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M A R X IS T A S E N E O C L Á S S IC O S :

U M A C O N F R O N T A Ç Ã O M E T O D O L Ó G IC A
M a noe l L u iz M a laguti *

E X P L IC A Ç Õ E S IN IC IA IS
A elaboração deste te x to fo i estim ulada pela realização de um a palestra
pro ferida no curso de nivelam ento do Mestrado em Econom ia da Universidade
Federal da Paraíba - Campus II, no 1P semestre de 1987. Trata-se de uma trans­
crição não lite ral que pretende-se didática: m inim izand o, p o rta n to , as im p e rfe i­
ções expositivas de uma palestra, assim com o os desvios tem áticos e a ela inerentes.
Ainda neste sentido, procurou-se adequar o tra ta m e n to das questões às necessi­
dades de um curso de graduação, evitando-se, assim, uma circulação e com p re­
ensão restritas à especialistas. A inda aqui, pretendeu-se colaborar no preenchi­
m ento de uma lacuna nos estudos in tro d u tó rio s de m etodologia nas ciências
econômicas.
A estrutura de nossa exposição parte das afirm ações mais genéricas indo
até suas im plicações na p o lític a econômica. Com esta concepção expositiva, o
le ito r deverá te r uma certa dose de paciência e sempre esperar pelas páginas se­
guintes, para, só então, apreender em bases mais amplas, afirm ações anteriores.
A medida que nos aproxim am os do fin a l do estudo, os exem plos torn am -
se mais e mais frequentes, ajudando a dar corp o à proposições cujo sentido era,
até o m om ento, apenas teórico. Em outras palavras: a finalização do te x to pre­
tende e xte rio riza r algumas categorias, cuja existência, consistência e coerência
situavam-se no seio da pró pria teoria, "transladando-as" da teoria para a p rá ti­
ca.
É de praxe que em te xto s com esta estrutura de exposição, um a segunda
leitura seja recomendada, com o única fo rm a de compreensão das categorias
iniciais e, consequentem ente, de suas implicações lógicas e p o lítica s.

IN T R O D U Ç Ã O
O c o n fro n to m etodológico, entre maxistas e neoclássicos tem uma d ific u l­
dade inicial que, em si, já im plica um árduo trabalho prévio, qual seja o de
d e s c o b rir em q u e as duas c o rre n te s se c o n tra p õ e m : esta descoberta é o desnuda­
m ento da unidade c o n tra d itó ria necessária entre as duas principais vertentes do
pensamento econôm ico contem porâneo,
A té hoje, temos visto várias exposições p a ra le la s das respectivas m e to d o lo ­
gias e desconhecemos qualquer tentativa sistemática de dem onstrar o que as une
com o p o /o s d e u m m esm o conhecim ento: a T eoria E conôm ica1. Esta visão po-
(*) P ro fe s s o r de M e s tra d o em E c o n o m ia da U F P b - C a m p in a G ra n d e
{1 | O tr a b a lh o m a is in te re ss an te q u e c o n h e c e m o s e q u e se p re o c u p a c o m a c o n fr o n ta ç ã o
m e to d o ló g ic a é o liv r o de P ie rre S a la m á " S o b r e el V a lo r " . M é x ic o , E ra , 1 9 7 8 . R e c o ­
m e n d a m o s , a in d a , o liv r o de R O W T H O R N , B., M A R X , K. & S W E E Z Y , P. " P a ra u m a
C r ític a da E c o n o m ia P o lít ic a " . L is b o a , E s c o rp iã o , s/d.

Rev. R A IV E S C a m p in a G ra n d e Ano VI NP 6 33 a 47 J a n .8 6 /m a r .8 íí

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lar, que concebe a Econom ia e o conhecim ento em gerai com o um to d o in d iv is í­
vel (embora disting uível) é a única que nos perm ite colocar, iado a iado, neoclás-
sicos e marxistas, m ostrando o que, de uma certa fo rm a , possuem de com um ,
em bora por oposição.
O ptam os po r apresentar os pontos específicos do m étodo m arxista logo
após a explanação sobre seu correspondente neoclássico: a unidade evidenciar-
se-á e o acom panham ento do te x to será fa cilita d o .
Para fin a liz a r, chamamos a atenção para a sequência expositiva adotada:
dividim o s o te x to em 3 partes. Na prim eira ("O M é to d o ") tratam os de algumas
questões mais genéricas do m étodo; as grandes categorias são a lí apresentadas.
Na segunda ("O que é A b stra çã o ") retornam os algumas das grandes categorias
com o o b je tiv o básico de dem onstrar a distinção entre o processo de abstração e
0 de form ação de m odelos explicativos. Na terceira e ú ltim a parte ("Derivações e
E xe m p los") e xtra ím o s algumas conclusões teóricas e po líticas do apresentado
nas duas prim eiras.

1 - 0 M É TO D O
De um m odo m u ito simples, podemos dizer que ao tratarm os do m é to d o
estamos preocupados com a apreensão das form as sistem áticas e c o n s c ie n te s da
a prop riaçã o da realidade. A cada fo rm a de compreeneão (sistemática e consci­
ente) do real corresponde um a essência, uma base, que a norteia e define. Esta
essência é o que chamamos de fu n d a m e n to filo s ó fic o do m étodo.
Entendemos, então, que é apenas a p a rtir da filo s o fia , ou da concepção
de m undo sistematizada que se possui "à o r ío r i" , que a questão do m étodo pode
ser com preendida sem a consideração de todos os "á p r io r i" , som ente constata-se
a existência de m étodos d istin to s. Podemos com preender suas organizações lógi­
cas e operacionalizações, mas nada saberemos sobre o "p o rq u ê " da existência de
vários m étodos e, m u ito menos, poderemos o p ta r p o r um ou o u tro de fo rm a não
aleatória. Por conseguinte, faz-se necessário observar a origem das distinções me­
todológicas, assim co m o suas im plicações prático-teóricas e p o lític a s ; às im p lica ­
ções prático-teóricas, no que elas têm de elaboração teórica propriam ente d ita ,
ou seja, sua lógica intern a; às implicações p o lítica s, no que dizem da relação
da teoria com o m eio - sua atuação sobre a realidade e dimensão objetiva, ou
seja, sua lógica externa.

O F un d a m e n to F ilo s ó fic o

Resolvemos chamar o fu n da m ento filo s ó fic o do m étodo neoclássico de


"id e a lis m o F u n c io n a lis ta "2 . Q uanto ao seu correspondente m arxista, emprega­
mos o con ceito já consagrado de "M a te ria lism o D ia lé tic o ". No p rim e iro caso,
forjam os um a categoria cujas determinações to ta is não conhecemos3 , im p o rta n ­

(2) E m b o ra a c o n c e p ã o fu n c io n a lis ta seja e ss e n c ia im e n te id e a lis ta , u tiliz a m o s os c o n c e ito s ,


em c o n ju n to ,p a r a re fo rç a ra s c a ra c te rís tic a s q u e in d iv id u a lm e n te p o ssuem e q u e c o n s i­
de ra m o s, a q u t, m a is relevantes.
(31 A d m itim o s q u e o c o n c e ito possa não ser o m a is a d e q u a d o , p o is d e s c o n h e ce m o s todas
as a lte ra ç õ e s e re d e fin iç õ e s q u e a s im p le s ju n ç ã o de duas c a te g o ria s possam p ro v o c a r
na te rc e ira , ag ora fo r ja d a (ver n o ta 2).

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do-nos apenas, com aquelas que sugerem a Teoria Neociássica. N o segundo caso,
embora estejamos fren te a um a categoria clássica, com todos seus determ inantes
teoricam ente estabelecidos, ta m b é m só destacaremos os relevantes para a exposi­
ção que nos propom os4 .
0$ neoclássicos buscam as bases de sua teoria no que chama-se de senso
com um . Em linguagem apropriada e d e fin ida , diria m o s que trabalham com a ló ­
gica do e m p íric o . Os fenôm enos ou a fo rm a com o as coisas aparecem, são seus
senhores. Presos ao que parece ser, entendem -no com o o ser pro priam ente d ito .
Se fossem conscientes do problem a, assim se expressariam: "se isso parece ser,
a firm o que é ". Assim fazendo, as e x p lic a ç õ e s se Id e n tific a m c o m m e ta s o rd e n a -
ções e s is te m a tiz a ç õ e s . A q u i a teoria deixa de sèr descoberta e criação, pois
inexíste uma diferença substancial entre a prim eira observação da realidade e o
resultado fin a l do esforço teó rico . A o a to inicial segue-se o u tro de semelhante
profundidade teórica, caracterizando a paralisia teórica e histórica em que se
situa o neoclassicismo.
No â m b ito das interpretações sociais, a lógica do e m p íric o conduz, entre
outras coisas, à negação da dinâm ica social. As categorias que o (social) explicam
são um d a d o desde o in íc io . Em outras palavras: são categorias prontas, d e fin i­
tivas, ou seja, com todas as determinações consideradas relevantes já desenvolvi­
das e c o m p re e n s ív e is . Consequentemente, se as categorias não têm história, os
objetos de estudo dos quais estas tratam tam bém não podem tê-la5 (independen-
tém ente do posicionam ento m aterialista ou idealista que adotem os). Se a socie­
dade pode ser explicada por categorias sem história, deverá ser, logicam ente,
a-histórica; o fu n cio n a lism o salta aos olhos, numa de suas principais caracterís­
ticas, qual seja, a da análise em piricista do fu n c io n a m e n to de uma to talida de
estanque das demais, s u rg in d o d o na da e sem p o r v ir d is tin to d o p re s e n te .
Para o m arxism o, ao co n trá rio , o que prevalece é a ló g ic a d a c o n tra d iç ã o
e n tre essência e a p a rê n cia . A vida dos conceitos aparecem "a n te s " de fo rm a d ife ­
renciada da de "a g o ra ", evoluindo de acordo com a relação que a cada m om e nto
se estabelece entre essência e aparência'. Esta dinâm ica teórica (veremos mais à
fre n te que esta dinâm ica não é apenas teórica) só é possível com o expressão da
dinâm ica histórica; se a sociedade é dinâm ica, apenas a lógica da con trad içã o
poderá apreendê-la.6 E n tre ta nto, com o podería parecer, o m arxism o não defen-

(4) Para u m p r im e ir o c o n ta to c o m o M a ts r ia lis m o D ia lé tic o , re c o m e n d a m o s : P O L IT Z E R ,


G , " P r in c íp io s de F ilo s o f ia " . S ã o P a u lo , H e m u s , 1 9 7 0 . N u m segundo m o m e n to será
m u ito ú t i l a le itu ra d e : G O DE L I E R , M . " F u n c io n a lis m o , E s tr u c tu r a iis m o y M a r x is m o "
B a rce lo n a , A n a g ra m a , 1 9 7 2 .
(5 ) P ara e v ita r c o n fu s ã o , de ve fic a r c ia r o q u e , ao e stu d a r-se u m o b je to , este n ã o se a lte ra
p e lo s im p le s fa t o d e ser o b s e rv a d o , p e sq u isa d o . A tra n s fo rm a ç ã o q u e o c o r r e e n tr e o
in íc io e o fin a l d o p ro ce ss o de C o n h e c im e n to dá-se na su b jetivid ad e d o o b je to , o u n o
grau d e c o n h e c im e n to q u e d e le se te m . Se, a p a r t i r d e ste m a io r c o n h e c im e n to , as
u tiliz a ç õ e s e x te rn a s d o o b je to se m u ltip lic a m , is to apenas im p lic a na e fe tiv a ç ã o de p o ­
te n c ia lid a d e s . na a p lic a ç ã o d o já e x is te n te , è bem v e rd a d e q u e esta nova a p lic a ç ã o
p o d e rá p ro v o c a r a lte ra ç õ e s na fo r m a de expressão d a o b je tiv id a d e d o o b je to de e s tu d o ,
m as is to é o u tr a q u e s tã o , p o is tra ta r-se -á , no lim ite , de u m a co isa n o va, s o b re a q u a l u m
n o v o p ro c ess o de c o n h e c im e n to de verá in c id ir .
Í6 Í " I s t o não s ig n ific a q u e c a te g o ria s q u e a n tes se rviam já não s irv a m m a is ; s ig n ific a , isso
s im , q u e eias já se a p re se n ta m de fo r m a u lte r io r m e n te e sp e cifica d a s, ligadas a u m desen­
v o lv im e n to u l t e r io r daquelas 'm e sm a s' fo rç a s so cia is q u e , p a ra p e rm a n e c e re m e se co n *

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de nenhum a correspondência d ire ta e ne cessá ria entre a evolução conceituai e
a evolução da história. A direção da dinâm ica de uma evolução pode se o p o r à
de outra, e é possível até, que à sequência lógica nenhuma sequência histórica
(na mesma direção ou não) seja observada, sendo a prim e ira uma im posição do
co n h e cim e n to ,7 De qualquer form a, a dinâm ica da história só pode ser explicada
por u m a d in â m ic a d o c o n h e c im e n to , consubstanciando, ao nível da elaboração
teórica, uma das leis fundam entais da dialética, quai seja, a que afirm a a pereni­
dade da dinâm ica sob o im pulso da luta dos contrários.

A C o n s tru ç ã o T e ó ric a e o O b je to

A té agora valemo-nos dos conceitos de essência e aparência para demons­


tra r a inércia ou a dinâm ica conceituai. No m om ento, e n tre ta n to , outros concei­
tos tornam-se im prescindíveis, seja para que mais à fre n te discutam os " o que é
abstração", seja para caracterizarm os mais porm enorizadam ente o que é um a
? d ife re n ç a s u b s ta n c ia l entre a prim e ira observação da realidade e o resultado fin a l
do esforço teórico.
P rim eiro tentarem os explicar o que entendemos co m o essência e aparên­
cia. Depois, e separadamente dos prim eiros, os significados de abstrato e concre­
to . No entanto, nossas concepções somente serão clarificadas quando tratarm os,
em c o n ju n to , estes "pares conceituais".
A aparência de um o b je to é o "p o n to de p a rtid a " do que o pesquisador
percebe e in tu i. Mas o que é ser, especificamente, p o n to de partida? É ser, atra­
vés de estím ulos sensoriais (histórica e socialm ente determ inados) o "provoca-
d o r " do interesse teó rico .
Não podemos, no entanto, nos p e rm itir a confusão entre o e s tím u lo e a
sua r esultante. O q u e e s tim u la são d e te rm in a d a s c a ra c te rís tic a s fís ic a s o u s o c ia is
(im a g in á ria s , o u n ã o ) d o o b je to , se n d o a p e rc e p ç ã o e in tu iç ã o o re s u ita d o : a per­
cepção e a in tu içã o são reações psíquicas prim árias d o investidor fre n te a p ro ­
priedades ativas do objeto.
É assim que podem os p ro p o r a classificação da aparência com o co n ce ito de
du plo e sta tu to : um s u b je tiv o (reação) e o u tro o b je tiv o (a ç ã o ). D eve fic a r claro,
porém , que trata-se de mera subdivisão fo rm a l, só e x is tin d o J'a p a rê n c ia " co m
d u p lo e s ta tu to : já que para toda reação corresponde uma ação, definindo-se uma
apenas em relação à o u tra . Ressaltar-se-á um ou o u tro estatuto de acordo com o
c o n te x to a n a lítico .
C om o situam os nossa pesquisa no campo da "T e o ria do C o n h e cim e n to ",
p riv ile g ia re m o s a faceta subjetiva-reativa da aparência, ou conhecim ento p rim á rio
e espontâneo, apreendido sem que nenhum esforço de interpretação ou teoriza-
ção tenha in te rv in d o e sempre p ro po rcio na nd o um conhecim ento in co m p le to

s o lid a re m tiv e ra m q u e m u d a r. D a í a necessidade de u m a m e to d o lo g ia de 'c o n c e ito s


m ó v e is ' e lá s tic o s ', s u p e ra n d o a 'fix a ç ã o c o n c e itu a i' e a lc a n ç a n d o u m a ‘ n o va re laçã o
e n tre o r e la tiv o e o a b s o lu to e (m a is em ge ral) a n o va h ís to ric id a d e , a re la çã o de o p o s ­
to s na re a lid a d e o b je tiv a , bem c o m o n o p ro c e s so de c o n h e c im e n to " . { G A L V A N , C.
G. " S u b s u n ç ã o Real e H is tó r ia da T e c n o lo g ia " . Im E n s a io n. 1 5 /1 6 , 1 9 8 6 ) .
(7 ) V e ja -se " O m é to d o da E c o n o m ia P o l ít i c a " . In : M A R X , K . e o u tr o s , O p . c it . p p . 8 9 -1 0 0

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e fa lh o :8 u m c o n h e c im e n to d o e s ta tu to s e n só rio .
Q uanto à realidade da aparência, convém sublinhar que, qualquer que seja
o estatuto privilegiado, e sta n u n c a será te ó ric a .
A essência, po r o u tro lado, é um c o n ju n to de características que apenas
são apreendidas através de um esforço de teorização, pro p o rcio n a n d o pois,
c o n h e c im e n to m e d ia tiz a d o . Logo, a essência só existe na teoria, sendo sua rea­
lidade um fa to teórico. Um exem plo interessante de realidade teórica é o do va­
lo r (no sentido da teoria econômica m arxista): sob o capitalism o, o valor existe
para determ inar teoricam ente, entre outras coisas, os preços de m ercado (estes
sim, com realidade em piricam ente observável).
C om preendido o acima exposto, as categorias de "a b s tra to " e "c o n c re to "
se im põem para a con tinuidade e m aior clareza da exposição. T anto uma com o
ou tra são definidoras de dimensões do real, situando-se nestas as características
das coisas, dos objetos de estudo. Logo, devemos nos questionar sobre o q u e é
u m a d im e n s ã o . Vejam os: quando a realidade é enfocada de um determ inado
ângulo, sem que com isso a sua to talida de ou os o u tros ângulos deixem de ser
considerados, influe ncian do na própria observação do ângulo enfocado,9 faze­
mos o que se chama de uma análise dim ensional (no caso das teorias sociais,
entedemos mais conveniente u tiliza rm o s o te rm o "d im e n s ã o " em lugar do de
"â n g u lo ", pelo relacionam ento ób vio e indesejável deste ú ltim o com as ditas
ciências exatas).
Assim, u m a d im e n sã o da re a lid a d e é " lo c u s " d e a ig u m a s c a ra c te rís tic a s
desta, sem a n u la ç ã o o u c o n tra d iç ã o em te rm o s c o m as o u tra s dim e n sõ e s. E stas
d im e n sõ e s e stã o , a in d a , n u m a d e te rm in a d a h ie ra rq u ia , s e n d o o re la c io n a m e n to
destas d im e n sõ e s h ie ra rq u iz a d a s a to ta lid a d e s o c ia l c o m p re e n d id a .
A o relacionarm os as duplas conceituais "essência/aparência" e "a b s tra to /
c o n c re to ", seremos, certam ente, m e lh o r c o m p re e n d id o s . Com este in tu ito ,
relembramos que o p rim e iro co n ta to com a realidade dá-se através da intuição
e percepção, estimuladas pela aparência objetiva das coisas. Nesse co n ta to , perce­
bemos aigumas, e apenas aigumas, das características ou propriedades da coisa
enfocada. Mesmo que sejam poucas, estas propriedades não se explicam po r si
mesmas e, se queremos compreendê-las e a todas as outras que com põem a to ta ­
lidade das coisas, devemos, então, em preender um processo de pesquisa que,
pa rtin do da aparência nos conduza até à essência, ou c o n ju n to de propriedades
não-perceptíveís. Neste processo lógico vamos encadeando as propriedades per­
ceptíveis com as "Invisíveis im ed ia ta m en te" ou essenciais. Com o resultado deste
exame anal ític o , o b te m o s n ã o apenas o s e le m e n to s fo rm a d o re s d a re a lid a d e apa­
rê n c ia !, m as ta m b é m a p re e n d e m o s sua h ie ra rq u ia ló g ic a o u a "e x p lic a ç ã o c a u s a i
d a a p a rê n c ia ".
Logo, está im p líc ito que só consideramos um a coisa e x p lic a d a ou c o m p re -
e n d id a se sua gênese, evolução e aparência fo re m conjugadas num to d o ló g ic o

(8 ) P a rtim o s d o p r i n c íp i o q u e se to d a s as d e te rm in a ç õ e s de u m o b je to pu d e sse m ser


percebidas, a te o ria seria s u p é rfiu a (se fosse s u p é rflu a , n u n c a p r o c u r a r ía m o s e x p lic a ­
ç õe s p a ra as coisas, c o m o fa z e m o s a q u i e a g o ra lí.
(91 E sta in flu ê n c ia expressa-se na im p o s iç ã o de u m a c o e rê n c ia te ó ric a , e n tre o q u e d e d u z i­
m o s do e s tu d o de u m d e te rm in a d o â n g u lo e os o u tr o s â n g u lo s, c o n s id e ra d o s sep ara da­
m e n te ou e m c o n ju n to . É a Im p o s iç ã o d e u m a n ã o -c o n tra d iç ã o em te rm o s .

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de hierarquias definidas, no qual a essência redefina te o ric a m e n te a aparência
subjetiva.
Dado que abstrato & concreto são dimensões da realidade e "lo c u s " de
características desta, podemos nos perguntar onde {em quais dimensões) se si­
tua m as características ou propriedades ta n to da essência q u an to da aparência.
 resposta não é fá cil. Príncipalm ente porque abstrato e concreto são
categorias restritas ao pensamento (â teoria) e, em bora a essência tam bém o se­
ja, a a p a rê n c ia n ã o o ê . Mesmo assim, achamos in d iscu tíve l a existência de um
nível de relacionam ento entre os dois pares considerados.
A dimensão abstrata ou aquela onde se localizam os elementos mais sim ­
ples da coisa, entendemos corresponder à essência: a a n te c e d ê n c ia ló g ic a trans­
fo rm a os elementos simples ern determ inantes teóricos, ou seja em gênese o u
o rig e m da c o m p re e n s ã o d o o b je to d e e s tu d o . Por o u tro lado, à medida que, po r
dedução, com plexizam os os elementos simples Io que se chama de "a d içã o das
determ inações" - embora o term o adição não seja m u ito p ró p rio ), nos a p ro x i­
mamos da explicação da aparência; e quanto mais pe rto chegamos mais d im in u í­
mos o nível de abstração ou, o que é.a mesma coisa, tornam os mais concreta a
dimensão da observação.
Por este cam inho, poderiam os fa cilm e n te incorrer no erro de considerar­
mos que a aparência situa-se no mais a lto nível de concretude possível, o que não
é verdade. Isto porque, com o já ressaltamos, não entendemos a aparência com o
categoria do pensamento, mas sim com o realidade não-teórica, não sendo, pois,
identificável com uma realidade qu alitativa m m en te d istin ta , uma realidade teó­
rica, com o é o caso do concreto.
O con creto é um a construção ló g ic o -te ò rh a que, no seu mais alto nível,
corresponde à uma dimensão da realidade extrem am ente com plexa (diz-se que é
o "síntese de m ú ltip la s determ inações"), onde se encontram em relação e hierar-
quizados os elem entos ou propriedades da coisa, sendo, então, não-comparával
com a pró pria coisa ou propriedades em piricam ente apreensíveis da mesma. S e ria
a b s u rd o c o m p a ra rm o s a c o is a o u a lg u m a s d e suas p ro p rie d a d e s p e rc e b id a s — lo ­
g o , sem a in te rv e n ç ã o d o p e n s a m e n to — c o m u m a c o n s tru ç ã o d o p e n s a m e n to !
Mas a relação existe, e se exp ressa n a c a p a c id a d e da c o n s tru ç ã o d o pe nsa­
m e n to em seu m a is a lto n ív e l (sua d im e n sã o c o n c re ta ) de d e sve n d a r os m is té rio s
da a p a rê n c ia , d e s n u d á -la , e x p iic á -ia , e n fim : É a re d ifin iç ã o da percepção e da
intuiçã o, transm utando-se de conhecim ento p rim á rio e espontâneo em conhe­
cim e n to te ó rico , que perm ite-nos a firm a r que o concreto e x p lic a a aparência e,
consequentem ente, está em relação/interação com esta.
A relação é tão clara que podemos apreciá-la pela simples "d u p lic a ç ã o "
do con ceito de concreto. Vejamos. E ntendido de uma fo rm a , o concreto seria
uma categoria teórica, do pensamento (c o n c re to pensado) e, de outra, com o a
coisa em si (con creto em si). Após esta duplicação, identificam os o c o n c re to em
s i com o que até agora chamamos de a p a rê n c ia , e o c o n c re to p e n sa d o com o que
sim plesm ente chamamos de concreto.
Esta duplicação conceituai fo i o procedim ento que M arx entendeu o mais
co rre to . Assim, em sua exposição d o "M é to d o da Econom ia P o lític a " 10 afirm a

(1 0 ) V e r : M A R X , K . e o u tr o s , O p . c it., p. 9 0 .

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que " O C oncreto é concreto porque é a unidade do diverso. Aparece no pensa­
m ento com o processo de síntese, com o resultado, e não com o p o n to de partida
(ideníifica-se, aqui, com nosso uso de "c o n c re to " — M L M ), embora seja o ver­
dadeiro p o n to de partida,e, p o rta n to , tam bém o p o n to de partida da intuição e
representação (o que chamamos de "a pa rên cia " - M L M )".
Logo a seguir, e ainda na m esm a página, con tin ua . o m éto do que con­
siste em elevar-se do abstrato ao concreto é, para o pensam ento, apenas a m anei­
ra de se a p rop ria r do concreto, de o re p ro d u zir na fo rm a de c o n c re to pensac/o
(visto sob esta ótica é uma categoria do pensamento - M L M , e os grifos são nos­
sos); porém , não é este, de m odo algum , o processo de gêneses do c o n c re to em s i
{aqui entendido com o categoria não-teórica, ou e m p íric o —M L M , e os grifos são
nossos)".
For conseguinte, para M arx existe uma dupla noção de con creto : seja co m o
"síntese de m últiplas determ inações", seja com o " p o n to de partida da in tu içã o
ou representação". Na prim eira refere-se ao c o n c re to p e n sa d o , com o categoria
do pensam ento; identificando-se com a utiliza ção d o te rm o po r nós empregado.
No segundo, fala do concreto em si, identificando-se com o que consideramos
a áparência ou, co m o ele diz, " o p o n to de partida da intuiçã o e representação".71
Pode parecer, à prim eira vista, que forçam os a identificação de nosso conceito
de "aparência" com o de "c o n c re to em s i" de M arx. Na verdade, o "c o n c re to em
s i" m arxista é menos ric o que a "a p a rê n cia " com o nós entendemos, pois desen­
volve apenas seu estatuto ob jetivo. Por o u tro lado, ainda em M arx, encontram os
um vazio te ó rico {que pretendemos em parte preencher) na relação c o n c re to /
aparência, ressaltado e e xp licita d o pela constante aproxim ação conceituai entre
essência e. abstrato.
Após toda esta explicitação conceituai, podemos reto rn ar à nossa questão
mais p ró xim a ; qual é a d ife re n ç a s u b s ta n c ia l entre o p rim e iro c o n ta to com a
realidade social e o resultado fin a l do esforço teórico?
o Se o neoclassicismo trabalha sob o signo da aparência, através da lógica
dó e m p írico , podemos dizer que só examinam um (e apenas um) nível da reali­
dade. A única atividade "te ó ric a " que desenvolve é a de form ação de conceitos
através do processo de generalizaçao; sistematizando-os em seguida numa "o rg a ­
nização sequencial de generalidades" que visa fo rm a r a realidade fin a l da opera­
ção.
Se toda apropriação do real só pode iniciar-se pela aparência das coisas,
é os neoclássicos apenas generalizam as características aparenciais, a realidade
a que chegam ou a "a p ro p ria ç ã o " que engendram, situa-se, necessariamente,
em nível id ê n tico ao do ín íc io .
Assim, e respondendo ao nosso p rim e iro questionam ento, podemos a fir­
mar que não encontram os, nos neoclássicos, n e n h u m a d ife re n ç a s u b s ta n c ia i
entre os diversos pontos do tra je to do con he cim en to ; a realidade é, assim, ni-
veíada.1 2 ______
(1 1 ) D issem os antes, s o b re a a p arê n cia , q u e esta é o p o n to de p a r tid a d o q u e o p e s q u is a d o r
p e rc e b e e in tu i c o m re fe rê n c ia aos o b je to s de e stu d o .
(1 2 ) N ão d iz e m o s " u n i- d im e n s io n a líz a d a " s im p le s m e n te p o rq u e as d im e n sõ e s d iz e m re sp e i­
to à construções da realidade hierarq uizadas p e lo pensam ento . Na fo r m u la ç ã o neo-
ciássica não e x is te h ie ra rq u ia s , mas c o m p o s iç õ e s e m u m m esm o grau ou n fve f d o p e n ­
samento.

39
No â m b ito do M arxism o, po r o u tro lado, em bora a pesquisa tam bém tenha
a aparência com o p o n to de partida, o p o n to de chegada diferencia-se daquele
de duas maneiras: 1) p o r ser realidade do pensamento e 2) po r apresentar uma
explicação causai (hierarquizada) da aparência.
É p o r entender a dinâm ica social com o fo rm a única de existência da socie­
dade e o papel dos conceitos com o propriedade do pensam ento re fle x iv a s do so-
cialísendo, pois, tam bém dinâm ico), que se im põe um processo de análise (abs­
tração) para captar a essência dos fenôm enos e, só assim, compreendê-los.
Consequentem ente, o "c a m in h o " que vai da aparência para a essência
caracteriza a a p re e n sã o da vida dos conceitos; de sua gênese fenom ênica à sua
realidade essencial. A o co n trá rio , o "c a m in h o " da essência para a aparência
— que c o m p re e n d e (no sentido de ser mais abrangente) a passagem do abstrato
para o con creto — caracteriza a e x p o s iç ã o dos conceitos desde sua gênese ló g ic a ,
passando pela com plexidade teórica m áxim a, até a re c u p e ra ç ã o da aparência
pelo p e n s a m e n to :s u a e x p lic a ç ã o causai.
A riqueza do m étodo m arxista tam bém pode ser vista com o um processo
de criação e descoberta: verifica-se ati uma espécie de fe c u n d a ç ã o te ó ric a , que
extrapola o o b je to de estudo em sentido re strito , seja pelo processo de desco­
berta da gênese das categorias, seja pela tendência evolutiva derivada.
No m o m e n to , consideramos que as diferenças substanciais que nos p ro ­
pom os dem onstrar estão suficientem ente esclarecidas. Vejamos, agora, mais de
perto, o que considera-se abstração, segundo o p o n to de vista das duas escolas
que nos im p o rta m .

II - O Q UE É A B S T R A Ç Ã O

Abstração é um te rm o que popularizou-se pelas várias conotações em que


é empregado. A mais vulgar destas, entende o te rm o com o sinô nim o de "coisa
In e xiste n te ". Um a o u tra interpretação é a advinda do estudo de uma coisa pres­
c in d in d o de um c o n ju n to de elementos que a com põe, e que " p o r ora devem ser
deixados de la d o " ou abstraídos. Nesta, imagina-se uma coisa pura e que pouco
a pouco, perdendo sua pureza, aproxima-se da realidade: chama-se a isto de p ro ­
cesso de "aproxim ações sucessivas" â realidade.
Esta conotação ú ltim a ajusta-se à abstração neoclássica nas análises da so­
ciedade e assemelha-se à fo rm a de estudo das ciências exatas: "Mas palavras de
Jevons, 'à T eoria Econôm ica (...) sugere um a estreita analogia com a ciência da
Mecânica Estática, e verifica-se que as leis de troca se assemelham a leis de equi­
líb r io de um a alavanca {...)'. Este exem plo de com paração da Física c o m a Eco­
nom ia é apenas u m e n tre vários outros encontrados ta n to em Jevons q u an to na
m aioria dos autores neoclássicos mais im p o rta n te s ".13
A coisa p u ra . é o m odelo ou idealização do o b je to : o pesquisador retira
do fu n c io n a m e n to da sociedade tu d o que pode com p lica r a sua compreensão,
de acordo com a ajuda do instrum ental a n a lític o que dispõe. Esta sociedade
am putada passa a ser o núcleo ou referência ob rig a tó ria de todas as adições ou

(1 3 ) H A G G E , W. " D e D o c ta Ig n o r a n tia " . In : Revista d e E c o n o m ia P o lític a . S ã o P a u lo , Bra-


silie n s e, J a n -M a r/1 9 8 7 , p. 124.

40
agregações de com plicadores, até alcançar-se "as coisas com o elas são". Um
exem plo clássico é o caso da c o n c o rrê n c ia p e rfe ita . Este tip o de concorrência
nunca existiu hlstoricam etne e, teoricam ente, só pode ser estudada se negarmos
algumas características do fun cio n a m e n to d o capitalism o, quais sejam: 1} desem­
prego c rô n ic o ; 2) crises c íc lic a s ;3) desequilíbrios estruturais e 4) desinform ações
e desconhecim entos de qualquer espécie p o r parte dos atores sociais, entre o u ­
tras.
Em outras palavras, temos que n e g a r por um instante a existência da com ­
plexidade do real para poderm os estudá-io. A perfeição da concorrência im põe
um capitalism o sem desemprego crônico, o que nunca e x is tiu ; crises cíclicas, que
sempre estiveram presentes e e q u ilíb rio s que são autom aticam ente estabeleci­
dos. Segundo R o w tho rn, "encara-se o desemprego, as crises, o desenvolvim ento
desigual e outros aspectos similares do sistema com o desvios do 'e q u ilíb rio ' (...)
e, para efeito de análise, restringe-se a sua existência à ocorrência de 'fricçõ es' ou
'im perfeições', com o, por exem plo, os m onopólios ou a inform ação im perfeita.
(...) Daqui até c o n clu ir que eles podem ser elim inados peta in tro d u ç ã o de m a io r
c o n c o rrê n c ia (g rifo —M L M ), m elh or inform ação ou o u tro rem endo destinado a
remover as im perfeições de um mecanismo essenciaimente p e rfe ito , vai um cu rto
pásso."14
No entanto, o que nos im po rta salientar é a c o n tra d iç ã o em te rm o s exis­
tente entre a inform ação de modelos e a realidade, e não a validade das co n c lu ­
sões a que se chega p o r esta via. Não estamos aqui avaliando a concepção neo-
clássica da sociedade, no sentido desta ser certa ou errada. As valorações são dei­
xadas de lado, sendo nossa o p in iã o , no caso, irrelevante.
Já para o m arxism o, a abstração se fa z sem esta contradição em term os,
não se apresentando, pois, este problem a m etodológico. Q uando aparentem ente
se sim plifica a realidade, de fa to está-se tratan do em se p a ra d o de um , de uma ou
algumas de suas características. Estas características (nas suas dimensões p ró ­
prias) em nenhum m om ento podem negar as características situadas em outras
dimensões; a validade de cada afirm ação, an alítica ou dedutivam ente forjada,
não pode invalidar afirmações já feitas ou a serem feitas.
V isto sobre o u tro prism a, o p ro c e s s o de a b s tra ç ã o m a rx is ta im p e d e q u e ,
im p lic ita m e n te , n o e s tu d o d e u m a e s p e c ífic a d im e n s ã o , to d a s as o u tra s n ã o sejam
s im u lta n e a m e n te co n sid e ra d a s.
Para m uitos estudiosos, quando M arx disserta sobre a circulação simples
de mercadorias, im plican do no processo "m ercadoria-dinheiro-m ercadoria (M-D
(líl-D -M ), localizar-se-fa historicam ente numa sociedade m ercantil d is tin ta do
capitalism o. Não é nenhuma novidade que os pro du tos do capital ao chegarem
no mercado n ã o se distinguem dos produtos do camponês ou d o artesão. Não
existe selo de propriedade ou etiqueta que distínga os tom ates produzidos sob
relações de produção distintas. Por isso, o tom ate se apresenta com o, e apenas
com o, uma m e rc a d o ria , e o p ro p rie tá rio desta com o v e n d e d o r. Por sua parte, o
d in h e iro tam bém não aparece de "c o le ira ", e o seu p ro p rie tá rio representa ape­
nas o c o m p ra d o r.
É assim que, na circulação, não se pode d is tin g u ir o capítal-m ercadoria da

(1 4 ) R O W T H O R N , B. O p . c i t , p. 26.

41
m ercadoria do componês, ou o cap itai-dinheiro do d in h e iro do assalariado, Esta
é um a dim ensão d o real, uma fo rm a de vida do capita: na troca, a relação que se
estabelece entre pro prietá rio s de mercadorias é a existente entre c o m p ra d o r e
vendedor, mesmo que, fora da circulação, noutra dimensão da realidade, estes
vendedores sejam, p o r exem plo, capitalistas e os com pradores, assalariados ou,
quem sabe, tam bém capitalistas.15
Consequente com este processo, não existem adições de características
para se chegar à níveis explicativos mais pró xim o s da realidade objetiva. O que
verifica-se é o relacionam ento estratificado e hierarquizado das dimensões: se é
verdade que a circulação do capital está mais p ró xim a da realidade objetiva do
capitalism o do que a circulação simples de mercadorias, is to se dá p o r aquela
e n g lo b a r esta. A circulação do capital é determ inada, lógica e teoricam ente,
pela circulação simples de mercadorias, fica nd o patente a estratificação e hierar­
quização das dimensões.
V o lta n d o aos neoclássicos, vemos que, se a concorrência im perfeita está
mais p ró xim a da realidade objetiva do que a concorrência perfeita, isto se dá
porque adiciona-se a esta, por exem plo, um c o n ju n to de barreiras (tecnológicas,
ju ríd ic a s e financeiras) d ific u lta n d o a livre e pe rfeita m obilidade do capital.
Logo, fica evidente a adição ou superposição de características, com o tam bém a
con trad içã o em term os existentes entre uma circulação sem entraves que é,
ao m esm o te m p o , repleta de barreiras! Lem brem o-nos, p o r oposição, que a c irc u ­
lação do capital é, ao m esm o te m p o , circulação simples de mercadorias.
De um a maneira sintética, podemos dizer que os neoclássicos id e a liz a m a
realidade e depois, passo a passo, vâo com pô-la. F o rm a m a realidade a p a rtir
de um m odelo que não tem vida p ró p ria em separado, poís, da realidade, pouco
ou nada representa e, o que é mais grave m etodologicam ente, c o n tra p õ e -s e a
esta.
Os marxistas, p o r sua vez, não form am a realidade, eles dela se a p ro p ria m ,
m ostrando a vida in e re n te a cada uma de suas facetas ou dimensões, sem que as
conclusões a um níve l abstracional dado (dimensão) neguem16 as de outros.

i i l - D E R IV A Ç Õ E S E EXEM PLO S

0 que apresentamos aqui são algumas derivações (sob a form a de exem­


plos) necessárias do que já fo i exposto; te n to no que se refere à elaboração da
conform ação da teoria q u a n to à sua aplicabilidade ou p o lític a econôm ico-social.

Os n e o clá ssico s

Se lem brarm os que a explicação m etodológica da realidade, segundo os

(1 6 ) E s ta ú ltim a p o s s ib ilid a d e M a rx c o n te m p la na c irc u la ç ã o d o C a p ita l, cu ja fo r m a é


D -M -D '. N ã o no s esqueçam os, p o ré m , q u e esta ú ltim a engloba a p r im e ira . V e rific a m o s
is to , e s q u e m a tic a m e n te , s im p le s m e n te , c o m b in a n d o a s e q ü ê n cia : D -(M -D -M -)-D '.
(1 6 ) É ú t i l le m b ra r q u e , se g u n d o os m a rx is ta s , a d ireção dos m o v im e n to s (te ó ric o s ou his-
fió ric o s ) está de a c o rd o c o m u m a das leis m a is im p o rta n te s da d ia lé tic a , q u a l seja, a da
negação da negação ; tra ta -s e de u m r e d e fin ir c o n s ta n te das s itu a çõ e s dadas e q u e p o u c o
te m e m c o m u m c o m a negação pura e sim p le s destas cita ções.

42
neoclássicos, se dá por a d iç ã o de características a um m odelo pré-determ ina­
do e derivado da a m p u ta ç ã o de "elem entos com p lica do res", fica fá cil deduzir
que, para eles, 1) o elem ento determ ina a to ta lid a d e ; 2) o in d iv íd u o determ ina a
sociedade; 3 } os h o m e n s são todos iguais e 4) as instituições ou organismos so­
ciais são supérfluos.

Ó E le m e n to d e te rm in a a to ta lid a d e

U m dos po nto s mais relevantes da T eoria Econôm ica neoclássica é a elabo­


ração da "c u rv a teórica de demanda de m erca do ". Para tai, aceita-se que cada
consum idor tenha a m agnitude do seu consum o de uma dada m ercadoria em re­
lação indireta com os preços desta. Isto posto, somam-se h o rizo n ta lm e n te as
curvas de demanda de todos os consum idores, encontrando, então, a curva de
demanda teórica de mercado. Logo, o e le m e n to -c o n s u m id o r d e te rm in a a to ta -
iid a d e -m e rc a d o .

O in d iv íd u o d e te rm in a a so cie d a d e

Com base na exem piificação an terior, chamamos a atenção para o que deu
origem ao mercado. Em outras palavras, o mercado não é "e x p lic a d o " (pois é
apenas adição}, mas sim o in d ivíd u o -co n su m id o r. Assim , a ligação econôm ica
dá sociedade m ercantil, ou sua determ inação econôm ica, é forn ecida apenas pe-
íáS òáràcterfsticas do ind ivíd uo -e con ôm ico , este sim, estudado. Em term os lógi-
coS; então, o in d iv íd u o d e te rm in a a so cie d a d e .

Os H o m e n s são to d o s ig u a is

É um fa to de conhecim ento generalizado, que apenas podem os somar


còisas de alguma fo rm a idêntica. Logo, se o con sum id or determ ina o mercado
(por adição}, é elem entar concluirm os pela igualdade de todos os Hom ens; ao
menos no que têm de "H o m u s E conom icus".
Este é o fu n d a m e n to da concepção de Estado ne utro , representante de
todos os homens (do p o vo), pois não existem , aqui, classes sociais.

À s In s titu iç õ e s s o c ia is são s u p é rflu a s

à o considerar a adição corno m étodo, faz-se o u tra suposição: as unidades


somadas são independentes um a das outras. Isto é necessário, porque, caso con­
trá rio ; o to d o podería ser difere nte da soma das partes.
Podemos observar esta característica de independência na conform ação
da curva da demanda teórica. A análise que a lí se faz é apenas a do in d iv íd u o
(isolado dos o u tros e da sociedade} para, em seguida, agregá-los. Fica evidente
que os in d ivíd u o s não se relacionam e, p o rta n to , não se influe nciam reciproca-
rnènté.
Sendo assim, u m a in s titu iç ã o s o c ia l, c o m o os s in d ic a to s , só p o d e s e r su ­
p é rflu a , p o is a sua fo rç a é id ê n tic a a o s o m a tó rio das fo rç a s in d iv id u a is . Esta
análise pode ser estendida para o Estado, en ten dido com o um c o n ju n to de ins­
titu içõ es.

43
O s M a rx is ta s

Para esta corrente de pensamento, a realidade está presente e sempre coe­


rente nas suas diversas dimensões. Isto se trad uz, co m o vim os, na form a m e to ­
dológica da explicação da realidade, baseada na relação e estratificação hierar-
quizada de dimensões, a qual fornece os elos de um a determ inação lógíco-causal
dã aparência.
A presença constante do c o n ju n to das dimensões no seio da pesquisa, im ­
plica, necessariamente, em 1) determ inação dos elem entos pela to ta lid a d e ;
2) determ inação do in d iv íd u o pela sociedade; 3 ) possibilidade de desigualdade
entre os homens e 4) relevância das instituições sociais.

D e te rm in a ç ã o d o e ie m e n to p e /a to ta ü d a d e

A o n ip re s e n ç a da realidade (totalidade) im plica que, quando da análise do


elem ento, aquela esteja s u b ja c e n te . Assim posto, o elem ento é um á to m o da to ­
talidade, e x is tin d o apenas com o engrenagem de um a m áquina, e sendo, pois,
s o b re -d e te rm in a d o p e io fu n c io n a m e n to d o c o n ju n to .

D e te rm in a ç ã o d o in d iv íd u o p e la so cie d a d e

A única diferença em relação ao caso a n te rio r, está no reconhecim ento das


especificídades d o in d iv íd u o , do ser consciente e inteligente. Em bora seja fr u to
da sociedade, é elem ento ativo e sujeito das transform ações do p ró p rio m eio
social. O fa to de ser s u je ito não se deduz diretam ente de sua inserção social ou de
sua conform ação social. É necessário adotarm os o p o n to de vista dia lé tico que
afirm a a inexistência de ação sem reação, de ataque sem defesa, de passivo sem
ativo, etc. Estes são exem plos de uma lei que já enunciam os, e que traduz a
luta e unidade dos con trários com o única fo rm a de dinâm ica, m ovim ento ou
transform ação.

A d e s ig u a ld a d e e n tre os h o m e n s

Apenas um a p o te n c ia lid a d e de desigualdade pode-se afirm ar. Se o to d o de­


te rm in a as partes ou a sociedade o in d iv íd u o , não há por que supor que in d iv íd io s
não se relacionem e se a u to-influe nclem . A p o s s ib ilid a d e da s d e sig u a ld a d e s, a tra v é s
d o a g ru p a m e n to d e in d iv íd u o s c o m in te re sse s a sse m e lh a d o s e stá se m p re presente.

A re le v â n c ia das in s titu iç õ e s s o c ia is

N a m edida em que a sociedade determ ina o in d iv íd u o (não im p o rta n d o se


este retroage, o u não, sobre o m eio social), esta se afirm a com o algo d is tin to dei
seus com ponentes. Não podemos, pois, nos surpreender com a aceitação dos sin­
dicatos, pa rtid os, etc., com o forças superiores às dos in d ivíd u o s que os co m ­
põem , considerados em separado.

44
C o m e n tá rio s

Devemos, mais um a vez, salientar que não nos interessa o discussão sobre o
valor in te rp re ta tivo das correntes de pensamento abordadas {se mais não fosse
pòrque o consideramos com o um problem a de opinião). Nosso o b je tiv o ê apre­
sentar os dois métodos em suas discordâncias, assim com o d is c u tir a c o e rê n c ia
dá teoria e da prática forjadas sob especfficos pressupostos filo sófico s.
independentem ente do que pensamos sobre a teoria neociássíca, observa­
mos uma pro fu n d a incoerência na prática p o lític a de seus adeptos quando, por
exem plo, se opôerrt à pressão salariai efetuada pelos sindicatos e à regulação eco­
nômica pelo Estado. Segundo os pressupostos q u e norteiam sua teoria, os sin d i­
catos e o Estado não poderiam te r mais poder d o que a soma das partes que os
com põem ; os sindicatos e m n a d a poderiam prejudicar o "e q u ilíb rio e co n ô m ico ".
Da mesma fo rm a deveria oco rre r em relação ao Estado.
De nada adianta dize r que as instituições causam apenas problemas te m ­
p o rá rio s ou sim plesm ente " fric c io n a is ” , pois segundo a determ inação da socie­
dade pelos in d ivíd u o s {pressuposto am plo da teo ria neociássíca), estes são todos
iguais e não m antêm relacionam entos, in e xistin d o , então, influências recíprocas
e, consequentem ente, uma sociedade d ife re n te da soma dos in d ivíd u o s que a
com põe; p o rta n to , fazem-se in ó c u a s as organizações de q u a iq u e r espécie.
'• Da mesma fo rm a , verificam os um a incoerência en tre a afirm ação da igual­
dade econôm ica de todos os homens e a propriedade p o r uns poucos dos meios
de firbdução. É vazio a firm a r, e sustentar teoricam ente, que os meios de produ-
çãó são a lu g a d o s , p o is , inevitavelm ente, surge a pergunta: alugados de quem ?17
:-;v & y c o m relação ao pensamento m arxista, não vemos incoerências p ro p ria ­
mente ditas, mas sim extrapolações indevidas. D a d a a com plexidade do m arxis­
mo, várias leituras e interpretações são possíveis {o que não ocorre com o neo-
classiclsmo), sendo possível, tam bém , exageros e o m is s õ e s .
Sobre a teoria do valor, po r exem plo, vários autores sustentam que os pro-
diitõ s podem ser tr o c a d o s porque possuem "a lg o em c o m u m " (acreditam os ine­
gável esta parte da explicação) e que esse "a lg o em c o m u m " só p o d e s e r o tra ­
balho hum ano; é aqui que começa o problem a. P o d e ria m o s dizer, com os neoclás-
sicòs, que o aigo em com um é a " u tilid a d e " e, n e s te c o n te x to , ninguém poderia
rios contradizer. A firm a r e "b a te r p é " sobre e ste p o n t o , é o que consideramos
um exagero.
Toda a argumentação sobre o tra b a lh o hum ano com o "ú n ic a id e n tific a ­
çã o " entre os produtos baseia-se nos p re s s u p o s to s d o m a rx is m o . U m deles
é a h is to r/c id a d e das fo rm a s d e p ro d u ç ã o e, consequentem ente, das ca ra cte rísti­
cas dos p ro d u to s destas form as. A o aceitar-se que a u tilid a d e é a coisa em co­
m um , está-se praticando um a teoria do " v a io r " a-histórica, já que a u tilid a d e se
manifesta em todos os p ro d u to s de todas as form as de produção conhecidas,
désdè as mais prim itiva s até hoje. Por isto, passa a ser um d a d o e desconsiderada
(na essência da teoria d o valor) co m o um o b je to de análise, to g o , s o m e n te a
c o e rê n c ia c o m u m p re s s u p o s to pode fu n d a m e n ta ra afirm ação d o trab alho hu­
mano (abstrato) c o m o substância d o valor ou "co isa em c o m u m ".

17) Este p o n to é desenvolvido em S A L A M A , P. Op. c it., p p . 1 2 6 -1 2 8 .

45
A inda sob o signo dos exageros, percebemos a im propríedade de vários
pesquisadores ao quererem im p o r a existência de "classes sociais" com o coisa
ó b v ia . Também aqui, esta existência tem a possibilidade de ser "ó b v ia " apenas
se partilharm os d o p re s s u p o s to da determ inação do in d iv íd u o pela sociedade
(com o vim os acima).
E ntre as "omissões mais generalizadas, vamos apenas enum erar algumas,
sem desenvolvê-las: 1) as transform ações p o r que passa o proletariado e a relação
destas com o papel revolucionário, 2) as especificidades do in d iv íd u o (de certa
fo rm a reclamamos o desenvolvim ento de um a psicologia m arxista) e 3} o papel
ativo do Hom em na transform ação social (a visão soviética do m arxism o pode
ser responsabilizada, em parte, po r este descaso. Não esqueçamos, porém , e
apesar do sovietism o, as grandes contribuições de Lenin e, principalm ente, de
Gramsci).
F IN A L IZ A Ç Ã O

Na finalização deste tra b a lh o in tro d u tó rio à co n fro n ta çã o m etodológica


entre neoclássicos e m arxistas, vamos cham ar atenção para mais aigumas oposi-
ções gerais entre estas duas correntes e te n ta r dem onstrar a justeza de nom ear­
mos de "id e a lis m o fu n c io n a lis ta " e de "m a te ria lis m o d ia lé tic o " as fun da m enta­
ções filosóficas dos dois m étodos, respectivamente.
O neoclassicismo, ao "e n d e u za r" o in d iv íd u o (veja-se a "soberanis do c o n ­
s u m id o r", por exem plo), abraça e adota o s u b je tív ís m o e o v o /u n ta rís m o com o
expressão da compreensão e da dinâm ica social: sendo dado que não é o m eio
que determ ina o in d iv íd u o , sua vontade não é condicionada ou restringida por
nenhum co rp o estranho à sua própria figura (uma excessão é aquela que releva
Deus e o destino com o form adores da vontade). Logo sua vontade é soberana,
podendo, se quiser e em quaisquer ciscunstâncias, m udar o m undo.
Assim , a h is tó ria s o c ia l passa a s e r re fle x iv a da h is tó ria dos in d iv íd u o s 18
e, com o num fiim e , são as imagens da realidade que se expressam na realidade
e x te rio r, objetivando-se. is to n a d a m a is re p re s e n ta d o q u e a c o n c e p ç ã o id e a ­
lis ta da so cie d a d e , na qual o psicólogo é o observador p riv ile g ia d o da História.
Lem brem o-nos, porém , que mesmo neste c o n te x to a História objetiva
co n tin u a a flu ir e a ter existência própria, sendo, no entanto, e xp re ssã o d o m o ­
v im e n to das id é ia s.
N o o u tro extrem o, encontram os o "e nd eu sam en ío" do m eio ou a to ta l
passividade do in d iv íd u o face ao m eio social: o in d iv íd u o , sem capacidade de
pensar o m undo, é cria tu ra deste — é a concepção m aterialista vulgar da socie­
dade.
0 m arxism o não avaliza esta ú ltim a concepção. Se o m eio d e te rm in a o
in d iv íd u o , isto não inplica na passividade deste, ao c o n trã rio .lm p lic a na possi­
bilidade de reação deste fre n te a um m undo que procura c o n fo rm á -lo : o in d iv í­
duo, com o c ria d o r da H istória social, em bora lim ita d o p o r um c o n ju n to de si­
tuações objetivas, enquadra-se na concepção m a te ria lis ta n ã o -v u /g a r o u d ia lé ­
tic a , assumida pelo m arxism o.

{1 8 } N ã o é m e ro acaso q u e a H is tó ria , p a ra a p e n s a m e n to b u rg u ê s , e m g e ra l, seja u m a s u­


cessão de "g ra n d e s f e i t o s " (guerras, d e sc o b e rta s, e tc .) p o r “ grand es h o m e n s " (L u iz
X I V , D. P e d ro I I, e tc .).

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Para c o n c lu ir, deve-se observar que pa rtim o s do fu n c io n a lis m o neoclássí-
cò, expresso na lógica d o e m p íric o , e chegamos ao id e a lis m o , afirm ad o na con­
cepção da história. Nas observações sobre o m arxism o, partim os da d ia lé tic a ,
expressa na contradição entre essência e aparência, e chegamos ao m a te ria lis m o ,
afirm ado pela prioridade do m eio sobre o in d iv íd u o .
T u d o nos leva a crer que a lógica interna de nossa exposição tenha aqui
süâ corroboração: o que não im plica num julgam ento de valor sobre a superio­
ridade de uma teoria sobre a outra. Por o u tro lado, não nos pretendem os im pa r­
ciais, pois a escolha d o o b je to de estudo e d o in stru m e n to a n a lític o u tiliz a d o
"c o n d u z e m " a pesquisa, tornando-a p o lític a .
C om o em todas as pesquisas, prin cip alm en te as de cunho social, esta ta m ­
bém ê m a te ria l d e re fle x ã o " te n d e n c io s o " , do in íc io ao fim .

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R A ÍZ E S N 9 2 - 3
J A N /D E Z
1983

R E V IS T A DE C IÊ N C IA S S O C IAIS E E C O N Ô M IC AS

r ■N
S U M A R IO

A R T IG O S

Octavio lanni: F orm as sociais da t e r r a ...................................................... 5

José Grabois & Maria J. N. Aguiar: A c u ltu ra do fu m o a ro m á tic o n o Se­


m i- Á r id o da Paraíba e R io G rande do N o r t e ............................................ 19

Nilson Araújo de Souza: A c a tá s tro fe que nos ameaça e c o m o c o m b a ­


tê-la ........................................................................................................... 39

Paulo Henrique N. Martins: A p ro p ó s ito de um a p o lític a re gion al de


"d e s e n v o lv im e n to ''; o caso do N ordeste ................................................. 69

Paulo Nakatani: A "N o v a E c o n o m ia P ú b lic a " ou a agonia d e lira n te do


n e o c la s s ic is m o .......................................................................................... 79

Xavier F. T o tti: Os grupos d o m ésticos nas c o m u n id a d e s de o cu paçã o


espontânea na A m é rica L a t in a .................................................................. 95

Josefa Salete B. Cavalcanti: O rigem do h o m e m b ra n c o : o p ro b le m a do


c o n ta to no sistem a t r i b a l ......................................................................... 109

Jurandir Antônio Xavier: Um p o u c o m ais além das a lte rn a tiv a s te c n o ­


lógicas ...................................................................................................... 127

lolanda Casagrande: O tra b a lh a d o r ru ra l v o la n te ( " b ó i a - f r i a " ) ............... 137

NOTAS, COMENTÁRIOS E INFORMAÇÕES

Hugues Lamarche: B alanço e re flexõ e s teó rica s de 2 0 anos de pesquisas


sobre o m e io ru ra l francês ....................................................................... 149

Elbio Troccoli Pakman: A essência e o papel d o p la n e ja m e n to na socie­


dade c a p ita lis ta ........................................................................................ 159

Mauro G, P. Koury: Breve h is tó ria d o m o v im e n to cam ponês n o N o rd e ste 167

Josemir Camilo: A id e o lo g ia da " N e w E c o n o m ic H i s t o r y " .................... 177

Reinaldo A. Carcanholo: O 5 P Congresso Brasileiro de Economistas, re ­


je iç ão da atu a l p o lític a e c o n ô m ic a ........................................................... 183

P ublicação sem estral dos M estrados em E c o n o m ia e em S o c io lo g ia

de C am p ina G rande - U n ive rsid a d e Federal da P araíba - C am pus II

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