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DA PSICOLOGIA*.
UMA INVESTIGAÇÃO METODOLÓGICA
a o m e s m o te m p o u m n o v o c o n c e ito ; s e rá q u e a n te s n ã o se
d a v a o n o m e d e reflexo a u m m o v i m e n t o a p r e n d i d o , r e s u l
t a d o d o a d e s t r a m e n t o ? N ã o p o d i a s e r d e o u t r a f o r m a : se a
c iê n c ia s ó d e s c o b r is s e fa to s , s e m a m p lia r c o m is s o o s lim ite s
d o s c o n c e ito s , n a d a d e s c o b riria d e n o v o ; p e rm a n e c e ria
e s ta n c a d a , s e lim ita ria a e n c o n tr a r a c a d a v e z n o v o s e x e m
p l a r e s d o s m e s m o s c o n c e i t o s . T o d o n o v o g r ã o d e u m f a t o já
é u m a a m p lia ç ã o d o c o n c e ito . T o d a n o v a re la ç ã o d e s c o b e rta
e n tr e d o is fa to s e x ig e im e d ia ta m e n te a c rític a d o s d o is c o n
c e ito s c o r r e s p o n d e n te s e o e s ta b e le c im e n to d e n o v a s re la
ç õ e s e n tre e le s . O re fle x o c o n d ic io n a d o é a d e s c o b e r ta d e
u m n o v o fa to c o m a a ju d a d e u m v e lh o c o n c e ito . S o u b e m o s
q u e a s a tis fa ç ã o p s íq u ic a s u rg e d ire ta m e n te d o re fle x o , m e
lh o r d iz e n d o , q u e é o p r ó p r io re fle x o , m a s q u e a tu a e m
o u tra s c o n d iç õ e s . M as, a o m e s m o te m p o , ê a d e s c o b e rta d e
u rn n o v o c o n c e ito c o m a a ju d a d e u m a n tig o fa to : c o m a
a j u d a d o f a t o c o n h e c i d o d e t o d o s d e q u e ‘T ic o c o m á g u a n a
b o c a ' a o v e r a c o m id a ”, o b tiv e m o s u m c o n c e ito to ta lm e n te
n o v o d o re fle x o . N o s s a id é ia d e le s e m o d ific o u d ia m e tra l
m e n te ; a n te s , o r e fle x o e ra s in ô n im o d e u m fa to p r é - p s íq u i-
c o , i n c o n s c i e n t e , invariável. A g o r a n o s r e f l e x o s s e a g r u p a
to d a a p s iq u e , o re fle x o d e m o n s tr o u s e r o m e c a n is m o m a is
fle x ív e l e tc . C o m o is to te ria s id o p o s s ív e l s e P á v lo v tiv e s s e
e s tu d a d o s o m e n te o fa to d a s a liv a ç ã o e n ã o o c o n c e ito d e
re fle x o ? E m e s s ê n c ia ê a m e s m a c o is a , m a s e x p r e s s o d e d u a s
f o r m a s d i s t i n t a s , já q u e e m t o d a d e s c o b e r t a c i e n t í f i c a o
c o n h e c im e n to d o fa to é , n a m e s m a m é d ia , o c o n h e c im e n to
d o c o n c e ito . A a n á lis e c ie n tífic a d o s fa to s s e d ife re n c ia p r e
c is a m e n te d o re g is tr o d o s m e s m o s p o r q u e im p lic a a a c u m u
l a ç ã o d e c o n c e i t o s , i m p l i c a a inter-relaçâo d e c o n c e i t o s e
fa to s , r e s s a lta n d o o s p r im e ir o s .
F in a lm e n te , ê n a s c iê n c ia s p a rtic u la re s q u e n a s c e m to
d o s o s c o n c e ito s q u e a c iê n c ia g e ra l e s tu d a . P o rq u e n ã o é
n a ló g ic a q u e n a s c e m a s c iê n c ia s n a tu r a is , n ã o é e la q u e
lh e s fo rn e c e c o n c e ito s p r e p a r a d o s d e a n te m ã o . C o m o se
a in d a q u e isto ex ija p e n e tr a r n o c a m in h o d a s h i p ó t e s e s
am plas. Dalíé assinala q u e as estruturas ou hipóteses p sico
lógicas s ã o a p e n as um pro lo n g am en to m ental de fenôm enos
hom ogêneos d en tro de um m esm o sistem a in d e p e n d e n te da
realidade. As tarefas da psicologia e suas exigências teórico-
cognitivas lhe p rescrevem lutar, com a ajuda do in conscien
te, contra as tentativas u su rp ad o ras da fisiología. A vida psí
q u ica tra n sc o rre com in te rv alo s, e stá c h eia de lacu n as, O
q u e ocorre com a consciência d u ran te o sono, com as lem
branças q u e n ão reco n h ecem o s aqui e agora? Se q u erem o s
explicar o psíquico a partir do psíquico sem recorrer a outro
âm bito d e fenôm enos, sem nos trasladarm os para a fisiolo
gía, se q u e re m o s p re e n c h e r os in te rv a lo s , as la c u n a s, as
om issões na vida da psique, tem os de su p o r q u e esses fen ô
m enos c o n tin u a m e x istin d o de um a form a esp ecial: com o
algo q u e é, ao m esm o tem po, inconsciente e psíquico. Essa
in te rp re ta ç ã o d o in c o n sc ie n te co m o c o n je tu ra n e c essá ria ,
com o co n tinuação e co m plem ento h ipotético da experiência
psíquica, tam bém é desenvolvida p o r W. Stern (1924).
E. Dalié distingue dois asp ecto s no problem a: o real e o
hip o tético ou m etodológico. Este ú ltim o d eterm ina o valor
cognitivo ou m etodológico q u e tem para a psicología a cate
goria d o inconsciente. A tarefa consiste em esclarecer o sig
nificado e o âm bito de fenôm enos q u e esse conceito e n c e r
ra p ara a p s ic o lo g ia com o ciência explicativa, No cam inho
de Jerusalém , o autor pensa q u e se trata antes de m ais nada
de um a categoria ou d e um p ro c e s s o d e p en sam en to d e que
não se p o d e p re s c in d ir para explicar a vida espiritual, e faz
referên cia a um â m b ito e sp e c ia l d e fe n ô m e n o s . D alié diz
com razão q u e o inconsciente é um conceito criado a partir
d e d a d o s in d u h itã v e is d a e x p e riê n c ia p s íq u ic a , d e um a
experiência q u e exige necessariam ente ser com pletada com
a h ipótese d o inconsciente. Disto decorre a natureza m uito
com plexa de to d as as teses q u e operam com esse conceito:
em cada tese é preciso distinguir o q u e p ro ced e dos dados
da ex p eriên cia psíq u ica irrefutável e o q u e p ro v ém da n e
c e ssid a d e h ip o té tic a , e q u a l é o grau de a u te n tic id a d e de
um a e outra. N os tra b a lh o s críticos q u e ex am in am o s acim a
272 T E O R IA E M É T O D O EM P S IC O L O G IA
olho não veja tudo aquilo que segundo a óptica poderia ser
visto. Há algo como um funil que se estreita e que leva das
reações inferiores às superiores.
Seria errôneo pensar que não vemos aquilo que é biolo
gicamente inútil para nós. Seria inútil para nós ver os micró
bios? Os órgãos dos sentidos apresentam claramente marcas
de que são, antes de mais nada, órgãos de seleção. O pala
dar é evidentemente um órgão seletor da digestão. O olfato,
uma parte do processo respiratório: são como pontos alfan
degários de fronteira que servem para comprovar as excita
ções procedentes do exterior. Cada órgão toma o m undo
cum grano salís, como o coeficiente de especificação a que
se referia Hegel, e como um “índice de relação”, assim como
a qualidade de um objeto determina a intensidade e o cará
ter da influência qualitativa de outra qualidade. Por isto exis
te uma completa analogia entre a seleção do olho e a poste
rior seleção do instrumento: ambos são órgãos de seleção (o
que fazemos no experimento). De forma que a própria natu
reza psíquica do conhecimento constitui a raiz dessa neces
sidade, que o conhecimento científico tem, de se libertar da
percepção direta.
Por isso, a evidência direta apresenta uma identidade
fundamental com a analogia utilizada como critério de ver
dade científica: ambas devem submeter-se a uma análise crí
tica; ambas podem tanto enganar quanto dizer a verdade. A
evidência da rotação do Sol em torno da Terra nos engana, a
analogia em que se baseia a análise espectral conduz à ver
dade. É essa a razão pela qual alguns propõem a legitimida
de da analogia como método básico da psicologia animal. A
analogia é com pletam ente admissível som ente quando se
especificam aquelas condições que a tornam exata; o que
aconteceu até agora é que a analogia nada mais fez do que
proporcionar histórias e curiosidades, porque se recorria a
ela onde não era adequada pela própria essência dos fatos.
Mas a analogia pode proporcionar resultados tão úteis quan
to os da análise espectral. Por isso, a situação em física e em
psicologia é essencialmente a mesma; m etodológicamente,
só se diferenciam em grau.
286 TEORIA E MÉTODO EM PSICOLOGIA
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