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U M A C O N F R O N T A Ç Ã O M E T O D O L Ó G IC A
M a noe l L u iz M a laguti *
E X P L IC A Ç Õ E S IN IC IA IS
A elaboração deste te x to fo i estim ulada pela realização de um a palestra
pro ferida no curso de nivelam ento do Mestrado em Econom ia da Universidade
Federal da Paraíba - Campus II, no 1P semestre de 1987. Trata-se de uma trans
crição não lite ral que pretende-se didática: m inim izand o, p o rta n to , as im p e rfe i
ções expositivas de uma palestra, assim com o os desvios tem áticos e a ela inerentes.
Ainda neste sentido, procurou-se adequar o tra ta m e n to das questões às necessi
dades de um curso de graduação, evitando-se, assim, uma circulação e com p re
ensão restritas à especialistas. A inda aqui, pretendeu-se colaborar no preenchi
m ento de uma lacuna nos estudos in tro d u tó rio s de m etodologia nas ciências
econômicas.
A estrutura de nossa exposição parte das afirm ações mais genéricas indo
até suas im plicações na p o lític a econômica. Com esta concepção expositiva, o
le ito r deverá te r uma certa dose de paciência e sempre esperar pelas páginas se
guintes, para, só então, apreender em bases mais amplas, afirm ações anteriores.
A medida que nos aproxim am os do fin a l do estudo, os exem plos torn am -
se mais e mais frequentes, ajudando a dar corp o à proposições cujo sentido era,
até o m om ento, apenas teórico. Em outras palavras: a finalização do te x to pre
tende e xte rio riza r algumas categorias, cuja existência, consistência e coerência
situavam-se no seio da pró pria teoria, "transladando-as" da teoria para a p rá ti
ca.
É de praxe que em te xto s com esta estrutura de exposição, um a segunda
leitura seja recomendada, com o única fo rm a de compreensão das categorias
iniciais e, consequentem ente, de suas implicações lógicas e p o lítica s.
IN T R O D U Ç Ã O
O c o n fro n to m etodológico, entre maxistas e neoclássicos tem uma d ific u l
dade inicial que, em si, já im plica um árduo trabalho prévio, qual seja o de
d e s c o b rir em q u e as duas c o rre n te s se c o n tra p õ e m : esta descoberta é o desnuda
m ento da unidade c o n tra d itó ria necessária entre as duas principais vertentes do
pensamento econôm ico contem porâneo,
A té hoje, temos visto várias exposições p a ra le la s das respectivas m e to d o lo
gias e desconhecemos qualquer tentativa sistemática de dem onstrar o que as une
com o p o /o s d e u m m esm o conhecim ento: a T eoria E conôm ica1. Esta visão po-
(*) P ro fe s s o r de M e s tra d o em E c o n o m ia da U F P b - C a m p in a G ra n d e
{1 | O tr a b a lh o m a is in te re ss an te q u e c o n h e c e m o s e q u e se p re o c u p a c o m a c o n fr o n ta ç ã o
m e to d o ló g ic a é o liv r o de P ie rre S a la m á " S o b r e el V a lo r " . M é x ic o , E ra , 1 9 7 8 . R e c o
m e n d a m o s , a in d a , o liv r o de R O W T H O R N , B., M A R X , K. & S W E E Z Y , P. " P a ra u m a
C r ític a da E c o n o m ia P o lít ic a " . L is b o a , E s c o rp iã o , s/d.
Rev. R A IV E S C a m p in a G ra n d e Ano VI NP 6 33 a 47 J a n .8 6 /m a r .8 íí
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lar, que concebe a Econom ia e o conhecim ento em gerai com o um to d o in d iv is í
vel (embora disting uível) é a única que nos perm ite colocar, iado a iado, neoclás-
sicos e marxistas, m ostrando o que, de uma certa fo rm a , possuem de com um ,
em bora por oposição.
O ptam os po r apresentar os pontos específicos do m étodo m arxista logo
após a explanação sobre seu correspondente neoclássico: a unidade evidenciar-
se-á e o acom panham ento do te x to será fa cilita d o .
Para fin a liz a r, chamamos a atenção para a sequência expositiva adotada:
dividim o s o te x to em 3 partes. Na prim eira ("O M é to d o ") tratam os de algumas
questões mais genéricas do m étodo; as grandes categorias são a lí apresentadas.
Na segunda ("O que é A b stra çã o ") retornam os algumas das grandes categorias
com o o b je tiv o básico de dem onstrar a distinção entre o processo de abstração e
0 de form ação de m odelos explicativos. Na terceira e ú ltim a parte ("Derivações e
E xe m p los") e xtra ím o s algumas conclusões teóricas e po líticas do apresentado
nas duas prim eiras.
1 - 0 M É TO D O
De um m odo m u ito simples, podemos dizer que ao tratarm os do m é to d o
estamos preocupados com a apreensão das form as sistem áticas e c o n s c ie n te s da
a prop riaçã o da realidade. A cada fo rm a de compreeneão (sistemática e consci
ente) do real corresponde um a essência, uma base, que a norteia e define. Esta
essência é o que chamamos de fu n d a m e n to filo s ó fic o do m étodo.
Entendemos, então, que é apenas a p a rtir da filo s o fia , ou da concepção
de m undo sistematizada que se possui "à o r ío r i" , que a questão do m étodo pode
ser com preendida sem a consideração de todos os "á p r io r i" , som ente constata-se
a existência de m étodos d istin to s. Podemos com preender suas organizações lógi
cas e operacionalizações, mas nada saberemos sobre o "p o rq u ê " da existência de
vários m étodos e, m u ito menos, poderemos o p ta r p o r um ou o u tro de fo rm a não
aleatória. Por conseguinte, faz-se necessário observar a origem das distinções me
todológicas, assim co m o suas im plicações prático-teóricas e p o lític a s ; às im p lica
ções prático-teóricas, no que elas têm de elaboração teórica propriam ente d ita ,
ou seja, sua lógica intern a; às implicações p o lítica s, no que dizem da relação
da teoria com o m eio - sua atuação sobre a realidade e dimensão objetiva, ou
seja, sua lógica externa.
O F un d a m e n to F ilo s ó fic o
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do-nos apenas, com aquelas que sugerem a Teoria Neociássica. N o segundo caso,
embora estejamos fren te a um a categoria clássica, com todos seus determ inantes
teoricam ente estabelecidos, ta m b é m só destacaremos os relevantes para a exposi
ção que nos propom os4 .
0$ neoclássicos buscam as bases de sua teoria no que chama-se de senso
com um . Em linguagem apropriada e d e fin ida , diria m o s que trabalham com a ló
gica do e m p íric o . Os fenôm enos ou a fo rm a com o as coisas aparecem, são seus
senhores. Presos ao que parece ser, entendem -no com o o ser pro priam ente d ito .
Se fossem conscientes do problem a, assim se expressariam: "se isso parece ser,
a firm o que é ". Assim fazendo, as e x p lic a ç õ e s se Id e n tific a m c o m m e ta s o rd e n a -
ções e s is te m a tiz a ç õ e s . A q u i a teoria deixa de sèr descoberta e criação, pois
inexíste uma diferença substancial entre a prim eira observação da realidade e o
resultado fin a l do esforço teó rico . A o a to inicial segue-se o u tro de semelhante
profundidade teórica, caracterizando a paralisia teórica e histórica em que se
situa o neoclassicismo.
No â m b ito das interpretações sociais, a lógica do e m p íric o conduz, entre
outras coisas, à negação da dinâm ica social. As categorias que o (social) explicam
são um d a d o desde o in íc io . Em outras palavras: são categorias prontas, d e fin i
tivas, ou seja, com todas as determinações consideradas relevantes já desenvolvi
das e c o m p re e n s ív e is . Consequentemente, se as categorias não têm história, os
objetos de estudo dos quais estas tratam tam bém não podem tê-la5 (independen-
tém ente do posicionam ento m aterialista ou idealista que adotem os). Se a socie
dade pode ser explicada por categorias sem história, deverá ser, logicam ente,
a-histórica; o fu n cio n a lism o salta aos olhos, numa de suas principais caracterís
ticas, qual seja, a da análise em piricista do fu n c io n a m e n to de uma to talida de
estanque das demais, s u rg in d o d o na da e sem p o r v ir d is tin to d o p re s e n te .
Para o m arxism o, ao co n trá rio , o que prevalece é a ló g ic a d a c o n tra d iç ã o
e n tre essência e a p a rê n cia . A vida dos conceitos aparecem "a n te s " de fo rm a d ife
renciada da de "a g o ra ", evoluindo de acordo com a relação que a cada m om e nto
se estabelece entre essência e aparência'. Esta dinâm ica teórica (veremos mais à
fre n te que esta dinâm ica não é apenas teórica) só é possível com o expressão da
dinâm ica histórica; se a sociedade é dinâm ica, apenas a lógica da con trad içã o
poderá apreendê-la.6 E n tre ta nto, com o podería parecer, o m arxism o não defen-
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de nenhum a correspondência d ire ta e ne cessá ria entre a evolução conceituai e
a evolução da história. A direção da dinâm ica de uma evolução pode se o p o r à
de outra, e é possível até, que à sequência lógica nenhuma sequência histórica
(na mesma direção ou não) seja observada, sendo a prim e ira uma im posição do
co n h e cim e n to ,7 De qualquer form a, a dinâm ica da história só pode ser explicada
por u m a d in â m ic a d o c o n h e c im e n to , consubstanciando, ao nível da elaboração
teórica, uma das leis fundam entais da dialética, quai seja, a que afirm a a pereni
dade da dinâm ica sob o im pulso da luta dos contrários.
A C o n s tru ç ã o T e ó ric a e o O b je to
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e fa lh o :8 u m c o n h e c im e n to d o e s ta tu to s e n só rio .
Q uanto à realidade da aparência, convém sublinhar que, qualquer que seja
o estatuto privilegiado, e sta n u n c a será te ó ric a .
A essência, po r o u tro lado, é um c o n ju n to de características que apenas
são apreendidas através de um esforço de teorização, pro p o rcio n a n d o pois,
c o n h e c im e n to m e d ia tiz a d o . Logo, a essência só existe na teoria, sendo sua rea
lidade um fa to teórico. Um exem plo interessante de realidade teórica é o do va
lo r (no sentido da teoria econômica m arxista): sob o capitalism o, o valor existe
para determ inar teoricam ente, entre outras coisas, os preços de m ercado (estes
sim, com realidade em piricam ente observável).
C om preendido o acima exposto, as categorias de "a b s tra to " e "c o n c re to "
se im põem para a con tinuidade e m aior clareza da exposição. T anto uma com o
ou tra são definidoras de dimensões do real, situando-se nestas as características
das coisas, dos objetos de estudo. Logo, devemos nos questionar sobre o q u e é
u m a d im e n s ã o . Vejam os: quando a realidade é enfocada de um determ inado
ângulo, sem que com isso a sua to talida de ou os o u tros ângulos deixem de ser
considerados, influe ncian do na própria observação do ângulo enfocado,9 faze
mos o que se chama de uma análise dim ensional (no caso das teorias sociais,
entedemos mais conveniente u tiliza rm o s o te rm o "d im e n s ã o " em lugar do de
"â n g u lo ", pelo relacionam ento ób vio e indesejável deste ú ltim o com as ditas
ciências exatas).
Assim, u m a d im e n sã o da re a lid a d e é " lo c u s " d e a ig u m a s c a ra c te rís tic a s
desta, sem a n u la ç ã o o u c o n tra d iç ã o em te rm o s c o m as o u tra s dim e n sõ e s. E stas
d im e n sõ e s e stã o , a in d a , n u m a d e te rm in a d a h ie ra rq u ia , s e n d o o re la c io n a m e n to
destas d im e n sõ e s h ie ra rq u iz a d a s a to ta lid a d e s o c ia l c o m p re e n d id a .
A o relacionarm os as duplas conceituais "essência/aparência" e "a b s tra to /
c o n c re to ", seremos, certam ente, m e lh o r c o m p re e n d id o s . Com este in tu ito ,
relembramos que o p rim e iro co n ta to com a realidade dá-se através da intuição
e percepção, estimuladas pela aparência objetiva das coisas. Nesse co n ta to , perce
bemos aigumas, e apenas aigumas, das características ou propriedades da coisa
enfocada. Mesmo que sejam poucas, estas propriedades não se explicam po r si
mesmas e, se queremos compreendê-las e a todas as outras que com põem a to ta
lidade das coisas, devemos, então, em preender um processo de pesquisa que,
pa rtin do da aparência nos conduza até à essência, ou c o n ju n to de propriedades
não-perceptíveís. Neste processo lógico vamos encadeando as propriedades per
ceptíveis com as "Invisíveis im ed ia ta m en te" ou essenciais. Com o resultado deste
exame anal ític o , o b te m o s n ã o apenas o s e le m e n to s fo rm a d o re s d a re a lid a d e apa
rê n c ia !, m as ta m b é m a p re e n d e m o s sua h ie ra rq u ia ló g ic a o u a "e x p lic a ç ã o c a u s a i
d a a p a rê n c ia ".
Logo, está im p líc ito que só consideramos um a coisa e x p lic a d a ou c o m p re -
e n d id a se sua gênese, evolução e aparência fo re m conjugadas num to d o ló g ic o
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de hierarquias definidas, no qual a essência redefina te o ric a m e n te a aparência
subjetiva.
Dado que abstrato & concreto são dimensões da realidade e "lo c u s " de
características desta, podemos nos perguntar onde {em quais dimensões) se si
tua m as características ou propriedades ta n to da essência q u an to da aparência.
 resposta não é fá cil. Príncipalm ente porque abstrato e concreto são
categorias restritas ao pensamento (â teoria) e, em bora a essência tam bém o se
ja, a a p a rê n c ia n ã o o ê . Mesmo assim, achamos in d iscu tíve l a existência de um
nível de relacionam ento entre os dois pares considerados.
A dimensão abstrata ou aquela onde se localizam os elementos mais sim
ples da coisa, entendemos corresponder à essência: a a n te c e d ê n c ia ló g ic a trans
fo rm a os elementos simples ern determ inantes teóricos, ou seja em gênese o u
o rig e m da c o m p re e n s ã o d o o b je to d e e s tu d o . Por o u tro lado, à medida que, po r
dedução, com plexizam os os elementos simples Io que se chama de "a d içã o das
determ inações" - embora o term o adição não seja m u ito p ró p rio ), nos a p ro x i
mamos da explicação da aparência; e quanto mais pe rto chegamos mais d im in u í
mos o nível de abstração ou, o que é.a mesma coisa, tornam os mais concreta a
dimensão da observação.
Por este cam inho, poderiam os fa cilm e n te incorrer no erro de considerar
mos que a aparência situa-se no mais a lto nível de concretude possível, o que não
é verdade. Isto porque, com o já ressaltamos, não entendemos a aparência com o
categoria do pensamento, mas sim com o realidade não-teórica, não sendo, pois,
identificável com uma realidade qu alitativa m m en te d istin ta , uma realidade teó
rica, com o é o caso do concreto.
O con creto é um a construção ló g ic o -te ò rh a que, no seu mais alto nível,
corresponde à uma dimensão da realidade extrem am ente com plexa (diz-se que é
o "síntese de m ú ltip la s determ inações"), onde se encontram em relação e hierar-
quizados os elem entos ou propriedades da coisa, sendo, então, não-comparával
com a pró pria coisa ou propriedades em piricam ente apreensíveis da mesma. S e ria
a b s u rd o c o m p a ra rm o s a c o is a o u a lg u m a s d e suas p ro p rie d a d e s p e rc e b id a s — lo
g o , sem a in te rv e n ç ã o d o p e n s a m e n to — c o m u m a c o n s tru ç ã o d o p e n s a m e n to !
Mas a relação existe, e se exp ressa n a c a p a c id a d e da c o n s tru ç ã o d o pe nsa
m e n to em seu m a is a lto n ív e l (sua d im e n sã o c o n c re ta ) de d e sve n d a r os m is té rio s
da a p a rê n c ia , d e s n u d á -la , e x p iic á -ia , e n fim : É a re d ifin iç ã o da percepção e da
intuiçã o, transm utando-se de conhecim ento p rim á rio e espontâneo em conhe
cim e n to te ó rico , que perm ite-nos a firm a r que o concreto e x p lic a a aparência e,
consequentem ente, está em relação/interação com esta.
A relação é tão clara que podemos apreciá-la pela simples "d u p lic a ç ã o "
do con ceito de concreto. Vejamos. E ntendido de uma fo rm a , o concreto seria
uma categoria teórica, do pensamento (c o n c re to pensado) e, de outra, com o a
coisa em si (con creto em si). Após esta duplicação, identificam os o c o n c re to em
s i com o que até agora chamamos de a p a rê n c ia , e o c o n c re to p e n sa d o com o que
sim plesm ente chamamos de concreto.
Esta duplicação conceituai fo i o procedim ento que M arx entendeu o mais
co rre to . Assim, em sua exposição d o "M é to d o da Econom ia P o lític a " 10 afirm a
(1 0 ) V e r : M A R X , K . e o u tr o s , O p . c it., p. 9 0 .
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que " O C oncreto é concreto porque é a unidade do diverso. Aparece no pensa
m ento com o processo de síntese, com o resultado, e não com o p o n to de partida
(ideníifica-se, aqui, com nosso uso de "c o n c re to " — M L M ), embora seja o ver
dadeiro p o n to de partida,e, p o rta n to , tam bém o p o n to de partida da intuição e
representação (o que chamamos de "a pa rên cia " - M L M )".
Logo a seguir, e ainda na m esm a página, con tin ua . o m éto do que con
siste em elevar-se do abstrato ao concreto é, para o pensam ento, apenas a m anei
ra de se a p rop ria r do concreto, de o re p ro d u zir na fo rm a de c o n c re to pensac/o
(visto sob esta ótica é uma categoria do pensamento - M L M , e os grifos são nos
sos); porém , não é este, de m odo algum , o processo de gêneses do c o n c re to em s i
{aqui entendido com o categoria não-teórica, ou e m p íric o —M L M , e os grifos são
nossos)".
For conseguinte, para M arx existe uma dupla noção de con creto : seja co m o
"síntese de m últiplas determ inações", seja com o " p o n to de partida da in tu içã o
ou representação". Na prim eira refere-se ao c o n c re to p e n sa d o , com o categoria
do pensam ento; identificando-se com a utiliza ção d o te rm o po r nós empregado.
No segundo, fala do concreto em si, identificando-se com o que consideramos
a áparência ou, co m o ele diz, " o p o n to de partida da intuiçã o e representação".71
Pode parecer, à prim eira vista, que forçam os a identificação de nosso conceito
de "aparência" com o de "c o n c re to em s i" de M arx. Na verdade, o "c o n c re to em
s i" m arxista é menos ric o que a "a p a rê n cia " com o nós entendemos, pois desen
volve apenas seu estatuto ob jetivo. Por o u tro lado, ainda em M arx, encontram os
um vazio te ó rico {que pretendemos em parte preencher) na relação c o n c re to /
aparência, ressaltado e e xp licita d o pela constante aproxim ação conceituai entre
essência e. abstrato.
Após toda esta explicitação conceituai, podemos reto rn ar à nossa questão
mais p ró xim a ; qual é a d ife re n ç a s u b s ta n c ia l entre o p rim e iro c o n ta to com a
realidade social e o resultado fin a l do esforço teórico?
o Se o neoclassicismo trabalha sob o signo da aparência, através da lógica
dó e m p írico , podemos dizer que só examinam um (e apenas um) nível da reali
dade. A única atividade "te ó ric a " que desenvolve é a de form ação de conceitos
através do processo de generalizaçao; sistematizando-os em seguida numa "o rg a
nização sequencial de generalidades" que visa fo rm a r a realidade fin a l da opera
ção.
Se toda apropriação do real só pode iniciar-se pela aparência das coisas,
é os neoclássicos apenas generalizam as características aparenciais, a realidade
a que chegam ou a "a p ro p ria ç ã o " que engendram, situa-se, necessariamente,
em nível id ê n tico ao do ín íc io .
Assim, e respondendo ao nosso p rim e iro questionam ento, podemos a fir
mar que não encontram os, nos neoclássicos, n e n h u m a d ife re n ç a s u b s ta n c ia i
entre os diversos pontos do tra je to do con he cim en to ; a realidade é, assim, ni-
veíada.1 2 ______
(1 1 ) D issem os antes, s o b re a a p arê n cia , q u e esta é o p o n to de p a r tid a d o q u e o p e s q u is a d o r
p e rc e b e e in tu i c o m re fe rê n c ia aos o b je to s de e stu d o .
(1 2 ) N ão d iz e m o s " u n i- d im e n s io n a líz a d a " s im p le s m e n te p o rq u e as d im e n sõ e s d iz e m re sp e i
to à construções da realidade hierarq uizadas p e lo pensam ento . Na fo r m u la ç ã o neo-
ciássica não e x is te h ie ra rq u ia s , mas c o m p o s iç õ e s e m u m m esm o grau ou n fve f d o p e n
samento.
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No â m b ito do M arxism o, po r o u tro lado, em bora a pesquisa tam bém tenha
a aparência com o p o n to de partida, o p o n to de chegada diferencia-se daquele
de duas maneiras: 1) p o r ser realidade do pensamento e 2) po r apresentar uma
explicação causai (hierarquizada) da aparência.
É p o r entender a dinâm ica social com o fo rm a única de existência da socie
dade e o papel dos conceitos com o propriedade do pensam ento re fle x iv a s do so-
cialísendo, pois, tam bém dinâm ico), que se im põe um processo de análise (abs
tração) para captar a essência dos fenôm enos e, só assim, compreendê-los.
Consequentem ente, o "c a m in h o " que vai da aparência para a essência
caracteriza a a p re e n sã o da vida dos conceitos; de sua gênese fenom ênica à sua
realidade essencial. A o co n trá rio , o "c a m in h o " da essência para a aparência
— que c o m p re e n d e (no sentido de ser mais abrangente) a passagem do abstrato
para o con creto — caracteriza a e x p o s iç ã o dos conceitos desde sua gênese ló g ic a ,
passando pela com plexidade teórica m áxim a, até a re c u p e ra ç ã o da aparência
pelo p e n s a m e n to :s u a e x p lic a ç ã o causai.
A riqueza do m étodo m arxista tam bém pode ser vista com o um processo
de criação e descoberta: verifica-se ati uma espécie de fe c u n d a ç ã o te ó ric a , que
extrapola o o b je to de estudo em sentido re strito , seja pelo processo de desco
berta da gênese das categorias, seja pela tendência evolutiva derivada.
No m o m e n to , consideramos que as diferenças substanciais que nos p ro
pom os dem onstrar estão suficientem ente esclarecidas. Vejamos, agora, mais de
perto, o que considera-se abstração, segundo o p o n to de vista das duas escolas
que nos im p o rta m .
II - O Q UE É A B S T R A Ç Ã O
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agregações de com plicadores, até alcançar-se "as coisas com o elas são". Um
exem plo clássico é o caso da c o n c o rrê n c ia p e rfe ita . Este tip o de concorrência
nunca existiu hlstoricam etne e, teoricam ente, só pode ser estudada se negarmos
algumas características do fun cio n a m e n to d o capitalism o, quais sejam: 1} desem
prego c rô n ic o ; 2) crises c íc lic a s ;3) desequilíbrios estruturais e 4) desinform ações
e desconhecim entos de qualquer espécie p o r parte dos atores sociais, entre o u
tras.
Em outras palavras, temos que n e g a r por um instante a existência da com
plexidade do real para poderm os estudá-io. A perfeição da concorrência im põe
um capitalism o sem desemprego crônico, o que nunca e x is tiu ; crises cíclicas, que
sempre estiveram presentes e e q u ilíb rio s que são autom aticam ente estabeleci
dos. Segundo R o w tho rn, "encara-se o desemprego, as crises, o desenvolvim ento
desigual e outros aspectos similares do sistema com o desvios do 'e q u ilíb rio ' (...)
e, para efeito de análise, restringe-se a sua existência à ocorrência de 'fricçõ es' ou
'im perfeições', com o, por exem plo, os m onopólios ou a inform ação im perfeita.
(...) Daqui até c o n clu ir que eles podem ser elim inados peta in tro d u ç ã o de m a io r
c o n c o rrê n c ia (g rifo —M L M ), m elh or inform ação ou o u tro rem endo destinado a
remover as im perfeições de um mecanismo essenciaimente p e rfe ito , vai um cu rto
pásso."14
No entanto, o que nos im po rta salientar é a c o n tra d iç ã o em te rm o s exis
tente entre a inform ação de modelos e a realidade, e não a validade das co n c lu
sões a que se chega p o r esta via. Não estamos aqui avaliando a concepção neo-
clássica da sociedade, no sentido desta ser certa ou errada. As valorações são dei
xadas de lado, sendo nossa o p in iã o , no caso, irrelevante.
Já para o m arxism o, a abstração se fa z sem esta contradição em term os,
não se apresentando, pois, este problem a m etodológico. Q uando aparentem ente
se sim plifica a realidade, de fa to está-se tratan do em se p a ra d o de um , de uma ou
algumas de suas características. Estas características (nas suas dimensões p ró
prias) em nenhum m om ento podem negar as características situadas em outras
dimensões; a validade de cada afirm ação, an alítica ou dedutivam ente forjada,
não pode invalidar afirmações já feitas ou a serem feitas.
V isto sobre o u tro prism a, o p ro c e s s o de a b s tra ç ã o m a rx is ta im p e d e q u e ,
im p lic ita m e n te , n o e s tu d o d e u m a e s p e c ífic a d im e n s ã o , to d a s as o u tra s n ã o sejam
s im u lta n e a m e n te co n sid e ra d a s.
Para m uitos estudiosos, quando M arx disserta sobre a circulação simples
de mercadorias, im plican do no processo "m ercadoria-dinheiro-m ercadoria (M-D
(líl-D -M ), localizar-se-fa historicam ente numa sociedade m ercantil d is tin ta do
capitalism o. Não é nenhuma novidade que os pro du tos do capital ao chegarem
no mercado n ã o se distinguem dos produtos do camponês ou d o artesão. Não
existe selo de propriedade ou etiqueta que distínga os tom ates produzidos sob
relações de produção distintas. Por isso, o tom ate se apresenta com o, e apenas
com o, uma m e rc a d o ria , e o p ro p rie tá rio desta com o v e n d e d o r. Por sua parte, o
d in h e iro tam bém não aparece de "c o le ira ", e o seu p ro p rie tá rio representa ape
nas o c o m p ra d o r.
É assim que, na circulação, não se pode d is tin g u ir o capítal-m ercadoria da
(1 4 ) R O W T H O R N , B. O p . c i t , p. 26.
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m ercadoria do componês, ou o cap itai-dinheiro do d in h e iro do assalariado, Esta
é um a dim ensão d o real, uma fo rm a de vida do capita: na troca, a relação que se
estabelece entre pro prietá rio s de mercadorias é a existente entre c o m p ra d o r e
vendedor, mesmo que, fora da circulação, noutra dimensão da realidade, estes
vendedores sejam, p o r exem plo, capitalistas e os com pradores, assalariados ou,
quem sabe, tam bém capitalistas.15
Consequente com este processo, não existem adições de características
para se chegar à níveis explicativos mais pró xim o s da realidade objetiva. O que
verifica-se é o relacionam ento estratificado e hierarquizado das dimensões: se é
verdade que a circulação do capital está mais p ró xim a da realidade objetiva do
capitalism o do que a circulação simples de mercadorias, is to se dá p o r aquela
e n g lo b a r esta. A circulação do capital é determ inada, lógica e teoricam ente,
pela circulação simples de mercadorias, fica nd o patente a estratificação e hierar
quização das dimensões.
V o lta n d o aos neoclássicos, vemos que, se a concorrência im perfeita está
mais p ró xim a da realidade objetiva do que a concorrência perfeita, isto se dá
porque adiciona-se a esta, por exem plo, um c o n ju n to de barreiras (tecnológicas,
ju ríd ic a s e financeiras) d ific u lta n d o a livre e pe rfeita m obilidade do capital.
Logo, fica evidente a adição ou superposição de características, com o tam bém a
con trad içã o em term os existentes entre uma circulação sem entraves que é,
ao m esm o te m p o , repleta de barreiras! Lem brem o-nos, p o r oposição, que a c irc u
lação do capital é, ao m esm o te m p o , circulação simples de mercadorias.
De um a maneira sintética, podemos dizer que os neoclássicos id e a liz a m a
realidade e depois, passo a passo, vâo com pô-la. F o rm a m a realidade a p a rtir
de um m odelo que não tem vida p ró p ria em separado, poís, da realidade, pouco
ou nada representa e, o que é mais grave m etodologicam ente, c o n tra p õ e -s e a
esta.
Os marxistas, p o r sua vez, não form am a realidade, eles dela se a p ro p ria m ,
m ostrando a vida in e re n te a cada uma de suas facetas ou dimensões, sem que as
conclusões a um níve l abstracional dado (dimensão) neguem16 as de outros.
i i l - D E R IV A Ç Õ E S E EXEM PLO S
Os n e o clá ssico s
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neoclássicos, se dá por a d iç ã o de características a um m odelo pré-determ ina
do e derivado da a m p u ta ç ã o de "elem entos com p lica do res", fica fá cil deduzir
que, para eles, 1) o elem ento determ ina a to ta lid a d e ; 2) o in d iv íd u o determ ina a
sociedade; 3 } os h o m e n s são todos iguais e 4) as instituições ou organismos so
ciais são supérfluos.
Ó E le m e n to d e te rm in a a to ta lid a d e
O in d iv íd u o d e te rm in a a so cie d a d e
Com base na exem piificação an terior, chamamos a atenção para o que deu
origem ao mercado. Em outras palavras, o mercado não é "e x p lic a d o " (pois é
apenas adição}, mas sim o in d ivíd u o -co n su m id o r. Assim , a ligação econôm ica
dá sociedade m ercantil, ou sua determ inação econôm ica, é forn ecida apenas pe-
íáS òáràcterfsticas do ind ivíd uo -e con ôm ico , este sim, estudado. Em term os lógi-
coS; então, o in d iv íd u o d e te rm in a a so cie d a d e .
Os H o m e n s são to d o s ig u a is
43
O s M a rx is ta s
D e te rm in a ç ã o d o e ie m e n to p e /a to ta ü d a d e
D e te rm in a ç ã o d o in d iv íd u o p e la so cie d a d e
A d e s ig u a ld a d e e n tre os h o m e n s
A re le v â n c ia das in s titu iç õ e s s o c ia is
44
C o m e n tá rio s
Devemos, mais um a vez, salientar que não nos interessa o discussão sobre o
valor in te rp re ta tivo das correntes de pensamento abordadas {se mais não fosse
pòrque o consideramos com o um problem a de opinião). Nosso o b je tiv o ê apre
sentar os dois métodos em suas discordâncias, assim com o d is c u tir a c o e rê n c ia
dá teoria e da prática forjadas sob especfficos pressupostos filo sófico s.
independentem ente do que pensamos sobre a teoria neociássíca, observa
mos uma pro fu n d a incoerência na prática p o lític a de seus adeptos quando, por
exem plo, se opôerrt à pressão salariai efetuada pelos sindicatos e à regulação eco
nômica pelo Estado. Segundo os pressupostos q u e norteiam sua teoria, os sin d i
catos e o Estado não poderiam te r mais poder d o que a soma das partes que os
com põem ; os sindicatos e m n a d a poderiam prejudicar o "e q u ilíb rio e co n ô m ico ".
Da mesma fo rm a deveria oco rre r em relação ao Estado.
De nada adianta dize r que as instituições causam apenas problemas te m
p o rá rio s ou sim plesm ente " fric c io n a is ” , pois segundo a determ inação da socie
dade pelos in d ivíd u o s {pressuposto am plo da teo ria neociássíca), estes são todos
iguais e não m antêm relacionam entos, in e xistin d o , então, influências recíprocas
e, consequentem ente, uma sociedade d ife re n te da soma dos in d ivíd u o s que a
com põe; p o rta n to , fazem-se in ó c u a s as organizações de q u a iq u e r espécie.
'• Da mesma fo rm a , verificam os um a incoerência en tre a afirm ação da igual
dade econôm ica de todos os homens e a propriedade p o r uns poucos dos meios
de firbdução. É vazio a firm a r, e sustentar teoricam ente, que os meios de produ-
çãó são a lu g a d o s , p o is , inevitavelm ente, surge a pergunta: alugados de quem ?17
:-;v & y c o m relação ao pensamento m arxista, não vemos incoerências p ro p ria
mente ditas, mas sim extrapolações indevidas. D a d a a com plexidade do m arxis
mo, várias leituras e interpretações são possíveis {o que não ocorre com o neo-
classiclsmo), sendo possível, tam bém , exageros e o m is s õ e s .
Sobre a teoria do valor, po r exem plo, vários autores sustentam que os pro-
diitõ s podem ser tr o c a d o s porque possuem "a lg o em c o m u m " (acreditam os ine
gável esta parte da explicação) e que esse "a lg o em c o m u m " só p o d e s e r o tra
balho hum ano; é aqui que começa o problem a. P o d e ria m o s dizer, com os neoclás-
sicòs, que o aigo em com um é a " u tilid a d e " e, n e s te c o n te x to , ninguém poderia
rios contradizer. A firm a r e "b a te r p é " sobre e ste p o n t o , é o que consideramos
um exagero.
Toda a argumentação sobre o tra b a lh o hum ano com o "ú n ic a id e n tific a
çã o " entre os produtos baseia-se nos p re s s u p o s to s d o m a rx is m o . U m deles
é a h is to r/c id a d e das fo rm a s d e p ro d u ç ã o e, consequentem ente, das ca ra cte rísti
cas dos p ro d u to s destas form as. A o aceitar-se que a u tilid a d e é a coisa em co
m um , está-se praticando um a teoria do " v a io r " a-histórica, já que a u tilid a d e se
manifesta em todos os p ro d u to s de todas as form as de produção conhecidas,
désdè as mais prim itiva s até hoje. Por isto, passa a ser um d a d o e desconsiderada
(na essência da teoria d o valor) co m o um o b je to de análise, to g o , s o m e n te a
c o e rê n c ia c o m u m p re s s u p o s to pode fu n d a m e n ta ra afirm ação d o trab alho hu
mano (abstrato) c o m o substância d o valor ou "co isa em c o m u m ".
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A inda sob o signo dos exageros, percebemos a im propríedade de vários
pesquisadores ao quererem im p o r a existência de "classes sociais" com o coisa
ó b v ia . Também aqui, esta existência tem a possibilidade de ser "ó b v ia " apenas
se partilharm os d o p re s s u p o s to da determ inação do in d iv íd u o pela sociedade
(com o vim os acima).
E ntre as "omissões mais generalizadas, vamos apenas enum erar algumas,
sem desenvolvê-las: 1) as transform ações p o r que passa o proletariado e a relação
destas com o papel revolucionário, 2) as especificidades do in d iv íd u o (de certa
fo rm a reclamamos o desenvolvim ento de um a psicologia m arxista) e 3} o papel
ativo do Hom em na transform ação social (a visão soviética do m arxism o pode
ser responsabilizada, em parte, po r este descaso. Não esqueçamos, porém , e
apesar do sovietism o, as grandes contribuições de Lenin e, principalm ente, de
Gramsci).
F IN A L IZ A Ç Ã O
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Para c o n c lu ir, deve-se observar que pa rtim o s do fu n c io n a lis m o neoclássí-
cò, expresso na lógica d o e m p íric o , e chegamos ao id e a lis m o , afirm ad o na con
cepção da história. Nas observações sobre o m arxism o, partim os da d ia lé tic a ,
expressa na contradição entre essência e aparência, e chegamos ao m a te ria lis m o ,
afirm ado pela prioridade do m eio sobre o in d iv íd u o .
T u d o nos leva a crer que a lógica interna de nossa exposição tenha aqui
süâ corroboração: o que não im plica num julgam ento de valor sobre a superio
ridade de uma teoria sobre a outra. Por o u tro lado, não nos pretendem os im pa r
ciais, pois a escolha d o o b je to de estudo e d o in stru m e n to a n a lític o u tiliz a d o
"c o n d u z e m " a pesquisa, tornando-a p o lític a .
C om o em todas as pesquisas, prin cip alm en te as de cunho social, esta ta m
bém ê m a te ria l d e re fle x ã o " te n d e n c io s o " , do in íc io ao fim .
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R A ÍZ E S N 9 2 - 3
J A N /D E Z
1983
R E V IS T A DE C IÊ N C IA S S O C IAIS E E C O N Ô M IC AS
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S U M A R IO
A R T IG O S