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SUMÁRIO
UNIDADE III
OBSERVANDO O PACIENTE............................................................................................................................................................... 5
CAPÍTULO 1
A FISIOGNOMONIA....................................................................................................................................................................... 5
CAPÍTULO 2
A FISIOGNOMONIA APLICADA À MTC.................................................................................................................................. 7
CAPÍTULO 3
O DIAGNÓSTICO POR OBSERVAÇÃO.................................................................................................................................. 11
CAPÍTULO 4
O INTERROGATÓRIO.................................................................................................................................................................. 15
REFERÊNCIAS................................................................................................................................................18
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OBSERVANDO O PACIENTE UNIDADE III
Capítulo 1
A FISIOGNOMONIA
A partir dos anos 60, muitas pesquisas surgiram na àrea, mostrando, por exemplo, em
um trabalho de Ray Birdwhistell, que nossas expressões, denominadas como componente
não verbal, correspondem a mais de 65% das nossas percepções em uma relação direta
com outra pessoa, enquando o componenete verbal fica limitado a 35%.
Outra pesquisa, de Martinez (1999) mostrou a importância das nossas expressões por
meio da correlação entre a fala e a musculatura, afirmando que, a cada sílaba, movemos
cerca de 72 músculos do nosso corpo. Além disso, o pesquisador mostrou que expressões
caracterizadas puramente por contrações musculares têm forte poder de contágio: o riso
contagia 50% das pessoas ao redor, enquanto o bocejo, 90%. Esses dados mostram o
quanto nossas expressões são facilmente compreendidas, assimiladas e geram respostas
das pessoas com quem socializamos.
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UNIDADE III | Observando o paciente
Existem algumas adaptações modernas devido às variáveis que surgiram com o avanço
da humanidade, como a expectativa de vida e a implementação aos diferentes sexos e
etnias, já que a técnica foi desenvolvida especificamente para os homens asiáticos. Por
esse motivo, quando consultamos a literatura clássica, devemos compreender que são
necessárias adequações de acordo com o indivíduo avaliado, seu sexo, cor de pele e idade.
» parte superior (da linha do cabelo até as sobrancelhas): chamada de céu, corresponde
aos eventos da nossa formação pessoal e profissional, de todo o nosso desenvolvimento
e capacidade intectual e de raciocínio, tendo também correlação com a fertilidade.
Corresponde à nossa vida até uns 35 anos de idade;
» parte média (das sobrancelhas até a base do nariz): corresponde à nossa fase
adulta, mais estável nos relacionamentos e no trabalho, aproximadamente entre
os 35 e os 60 anos;
» parte inferior (da base do nariz ao queixo): parte relacionada aos eventos da nossa
velhice, refletindo o que vivemos a partir dos 60 anos.
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Capítulo 2
A FISIOGNOMONIA APLICADA À MTC
Já na região inferior medial dos olhos, temos a correspodência do fígado, muito associado à
presença de olheiras. O fígado também reflete na região da testa, na linha das sobrancelhas,
de forma que a raiva costuma causar rugas verticais nessa região, onde temos também
reflexo da vesícula biliar.
O coração se reflete ao redor do nariz, e logo abaixo dele, entre nariz e boca, encontramos
a correspondência do baço-pâncreas, presente também na região medial da testa. O
estômago se reflete na região do terceiro-olho, entre as sobrancelhas, e também nas
bochecas (é muito comum o aparecimento de espinhas nessas regiões, associadas ao
excesso de energia Yang nesses órgãos e vísceras).
Fonte: autoral.
Por fim, temos os reflexos de Pulmão e Intestino Grosso, sendo que o primeiro aparece
logo abaixo do nariz, na região lateral, e o segundo nas laterais da boca. Disfunções no
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UNIDADE III | Observando o paciente
elemento metal, ao qual pertencem, levam ao aparecimento de uma ruga bem nessa
região, conhecida popularmente como “bigode chinês”.
O biotipo madeira tem um rosto alongado e ovalado, de aparência firme, geralmente com
as orelhas compridas, o nariz reto, sulcos profundos e as sobrancelhas longas e finas. A
coloração do rosto é esverdeada. Tende emocionalmente à incoerência e rigidez, podendo
guardar muita mágoa e rancor, de forma autoagressiva, mas é amável, solidário, tenaz,
confiante, expressivo, um bom líder. Os distúrbios mais comuns são os metabólicos e
problemas nos tendões, limitações na articulação do ombro, dores de cabeça e insônia.
Esses individuos geralmente possuem maior produção de testosterona, o que pode
refletir em maior atividade sexual e força muscular.
O biotipo fogo é o mais violento dos elementos. Apresenta um rosto fino, pequeno, ou
em formato hexagonal (parte média mais larga), com destaque para a testa pontuda. A
coloração do rosto é avermelhada. São pessoas corajosas, ágeis, expansivas, impetuosas,
impactantes, inteligentes, mas predomina a tendência à ansiedade e à instabilidade
em suas ações e pensamentos. Podem se tornar ambiciosos demais, cruéis, temidos,
explosivos e com dificuldade nos relacionamentos. Os problemas cardiovasculares,
hipertensão, hiper-hidrose e alterações na articulação do punho são comuns. Devido à
ansiedade, é comum a hiperatividade infantil, dificuldade de concentração e o hábito
de roer as unhas.
O biotipo terra apresenta o rosto redondo e compacto, pesado, com estruturas fortes, nariz
evidente, boca e orelha grandes e sobrancelhas grossas. A coloração da face é amarelada.
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Observando o paciente | UNIDADE III
A testa pode ser dividida em várias regiões em sua análise, chamadas tradicionalmente
de palácios. No centro da testa, temos o palácio da carreira, que é próspera quando
vemos uma testa lisa, sem rugas, brilhante. Nas laterais, temos o palácio dos pais, que
indica nossa relação familiar com os pais, como interagimos com eles e como os vemos.
Bons relacionamentos levam a regiões claras, sem manchas escuras. O aparecimento
de manchas, cabelos e rugas na região podem indicar um mau relacionamento entre a
pessoa e seus pais ou diretamente entre os pais (como um divórcio).
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UNIDADE III | Observando o paciente
Os olhos grandes são indicativos de pessoas movidas pela emoção, com dificuldade de
lidar com as questões financeiras e demais assuntos que precisam de razão. O oposto,
olhos pequenos, indica justamente o predomínio da razão sobre a emoção. A forma de
olhar também nos mostra características importantes, de fácil observação enquanto
conversamos com o paciente e fácil de avaliar a mudança durante o tratamento: um olhar
direto, olho no olho, indica confiança, sinceridade, transparência, segurança. Quando o
olhar foge do contato direto, é um sinal de medo, mentira, incerteza. Já quando o olhar
é para cima da cabeça, a indicação é de autoritarismo ou arrogância.
Nas narinas, quando grandes e largas, temos energia mental em abundância, com
facilidade para o empreendedorismo. As narinas pequenas indicam maior submissão e
fraqueza, com dificuldades em empreender. Quando a ponta é arrebitada, temos uma
tendência ao bom humor, autoconfiança e maior segurança, enquanto seu oposto indica
liderança profissional e familiar, seriedade e tendência ao autoritarismo e intolerância.
Na boca, podemos observar sua morfologia e postura. Quando ela fica sempre aberta,
temos uma deficiência no Qi dos pulmões e presença de calor. Se fica parcialmente aberta,
pode haver excesso de Yang no coração. Um desvio permanente indica deficiência de
Qi e Xue, geralmente associados à baixa autoestima. Um desvio momentâneo indica
estagnação do Qi do fígado, podendo ser resultado de impaciência, agitação ou irritação.
A coloração dos lábios é saudável quando é rosada, tendo os dois extremos de cor (arroxeada
ou pálida) como desequilíbrios de calor/Yang ou frio/Yin. Os lábios finos indicam
determinação e conservadorismo, enquanto os lábios grossos indicam honestidade,
emotividade, lealdade e sexualidade aflorada. A boca é conhecida como o palácio dos
relacionamentos, de forma que por meio dela podemos entender a facilidade em se
relacionar e a qualidade dos relacionamentos do nosso paciente.
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Capítulo 3
O DIAGNÓSTICO POR OBSERVAÇÃO
Quanto aos lábios, sua coloração saudável também é rosada, sendo que a palidez indica
uma deficiência de Xue, e a vermilhidão excessiva a presença de calor e excesso de
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UNIDADE III | Observando o paciente
Ao obervar os olhos, e para isso a empatia de conversar com uma pessoa “olho no olho
ajuda muito, podemos correlacionar uma coloração amarela, assim como na medicina
ocidental, com alterações no fígado. Um quadro em que há peso nos olhos, cansaço
ou congestão indica deficiência de energia Yin ou ainda presença de calor. Quando as
pálpebras estão inchadas, é sinal de que o Jin-Ye está estagnado, podendo ter deficiência
de baço-pâncreas ou síndrome de calor e vento no fígado, caso o inchaço acompanhe
vermelhidão. A deficiência dos rins resulta em midríase.
Nos períodos de inverno e do alto verão, aparecem mais alterações na região nasal,
como coriza, por presença de frio ou vento. Se essa coriza for pegajosa, a invasão já é
mais profunda, indicando que o calor ou vento adentraram as camadas mais internas.
Um estado purulento é sinal de que a deficiência atingiu os pulmões.
É importante ressaltar que a iluminação do ambiente deve permitir uma boa anamnese
da língua. Além disso, devemos questionar o paciente sobre o consumo de balas, chicletes,
cafés e outros alimentos ou bebidas que podem alterar a coloração natural da língua. O
mesmo vale para o cigarro. A partir dessa checagem, iniciamos a avaliação da língua.
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Observando o paciente | UNIDADE III
De maior grau de dificuldade, mas grande importância, o exame das papilas também
nos dá informações. Quando as papilas estão altas e separadas, temos a presença
de calor, muitas vezes associada a doenças infecciosas. A ausência ou mesmo uma
grande diminuição das papilas indicam uma deficiência do Qi do rim ou um quadro
de deficiência geral (em quadros mais avançados). Por fim, quanto à movimentação,
devemos observar se a língua tem alguma paralisia ou tendência a se desviar para um
dos lados. Se apresentar tremores, observados principalmente na ponta da língua em
exposição, temos uma deficiência de Xue ou de Yang.
Na camada superficial da língua, devemos analisar sua coloração própria e sua qualidade,
para entender a relação que existe entre o Wei Qi e a patologia instalada. Quanto mais
espessa for essa camada, que recebe o nome de saburra, mais grave é a patologia, podendo
ainda estar associada à presença de catarro espesso. Uma língua saudável apresenta
um nível intermediário de umidade, de modo que os extremos de secura ou umidade
são sinais patológicos, com síndrome de calor (que na maioria dos casos se apresenta
com fissuras pelo corpo da língua), deficiência grave de Qi ou deficiência de Jin-Ye no
primeiro caso e de frio e umidade no segundo.
Uma língua pegajosa, com saburra aderente, revela distúrbios de secreção no organismo,
sendo mais pegajosa à medida que se agrava a doença. Já a ausência completa de secreção
revela uma deficiência no Wei Qi, também relacionada a problemas gástricos quando
acompanhada de vermelhidão.
Uma saburra saudável deve ser fina e levemente esbranquiçada e brilhante. Quando
ocorre uma invasão de calor, a saburra fica amarelada, com intensidade proporcional de
cor, chegando a apresentar fissuras e ressecamento na Síndrome do Fogo. Uma doença
crônica, avançada, deixa a camada superficial acinzentada, podendo ainda se associar
a umidade acentuada na presença de frio e deficiência do Qi e atingir a coloração negra
em casos de agravo extremo.
Como a língua é um microssistema, ou seja, uma área que representa todos os pontos do
corpo, temos relação direta entre essas alterações e os órgãos e vísceras, de acordo com a
região da língua em que elas aparecem. As alterações na ponta da língua se correlacionam
com o coração e com o pulmão. A região central representa o baço-pâncreas e o estômago.
A base, bem ao fundo, correlaciona-se com os rins, bexiga e intestinos, e as laterais com
o fígado e a vesícula biliar.
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UNIDADE III | Observando o paciente
Fonte: autoral.
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Capítulo 4
O INTERROGATÓRIO
4.1. O interrogatório
Outro momento do diagnóstico, o qual eu julgo ser o mais importante, é chamado de
interrogatório. Embora a Medicina Tradicional Chinesa valorize muito os diagnósticos
pela língua e pelo pulso, que são verdadeiras artes, eu acredito que o interrogatório se
sobressai no ocidente. Isso se dá pela conexão que ele promove. É um diálogo (poderia
até dizer que o termo interrogatório soa um tanto agressivo), o momento de conversar
com o seu paciente e ouvir tudo o que ele tem para contar.
4.1.1. As 16 perguntas
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UNIDADE III | Observando o paciente
4.2. A empatia
Além da importância do interrogatório para entender as queixas de seu paciente, mapear
seus sintomas, identificar os principais desequilíbrios e suas causas secundárias, o diálogo
é parte do processo de identificação pessoal, do vínculo, da confiança, da humanização.
Muitas vezes o paciente demora para se abrir e até mesmo para identificar todas as suas
queixas, de forma que o diálogo mais leve, sem tom de interrogatório, pode ajudar muito
o terapeuta nesse processo.
Todavia, o diálogo nem sempre é fácil e bem-vindo para o paciente. O processo tem
que ser natural para todos os envolvidos. Alguns pacientes, por perfil natural ou em
decorrência do seu quadro patológico, não querem conversar, não se sentem dipostos
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Observando o paciente | UNIDADE III
ou confortáveis com isso e devem ser respeitados. Para esses casos, recorremos aos
diagnósticos por observação, somado ao que o paciente se dispuser a relatar.
Esses bloqueios de diálogo costumam ser quebrados ao longo das sessões, conforme
o paciente ganha confiança em seu terapeuta, conhece os procedimentos e gosta
dos resultados. Com isso, é muito comum na prática clínica o diganóstico contínuo,
complemetando-se ao longo de todo o tratamento, por mais longo que seja.
Identificar o perfil do seu paciente e saber conduzir a conversa, respeitando seus limites,
é um dos pontos mais importantes para a boa prática clínica.
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REFERÊNCIAS
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Referências
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