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ATENÇÃO AO PACIENTE DE

MEDICINA TRADICIONAL CHINESA


UNIDADE II
AS DIFERENTES MEDICINAS
Elaboração
André Teves Aquino Gonçalves de Freitas

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE II
AS DIFERENTES MEDICINAS.............................................................................................................................................................. 5

CAPÍTULO 1
MEDICINA ORIENTAL X MEDICINA OCIDENTAL................................................................................................................ 5

CAPÍTULO 2
A BUSCA PELAS PICS.................................................................................................................................................................... 7

CAPÍTULO 3
O PERFIL DO PACIENTE............................................................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 4
EXPLICANDO O TRATAMENTO.............................................................................................................................................. 11

REFERÊNCIAS................................................................................................................................................13
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AS DIFERENTES MEDICINAS UNIDADE II

Capítulo 1
MEDICINA ORIENTAL X MEDICINA OCIDENTAL

1.1. As bases
Como esperado, as grandes diferenças entre a medicina oriental e a ocidental vêm de
muito longe. Afinal, não estamos falando apenas de técnicas diferentes e outras sutilezas,
mas de grandes sistemas, com uma complexidade enorme.

Por esse motivo, é necessário entendermos os alicerces desses complexos, as grandes


bases que sustentam cada um desses sistemas. Ao que estamos mais familiarizados da
medicina ocidental, enfatizamos as bases biológicas: anatomia, fisiologia, bioquímica
e mais recentemente a genética. Do outro lado, a medicina oriental vem com uma base
muito forte nas ciências humanas: filosofia.

1.2. A visão do ser humano


Por consequência das diferentes bases, a visão do ser humano é muito diferente. A
característica holística da medicina oriental faz com que o ser humano seja visto em
sua totalidade, como a união de corpo, mente e espírito, considerando ainda as suas
relações com o ambiente em que vive. Atualmente, a medicina ocidental vem buscando
o resgate dessa visão, num processo chamado de humanização da medicina.

1.3. Somos parte do todo


Como diz a filosofia taoísta, base de toda a Medicina Tradicional Chinesa, o indivíduo
e a sociedade são parte de um grande cosmos, dado que a saúde do todo reflete a saúde
individual e vice-versa. Da mesma maneira se comportam os quadros patológicos. A
literatura antiga da Medicina Tradicional Chinesa não estabelece uma divisão entre o que
chamamos de normal, saudável, e de patológico, como faz a medicina ocidental. De acordo

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com a visão chinesa, os dois estados são naturais e fluidos, resultantes de um contínuo
processo de mudanças e ambientação, constantes adaptações ao clima e à sociedade,
bem como as adaptações internas em cada fase da vida. Sendo o indivíduo composto
pelo conjunto de energias celestes e terrestres, buscar a adaptação é fundamental a todo
momento. Nossas doenças são reflexos dos processos vitais; são formas de o nosso corpo
expressar seu interior e nos permitir adequação.

1.4. O entendimento do autocuidado


Com essa visão do pertencimento ao todo e de que nossas patologias são sinais do
nosso organismo, ninguém é mais importante que nós em nossos processos de cura.
Esse entendimento de protagonismo é fundamental e deve ser explicado ao paciente
para que ele entenda que sua participação é parte do processo. Em alguns aspectos,
o entendimento é mais fácil, como a compreensão de que, se estamos gripados, não
devemos nos expor ao frio. Em outros casos, principalmente de origem emocional, a
participação ativa do paciente em alterar seus padrões e suas relações pode demandar
mais tempo e perseverança. Os chineses têm uma visão muito clara do autocuidado e
da culpa quando ficam doentes, cultura muito diferente da nossa. Estamos habituados
à passividade, a encarar a doença sempre como acaso e fatalidade, sem entender que,
se estamos doentes, geralmente somos culpados por isso e cabe a nós a resolução.

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Capítulo 2
A BUSCA PELAS PICS

2.1. A OMS e as PICs

Figura 4. Logo da Organização Mundial da Saúde.

Fonte: https://www.infoescola.com/saude/organizacao-mundial-de-saude-oms/. Acesso em: 04 dez. 2019.

Desde 1970, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a recomendar a acupuntura,


bem como outras técnicas da Medicina Tradicional Chinesa, aos seus Estados-Membros.
Como meio de informação e divulgação, eles produziram diversas publicações atestando
a eficácia e a segurança das técnicas, estimulando a capacitação de novos profissionais.
Além disso, para acabar com a ideia de placebo e provar seus efeitos, desenvolveu
métodos de pesquisa para melhor avaliação dos resultados terapêuticos, obtidos a partir
da medicina chinesa e de práticas complementares e tradicionais, com o objetivo de
trazê-las para todos os sistemas de saúde e incorporá-las ao cotidiano dos atendimentos.

2.2. O SUS
No SUS também tivemos, seguindo as recomendações da OMS, a implementação da
Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC). De acordo com o
Glossário Temático de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde do Ministério
da Saúde (2018, p. 9):

As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), denominadas


pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como medicinas tradicionais
e complementares, foram institucionalizadas no Sistema Único de
Saúde (SUS) por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares no SUS (PNPIC), aprovada pela Portaria GM/MS nº 971,
de 3 de maio de 2006. A PNPIC contempla diretrizes e responsabilidades
institucionais para oferta de serviços e produtos de homeopatia, medicina
tradicional chinesa/acupuntura, plantas medicinais e fitoterapia, além

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de constituir observatórios de medicina antroposófica e termalismo


social/crenoterapia. Em março de 2017, a PNPIC foi ampliada em 14
outras práticas a partir da publicação da Portaria GM/MS nº 849/2017,
a saber: arteterapia, ayurveda, biodança, dança circular, meditação,
musicoterapia, naturopatia, osteopatia, quiropraxia, reflexoterapia, reiki,
shantala, terapia comunitária integrativa e yoga, totalizando 19 práticas
desde março de 2017. Essas práticas ampliam as abordagens de cuidado
e as possibilidades terapêuticas para os usuários, garantindo uma maior
integralidade e resolutividade da atenção à saúde. A PNPIC inseriu o
Brasil na vanguarda das práticas integrativas em sistemas universais de
saúde. As experiências brasileiras são citadas em relatórios da OMS que,
conforme mencionado anteriormente, desde 1970 incentiva os países
membros a implementarem políticas na área das medicinas tradicionais
e complementares (MTC). A PNPIC responde ao desejo da população,
manifesto nas recomendações e diversas Conferências Nacionais de
Saúde, desde 1986, e, igualmente, vem cumprir os objetivos primordiais
da OMS e das Conferências Mundiais voltados para medicina tradicional e
complementar, quais sejam: a) promover a integração dessas práticas aos
sistemas oficiais de saúde; b) desenvolver legislação/normatização para
oferta de serviços e produtos de qualidade; c) propiciar o desenvolvimento
dos conhecimentos na área; d) qualificar os profissionais envolvidos com
práticas complementares. Além disso, a Política trouxe avanços para a
saúde no País, por meio da normatização e da institucionalização das
experiências com essas práticas na rede pública e como indutora de
políticas, programas e legislação nas três instâncias de governo – fato
que pode ser observado pelo aumento significativo de ações, programas
e políticas nos estados e nos municípios brasileiros após sua aprovação.

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Capítulo 3
O PERFIL DO PACIENTE

3.1. A nova consciência


É nítido o crescimento do movimento de consciência de saúde na nossa sociedade.
Após o grande avanço dos medicamentos e crescimento da indústria farmacêutica, que
permitiu o acesso fácil e exagerado aos medicamentos, as pessoas começam a perceber
que estão se intoxicando cada vez mais, criando resistência aos fármacos e sofrendo
com seus efeitos adversos.

Somado a isso, os avanços nos estudos sobre alimentação e bem-estar emocional


despertaram o interesse e alarmaram grande parte da população. A vida urbana, acelerada,
estressante, industrializada, antes tão admirada e desejada, passa a ser uma grande fonte
de doenças. Os impactos da alimentação inadequada, da falta de tempo, de exercício
físico, de diversão e de paz se refletem na saúde, na estética, no humor, no desempenho
no trabalho e nas relações humanas.

O desgaste está tornando a população cada dia mais consciente, mais carente de atenção,
de cuidados e do que é natural. Dessa nova consciência, que busca nas raízes o resgate
da saúde e do equilíbrio, cresce a busca pelas medicinas orientais e suas práticas.

3.2. O paciente consciente


O paciente consciente é aquele que chega até a Medicina Tradiconal Chinesa pela
consciência de um novo tratamento, por compreender que uma nova abordagem,
holística, natural, é importante nesse momento da sua vida. Nem sempre esse paciente
conhece a MTC e suas técnicas a fundo, mas certamente tem interesse, já ouviu falar,
às vezes até pesquisou um pouco sobre o assunto.

Esse perfil costuma ser mais aberto ao tratamento, disposto a fazer as mudanças
necessárias em sua rotina, aprender mais sobre a filosofia chinesa e como o ambiente
e as emoções podem afetar.

3.3. O paciente “sem opção”


Esse segundo perfil corresponde aos pacientes que chegam por indicação médica ou
depois de passarem anos tentando se curar por meios convencionais ocidentais e, depois
de suscessivas falhas, recorrerm à Medicina Tradiconal Chinesa.

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Nem sempre esses pacientes estão dispostos ao tratamento colaborativo, a todas as


técnicas ou mesmo a entender a Medicina Chinesa. Buscam apenas o alívio da sua
queixa, de forma passiva.

Vale ressaltar que esses aspectos não são verdades absolutas, apenas nos auxiliam na
preparação de como lidar com um possível perfil de paciente. Muitas vezes, pacientes
encaminhados acabam se interessando muito pela Medicina Chinesa, encantam-se com
o universo do autocuidado e participam ativamente de todo o tratamento.

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Capítulo 4
EXPLICANDO O TRATAMENTO

4.1. Quantidade de sessões


Uma das perguntas mais comuns na clínica é: quantas sessões eu preciso fazer? Os
pacientes, em sua maioria, estão habituados à formula de tratamento ocidental, às
medicações (“tome um comprimido a cada 12 horas, por 7 dias”) e prazos.

Por esse motivo, um dos primeiros passos é fazê-lo compreender que a Medicina
Tradicional Chinesa não é uma ciência exata. Não existem protocolos, e a evolução é
extremamente individual, dependendo da forma como o paciente responde à sessão,
da adequação às melhores técnicas e de como os fatores patogênicos seguem presentes
na vida dele.

Essa compreensão faz com que o paciente saiba, desde o princípio, da importância da
sua participação no processo e também da observação da evolução de todos os sintomas,
sendo fundamental que converse com seu terapeuta para que juntos compreendam os
caminhos a seguir em cada sessão.

Infelizmente, é comum encontrarmos propagandas de profissionais de Medicina


Tradicional Chinesa oferecendo pacotes de tratamentos com prazos (ex.: pacote de 10
sessões para curar lombalgia). Isso é uma forma de enganar o paciente, vendendo um
serviço que não se pode garantir, portanto não deve ser praticado.

4.2. Como se dá o tratamento?


O paciente precisa saber, desde o início, como é um tratamento com a Medicina Tradicional
Chinesa. É importante explicar que se trata de um sistema de tratamento completamente
individualizado, de forma que a resposta ao tratamento depende de seu organismo e de
seus hábitos. Devemos deixar clara também a nossa oferta de técnicas possíveis, dentro
de nossos conhecimentos.

Uma questão muito importante é avisar ao paciente que os sintomas podem piorar
após as primeiras 48 horas. Principalmente em patologias crônicas, em que o fator
patogênico se encontra em camadas profundas do organismo, o processo de cura demanda
superficialização, para que o fator seja expulso do corpo. Essa superficialização torna
os fatores mais perceptíveis e nosso corpo mais responsivo, aumentando os sintomas.

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Reações comuns nas primeiras sessões são o aumento de dores, o cansaço, vômitos
(comuns em pacientes com enxaquecas) e coceiras. Além disso, alguns pontos punturados
com agulhas podem ficar doloridos e avermelhados.

Toda reação relatada por um paciente deve receber atenção. Para isso, é importante
que o paciente saiba que pode contatar você sempre que achar necessário. Reações
mais graves, como sangramentos e falta de ar, devem ser avaliadas imediatamente.
Geralmente ocorrem por erros graves de punção que, em casos extremos, podem causar
pneumotórax, por exemplo.

Muitas pessoas dizem que a Medicina Chinesa é supersegura, e de fato é, quando


exercida por um bom profissional. Principalmente nas técnicas invasivas de acupuntura,
mas também nos procedimentos que envolvem fogo, calor, eletricidade, uma falha do
terapeuta pode prejudicar muito a saúde do paciente.

É muito importante que tenhamos segurança em tudo o que estamos fazendo. Para
isso, estudo é fundamental, treinamento para dominar as técnicas e executá-las com
perfeição, sempre com humildade para reconhecer nossos limites e muita atenção a
cada paciente que nos procura.

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REFERÊNCIAS

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