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18?EDIÇÃO
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_ INTRODUÇÃOÀ _
ECONOMIA
U j I I ■ <■ IV T
n t l u
A A brang ência e as
Lim itaçõ es da Eco no m ia
DENISE FLOUZ A T
Économie contemporaine
O estud o d o s asp ecto s eco nô m ico s da v id a faz p arte d e um a d as mais ab rang en
tes categ o rias d o co nhecim ento hum ano , as c iê n c ia s so c iais.
G enericam ente, a eco no m ia centra sua atenção nas c o n d i ç õ e s d a p ro s p e
ri d a d e m a te ri a l , na a cu m u l a çã o d a ri q u e z a e em sua d i s tri b u i çã o a o s q u e
p a rti c i p a ra m d o e s f o rç o s o ci a l d e p ro d u çã o .
A ênfase m aio r o u m eno r co m que cad a um d esses asp ecto s é tratad o fica
na d ep end ência d o p ensam ento central a q u e se subo rd ina cad a uma d as esc o
las d o p ensam ento eco nô m ico .
D ad o seu enq u ad ram ento no cam p o d as ciências so ciais e suas lig açõ es
\ co m d iferentes co rrentes d e p ensam ento , c ab e d e início d estacar, p ara um a bem
\ fund am entad a co m p reensão d a eco no m ia:
\
! □ A s lig açõ es d a eco no m ia co m o utras ciências so ciais.
/ □ A fixação d o s p o nto s b ásico s em q u e se ap ó ia o estud o d a •economia.
^ □ As d iferentes c o n c ep ç õ es d a eco no m ia, env o lv end o seu o b jeto e c o n
ceito .
a A m eto d o lo g ia d e d esenv o lv im ento d o co nhecim ento eco nô m ico .
□ As d iv isõ es usuais da eco no m ia.
□ O sig nificad o e as lim itaçõ es d as leis eco nô m icas.
_____________________ \ _____________________________________
1 .1 A E co n o m ia co m o C iê n cia S o cial
30 A C O M PREEN SÃ O D A ECO N O M IA
relaçõ es so ciais e da o rg aniz ação estrutural d a so cied ad e. A a n tro p o l o g i a cu l
tu ra l v o lta-se p ara o estud o d as o rig ens e d a ev o lu ção , d a o rg aniz ação e das
d iferentes fo rm as d e exp ressão cultural d o ho m em . A p s i co l o g i a o cu p a-se d o
co m p o rtam ento d o ho m em , d e suas m o tiv açõ es, v alo res e estím ulo s. A o d i re i to
c ab e fixar, co m a p recisão d itada p elo s uso s, co stu m es e v alo res d a so cied ad e,
as no rm as q u e reg ularão o s d ireito s e as o b rig açõ es ind iv id uais e so ciais. E à
e c o n o m i a , q u e, co m o as d em ais áreas, abrang e ap enas um a fração d as ciências
so ciais, co m p ete o estud o d a ação eco nô m ica d o ho m em , env o lv end o essencial
m ente o p ro cesso d e p ro d ução , a g eração e a ap ro p riação da rend a, o d isp ên-
d io e a acum ulação .
À sem elhança d o q u e o co rre co m o s d em ais ram o s d as ciências so ciais, não
se p o d e co nsid erar a eco no m ia co m o fechad a em to m o d e si m esm a. Pelas im
p licaçõ es da ação eco nô m ica so b re o utro s asp ecto s d a v id a hum ana, o estud o
d a eco no m ia im p lica a abertura d e suas fro nteiras às d em ais áreas d as ciências
hum anas. Esta abertura se dá em d up la d ireção , assum ind o assim caráter b iu n í
v o c o . D e um lad o , p o rq u e a eco no m ia busca alicerçar seus p rincíp io s, c o n c ei
to s e m o d elo s teó rico s não ap enas na sua p ró p ria co erência, co nsistência e ad e
rência à realid ad e, mas aind a no s d esenv o lv im ento s d o s d em ais cam p o s d o c o
nhecim ento so cial. D e o utro lad o , p o rq u e p o d e influir no q u estio nam ento d o s
p rincíp io s e d as aq u isiçõ es co nceitu ais d esses m esm o s cam p o s. E vai aind a além ,
abrind o suas fro nteiras à f il o s o f i a e à é ti c a ; à h i s tó ri a e às d iferentes m anifes
taçõ es da re l i g i ã o ; à te cn o l o g i a e ao s v ariad o s ram o s q u e atu alm ente se o c u
p am d o estud o d o m e i o à m b i e n te .
Reina >es As relaçõ es biu nív o cas d a eco no m ia co m o utro s ram o s d o co nhecim ento hum a
n o se enco ntram exp licitad as na Figura 1.1. E fo ram assim sintetizad as p o r Leo -
Biu rm o eas da
hard Silk:1
E c o n o m ia
kiO s e c o n o m i s ta s n ã o te m s e u tra b a l h o l i m i ta d o p e l as id é ias f o r
m a is d e u m a ú n i ca d is ci p l in a. A s f il o s o f ias p o l í ti cas e o s p ri n cí p i o s
é ti co s a q u e s u b o rd i n a m s e u s v a l o re s , s u as v id as e a v a ri a d a g a m a
d e s u as p e rc e p ç õ e s p ro c u ra m e x p l i c a r m u i tas c o i s a s q u e u l tra p a s
s a m a l ó g i ca e x p l í c i ta d c s e u tra b a l h o p ro f i s s i o n a l ."
‘O s p ro b l e m a s e c o n ô m i c o s n ã o tê m c o n to rn o s b e m d e l i n e a d o s .
Ele s s e e s te n d e m p c rc e p ti v c l m e n te p e l a p o l í ti ca , p e l a s o ci o l o g i a
e p e l a é ti ca , a s s i m (co rn o h á q u e s tõ e s p o l í ti ca s , s o ci o l ó g i ca s o u é ti
ca s q u e s ã o e n v o l v i d a s o u m e s m o d e c o rre n te s d e p o s tu ra s e c o n ô
m i ca s . N ão s e rá e x a g e ro d i z e r q u e a re s p o s ta f in al às q u e s tõ e s c ru
ci a i s d a e c o n o m i a e n c o n tra - s e e m al g u m o u tro c a m p o . O u q u e a
re s p o s ta a o u tra s q u e s tõ e s h u m a n a s , f o rm a l m e n te tra ta d a s e m
o u tra s e s f e ra s d as c i ê n ci a s s o ci a i s , p a s s a rá n e c e s s a ri a m e n te p o r
al g u m a re v i s ã o d o o rd e n a m e n to re a l d a v i d a e c o n ô m i c a o u d o
c o n h e c i m e n to e c o n ô m i c o ."
A A BRA N G ÊN C IA E A S IIM IT A Ç Õ ES D A EC O N O M IA 31
FIG URA 1.1
O ca rá te r b iu n ív o co
d as re laçõ e s d a
e co n o m ia co m
o u tro s ram o s d o
co n h e cim e n to
s o cial.
32 A CO M PREEN SÃ O DA ECO N O M IA
FIG U R A 1 . 2
A ação e co n ô m ica
e s e u s p ri n c i p a i s
c o n d i c i o n a m e n to s .
Fatores c o n d ic io n a n te s d a a ç ã o , d a s re la ç õ e s e
d o c o m p o rta m e n to e c o n ô m ic o
F o rm a s
de o rg a n iz a ç ã o p o lític a
d a s o c ie d a d e
P osturas
é tic o -re lig io s a s
M o d o s de
r e la c io n a m e n to
so cia l
F o rm a ç ã o
P adrões d as
c u ltu ra l d a
c o n q u is ta s
s o c ie d a d e
te c n o ló g ic a s
Fatores q u e p o d e m ser c o n d ic io n a d o s p e la a ç ã o ,
p e la s re la çõ e s e p e lo c o m p o rta m e n to e c o n ô m ic o
D e Q u e se A d esp eito da co m p lexa teia d e relaçõ es so ciais e da m ultip licid ad e d o s fato res
co nd icio nantes que env o lv em a ação eco nô m ica, há, entretanto , um co nju nto
O cup a a
d estacad o d e asp ecto s p articulares da realid ad e so cial q u e grav itam m ais esp eci
Ec o n o m ia ficam ente no cam p o d e interesse da eco no m ia. Um d eles é o p o linô m io p ro d u -
çã o - d i s tri b u i çã o - d i s p ê n d i o - a cu m u l a çã o , d estacad o p o r J. B. Say ,3 um d o s m ais
reco nhecid o s teó rico s da eco no m ia clássica. O utro é o trinô m io ri q u e z a - p o b re -
z a - b e m - e s ta r, d estacad o p o r o utro m estre no táv el, A. M arshall.4 O u então o utro
binôrpio, c re s c i m e n to - d e s e n v o l v i m e n to , citad o p o r Kuznets.5 O utro aind a é
o trinô m io re c u rs o s - n e c e s s i d a d e s - p ri o ri d a d e s , ap ro fund ad o p o r L. Ro bb ins.6
34 A C O M PREEN SÃ O D A EC O N O M IA
□ C re s ci m e n to . A exp ansão da eco no m ia c o m o um to d o . C rescim ento
e d esenv o lv im ento : d iferenças co nceitu ais. C rescim ento e ciclo s e c o
nô m ico s.
□ E q u il íb rio . Co m o se estab elece o eq uilíbrio geral, estático e d inâm ico
d o p ro cesso ec o nô m ic o . C o m o e p o r q u e, a d esp eito da co m p lexa
teia d as relaçõ es eco nô m icas e d o s d eco rrentes co nflito s d e interesse
q u e as env o lv em , a o rd em se so b rep õ e ao cao s. Q uais o s m ecanism o s
q u e d ão sustentação ao p ro cesso eco nô m ico , p ara que siga seu curso ,
ap esar da am p litud e d o s m o v im ento s d e alta e d e baixa, d e d ep ressão
e d e exp ansão .
□ O rg a n i z a çã o . Fo rm as alternativ as, d o p o nto d e vista institucio nal, para
a o rg aniz ação eco nô m ica d a so cied ad e. A ntag o nism o s entre o cap ita
lism o liberal e o so cialism o centralista. M atrizes id eo ló g icas q u e o s
sup o rtam . Pad rõ es e d esd o bram ento s d as alternativ as extrem ad as. O b
jetiv o s e resultad o s.
□ Q uantificar resultad o s.
□ Co nstruir id entid ad es quantificáv eis.
□ Estabelecer relaçõ es quantitativas entre d iferentes catego rias d e transaçõ es.
□ D esenv o lv er m o d elo s exp licativ o s da realid ad e, basead o s em sistem as
d e eq u açõ es sim ultâneas.
□ Pro ced er a análises fund am entad as em p arâm etro s quantificad o s.
□ D esenv o lv er sistem as quantitativ o s p ara d iag nó stico s e p ro g nó stico s.
A e c o n o m e tria é um ramo da eco no m ia que co m O s cam p o s de inv estigação em que a eco no m etria
bina a análise eco nô m ica, a matemática e a estatística. enco ntro u m aio r ap licação foram:
Trabalha co m a d eterm inação , p o r m éto d o s matemáti A an álise d o e q u ilíb rio g eral d a e c o n o m ia c o m o
co s e estatístico s, cte leis quantitativas que regem a vida u m to d o . Seu p ro p ó sito é d emo nstrar co m o se realizam
eco nô m ica. ajustes m utuamente co nsistentes. Pela variedade d e equa
A d eno m inação “eco no m etria" foi introd uzida em çõ es que se incluem em análises d esta natureza, as so lu
1926 p elo eco no m ista e estatístico no rueg u ês Ragnar çõ es d o s m o d elo s eco no m étrico s co rresp o nd entes to r
Frisch, que recebeu o Prêmio N o bel d e eco no m ia em nam -se bastante co m p lexas. Po r isso , o s m o d elo s d e
19Ó9- Insp iro u-se no termo “biom etria” , que ap areceu no equilíbrio geral têm sido mais em p reg ad o s co m o instru
final d o século XIX para d esignar a área d e estud o s bio mental teó rico para a co m p reensão d o m ecanism o ec o
ló g ico s q u e em p rega m éto d o s estatísticos. Co mo m éto nô m ico co m o um to d o d o que, p ro priam ente, co m o fer
d o d iferenciad o de estud o da vida eco nô m ica, a eco no ramenta o p eracio nal.
m etria d esenv o lv eu -se rap id am ente ap ó s a Prim eira A an álise m atric ial d o s flu x o s d e b e n s e se rv i
Guerra Mundial. ç o s e n tre o s d ife re n te s se to re s d a e c o n o m ia n ac io
A eco no m etria d esenv o lv eu-se em resp o sta às co n nal. Sua d eno m inação usual é matriz de insumo -p ro du-
d içõ es mutáveis da vida eco nô m ica. O estud o d o s ciclo s to. A matriz revela a relação d e cad a seto r d e p ro d ução
eco nô m ico s to m o u-se uma p reo cu p ação crescente, tan da eco no m ia co m to d os o s demais. O s m o d elo s matriciais
to para grandes co rp o raçõ es em p resariais, co m o para a de insum o -p ro d uto to rnam -se particularm ente úteis para
so cied ad e co m o um to d o . Se, p o r exem p lo , uma grande o p lanejam ento das eco no m ias so cialistas, em que a ini- 1
em p resa p ud esse p rev er as flutuaçõ es eco nô m icas co m ciativa go v ernam ental substituiu p o r co m p leto o s m eca
um grau de p recisão razo ável, p o deria, até certo p o nto , nism o s da livre iniciativa em presarial.
ilhar-se d e seus efeito s ad v erso s. A d icio nalm ente, a so A te o ria d o s jo g o s, c o m o in stru m e n to im p o r
cied ad e co m o urn to d o , o p erand o p o r m eio d e go v erno tan te p ara sim u lar q u e stõ e s e straté g ic as. Em situa
ou d e o rg anizaçõ es d e pesquisa, estava interessada em çõ es em q ue existem interesses co nflitantes e d iferentes
p rev er as tend ências eco nô m icas para co ntro lá-las, m e hip ó teses d e reaçõ es às açõ es co ncretas a determinadas
lhorar seu curso ou co m p ensá-las. Tud o isto estimulo u a d ecisõ es, sim ulaçõ es co m base em parâmetro s quantifi-
p esquisa eco no m étrica. cãv eis são esp ecialm ente úteis. N este cam p o , a eco no
A análise eco no m étrica é ho je esp ecialm ente útil tan metria utiliza co nceito s estatístico s d e p ro babilid ad e, p ro
to para p rever o futuro, co m o para analisar po líticas p ú curand o inferir as chances d e d iferentes categ o rias de
blicas. Com a exp ansão das atividades eco nô m icas d os reaçõ es. Sua ap licação é p articularm ente o bserv ad a na
go v erno s nacio nais, to rno u-se crescente a necessid ad e o rientação d o p ro cesso d ecisó rio d e grandes co rp o ra- 1
d e determinar co m a exatid ão possível o s efeito s da atua çõ es.
ção do seto r p úblico so bre o s indivíduos e as o rganiza
çõ es emp resariais. As técnicas eco no m étricas passaram Fo n te : OSER, Jaco b , BLANCHFIELD, W illiam C. Histó
a fo rnecer instrumentos e quad ro s analítico s para essas ria do pensamento econômico. São Paulo : Atlas,
d eterm inaçõ es. 1987.
36 A C O M PREEN SÃ O D A ECO N O M IA
Q UA D RO 1 .2
A q u an tif icação d a realid ad e e as v ariáv eis e co n ô m icas : f o rm as u su ais d e in d icaçõ es
q u an titativ as.
.
.
M o n e tá r ia s □ M o e d a c o r r e n te d o p a ís ( a ) .
(A m o e d a c o m o □ D iv is a s e x te r n a s ( b ) .
u n id a d e d e c o n ta e □ R e l a ç õ e s c a m b ia i s e n tr e ( a ) e ( b ) .
U n id a d e s
d e n o m in a d o r
a d o ta d a s
c o m u m d e v a lo r e s )
N ão m o n e tá r ia s □ S is te m a s m e tr o ló g ic o s u s u a is e s u a s c o n v e r s õ e s .
V a riá v e is - f lu x o □ In d ic a m m a g n itu d e s m e d id a s a o l o n g o d e d e t e r m i
D is tin ç ã o
n a d o p e r í o d o d e te m p o .
f u n d a m e n ta l
e n tr e v a riá v e is
V a r iá v e is - e s to q u e □ In d ic a m m a g n itu d e s m e d id a s e m d e te r m in a d o m o
e c o n ô m ic a s
m e n to .
q u a n tif íc ã v e is
R e la ç õ e s f u n c io n a is o In d ic a m r e l a ç õ e s e n tr e d u a s v a r iá v e is , e x p r e s s a n d o a
□ L in e a r e s c o r r e s p o n d ê n c i a f u n c io n a l e n tr e e la s .
□ N ã o lin e a r e s
R e la ç õ e s R e la ç õ e s o In d ic a m v a r i a ç õ e s c u m u la tiv a s , n o d e c u r s o d e s é r ie s
e n tr e in c r e m e n ta is h is tó r ic a s , e n tr e d u a s v a riá v e is .
v a riá v e is □ In d ic a m a r e s p o s ta d e u m a o u d e um c o n ju n to de
v a r iá v e is a d e te r m in a d a a ç ã o e c o n ô m i c a .
R e la ç õ e s m a tr ic ia is □ In d ic a m a i n te r d e p e n d ê n c ia d e c o n ju n to s in te r c o n s is -
te n te s d e v a riá v e is .
.
N ú m e ro s - ín d ic e s □ In d i c a m v a ria ç õ e s d e g r u p o s , d e c o n ju n to s o u de
a g re g a ç õ e s d e d a d o s e c o n ô m ic o s .
M e d id a s d e □ Ex p re ssa m em te r m o s m é d io s , m e d i a n o s o u m o d a is
te n d ê n c ia c e n tr a l a o b se rv aç ão d e d e te r m in a d a s i tu a ç ã o o u tr a n s a ç ã o
e c o n ô m ic a .
Q u o c ie n te s □ R e s u lta d o d a d iv is ã o d e v a r iá v e is e c o n ô m i c a s , e x p r e s
san d o :
F o r m a s u s u a is
□ V a r ia ç õ e s a o l o n g o d o te m p o .
d e in d ic a ç õ e s
□ P ro p o rç õ e s e m d e te r m in a d o m o m e n to .
! q u a n tita tiv a s
C o e f ic ie n te s □ E x p r e s s a m p a r â m e tr o s d e c o r r e l a ç ã o , s i m p le s o u m ú l
tip la , e n tr e v a r iá v e is e c o n ô m ic a s ,
o E x p r e s s a m g ra u s d e c o n c e n tr a ç ã o ( o u d e d is p e r s ã o )
d e d e te r m in a d a s c o n d i ç õ e s e s tr u tu r a is d a e c o n o m i a .
V a lo r e s a b s o lu to s □ Ex p re ssa m r e s u lta d o s d e tr a n s a ç õ e s :
□ E s p e c íf i c a s ; d e u m d a d o a g e n te , o u in te r a g e n te s .
o D a a tiv id a d e e c o n ô m i c a a g r e g a ti v a m e n te c o n s i d e
rad a.
r
____________________________ L
i
R e la ç õ e s e n tre A s v ariáv eis eco nô m icas, esto q u es o u fluxo s, não são exp ressõ es iso lad as, d es
p ro v id as d e c o n ex õ es. Elas rep resentam m ag nitud es g eralm ente resultantes d e
V a riá v e is
co m p lexas teias d e relaçõ es e d e estruturas interco nectad as. Estab eleeem -se, as
sim, entre as v ariáv eis ecõ nô m icas, d iferentes fo rm as d e relaçõ es, d e que são
exem p lo s as f u n ci o n a i s , as i n c re m e n ta i s e as m a tri ci a i s .
38 A C O M PREEN SÃ O D A ECO N O M IA
R EIA Ç Õ ES FU N C IO N A IS. A s re l a ç õ e s f u n ci o n a i s exp ressam a co rresp o n
d ência o u o reg im e d e d ep end ência entre v ariáv eis. Relaçõ es d esta natureza são
usualm ente v erbaliz ad as da seg uinte fo rm a: a v ariáv el X é função d e Y. Isto
sig nifica q u e a m agnitud e d e X d ep end e da d e Y. V am o s a d o is exem p lo s:
e xp re s s as so b a
O rigem
f o rm a d e re laçõ e s da
C
m atriciais. p ro d u ç ã o
K m
N
D ev e-se ler: relação increm entai inv estim ento s-em p reg o .
N o te-se que, nesta relação , estam o s co m p arand o d uas v ariáv eis e c o
nô m icas d efinid as p o r d iferentes unid ad es. O s inv estim ento s são ind i
cad o s em unid ad es m o netárias; o em p reg o , p o r núm ero d e trabalha
d o res. C aso , p o r exem p lo , o s no v o s inv estim ento s tenham to taliz ad o ,
ao lo ng o d e d eterm inad o p erío d o , R$ 20 b ilhõ es, g erand o 500 mil
no v o s em p reg o s d ireto s e ind ireto s, teríam o s uma relação increm entai
d e 40.000 p o r 1. Isto significa que, p ara cad a R$ 40 mil em no v o s
inv estim ento s, g era-se um em p reg o no v o na eco no m ia.
40 A C O M PREEN SÃ O D A ECO N O M IA
O s cruz am ento s d as linhas e co lu nas d efinem células, E cad a célu la ind ica
um a relação intra o u interseto rial d e recíp ro ca d ep end ência: o q u anto cad a se
to r d ep end e d e o utro p ara realizar (.entrad as) o u esco ar (saíd as) sua p ro d ução .
C o nstruçõ es m atriciais co m o esta ev id enciam a estrutura d as relaçõ es estab eleci
d as d entro d o ap arelho d e p ro d ução d as eco no m ias nacio nais. São instrum ento s
úteis para ind icar exced entes d e p ro d ução o u garg alo s d e sup rim ento s. Ind icam
aind a im p acto s, so b re to d o o sistem a, d eco rrentes da exp ansão o u da retração
d e d eterm inad o seto r.
1. O INPC - índ ice N acio nal d e Preço s ao Co nsum id o r ind ica a v ariação
m ensal d o s p reço s d e uma cesta d e b ens e serv iço s p ag o s p elo s c o n
sum id o res d e d eterm inad a faixa d e rend a. Resulta da m éd ia p o nd era
d a d o s índ ices calculad o s nas d ez p rincip ais reg iõ es m etro p o litanas
d o p aís. C o m o o INPC, o s d em ais índ ices d e p reço s m ed em v ariaçõ es
d e co nju nto s o u g rup o s d e p reço s, não d o p reço d e um único e d e
term inad o p ro d uto . Trata-se, p o rtanto , d e uma ind icação d e natureza
ag regativ a.
2. O INA - Ind icad o r d o Nível d e A tiv id ad e rev ela o d esem p enho da
ativ id ad e p ro d utiva e suas v ariaçõ es ao lo ng o d o tem p o . Exp ressa as
flu tuaçõ es da eco no m ia, resultand o da m éd ia p o nd erad a d e índ ices
d e d esem p enho d e d iferentes g rup am ento s d e seto res d e p ro d ução .
N o s d o is caso s, o s núm ero s-índ ices são ind icaçõ es agregativ as. Refletem ,
p o rtanto , v ariaçõ es d e d ad o s eco nô m ico s agrup ad o s.
As m e d i d a s d e te n d ê n c i a c e n tra l são fo nnas usuais d e ind icação d e d e
term inad as v ariáv eis eco nô m icas, cujas m ag nitud es refletem v alo res transacio
nais p raticad o s “em m éd ia”. O s exem p lo s mais co m u m ente citad o s são as taxas
d e juro s e d e câm bio . A s taxas d iv ulgad as são a m éd ia d as efetiv am ente p ratica
d as, em d eterm inad o p erío d o , no s m ercad o s financeiro e cam bial. As transaçõ es
efetiv am ente realiz ad as estiv eram , em geral, bastante p ró xim as da m éd ia, umas
acim a o utras abaixo , reg istrand o a caçla m o m ento as co nd içõ es p rev alecentes
no s m ercad o s. C o nsid eram -se co m o ind icad o res as co rresp o nd entes tend ências
centrais. .7
O s q u o ci e n te s resultam da d iv isão d e v ariáv eis eco nô m icas, exp ressand o
v ariaçõ es ao lo ng o d o tem p o o u p ro p o rçõ es em d eterm inad o m o m ento . Vam o s
v er d o is exem p lo s sim p les:
42 A CO M PREEN SÃ O D A ECO N O M IA
cura sep arar, p o r sua natureza, cad a um d o s fato s q u e co m p õ em a in
d escritív el teia d as relaçõ es so ciais. A classificação d e um fato co m o
e c o n ô m i c o env o lv e, assim, uma abstração - a primeira d as muitas que
são imp o stas p elas co nd içõ es técnicas d a có p ia m ental da realid ad e.
□ O s f ato s s o ci a i s resultam d o co m p o rtam ento hum ano . Eles se carac
teriz arão c o m o f a to s e c o n ô m i c o s à m ed id a q u e to d o o co nju nto d o s
asp ecto s so ciais q u e o s env o lv e fo r d e certa fo rm a eclip sad o p o r c o n
sid eraçõ es o u m o tiv açõ es d e o rd em eco nô m ica. O eclip se, no entan
to , será sem p re p arcial, à m ed id a q u e cad a um d o s fato s d estacad o s
tam bém env o lv e co nsid eraçõ es o u m o tiv açõ es éticas, so ciais e p o líti
cas, além d e estarem subo rd inad o s a to d o um co nju nto d e no rm as
juríd icas o u d e v alo res culturais.
□ A d escrição e análise d o s elo s causais q u e ligam o s fato s eco nô m ico s
ao s não ec o nô m ico s e a d esco b erta d a lo g icid ad e q u e o rienta as rela
çõ es so ciais c o m o um to d o d ev em estar sem p re p resentes nas abstra
çõ es q u e elab o ram o s p ara sistem atizar o co nhecim ento d o s asp ecto s
eco nô m ico s d o p ro cesso so cial.
C o nso lid and o o s co nteú d o s até aqui d esenv o lv id o s, a Figura 1.4 sintetiza as
interfaces d a eco no m ia co m o utro s cam p o s d o co nhecim ento so cial, d estacand o
as relaçõ es biunív o cas q u e se p o d em estab elecer entre eles, tanto no âm bito da
co nstru ção d o co nhecim ento , co m o no o rd enam ento efetiv o d a v id a em so c ie
d ad e. Sintetiza aind a as *categ o rias centrais e o s tem as d e m aio r relev ância que
grav itam no cam p o mais esp ecífico d a eco no m ia - to d o s, p ratícam ente, p assí
v eis d e q uantificação .
Para leitura, o Q uad ro 1.3 traz, em seq ü eneiação livre, trecho s selecio nad o s
d o s três p rim eiro s cap ítulo s d e Principies of economics, d e A lfred M arshall,8 p u
blicad o em 1890. Rev ela o entend im ento d e um d o s m ais fecu nd o s m estres da
eco no m ia neo clássica so b re o o b jeto d a eco no m ia e a.s q u estõ es b ásicas d e que
se o cu p am o s eco no m istas. C o m o p ano d e fund o , o texto d estaca o o rd enam en
to m aio r d a v id a em so cied ad e, lastread o em p rincíp io s institucio nais, m arcad a-
m ente ético s. É leitura relev ante para um a b em fund am entad a c o m p re e n s ã o
d a e co n o m ia.
1 .3 O C o n ceito d e Eco n o m ia
D im e n s ã o e A co m p lexa teia d as relaçõ es so ciaisxe a m ultip licid ad e d o s fato res co nd icio nan-
tes da ativ id ad e eco nô m ica d ificultar^, d e certa fo rm a, a fo rm u lação d e uma
A d jc tiv a ç a o
d efinição abrang ente p ara a eco no m ia.' A lém d isso , co m o já d estacam o s, a e c o
in ic iais: a no m ia é fo rtem ente influenciad a, tanto em sua co nstru ção c o m o ram o d o c o
H c o n o m ia P o lític a nhecim ento , c o m o na realid ad e, p o r d iferentes c o n c ep ç õ es p o lítico -id eo ló g icas,
alg um as até co nflitantes entre si. C o nseq ü entem ente, cad a co rrente d e p ensa
m ento eco nô m ico enxerg a a realid ad e so b âng ulo s d iferenciad o s, a p artir d o s
quais elab o ra suas c o n c ep ç õ es, estab elec e seus c o nc eito s e fo rm ata seus m o d e
lo s. E tem m ais: ao lo ng o d o tem p o , as instituiçõ es eco nô m icas e as c o n c ep ç õ es
p o lítico -id eo ló g icas se m o d ificam . To rna-se g eralrhente m aio r a co m p lexid ad e
E q u ilíb rio
( "------------
r N C o n c o r-
L ........ . . .
C re s c i- rê n c ia
\
X m e n to __________ r y _ j
R e m u n e ra -
T ra n s a A g re g a d o s ções
ções
J
Q UA D RO 1 .3
Eco n o m ia: U m estu d o d a riq u ez a e u m ram o d o estu d o d o h o m em .
A eco no m ia é um estud o da hum anid ade nas ativi custo s e o s benefício s de determinada ação ou d e um
d ad es co rrentes da vida; examina a ação individual e so em p reend im ento , antes d e executá-lo . E em que é p o s
cial em seu s asp ecto s mais estreitam ente ligad os à o b sível calcular seus resultad os e efeito s.
tenção e ao uso d as co nd içõ es materiais do betn-estar. Aqui d ev em o s ter p resente que o s mo tiv os d as açõ es
Assim, d e um lad o, é um estud o da riqueza; e, de hum anas nào residem, necessariam ente, ap enas em b e
o utro, e mais impo rtante, uma parte do estud o d o ho nefício s materiais, eco no m icam ente m ensuráveis. Env o l
mem. O caráter d o ho m em tem sido m o ld ad o p o r seu vidos p elas fo rças da co nco rrência, muitos ho m ens d e
trabalho quo tid iano e p elo s recurso s materiais que em neg ó cio s são muitas v ezes estimulad os mais p ela exp ec
prega, m ais d o que p o r outra influência qualquer, à p ar i tativa d e v encer seus rivais d o que p ro p riam ente p o r
te a d o s ideais religio so s. O s d o is grand es fatores na his acrescentar mais a sua própria riqueza. Po r o utro lado , o
tória d o mundo têm sido o religio so e o eco nô m ico . A qui d esejo de o bter a ap ro v ação o u de evitar a censura d e
e ali o ardo r do esp írito militar o u artístico p red om inou seus p ares, no m eio so cial em que vivem, p o dem tam
po r algum tem p o ; mas as influências religiosas e eco nô bém levar co m um ente a açõ es e d ecisõ es d e significati
micas nunca foram d eslo cad as d o primeiro p lano , m es v o s efeito s eco nô m ico s.
m o p assageiram ente, e quase sem pre foram mais impo r Po d emo s melhor ilustrar essas idéias enum erand o al
tantes d o que as o utras to d as juntas. gumas das principais questõ es estudadas pela eco no m ia.
Vista d esta fo nna, a eco no m ia é um estud o d o s ho
mens tal co m o vivem, agem e p ensam no s assunto s co □ Q uais as causas que afetam o co nsum o e a p ro
muns da vida. Mas diz respeito , p rincip alm ente, ao s m o d ução , a d istribuição e a troca d e riquezas; a
tivos que afetam, de mo d o intenso e co nstante, a co nd u o rg anização da indústria e d o co m ércio ; o co
ção d o ho m em no cam p o d as transaçõ es m ercantis e d os m ércio exterio r; as relaçõ es entre em p reg ad o s
neg ó cio s. K co m o as transaçõ es e seus benefício s são e em p regad o res. Como estas questõ es são in
m ensuráv eis, a eco no m ia co nseguiu avançar mais que fluenciad as umas p elas outras.
o s o utro s ramo s d o estud o d o ho m em . Assim co m o a □ Qual o alcance e a influência da liberd ad e ec o
balança de p recisão d o quím ico torna sua d isciplina mais nô m ica, Q ual sua im po rtância, efeito s imed ia- .
exata que outras ciências físicas, a balança d o eco no m is to s e mais remoto s. Até que p o nto o s inco nv e
ta, ap esar d e mais grosseira e imperfeita, deu à eco no nientes da liberd ad e eco nô m ica, para o s que
mia uma exatid ão m aio r d o que a d e qu alquer o utro d ela nào se beneficiam , justificam m o d ificaçõ es
ramo d as ciências sociais. N aturalmente, era termo s co m em instituiçõ es co m o a p ro p ried ad e e a livre
parativo s, a eco no m ia nào tem a m esm a p recisão das em p resa. Em que medida p o deriam o s fazer es
ciências físicas exatas, p o is ela se relacio na co m as fo r sas m o d ificaçõ es sem enfraqu ecer a energia d os
ças sutis e sem pre mutáveis da natureza humana. que p ro m o vem o pro gresso .
É essencial no tar que o eco no m ista nào se arro ga a □ Como d ev e ser distribuída a incid ência d e im
p o ssibilid ad e de medir o s m o tiv o s e as inclinaçõ es hu po stos entre as d iferentes classes da so ciedad e.
manas. Ele só o faz ind iretamente, através d e seus efei Quais o s em p reendim ento s d e que a so ciedad e,
to s. Avalia as m o tiv açõ es da ação po r seus resultados, p o r ela mesma, deve encarregar-se e quais o s que
do m esm o m o d o co m o o faz o cid ad ão co m um , diferin se farão p o r interméd io d o gov erno . Em que m e
d o d ele so m ente p elas m aio res p recauçõ es que toma em dida o go v erno d eve regulamentar a forma co m o
esclarecer o s limites d e seu co nhecim ento . A lcança suas o s ho m ens de em p resa dirigem seus negó cio s.
co nclu sõ es pro visó rias pela o bserv ação da co nd uta hu 3 So b que aspectos diferem o s d everes de uma na
mana so b certas co nd içõ es, sem tentar p enetrar ques ção em relação a outra, em matéria eco nôm ica,
tõ es d e o rd em transcend ental. Na utilização d o co nheci dos que têm entre si o s cidadãos de uma mesnva
mento , co nsid era o s incentiv o s e o s fins últimos que le nação .
varam à busca d e d eterm inad as satisfaçõ es. As medidas '\
eco nô m icas d essas satisfaçõ es são o p o nto d e partida da A ssim co nsid erad a, a eco no m ia é o estud o d as co n-
eco no m ia. diç.õés materiais da vida em so cied ad e e d o s mo tivo s que |
levam o s ho m ens a açõ es que têm co nseq uências eco - !
Passem o s, agora, a o utro p o nto . Q uand o d izem o s
nô m icas. Sào seus o bjeto s o estud o da p o b rez a, enquan- j
que um resultad o o u efeito é med id o p ela ação que o
to estud o das causas da d egrad ação de uma grand e par
causo u,' não estam o s admitindo que to d a ação humana
te da hum anid ad e; das co nd içõ es, m o tiv açõ es e razões
d eliberad a seja resultad o d e um cálculo eco nô m ico . As
da riq u ez a; das açõ es individuais e so ciais ligadas à o b
p esso as nào p o nd eram p reviamente o s resultad os ec o
tenção d o b em -estar.
nô m ico s d e cad a uma d e suas açõ es. Nem to d as as açõ es
hum anas são o b jeto d e cálculo eco nô m ico . Mas o lado
da vida d e que a eco no m ia se o cup a esp ecialm ente é Fo n te : MARSHALL, Alfred. Principies o f economics. 8.
aqu ele em que o co rre, co m mais freqüência, calcular o s ed . Londres : Macmillan, 1961.
46 A C O M PREEN SÃ O DA ECO N O M IA
Este p o linô m io fo i a b ase d o co nceito clássico d e eco no m ia. A m aio r p arte
d o s eco no m istas clássico s, q u e v iv eram na transição d o s sécu lo s XV III e XIX,
co m o o p asto r Tho m as M althus, o financista Jo h n Law , o p o lítico Stuart Mill, o
b anq u eiro Richard Cantillo n, o neg o ciante Dav id Ricard o e o teó rico Jean Bap -
tiste Say d efiniam a eco no m ia, p artind o d estes quatro fluxo s. Say, co nsid erad o
um d o s m ais no táv eis m estres d a era clássica, assim d efiniu a eco no m ia em seu
Traité d'économie politique, p ublicad o já no início d o sécu lo XIX, em 1803:
“A e c o n o m i a p o l í ti ca to rn a c o n h e c i d a a n a tu re z a d a ri q u e z a ; d e s
s e c o n h e c i m e n to d e s u a n a tu re z a d e d u z o s m e i o s d e s u a f o rm a
ç ã o , re v e l a a o rd e m d e s u a d i s tri b u i çã o e e x a m i n a o s f e n ô m e n o s
e n v o l v i d o s e m s u a d i s tri b u i çã o , p ra ti ca d a a tra v é s d o c o n s u m o / '
A A BRA N G ÊN C IA E A S U M ITA Ç Õ ES D A EC O N O M IA 47
C abe o bserv ar q u e a síntese d e M arshall nào se lim ito u à d escrição e à
análise d o s p ro cesso s ec o nô m ic o s relacio nad o s ao trinô m io riq u ez a-p o brez a-
bem -estar. Fo i além , ao d iscutir asp ecto s ético s lig ad o s à co nd uta hum ana e às
fo rm as d e o rg aniz ação d a so cied ad e que p o d eriam am p liar o u d iminuir, em fun
ção d o p ro cesso d istributiv o , o núm ero d o s que têm d e fato acesso às co nd içõ es
m ateriais p o ssív eis d e ser alcançad as em d ad o estág io cultural. Traço s d a o rg ani
z ação so cial, co m o a lib erd ad e d e em p reend im ento e a co nco rrência, fo ram ana
lisad o s so b a ó p tica d e sua influência na g eração e d ifusão d o b em -estar so cial.
D aí fo ram d eriv ad as alg um as d e suas mais co ntund entes o b serv açõ es so b re o
caráter so cial da eco no m ia. Entre as m ais citad as, d estacam -se:
A P e rsp e c tiv a O b inô m io p ro d uçào -d istrib uiçào (entend end o -se d istribuição no sentid o d e p ro
cesso rep artitiv o o u, m ais sim p lesm ente, co m o rep artição ) é a b ase a partir da
So c ia lis ta
qual a p ersp ectiv a so cialista co nstruiu sua c o n c ep ç ão so b re a m atéria d e que se
o cu p a a eco no m ia.
O s p o nto s b ásico s d essa p ersp ectiv a fo ram assim fixad o s p o r O skar Lang e:9
48 A C O M PREEN SÃ O D A ECO N O M IA
estág io cultural alcançad o . M esm o as necessid ad es b io ló g icas se re
v estem d e um caráter e d e um a fo rm a q u e sào fu nção d a cultura da
so cied ad e. A s necessid ad es d o s ho m ens, em bo ra p rim itiv am ente o rig i
nad as d as bio ló g icas, sào p o r co nseg uinte um p ro d uto da vida so cial e
em co m um . D ep end em , assim , d o grau d e d esenv o lv im ento d a so c ie
d ad e hum ana.
□ Para satisfazer às necessid ad es hum anas, é ind isp ensáv el a p ro d ução
o u usufruto d e b ens q u e o ho m em extrai d a natureza, transfo rm and o -
o s, m o d ificand o seus caracteres, d eslo cand o -o s no esp aço e esto can
d o -o s. A ativ id ad e hum ana q u e co nsiste em ad ap tar o s recurso s e as
fo rças da natureza co m a finalid ad e d e satisfazer às necessid ad es hu
m anas é d esignad a p elo term o p ro d u çã o . Trata-se d e uma ativ id ad e
co nsciente e intencio nal, fund am entad a no tra b a l h o .
□ Das c o n ex õ es entre a p ro d u ção e o trabalho se extraem o s elem ento s
vitais d o p ro cesso eco nô m ico . A p ro d ução é um a to s o ci a l , que en
v o lv e d iv isão d o trabalho . O trabalho d e um ho m em é ap enas uma
p arte d o trabalho co m b inad o e asso ciad o d e to d o s o s m em bro s da
so cied ad e. É uma p arte d o tra b a l h o s o cial , cu jo p ro d uto é rep resen
tad o p elo s b ens q u e serv em , d ireta o u ind iretam ente, p ara satisfazer
às necessid ad es hum anas, m anifestad as d e fo rm as d iferentes em d ife
rentes so cied ad es.
□ A realização co m p leta d esse p ro cesso so cial inclui, p o r fim, a d i s tri
b u i ç ã o ou re p a rti ç ã o d o p ro d uto so cial d o trabalho . A rep artição
rev este-se tam bém d e caráter so cial. É, p o r sua natureza, um ato so cial,
que assum e d iferentes fo rm as, d e aco rd o co m o s graus d e d esenv o lv i
m ento da so cied ad e. Há v ínculo s, q u e se cristalizam histo ricam ente,
entre o s m o d o s d e p ro d ução e a m aneira co m o se o p era a d istribui
ção d o esfo rço so cial d e p ro d ução . Km sua Introdução à crítica da
economia política, Marx acentuo u que “as relaçõ es e o s m o d o s d e dis
tribuição ap arecem sim p lesm ente co m o o anv erso da p ro d ução . A es
trutura da d istribuição é d eterm inad a p ela estrutura da p ro d ução ”.
□ C o nclusiv am ente: enq u anto as relaçõ es d e p ro d u ção d ep end em d o
nív el histó rico d as fo rças p ro d utiv as, isto é, d a atu ação so cial d o h o
m em no trato co m a natureza, as relaçõ es d e d istribuição d ep end em
d as relaçõ es d e p ro d ução . A m aneira c o m o se o p era a d istribuição
d o s p ro d uto s na so cied ad e é d eterm inad a p ela m aneira co m o o s h o
m ens p articip am d o p ro cesso d e p ro d ução .
□ O e s tu d o d as l e is s o c i a i s q u e re g u l a m a p ro d u ç ã o e a d i s tri b u i
ç ã o d o s m e i o s m a te ri a i s d e s ti n a d o s a s a ti s f a z e r às n e ce s s i d a d e s
h u m a n a s re s u m e o c a m p o d e q u e s e o c u p a a e c o n o m i a .
A Sis te m a tiz a ç à o A p arentem ente m eno s influenciad a p o r sistem as id eo ló g ico s, um a tentativ a m ais
recente (e tam bém m ais atraente) d e caracteriz ar o s fato s ec o nô m ico s e d e d eli
d e R o b b in s
m itar co m m aio r nitid ez o s asp ecto s eco nô m ico s da vida so cial fo i em p reend id a
na p rim eira m etad e d o s ano s 30, em um no táv el ensaio d e Lio nel Ro b b ins10
so b re a natureza e o sig nificad o da eco no m ia.
A sistem atiz açào d e Ro bbins não p artiu, c o m o a m aio r p arte d as que a an
teced eram , d e categ o rias co nv encio nais d e fato s eco nô m ico s, c o m o p ro d ução ,
Para Ro bbins, nenhum a d essas quatro co nd içõ es, iso lad am ente co nsid era
da, é suficiente p ara caracteriz ar o fato eco nô m ico . Este é caracteriz ad o p o r um
im p o rtante elem ento , q u e estab elec e o s elo s d e lig ação entre as quatro co nd i
çõ es v istas co m o um to d o . Este elo é a ca p a ci d a d e h u m a n a d e f a z e r e s c o
l h as , em face d a m ultip licid ad e d e fins p retend id o s e aind a d a d iv ersid ad e d e
m eio s p ara alcançá-lo s. A d em ais, o s ato s d e esco lha tam bém d eco rrem d o fato
d e o s recurso s p o d erem ser m o biliz ad o s p ara d iferentes fins, em b o ra sejam es
casso s o u lim itad o s. O f a to e c o n ô m i c o re s u m e - s e , a s s i m , n o s a to s d e e s c o
l h a e n tre f in s p o s s í v e i s e m e io s e s c a s s o s a p l i cá v e i s a u s o s a l te rn a ti v o s .
A p rim eira lição q u e se extrai d essa sistem atiz ação d iz resp eito à e c o n o m i -
cid a d e d a a ç ã o h u m a n a . Esta d eco rre da in e v i tab i l id ad e d a e s c o l h a . Entre
uma m ultip licid ad e d e o p çõ es so b re as açõ es q u e p resum iv elm ente co nd uzirão
à g eração e acum u lação d as m ais v ariad as categ o rias d e riqueza e ao s mais d i
v erso s estág io s d e p ro sp erid ad e e bem -estar, o ho m em está ag ind o eco no m ica
m ente q u and o p ro ced e a um a esco lha d eterm inad a. Seja qual fo r esta esco lha,
ela co nd uzirá:
1. A o a l c a n c e d o f im p ro p o s to , to ta l o u p a rc i a l m e n te , s o b d i f e re n
te s g ra u s d e e f i ci ê n ci a . A isto se dá a d eno m inação g enérica d e b e
n e f í ci o .
2. À u ti l i z a çã o d e m e i o s d i s p o n í v e i s , ta m b é m s o b d i f e re n te s g rau s
d e e f i ci ê n ci a . A isto se dá a d eno m inação g enérica d e cu s to .
3. A d e te rm i n a ç ã o d e c o m o s e u ti l i z a rã o o s m e i o s d i s p o n í v e i s n a
c o n s e c u ç ã o d o f im p ro p ô s to . A o s m ecanism o s e critério s q u e e n
v o lv em a d estinação d o s m eio s utiliz ad o s se d á a d eno m inação g e
nérica d e a l o c a ç ã o .
4. À n ã o - c o n s c c u ç ã o d e o u tro s f in s. A esco lha d e d eterm inad o fim e a
c o nseq ü ente utilização d e m eio s escasso s im p lica necessariam ente a
red u ção d a cap acid ad e efetiv a da so cied ad e p ara o b ter o utro s b enefí
cio s. A esta quarta d eco rrência d o p ro cesso d e esco lha se d á a d eno
m inação d e c u s to d e o p o rtu n i d a d e .
50 A CO M PREEN SÃ O D A ECO N O M IA
FIG IJRA 1.5
U m a sín tese
seq ü en cial d o s
co n ce ito s b ásico s
d a sistem atiz ação
d e R o b b in s.
Em 1932, o eco no m ista inglês Lionel Ro bbins. em p o ssib ilid ad e d e faz e r e sc o lh as. Q uand o , d e um lado,
■ seu En saio so b re a n atu rez a e a im p o rtân c ia d a e c o o s m eio s são limitados e ap licáveis a usos alternativo s e,
n o m ia, exp licito u no v o s co nceito s so bre o fato eco nô d e o utro lado , o s fins são graduáveis p o r o rd em d e im
mico e, sim ultaneam ente, so bre a eco no m ia. p o rtância, a conduta humana assum e necessariam ente a
Para co m p reend er a sistem atização d e Robbins, d e forma d e uma e s c o lh a e tem. então , uma d im e n são
v em o s partir d o co nceito w alrasiano de escassez. L. W al- e c o n ô m ic a . A eco no m ia v em assim a co nfig u rar-se
raz d efine co m o escassa uma co isa que seja ao m esm o co m o a ciência q u e estuda a co nd uta humana na utiliza- 1
tem p o útil e limitada em relação às necessid ad es a que çào d e m eio s escasso s para atend er a fins alternativos.
ela p o ssa satisfazer. Se as riquezas são escassas, isto é, Com esta d efinição , clareav a-se o caráter essencial do
se co m elas não é p o ssív el satisfazer às necessid ad es até trabalho científico em eco no m ia: a d eterm inação d o s re
a saturação , d eco rre que o p ro blem a que cad a agente sultado s que o ato d e esco lha alcança em uma série de
eco nô m ico d ev e reso lv er co nsiste em tirar o máxim o pro caso s particulares, d e m axim izaçào na realização d e fins
v eito d o s recurso s escasso s a sua d isp o sição . O co nsu o u d e m inimizaçào no em p rego d e m eio s. A im p ortân
midor, p o r exem p lo , tend e a distribuir seus rend imento s cia que Robbins, co m rigor, atribuiu a esta questão es
entre vários bens, p ro curand o maximizar sua utilidade. sencial contribuiu para rem ov er incertezas so bre a natu
O pro duto r tend e a distribuir recurso s entre as várias al reza da ciência eco nô m ica, fav o recend o no tav elm ente
ternativas d e p ro d ução q ue lhe são acessív eis, d e m o d o seu p ro g resso ulterior. Lsto foi bem d em o nstrad o em um
a maximizar seus reto rno s. Um p o up ad o r que d isp onha d o s m o num ento s da m o d erna sistem atização científica
de certo m o ntante p ro cura d istribuí-lo entre as várias al- em eco no m ia, o s Fundamentos da análise econômica,
! tem ativ as de ap licação , para maximizar sua renda futu d o am ericano P. Samuelso n, d e 1947.
ra. E assim sucessiv am ente. To d o s esses caso s são esp e Uma d as questõ es mais im p o rtantes, d eco rrentes da
cificaçõ es d o p ro blem a geral d e tornar m áxim o um re sistem atização d e Ro bbins, diz resp eito à neutralid ade
sultado, co nd icio nad o p o r d eterminad a, e escassa, d is da eco no m ia, d eixand o aqui claras suas interfaces co m \
p o nibilid ad e d e m eio s. Isto é o m esm o que to m ar míni o utro s ramo s d o co nhecim ento so cial. D o p o nto d e vista
m o o d isp ênd io de m eio s para alcançar um d ad o resul formal, a eco no m ia é ind iferente em relação ao s fins
tad o . que um co njunto d e recurso s é cap az d e atingir. O co r
Esta bem co nso lid ad a co m p reensão teó rica sugeriu re, p o rém , q u e o s fins que a ação hum ana estab elece
a Robbins a procura d e uma d efinição para o fato e c o estão naturalm ente sujeito s a o utro s tip o s d e av aliação ,
n ô m ic o , que não fo sse ap enas classificató ria, mas analí d o s p o nto s d e vista ético e p o lítico , p o r exem p lo . Co m o
tica. Ele p retendeu ind icar em que co nsistiría o asp ecto Ro bbins d estaca, isto não significa que o eco no m ista
p ro priam ente eco nô m ico da co nd uta humana. não p o ssa nem deva exp ressar juízo s d e v alo r acerca
A pro fund and o o co nceito w alrasiano d e escassez, d os fins que se p retend e alcançar e da fo rm a co m o se
Robbins estabeleceu quais seriam as co nd içõ es, necessá rão em p reg ad o s o s co rresp o nd entes m eio s d isp o nív eis.
rias e suficientes, que to m am a ação hum ana suscetív el Mas, ao transitar da abo rd agem p uratnente eco nô m ica
d e co nsid eração eco nô m ica. Fo ram quatro as co nd içõ es para o utras categ o rias d e co nsid eraçõ es, o eco no m ista
definid as: as duas primeiras d izem resp eito ao s fins e as transita d o q u e se co nv encio no u cham ar d e eco no m ia
d uas o utras ao s m eio s d e ação . A primeira co nd ição é “p o sitiv a” p ara a eco no m ia “no rm ativ a”. Vale d izer, da
que o s fins sejam múltiplos; a segund a, que o s fins te “ ciência eco nô m ica" p ara a "p o lítica eco nô m ica” . N es
nham d iferentes graus d e impo rtância e po ssam ser hie- se trânsito , to rnam -se inev itáv eis juízo s de v alo r e cru
rarquizado s; a terceira é que o s m eio s sejam limitados; e zam ento s co m co nsid eraçõ es extra-eco nô m icas, siste
a quarta é que o s m eio s tenham usos alternativo s. matizadas. em o utro s cam p o s d o co nhecim ento , co m os
quais, então , se to rnam inexo ráv eis as relaçõ es d e in
Iso lad am ente co nsid erad a, nenhum a d essas quatro
terd ep end ência;
co nd içõ es está apta a caracterizar o fato eco nô m ico . Vis-
1 tas, p o rém , em co njunto , d efinem qual o elem ento es Fo n te : NAPOLEONI, Cláudio. O pensamento econômico
sencial d o asp ecto eco nô m ico da co nd uta hum ana: a do século XX. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1979-
“A e c o n o m i a é a c i ê n c i a q u e e s tu d a as f o rm a s d e c o m p o rta m e n to
h u m a n o re s u l ta n te s d a re l a ç ã o e x i s te n te e n tre as i l i m itad as n e
ce s s i d a d e s a s a ti s f a z e r e o s re c u rs o s q u e , e m b o ra e s c a s s o s , s e p re s
ta m a u s o s a l te rn a ti v o s .”
52 A C O M PREEN SÃ O D A ECO N O M IA
□ U m b re i t, H u n t e K i n te r:12 “A eco no m ia é o estud o d a o rg aniz ação
so cial atrav és da qual o s ho m ens satisfazem suas necessid ad es d e b ens
e serv iço s escasso s/ ’
□ L e f tw Í ch :B “Em bo ra nem sem p re seja fácil sep arar a d em arcação d as
fro nteiras q u e sep aram a eco no m ia d e o utro s cam p o s d o co nhecim ento
social,, há atualm ente co nco rd ância geral em relação a seu co nteú d o
p rincip al. A o se o cu p ar d as co nd içõ es g erais d o bem -estar, o estud o
d a eco no m ia inclui a o rg aniz ação so cial q u e im p lica d istribuição d e
recurso s escasso s entre necessid ad es hum anas alternativ as, co m a fi
nalid ad e d e satisfazê-las a nív el ó tim o .”
□ B a rre : 14 “A eco no m ia é a ciência v o ltad a p ara a ad m inistração d o s
escasso s recurso s d as so cied ad es hum anas: ela estud a as fo rm as assu
m id as p elo co m p o rtam ento hum ano na d isp o sição o nero sa d o m un
d o exterio r, d eco rrente da tensão entre d esejo s ilimitáv eis e m eio s li
m itad o s.”
□ S to n i e r e H a g u e :B “N ão ho uv esse escassez nem necessid ad e d e re
p artir o s b ens entre o s ho m ens, não existiríam sistem as eco nô m ico s
nem eco no m ia. A eco no m ia é, fund am entalm ente, o estud o da escas
sez e d o s p ro blem as d ela d eco rrentes.”
□ R o g e rs ,1(> auto r d e um m anual d e intro d ução à eco no m ia c u jo título
p rincip al, sug estiv am ente, é Choise, isto é. Escolha: “A eco no m ia diz
resp eito ao estud o d e um fenô m eno cham ad o escassez . Em bo ra o ho
m em tenha sid o até aqui b em -su ced id o em fazer co m q u e se exp an
d issem a p ro d ução d e b ens e serv iço s necessário s a sua v id a, ele não
co nseg uiu red uzir substancialm ente a d iferença entre seus d esejo s e
o s m eio s cap az es d e satisfazê-lo s. Co ntinua, assim , agindo economica
mente\ p o is aind a não se liberto u e, p resum iv elm ente, não será fácil
libertar-se d o d ifícil exerc íc io d a escolha.”
□ H o rsm an : “Esco lher a m elho r fo rm a d e em p reg ar recurso s escasso s
p ara o b ter b enefício s m áxim o s: este é o p ro blem a b ásico d e to d as as
so cied ad es eco no m icam ente o rg aniz ad as.”
U m a Prim e ira O Q uad ro 1.5 sintetiza ak.três ab o rd ag ens co nsid erad as: a neo clássica, a so cialis
Sín te s e : as ta e a d e Ro bbins.
Q u e s tõ e s Há nítid as lig açõ es fo rm ais entre as três abo rd ag ens. A razão d e ser d a e c o
no m ia está p resente nas três fo rm as d e d elim itar o cam p o esp ecífico d o c o n h e
P re s e n te s e m
cim ento eco nô m ico - o e s tu d o d as f o rm a s a p l i ca d a s p e l o h o m e m n a i n c e s
A b o rd a g e n s s a n te b u s c a d e m e i o s p a ra s a ti s f a z e r as c o n d i ç õ e s i l i m i tá v e i s d e b e m -
D istin tas e s ta r.
A A BRA N G ÊN C IA E A S H M ITA Ç Ò ES D A EC O N O M IA 53
Q u ad ro 1.5
A ab o rd ag em A p e rs p e ctiv a A sis tem atiz ação
O co n ce ito d e
n e o cl ás sica so cialista d e R o b b in s
e co n o m ia: trê s
ab o rd ag en s □ A e c o n o m ia é um □ As n e c e s s id a d e s □ A s o c i e d a d e te m o b
e s tu d o d o s h o m e n s h u m a n a s s ã o d e te r je tiv o s m ú ltip lo s , ili
d istin tas.
ta l co m o v iv e m , m in a d a s p e lo e s tá m ita d o s , m a s m e io s
ag em e p e n sam n o s g io c u l tu r a l d a s o lim ita d o s . A c o n d u
a s s u n to s o r d in á r i o s c ie d a d e . ta e c o n ô m i c a co n
d a v id a . s is te em e s c o lh e r
□ P a ra s a tis f a z e r a u m
e n tr e f in s p o s s í v e i s
□ F o c a liz a , p r in c ip a l p ad rão de n e c e s s i
e m e io s escasso s
m e n te , a c o n d u ç ã o d ad es, o ho m em se
p a ra a lc a n ç á - lo s .
d o ho m em no tra to d e d ic a a u m a to s o
co m q u e s tõ e s que c ia l: a p r o d u ç ã o . □ A e c o n o m ia é um
in te rf e r e m e m s u a ri ra m o q u e e s tu d a a s
□ A re a liz a ç ã o d esse
q u e z a e b e m - e s ta r . fo rm as d o c o m p o r
p ro c e s s o se c o m p le
ta m e n to hu m ano
□ O f in i ú ltim o d e q u e ta co m a d i s tr i b u i
q u e re s u lta m d a re
c u id a a e c o n o m ia ção do p r o d u to so
la ç ã o e n tr e n e c e s s i
c o n s i s te em d esco c ia l.
d ad es i l i m i ta d a s e
b rir c o m o a s v ir tu
□ O e s tu d o d as le is re c u rs o s e s c a s s o s .
d es hu m anas e a
s o c i a is q u e re g u la m
c o n c o r r ê n c ia p o d e m □ M e io s e s c a s s o s , f in s
a p r o d u ç ã o e a d is
c o n d u z ir a o b e m - e S'- a lte r n a tiv o s , e s c o l h a
tr i b u i ç ã o re su m e o
ta r s o c ia l. e a lo c a ç ã o são os
cam p o de que se
e l e m e n to s a p a r ti r
o c u p a a e c o n o m ia .
d o s q u a is s e d e f in e
o c a m p o d e q u e se
o c u p a a e c o n o m ia .
1 .4 A M eto d o lo g ia d e D esen v o lv im en to d o
C o n h ecim en to Eco n ô m ico
54 A C O M PREEN SÃ O DA ECO N O M IA
v id a e exp ressam o entend im ento d e cad a ag ente o u o senso co m um
q u e se fo rm a so b re cau sas e efeito s d o o rd enam ento d o p ro cesso e c o
nô m ico .
O p ro blem a central da m eto d o lo gia é a d em arcação Enco ntram o s id eo lo gia na p ro d ução científica p o r
científica, o u seja, a d efinição d o q u e é o u nào ciência. que, send o a ciência um fenô m eno so cial, nào p o d e es
Por incrível q ue p areça, não há co isa mais contro versa cap ar ao p o sicio nam ento p o lítico , m anifesto o u latente.
em ciência d o que sua própria d efinição . Enco ntram o s senso co m um p o rque não so m o s cap azes
É sem p re mais fácil definir pela exclusão , o u seja, d e d iscursar so bre to d o s o s assunto s co m co nhecim ento
definir o q u e a ciência não é. Po d em o s imaginar um es esp ecializad o .
p aço co ntínuo , no m eio d o qual co lo cam o s a c iê n c ia e A ceitand o -se, então , que a ciência d ifere do senso
nos extrem o s o se n so c o m u m e a id eo lo g ia. A o dizer co mum e da id eo lo gia, quais seriam o s critério s d e cíen-
mo s que se trata d e um esp aço co ntínuo , aceitam o s que tificidade, para não ficarmo s ap enas numa d efinição po r
, o s limites entre estas categ o rias não são estanques; p elo exclusão ? Po d em o s imaginar critério s in te rn o s e e x te r
co ntrário , eles se sup erp õ em nas o rlas d e co ntato . n o s. O s interno s são :
O critério d e d istinção d o s e n so c o m u m seria o □ C o e rên c ia. Significa argum entação estruturada,
c o n h e c im e n to a c rític o , im ed iatista, q u e acred ita na co rp o não co ntrad itó rio d e enunciad o s, d esd o
| sup erficialidad e d o fenô m eno . A d o na-d e-casa tam bém bram ento d o tema d e forma estruturada, d ed u
1 sabe d e inflação , p o rque p erceb e facilm ente a subid a ção ló gica de co nclusõ es.
contínua d o s p reço s; mas seu co nhecim ento d o p ro ble □ C o n sistê n c ia. Significa a cap acid ad e d e resistir
ma é d iferente d aquele d o eco no m ista, que tem para ele a arg um entaçõ es co ntrárias.
já uma teo ria elabo rad a (o u v árias) e uma av aliação críti
□ O rig inalid ad e. Significa p ro d ução não tauto ló-
ca d e p ro fundidad e. Po d em -se co lo car d entro do senso
gica nem m eram ente rep etitiva, rep resentand o
co mum tam bém m o d o s ultrapassad os d e co nhecer fenô
uma co ntribuição ao co nhecim ento .
m eno s, co nsid erad o s co m o crend ices o u co isas sem e
lhantes. O trabalhado r rural p o d e ter seu m éto d o d e p re □ O b jetiv ação . Significa a tentativa d e repro duzir
v isão d e chuva, usando co m o indicado r impo rtante o zur a realidade assim co m o ela é, não co m o go sta
rar do burro; o agrô no m o se sentirá inclinad o a rejeitar ríamo s que fo sse. -
este m éto d o e a buscar o utros ind icad o res tido s p o r mais
A lém destes, há ainda critério s externo s, redutíveis
críticos e realistas. Muitas d o enças são curad as p o r m é
à intersubjetivid ad e, d e q u e sao exem p lo s a d iv u lg ação ,
to d o s caseiro s, resultantes d e co nhecim ento s histo rica
a c o m p araç ão c rític a e o re c o n h e c im e n to g e n e rali
mente acum ulad o s; a m edicina acad êm ica p o d e aceitar
z ad o . /
certo s m éto d o s, m as há d e p referir vias testad as p o r ex
p eriências críticas, realizadas em labo rató rio s d e p esqui A exig ência d e critério s externo s d eco rre d o cará
sa. Em tudo, o critério d e d istinção é o esp írito crítico ter so cial e histó rico da ciência. Equiv ale a d iz er que a
n o tratamento d o fenô m eno , traduzido em característi ciência não é um to d o acabad o . Uma ciência acab ad a
cas co m o pro fund id ad e e rigor ló gico . d estruiría a co ncep ção d e p ro cesso científico e p erd e
ría a no ção d e uto p ia da v erd ad e. To d a ceoria não p as
O critério d e d istinção da id eo lo g ia será o c aráte r
sa d e um tijo lo substituív el no ed ifício inacabáv el da
ju stifle ad o r d este tip o d e co nhecim ento . Justificar, ao
ciência. Equiv ale a d izer q ue o p ro d uto da ciência é
contrário de argumentar, significa buscar a co nv icção , a
p assív el d e d iscussão , exceto se intro d uzirm o s o d o g-
ad esão , a d efesa d o p ro blem a em fo co . Enquanto o sen
matismo .
so co mum co stum a ser uma po stura singela, a id eo lo gia
alcança nív eis da m aio r so fisticação , m esm o p o rque sua Ao p erigo d o d ogmatismo co rresp o nd e o d o relati- j
arma mais v antajo sa é seu env o lv im ento co m a ciência, v ismo : não hav end o p o ssibilid ad e de fund am entação úl- í
na procura de vestir a p rescrição co m a cap a d e d escri tima, a ciência então nào passaria d e um jo go d iletante e
ção . Inclui a d eturp ação d o s fato s em fav or da p o sição a d esco m p ro m issad o , em que cad a qual diz o que quer e j
ser d efend id a, e cheg a m esm o à falsificação, quand o atin aceita o q u e bem entend er. Tal relativismo não é susten- J
ge o nível da pró pria mentira. As interp retaçõ es diver tável so cio lo gicam ente, p o rque a ciência nào é um fenô - |
gem bastante quanto à impo rtância d o fenô m eno id eo m eno individual, mas so cial, ou seja, a d em arcação cien
ló g ico , hav end o o s que o julgam p red o m inante e avas- tífica é feita mais p èla co m unid ad e que p elo indivíduo.
salad o r (num mar d e id eo lo gia há p equenas ilhas d is
persas d e ciência) e o s que o julgam cad a vez mais resi- Fo n te : DEMO, Ped ro . M etodologia científica em ciên
| dual (num mar de ciência restam ainda p o ucas ilhas de cias sociais. São Paulo : Atlas, 1980.
j id eo lo gia).
56 A COMPREENSÃO DA ECONOMIA
FIG URA 1.6
S en so co m u m ,
ciê n cia e id eo lo g ia:
atrib u to s Senso comum Ciência Ideologia
d if e re n ciad o re s. □ Superficialidade □ Coerência □ Just ificação
□ Credulidade □ Consist ência □ Partidarismo
□ Prat icidade □ Objet ividade ~ Klormat ização
A E la b o r a ç ã o cia As d ificuld ad es d e d istinção entre o s três co nceito s que acab am o s d e exp lo rar, o
senso co m um , a ciência e a id eo lo g ia, não im p lica a extrem ad a co nv icção d e
C iê n c ia : O s
que, em eco no m ia, é im p o ssív el sep arar a co nstru ção científica, d e um lad o , d o
M é to d o s In d u tiv o
entend im ento co rrente, acrítico e sup erficial e, d e o utro lad o , da ap arente p ro
e D e d u tiv o fund id ad e d as justificaçõ es id eo ló g icas.
Realm ente, essa tarefa não é fácil. D e um e d e o utro lad o , é d ificultad a p elo
jo g o d e interesses env o lv id o s. Reco nhecem -se, p o rém , aind a q u e p o ssiv elm ente
co ntam inad o s p o r p ressup o sto s id eo ló g ico s, co nju nto s referenciais d e p rincíp io s,
teo rias, leis e m o d elo s eco nô m ico s, elab o rad o s a p artir d as m eto d o lo g ias c o n
v encio nais da elab o ração científica. A este co nju nto é que se dá a d eno m inação
g enérica d e te o ri a e c o n ô m i c a o u, sim p lesm ente, e c o n o m i a ,
Na co nstru ção d a eco no m ia, co m o usualm ente o co rre em o utro s ram o s d o
co nhecim ento hum ano , o instrum ental em p reg ad o assenta-se so b re b a s e s m e
to d o l ó g i ca s . C o m o o b serv a D em o ,18 em bo ra a m eto d o lo g ia não d ev a ser su-
p erv alo rizad a, d ad a sua natureza instrum ental, ela d esem p enha p ap el d ecisiv o
na fo rm ação d o s p ro d uto res d e ciência, à m ed id a q u e o s faz em co nscientes d e
seus lim ites e d e suas p o ssib ilid ad es - “p o d e-se m esm o d iz er q u e a m ed io crid a
d e e a falta d e p reo cu p ação m eto d o ló g ica c o in c id em ’.
A m eto d o lo g ia da elab o ração científica, em sua estrutura fund am ental, bus
ca, c o m o p rim eiro p asso , o b s e rv a r s i s te m a ti c a m e n te a re a l i d a d e . D ep o is,
elab o rar m o d elo s sim p lificad o s que a rep ro d uzam , q u e id entifiq uem relaçõ es
d e causas e efeito s e que interp retem o s m ais v ariad o s ev ento s e seus d esd o b ra
m ento s. N o p ro cesso d e elab o ração , b asicam ente, reco rre-se a d uas abo rd ag ens
d istintas, ainda que co m p lem entares: a i n d u çã o e a d e d u çã o . A ssim, em sua
ac ep ç ão m ais sim p les, as b ases so b re as quais se co nstró i o co nhecim ento cien
tífico co nstituem -se, p relim inarm ente, d e p ro cesso s d escritiv o s q u e co nd uzam
ao reco nhecim ento d a realid ad e e, sub seq ü entem ente, d e d uas abo rd ag ens m e
to d o ló g icas d istintas, em bo ra co m p lem entares, a indutiva e a d ed utiv a.
Em síntese, essas três b ases são :
58 A COMPREENSÃO DA ECONOMIA
1. O re c o n h e c i m e n to . Co nsiste na o b serv ação sistem atizad a d a realid a
d e. Uma v ez d efinid o o cam p o esp ecífico d e inv estig ação d e um as
p ec to d a realid ad e eco nô m ica, o b serv am -se, classificam -se e d escre
v em -se as categ o rias d essa m esm a realid ad e q u e sejam p ertinentes à
inv estig ação p retend id a. O reco nhecim ento env o lv e, assim , a am p la
o b serv ação d o m und o real, a p artir d a qual são selecio nad o s fato s,
d ad o s e relaçõ es d e co m p o rtam ento q u e sirvam para sua co m p reen
são o u interp retação .
2. A i n d u çã o . A reunião d e info rm açõ es, resultantes d e p ro cesso s siste
m atizad o s d e reco nhecim ento , p o d e co nd uz ir à fo rm ulação d e p rincí
p io s, teo rias, leis o u m o d elo s exp licativ o s d a realid ad e o bserv ad a. A
transp o sição d o p ro cesso d e reco nh ecim ento d a realid ad e p ara sua
abo rd ag em teó rica sistem atizad a é o q u e caracteriz a o m é to d o i n d u
tiv o d e inv estig ação . Este m éto d o é, p o r excelência, o em p reg ad o p ela
eco no m etria. A co p lad o s ao s d esenv o lv im ento s d a m atem ática e d a es
tatística, o s m o d elo s eco no m étrico s d eriv am d e lev antam ento s siste
m ático s e q uantificad o s d e v ariáv eis eco nô m icas, b em c o m o d as rela
ç õ es estabelecid as entre elas. N ecessariam ente, p o rém , p o r m aio r q u e
seja sua ab rang ência e co m p lexid ad e, o m o d elo eco no m étrieo é uma
sim p lificação d a realid ad e o bserv ad a, o m esm o o co rrend o co m p rin
cíp io s, teo rias e leis d ele d eriv ad as. A inda assim , é um a sim p lificação
d a realid ad e o bserv ad a. Tem , p o rtanto , o caráter d e um a ab stração
exp erim ental. *
3. A d e d u çã o . A abo rd ag em d ed utiv a resulta d e p ro cesso s ap rio rístico s,
p elo s quais se lev antam hip ó teses so b re realid ad es não inv estigad as a
p artir d e lev antam ento s sistem atiz ad o s, q uer p ela natureza d as q u es
tõ es env o lv id as, q u er p o r sua co m p lexid ad e. A s hip ó teses fo rm ulad as
são o b jeto d e d esenv o lv im ento s teó rico s, cuja factibilid ad e não se su
jeita, p o rém , à m ensu raçâo co nv encio nal, m as à tip ificação d e fato s
o u d e co m p o rtam ento s d ed uzid o s d e ab straçõ es so b re a realid ad e c o n
creta. Tal é, em essência, o q u e caracteriz a o m é to d o d e d u ti v o d e
inv estig ação .
60 A COMPREENSÃO DA ECONOMIA
FIG URA 1 .7
xA c o n s t r u ç ã o d a
e co n o m ia: d a
o b s e rv a ç ã o
s i s t e m a ti z a d a d a
re a l i d a d e à
m o d e lação
s i m p l i f i c a d o ra e
i n te rp re ta ti v a .
“ N e n h u m a c i ê n c i a s o c i a l p o d e c u m p r i r s e u s o b j e ti v o s s e n ã o
a te n d e r a o p ri n c í p i o d e q u e o s p ro b l e m a s s ó p o d e m s e r c o m
p re e n d i d o s c o m c l a re z a e o s d a d o s s o m e n te p o d e m l e v a r a i n
t e r p r e t a ç õ e s v á l i d a s m e d i a n te a c o n tí n u a r e f e rê n c i a c ru z a d a
e n tre as h i p ó te s e s e o s f a to s .”
62 A COMPREENSÃO DA ECONOMIA
FIG URA 1 .8 Prin cip ais co rre n te s d o p e n s am e n to e co n ô m ico : u m a sín tese.
D-
170 0
1750 —
1850 —
1900
1930
198 0
64 A COMPREENSÃO D A ECO NO M IA
1 .5 C o m p artim en taliz ação U su al d a
Eco n o m ia
A AB RAN G Ê N C IA E AS U M ITAÇ Ò E S D A E CO NO M IA
FIG URA 1.9
Eco n o m ia p o sitiv a
e e co n o m ia
n o rm ativ a: u m
esq u em a au xiliar
p ara co m p re e n s ão
co n ceitu ai.
66 A COMPREENSÃO D A ECONOMIA
FIG URA 1.10 C o m p artim en to s usuais da eco n o m ia: co n e xõ e s en tre p rin cip ais seg m en to s
cas d e c o n ten ç ão d o crescim ento p o p u lacio nal. As afirm açõ es (1) e (2) são
factuais, p o sitiv as; a p ro p o sição (3) é d e caráter no rm ativ o . N ão há, entre elas.
relaçõ es ló g icas e fo rm ais. As d uas p rim eiras não são c o nd içõ es suficientes para
d ar sustentação á terceira. E esta p o d e ser até m elho r justificad a p o r o utras ra
z õ es, d iferentes d as d uas p rim eiras co nsid erad as.
A A b o rd a g e m
□ As unid ad es ind iv id ualizáv eis da eco no m ia, co m o o co nsu m id o r e a
M ic r o s c ó p ic a em p resa, co nsid erad as iso lad am ente o u em ag ru p am ento s ho m o g ê
neo s.
□ O co m p o rtam ento d o co nsum id o r: a busca da satisfação m áxim a (d ad a
sua restrição o rçam entária) e o utras m o tiv açõ es.
□ O co m p o rtam ento da em p resa: a busca d o lucro m áxim o (d ad as as
estruturas d e custo s e a atu ação d a co nco rrência) e o utras m o tiv açõ es.
□ A estrutura e o s m ecanism o s d e funcio nam ento d o s m ercad o s. As c o n
fo rm açõ es b ásicas da o ferta e d a p ro cura, m icro sco p icam ente co nsi
d erad as.
□ As fu nçõ es e as im p erfeiçõ es d o s m ercad o s, na alo cação eficaz d o s
escasso s recurso s d a so cied ad e e na g eração d o s p ro d uto s d estinad o s
a satisfazer às necessid ad es tid as co m o ilim itáveis.
□ As rem u neraçõ es p agas ao s ag entes q u e p articip am d o p ro cesso p ro
d utiv o e a co nseq ü ente rep artição funcio nal d a rend a so cial.
□ O s p reço s receb id o s p elas unid ad es q u e g eram cady/ um d o s b ens e
serv iço s q u e co m p õ em o p ro d uto so cial. /
□ A interface entre custo s e b enefício s p riv ad o s e o interesse m aio r d o
b em -co m u m .
A abo rd ag em m ícro eco nô m ica rem o nta ao s p rim eiro s auto res clássico s, co m o
Smith, Ricard o , Say e Stuart-Mill. Partindo da análise d o co m p o rtam ento racio na-
lista d o “ho m em eco nô m ico ”, tanto p ro d uto res quanto co nsum id o res, eles inv esti
garam o s m ecanism o s de funcio nam ento e d e equilíbrio da eco no m ia. Fruto da
filo so fia libera 1-individualista q u e p rev aleceu na p rim eira m etad e d o século XVIII,
a eco no m ia clássica ap ro fund o u o s o b jetiv o s m axim iz antes d o s ag entes indivi
d uais e o s p o tenciais d eco rrentes d e p ro m o ção da riqueza nacio nal. O s margina-
listas retom aram, no sécu lo XIX, essa m esm a abo rd agem , exp lo rand o -a, p o rém , a
partir d e o utras v ertentes teó ricas. Jev o ns, M eng er e Bõ hm -Baw erk co lo caram o
indivíd uo no centro d a reflexão eco nô m ica. Suas m o tiv açõ es subjetiv as fo ram teo -
68 A COMPREENSÃO DA ECONOMIA
rizadas. E das d ecisõ es individuais, sustentad as p o r p o sturas utilitaristas e hed o nis
tas, d eco rreriam m ecanism o s d e interação cap azes d e justap o r o s interesses priva
d o s ao s so ciais. A m eto d o lo gia fund am ental d essa abo rd agem é dedutiva. O nível
d e abstração env o lv id o é necessariam ente alto , ao inv estigar catego rias d o tip o
u til id ad e , v al o r, s a ti s f ação , i n d i f e re n ça e b e m - e s tar.
A A b o rd a g e m
□ O co m p o rtam ento da ec o no m ia em seu co nju nto , ag reg ativ am ente
M a c r o s c ó p ic a co nsid erad o . A unid ad e d e referência é o to d o , não suas p artes indivi
d ualiz ad am ente co nsid erad as.
□ O d esem p enho to talizad o d a eco no m ia. As causas e o s m ecanism o s
co rretiv o s d as grand es flu tuaçõ es co njunturais. O s alto s e b aixo s da
eco no m ia co m o um to d o .
Co m o a abo rd ag em m icro eco nô m ica, tam bém a m acro eco nô m ica rem o nta
ao s p rim eiro s auto res clássico s, em b o ra seu m aio r d esenv o lv im ento se tenha
d ad o no sécu lo XX, p articularm ente a partir d o s ano s 30. O s eco no m istas clássi
co s se o cup aram tam bém d e q u estõ es relacio nad as ao d esem p enho da ec o n o
m ia co m o um to d o , trabalhand o so b re hip ó teses q u e co nd uziríam ao equilíbrio
geral. E, m esm o antes d eles, o s m ercantilistas tinham p reo cu p açõ es m arcad a-
m ente m acro eco nô m icas. Sua unid ad e d e análise era o Estad o e as q u estõ es
co m q u e trataram fo ram, p o r exem p lo , o s efeito s d as tro cas internacio nais, o
p ro cesso d e acum u lação d o Estad o m ercantil e o s sistem as m o netário s.
Co m o ad v ento da era clássica, o d eslo cam ento da unid ad e d e análise para
o “ho m em ec o n ô m ic o ” não sig nifico u que as q u estõ es de o rd em g lo bal tenham
sid o d esco nsid erad as. As crises e o s ciclo s eco nô m ico s d ep ressiv o s fo ram o b jeto
d e p reo cu p ação , nâo o b stante o s eco no m istas clássico s acred itassem q u e a o r
d em natural e o livre funcio nam ento d o s m ercad o s, so b a tensão d o s co m p o rta
m ento s individ uais m axim izantes, eram co nd içõ es suficientes p ara garantir o eq u i
líbrio geral da eco no m ia. A o co nserv ar a d eno m inação ad jetiv ad a, e c o n o m i a
p o l í ti ca , q u e v eio d o p erío d o m ercantilista, a eco no m ia clássica não m erg ulho u
ap enas em q u estõ es d e âm bito m icro eco nô m ico . São tem as clássico s a d i v e rs i
d ad e d o p ro g re s s o e a riq u e z a d as n a çõ e s , as v a ri a çõ e s d o v a l o r d a m o c
70 A COMPREENSÃO DA ECONOMIA
d a, o s p ap é i s d o g o v e rn o , a d i s tri b u i çã o d a re n d a ag re g ativ ain e n te c o a m
d e ra d a e, mais im p o rtante, um a p ri m e i ra te n tati v a d e c o m p re e n d e r c o m o
s e d av a o e q u i l íb ri o d o s i s te m a e c o n ô m i c o . C laram ente, sua ab o rd ag em m i
cro scó p ica e seu m éto d o d ed utiv o não sig nificaram d escaso p ara co m as q u es
tõ es d e grand e escala.
Mas o d esenv o lv im ento m aio r d a teo ria m acro eco nô m ica d eu-se m esm o no
sécu lo XX, co m a eco no m ia key nesiana.
Para abrang er as d im ensõ es d este univ erso teó rico , a m acro eco no m ia d es
d o b ra-se no s d o is g rand es co nju nto s d estacad o s na Figura 1.10: o sistem a d e
co ntabilid ad e so cial e a análise d e m acro v ariáv eis. As finanças p úblicas, a e c o
no m ia m o netária, a eco no m ia internacio nal e as teo rias d o crescim ento e d o
d esenv o lv im ento fazem p arte d este uniy èrso . O s sistem as d e co ntas nacio nais e
o utro s lev antam ento s ag regativ o s sistem atiz ad o s sup rem o s d ad o s exig id o s para
a co m p reensão e a m o d elação da realid ad e m acro eco nô m ica. D eco rrentem ente,
a m eto d o lo g ia d o m inante d a inv estig ação m acro eco nô m ica é indutiva.
Co nsid erem o s as três seguintes d efiniçõ es sintetiza sível d e custo s d e m ão -d e-o bra, m atérias-primas, bens
d as d e m acro eco no m ia: d e cap ital, e o utros insumo s co m vistas à o btenção de
d eterminad o p ro duto . Preo cup a-se. também, co m a for
□ "A exp ressão m acro eco no m ia ap lica-se ao es ma pela qual o consum id o r d etermina a d istribuição de
tudo d as relaçõ es entre o s grand es ag reg ad o s seus gasto s entre o s muitos p ro duto s e serv iço s q ue es
eco nô m ico s" (R. G. D. A llen, M acroeconomic tão a sua d isp o sição , de tal m o d o que p o ssa maximizar
theory). o benefício auferid o. A m icro eco no m ia toma co m o d a
□ “A teoria m acro eco nô m ica é a teoria da renda, d o s o pro duto, o em p reg o e o d isp ênd io glo bais, co m
d o em p reg o , d os níveis gerais de p reço s e da to d o s o s bens e serv iço s, seguind o no exam e d e co m o
m o ed a” (J. M. Culbertson, M ucroeconomic tbe o s recurso s são alo cad o s entre as várias em p resas indivi
ory and stabilizatiori). duais e da fo m ia p ela qual o s p reço s d o s vários p ro d u
o "A m acro eco no m ia é a parte da eco no m ia que tos d essas em p resas são estabelecid o s. A m icro eco no m ia
estuda as méd ias glo bais e o s agregad os d o sis- indaga d e q u e forma o s gasto s d o s co nsum id o res se d es
ma” (K. E. Boulding, Economic cinalysis). lo cam d o p ro d uto d e uma em p resa para o d e uma co n
co rrente, e d e que m o d o tál m udança fará co m que o
To d as elas d estacam a idéia de que a m acro eco no em p reg o e o pro duto sejam realo caclo s entre seto res de
mia trata d o funcio nam ento da eco no m ia c o m o u m p ro d ução e em presas.
to d o , inclusive co m o são d eterminad o s o p ro d uto e o
Ind icad o res g lo b ais q u e a m icro eco no m ia to m a
em p rego total d e recurso s da eco no m ia e o que faz co m
com o d ad o s, a m acro eco no m ia toma co m o v ariáv eis,
que seus níveis flutuem. A m ac ro e c o n o m ia tenta ex
cu jas relaçõ es e m agnitud es d ev em ser estabelecid as.
plicar p o r que, às v ezes, ap enas 3% da fo rça d e trabalho
O p o stam ente, o que a m acro eco no m ia to ma co m o d a
está d esem p regad a e, em o utras o casiõ es, esta taxa atin
d o s (a estrutura d os gasto s d o s co nsum id o res entre o s
ge 7% o u mais, da mesm a forma co rno tenta exp licar
prod uto s d e d iferentes seto res da eco no m ia), a m icro e
p o r que, em certas o p o rtunid ad es, há uma p lena utiliza
co no m ia toma co m o v ariáv eis d e seus d esenv o lv im en
ção da cap acid ad e produtiva da eco no m ia, quand o m en
to s teó rico s.
surada em função d e seus trabalhad o res, fábricas, eq ui
p am ento s e co nhecim ento s tecno ló g ico s, e p o r que em Embo ra estas d istinçõ es ajud em a esclarecer d iferen
o utras situaçõ es bo a parte dessa cap acid ad e se enco ntra ças essenciais entre a m acro e a m icro eco no m ia, ev id en
o cio sa. Pro cura, do m esm o m o d o , exp licar p o r que o ciand o a d iversidade de seus fo co s, na prática a eco no
total d e bens e serv iço s p ro d uzid o s cresce a uma taxa mia não é co nd uzid a a partir de d o is co m p artim ento s
média d e 4% ao ano em uma d écad a e a uma taxa m é sep arad o s e estanques. Eles são interco m p lem entares. Ao
dia d e 2% em outra, e, d o m esm o m o do , p o r que em se analisarem variáveis m acro eco nô m icas e suas relaçõ es,
d eterm inad o s p erío d o s de tem p o o s nív eis d o s p reço s d ev e-se, d o m esm o m od o, levar em co nta alteraçõ es em
se elev am acentuad am ente, ao p asso que em o utros p e v ariáv eis m icro eco nô m icas, p o is estas p o d em exercer
río d os o s p reço s p erm anecem estáv eis o u cheg am até im p acto s so bre as m acro eco nô m icas. À medida que se
a baixar. analisa o p ro cesso eco nô m ico que d etermina o bem -es
tar material d e uma nação , d ev em -sc co nsid erar tanto o s
Em resum o , a m acro eco no m ia tenta resp o nd er a
asp ecto s m acro eco nô m ico s co m o o s m icro eco nô m ico s.
questõ es realm ente “relev antes” da vida eco nô m ica: p le
Do p o nto de vista hjacro eco nô m ico , o bem-estar material
no em p reg o o u d esem p rego , p ro d ução a plena cap aci
d e uma nação será 'tanto m aio r quanto mais p ró xima a
d ad e ou o cio sid ad e, taxa satisfatória ou insatisfatória d e
eco no m ia estiver d o p le n o e m p re g o de seus recurso s.
d esenv o lv im ento , inflação o u estabilid ad e d o s nív eis d e
Do p o nto d e vista m icro eco nô m ico , o bem-estar material
p reço s.
será tanto mais elev ad o quanto mais a eco no m ia se ap ro
Po r o utro lado, a m ic ro e c o n o m ia não se o cup a da ximar d a alo c aç ão ó tim a d e seus recurso s. É ev id ente
p ro d ução gsáral, do em p rego total o u d o s d lsp ênd io s g lo que as m etas básicas m acro eco nô m icas e m icro eco nô
bais co m io d o s o s b ens e serv iços co m binad o s, mas da m icas são co mp atíveis: o m áxim o d e bem -estar para a
p ro d ução de d eterminad o s bens e serv iço s d e em p resas p o p u lação co m o um to d o , cuja realiz ação é o o bjetiv o
individuais e d o d lsp ênd io esp ecífico co m d eterm inad os prim o rdial da p o lítica eco nô m ica so m ente p o d e ser co n
p ro duto s feito p o r co nsum id o res em mercad o s delimita seguid o co m a co njunção da p le n a u tiliz aç ão co m a
dos. A unid ad e d e estud o é a p arte, e não o to d o . Por alo c aç ão ó tim a. São , assim, co nv erg entes o s fo co s e o s
exem p lo : a m icro eco no m ia visa exp licar co m o a em p re co nteúd o s da macro e da m icro eco no m ia.
sa individual d ecid e qual será o p reço d e vend a d e um
pro duto em particular, que m o ntante de p ro d ução m axi Fo n te : SHAP1RO, Ed w ard. M acroeconomic analysis,
mizará seus lucros e qual a co m binação mais baixa p o s 5. ed . New Yo rk : HJB, The Dryd en Press, 1991.
72 A COMPREENSÃO DA ECONOMIA