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Além disso, várias conferências nacionais de saúde recomendaram a instituição dessa política.
A 8ª Conferência Nacional de Saúde, que antecedeu a criação do SUS, é considerada um marco,
visto que no seu relatório final propôs a introdução de práticas alternativas no âmbito dos
serviços de saúde, de tal maneira que o usuário tivesse a possibilidade de escolher a terapêutica
preferida. (Portaria n.º 971, 2006).
Em 2003, representantes de diversas associações nacionais de Fitoterapia, Homeopatia,
Acupuntura e Medicina Antroposófica formaram grupos de trabalho, coordenados pelo
Departamento de Atenção Básica, da Secretaria de Atenção à Saúde, para discutir e
implementar ações, com o objetivo de elaborar uma política nacional. (Brasil, 2006).
2. Metodologia
Este é um estudo descritivo, exploratório, da oferta de disciplinas, cursos, e
outras experiências acadêmicas, em Práticas Integrativas e Complementares, nível de
graduação e pós-graduação, em 5 subáreas da saúde: Enfermagem, Farmácia,
Fisioterapia, Nutrição e Psicologia; presentes em 03 Instituições de Ensino Superior no
Estado do Espírito Santo: uma Universidade (3 campus), um Centro Universitário e uma
Faculdade.
A escolha dessas instituições se deveu ao fato de serem aquelas que
disponibilizavam os projetos políticos pedagógicos, nas páginas institucionais. Os
cursos escolhidos foram aqueles comuns entre o Centro Universitário e a Universidade,
visto que somente nessas instituições se encontraram elementos formativos das Práticas
Integrativas e Complementares.
A coleta de dados aconteceu entre maio e junho de 2020, por meio do acesso
aos sites dessas instituições.
Os dados foram classificados segundo as variáveis: Instituição de Ensino
Superior e nível do ensino: graduação e pós-graduação; formato: obrigatório ou
optativo; subáreas da saúde; e Práticas Integrativas Complementares.
3. Resultados
A distribuição da oferta do ensino, pesquisa, extensão e outras atividades
acadêmicas, em Práticas Integrativas Complementares, entre as Instituições de Ensino
Superior, apontou que o Centro Universitário ofertou 11 disciplinas, 1 estágio, 1 projeto
de extensão, 2 eventos acadêmicos e 1 curso de pós-graduação.
A Universidade, por sua vez, ofertou 9 disciplinas, 3 projetos de pesquisa, 3
projetos de extensão, 1 evento acadêmico e 1 blog, produzido por um grupo de pesquisa
em PICs. Houve também a oferta de uma disciplina em um Curso de Mestrado.
Do formato das disciplinas ofertadas na graduação, no Centro Universitário,
identificou-se que 7 eram obrigatórias e 4 optativas; enquanto na Universidade, 7 eram
obrigatórias e 2 optativas.
Salienta-se que a disciplina ofertada no Curso de Mestrado e as disciplinas da
Pós Graduação lato sensu não foram selecionadas para análise.
Das subáreas da saúde, presentes nas Instituições de Ensino Superior estudadas,
a oferta de experiências acadêmicas, relativas às práticas integrativas complementares,
foi liderada pela farmácia (14), seguida da enfermagem (7), fisioterapia (5), psicologia
(4), e nutrição (3).
Das Práticas Integrativas Complementares, nas instituições de ensino superior, o
destaque ficou para a Fitoterapia, presente em 11 situações de ensino/aprendizagem
identificadas, seguida da Homeopatia (8), práticas integrativas sem especificação (7),
Medicina Chinesa (5), Arteterapia (2) e Bionergética (2).
Discussão
Os resultados indicaram que no Centro Universitário e Universidade foram
ofertadas experiências de formação em Práticas Integrativas Complementares, conforme
a característica de cada Instituição de Ensino Superior, a saber: no Centro Universitário,
ensino, estágio, extensão e pós-graduação latu sensu; e na Universidade, ensino,
pesquisa, extensão e Mestrado.
Em se tratando do estado do Espírito Santo, uma questão que se coloca é: se essa
formação é quantitativamente adequada para atender a demanda do serviço em saúde
pública, visto que 40 municípios ofertam práticas integrativas na Atenção Básica, aos
usuários do Sistema Único de Saúde. (Brasil, 2018).
Sobre essa questão, conforme Nascimento, Romano, Chazan e Quaresma (2018),
não há uma correlação linear entre a demanda de atendimento em PICs e a oferta de
ensino. Mesmo havendo pontos de contato e influência entre essas, as mesmas são
regidas por lógicas diferentes.
No Brasil, de maneira geral, a formação em PICs ainda é insuficiente. (Tesser,
Sousa e Nascimento, 2018). Segundo esses autores ela se concentra no ensino privado,
principalmente em cursos latu sensu. Observa-se, porém, que nas universidades
públicas há uma inserção gradual do ensino de PICs nos cursos de graduação da área da
saúde.
Os resultados desta pesquisa, de certo modo, contrariam essa caracterização
nacional, já que as duas instituições: privada e pública, ofertaram a formação na pós-
graduação, e mais enfaticamente na graduação.
Nascimento, Romano, Chazan e Quaresma (2018) apontam ainda que a
formação de recursos humanos para o exercício das PICs se mostra limitada não
somente em relação à oferta, mas também na qualidade.
Daí que outra pergunta se coloca: se, qualitativamente, a formação evidenciada
nos dados dessa pesquisa atende as necessidades da Atenção Primária, do Sistema
Único de Saúde, uma vez que, de modo geral, ela pode se constituir, como assinala
Tesser, Sousa e Nascimento (2018), em uma reprodução de um modelo de formação
adequado à prática da saúde privada.
Em relação a essa questão, Azevedo, Pelicioni e Focesi (2011) advertem que a
formação nessa área não passa somente pela criação de cursos mas, necessariamente,
pelo diálogo das práticas com os princípios da saúde coletiva e promoção da saúde.
Assim, sugerem que todos os cursos da área da saúde que se dispuserem à formação em
PICs, devem fazê-lo sem deixar de inserir conteúdos relativos ao SUS e saúde coletiva,
de tal modo que se possa fortalecer a Política Nacional de Práticas Integrativas
Complementares.
Se não houver essa aproximação, os autores alertam para o risco de que essas
práticas venham a ter o mesmo formato intervencionista e curativo da medicina
biologicista, sendo esvaziadas de seus objetivos relativos ao autocuidado e autonomia,
em uma perspectiva humanizada e integrativa.
A seguir, sobre o formato das disciplinas ofertadas, pontua-se que no Brasil, de
maneira geral, o ensino das Práticas Integrativas Complementares acontece como se
fosse um anexo do conhecimento em saúde (Nascimento, Romano, Chazan e Quaresma,
2018); o que transparece no fato das disciplinas serem predominantemente ofertadas
como optativas e em caráter informativo. (Tesser, Sousa e Nascimento, 2018).
Segundo esses autores, as disciplinas optativas sobre PICs estão presentes em
várias universidades brasileiras, mas não se percebem avanços para sua incorporação
nos currículos formais.
Essa caracterização nacional não se presentificou nos dados desta pesquisa, visto
que a maioria das disciplinas do Centro Universitário e Universidade eram obrigatórias,
em detrimento das optativas.
A predominância das disciplinas optativas, na oferta do ensino em PICs, é uma
tendência também no exterior (Nascimento, Romano, Chazan e Quaresma, 2018). Isso
permite identificar aspectos mais informativos do que formativos, o que indica
necessidade de reformulação; já esboçada nos dados dessa pesquisa, pelo fato da oferta
predominante das disciplinas serem em formato obrigatório, o que colabora para
responder a demanda pelo cuidado da saúde, com segurança e eficácia.
Em relação à distribuição das disciplinas, em Práticas Integrativas
Complementares, essa se presentificou em todas as subáreas da saúde, principalmente
na farmácia, seguida da enfermagem, fisioterapia, psicologia e nutrição.
Como já descrito, a farmácia é o único curso, dentre esses, que em suas
diretrizes curriculares (2017) fazem menção às práticas integrativas complementares.
Entretanto, no nosso entender, o fato que explica essa liderança é histórico, visto que a
fitoterapia e homeopatia fazem parte do arsenal básico dessa área. As plantas medicinais
fornecem matéria prima para a produção de medicamentos, de forma sintética,
industrializada, ou artesanal, em forma de chás. Em relação à homeopatia, conforme
Correa e Quintas (1997), é importante frisar que já em 1966 a inclusão da
Farmacotécnica Homeopática foi decretada como obrigatória, em todas as faculdades de
Farmácia do Brasil.
A enfermagem, por sua vez, desde 1997, ou seja, quase uma década antes da
implementação da Política Nacional de Práticas Integrativas (2006), estabeleceu e
reconheceu essas práticas, denominadas até então de terapias alternativas, como
especialidade e/ou qualificação do profissional da enfermagem.
Segundo Azevedo et al (2019) o destaque dos enfermeiros na implementação das
PICs se relaciona com os princípios de formação que estão alinhados aos paradigmas da
enfermagem e com o respaldo legal que tem para atuarem nos serviços públicos e
privados de saúde, por meio das Práticas.
A seguir, a fisioterapia, como já descrito, teve várias práticas aprovadas para o
exercício profissional (COFFITO, 2010), com inclusão em 2017, até da prescrição de
medicamentos (Vieira et al, 2017). Mas, em relação aos dados desta pesquisa, observou-
se que, basicamente, os princípios mais recorrentes foram os da medicina chinesa.
Depois, o curso de Psicologia compareceu a partir de abordagens corporais e arteterapia.
Ressalta-se que a formação em Psicologia dialoga terapeuticamente com várias das práticas
integrativas complementares; entretanto o Conselho Federal publicou resoluções somente sobre
a acupuntura e hipnose, sendo que dessas permanece válida apenas a última, como atribuição do
psicólogo.
Finalmente, o curso de Nutrição foi representado exclusivamente pela fitoterapia.
Provavelmente, isso se deve à Resolução do Conselho Federal de Nutrição (2013) que
regulamentou a prática da fitoterapia como uma das competências do nutricionista,
especialmente em nível de pós-graduação, recomendando também que os cursos de graduação
contemplem na matriz curricular conteúdos para formação em prescrição de plantas medicinais.
Percebeu-se, no entanto, a ausência de outras racionalidades como a medicina chinesa,
antroposófica e ayurveda que contribuem com modelos alimentares, dietéticos, para o campo da
nutrição, mas que carecem ainda de reconhecimento institucional e social, conforme apontado
por Navolar et al (2012), para se tornarem referências no trabalho do nutricionista.
Das Práticas Integrativas Complementares, nas instituições de ensino superior, o
destaque ficou para a Fitoterapia, seguida da Homeopatia, práticas integrativas sem
especificação, Medicina Chinesa, Arteterapia e Bionergética.
Essa resultado contempla a realidade de Vitória, capital do Espírito Santo, que
institucionalizou a Política das Práticas Integrativas, privilegiando o exercício da
fitoterapia, homeopatia e acupuntura (Azevedo & Pelicioni, 2011), ofertando essas
práticas em todas as unidades de saúde, com mais da metade dos profissionais atuando
em fitoterapia, por meio de um programa de referência nacional. (Observapics, 2019).
A arteterapia e bioenergética igualmente fazem parte dos serviços de saúde da
capital. A partir do ano de 2009 a arteterapia começou a ser ofertada por profissionais
graduados e concursados e foi inserida em Centros de Atenção Psicossocial
(Sacramento, 2017), onde acontecem também experiências de trabalho com a análise
bioenergética.
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