c o n stitu d o n a is a p a r tir d e 1930
aos d ip lo m a s.69
d efinitivam ente liquidassem com a controvérsia.
A R efo rm a c rib u razoável confusão, a té p o rq u e p e rm a n e c era m e m v ig o r
"Voto d iv erg en te e m decisão do S uprem o T ribunal F ederai, E d m u n d o
o C ódigo P e n a le a legislação sanitária (inclusive a d o s E stad o s) q u e exigiam
o d ip lo m a p a ta o exercício d a m edicina, d a farm ácia e d a “a rte d e n tá ria ” .
C o m base n o s a rtig o s 1 5 6 ,1 5 7 ,1 5 8 e 15 9 d o C ódigo P enai, os m édicos e as ^A n to m o Cândido d e A lm eida e Silva (m inistro relator), U berdade Profissional — Accordam
pro fendo pek> Tribunal d e Ju stiç a d e São Paulo 0 0 Recurso C rim e n ° 2 8 6 8 d e S. B ento do
a u to rid a d e s sanitárias insistiam nas denúncias d e p rá tic a ile g a l dessas p ro Sapucahy. São Paulo: D u p ia t & G a , 1915, especialm ente p . 1 5 - 0 Tribunal negava recurso a
fissões fa z e n d o d e alvo preferencial o s e sp iritas, c o n tta o s q u a is h av iam A ntonio d e Paiva M artins, jovem de 18 anos, denunciado p o r prática ilegal da profissão de
dentista. A legou o réu q u e exercia a profissão sem títu lo com fundam ento n o A rt, I o do D ecreto
m o n ta d o d e sd e Siraís d o século a n te rio r u m a p e rtin a z ca m p a n h a . Todavia, n 0 8 6 5 9 de 5 de abril d e 1911.
71A resto 16 4 2 : “A liberdade profissional assegurada pelo a rt. 7 2 , § 2 4 , d a C onstituição não
e x d u e a necessidade d o titu lo de habilitação p a ra exercer n o Brasil a m edicina e outras
67Jo sep h L . Love,, FioG nmde do Sui and Brazilian. Regionalism, 1 8 8 2 -1 9 3 0 -Stanford: Stanford profissões cientificas” (1 0 .4 .1 9 1 2 ). Ver ta m b é m os de n ú m ero 1 6 4 3 (7 .8 .1 9 1 2 ), 1644
U niversity Presa-, 1 9 7 1 , p p . 153-154. (19-4.1913), todos em Jo sé Affonso M endonça d e A zevedo,ri Constituição Federal Interpreta
®Lei O rganica d b Ehsrars Superior e do Fundam entai na Republica a qu e se refere o D ecreto n° da pelo Supremo Tribunal Federal (18Ç l-lÇ 24).R io d e Jan eiro : Typ. da “Revista do- Suprem o
8 6 5 9 , desta d ate — Décrefèon6 8659 de 5 de abril d e 1911: Aprova a Eel O rganica do Ensino T ribunal”, 1925-
Superior e do Fundam ental :aa Republica. ^A resto 1648: "Ji em vários Acc. tem julgado o ST F que somente os indivíduos habilitados pelas
®A Reforma Benjamin* C onstant (Decreto n ° 1232 d e 2 d e janeiro d e !8 9 l)lim ita v a a equiparação faculdades de Direito oSiciais, e peias livres a essas equiparadas pódem exercer a advocacia, e as
apenas às escolas dè diieito:, o D ecreto n° 1159 de 3 de dezem bro d e 1892 estendeu-a para as petições úuciaes asstgnarias por esses advogados são as unicas que devem ser admitridas.” José Affonso
dem ais escolas. A KefoErna Epitácio Pessoa instituiu m ecanism os m u ito rigorosos d e fiscalização Mendonça de Azevedo, o p. cit. A referência a petições iniciais rem ete ao art. 5° do Regimento de 15
daquelas q u e obtivessem a equiparação. de março de 1842, pelo qual só advogados formados podiam assinar tais petições. Idem, íbidem.
L ins re b a te u u m a a u m a as diversas teses d o s cre d e n c iaü sta s,73 m a s a U m a ú ltim a observaçao: é b a sta n te provável q u e u m a desastrad a te n ta
fundam entação' cen tra l d o seu voto residia no seg u in te a rg u m e n to : ao não tiva. de co n fro n to com o Suprem o te n h a exacerbado a resistência d a m ag is
fazer q u a lq u e r refe re n d a às profissões liberais, a C onstituição d e 1 8 2 4 de tra tu ra brasileira à tese d a irre strita liberdade profissional. O c o rre u q u e em
fato preservava os privilégios q u e a a n tig a legislação p o rtu g u e s a concedia 1 8 9 4 o m arech al F lcn an o Peixoto, aproveitando-se de um a redação falha
aos advogados e m édicos; estes privilégios ficaram e x tin to s p eio § 2 4 d o a rt. q u e na C onstituição deixara de m encionar o requisito do “notável sab er e
72 d a C onstituição de 1891, visto q u e a fonte deste dispositivo constitucio rep u tação ” jurídicos^ n o m eo u u m dileto am igo, o m édico B ara ta R ibeiro, e
n al, orig in ad o d e u m a em en d a ap resen tad a p o r Ju lío d e C astilhos e aceita m ais q u a tro correligionários p a ra p reen ch im en to d e vagas no S uprem o Tri
p e la c h a m a d a C om issão dos V inte e U m , era o n° X I X d o a rt. 3 7 d o p ro jeto bu n a l Federal, im agino nao so m en te o s sisudos m inistros, m a s coda a m a
d e constituição oferecido ao C ongresso C o n stitu in te p o r M ig u e l L em os e g is tra tu ra brasileira, projerando u m q u a d ro co n stran g ed o r sobre o c o n tu r
Teixeira M endes. Proferindo o v o to divergente, co n tin u av a L ins, ele apenas bado p a n o d e fundo cia jacobina Repúblicas d d a d ã o s em inentes, o u tro s nem
executava a lei d a s leis, a C onstituição Federal, não afirm an d o q u e o C o n ta n to , m a s todos leigos nos m is te rio s tía d e n d a ju risp ru d e n d a l, en vergando
gresso C o n stitu in te te n h a procedido b em ao v o ta r o § 2 4 d o a rt. 7 2 , “m a s as sagradas vestes talares p o r nom eação d e despóticos presidentes d a R ep ú
blica o u d e esquisitas entidades assem elhadas.
ta m b e m n ã o affirm a q u e te n h a procedido m a l. A lg u n s factos ineiuctaveis
O Senado rejeitou as nom eações, m a s não creio q u e isto te n h a aliviado o
in h ib e m -a ’©- d e o fa 2 er: I o) U m m in istro , q u e m u ito h o n ro u o S uprem o
tra u m a d a m a g istra tu ra .
T ribunal, não cu rso u n e n h u m a das nossas A cadem ias d e D ire ito e e m n e
n h u m a delias d e fe n d e u theses o u p re sto u q u a lq u e r exam e — o D r. A m aro
C avalcanti; 2 a) P o r u m decreto legislativo é q u e A n to n io Pereira R ebouças
obteve a ca rta d e d o u to r em D ireito ; e, e n tre ta n to , foi o unico ju ris ta q u e
teve co rag em d e criticar a Consolidação das leis civis e d e travar, a respeito,
discussão com Teixeira de Freitas... q u e o tra to u com to d o o respeito (...);
3o) H á tr in ta anos q u e o Rio G ran d e do Sul a d m itte o livre exercício de
to d a s as profissões iiberaes, e , e n tre ta n to , não co n sta q u e a m o rta lid a d e lá
seja superior á do s o u tro s Estados do Brasil com o, e g u a lm e n te , n ã o co n sta
seja m a io r o coeffidente dos processos anuilados o u das causas p e rd id a s p o r
im p e n d a profissional dos advogados. N u n c a verifiquei isto n o s in n u m e ro s
processos: daquelle E stado, que tenho exam inado, q u e r civds, q u ercrim in aes.
C u m p ra -s e , p o is , o m a n d a m e n to d a C o n s titu iç ã o , q u e é d e c lareza
tra n s lu d d a ; e, sí a p ra tic a d e m o n stra r q u e é in a d a p ta v e i ao nosso m e io , q u e
o p o d e r c o m p e te n te o ab ro g u e. E ste T ribunal é q u e não te m co m petência
p a ra fazel-o — g u a rd a , q u e é, d a C onstituição”.
A ca m in h o d a R evolução
d e P ú b lic a .6 co rrên cia d o s m estres-d e-o b ras e c o n stru to re s (d a d a a com plex id ad e dos
A florou c o m clareza m erid ian a no C ongresso a a m b ig ü id a d e q u e aflige cálculos q u e a técnica req u eria), isso n ã o era o b a s ta n te , v isto q u e o m e r
cad o p a r a co n stru çõ es prediais era m u ito lim ita d o e m u ito c o m u m a in d a a
as profissões: o h o rro r ao livre m ercado de serviços profissionais e , sim u lta
c o n tra ta ç ã o d e estran g eiro s. O n ú m e ro d e em p resas c o n stru to ra s e ra p e
n e a m e n te , o te m o r d a regulação e sta ta l do m onopólio profissional (fixação
q u e n o , as in d ú stria s não h av iam a tin g id o a d im en são e a com p lex id ad e a
d e preço s p a ia o s serviços, restrições à livre escolha d a clientela, etc.). Tam
p a r tir d a s q u a is se to m a necessário o e n g en h eiro especializado nas p o si
b é m ficaram n ítid o s os an tag o n ism o s en tre os princípios (e m la rg a m e d id a
ções g eren ciais e d e p ro d u ç ã o ; e n a adm in istração p ú b lic a fed eral a p refe
irreconciliáveis) q u e d istin g u e m d a m edicina p re v e n tiv a o u “p ú b lic a ” a m e
rência a in d a e ra p e lo e n g en h eiro “ferroviário” . A cap acid ad e d a b u ro c ra
dicina clínica, os q u a is não h av iam p o d id o aflorar no elitizado e d im in u to
cia e s ta ta l d e absorção do s profissionais q u e saíam das escolas politécnicas
m ercado d e serviços m édicos d o Im pério.
e ra a p a re n te m e n te m u lto re d u z id a . U m a das po u cas pesquisas conduzidas
A L e i E lo y C h av es (D e c re to -L e i n ° 4 6 8 2 d e 2 4 d e ja n e iro ) veio n o
so b re o te m a m o s tra q u e h av ia e m 1935 cerca d e 6 4 3 cargos p a ra e n g e
a n o s e g u in te e d e c e r ta fo rm a c o n firm o u os m a u s p re s s e n tim e n to s d a
n h e iro s n a a d m in istração p ú b lic a fe d e ra l (incluídos os serviços nos E sta
e lite m é d ic a a o c ria r a C aixa d e Pensão e A p o s e n ta d o ria d o s F e rro v iá rio s.
d o s); to d a v ia n o m esm o ano fo rm a ra m -se 3 7 0 profissionais, n ú m e ro q u e
E m 1 9 2 6 se ria m 3 3 as in stitu iç õ e s sim ila re s; e m 1 9 3 0 , 4 7 c a ix a s a te n
c o rre sp o n d ia a 5 7 ,5 % do to ta l d aq u e le s carg o s e a 7 1 % do s existentes na
d e n d o a 1 5 -0 2 2 a p o s e n ta d o s e p e n sio n ista s; e m 1 9 3 2 , 1 4 0 C P A s e s te n
ad m in istra ç ã o c e n tra l.8 Transcrevo d e p o im e n to d e u m d o s e n trev istad o s
d ia m a ssistê n c ia m é d ic a a 2 G 8 .5 8 1 s e g u ra d o s, a p o s e n ta d o s e p e n s io n is
n a p esq u isa: “N a q u e la época as alte rn a tiv a s técnicas p a ra e n g en h eiro s não
ta s .7 S o b os auspícios d o E s ta d o , a p o lític a social c o m p e n s a tó ria a m p lia v a e ra m m u ita s . H a v ia alg u m a s firm as d e co n stru ção re la tiv a m e n te m o d e s
o m ercad© p a r a serviços m é d ic o s, m a s n ã o n o s te rm o s d e se ja d o s p e la ta s , e o s e m p re g o s públicos era m p rin c ip a lm e n te nas secretarias d e gover
e lite m é d ic a . À o a m p lia r as o p o rtu n id a d e s p a ra a m a s s a d e p ro fissio n a is, n o , p a ra fa z e r o b ra s d e ab aste c im e n to cTágua no interior, a lg u m as p o n te s
f...} fazer m ed iç ã o d e te rra p a r a re g istro . N a época {1932} e ra a g ra n d e
so re g u la m e n to d a D N S P (D eereto-tei n ° 14354 d e 15 d e setem bro d e 1920} a b ria m ais de ta re fa d o s en g e n h e iro s...”9
q u in h en ta s vag as s serem e m soa. m aioria ocupadas p o r m édicos. D e sd e o início d e suas
operações o D e p arta m e n to era. uma: vasta burocracia m édica q u e despendia c o m pessoal e
^José Lociano d e M attos Dias, “O s engenheiros do Brasil”, em A ngela de Castro Gom es (coord.),
m aterial parte, substancia! de seus recursos, pouco d estinando à m edicina p re v e n tiv a m as
su bvencionando cfmicas particulares com o a Policlínica do Rio d e ja n e iro - Id e m , ibiriem , p p .
Engenheiros e economistas: Novas elites burocráticas. Rio d e Janeiro: Editora da Fundação G etúlio
2 8 6 -2 8 7 e 2Í>5. Vargas, 1994, p p . 41-43-
rWanderLey Gralherxne d os Santos, Cidadania e justiça, o p. cit-, p p . 24-31- íbldens; p . 43-
A lg u n s E sta d o s p ro c u ra ra m s a n a r a fa lta d e legislação re g u la tó ria . C rític a s a o c a rá te r o rn a m e n ta l d o p re p a ro oferecido p e la s escolas
São P a u lo e m 1 9 2 4 e Rio d e Ja n e iro e m 19 2 5 p a r a os e n g e n h e iro s , m as su p e rio re s e ao d ip lo m a com o p a s s a p o rte p a r a a p o lític a e p a r a os cargos
se e m 1 8 7 5 p a re c e ra suficiente a V ieira S o u to so lic ita r à C â m a ra M u n i n a a d m in is tra ç ã o p ú b lic a já era m o u v id as n o s ú ltim o s a n o s d o Im p é rio .
c ip a l q u e im p e d isse a c o n co rrên cia d o s “p rá tic o s ” n o s lim ite s d o m u n i N a R e p ú b lic a , e n tr e ta n to , so b re tu d o a p ó s a v ira d a d o sé c u lo , o b a c h a -
cípio d a C o rte , p a ra os profissionais d a d é c a d a d e 19 2 0 e ra in a d e q u a d a a relism o e ra v isto co m o so b revivência do re g im e d e c a íd o , u m a n a c ro n is
p ro te ç ã o a p e n a s no â m b ito d e m e rc a d o s re g io n a is. A d e m a is, a p ro te ç ã o m o q u e dav a te ste m u n h o do p róprio descam inho re p u b lic a n o . N a acepção
q u e d e sejav am e ra c o n tra o d e se m p re g o , o q u e e sp e ra v a m o b te r com re s trita d o te rm o , e ra a in d a a ascen d ên cia p o lític a d o s “so fista s” saídos
u m a legislação q u e ob rig asse as e m p re sa s a c o m p u lso ria m e n te d e s tin a r das a c a d e m ias d e d ire ito e e n c a rn a d o s n o s p o lític o s p ro fissio n a is o q u e
a e n g e n h e ir o s c e rta s p o siç õ e s té c n ic a s . O u tr o s E s ta d o s e n s a ia ra m se c r itic a v a /1- p o r a n a lo g ia , a chicana fo re n se e m p re s ta v a seus piores
reg u la ç ã o lo c a l p a r a o exercício d a advocacia c o n sid e ra n d o q u e no in te a sp e c to s à p e rc e p ç ão d o s a rra n jo s o lig á rq u ic o s c o m o fra u d e s q u e desvir
rio r os b ac h a ré is sofriam in te n sa co m p etição p o r p a rte do s pro v isio n ad o s. tu a v a m as instituições e m a n tin h a m a sociedade a ta d a às p rá tic a s p olíticas
O a r t. 5 o d a Lei (m in eira) n° 10 d e 14 d e s e te m b ro d e 1 9 2 0 p ro ib ia a d o p a ssa d o . N u m a acepção m a is a m p la , a p o n ta v a -se p a r a o e sp írito
concessão e a reno v ação das p rovisões p a r a a d v o g a r e d a s c a rta s d e “m eta físic o ” q u e e m to d a s as esferas ile g itim a m e n te c o n tin u a v a a o b s
so lic ita d o r n u m a te n ta tiv a de a m p lia r o m e rc a d o de serviços p a r a os tr u ir n a R e p ú b lic a o avanço d a c iê n d a e d a p e r íd a ré c n íc a . É b o m le m
b a c h a ré is.16 b r a r n esse c o n te x to q u e a b ase c o g n itiv a d a m ed ic in a e s ta v a a g o ra a s
s e n ta d a e m solidas bases e x p e rim e n ta is c o m os d e se n v o lv im e n to s d a
b a c terio lo g ia e d e novas técnicas d e d ia g n ó stico e q u e , afin al, a codificação
III
d a s íeis civis e m 1 9 1 6 ad icio n ara ra d o n a lid a d e a o â m b ito d a s profissões
d o d ire ito . E v ale a p e n a re g is tra r a n o v a fé n o p ro g re sso técn ico , na
L em bro q u e , já nos prim eiros anos do nosso século, o Inscituto dos A d v o g a ciência e n a s a tiv id a d e s “p rá tic a s”, re le g a d a s no Im p é rio a posição s u
dos Brasileiros, a A cadem ia (agora, N acional) d e M edicina e o In scitu to b a lte rn a , m a s q u e n a R e p ú b lic a flo resceu a p a r tir d o s a n o s v in te , até
P olytechnico tin h a m irrem ediavelm ente pe rd id o com a au ra elitista e aris m e sm o n a p re o c u p a ç ã o com o en sin o técn ic o -p ro fissio n a l m in istra d o
to c rá tic a q u e lhes em p restara a M o n arq u ia u m a boa p a rte d o se u an tig o p e la s E scolas d e A p re n d iz e s A rtífic e s.12
prestígio, e q u e o núm ero crescente d e m édicos, advogados e engenheiros C reio q u e esta s idéias novas tin h a m a v e r ta m b é m com a expansão do
saídos das escolas “livres", to ta lm e n te desinteressados nestas associações, já ensino superior e d a s m atrículas e com as aflições das novas levas d e g ra d u a
não p e rm itia ig n o rar a existência d e u m a m assa d e profissionais. E nesse d o s pelas faculdades e escolas “livres”. Se a form ação bacharelesca m in istra
m esm o c o n tex to deve-se reg istrar que to d o s os esforços p elo definitivo m o d a n o Im pério p o r u m reduzido núm ero d e escolas o fid ais servira a u m
nopólio legal d o m ercado de perícia profissional ocorriam sim u ltan eam en te
a u m a transform ação considerável nas concepções sobre o ensino su p erio r e
sobre o valo r dos diplom as. 11Sofistas é u m te rm o d e A lb e rto Torres para. q u e m as faculdades d e d ire ito e ta m J‘n u lid a -
des científicas", “oficinas d e sophistas" q u e en ch iam o p aís to d o s o s a n o s de ráb u las e
chicAuistas. Ensaiossobre a madsma concepção dadinilo. São Paulo: T ypographie d a Província,
1885, p -2 6 Ó .
C onfirm ando qs receios dos advogados provisionados de Minas Gerais. Ver N icolau Soares, O '•^Jorge N agle, Educaçãhsssciedade na Prhneira República. São Pauto; Editoia- Pedagógica e Univer
exercício da advocacia em Minas. Araxá: Typographía Menezes & Com p., 1919- sitária, Ltda/Edusp, 1 9 7 4 ,p p . IÓ3-175-
p u n h a d o d e a fo rtu n ad o s (g eralm en te ap a d rin h a d o s p o r políticos) d e passa cias p o lític a s .14 A s referências a u m a e n g e n h a ria nacional, tã o re c o rre n
p o rte p a ra a s posições de m a io r relevo n a sociedade, tra ta v a -se agora, n a te s a p a r tir d a v ira d a do sécu lo , não e ra m a p e n a s u m a m a n ife sta ç ão de
R epública, d e in stitu ir critérios m erito crátieo s q u e tã o b e m a d eriam ao co x en o fo b ia e d e defesa c o rp o ra tiv a , p o is c o m p o rta v a m ta m b é m o se n tid o
n h ecim en to técnico e científico (ao contrário d a form ação o rn a m e n ta l d o d e co lo car a té c n ic a e a ciência d o s e n g e n h e iro s a serviço d o s in te re sse s
passado). N e ste s term o s, o d ip lo m a d everia p e rd e r o c a rá te r d e m arca d e su p e rio re s d a N a ç ã o .
distinção social; e tão -so m en te com o a te sta d o d e p erícia re n d e r aos g ra d u a E sta oposição d e técnica e política, e sta com binação de centralism o e
d o s v a n ta g e n s e strita m e n te profissionais a serem o b tid a s p o r com petição no antiliberalism o, d e nacionalism o e saivacionism o ajudava a co m p o r u m cli
m ercado» m a carreg ad o d e som brios prenúncios e crescen tem en te h o stil à lib erd ad e e
Todavia» p a ra in s titu ir a n o v a p a u t a d e v a lo re s m e rito c rá tie o s , s u p u aos d ireito s individuais.
n h a -s e n e c e ssá rio a n te s re p u b iic a n iz a r a R e p ú b lic a , in clu siv e d e p u r a n
d o - a d o e x a c e rb a d o in d iv id u a lism o q u e lh e f o r a le g a d o c o m a v e lh a e
o b s o le ta m e n ta lid a d e iib e ra l-d o u trin á ria d a g e ra ç ã o d e litera ti d o s anos
sv
8 0 , a d o s q u e h a v ia m fe ito o m o v im e n to d a A b o liç ã o e a p ro p a g a n d a
N a sc id o a o s 2 1 d e d e z e m b ro d e 1 8 7 6 e m L ençóis, in te rio r d a Bahia»
re p u b lic a n a . A p e ríc ia d o s n o v o s p ro fissio n a is p o u c o v a le ria se as lib e r
g ra d u a d o e m m e d ic in a aos 2 1 anos p e la F a c u ld a d e d e M e d ic in a d o seu
d a d e s e o s d ire ito s in d iv id u a is p u d e s s e m p e rm a n e c e r co m o o b s tá c u lo s à
E s ta d o , o fe ste ja d o m é d ic o e sa n ita ris ta D r. Ju lio A frâ n io P eixoto circu
ra c io n a liz aç ã o d e d ife re n te s e sfe ra s in s titu c io n a is , o u co m o e n tra v e s a o s
lav a c o m d e s e n v o ltu ra n o s círculos e le g a n te s d a so cied ad e cario ca ao
in te re sse s c o le tiv o s p ro p ria m e n te re p re s e n ta d o s p e lo E s ta d o . E m o u tr o
te m p o àd.belleêpoqm> m a s nos m eios “científicos” s u a fa m a e s ta v a m e n o s
p la n o , isso in c lu ía u m a d rá s tic a lim ita ç ã o d o p rin c íp io fe d e ra tiv o q u e
a sso ciad a a o s re fin a m e n to s d a e tiq u e ta social d o q u e a u m a p e c u lia r o b
tr a n s fo rm a ra c a d a E sta d o e m u m fe u d o so b o c o n tro le d e in te re sse s lo
sessão com o a d u lté rio (m a l h e re d itá rio , o a d u lté rio n ã o te ria c u ra , m as
cais. N a c a r tilh a d o s sa n ita rista s d a L ig a P ró -S a n e a m e n to , o v a s to h o s
a p e n a s p ro fila x ia ) e co m o u ra n ísm o (e n tre o u tra s c a ra c terístic a s: p ên is
p i t a l q u e e r a © p a ís re c la m a v a p o lític a s n a c io n a is c e n tra liz a d a s ; e u m a
afilado, a b u n d â n c ia d e n á d e g a s, conform ação in fu n d ib u lifo rm e d o ânus),
in c a n s á v e l v ig ilâ n c ia so b re excessos n o exercício d a s lib e rd a d e s m d iv i- _
o b je to s d e v á rio s d e seus escritos. P re n d a s lite rá ria s e e stim áv eis re la
duaxs e r a a f o r m a d e d e te r a p ro p a g a ç ã o d a s d o en ças in fe c to c o n ta g io sa s .13
ções sociais fizeram d e le p re s id e n te d a A c a d e m ia B rasile ira de L e tra s e
E n ã o e r a a titu d e iso la d a e n tr e o s e n g e n h e iro s a d e A a rã o R eis, q u e ,
u m a referên cia p a r a o s in te le c tu a is d e 19 9 8 q u e se v o lta m p a r a a p r o d u
in d e p e n d e n te m e n te d e convicções p o sitiv ista s, n ã o fazia se g re d o d a s suas
ção c u ltu r a l d a R e p ú b lic a V elha. A d e m a is, o D r. P eixoto fo i c a te d rá tic o
p o siçõ es d e “re p u b lic a n o c o n v ic to a serviço d a n a ç ã o ” e d a s fre q ü e n te s
d a F a c u ld a d e d e M e d ic in a do Rio d e J a n e iro e o p rim e iro re ito r, em
q u e ix a s s o b re o s e fe ito s d a “p o litic a lh a ” s o b re a razão té c n ic a : a p r o te la
1 9 3 5 , d a U n iv e rsid a d e d o D is trito Fed eral. N e s ta c e leb rid ad e confluíam ,
ção in ju s tific a d a d e im p o rta n te s o b ra s p ú b lic a s (co m o a d e u m sis te m a
assim» ocharm d e c a d e n te d a elite social carioca, o fu n d a m e n ta lism o sani
d e a b a s te c im e n to d ’á g u a p a r a o D is tr ito F e d e ra l), c o n tr a to s p ú b lic o s
ta ris ta , o fe rv o r e fe n tifk is ta d a é p o ca, a d istin ção c u ltu ra l e u m a in d is-
q u e fav o reciam interesses p riv ad o s, alteraçõ es no s p ro je to s p o r c o n v e n iê n
farçáv el in c lin a ç ã o a n tilib e ra i e a u to ritá ria assaz e n c o n tra d iç a e n tre as
l3A m e íb o r arferêncí» sobre estas e o u tras concepções d a L iga é ainda G ilb e rto H o cb m an ,
®p. eit. MH eííaaa A n g o tri Salgueiro, op. cit., especialm ente capítulo 4.
m e lh o re s in te lig ê n c ia s do D is trito F e d e ra l. Pois e ra esse m e sm o D r. Pei F e d e ra l d e a lg u m a fo rm a am p lificav a as aflições d a a lm a n ac io n a l, eis o
x o to q u e em 1 9 3 4 su g eria a su p eração âograu três. P o r q u e , p e rg u n ta v a q u a d ro .
e le , in sistia a p o líc ia n a s v a ria d a s e p o u c o eficazes m o d a lid a d e s d e v io E m 1 9 0 6 são 8 0 5 .3 3 5 h a b ita n te s , q u ase o d o b ro d a p o p u la ç ã o de
lê n c ia física p a r a a rra n c a r confissões d e c rim in o so s, se em grau quatro a 1 8 9 0 (5 1 8 .2 9 0 )- C o n ta rn -se 3 -2 5 0 e sta b e le c im e n to s in d u stria is e, no
violação in te r n a te m u m e v id e n te fu n d a m e n to cien tífico e p ro m e te efi e n ta n to , tr a ta - s e d e u m a eco n o m ia p ré -in d u s tria l. M a s ta m b é m já n ã o é
ciência com m ais h u m a n id a d e ? A lém disso, ac re sc en ta v a o sáb io , as su b s a cid ad e esse n c ia lm e n te com ercial q u e se m p re fo ra . P a ra u m a p o p u la
tâ n c ia s q u ím ic a s (o v ero n a i, os b a rb itú ric o s , a m o rfin a , e tc .) p o d e m se r ção d e 1 .1 5 7 -8 7 3 h a b lta n c e s o censo d e 1920 re g is tra 1 5 4 .3 9 7 o p e rá rio s
v a n ta jo s a m e n te co ad ju v ad as p e ia p sican álise c lín ic a e p e lo h ip n o tism o . n a in d ú s tria , a lg o e m to m o d e 3 2 % d a p o p u la ç ã o c o m profissão d e c la
E , sa tisfeito co n sig o m esm o e m u ito b e m -h u m o ra d o , p e rm itia -s e u m ra d a e bem d e fin id a . T odavia o e m p re g o é in stá v e l e p a r te d o s tr a b a lh a
g racejo : ln v im veritasP d o re s não r a r a v ez p ro c u ra g a n h o s e m ocupações m a rg in a is , e o m e sm o
D e sc o n h e ç o se a polícia d e F ilin to M ü lle r u so u a ciência d o D r. Pei censo d e 1 9 2 0 c o m p u ta 6 7 5 -3 2 8 in d iv íd u o s (5 8 ,3 % d a p o p u la ç ã o ) n a
x o to . Sei* e n tr e ta n to , q u e idéias d e s ta n a tu re z a e stiv e ra m g e rm in a n d o c a te g o ria d e “se m p ro fissão /p ro fissão m a l d e fin id a /p ro fissã o n ã o d e c la
d e s d e a p ro c la m a ç ão d a R e p ú b lic a n u m solo g e n e ro s a m e n te a d u b a d o , ra d a ” . A d e sp e ito d a a lta p ro p o rç ã o d e op erário s n a p o p u la ç ã o , a p a rc e la
e n tr e o u tr a s coisas, pelas teo rias ra c ista s d o D r . N in a R o d rig u e s e as do d eles q u e vai à s ru a s p ro te s ta r é c o n s titu íd a d e c o n su m id o re s e suas
c o n s a g ra d a b a c h a re l D r. Silvio R o m e ro , p a r a c ita r ap e n a s dois d o s b e m - d e m a n d a s sã o a in d a p r é - m o d e r n a s ; o u m e lh o r, sã o re iv in d ic a ç õ e s
p e n s a n te s q u e os m e u s c o n te m p o râ n e o s c o b re m d e g ló ria s .16 Sei ta m c e n tra d a s n o “lo c a l d e residência” a n te s do q u e no “p o n to d e p ro d u ç ã o ”:
b é m q u e o D r . P eixoto c o n tin u a a in d a hoje in su p e rá v e l, m a s q u e m u ito s m e lh o re s con d içõ es d e h a b ita ç ã o , serviços d e tr a n s p o r te u rb a n o m ais
d o s “in te le c tu a is ” d o seu te m p o n ã o e stiv e ra m lo n g e d e fazer-lh e so m eficiente e m a is b a ra to , re d u ç ã o d o c u sto d e v id a , serviços d e s a ú d e .17
b ra . M as o p a ís , ao a tra v e ssa r u m a c o n tu rb a d a fase d e tra n siç ã o , e r a u m E m b o ra o s sin d ic a to s e stiv essem a u to riz a d o s, in e x istia m as condições
c a m p o fé rtil p a ra essas esq u isitas p e rso n a lid a d e s e id éias, e, se o D is trito p a r a q u e o p e ra sse m eom o in s tru m e n to s “m o d e rn o s” d e o rg a n iz a ç ão do
o p e ra ria d o u rb a n o in d u s tria l. Â s m an ifestaçõ es d e ru a su rg e m d e m a
n e ira e s p o n tâ n e a , d e so rg a n iz a d as, e m g ru p o s d e c em o u p o u co m ais in
S5Afranio PtíxoED, “El interrogatorio y la confêsión en el proceso judicial ’’.Revista de Criminologia, d iv íd u o s, f r e q ü e n te m e n te v io le n ta s e q u a se s e m p re d isso ív e m -se d a
Psiquiatria y Medicina Legal. Buenos Aires, A no X X I, a° 124, julho/agosto d e 1934, p p . 388-
390. m e sm a fo rm a co m o irro m p e m . O g o v e rn o re sp o n d e com a polícia e com
l6E ntre outros, tam b ém o campeão do abolicionismo deixou-nos esta pérola: “H om em de duas a c av alaria.
raças [a mulato» Antoruo Pereira Rebouças}, pertencendo à raça branca, como om aís p u ro caucásico,
 sim p lic id a d e d o p a d rã o d e estra tific a çã o le g a d a p e lo Im p é rio d i-
p e k inteligência, pela consciência m oral, pela intuição jurídica, e ten d o orgulho dessa procedên
cia, efe sentia-se o p rotetor natural da raça inferior d e q u e tam bém lhe corria o sangue nas veias.” lu íra -se m a s n a d a se crista liz o u e m se u lu g a r. A so c ie d a d e é in fo rm e ,
Jo aq u im N abuco, Um estadista..., vol. I, p . 55- Cientistas sociais m a is conscientes do qu e eu das
regras da objetividade científica cham am de racialistas a tais idéias e teorias. D e m inha parte,
,7N u m excelente trabalho sobre os sortos de resistência po p u lar no Rio de Janeiro Teresa Â.
creio (e p o r óbvias razões históricas) que se trata de um eufem ism o e tão m aligno q u a n to o que
M eade quesuona de form a, creio eu , pouco convincente o conceito de m ovim ento popular))rá-
ele escamoteia. Pois a despeito da diferença abissal e n tre miscigenação e fom os crematórios
modemo. Seja como for, devo m uito à feitura do seu “Ctvilhing" Rio: Reform and Resistance in a
com o soluções.para o “problem a racial” encontram os, n o fundo, as m esm as convicções. O s histo
Brazilian City, 1889-1930. U arversity Park : Pennsyívanã U niversity Press, 1 997, especial
riadores dirão p o r seu turn o que “estas eram as idéias científicas da época” e sem outro com entá
m en te o prim eiro capítulo. Pela natureza das reivindicações pode-se entender p o r que as políticas
rio passarao às contribuições do D r. Romero à crítica literária. Ver, p o r exem plo, Roberto V entu sociais com pensatórias tom aram s frente das q u e viriam m ais tarde p o r via da regulação do
ra, Estilo tropical: História, cultura e polêmicas literárias no Brasil. São Paulo: Com panhia das Letras, processo de- acum ulação. Vei a respeito 'W ãnderíey Guilherm e dos Santos, Cidadania- ejustiça,
i 9 9 i , p.. m . o p. cit., p p . 1-15.
in e x iste m id e n tid a d e s sociais e o s in d iv íd u o s n ã o e n c o n tra m se u nich o d ire ito s d o p a c ie n te so b a m ira d o s “su p erio res in te re sse s d a co letiv i
n a so c ie d a d e p o r q u e a flu id ez d a o rg a n iz a ç ã o social n ã o o p e rm ite . N o s dade”.
círc u lo s c u íc a s h á d e se n c a n to e fru stra ç ã o c o m a R e p ú b lic a q u e n ã o c u m O m ais p recio so e x em p lo v e m , to d a v ia , d o S u p rem o T rib u n a l F e d e
p r iu s u a s p ro m e s s a s , m a s ta m b é m d e s o rie n ta ç ã o q u a n to ao f u tu ro . São ra l, e convido o le ito r a e x a m in á -lo à lu z d e u m a se le tiv a a m o s tra d e
o s filh o s das: o lig a rq u ia s re g io n a is d e sa lo ja d a s d o p o d e r p o r facções ri a re sto s, n ã o sem a n te s esclarecer q u e d e sd e a C o n stitu iç ã o d e 1 8 9 1 es
v ais e q u e a c o rre m à c a p ita l d o p a ís e m b u sc a d e o p o rtu n id a d e s ; n o v o s ta v a m e m d is p u ta d u a s in te rp re ta ç õ e s: p a r a a p rim e ira o babeas-corpus
b a c h a ré is q u e jo g a m su a s esp e ra n ç as d e e m p re g o n a e x p a n s ã o do a p a re e ra in s tru m e n to a p e n a s d a g a ra n tia d a lib e rd a d e d e locom oção (u m a
lh o d o E s ta d a ; lite ra ti e m b u sca d e p ro je ç ã o e q u e se a n in h a m e m re d a h e ra n ç a d a ju risp ru d ê n c ia d o Im p é rio ); p a r a a se g u n d a , o babeas-corpus
ções d e jo rn a is, to d o u m a g re g a d o d e in d iv íd u o s s o c ia lm e n te d e s p ro e ra ex ten siv o à g a r a n tia d e o u tra s lib e rd a d e s e d ire ito s in d iv id u a is. Isso
te g id o s , de. m a rg in a liz a d o s p o lític o s. T o d o s re le g a d o s p a r a o p la n o d e p o s to , solicito s u a paciên cia p a ra a le itu ra d o s seg u in tes a c ó r d ã o s /9 11 8 4
u m a a in d a in fo rm e ciasse m é d ia u rb a n a , sã o eles o s a u to re s d e v a ria d a s — “O d ire ito d e e x p u ls a r u m e stra n g e iro é a ttrib u to essen cial d a so b e
m o d a lid a d e s d e “saiv acio n ism o ” , o s q u e p r e g a m o p a tr io tis m o n a L ig a ra n ia f...} A e x p u lsã o n ã o é p e n a , é m e d id a d e p o licia a d m in is tra tiv a e
d e D e fe s a N a c io n a l (1 9 1 6 ), o s q u e a d e re m à p r o p a g a n d a d a L ig a P ró - e n tr a n a s a ttrib u iç õ e s d o P o d e r E xecutivo (...) O direito de residencia é
S an eam en t© Ç 1918), a o p ro se litism o c ató lico n a Á ç ã o S ocial N a c io n a lis p riv a tiv o d o n a c io n a l. A s g a ra n tia s d o a r t. 7 2 {da C o n s titu iç ã o ) não
t a e n o C e n tro D o m V ita l (1 9 2 0 , 1 9 2 2 ), ao o tim is m o p e d a g ó g ic o n a p ó d e m , com o se p r e te n d e , ser e n te n d id a s lite ra lm e n te , e e m te rm o s
A ssociação B ra sile ira d e E d u c a ç ã o (1 9 2 4 ) .18 E se rã o ele s o s q u e c o m p o ab so lu to s; to d a s ellas e stã o m ais o u m e n o s su jeitas a restricçõ es aconse
rã o n o s a n o s 3 0 o s q u a d ro s d a s o rg a n iz a ç õ e s a u to ritá ria s ta n to à d ire ita lh a d a s p e la s c o n v e n iê n c ias d o b e m g e ra l, p e la o rd e m p u b lic a , p e la
q u a n to à e s q u e rd a . E e m b o ra a q u e la s “so luções” n ã o fo ssem in te g r a l h y g ie n e , e tc .” (3 0 .1 .1 9 0 7 ); 1 3 4 4 — “O babeas-corpus sò g a r a n te a lib e r
m e n te conciliáveis e m su a o rig e m h a v ia g e n e ro s a m a r g e m d e a m b ig ü i d a d e pessoa! e n a o se e s te n d e á g a ra n tia d e to d o s os d ire ito s in d iv id u a is”
d a d e p a r a p e r m itir in te rse ç õ e s, p e lo m e n o s d e e s tr u tu r a s se m ió tic a s, d e (9 .5 .1 9 0 8 ); 1 3 8 6 — “N ã o h á c o n s tra n g im e n to iliegal n o a c to d e a u to
v o c a b u lá rio s p o lític o s , d e c o n ju n to s d e im a g e n s c o n s titu íd o s e m to r n o rid a d e p o lic ia l q u e reco lh e u m in d iv íd u o ao H o s p ita l N a c io n a l d o s A li
d e a lu s õ e s m a is o u m e n o s e x p líc ita s à o rd e m , à d isc ip lin a , à a u to rid a d e e n a d o s, m e d ia n te p a re c e r d e m édicos le g ista s” (2 7 .7 .1 9 1 0 ); 1 1 6 8 —
e a u m E s ta d a “f o rte ” . P o r u m p ro c e sso d e d e c a n ta ç ã o v ã o se e sb o ç a n d o “N ã o se co n ced e babeas-corpus p a ra q u e e sp irita s p o ssa m re a liz a r suas
a s “so lu ç õ e s” a u to ritá ria s e v a i se a p ro fu n d a n d o u m a fr a tu r a . O C o n sessões, c o n tra d e te rm in a ç ã o d a po licia, p o r se tra ta r d e a c to s p ro ib id o s
g re sso N a c io n a l d o s P rá tic o s é b e m u m e x e m p lo : s o b a a m b ig ü id a d e p e lo s a rts . 15 6 e 1 5 7 d o C odigo P e n a l” (1 6 .8 .1 9 1 6 ); 1 1 7 6 — }
d o s in te re s s e s p ro fissio n a is d e se n h a -se a cisão e n tr e os “e s ta tis ta s ” (sa n i- A in d a q u e e m th e se n ã o fosse reco n h ecid o o direito d a p o lic ia d e p ro h ib ir
ta r is ta s ) e o s “p tiv a tis ta s ” (os clín ico s p a rtic u la re s ). E m a is a o fu n d o meetings, n a especíe n ã o p o d e ria d e ix a r d e ser reconhecido esse d ire ito ,
d e lin e ia m -se o u tr a s oposições: o se g re d o p ro fis s io n a l ( u m a v e lh a ria , se p o rq u a n to a liberdade d e re u n iã o p re ssu p p õ e fins lic ito s, p ro c e d e n d o
g u n d o o D r . P e ix o to ) a m e a ç ad o p e lo re g u la m e n to sa n itá rio q u e im p õ e a d e n tro d a o r b ita le g a l O ra , o s meetings q u e os p a c ie n te s p re te n d e
n o tificação c o m p u ls ó ria d a s d o e n ç a s in fe c to c o n ta g ío s a s , a lib e rd a d e e os ra m realizar e ra m d u p la m e n te crim in o so s, p o rq u e se d e s tin a v a m á p ro
p a g a n d a d o anarchismOy q u e é a m a is illo g ic a , a m ais falsa, e a m a is su b -
*®Ensbora jo g u e asfeaesm ais fortes sobre o cenário de São P aulo (e p reste excessiva hom enagem
à parafernália analfeira d e M . Píetre B ourdieu), recom endo a o leito r o excelente estu d o de
Sérgio M iceJi, tnü&cSssis e classe dirigente no B rasil (1920-1945). São Paulo: Difel, 1979. 19Jo s é A f f o n s o M e n d o n ç a d e A z e v e d o , o p . c i t . É d e l e a n u m e r a ç ã o , n ã o d o S T F .
v ersiv a das d o ccrin as an ti-so ciais {...] O s meetings e ra m ta m b e m c rim i ção d e p e n s a m e n to p e la im p re n sa o u p e la trib u n a , re sp o n d e n d o c a d a u m
n o so s, p o rq u e p re te n d ia m exercer p re ssã o sobre os o p e rá rio s tr a b a lh a p e lo s ab u so s q u e com m ecter, nos casos e pela form a que a lei determinar, é
d o re s e h o n e sto s, v io le n ta n d o -o s n a su a lib e rd a d e , e c o m p e llin d b -o s a evidente q u e não se p ó d e allegar, co m o ju stificativ a d e u m d ecreto d e ex
não tra b a lh a r q u a n d o eiies e sta v a m d isp o sto s a n ã o a d h e rir a u m a g r e p u lsã o , a sim ples p ro p a g a n d a d e id éas co n trarias á ac tu a l organisação so
v e , cujos m o tiv o s não ach av am ju stifk a v ie s. É d e v e r d a p o lic ia g a r a n tir
cial, n o in tu ito d e c o n q u ista r a v ito ria das u rn a s, sem se aco n selh ar actos
a lib e rd a d e d o tra b a lh o , em to d a s as suas m anifestações, n ã o p e rm k tin d o
d e violência c o n tra as pessoas o u c o n tra a p ro p rie d a d e ” (2 2 .1 2 .1 9 2 0 ) (ê n
q u e a íg u e m seja c o ag id o a tra b a lh a r; o u , ao c o n tra rio , se p ro c u re o b s ta r fases no o rig in al).
q u e tra b a lh e q u e m e stiv e r d isp o sto a fazel-o A cco rd ão n e g a r p ro v i
O le ito r te tá percebido q u e não se tra ta v a tão -só d e u m a divergência
m e n to ao re c u rso , p a ra confirm ar, c o m o c o n firm a m , o A c c , re c o rrid o , h e rm e n ê u tic a e n tr e ju rista s, com o querem , n o s fa z e r c re r c ro n ista s e
q u e m u lto ju rid ic a m e n te n e g o u a o rd e m d e habeas-corpus, im p e tr a d a em
historiadores d o Suprem o.20 O s m in istro s não se restrin g ia m a divergir n a
fav o r de In d iv íd u o s q u e , em vez d e c o ag id o s, e ra m n a v e rd a d e co a c to re s”
in te rp re ta çã o d a lei, m a s o p inavam e decidiam e m m a té ria social e p olítica
( 1 1 .7 .1 9 1 7 ) ; 1 1 3 6 — “N ã o c o n s titu e m c o n s tr a n g im e n to ilie g a i as
sobre a q u a l n em m esm o haviam sido consultados. E n a m e d id a e m q u e
lim ita ç õ e s im p o sta s á lib e rd a d e in d iv id u a l p e la necessid ad e d e p re se rv a
avançam os n a le itu ra dos acórdãos em direção aos anos trin ta m ais tra n sp a
ção d a sa u d e p u b lic a , com o jã o te m d e cid id o o T rib u n a l” (2 1 .1 .1 9 2 0 X
re n te to m a -se a fra tu ra q u e divide a suprem a co rte d o país. In stala-se u m a
E isso seria tu d o se não houvesse estes o u tro s a c ó rd ã o s: 13 2 8 —
d u alid a d e ju rísp ru d e n d a l a p a re n te m en te inconciliável e não te rá escapado
“Habeas-corpus — cabe c o n tra exigencia d e a u to rid a d e sa n ita ria , d e q u e
ta m b é m a o le ito r a e n tra d a e m c e n a do b o d e ex p ia tó rio d a época: o
possa re su lta r coacção physica do paciente” (3 1 .1 .1 9 0 5 ); 145 5 -A — “...N e
a n arq u ism o , os anarquistas.21 N a revisão constitucional d e 1926 foi confir
g ar-se esse m eio d e defesa im m e d ia ta a p re te x to d e q u e o habeas-corpus não
m ad a a interp retação re strita d o habeas-corpus e a perm issão ao Executivo
p ro te g e senão a pesso a physica, c o m p o rta ria em n e g a r m u íra s d a s lib e r
p a ra “ex p u lsar do terricdrio nacional os súditos estrangeiros perigosos á or
d a d e s q u e fig u ra m n a D eclaração dos D ire ito s, pois não h a o u tro senão
d e m p ublica o u nocivos aos interesses d a Republica” (§ 33 do a rt. 72). A van
e ste recurso p a r a g a ra n til-a s” (1 3 .1 2 .1 9 1 3 ); 1177 — “Á p o licia não assis
çava a repressão aos an arq u istas e a suas associações, o p re te x to p a ra rep ri
te , d e m o d o a lg u m , o direito d e iocalísar meetings o u com ícios, p o rq u e
m ir os m o v im en to s operários.
p a r a uso d e ssa facu ld ad e não é necessaria p re v ia licença d a a u to rid a d e
po licial, q u e só p o d e rá p ro h íb ír a reu n ião a n n u n c ia d a no caso d e su sp e n
^ E m su a inform ativa hístâtia do Judiciário Lenine N eq u ete q u e r nos fazer crer que a interpre
são d a s g a ra n tia s constitucionaes e , a in d a assim , ‘lim ita d a sua acção a tação am pí a àahabeas-corpus prevaleceu n a República a té a revisão constitucional de 192Ó, que
d isso lv er a re u n iã o , g u a rd a d a s as fo rm alid ad es d a lei e so b as p e n a s o elia fixou sem m arg e m de dúvida 2 restritiva. C om o comprova nossa sum ária am ostra de arestos
trata-se d e a m a leitura vsesada (aliás bastante com um e n tre juris tas/m agistrados-historiado-
c o m m in ad as” (5 .4 .1 9 1 9 ); 11 7 8 — “A g rev e pacifica é u m d ire ito q u e res) cujo propósito á o de resguardar o ST F e resgatar a consciência jurídica (e os m agistrados
p ó d e ser liv re m e n te exercido p e lo o p erário , e o exercício d e u m d ire ito , e juristas, de m aneira geral) de seus inúm eros tropeços autoritários. Por essas e outras é qu e tal
tipo d e literatu ra rom a-se im prestável para finalidades analíticas. E tam bém pelo registro
e m q u a lq u e r p aiz livre e policiado, não co n stitu e u m delicco n e m colloca a
apologético, pois o pronunciam ento m ais banal d e Rui 'Vérbosa, digo, Barbosa transform a-se
se u titu la r e m situação d e ser considerado u m e le m e n to pernicioso á so em um ‘ m on u m en to jurídico”. Ver Lenine N equete, O PuderJudiciário no Brasil a partir da
independência. M — República. Porto Álegre: Livraria Sulina Editora, 1973. p p . 4 0-49 e notas
ciedade e c o m p ro m e tte d o r d a tra n q u ilid a d e p u b lic a ” (1 4 .7 .1 9 2 0 ); 11 7 9
6 8 a 78.
— “Q u a n to ás leis co m m u n istas do p a c ie n te , d eclaran d o a C o n stitu ição 21G leitor interessado em processos de criação desta espécie de bode expiatório lerá com p ro
v eito a K e n n eth B urke, “T he Rhetoric o f H itle r's ’B attle’”, e m K enneth B urke, op. cit., pp.
F edera! , no a rt. 7 2 § I o, q u e “e m q u a lq u e r assu m p to ” é livre a m a n ife sta
191-220-
M a s essas n ã o era m a in d a p ro p o s ta do s a u to ritá rio s , e m b o ra fizessem V
p a r te d o s e u a rsen al. A in d a e stam o s n a a n te -sa la d o la b o ra tó rio (o u d a
delegacia) d o D r. Peixoto e aí hav erem o s d e e sp e ra r p o r a lg u m te m p o . A I9 3 O. 1 9 3 4 , 1 9 3 7 . N ã o vejo necessid ad e d e re v isita r c o m o le ito r a
in te rp re ta ç ã o re s trita d o babeas-corpus veio n a c a u d a d o s recu rso s co n ced i co p io sa lite r a tu r a s o b re a tr iu n f a n te m a r c h a d e n o sso patbos a n t i
dos c o n tra cassação, d e m a n d a to s eletivos p o r assem b léias e sta d u a is o u d e m o c rá tic o . A p e n a s ju lg o o p o rtu n o fa 2 e r d o is o u trê s re g istro s. P ri
c o n tr a re g u la m e n to s e d ita d o s p e lo E x ecu tiv o p o r v ia d e a u to riz a ç ã o m e iro , p a re c e -m e q u e são ra z o a v e lm e n te sólidas as ev id ên cias d a p e n e
leg islativ a, u m a v e lh a p rá tic a do Im p é rio a g o ra c o n te s ta d a . N a c o n ju n tu tra ç ã o d e id éias a n tilib e ra is nos e s tra to s pro fissio n ais d o D is trito F e d e ra l
ra , tra ta v a -se d e u m a resp o sta d o s laissez-fairianos q u e a in te rv ir n o p ro e su p o n h o q u e s u a recepção n ã o escava disso c ia d a d o s s u rto s d e reiv in d i
cesso d e acu m u lação preferiam a p u r a e sim p les re p re ssã o d o s m o v im e n cações p o p u la re s n e m d a p ro p a g a n d a oficial c o n tra os a n a rq u ista s e suas
to s o p erário s, m a s ta m b é m d e u m a defesa d o arran jo oligárquico. c o n tra associações. É b o m le m b ra r q u e u m a a m p la e c re sc e n te p ro p o rç ã o de
q u a lq u e r v e leid ad e d e oposição a o s re su lta d o s d e eleições v iciad as. E m no v o s p ro fissio n ais (e q u e re p re se n ta v a m u m a p ro p o rç ã o c rescen te de
su m a , creio q u e se tra ta v a d o velh o p ra g m a tism o d a s elite s p o lític a s e do to d o o e s tta ro pro fissio n al) hav ia feito p e sa d o s in v e stim e n to s em e d u c a
m e sm o in stru m e n ta iism o jurídico q u e n u m a o rd e m h ie ra rq u iz a d a e não ção e c e rta m e n te não v ia com o o b te r re to rn o e m u m c o n te x to d e suces
p lu ra lista s u b m e te o dire ito e a ta as profissões ju ríd icas aos p ro p ó s ito s do sivas g re v e s o p e rá ria s e d e a g itaçõ es p o p u la re s . D e m a n e ira g e ra l, cada
E sta d o . m a n ife sta ç ão d e r u a e m p u rra v a o s se g m e n to s in te rm e d iá rio s (fu n c io n á
D a p a r te d o s lib erais m ais a p e g a d o s a p rin c íp io s d o u trin á rio s h a v ia rio s p ú b lic o s , p e q u e n o s c o m e rc ia n tes, e m p re g a d o s d o com ércio e das
p re ssõ e s p a r a a re fo rm a (lib e ra l) d a s in s titu iç õ e s lib e ra is d e s n a tu ra d a s fin a n ç a s) e m d ire ç ã o a u m a c re sc e n te in to le râ n c ia com o exercício das
p e io a rra n jo o lig á rq u ic o , m a s n ã o c o g ita v a m eles d o s e fe ito s d e u m a lib e rd a d e s p ú b lic a s, a in d a q u a n d o as reivindicações não e ra m específi
o r d e m i n d u s t r i a l q u e se e x p a n d ia e d e u m a d iv is ã o d o t r a b a l h o cas d e s te o u d a q u e le e stra to e m p a rtic u la r (tra n s p o rte m a is b a ra to e
c re sc e n te m e n te diferen ciad o . A s p ro p o s ta s re fo rm ista s nã o in c o rp o ra v a m m a is e fic ie n te , re d u ç ã o do c u sto de v id a , e tc .). E , com o a inclinação
a s d e m a n d a s d o s o p e rá rio s u rb a n o s e n e m tin h a m o p ro p ó s ito d e d a r a n tílib e ra l tin h a , e m p a rte , raízes n a in s e g u ra n ç a e co n ô m ica, ela refle
c o n ta d a q u e s tã o social, po is tra ta v a -s e u n ic a m e n te d e re fo rm a r as in s ti tia -se n u m a a g e n d a d e “soluções” q u e d a v a a lta p rio rid a d e à repressão
tu iç õ e s: o siste m a e le ito ra l p a r a g a ra n c ir g e n u ín a re p re s e n ta ç ã o , o J u d i d a d e so rd e m , à afirm a ç ão d a a u to rid a d e e d a discip lin a com o fa to re s de
c iário p a r a a firm a r a u n iv e rsa lid a d e d o d ire ito , a a d m in is tra ç ã o p ú b lic a e s ta b ilid a d e . A sucessão d e d is tú rb io s n a d é c a d a d o s 2 0 su g e ria -lh e s
m a s receio q u e o s sociólogos d a c u ltu ra e os h isto riad o res das idéias, à fa lta ta b e le c eu com o v e rd a d e ira o rto d o x ia . S in teticam en te p o d e-se lê -la assim :
d e m e lh o r m a te ria l, c o n tin u arão a colocar p e d rin h a s ao p é d o s m o n u m e n o E stado o u é laissez-fairiano o u é re g u la tó rio (o u é “fraco” o u é “fo rte ”).
to s q u e e rig ira m a o D r. R om ero, ao D r. P eixoto, ao D r. P ereira Passos (o N o e stág io fo rm ativ o das profissões m o d e rn a s, suas relações c o m o E stad o
“H aussznm aíi brasileiro” !.) o u ao D r . F ro n tin . C e rta m e n te p a ra q u e n ã o d e - fo ra m u m c o m p o n e n te essencial e m su a c o n stitu ição h istó ric a . Isso p o sto ,
as profissões o u fo ra m a u to -re g u la d a s e a u tô n o m a s o u re g u la d a s pelo E s
com o ex em p lares “p u ro s” d o m o d elo p ro fissio n al, com o a n o rm a .4 P ara m e d id a s d e te rm in a v a q u e a c o n stitu ição d e sociedades a n ô n im a s ficava
to d o e q u a lq u e r efeito prárico d e análise não im p o rta m as p ro fu n d a s dife d e p e n d e n te d a prévia audiência do C onselho d e E sta d o .15 R e c e n te m e n te
renças e n tre os processos de profissionalização na In g la te rra e nos E stad o s p e rg u n ta v a u m estudioso á a R epública Velha co m o e ra possível d e sig n a r
U n id o s, m u ito m e n o s as diferenças e n tre a form ação h istó ric a cias pro fis d e liberal u m E stad o q u e regulava a operação das m a is im p o rta n te s fe rro
sões n a F ra n ç a e n a A le m a n h a . A dem ais, tra ta -s e d e nonsense su p o r q u e vias (tarifãs, e q u ip a m e n to s, etc.), tin h a a p ro p rie d a d e de 2 /3 d a s estações
n o s E sta d o s U n id o s e n a In g la te rra d o século X IX o E sta d o não te n h a e d a m aio ria das lin h a s telegráficas, p o ssu ía a m a io r e m p re sa d e n av eg a
sido e strita m e n te laissez-fairians, d a m esm a fo rm a co m o é a rre m a ta d a to ção d a A m érica d o Sul (os navios do L loyd B rasileiro re p re se n ta v a m m e ta
lice s u p o r q u e n a A le m a n h a e n a F ran ça o E sta d o não te n h a sido e s trita d e d a fro ta m e rc a n te nacional), re g u la v a o p reço e a d istrib u ição d e ali
m e n te re g u la tó rio . E sta s são prem issas n ã o falsificáveis a té p o rq u e fica m e n to s no D is trito F ederal, subsidiava a ag ric u ltu ra , estab elecia p olíticas
im p lic ita m e n te leg islad o q u e as evidências e m c o n trá rio são, ao c o n trá rio , d e valorização d o café, e tc ., e tc.6 Sua conclusão: a ex te n sa in te rv e n ç ã o do
evidência d o q u e acim a ficou d ito .
E stado n a econom ia ao longo d a R epública V elha d estin a v a -se via d e re
S em s o m b ra d e d ú v id a, e n c o n tro consideráveis dificu ld ad es d e n a tu
g ra a re sg a ta r e m p re e n d im e n to s p riv ad o s falidos (p ara o q u e c o n tra ta v a
reza em p íric a c o m e sta h istó ria -p a d rã o q u a n d o p ro c u ro v e r n e la refleti
v u lto so s e m p ré stim o s ex tern o s) e a in d u z ir in v estim en to s d e c ap italistas
d a s, com o n u m fan tá stic o espelho universal, a face do E sta d o e d a s profis
nacionais e estra n g e iro s (através d e g a ra n tia d e Lucros, d e em p ré stim o s,
sões brasileiras o ito c e n tista s. V ejam os. N o â m b ito d a e c o n o m ia h o u v e
d e co m p ra d e e sto q u e s, etc.). E m o u tro s term o s: “O E sta d o veio a p a rtic i
re g u la ç ã o q u a n d o e o n d e aos nossos e sta d ista s p a re c e u n ecessário, e isso
p a r a m p la m e n te n a econom ia p recisam en te p a ra p ro m o v e r a e m p re sa p ri
p o d e su rp re e n d e r q u a n d o se tr a ta d e u m E sta d o u su a lm e n te tid o com o
v a d a .”7 É esta am b íg u a e e stra n h a acepção d e laissez-faire o u , se q u iserem ,
iib e ra l d a In d e p e n d ê n c ia à Revolução de 3 0 . Três e x em p lo s no Im p é rio : a
d e liberalism o iiib eral (o u d e iliberaiism o liberal?) q u e K e n n e th B urke
Lei d e T erras d e 1 8 5 0 , a form ação d e u m n o v o B anco d o B rasil em 18 5 3 e
deliciosam ente g lo so u com o a versão d o “h a n d s-o ff à la h a n d s-o n ”.8
a c h a m a d a “lei d o s e n tra v e s” de 1 8 6 0 . R e su m id a m e n te : a) fo rm u la d a p e lo
C o rte p a r a o â m b ito d a sociedade civil. D e u m a p e rs p e c tiv a c o m p a
C onselho d e E stad o e d isc u tid a n a C â m a ra a p a rtir d e 1 8 4 3 , a L ei d e
ra d a , a e x p eriên cia b rasileira co m as profissões p a re c e m u itíssim o p e c u
T erras c riav a o b stácu lo s à p ro p rie d a d e d a te rra , acessível e a b u n d a n te ,
lia r. E m u m m o m e n to crítico d a h is tó ria d o p a ís, o s nossos e sta d ista s
p re te n d e n d o c o m isso re o rie n ta r a m ã o -d e -o b ra livre d a p o sse d e p e q u e
v ira m -se n a c o n tin g ê n c ia d e a d o ta r in te g ra lm e n te as leis p o rtu g u e s a s
n a s p ro p rie d a d e s p a ra o tra b a lh o na s g ra n d e s fazendas o n d e su b s titu iria o
c o n ta n d o q u e e m b re v e te ría m o s os nossos p ró p rio s c ó d ig o s. Isso não
escravo; b) e m 1 8 5 3 o governo fo rço u os do is m aio res b a n c o s p riv a d o s n a
o c o rre u n o q u e dizia resp eito às relações jurídicas e n tre os cid ad ão s (e
C o rte a se fu n d ire m com o m atriz, d e u m novo B anco d o B rasil, e n a s
p ro v ín cias a s in stitu içõ es ban cárias m ais im p o rta n te s c o m o a g ên cia d o m e sm o e n tre os cid a d ã o s e o E sta d o n a fa lta d e u m d ire ito a d m in is tra ti
novo ban co . N a p rá tic a , o B anco d o B rasil, in stitu iç ã o p riv a d a , to rn o u -s e vo fo rm alizad o ) e as O rd e n a ç õ e s F ilip in a s a in d a e ra m p a r te d a nossa
o a g e n re financeiro d o g o v ern o , u m banco oficial e in s tru m e n to d a M o legislação n a v ira d a do século. É v e rd a d e q u e m u ita s leis n ovas fo ra m
n a rq u ia p a r a c o n tro le d a m o e d a ; c) a “lei d o s en tra v e s” in stitu ía u m a v er
d a d e ira tu te la d o E sta d o sobFe o. se g m e n to e m p re sa ria l e e n tre o u tra s
^Vec M aría Barbara Levy, op. cit., p p . 4 8 -4 9 ,6 1 -6 2 ,7 5 -7 6 .
HistoricalReview,
S te v e n Topik, ‘S ta te Intervention ia a Liberal Regime: Brazil, 1889-1930”,
6 0 ,4 ,1 9 8 0 , p p . 593-616.
HispanicAm
erican
B
AGram m arofMotives.
4E de ou tra form a não poderia ser, visto q u e o m odelo idea! de profissão é com parado com as 7idem , ibidem, p . 6 1 1 .
m esm as formações profissionais q u e lhe deram origem . Berkeley: University o f California Press, 1969, p . 350.
d e cretad as» m a s a n tig o s re g u la m e n to s e a lv a rá s fo ra m co n se rv a d o s e m ta c u lo s” .10 E m su m a : p o u c a d o u trin a , m u ito p ra g m a tis m o .11 R eg u lação
b o ra sob fo rm a m a is m o d e rn a e “h a rm o n iz a d o s” c o m a leg islação m a is a q u i, laissez-faire acolá.
re c e n te . E ste fo i p re c isa m e n te o caso d a re g u la m e n ta ç ã o p ro fissio n a l.
B e m e x a m in a d o , o re g u la m e n to d e 1 9 2 0 d o D e p a r ta m e n to N a c io n a l d e
S a ú d e P ú b lic a e ra , a o q u e re s p e ita à re g u la ç ã o d a s p ro fissõ e s d a sa ú d e , o
II
v e lh o re g u la m e n to d a F isic a tu ra e o d o P ro v e d o r-m o r so b n o v a s r o u p a
g e n s . Â a d v o cacia p e rm a n e c e u so b as disp o siçõ es d o T ítu lo X L V II, L i O le ito r e n te n d e rá q u e não e s to u p ro p o n d o q u e o B rasil deve ser conside
ra d o com o caso único e in co m p aráv el. N e m d e lo n g e p re te n d o su g erir
v ro I d a s O rd e n a ç õ e s , sem tir a r n e m p ô r u m a ú n ic a v írg u la , e a e n g e
q u a lq u e r espécie d e n o m in alism o . M as c e rta m e n te devem os o lh a r com
n h a ria fic o u ao d e u s -d a ra . E m su m a , o E sta d o n e m d e s re g u lo u n e m
sau d áv el ceticism o p a ra generalizações p o r d em ais g lo b a liz a n te s o u p a ra
a c re s c e n to u re g u la ç ã o n o v a . P u n h a p o u c a fé n a re g u la m e n ta ç ã o h e rd a
conceitos d e se n tid o “cong elad o ” p o r u so excessivo e c a d a vez m en o s re
d a d o s te m p o s coloniais e não estev e d is p o s to a m e x e r u m d e d o se q u e r
flexivo. Seja com o for, devo confessar q u e m in h a s preferências n ã o são
p a ra fisc a liz a r su a ap licação . E a c o m e ç a r p e la a d v o c a c ia, a q u a l, e m
pelas a m p la s generalizações o u p elas g ra n d e s te o ria s. Pelo c o n trá rio , es
p rin c íp io , o s n o sso s e s ta d is ta s bacharéis h a v e ria m d e t e r o m a io r in te
to u p e rsu a d id o d e q u e as explicações m ais persuasivas e n c o n tra m -se no
re sse e m p r o te g e r c o m re g u la m e n to s e x d u d e n te s , o q u e v in g o u fo i a
exam e d e configurações h istó ricas p artic u la res (em d istin ta s sociedades)
m a is liv re lib e rd a d e d e p ro fissã o . R á b u la s, h o m e o p a ta s c o m o u sem d i
m ais d o q u e e m dois o u trê s fa to re s carnais in clu íd o s e m generalizações
p lo m a d a s fa c u ld a d e s d e m e d ic in a , m e s tre s -d e -o b ra s e c o n s tr u to r e s
“e m p íric o s” , e s p írita s re c e itista s, to d o s e x e rc e ra m seus ofícios n a m ais em píricas o u históricas.
Cabe aqui, certa m e n te, a p e rg u n ta a respeito d o q u e se p re te n d e com
s a n ta tr a n q ü ilid a d e a té p e lo m e n o s os a n o s v in te e in c o m o d a d o s a p e n a s
u m a sociologia d a s profissões q u e não deve ser ap enas histórica m as ta m
p e la h o s tilid a d e (fre q ü e n te m e n te in ó c u a ) d o s c o m p e tid o re s “oficiais” .
b é m , e necessariam ente, co m p arad a. Rsssivelm ente u m d o s em p re g o s m ais
P o r q u ê ? A re s p o s ta m ais sim p le s é d e q u e h a v ia coisas m a is im p o r ta n
fecundos d a sociologia histórica co m p arad a seja m enos p a ra d escobrir se
te s a r e q u e r e r a a te n ç ã o d o E s ta d o . P o r e x e m p lo : r e g u la r e fiscalizar c o m
m elhanças do q u e p a ra estabelecer diferenças; isto é, p a ra re sg u a rd a r ta n to
rig o r o exercício d o s ofícios d e d e s p a c h a n te d a s alfândegas* d e c o rre to r,
q u a n to possível o q u e as u nidades d e análise (grupos, organizações, in stitu i
d e in té r p r e te e tr a d u to r d o co m ércio , d e a g e n te d e leilõ e s e d e c o m e r
ções, etc.) te n h a m d e p a rtic u la r e d e historicam ente irredutível. N a p io r das
c ia n te , o c u p a ç õ e s v ita is n u m a e c o n o m ia a g r o e x p o r ta d o r a , im p o n d o
hipóteses, seria este u m inestim ável recurso p a ra disciplinar a inclinação
co n d iç õ e s m u ito re s tritiv a s p a r a a p rá tic a desses ofícios.9 In v e rs a m e n te ,
generalizadora tã o enco n trad iça nas Ciências Sociais de u m a m a n e ira geral.
q u a n d o o d ir e to r d a A c a d e m ia N a c io n a l d e B e la s A r te s p ro p ô s q u e o
P erm ita -m e o le ito r esboçar no q u e segue u m exem plo do q u e im agino seja
g o v e rn o re g u la m e n ta s s e o exercício d o re sp e c tiv o m a g is té rio , re s p o n
n m b o m uso d a sociologia histórica co m p arad a no âm bito do e stu d o das
d e u o M in isté rio d o Im p é rio q u e " a p ro te ç ã o m a is v a lio sa q u e se p o d e
d a r á s B e lia s A r te s é d e ix a l-a s d e se n v o lv e r-se liv r e m e n te se m o b s -
l0A v is o n ° 1 9 4 — Im pério — 3 de m aio de 1860.
“ Sobre o espírito pragm ático dos nossos estadistas, tão pouco inclinados a comprom issos doutri
6
^ r a os despachantes, D ecreto n® 362 d e de junho de 184 4 ; p a ta os corretores. D ecreto n° nários sobretudo n a esfera econômica, o leitor aprendera com o excelente capítulo escnt« por
4 1 7 d e 1 4 d e ju n h o d e 18 4 5 ; para os agentes de leilão, D ecreto n ° 8 5 8 de 1Q de novem bro de
àofomalkmo,
José M urilo de Carvalho com base nas atas das reuniões plenas do Conselho d e Estado. Menos
Construção-daordem.
1851;. p a ra o s intérpretes do- com ércio. D ecreto o® 8 6 3 d e 17 d e novem b ro d e 185 1 ; para os feliz foi o uso tom ado emprestado a Guerreiro Ramos, como princípio mterpretativo.
com erciantes, o C ódigo Comercial de 1850. Ver í — o p, cit-, p p. 327-358.
profissões. C om eço com u m a das m ais conhecidas generalizações e n c o n tra disciplinar d a Ordre su;ekavam -se a d u ras pen alid ad es, incluída a í a expul
d as na. lite ra tu ra . são d o Tabkau , os advogados q u e , e n tre o u tra s coisas, exigissem honorários
N u m livro hoje clássico, M agali Sarfari L arson q u e r q u e c e rto s valores o u os cobrasse judicialm ente (os honorários deveriam ser um reconhecim ento
an tím etcad o o u anticapitaíistas (o “ideal d e serviço”, a “vocação” com o si v o lu n tário d o cliente), os q u e recebessem ho n o rário s excessivos face às p o s
nalização d o v alo r intrínseco d o tra b a lh o , o altru ísm o , etc.) te n h a m sido sibilidades financeiras do cliente (sujeitos a devolução parcial), os q u e solici
incorporados aos “projetos profissionais” (m obilidade coletiva e co n tro le do tassem clientela, os q u e fizessem publicidade d e seus serviços, os q u e acei
m ercado) e s m o cam ada ideológica d estin a d a a c arrear c réd ito social p a ra as ta sse m cargos públicos (e já no século X IX o s que ocupassem q u a lq u e r
profissões e fazer crer na dim ensão ética do seu exercício.12 U m te s te crucial posição e m sociedades com erciais o u industriais), os q u e aceitassem m a n d a
d e s ta generalização seda o exam e d o s vaiores do désintéressmsnt in stitu íd o to o u p ro cu ração d o cliente (o advogado não o rep re se n ta v a, ap enas o
pela Ordre des Avocats já no século X V II e d e certos traços a a d m e rc a d o aconselhava).14 N ã o se tra ta v a , ao fim e ao cab o , d e d esd ém p o r van tag en s
observáveis n a advocacia brasileira d o século passad o . A co m p aração e n tre m a te ria is, m a s d e in stitu ir u m a “econom ia d e m oderação” q u e se c o n fu n
os casos francês e brasileiro deverá fornecer a d em o n stração d e irm a e stra té disse com a p ro p ria id en tid ad e d a profissão. Só a “p u reza” d a advocacia, sua
gia m u ito m ais apropriada e fecunda d e análise. in d ep en d ên cia com relação às estru tu ra s d e riqueza e p o d e r; só o desinteres
O s anteced en tes do dêsintéressentent confundem -se com a p ró p ria h istó se, a p ro b id a d e e a m oderação dos seus p ratican tes p o d eriam , associados à
ria d a úrdre e com os desafios a q u e tiveram d e resp o n d er o s avocats na extinção e n tre eles d a s “diferenças injuriosas à v irtu d e ” (prevaleceria o m é
preservação d e sua au to n o m ia.13 R esum idam ente, desde o século X V I a p rá rito), colocá-la ao serviço exclusivo d e trê s e n tid ad es: la société, la patrie, le
tica da. venalidade dos cargos não apenas bloqueava o acesso d o &avocats aos public.n
carg o s d a m a g istra tu ra (em sua m aioria n ã o d isp u n h a m d o s recursos p a ra P ressionados e n tre o E stad o e as atra e n te s possibilidades lucrativas do
com prá-los), m a s ta m b é m enfraquecia o Judiciário: tran sfo rm av a e m juizes m ercado (q u e am eaçavam p ela com petição ta m b é m a unidade corporativa),
(e em. n o b res) indivíduos sem qualificação e m m a té ria s legais e q u e , ad e os advogados eq u ilib ram a relação o p ta n d o p ela estim a e p elo p restíg io do
m ais, p o d ia m ser dem ovidos d e suas posições ao sa b e r d o s interesses d a “pú b lico ” seja através d a assistência judiciária, seja através d a recusa d a ló
justiça real. E m princípios do século X V H , a p rá tic a d e e s te n d e r c o m p u lso - gica d o lucro, seja através d o com prom isso c o m os valores do altru ísm o e,
riam enee a venalidade a cargos su balternos n a adm in istração d a ju stiç a (aos fin alm en te, através d a s funções d e rep resentação política d a “opinião p ú b li
prm trm rs , p o r exem plo) am eaçava tra n sfo rm a r ta m b é m os ad v o g ad o s em ca” . N o p la n o d o exercício profissional efetivo, a advocacia estru tu ro u -se
m em soffickrs ministériels. N e ste c o n tex to , a ética do désintéress&ment foi p o sta e m to rn o d e u m a clientela de indivíduos e fam ílias (excluídas as em presas),
a serviço d a independência d a advocacia, seriam en te am eaçada p e la in g e d a apresentação d o s casos nos trib u n ais (m as não d e seu p rep aro ), d e u m a
rência. do E sta d o A bsolutista n o funcionam ento d o s parkments. N o código p rá tic a q u a se arte sa n a i (o advogado tra b a lh a só o u auxiliado p o r apenas um
o u dois colaboradores), d a prim azia do direito civil e do p e n a l (excluídos o
I27 íe Rise o f Projèssiena/ism , op. cit-, p . 63- A dvertindo o leitor d e q u e seus ac bacios n ã o p o d e m
ser g eaeraJüadospara outras sociedades, Larson não faz o u tra coisa senao erigir Estados U nidos
dire ito com ercial e o adm inistrativo). E m síntese, e nos te rm o s d e K arpik:
e Inglaterra com o os casos m ais “puros” do m odelo profissional: "T he m odel o f profêssion “A determ in ação fu n d a m e n ta l refere-se à relação tria n g ular e n tre u m ato r
sh o ald b e d o s e r in these cases [ França e Rússia no século X I X ] to t h a t o f th e civil Service th an
i t ís t o professions in Engfand or. especiaíly, in th e U n ited States. For this. reason, I beíieve it coletivo q u e e n te n d e sa lv ag u ard ar u m m o d o d e existência (a in d ep en d ên -
shoedd presen t sts ‘p u re r features tn th e Àngio-Saxon eountries”. Ibidem , p . xvisi.
LJSigo aqui a L u d en Karpik, 'Xc- desíntéressement”, A n n a h s: Économie, Soàétis, C iviliza tu m s, 4 4 “ MU m a b o a r e la ç ã o d o s p r in c íp io s é t ic o s im p o s t o s p e ia Ordre o le it o r en co n tra rá e m G . E.
Aon, n Q3, maks-junbo de 1989, pp. 733-751, e a D avid Â. Beü, Lavryen & C itizens , o p . cit-, C r e s s o n , o p . c it. p p . 2 7 5 -3 0 5 -
c a p ítu Ío 2 .
d a ), adversários m ais poderosos (o m ercado e o E stado) q u e am eaçam absorvê- p e rm itia a celebração d e c o n tra to (sem pre escrito) e n tre o advogado e o
lo e debiíitá-fo n u m a lógica de fu n cio n am en to q u e lh e é e stra n h a , u m te r cliente reconhecendo-se p o r e sta form a o c a rá te r “p riv a d o ” d a profissão.
ceiro p a rtid o (o p ú b lico ) cuja posição d e te rm in a o c e rn e d o conflito. O O u tra s questões definitivam ente resolvidas pelos advogados franceses n u n
désintéressement: e s u a fo rm a concreta roais sistem ática — a fo rm a d e u m a ca o btiveram e n tre os nossos razoável consenso no século passado, en tre elas
p e rm u ta e q u ita tiv a — não são m ais d o q u e os m eios pelos q uais a profissão as relativas aos cham ados honorários a forfait, os d ep en d en tes do resultado
co n v erte a indiferença o u a hostilidade do terceiro p a rtid o em aliança e soli do processo e, so b re tu d o , os cham ados co n trato s d e quola-lites.18
darie d a d e e m odifica d u rav elm en te, e m seu favor, o equilíbrio d e forças.”16 M as so b re tu d o h av ia u m a p e rm a n e n te p reo cupação e m dissociar a
A d espeito do fe to d e que a advocacia francesa e ra o m o d e lo no q u a l advocacia dos valores q u e e ra m associados à s atividades m ercan tis e em
m irav am -se o s advogados brasileiros, po u cas razões tin h a m eles p a ra em u d is tin g u i-la d o s a sp e c to s “m e c â n ic o s” d e o u tro s o fício s (com o o d o s
la r a ríg id a ética a n tim ercad o im p o sta p e la Ordre. E n tre ta n to , e e m b o ra solicitadores), d e fo rm a a acen tu ar sua dim ensão in te le c tu a l e a “p u reza” de
p o u co s co n stran g im en to s pesassem sobre o exercido d a profissão, creio q u e suas finalidades. N isso a elite do s advogados tra ía m en o s u m desvelo ético
os nossos advogados m a n tin h a m u m a posição m u ito a m b íg u a o u am bivalente d o q u e u m a apreciação estética dos valores do trabalho n u m a C orte p ovoa
so b re a q u estão d e honorários, d a s incom patibilidades p a r a o exercício d a d a p o r escravos e p o r com erciantes sem iletrados. T ratava-se para nossos
advocacia e sobre o u tro s p o n to s de ética profissional.17 São b a sta n te sim bó advogados e ju ristas d e “aristocratizar” a ad v o c a d a sim u lta n e a m e n te crian
licas d e sta am b ig ü id ad e as a titu d e s o p o stas q u e to m a ra m N a b u c o d e A ra ú d o u m a “aristocracia” d e indivíduos cu lto s, d e cultores d a “ciência” d o D i
jo e M o n te z o ra a , o prim eiro acu m u lan d o o exerdcio d a a d v o c a d a (e a p re reito. C om o isto envolvia tam b ém o cultivo d e u m estilo de v ida “aristocrá
sidência do ín s ritu to dos A dvogados) com o cargo d e conselheiro d e E stado, tico”, criava-se a am bigüidade q u e n e m m esm o a retó rica d e R ui B arbosa
o seg u n d o d em itin d o -se d a p re síd ê n d a d o ÍÀ B (e a b a n d o n a n d o a advoca p o d ia dissolver (o le ito r estará lem b rad o d o s seus “co n ju n to s vazios”). Por
cia) p o r ju lg á -la incom patível com suas funções n o C onselho d e E stad o . m ais q u e ferisse su a sensibilidade estética a dim ensão “m ercenária" d a a d
Tem os a í a m anifestação de duas personalidades d istin ta s, m a s n ã o se tr a ta vocacia, Jo a q u im N a b u c o cultivava h á b ito s dispendiosos; u m dilem a, p o s
u n ic a m e n te disso. N u m a sociedade com consideráveis dificuldades e m esta sivelm ente, m a s n a d a q u e um a b o a clientela inglesa não pudesse resolver
belecer a distin ção e n tre o público e o p riv ad o , a advocacia, n a interface d o (havia, n este caso, o irresistível apelo d e u m a c e rta gentlemanliness).&O ideal
E sta d o e da. so d e d a d e , teria u m e s ta tu to p ro b lem ático . L e m b ro q u e nas destes valores “aristocráticos” explica ta m b é m o desprezo pelos pequenos
definições oficiais e la oscilou e n tre as categorias d e “in d ú s tria p riv a d a ” e de a d v o g a d o s a n ô n im o s, rá b u la s e p ro v isio n a d o s. N ã o se fu n d a v a m os
“fu nção pública.”', refletindo-se e sta indefinição n o tra ta m e n to d o s h o n o rá preconceitos tão-só e m u m ju lg am en to ético sobre as práticas d o foro, sobre
rio s. C om o vim os, o R eg u lam en to d a s C u stas Ju d iciárias d e 18 5 5 fixava a
rem u n e ra çã o d o s advogados p o r a to s legais, ig u alan d o -o s p o r e sta fo rm a ,8N ã o seí q u ã o freqüentes eram os honorários dependentes de resultados dos processos, mas
aos m a g istra d o s e o u tro s servidores d o Ju d iciário ; o R e g u la m e n to de 1874 não creio q u e esse tip o d e contrato fosse com um , pelo m enos a té a m etade do século X IX . U m
deles, assinado pelo conselheiro Fraakíin. D ória com H u g h W ilson & Sons. em 1883, estipula
(q u e a lte ro u © d e 1 855), sem d ú vida legalizando u m a p rá tic a já difundida, va honorários de 30-000$ a serem pagos “q uando for ajustado e liquidado com o G overno a
d ita rescisão ou se for a questão liquidada de ou tro m odo, e n tío quando se realizar o levanta
láK a rp ik , “Le désintéressem ent’', p . 746-747- m en to da prim eira q u o ta de capital com autorização d » dito G overno”. In stitu to H istórico e
ü U m a posição sobre honorários q u e se inspira n o exem plo d es franceses é a de Isaias G uedes de Geográfico Brasileiro, L ata 3 0 3 , Pasta 1 1. Com o sem pre m uito pragm ático nestas m atérias, o
M d lo , Honorários dé advogados, segundo a k i rm ana, a lição franceza e o direito pátrio nos debates do conselheiro N abuco d e A raújo não encontrava o q u e censurar n os contratos de quota-títis.
Instituto da Ordem-dm Advogados Brasileiros. Rio de Janeiro: Typograpfua do Jo rn al do Commercio, Joaquim N abuco, Um estadista..., o p. d t . , vol. IV, p .12.
I 9 Í 5 - O Dr. G uedes M elo se opõe ao retom o do arbitram ento de honorários com o n m “trá !9Ver Richard G raham , Britam and d/e onset e f Modemization in Brasil, 1850-1914 -C am hridge:
fico vil, o u esse- sõrdiiio interesse, a avareza do dinheiro" {p. 5X C am bridge Univetsicy Press, 1972, p p. 26 6-267.
a p ro cu ra d e clientela, sobre as form as pouco convencionais d e a rrecad ar corpora as aspirações damassa dos p ro fissio n a ista tc o m o são in te rp re ta d a s e
honorários» m a s ta m b é m em u m a apreciação estética d o estilo d e v ida d e organizadas p o r suas lideranças.21 D e fato» p o r q u e Iriam preocupar-se as
indivíduos q u e maL o b tin h a m no exercício d a profissão a re n d a necessária elites profissionais com ptojetos coletivos d e m o b ilid ad e social e d e o rg an i
p a ra to m a re m -se eleitores e q u e, p o r isso, enodoavam a nobreza d a “v e rd a zação d o m ercado? O ra , n a C orte brasileira as profissões só p o d ia m organi-
deira" advocacia. N ã o havia no- ideário d a elite dos advogados lu g ar p a ra o zat-se à m an eira d a p ró p ria sociedade: havia u m a elite . E o resto e ra o resto.
princípio d a ig u a ld a d e c u itiv a á a p e la Ordre. D o p o n to de v ista d a m açonaria N a d a m ais longe das cogitações dos sócios do IA B d o q u e pro jeto s d e m obi
congregada, n o In stitu to dos A d vogados B rasileiros, as diferenças sociais lidade coletiva, de prom oção social do conjunto d a profissão. Pelo contrário,
não injuriavam a v irtu d e p o rq u e e ra m elas m esm as virtuosas. tra ta v a m a n tes d e preservar e d e fo rtalecer os critérios d e distinção social,
Isso p o sto , o leitor pode a q u ila ta r o quão equivocada é a generalização d e m a n te r tã o intransponível q u a n to possível o fosso q u e os separava da
d e M ag aií Sarfatl L arson, ab su rd a c o m relação à advocacia francesa. B em m assa d esorganizada. M ais d o q u e e m to rn o d e u m m ercado, desejavam a
feitas as concas, os advogados franceses perdiam m ercado com. a é tic a d o advocacia org an izad a e m to m o de u m estilo de vida.
désíntémsement, O conselho d a Ordre to rn o u -se p a rtic u la rm e n te severo no A ética dos franceses e a esté tic a dos brasileiros re su lta ra m e m duas
aspecto disciplinar na m ed id a em q u e com o co rrer do século X IX cresce form as d e organização d a advocacia in te ira m e n te d istin tas. A s exigências
ram; os apelos p o r u m a advocacia d e em presa. E a situação to m o u -se p a r ti d e u m a econom ia q u e se industrializava e se to rn a v a m ais com plexa e as
cu la rm e n te com plicada p o rq u e m anteve-se co n sta n te ao lo n g o do século a dem andas d o contencioso adm inistrativo suscitaram questões legais das quais
tax a nacional d e litigiosidade n o â m b ito d a advocacia p e rm itid a aos avocats o avocat à la cour d ’appel (ou sim plesm ente avocat)-, co n stran g id o p ela disci
à la cour cFappel (cujo núm ero n ã o p a ro u de crescer).20 N e m p o d e cab er n a p lin a d a Ordre, não po d ia se ocupar. D a í o su rg im en to do agrée p a ra repre
generalização d e L arson a indignação do s sócios d o In s titu to dos A d vogados se n ta r o s clientes nos trib u n ais de com ércio; d o avocat au Conseil d ’E tat et à la
Brasileiros c o m os “mercadores d o direito, com os corretores d a ju stiça“' (ênfa Cour de Cassation p a ra lidar com o contencioso adm inistrativo; d o conseil
ses m inhas), p a ra u sar as expressões d o n o b re conselheiro S a ld a n h a M a ri juridique p a ra aten d er às em presas com erciais e in d u striais (assessoria legal,
n h o , C om o en sin o u W eber, tra ta -se a q u i d a clássica reação d e g ru p o s d e negociação, redação d e contratos, etc.). T ão a n tig o s q u a n to o avocat exis
sta tu s a quaíquerAtp/zri&r participação e m aquisições econôm icas, desse p o n to tia m a in d a o avoué, encarregado dos d etalh es processuais e d a redação de
d e v ista u m co m p o rta m e n to efetivam ente e stig m a tiz a n te e m u lto p o u co alegações finais (correspondente ao nosso solicitador), e o notaire, responsá-
aristocrático. E m o u tro s term os: a q u estão e ra a d e como a d q u irir, c o m refi veL p e la autenticação d e atos e co n trato s (o corresp o n d en te ao nosso tab e
n a m e n to , ce rta m e n te, com u m a c e rta elegância d e m aneiras. O q u e é o u tra lião). T odos estes especialistas estav am excluídos do Tableau, fora d a jurisdi
fo rm a d e d iz e r q u e os g ru p o s de s ta tu s a b o m in a m o livre desenvolvim ento ção do bâtonnier. Por contraste, os advogados brasileiros po d iam desem penhar
do m ercado» e m p a rtic u la r p a ra aqueles bens (m ateriais o u sim bólicos) q u e to d a s esta s funções sem q u a lq u e r restrição d e o rd e m legal o u ética. E não
eles n o rm a lm e n te u su rp am através d e m onopólios. residiria ju sta m e n te aí, n a a m p la liberdade do exercício profissional e no
D e resto» a noção d e “p ro jeto profissional” fica in te ira m e n te d eslocada receio d e códigos éticos excessivam ente restritivos, a resistência secular ao
no contexto d a advocacia brasileira d o século X IX . L arson observa q u e o p ro jeto d e criação de u m a O rd e m brasileira?
processa d e profissionalização (u m equiv alen te d e p ro je to profissional) in -
A.rtnales:Écontm
au X IX e. siècle''. ks,Sociétés,Civilizations,
^ B e ra a id Sdanapper, “Pour asse géographie des m entalités judiciaires: ia Iitígíosits en France
* 1 0 3 9 6 5 9 1
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