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L et t m S/ iv r e S

Yiditoras Responsáveis
D e b o ra D in iz
M alu Fo n te s

ConselhoEditorial
C ristiano G u ed es
Flo re n d a Lu na
M aria C asad o
M arcelo M ed eiro s
M arilena C o rrêa
Paulo Leiv as
R o g e r Raup p Rio s
Sérg io R eg o

Carta de uma orientadora


o p rim eiro p ro jeto de pesq uisa

2^ Ed iç ão

D e b o ra D in iz

Brasília
2 0 13

L et r a s T^AAl iv r e S
o 2013 LetrasLiv res.
To tlo s os d ireito s reserv ad o s. E p erm itid a a rep ro d ução p arcial o u to tal d esta o bra, d esd e que
citad a a fo nte e que não seja p ara v end a o u q ualq uer íim co m ercial.

Tirag em : 1* ed ição - 201 2 - 5 0 0 exem p lares.


1* reim p ressão — 2012 — 1000 exem p lares.
2* e d iç ão - 2 0 1 3 - 1000 exem p lares.

Esta p ub licação p o ssui v ersão d ig ital (ISBN : 9 7 8 - 8 5 - 9 8 0 7 0 - 3 0 - 8 ) .

Este liv ro o bed ece às no rm as d o A co rd o O rto g ráô c o d a Líng u a Po rtug uesa p ro m ulg ad o p elo
D ec reto n. 6.583, de 29 d e setem bro d e 2 0 0 8 .

CoordenaçãoEditorial
Fabiana Paranho s

Coordenação de Tecnologia
Jo ão N ev es

Revisãode Língua Portuguesa


A na Terra M ejia M unho z

Arteda Capa
Ram o n Navarro

Editoração Eletrônica eLayout


Jo ão Neves

Dad o s Internacio nais de Catalo gação na Publicação (C IP)


Biblio tecário Resp onsáv el: Scânio Sales A velino (C RB/ D F 2394)

D iniz , Débo ra.


C arta de uma o rientad o ra: o p rim eiro p ro jeto d e pesquisa / D éb o ra D iniz . - 2. ed. rev. -
Brasília: LetrasLivres, 2013.
108p .

ISBN 978- 85- 98070- 31- 5

1. M eto d o lo gia de pesquisa. 2. Trabalho acad êm ico . 3. Ciência - m eto d o lo gia. 1. D iniz , Déb o ra.
II. Títu lo : o p rim eiro p ro jeto de pesquisa

C D D 001.4
C D U 001.8
À s prim eiras leitoras d esta carta, ain d a co m o
aprendizes de au to ras e jovens pesq uisadoras.

À m atilh a.

To d o s os d ireito s reservados à Ed ito ra LetrasLivres, um p ro jeto cultural da


A nis - Instituto d e Bio ética, D ireito s H um ano s e Gênero
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A LetrasLiv res é filiada à C âm ara Brasileira d o Livro .

Fo i feito d epó sito legal.

Imp resso no Brasil.


VI ,

Su m á r io

U m a CA RTA ......................................................................................................................I I

A n t es d o p r im e ir o en c o n t r o ...................................................................... 19

O PR IM EIR O EN C O N T R O ......................................................................................... 25

O EN C O N TRO C O M A P ESQ U ISA .......................................................................... 31

O EN C O N TRO C O M O T E M P O .............................................................................. 41

O EN C O N TRO C O M O T E X T O ............................................................................... SI

O EN C O N TRO C O M A ESC R IT A ............................................................................. 63

A pó s A LEITU RA ........................................................................................................... 81

E o FU T U R O ? ................................................................................................................... 85

M a pa d e l it e r a t u r a ............................................................................................. 89

C r o n o g r a m a ............................................................................................................... 93

So br e a a u t o r a ....................................................................................................... 107
Po r u m a co erên cia textu al à m in h a existência, escrev o
no f em in in o. A ref erência a “o rien tan d as”, “o rien tad oras”,
“professoras” e “au to ras” nâo sig nifica q ue esta carta náo
ten h a d estin atário s h om en s ou que os autores náo sejam
referências confiáveis à pesq uisa. A o co n trário , exatam en te
porq ue o lu gar dos hom ens está tão b em assegurado na
pesquisa acad êm ica é que arrisq uei a tran sg ressão de
escrev er esta carta no f em in in o universal. N ão se sinta
ob rigad a a seguir essa regra. A co lh erei as escolhas de gênero
q ue fizer no seu texto . Só ten h o u m pedido : n ão use sinais
gráficos inexistentes n o id io m a, tais co m o “x” o u p ara
representar os lim ites de gênero. Se o m ascu lin o universal e
neutro tam b ém a in co m o d a, escolh a u m a sub versão dentro
da n o rm a.
»»-i
-j-‘ .i ^- - ■ ,• ;

M A CA RTA

M in h a in iciação ao cu rio so p osto de “orien tad o ra de


idéias” se deu após u m a lo nga exp eriência co m o estu d ante.
Um dia, me descob ri orien tan d a e, logo em seguida,
autora de u m a m o n o g raf ia de g rad u ação . Im ag in o que a
leitora desta carta seja u m a estu d an te de g rad u ação que se
prepara p ara escrev er sua m o n o g raf ia de final de cu rso .'
É u m a exp eriência sin gular e in q uietante - a estu d an te
se d escob rirá au to ra de um texto acad êm ico . Ao me
co n v erter em orien tad o ra, passei a ouv ir as inq uietações
de m in h as estu d antes sob re essa exp eriência, e elas eram
m uito parecid as co m m in h a próp ria história. Passei a
registrar os q u estio nam ento s de cad a u m a delas e, devagar,
resp ond ia a eles p o r escrito em f o rm ato de m ensagens.
M uito len tam en te, a carta foi se d esen h an d o sob a f o rm a
de repetid as respostas às dúvidas. A s m ensagens p assaram

' É po ssível que p esquisad o ras em o utro s estágios d a carreira acad êm ica
(esp ecialização , m estrad o o u d o uto rad o ) se id entifiq uem co m esta carta, mas escrevo
para um a estud ante de grad uação . C o nsid ero que a singularid ad e d a p rim eira
exp eriência m e auto riza a escrev er o bvied ades so bre o enco ntro de o rientação , o
que seria um risco caso m e d irigisse às p esquisad o ras m ais exp erientes.
H IPH II
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í -Vm de lima orícimJont
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a ser lidas p o r m in h as orien tan d as ë pelas orien tan d as de .Kail(*iniC% |^.'ï1fp1üraia.U«ias inq uietações,’ * acen dera suas
m in h as colegas, tam b ém orien tad oras. Fo i aí que tive a p rclcirn'<?fa^ tcxtu'ai.t‘ g rap id ain en te desenvolverá u m a voz
certez a de q ue o sen tim en to de an g ú stia era co m p artilh ad o I tle^aUjDGE&p N ão im p o rta que venha a ser u m a voz tím id a,
por tod as aquelas q ue se d esco b riam rep en tin am en te l aí^ p articularm ente,- gosto de au to ras tím id as. Elas são

au to ras de u m texto acad êm ico . E , cu rio sam en te, a carta 1 I . u ^ o s a s e g u ard am a pulsão subversiva p ara u m f u tu ro
acalm av a os espíritos inq uietos m ais d o q ue m in h a voz ao 1 em q ue não m ais p recisarão de u m a orien tad o ra. T alvez a
pé do ouvido. experiência autoral n ão se estenda no teln p o, o que n ão é
n e ^ n im dem érito. Es ta carta é p ara q u em deseja escrever
Es ta carta é resultad o de u m a tro ca de idéias, dos | o úilTco texto da vid a, a m o n o g raf ia de g rad u ação , ou
co m en tário s aos q uestio n am en to s que ouvi das jovens p iiiii^ u em b usca o ofício de escritora acad êm ica e terá
pesq uisadoras co m q u em tive o p raz er de trab alh ar i mi m onog rafia sua p rim eira experiência. Po r isso, já m e
d u ran te m uito s anos. Ela an tecip a as princip ais p ergun tas p em n to esq uecer a im p essoalidade do d iscu rso e passo a
que m u itas orien tad oras já resp ond eram às suas orien tan d as m rxcrgj^cr d iretam en te p ara aquela a q uem a carta se endereça
nessa etap a da carreira acad êm ica. A s orien tan d as devo a || II jo v em pesquisado ra e aprendiz de escritora.
reescrita p erm an en te. Fo ram elas q ue m e m o straram o q ue I
precisaria ser co n tad o p ara q ue alg u ém se descob risse co m o
au to ra de u m a m o n o g raf ia de g rad u ação . Po r isso, este é I
I cx to p ú b lico
u m texto co n creto que b usca g u iar o en co n tro intelectu al
entre duas pessoas - a orien tad o ra e a orien tan d a, o u , I
V ocê será au to ra de u m a m o n o g raf ia de g rad u ação .
co m o prefiro nos descrever, a leito ra- o uv ido ra e a aprendiz |
Flii etern a, não se esq ueça dessa senten ça. Se já escreve
de escrito ra. Há m uito s e b ons livros de m eto d o lo g ia J
poeiiK^s, cartas ou m ensagens de am o r, blogs ou panfletos
disponíveis, m as esta carta não co n co rre co m eles. N ão ||
polítícos, esse é u m b o m co m eço p ara desinib ir as m ãos
escreverei sob re co m o fazer u m a pesq uisa, m as sob re co m o
se p rep arar p ara a fascin an te exp eriência d a criação e d a J r iliac'halhar seu filtro afetivo que só reco n h ece C larice
l.isp ccto r ou V irg in ia W o o l f co m o au to ras. Pratiq ue a
au to ria acad êm icas.
PM I il^y, co m o q uem exercita o co rp o . A s idéias p recisam

Po r q ue u m a carta? Porq ue o rien tar é co m u n icar- lie m úsculos soltos p ara fluírem co m o nossas. A cred ite

se p o r histórias, saberes e exp eriências. O rien tar é 1er que esse é u m jo g o que a tran sf o rm ará, e v o cê aprend erá

aten tam en te e ouv ir d elicad am en te. En tre a aten ção e a a iiinsig o m esm a. Eu serei sua p arceira, p o r isso p erm ita

d elicad eza, descob ri q ue a carta m e p erm itiria d ar as b o as - 1 m e ap resentar a v o cê p o r m eio desta carta, u m gênero

vin d as às jovens pesq uisadoras sem pressioná-las m ais ^ iiairativo que co m b in a fato s, em o çõ es e segredos. A carta

do q ue o jo g o das regras e dos prazos já exigiria. S im , i é um a narrativ a ín tim a, m as neste caso tam b ém im p essoal.

hav erá u m jo g o em cu rso q uan d o esta carta f or lida pela . Pode p arecer p arad o xal escrever u m a carta p ara u m a

p rim eira vez — em dois sem estres, a estu d an te se descob rirá desi^ iatária q ue ain d a n ão se im ag in a q u em seja. E m ais

au to ra. Em dois sem estres revigorará sua f o rm ação rxiran h o aind a: ela será usad a p o r outras orientad oras que

12 13
iP ü n R ip a i
CarraJeumaorícnradora DehoraDinir
-mDiÁ

seq uer a escrev eram , m as que to m arão p ara si o co n teú d o m onog rafia de g rad u ação .* C) tem p o p ara preencher as
d esta carta. Sim , esta carta é u m a m etam o rf o se - eu e lacu nas é suficiente. A q uelas co m ritm o s teim osos que

tod as as orien tad oras q ue co n h eço , as m in h as e tod as as pref erem o vag u ear à lab uta acad êm ica nos finais de sem an a

orien tan d as possíveis terão suas vozes, alegrias e angú stias talvez o co nsid erem cu rto ; já o u tras o sentirão em excesso,

aqui representad as. Po r isso ela é o u sad a e tão ín tim a ao pois não su p o rtam o presente sem co n tro lar o f u tu ro .
m esm o tem p o. A ansiedad e p od e ser intensa e a von tad e de d escob rir a
co n f u n d irá d ian te de tan tas possibilidades de pesquisa e de
M in h as prim eiras leitoras sen tiram tensões, leituras. E eu, entre leitora e ouv id ora, ap erfeiçoarei m in h as
alegrias e an gú stias ao lerem esta lo n g a carta. A lg u m as habilidades m an u ais de co stu reira - cad a retalh o de ideia,
me am eaçaram de ab an d o n o , o u tras se sen tiram m ais cad a req uinte de luxo precisa g an h ar sentido no tecid o que
conf iantes co m m in h a honestid ad e. M u itas riram sozinhas a desenhista esb o ça d ian te de m im . São tan tas regras sobre
e depois z o m b am o s ju n tas de m in h a falsa crueld ad e sobre co m o co rtar o tecid o, co m o escolh er cores, tendências,
as regras do jo g o acad êm ico . A o m en os no texto , represento m odelos e m o v im en to s, q ue já houve m o m en to s em que
o papel m ais d if u n d id o das orien tad oras — alguém que m e senti d istante d a leito ra-ouv id ora e m ais p ró xim a das
n ão entend e atrasos, não go sta de p reg u iça e rom p e irm ãs escutadeiras. A s irm ãs escutad eiras eram co m u n s nos
relações se a o rien tan d a se m o stra u m a m iserável cop ista m onastérios cató lico s do passado, e seu trab alh o consistia
das idéias de outras autoras. U m segredo: não fuja, nem em o u v ir os segredos do parlatório p ara d elatar as jovens
m e leve tão a sério na carta. Eu e sua o rien tad ora de carn e freiras à m ad re superiora pelos eq uív ocos d a palavra. Elas
e osso m erecem o s a ch an ce de lhe ap resentar as regras o u v iam sem serem vistas. U m a co rtin a as escond ia das
co m o se nós não fôssem os as vigias de seu f u n cio n am en to . visitas que con versavam livrem ente co m as nov iças co m o se
Peço - lh e u m a cautelosa p ro xim id ad e co m esta carta - eu não houvesse cen su ra n a palavra.
escrevo p ara v o cê, m as sua orientad ora de verdade será
alg u ém ain d a m ais co m p eten te do q ue eu, porq ue foi A carta m e p erm ite ab an d o n ar as pretensões das

ela q u em v o cê verd ad eiram ente escolheu p ara o p osto de irm ãs escutadeiras sentadas em u m p arlató rio e esco nd id as

“orien tad o ra de idéias”. Isso f acilitará o estran h am en to pela co rtin a. Po r isso, ad oto a alego ria d a co stu reira,

de alg u m as passagens do texto . Sua o rien tad o ra p od erá d ar que lê, ouve e sente co res e textu ras. A o final, serei u m a

cores e sab ores diferentes a alguns de m eus conselhos ou co stu reira que exp erim en ta sabores e ad m ira b o rd ad os.
sentenças. M as a carta tam b ém f alará de m im . C ab e a v o cê C o m e ço p o r u m d esn u d am en to do lugar da o rien tad ora e

d esco b rir alguns eventos sem elhantes d a trajetória de sua


^ Eu im agino q ue o seu trabalho de co nclusão de curso se d esenv o lv erá em d ois
orien tad o ra, caso ela deseje contá-lo s.
sem estres: o p rim eiro para a elabo ração d o p ro jeto de p esquisa, o segund o para
a realização d a p esquisa e a escrita d o texto . C o m algumas v ariaçõ es, esse é o
Esta é u m a carta co m lacu nas que v o cê está prestes cro no g ram a regular de grande p arte do s cursos de grad uação em hum anid ad es no

a b iograf ar d u ran te seus dois sem estres reservados à país. C ad a sem estre p o ssui q uatro meses. A o final d esta carta, v o cê enco ntrará um a
p ro p o sta d e o rganização desses meses p o r sem anas. E um a sugestão q ue v o cê deve
ad ap tar ao seu ritm o de estud o e às p articularid ad es d o curso e da pesquisa. H á
curso s que alo ngam esse p erío d o p ara três sem estres, p erm itind o um tem p o m aio r
p ara o trabalho d e cam p o o u a co leta de d ado s.

14 15
Câna Je um» oríentaJora Dchora Diniz

das regras d o jo g o acad êm ico . N áo p o d e haver co rtin a em ma.s co m o esp aços livres p ara a elab o ração individual
nossa tro ca de palavras. N o ssa m ed iação será o seu texto e d c q u em ler esta carta. A verdad e é que o ritual da
nossas m o tiv açõ es, os m ais nob res valores q ue estim u lam o rien tação foi co n tin u am en te p ro v o cad o pela m in h a
a v id a acad êm ica: o resp eito, a ad m iração e a p aciência. exp eriência co m o professora de m eto d o lo g ia. D esd e que
C om o um a co stu reira, nosso trab alh o será artesan al, m e descob ri co m o professora, ensino m éto d o s e técn icas de
u m a co m b in ação q ue repete u m of ício apren dido e se pesquisa, um co n ju n to de falsos segredos sobre a arte
atu aliz a na estética individ ual d a criação . Serem os b oas da pesq uisa q ue, q uan d o d esco b erto s, m o stram que
p arceiras n a co m p o sição de um a p eça textu al. N o sso nossas autoras não são tão geniais assim , m as apenas
en co n tro é in telectu al e profissional. Serem os duas b oas cozinheiras que in ven tam novos sabores q uan d o
m ulheres em b u sca de u m texto que v o cê se o rg u lh ará de reprod uz em as receitas de sucesso d a pesq uisa acad êm ica.
ser a sua p rim eira criação . Esse texto p recisa ser belo, f orte
e orig in al, co m o se espera da criação acad êm ica e de seu Se ensinar m eto d o lo g ia é trab alh ar na co z in h a

p o d er de tran sf o rm ação social e po lítico. da vid a acad êm ica, o rien tar é descob rir- se co stu reira.
Peço perd ão pelas alegorias tão an tiq uad as sob re ofícios
fem ininos p ara descrever a eleg ân cia d a criação acad êm ica.
U m a b o a pesq uisadora e o rien tad o ra inspira-se em b oas
R em eten te
costu reiras e coz inheiras. Sab er e sab o r se m istu ram não
só na etim o lo g ia, m as n o m anejo d o tecid o. Esta carta e
Serei sua orien tad o ra. Es ta carta é u m a co m b in ação
resultado dessa dupla inspiração . M as, p o r favor, não espere
de exp eriên cia pessoal co m o b servação etn o g ráf ica sob re
u m m an u al de m éto d o s ou técn icas de pesquisa, pois eu
esse en co n tro - f o ram as estu d an tes q ue m e en sin aram
não falarei de hipóteses, entrevistas, levantam en to s ou
o q ue precisaria ser d ito nesse m o m en to , m as perceb i
análises de dado s. Sob re técn icas e m éto d os de pesquisa, há
q ue havia u m a p erm an ên cia ritu alística no encontro.^
dezenas de b ons m an u ais disponíveis. V o cê verá que faço
C om o an tro p ó lo g a, ad o ro descrever rituais e esta carta
referência aos q ue m ais m e in sp iram nas notas de rod ap é.
e reco rd ató ria do ritual ch am ad o “o rie n tação ”, que
O ú n ico escorreg ão n o cam p o dos m eto d ólogos será a
co m b in a rep etição e recriação a cad a perfo rm ance. Falarei,
in q u ietação p ro v o cad a pelo “prob lem a de pesquisa Esta
p o rtan to , das p erm an ên cias d o of ício de o rien tação , m as
carta n ão é sob re co m o fazer u m a pesq uisa, m as sob re o
m uitas criaçõ es são resultado de m in h a exp eriência na
en co n tro de duas artes m an u ais - a co z in h a e a co stu ra.
execu ção d o ritu al. Esp ero q ue essas criaçõ es n ão sejam
en tend id as co m o regras ab solutas sob re etapas rituais.

’ A etno grafia é um m éto d o d e p esquisa fascinante e bastante fam iliar às antro p ó lo g as.
C o nsiste em realizar um trabalho d e cam p o co m grupo s o u co m unid ad es entre as
quais se d eseja um a ap ro xim ação p ara m elho r co m p reend er traço s culturais o u
p raticas so ciais. A etno grafia exige um trab alho de cam p o d enso , em q ue d iferentes “ o uso d o m asculino aqui é intencio nal. O tem a da m eto d o lo g ia de p esquisa
técnicas d e p esquisa são utilizad as, send o as m ais co m uns a o bserv ação , a entrev ista é aind a d istante das m ulheres co m o auto ras. U m a o b ra de referencia em língua
e o uso d o d iário de cam p o . A etno grafia é o m éto d o que o rienta o s film es que já inglesa p ara m eto d o lo g ia fem inista e Shulam it, Reinharz; D av id m an, Lynn.
d irigi. F em in ist m etho ds in s o c ial research. O xfo rd : O xfo rd Univ ersity Press, 1992.

16
(^nM Je unu o rie n rjJo rj

D e s tin atária

V ocê será m in h a o rien tan d a. Escrev i esta carta sem


co n h ecê- la. V o cê m e p ro cu ro u p ara serm o s orien tad o ra e
o rien tan d a, u m v ín cu lo q ue fará p arte de nossas histórias,
m esm o depois de encerrad o. A té en trar na universidade,
esse po sto de “o rien tad o ra das idéias” m e era d escon h ecid o.
D u ran te u m tem p o , estranh ei que alg u ém pudesse o cu p ar
lu gar tão ousad o n a v id a de o u tra alg u ém . Po r ser u m po sto
ousad o , en ten d a- o co m o tran sitó rio , apesar de etern o se
finalizado co m sua m o n o g raf ia de grad u ação . Sim , é um
N T ES D O PR IM EIRO EN C O N T RO
p arad oxo . T alvez eu ven h a a ser a ú n ica orien tad o ra de
sua trajetória acad êm ica. Se não a ú n ica, provavelm ente a
p rim eira. E em respeito a esse m o m en to tão especial em sua
vid a que escrevi esta carta p ara d ar-lhe b oas-v indas.

A in d a sem nos co n h ecer, f arem os u m aco rd o . N osso


O rien tar alunas é p arte de m eu ofício co m o
prim eiro en co n tro será tím id o . Se possível, rápido, apenas
professora. Eu p od eria resu m ir m eu papel de o rien tad ora
para que eu lhe dê b oas-v in d as e reco m en d e a leitura
co m o um dever. M as prefiro descrevê-lo co m o um a
d esta carta. Ela foi escrita p ara aco lh ê-la nessa experiencia
d esco b erta fascinante. A ab stração d esta carta so m ente fará
intelectu al. A cred ite q ue, m esm o sem co n h ecê- la, esta
sentid o ao co n h ecer v o cê, ao o u v ir suas idéias e 1er seus
carta foi escrita p ara v o cê e p ara esse m o m en to de sua vida
texto s. Sem p re q ue tiver dúvidas sob re o nosso en co n tro ,
acad êm ica. Leia- a do início ao fim , d eitad a na rede co m a
volte a esta carta, m e co n te sob re p artes q ue aind a não fui
brisa do m ar, se pud er estu d ar à b eira d a praia. Se vive no
cap az de im ag in ar q ue precisariam ser d itas. Q u ero ouv i-la
cen tro do país, co m o eu, a leitura ao cair da tard e é u m a
e aprend er co m v o cê. Esta é u m a carta ab strata, m as nosso
sugestão. M as a geog rafia p ara a leitura é só a m o ld u ra do
en co n tro se realiza n a co n cretu d e de nossas singularidad es.
q uad ro , pois espero que ajude a af u g en tar as suas angú stias.
Serem os a p artir de ag o ra u m par, eu e v o cê, nós e suas
V ocê terá o p o rtu n id ad e de v o ltar aos trech o s q ue suspirou
idéias. C o m o u m a novela em cad eia, esta carta terá outras
po r h u m or, ansiedad e o u surpresa. M as ten te p erco rrer a
vozes e histórias. E n ão só a sua o u a m in h a, m as as de
carta de u m a ú n ica vez. S o m en te depois d a leitura, terem os
o u tras orien tad oras e orientan d as q ue a usarão co m o suas
nosso p rim eiro en co n tro de o rien tação . V o cê estará b em
próprias vozes p ara d escrever esse en co n tro .
m ais segura e p rep arad a p ara essa p rim eira co nv ersa. E eu,

ansiosa po r escutá-la.

18
m m m .
Cartade umaorientadora Dehorj Diniz

Esse é o m o m en to m ais p recio so de sua f o rm ação p ara, depois de alg u m tem p o , alcan çarm o s nosso prob lem a

acad êm ica. V o cê passou vários sem estres n a universidade dc pesquisa. O desafio é sair do tem a, ch eg ar a u m

p ara p o d er esco lher liv rem en te co m o p en sar e sob re o prob lem a razoável, realizar a pesq uisa e escrev er a

que escrever. Eu im ag in o que você esteja em u m cu rso de m on og rafia em dois sem estres. A ch o que esse foi seu

g rad u ação que au toriz e escolh er a leitora-o u vid ora de sua prim eiro suspiro ao ler esta carta, esto u certa?
preferência. D efen d o q ue v o cê deva ser livre p ara fazer essa
N ão pense ain d a n a m o n o g raf ia. O pro b lem a de
escolh a, e esta carta foi escrita im ag in an d o esse prim eiro
pesquisa, aquelas duas linhas em q ue an u n ciará o que deseja
ato de arb ítrio ind ivid ual de sua trajetória acad êm ica
pesquisar, é sua m eta de lab uta in telectu al. En q u an to m e le,
co m o aprendiz de escritora e pesq uisadora. O m eu papel
escreva as m elhores idéias. V o ce não ira m e apresen tar to d as,
será au xiliá-la neste m o m en to de d esco b erta e criação .
apenas as três q ue co n sid erar m ais viáveis e interessantes.
O cam in h o , no en tan to , é seu. In teiram en te seu. M eu lu gar
Se possível, ten h a o m áxim o de seg u ran ça q u an to às
é secu n d ário nessa trajetó ria, e não se assuste co m esse jeito
co res e d etalh es q ue n ão deseja exp lo rar sobre o seu tem a.
q ue passo a escrever. C o m o já m e descrevi, sou u m a leitora-
A p eça que irá co stu rar será sua, e v o cê deve d ecid ir o estilo
ouvid ora interessada em suas ideias, u m a co m p an h eira de
reflexão. M as a criação será sua. T alvez v o cê aind a não da co m p o sição .

saib a exatam en te o q ue deseja fazer. N ão se apresse p ara


T alvez u m exem p lo a ajude a en tend er a im p o rtân cia
agora, o logo é suficiente. Eu pod erei ajudá-la a en co n trar o
de u m p rob lem a claro e preciso. Um de m eus tem as
ru m o , m as p ara isso preciso que respo nd a a duas p ergun tas:
de pesquisa é a ho m o f o b ia na ed u cação . Ja fiz estudos
que tem a deseja estu d ar? E , sob re esse tem a, p o r onde não
q uantitativo s e q ualitativ os, escrevi artigos de jornais, dei
deseja seguir?
palestras e p articip ei de audiências púb licas. M as n u n ca
m e interessei em co n h ecer as m o tiv açõ es e desrazóes de
N o sso leque de interesses e desejos de pesquisa é
u m ind ivíd uo h o m o f ó b ico . M eu interesse é pensar co m o
sem pre m aio r do que nossas co n d içõ es efetivas de explorá-
a ho m o f o b ia restringe direitos e liberdades e p rovo ca
lo. Isso aco n tecerá co m v o cê, m as tam b ém ato rm en ta as
so f rim en to. A s p rim eiras histórias que ouvi de pessoas que
pesq uisadoras exp erientes. H á u m con selh o q ue ouv irá de
sof reram violên cia h o m o f o b ica f o ram inesquecíveis — eu
m im e de q u em m ais co n v ersar sobre seu tem a de pesquisa:
não co n seg u ia conviver co m a ideia de que alguém p od eria
“ R ed u z a seu tem a de pesq uisa, d eixe-o m ais esp ecíf ico”.
tem er sair à ru a sob a am eaça de violência. A s histórias,
O cu rio so é o q uan to o tem a já p arecerá claro e b em
som ei m in h a atu ação em m o v im en to s sociais e, assim ,
resolvido p ara você, m esm o neste m o m en to tão inicial
pesquisa e in terv en ção p olítica p assaram a se m istu rar.
d a pesq uisa. N ão acred ite nesse seu ím p eto inicial de
V o cê n ão precisa listar o q ue n ão deseja pesquisar, m as
clarivid ência — do tem a ao ob jetivo geral d a pesquisa, u m
deve d escob rir essas fronteiras p ara não se co n f u n d ir em
b o m tem p o de conversas e leituras será co n su m id o . C o m
nossa p rim eira con versa. Isso a d eixará m ais segura p ara a
alg u m as variaçõ es de estilo, ch am o esse de o conselho da
explosão de idéias e entusiasm os q ue nos aco m p an h arão no
suspeita, um a regra inicial p ara q ualq uer aprendiz de
pesq uisa: duvide de v o cê m esm a. In iciam o s co m u m tem a p rim eiro en co n tro .

20 21
C^ trta d c u m a o rien tad o ra D elm ra D in U

o in terlú d io d o e n co n tro m im , poderem o.s ir junta.s co m u n icá- la sob re sua von tad e
ilc m u d an ça. U m a o rien tad o ra especializada em seu tem a

Fico feliz que ten h a m e p ro cu rad o p ara orientá-la. acelerará sua pesq uisa b ib liog ráf ica, co n h ecerá as autoras-

A cred ite: será um a tro ca de saberes, experiências e chave d o cam p o e terá p ro d u ção n a área q ue p erm itirá o

exp ectativ as sob re o f u tu ro . Im ag in o duas razões que diálo go inicial entre vocês. N ão acred ite em q u em diz nos

a m o tiv aram a m e p ro cu rar. A p rim eira é po rq ue devo corredo res das universidades que a m u d an ça de o rien tação

trab alh ar co m tem as de seu interesse. A segund a é porq ue é sem pre trau m ática — essa é u m a histó ria co m m uitos

p ro cu ra u m a b oa leitora, m esm o que n ão especialista em seu enredos. N ó s p od em o s to m ar essa d ecisão se ela for a

tem a de pesquisa. Se v o cê já é pesq uisadora de m eu g ru p o m elhor p ara o seu crescim en to in telectu al. Ju n tas, irem os

de pesq uisa, p od e p u lar este p arág raf o . Se n ão é o seu caso, á co o rd en ação do cu rso e in f o rm arem o s sob re nossa

acesse o m eu cu rrícu lo Lattes e veja sob re o que já escrevi, decisão.

q ue projeto s já desenvolvi, de que o rien taçõ es já participei.^


M as se estiver segura de que é co m ig o que deseja
Se v o cê for trab alh ar em tem as d iretam en te v inculad os à
trab alhar, saiba q ue seu esforço in telectu al será aind a
m in h a p ro d u ção teó rica, m eu prim eiro con selh o: leia o que
m aio r e m ais solitário. Isso não é u m a am eaça de ab and ono
já escrevi. Saiba o q ue p enso sob re as q uestões que irem os
antecip ad a, p o r isso rejeito seu suspiro. E a verd ade sem
trab alh ar. Isso f acilitará nosso en co n tro in telectu al. Há
rodeios sobre os desafios in telectu ais de u m a orientad ora
m u ita coisa disponível nas bases e b ib liotecas v irtu ais co m
iniciante em u m tem a de pesquisa. Eu não terei co m o
acesso ab erto . C o m ece p o r elas. O passo seguinte é perco rrer
so corrê-la no p o n to de p artid a, assim co m o u m a esp ecialista
as au to ras q ue eu ad m iro e tam b ém se ap ro xim ar delas.
faria co m facilidad e. Serem os aprendizes ju n tas; eu serei sua
Elas estarão listadas na seção de referências b ib liográficas
b oa e p aciente leitora. M as, p ara tran q u iliz á-la, saiba que já
de m eus texto s. É fácil descob ri-las.
vivi essa exp eriência antes. O rientei a tese de u m a arq u iteta,

Se não sou u m a especialista em seu tem a de pesquisa, cujo tem a era m ob ilid ad e, tran sp o rte e u rb an iz ação . Fo i u m

m eu con selh o: pense se sou a m elh o r p essoa p ara ajudá- belo en co n tro in telectu al, que exig iu m u ito de nós duas.

la. Eu terei prazer em ap ren d er e d escob rir novas q uestões Q u an d o a provoq uei se não seria m elh o r a m u d an ça de

co m v o cê, m as um a o rien tad ora especializada trará orien tação , ouvi u m co n v icto “n ão ”, que m e deixou ain d a

van tagen s p ara o seu crescim en to in telectu al. C o nsid ere, m ais co n ten te ao co n h ecer as razões d a decisão: ela q ueria

p o r isso, m u d ar a orien tação . N ão ten h a m ed o dessa u m a b o a leitora. Eu sem pre cu m p rirei co m p razer o po sto

decisão, n em suspire p o r m in h a franq ueza. A ssim co m o de leitora, m as saib a que essa é u m a escolh a que exigirá

pediu à co o rd en ad o ra d o cu rso que fosse orien tad a po r u m a m atu rid ad e in telectu al e u m a seg u ran ça af etiva ain d a
m aio r de v o cê. E h á u m a dif eren ça entre v o cê e a arq u iteta:
’ A p latafo rm a Lattes é p ú blica e, em 2 0 1 2 , congregav a um m ilhão e o ito cento s m il ela estav a no d o u to rad o e v o cê inicia sua vid a acad êm ica.
currículo s d e pro fesso ras, p esquisad o ras e estud antes d o Brasil. A p latafo rm a Lattes
Ela já havia passado p o r essa p rim eira exp eriência que v o cê
p erm itirá q ue v o cê enco ntre o m eu currículo e o d e to d as as o utras p ro fesso ras
d e seu curso o u d a área que lhe interessa. Isso a ajud ará a co nhecer as p esquisas, agora vive, o que a d eixav a m ais segura em nosso en co n tro .
o rientaçõ es e p u blicaçõ es das p esquisad o ras (w w w .lattes.cnp q.br). Vo cê p o d e fazer
buscas p o r auto ras, tem as o u p alav ras-chav e.

22 23
C jin u Je u m a o r ic n u d o n i

Po r fim , u m a d ica que acalm a os espíritos m ais


inq uietos q ue an seiam pela m o n o g raf ia já nesta fase
de d ef in ição inicial de tem as e p erg u n tas: p ro cu re
co n h ecer o que suas colegas de cu rso já escreveram
co m o m o n o g rafia de g rad u ação sob re o seu tem a. Em
geral, as m onog rafias de g rad u ação estão disponíveis
n a secretaria de seu cu rso ou em um a b ib lioteca da
universidade. M u itas delas estão inclusive disponíveis em
f o rm ato eletrônico, o q ue f acilitará sua b usca. Essa será u m a
pesq uisa co m pod eres terap êu ticos: acalm ará sua ansiedade
p o r co n h ecer o que a espera ao final dos dois sem estres.

PRIM EIRO EN C O N T RO

Eu preciso que em nosso p rim eiro en co n tro v o cê


tenha tem as de interesse o u de desejo listados em u m papel
ou registrados na m em ó ria. U sarei interesse (que p od e
ser pessoal ou político) e desejo (de o rd em privada) co m o
sinônim os p ara suas m o tiv açõ es acad êm icas. Interesses e
desejos são duas f orças q ue nos m o v em inten sam en te na
vida acad êm ica. Eu , p articu larm en te, acred ito m u ito nas
m otiv ações po líticas - elas d ão sentid o p ara além de nós
m esm as, além de p erm itir que nos co n ectem o s a outras
pessoas e idéias. Suas m o tiv açõ es serão resum id as em nosso
prim eiro en co n tro p o r seus título s funcionais e prob lem as
de pesquisa.® T en te ser o m ais específica possível, o que
exigirá de v o cê u m a co n cen tração inicial b astan te solitária.
T o m e n otas sob re seus tem as de interesse - eles p o d em ser
cu rto s co m o p alavras-chave (d iscrim in ação , cor, ed u cação ),
m as o ideal é q ue já estejam se co n ectan d o p ara f o rm ar
os títulos f uncionais (d iscrim in ação racial e ed u cação).

’ Jo hn Cresw ell é um claro d efenso r d o título fu ncio nal (C tesw ell, Jo h n . P ro jeto d e
p esqu isa: m éto d o s qualitativ o s, q uantitiv o s e m isto s. Po rto A legre: A rtm ed , 2 0 1 1 ) .

24
i.' n rta d c u m a o rien tad o ra -■ íW- Dehom Piniz

O s título s funcionais d evem d ialo g ar co m os en un ciad os aq uilo q ue nos in q u ieta, q ue p ro v o ca nossa curio sid ad e
provisórios, que neste m o m en to ch am arem o s de prob lem as aiad êm ica, m as q ue tem a possib ilidade de ser explorado
de pesq uisa (“eu q uero an alisar a d iscrim in ação co n tra para as m ais ousad as, até m esm o de ser solucionad o,
estu d antes negros”). A o escrev er seus título s e prob lem as, llá prob lem as de pesq uisa que p o d em ser m u ito
v o cê terá de elim in ar os m en os prováveis de m o tiv á-la, interessantes, m as n ão d ispo m os de m eios p ara m vestiga-
o q ue a f o rçará a fazer as prim eiras escolhas. los. D u ran te m u ito tem p o eu quis realizar pesquisas co m
im ilheres que tin h am p ro v o cad o o ab o rto em si m esm as.
A lg u n s m an u ais de m eto d o lo g ia de pesq uisa p ro p õ em A l*orém, co m o v o cê sab e, o ab o rto é u m crim e no Brasil e
exercício s p ara essa p rim eira b u sca de idéias e d eclaração Ht.s m ulheres têm , com p reensiv elm ente, m ed o de falar co m
de interesses. U m deles ch am a- se A arte da pesquisa e tem icsquisadoras d esconhecid as sob re u m tem a q ue p od e ter
b oas dicas.^ Se v o cê fez alg u m cu rso de pesquisa ou de
.'onsequências penais p ara elas.
m eto d o lo g ia d u ran te a g rad u ação , volte aos seus texto s.
Eles g an h arão u m sentido diferente agora. D ê u m a volta H á m ais de 15 anos eu estu d o esse tem a: pesquisei
nos cu rrícu lo s de suas ex-p rofessoras ou de autoras que ' co m o a m íd ia im pressa enq u ad rava o ab o rto ; estudei co m o
ad m ira. A n o te os tem as de pesq uisa, os título s dos projetos os filmes co n tav am histórias de m ulheres q ue haviam
e as pu b licações m ais recentes que ch am arem sua aten ção . ab ortad o; analisei processos judiciais que au to riz aram
Faça u m a peq uena g rad e de tem as e iniciativas que sua m ulheres a in terro m p er gestaçõ es inviáveis, etc. D ep ois
co m u n id ad e de autoras trab alh a - isso p o d erá ajudá-la a dc ter acu m u lad o u m a b o a exp eriên cia, em p arceria co m
af in ar seus interesses co m a p o n ta do deb ate nacion al um coau tor, M arcelo M ed eiro s, e u m a d ed icad a equipe
e in tern acio n al sob re os tem as q ue deseja pesquisar. N ão de pesq uisadoras, realiz am os um estu d o ousad o — a
co n f ie apenas em sua in tu ição ou nas leituras acu m u lad as 1'esquisa N acio n al do A b o rto (PN A ). C o m esse estu d o,
d u ran te sua g rad u ação . Faça um a peq u ena revisão nós co n seg u im o s ap resentar dados e perfis nacio nais n u n ca
b ib liog ráf ica sobre as p ub licações dessas autoras antes antes co n h ecid o s sob re as m ulheres que ja ab o rtaram .
de nossa p rim eira co nv ersa. N ão precisa ain d a estu d ar os Lideram os u m a eq uipe de dezenas de pesq uisadoras de
texto s, seja u m a tu rista textu al. U m a visita p an o râm ica cam p o , o q ue exig iu u m a hab ilidade diferente da pesquisa
aos texto s sera m u ito util. Seu p rod u to deve ser u m a grad e solitária - a cap acid ad e de geren ciar u m a equipe diversa e
em duas colunas: a co lu n a da esquerda deve ter os títulos num erosa.
fu n cion ais; a co lu n a d a d ireita, os prob lem as de pesquisa.
O nosso p rob lem a de pesq uisa era co n h ecer a
M as o que é u m p rob lem a de pesquisa? U m prob lem a m ag n itu d e do ab o rto ilegal e inseg uro no Brasil, além de
de pesq uisa não é um in cô m o d o , no sentid o em que identificar m éto d o s, percursos e redes de cu id ad o utilizados
u sam os a palavra “p rob lem a” rotin eiram en te: “Esto u co m pelas m ulheres p ara ab o rtar. Para lev an tar essas in f o rm açõ es,
u m p rob lem a: d o r de cab eça”. Em pesq uisa, prob lem a é seria preciso f alar d iretam en te co m as m ulheres, m as co m o
lo caliz á-las, sem fragilizá-las? D ep ois de m u ito revisar a
^iC^ayne, Bo o th; C o lo m b , G rego ry ; \C^illiam, Jo sep h. A ar t e d ap e s q u is a. São Paulo : literatu ra n acio n al e in tern acio n al, e ten d o acu m u lad o
M artins Fo ntes, 2 005.

26 27
Dehorj Diniz
(jiit dc iwm orhninJora
í

u m a b oa exp eriên cia co m o u tras pesquisas sob re o tem a, N em to do s os m anuais de m eto d ologia trab alh am

resolvem os utiliz ar u m a técn ica de lev an tam en to de dado s .t ,»m


I
esse co n ceito de prob lem a de pesquisa. Seu princip al

co n h ecid a co m o “ técn ica de u rn a” em u m d esenho q uali- M ibsiituto no linguajar de m éto d o s de pesquisa é o de

q u an titativo de pesquisa.® Perco rrem o s as capitais d o país, ttltjftivo geral ou pergunta.^ En ten d a- o s co m o sin ôn im os.

en trevistam os 2 . 0 0 2 m ulheres co m a u rn a e 1 2 2 m ulheres 1 li gosto de trab alh ar co m a ideia de ob jetivo geral, pois

co m entrevistas gravadas. N en h u m a m u lh er se recu so u a |,u ilita a d ef in ição de ob jetivos esp ecíficos, que são os nossos

p articip ar de nosso estu d o e co n seg u im o s m o strar u m a gíiias para a m eto d o lo g ia e as técn icas de lev an tam en to de

realidade esco n d id a sob re o ab o rto . D esd e q ue co m ecei j.u lo s. Só nesta fase inicial de sua im ersão no universo

a pesq uisar e a p u b licar sob re o tem a do ab o rto , eu tin h a essa il.i pesquisa é que m anterei a m en ção a prob lem a de

in q u ietação sob re a m ag n itu d e e as histó rias das m ulheres, pesquisa”, pois acred ito que seja u m ch am am en to m ais

m as tive q ue esp erar q uase 15 anos p ara solucioná-la. liiiuitivo à reflexão. A ssim , p ara nosso prim eiro en co n tro
depois d esta carta, já cheg ue co m respostas à p erg u n ta:
Esse exem plo não é p ara assustá-la ou fazê-la im ag in ar ,|ual o seu prob lem a de pesquisa? O tu rism o textu al nos
q ue precisará necessariam ente esp erar u m a d écad a p ara lu rrícu lo s e p ub licações, insp irad o p o r alg u m as ho ras de
co n d u z ir u m a pesq uisa. D u ran te esses 15 anos, fiz estudos leflexão solitária, resultará em u m a bela tab ela em duas
q ue consid ero m u ito im p o rtan tes p ara o deb ate p o lítico («)lunas. Seu p rim eiro exercício de co n trição será me
e acad êm ico sob re o tem a. E tod os eles m e satisfizeram apresentar apenas três possibilidades de título fu n cion al,
in telectu alm en te. A lg u n s deles f o ram lo cais, p ontuais co m seus respectivos prob lem as. C o m o já ded uz iu, o título
ou m esm o tím id o s q u an to ao uso d a evidência em p írica. funcional é u m a frase cu rta q ue rep resen tará seu tem a de
O prim eiro texto q ue escrevi sob re o tem a analisava u m pesquisa. Para cad a títu lo f u n cio n al, u m ú n ico prob lem a.
ú n ico p rocesso ju d icial. O q ue eu q ueria co m p artilh ar N em m ais n em m enos do que isso p o r enq uan to .
co m v o cê é que não b asta u m bom tem a ou u m a b oa
ideia, é preciso seriam ente pensar em co m o exp lo rá-la p ara
ter u m a pesquisa acad êm ica que se realize no in tervalo
disponível para u m a m o n o g raf ia de g rad u ação . A lém disso,
não se espera de v o cê u m estu d o n acio n al co m m ilhares
de p articip an tes o u sob re tem as tão sensíveis q u an to o
ab o rto ou o tráf ico de drogas. H á q uestões q ue ro n d am
seu co tid ian o e q ue não exig irão tan to s recursos p ara sua
investig ação . Po r isso, pense nos seus interesses e desejos
p ara a pesq uisa, m as tam b ém avalie de q ue m atéria-p rim a
disp óe p ara co stu rar sua p ro d u ção textu al. *

* A técnic a de urna co nsistia na ap resentação de um a urna secreta o nd e a m ulher


d ep o sitav a um a céd ula c o m respo stas a cinco p erguntas. N a céd ula que utilizam o s
estava a p erg unta se ela já hav ia realizado um abo rto . A céd ula era anô nim a, o que ’ O s m anuais de m eto d o lo g ia dos saberes b io m éd ico s utilizam p referencialm ente
p erm itia a p ro teção d a id entid ad e d a m ulher. “o bjetiv o geral” .

29
28
EN C O N T RO C O M A PESQ U ISA

Eu tin h a dito q ue esta carta não era u m tratad o de


m eto dologia. A cred ite q ue não m udei de ideia nem m e
perdi nas palavras. Só não co nsigo escrev er sobre nosso
en con tro de o rien tação sem en f ren tar três unidad es b ásicas
de um projeto q ue os m an u ais de m eto d o lo g ia co n sid eram
indispensáveis p ara p en sar a pesquisa: títu lo fu n cion al,
prob lem a de pesquisa e p alavras-chave. T alvez seja u m
vício de professora de m eto d o lo g ia, p o r isso p eço desculpas
ãs orientad oras sem esse duplo p ercu rso . H á m u ito m ais
nos m an u ais de m eto d o lo g ia - a d ep ender da ousad ia
dos autores, é possível en co n trar desde filosofia d a ciên cia
até q uestões de f o rm atação do texto o u revisão ética dos
dados. Esta carta não é u m m in itratad o de m eto d ologia
resum ido em m etáf o ras de co z in h a ou co stu ra. O s b ons
m anuais de m eto d o lo g ia serão alg u m as de suas p ró xim as
leituras. A lg u n s deles estarão referenciados nas notas de
rod apé, m as, co m o tod as as sugestões de leitura, essas são
preferências m in h as, q ue v o cê certam en te d escob rirá se
( 4itu iir mt\$k orictUMÍora Debon Din ii

tam b ém seráo b oas escolhas p ara v o cê. V o cê tam b ém fará O m eu papel nesta fase é an tecip ar q ue ingredientes
suas escolh as, terá suas pref erências. não co m b in am em u m a m esm a receita. O sab or só será

ilcgustad o ao final.
Po r isso, ouso resu m ir o tem a d a carta, im ag in an d o
q ue eu seja cap az de co n ter a sua in terp retação do que leu T en te não ser m etaf ó rica, alegó rica o u irô n ica co m
ate agora. Esta e u m a carta sob re o en co n tro intelectu al o títu lo f u n cio n al. Seja generosa co m ele. A té m esm o
que se ch am a o rientação . O sentido d a o rien tação será porq ue a m etáf o ra exige precisão p ara q ue o referente seja
exatam en te seus interesses e desejos de investigação, aqui eficaz na co m u n icação . N esse m o m en to de sua pesquisa,
resum id os pelo p rob lem a de pesq uisa. O títu lo f uncional precisão é algo ain d a d istan te a ser alcan çad o . A cen a
é a p rim eira coisa q ue escreverá p ara no ssa conv ersa e que gosto de im ag in ar é que o títu lo f u n cio n al precisa
d escob rirá que será o derrad eiro arrem ate d a co stu ra de de.screver e an tecip ar sua pesquisa p ara u m a in terlocutora
seu texto daq ui a u m an o , ao term in ar a m on o g raf ia. Q u e de elevador, aquelas cenas rápidas da vid a co tid ian a em que
tal in terro m p er a leitura desta carta e já p en sar q ual título as pessoas irão lhe p erg u n tar o que v o ce esta estu d an d o? .
f u n cio n al é o m elh o r dos três desenhados na tab ela que (Jo n sig a resp onder co m clareza e ob jetividad e eu
sugeri? N ão se acan h e. X alvez eu não leia o q ue v o cê escreve estou estu d an d o ...”. E , tão im p o rtan te q u an to essas duas
neste m o m en to , p o rtan to , não deixe q ue seu filtro afetivo a propriedades, clareza e ob jetivid ade, e preciso tam b ém
im p eça de criar livrem ente. b revidade, po r isso no m áxim o 15 palavras. N ão sofra co m
a atual p ob reza estética de seu titu lo f u n cio n al, pois ele não
Se n ão sabe o que u m títu lo deve co n ter, faça o fará p arte de sua m em ó ria acad êm ica. Ele é fu n cion al, e
exercício de tu rism o textu al que sugeri há p o u co nos sua utilidade está em resum ir, an tecip ar e co n tro lar seus
cu rrícu lo s, artig o s e livros de autoras que ad m ira. A n o te ím petos criativ os, q ue serão vários nesta fase inicial de
alg uns dos título s das ob ras, avalie quais deles co m u n icam
def inição da pesquisa.
m elh o r os co nteúd os e pense nas razões. Esse passeio
p o d erá insp irá-la p ara as p rim eiras tentativ as de dizer em T alvez v o cê esteja se p erg u n tan d o de on d e sairão
15 p alavras o q ue certam en te p recisará de m u itas páginas as 15 palavras do títu lo f u n cio n al. U m a saida e o senso
em breve.'® A verdade é q ue v o cê in iciará seu texto pelo co m u m acad êm ico , aquele co n ju n to de in f o rm açõ es
titu lo f u n cio n al e, ao final de u m an o , será em torn o que v o cê acu m u lo u d u ran te a g rad u ação . O u tra saída
dele que f ará seu arrem ate final. D u ran te m u ito s m eses, é escolher as 15 palavras a p artir de fontes seguras. U m a
o títu lo f u n cio n al será co m o u m term ô m etro q ue vigia a estratégia co nsiste em b u scar alg u m tesauro disponível
tem p eratu ra do fo rno p ara o co z im en to d o b olo. M as ele sobre o tem a de seu interesse. T esauro é u m d icio n ário de
será p erm an en tem en te m o d if icad o , revisado, m elh orad o. term os reco n h ecid o pelos cam p o s que ap resenta u m b om
ap an h ad o das p alavras-chave utilizad as pelas autoras.
A lguns m anuais sugerem 12 palavras y o h n Cresw ell d efend e essa p ro p o sta para Em geral, q u em elab ora os tesauro s são au to ras de refcrêiu i.i
a língua inglesa). M inha exp eriência é q u e três palavras ad icio nais são terap êuticas
em u m cam p o em p arceria co m cientistas da inf orm ação.
p ara as escrito ras m ais p ro lixas. Várias revistas acad êm icas já d eterm inam o lim ite
m áxim o d e palavras p ara o título e instituíram a catego ria títu lo co rrid o , o u seja, Para q u em estu d a ed u cação , po r exem p lo, o Instituto
um a v ersáo m inissaia d o títu lo p ara a p u blicação .

32
C u t i d e um a o rientadora D e b o t a D in iz

N acio n al de Estu d o s e Pesquisas Ed u cacio n ais (Inep) exagerad o: sem co n tar as v írgulas, f o ram 41 palavras.'^
possui u m tesau ro o n - l in e." O tesau ro irá ajudá- la, pois U om o tem p o , o lon go títu lo se viu reduzido a So bre
resum e o que o u tras pesq uisadoras já co n sid eraram co m o st liberdade de im prensa. T alvez v o cê consid ere que as 41
b oas p alav ras-chave p ara d escrever seus estudos. C am p o s palavras de D id ero t f o ram m ais precisas q ue as cin co a que
de pesq uisa co nsolid ad os po ssuem seus p ró prio s tesauros. xc viu reduzido o títu lo , m as na co m u n icação cien tíf ica é o
Eu já trab alhei co m u m tesauro p ara estu do s de gênero, resum o q u em o cu p a esse esp aço d a precisão. C o m revisões
o u tro p ara estudos legislativos e p olíticos, o u tro p ara ile p o n tu ação e en q u ad ram en to n a lin g u ag em acad êm ica,
estudos em direito penal e o u tro p ara b io ética, só p ara citar o títu lo - tratad o de D id ero t estaria b em p ró xim o do que
alg u n s.’ ^ Sugiro q ue f aça u m a cu id ad osa b u sca eletrôn ica você d esen h ará co m o o resum o de sua m o n o g raf ia de
p o r tesau ro s, e náo se lim ite à lín g ua p o rtu g u esa. Essa será grad uação.
u m a b o a surpresa q ue ajudará seu p rim eiro exercício de
criação textual.^^ Sup erad a a aflição sob re a eco n o m ia do título
funcio nal, h á u m a d ica preciosa p ara p ensar em co m o
O u tra in q u ietação co m u m é a p erg u n ta de p o r que clab orá-lo. T o m e n o ta das p alavras-chave utilizadas pelas
reduzir sua im ag in ação a 15 palavras, se D en is D id ero t autoras nos artig o s em p erió dico s acad êm ico s. A lg u m as
ad o to u co m o títu lo de u m de seus m an u scrito s o seguinte revistas utiliz am “ d escritores” ou “u n iterm o s” co m o
tratad o : C arta histó rica epo lítica endereçada a um m agistrado .sinônimos para p alavras-chave. Se o títu lo f uncional
so bre ó co m ércio da liv raria, seu estado antigo e atual, suas resum e sua in ten ção de pesquisa em 15 palavras, as
regras, seus priv ilégio s, as perm issõ es tácitas, os censores, os palavras-chave d evem ser ain d a m ais precisas: em geral,
v endedo res am bulantes, a trav essia das po ntes e outros objetos as autoras se lim itam a três ou cin co palavras p ara descrever
relativ os à po lítica literária}^ U m a respo sta b em - h u m o rad a o assunto de cad a artig o . Eu sugiro q ue trab alh e co m
seria porq ue você ain d a não co n q u isto u a liberdade três nesta fase d a pesquisa. T en te n ão inventar p alavras-
p an f letária de D id ero t, q ue escrevia co n tra a cen su ra à chave, evite expressões m etaf ó ricas e persiga a exatid ão .
livre circu lação das ob ras literárias. M as, m esm o p ara C 'ertam ente v o cê se sentirá u m p o u co co n stran g id a em
o au to r de A enciclo pédia, esse título deve ser consid erad o sua cap acid ad e criativ a e expressiva ten d o q ue trad u z ir suas
idéias em p alavras-chav e já estab elecidas p o r o u tras au toras,
" o tesauro d o Inep está d isp o nív el em : <http :/ / po rtal.inep.gov .br/ pesquisa- m as lem b re que esta é u m a etap a ain d a b astan te inicial de
thesaurus>. A cesso em : 10 mar. 2 0 1 2 .
sua pesquisa. V o cê terá tem p o suficiente p ara redescrever
Bruschini, C ristin a; A rd aillo n, D anielle; Unbehau m , Sand ra G . T esau ro p ar a
estu dos d e g ên ero e so bre m u lheres. São Paulo : Ed ito ra 34/ Fu nd açáo Carlo s Chagas, o q ue, hoje, p od e p arecer insuficiente. O d o m ín io das
1998; Bu rto n, W illiam C . B u rto n s le g al thesau ru s. 4 . ed . N ew Yo rk; M cG raw -H ill, palavras-chave é u m passo seguro p ara o desenho do
2 0 0 7 : Kenned y Institute. B io eth ic s thesau ru s 2 0 0 1 . W ashing to n: Kenned y Institute
o f Ethics, 2 0 0 1 ; Tribunal Sup erio r Eleito ral. T esau ro d a Ju s t iç a E leito ral. 7. ed.
título f u n cio n al. Esse será seu prim eiro p rod u to de escrita
Brasilia: C o o rd enad o ria de Ed ito ração e Publicaçõ es, 2010. acad êm ica.
O s m elho res tesauro s estão em língu a inglesa, o id io m a m ais utilizad o pela
p esquisa acad êm ica. U m a bo a referência é o tesauro d a Unesco : <http:/ / databases.
unesco .o rg/ thesaurus/ >. A cesso em : 10 mar. 2012.
'■ * C hartier, Ro ger. D id ero t e seus co rsário s. I n : _______ . In screv er & ap ag ar. São
Paulo : Unesp , 2 0 0 7 . p .285. O liv ro fo i escrito em p arceria co m Jean D ’A lem bert no século X V II.

34
m m m m
( j r u Je iin u orieiiuJorn
Dcttom Diniz

M as co m o escrev er u m p rob lem a de pesquisa? V ocê que as possibilidades são m uitas - , p o rtan to , seu prim eiro
já tem o títu lo f u n cio n al e ele será seu term ô m etro p ara o exercício será selecio nar q uais d em arcam a id entidade de
prob lem a de pesq uisa. O s dois p recisam estar em estreita sua pesquisa. A seleção das p alavras-chave d ará b oas dicas
co n exáo e h arm o n ia. V ou sugerir u m a f orm u lera, b astan te ) p ercu rso q ue v o cê deseja exp lo rar n a pesquisa, na
sim ples, m as que tem ajudado jovens pesq uisadoras revisão d a literatu ra e, m ais im p o rtan te ain d a, n a escrita
a o rg an iz ar suas idéias. Essa f orm ulera é u m resum o de seu texto . Sob re esse m esm o co n ju n to de p alavras-
in telectu al de dezenas de m an u ais de pesq uisa que m e chave e esse m esm o p rob lem a de pesq uisa, exem plos
in sp iram , m uito s deles b em d etalh ad o s e sofisticados ile títulos funcionais p o d eriam ser: M ulheres e educação
q u an to a ap resen tação d a seção d eclaração de ob jetivo de %superio r: um a etno grafia do estigma na U niv ersidade de
pesq uisa”. En ten d a m in h a f orm ulera co m o u m a d ica q ue, Hrasüia, ou Educação e estigm a: um a análise de pro gram as
certam en te, v o cê irá ap rim o rar co m suas leituras d u ran te o univ ersitário s para pessoas com deficiência física. N o v am en te,
sem estre. Ela se tran sf o rm ará em sua d eclaração de objetivo perceb a co m o os títulos in d icam estudo s m u ito diferentes,
geral. M as confesso q ue eu m esm a p arto dela q uan d o vou m esm o que em to rn o de p alavras-chav e sem elhantes e
in iciar u m nov o projeto . É u m gu ia seg uro p ara o rg an iz ar os do m esm o p rob lem a de pesq uisa. A s co m b in açõ es são
prim eiros pensam entos, pois m e ob rig a a p en sar o ob jetivo [ inúm eras, p o r isso dediq ue-se a pensar sob re a m ensagem
em term o s de suas unid ad es b ásicas de texto e de ló gica que cad a u m deles tran sm itirá a sua leitora. V o cê fará seu
arg u m en tativ a. A d eclaração de u m p rob lem a de pesquisa prim eiro exercício efetivo de co m u n icação cientif ica.
deve seguir a ord em d ireta, sem adjetivos, co m verb os claros
e de investigação , co m d elim itação d a unid ad e de análise e
reco rte tem p o ral. A q ui está a f orm u leta n ad a secreta:
O g rilo d o tre m o r

M eu p rob lem a de pesquisa é [verbo] [variável]


[unidad e de análise] [recorte tem p oral] Eu sei que não é fácil en f ren tar de saída seu títu lo
f uncio nal, seu p rob lem a de pesquisa e as p alavras-chav e.
U m exem plo: M eu prob lem a de pesq uisa é [analisar] Eles serão o co ração pulsante de seu projeto e estou lhe
[o estig m a da deficiência] [entre m ulheres cadeirantes pedind o q ue inicie exatam en te p o r eles. T o d as as vezes que
estu d an tes d a U niv ersidade de Brasília] [após a criação do escrevo essas seções de u m novo p rojeto , exp erim en to u m
Pro g ram a de A ten d im en to à D eficiência]. m isto de trem o r e felicidade. O trem o r nos aco m p an h ará

í po r to d a a trajetó ria acad êm ica. M eu con selh o é que


Im ag in e q ue p alavras-chave in sp iraram esse aprend a a co nviver co m ele. D e tan to trem er pela criação ,
p ro b lem a e que títulos funcionais p o d eriam descrevê-lo. resolvi co rp o rif icar esse espírito teim oso que faz m in h as
A s p alavras-ch ave p o d eriam ser: estig m a; d iscrim in ação ; m ãos o scilarem n o teclad o. Eu o ch am o de m eu grilo do
d ef iciência; deficiência física; im p ed im en to co rp o ral; trem o r: n u n ca o deixo m e d o m in ar, m as não esq ueço que
gênero; m u lh er; ensino sup erior; po lítica de ed u cação . V eja ele acen a p ara a p ru d ên cia. Se im ag in a que será feliz na
que h á p alavras-chave em excesso nessa lista - u m sinal de

36
37
(2irm d e u n u o ríeitru Jo ia ' í) eh o n i O in iz

co m p an h ia do grilo , in terro m p a a leitura uns m in u to s e seu caso no projeto de pesquisa - o u ao f alar pela p rim eira
ap resente-se a ele. vr/. sob re u m a pesquisa são sinais de cautela acad êm ica:
nossas intu ições ain d a p recisam ser testadas e esses são ritos
É nesse jo g o entre reco n h ecim en to e silenciam en to juíblicos de en u n ciação . C o n h ecerem o s nossas críticas pela
d o grilo do trem o r q ue o prazer m e aco m p an h a en q u an to prim eira vez, e o grilo já terá ficado p ara trás. O tem or,
pesq uiso e escrevo. A s idéias en tram em eb ulição e o lío co n trário , im p ed irá que v o cê se lan ce co m o auto ra.
resultado é u m certo trem o r nas m ãos en q u an to digito. A o M anterá v o cê no silêncio im p o sto pelo m ed o. N ão se
m e d esnud ar pelo q ue escrevo, co m o aco n tece ag o ra, u m {•Nt|ueça: aceite-m e co m o sua leitora-o uvid ora e af ug en te o
novo ciclo de exp osição p úb lica se inicia. Sim , eu aind a não lom or de sua in iciação à pesquisa acad êm ica. Só o trem o r
havia lhe d ito isso: escrev er é se exp o r p u b licam en te. M as é criativo.
p en sar é tam b ém cu rar as feridas d a in q u ietação , co m o diz
M ia C o u to .’^ Se v o cê já teve u m b log n a ado lescência, sua
nova exp eriência co m o au to ra será d if erente - agora v o cê
terá leitoras extern as à red e social autoriz ad a a 1er seu blog.
Eu serei u m a delas, e seu grilo , seu p rim eiro crítico . Po r
favor, não suspire: o seu grilo é só seu e dele é q ue ouv irá as
críticas m ais im p o rtan tes. V ocês sem pre estarão sozinhos.
O s h u m an o s virão depois de seu grilo. Eu só farei a leitura
seg uinte e p ro m eto q ue serei cuid ad osa co m sua ansiedade.

M as não co n f u n d a o trem o r que aco m p an h a a


criação co m tem or. T rem o r e tem o r são estím ulos corp orais
e m en tais m u ito diferentes e levarão v o cê p o r diferentes
cam in h o s na criação . O tem o r inib irá sua lib erdade de
p en sar e, em b reve, de escrever. Ele a em u d ecerá. N em o
grilo n em eu p od em o s lhe im p o r m ed o , pois essa é a pior
cen su ra q ue p od e existir p ara u m a aspiran te a pesq uisadora
e escrito ra acad êm ica. O trem o r é u m sinal d a p rud ên cia
criativ a q ue tod as tem os q ue desenvolver. Ele se expressa
pela excitação da d esco b erta, pelas pausas em q ue os dedos
não nos o b ed ecem n o teclad o e nad a é escrito n a tela, ou
pelas exp lorações sem ru m o pela b ib liografia. O s trem ores
q ue sin to ao escrever sob re u m tem a novo - co m o será o

C o u to , M ia. Q u eb rar arm ad ilhas. In: E se O bam a fo s s e afric an o ? Sáo


Paulo : C ia. das Letras, 2 0 1 1. p. 9 9 - 1 0 6 .

38 39
EN C O N T RO C O M O T EM PO

A ssim co m o v o cê, eu valoriz o o tem p o . Bem


planejado, ele m e p erm ite ouvir, ler, aprender, criar, escrever
ou vag uear. Eu ten h o diferentes f orm as de v ag u ear —
a leitura é só u m a delas. Po r isso, cu id o de co m o uso m eu
tem p o e o tem p o de q u em se relaciona co m ig o . A ssim , p eço
que tam b ém consid ere seriam en te co m o irá usar o m eu
tem p o p ara ouvir, ler e conversar sob re suas ideias e texto s.
Eu sei o q u an to a espera é an g u stian te p ara q u em ain d a
tateia a voz de au tora e deseja ou v ir sua p rim eira leitora.
Ao term in ar u m texto , v o cê ag u ard ará co m ansiedade
m in h a leitura. N ão precisa se an g u stiar an tecip ad am en te,
você tem nesta carta u m a prom essa escrita - se cu m p rirm o s
nossos aco rd o s q u an to ao uso d o tem p o , v o cê não sofrerá a
an g ú stia d a espera pela leito ra-ouvid ora. Eu estarei ao seu
lado, m as p ara isso v o cê precisa cu m p rir os acord os que
f irm am os q u an to à vivência do tem p o em co m u m .

Para q ue o seu tem p o se en co n tre co m o m eu tem p o ,


é preciso que d esem b rulhem os um a palavra ad orad a
C^rCHdeumaorícmâdont ' '■ D chom ü In U

pelas ad m in istrad o ras e pelas professoras de pesquisa — ( íiam o essa regra de pacto do tempo . Q u ero q ue sinta
p lan ejam en to ”. A q ui a usarem os in tu itiv am en te q u an to (jiialqucr ru p tu ra do p acto do tem p o co m o u m a q ueb ra de
ao sentido: o p lanejam en to é aq uilo q ue o rg an iz a etap as, | )mmcssa que f irm arem os neste in stan te pelo p erío do que
tarefas e prod u to s. Para cad a um dos m o m en to s da iliirar nosso en co n tro de pesquisa. C o m o em u m có d ig o
p ro d u ção acad êm ica, precisam os d eterm in ar prazos. Po r Î dc hon ra entre duas m ulheres, .pare a leitura e assu m a o
isso, a unid ade b ásica de p lanejam en to é o “uso do tem p o ”. pacto do tem p o co m o seu. A p artir de ag o ra, n en h u m a
V iverem os a p artir de hoje u m en co n tro entre pelo m eno s (Ic nós desresp eitará prazos e acord os. C om algum as
dois tem p os - o seu n a elab oração do projeto de pesquisa diferenças e p articu larid ad es, acred ito que esse é u m estilo
e n a red ação d a m o n o g raf ia e o m eu co m o sua leitora- co m p artilh ad o p o r q uase tod as as orientad oras que já
ouv id ora. M as, n a verd ade, é m ais do q ue isso: nossas con h eci, então não m e consid ere exagerad a.
histórias intelectuais se cru z arão in ten sam en te d u ran te esses
dois sem estres. N ossas leituras, inq uietações e d escob ertas
serão tem as p erm an en tes de nossas conversas. Irem os tro car
U so d o tem p o
leituras e desventuras d o texto . A felicidade e a riq ueza desse
en co n tro d ep en derão m ais de v o cê d o q ue de m im . Po r
N ão acredite em pessoas geniais. M u ito m eno s
isso, falarei m ais sob re co m o o rg an iz arem o s co n ju n tam en te
cm inspiração criativ a apenas pelo ó cio . C o m o ja disse,
nossos tem p os do que sob re q ualq uer exp ectativ a de
vaguear ajuda a pensar, m as não é suficiente p ara p rod uzir
genialid ad e criativ a solitária, pois o p lanejam en to é o que
um a m o n o g raf ia de grad u ação . A p ro d u ção acad êm ica
p erm ite o trab alh o em equipe. Sim , o u tra novidad e: nós
é resultado de u m g ran d e esforço in telectu al, de u m a
duas som os u m a eq uipe o u , co m o prefiro nos descrever,
curio sid ad e insaciável e de u m im en so senso de suspeita
som os u m p ar in telectu al.
sobre o q ue ach am o s já saber. U m a suspeita deve se m an ter
co m v o cê a p artir de agora: antes de se crer dian te de
A cred ite que h á m u itas v antag en s nesse m o m en to de
u m a g ran d e d esco b erta, desconfie de sua ingenuid ad e e
exercício d a au to n o m ia acad êm ica, m as a criação dependerá
lem b re-se de q uan tas pesq uisadoras v ieram antes de você.
f o rtem en te da o rg an iz ação de seu tem p o . A b aixo exp o n h o
A cad a ím p eto de genialid ad e solh aria, saia a p ro cu ra
a f o rm a co m o gosto de trab alh ar, o q ue p erm itirá a v o cê
de u m n o m e de au to ra que d esco n h ecia. V erá que b eleza de
av aliar an tecip ad am en te co m o p od erem os n eg o ciar estilos
en ciclop éd ia estará à sua disp osição. Isso não sig nifica que
e ritm o s de trab alh o . A lém de m in h a p ró p ria agen d a de
o passado deva in tim id á-la, m as apenas que a certez a da
pesq uisa e de atividades profissionais, v o cê é u m a entre
anteriorid ade nos m an terá sem pre co m o autoras cautelosas
várias orientan d as que tam b ém ag u ard am a leitura
d ian te do texto e d a pesquisa. C o n h ecer q uem escrev eu e
aten ta dos texto s. Isso sig nifica q ue, p ara h o n rar m in h as
p ensou sob re seu tem a é u m ato de sab edoria e de firm ez a
responsab ilidades acad êm icas co m tod as elas, e ag o ra co m
in telectu al. A cred ite que h á u m efeito tran q u iliz ad o r no
v o cê, n ão p od e haver queb ras em nossos acord os. Q u eb rar
exercício de “revisão d a literatu ra”: co n h ecer outras au to ras
u m aco rd o não a levará a u m cad af also, m as ro m p erá co m
a regra m ais b ásica de f u n cio n am en to de nosso en co n tro .

42 43
11 .1'!'M*’""4|M
Curnt de uma orientadora Dehoru DIniz

e vozes acalm a nosso espírito inq uieto , q ue se m o v im en ta ch am ar a aten ção sob re o tem p o que se p ro m eteu p ara essa

co m o se tu d o ain d a precisasse ser feito. taref a: a ú n ica cen so ra de si m esm a será v o cê. Q u ero apenas
que acred ite nesse m eu p rim eiro co nselho de p lanejam en to

H oje v o cê in icia o seu p rojeto de co n clu são de cu rso - sem a o rg an iz ação do tem p o , não h á ritm o criativ o que
de g rad u ação . Registre o m arco zero n o cro n o g ram a que responda às regras do jo g o q ue lhe são im p ostas neste
aco m p an h a esta carta. Será u m dia m em orável p ara sua m om en to . V o cê tem apenas dois sem estres p ara ap resentar
histó ria acad êm ica. Eu ten h o u m a certa m elan co lia p o r não um p ro d u to que será avaliado p o r u m a banca.'® Esse
co n seg u ir m e lem b rar d o p rim eiro dia em q ue pensei em prod uto será sua m o n o g raf ia de grad u ação.
m eu p ro jeto de pesquisa de g rad u ação . Era início dos anos
A ssu m irem o s q ue suas respostas de hoje serão válidas
1 9 9 0 e eu estudava a m ig ração japo nesa p ara o D istrito
Eed eral n a ép o ca d a co n stru ção de Brasília. T rab alhei para o sem estre, certo ? Errad o . Sei q ue acab o de tirar de

co m a m em ó ria dos m ig ran tes m ais velhos. Para acalm ar você o senso de d esco b erta solitária sob re o prim eiro

esse v ácu o de lem b ran ça, ten to g u ard ar o registro vivido desafio de p lanejam en to do tem p o : co n ter o o tim ism o .

das ú ltim as horas em q ue term inei de revisar m in h a tese V erá n a terceira sem an a que terá m u ito m enos tem p o do

de d o u to rad o , u m estu d o teó rico sob re o relativism o e os que im ag in o u . A o m en o s, aliviarei seu co n stran g im en to

universais fem inistas de direitos h u m an o s, em finais dos de ver co m o seu p rim eiro planejam en to não f u n cio n ará.

anos 1 9 9 0 . R itu aliz e esse m o m en to inicial de seu projeto, Bem , isso a f o rçará a u m a escolh a: o u se reo rg an iz ará e

ele é especial p ara o seu presente e m ais ain d a p ara o seu au m en tará seu tem p o p ara a pesq uisa; ou assu m irá que tem

f u tu ro . m enos tem p o do q ue im ag in o u e o rg an iz ará m elh o r suas


tarefas de pesquisa. D escu b ra q ual tem p o é m ín im o p ara
D ep ois desse m o m en to solene, acred ito que esteja que possa co m p letar cad a fase do p ro jeto de pesq uisa e não
p rep arad a p ara as p erg u n tas que p ro v o cam p rof und os se p erm ita m eno s d o q ue o m ín im o . M as a co n sciên cia do
suspiros. V ocê terá cerca de 15 sem an as p ara elab orar o m ín im o exige u m exercício p erm an en te de sup eração . T en te
seu projeto.'^ O lh e p ara os 105 dias, d istrib uíd os em 15 a cad a sem an a se d ed icar m ais à pesq uisa. V erá que é u m a
sem an as, e respo nd a a estas duas p erg u n tas: a) q uantas taref a repleta de prazeres. E sua en d o rf in a intelectu al será
ho ras p o r dia reservarei p ara o projeto?; b) q uan to s dias p o r exp on encial: à m ed id a q ue m ais pesq uisar, m aio r p raz er
sem an a reservarei p ara o projeto? Para resp onder a elas, terá em d escob rir. M as, p ara isso, esq ueça o o tim ism o
ignore o tem p o em que se d ed ica a disciplinas de seu curso, nos plano s, seja sem pre realista em suas possibilidades e
caso ain d a ten h a que cursá-las enq u anto av an ça em seu af ug ente co m vig o r o espírito d a dispersão.
p rojeto. A s p ergun tas são exclusivas sob re a sua pesquisa.
Eu n ão preciso co n h ecer suas respostas, m as v o cê deve Po r exp eriência, sei que a p erg u n ta que aco m p an h a

m ira-las co m o u m segredo recém -d esven d ad o. Esse segredo seus suspiros é “em q u an to devo au m en tar m eu tem p o

será a m em ó ria de u m co m p ro m isso q ue v o cê assum e d ed icad o à pesquisa sem an alm en te?”. Só posso resp ond er se

co n sig o m esm a. Eu não serei u m esp ectro de C h ro n o s a lhe A q ui co nsid ero que seu trabalho d e co nclusão de curso sera lid o p o r sua
o rientad o ra, m as tam b ém p o r um a b anca de o utras p ro fessoras. Se nâo fo r esse o

Im ag ino q ue seja um a d iscip lina d e quatro ho ras sem anais d urante 15 i caso em seu curso , a av aliação será feita p o r sua o rientad o ra.

44 45
Carta d e u m a o rien tad o ra D c b o fíi D in iz

soub er q u an to tem p o d ed icará ao seu p ro jeto de pesquisa. cach o rro , telefone, televisão o u d eto x virtual.'^ O prob lem a
Se quiser, m e co n te n o p ró xim o en co n tro . M as con sid ero é que no d ia seguinte estav am d espertas pelas m an h ãs p ara
q ue é m u ito difícil levar ad iante o co n ju n to de tarefas que outras atividades acad êm icas ou pessoais, fossem aulas ou
a esp eram co m m enos de 10 ho ras sem an ais d ed icad as ao passeios co m o cach o rro . H av ia u m ritm o social q ue as
p rojeto, à pesquisa e à escrita d a m o n o g raf ia. O ideal é que co n stran g ia e elas acab av am n ão co n seg u in d o m an ter u m a
tod os os dias v o cê trab alh e em alg u m dos ciclos b ásicos d a ro tin a de pesquisa, pois os m o m en to s de exaustão e ru p tu ra
m o n o g raf ia - pesq uisa b ib liográfica ou de cam p o , leitura, eram con tín u os.
escrita e revisão. Se não for possível o rg an iz ar seu tem p o
de f o rm a a co b rir os q u atro d o m ín io s d iariam en te, que Eu , p articu larm en te, descob ri q ue prefiro estu d ar

ao m en os os o rg an iz e no d eco rrer d a sem an a. O ideal é pelas m an h ãs e escrev er à tard e. D ias inteiros livres são

q ue esse seja u m ritm o pensado em unid ad es diárias de perfeitos p ara escrever. Interv alos de peq uenas horas

atividades. A ssim , volte à resposta q ue m e deu sob re seu pod em ser p reenchid os co m a leitura de artigos breves.

tem p o reservado à pesq uisa e veja se disp õe das 10 horas N u n ca trab alh o à noite em atividades q ue exig em criação .

sem an ais e co m o pensa em distrib uí-las d iariam en te. Se C aso eu ten h a q ue realizar alg u m a taref a à noite, som ente

n ão está p ró xim a desse m ín im o , sug iro q ue se esforce p ara faço revisão do texto . M as p ara isso testei m in h a relação

ating i- lo . O q u an to antes assum i-lo co m o a m ed id a de sua co m o tem p o e d o m in ei m eu ritm o co rp o ral. À m ed id a

am p u lh eta, m elh o r p ara o seguim ento das etapas q ue nos que an o itece, m in h a leitura m u d a de estante - esq ueço

esp eram d u ran te os dois sem estres. Lem b re-se: pesq uisa é D o n n a Haraw^ay e leio O sam u D azai.^ ° A ssim co m o as

essen cialm en te u m of ício cu m u lativ o e p erm an en te. horas im p o rtam p ara a leitura e a escrita, o espaço em que
rep ousará seus ap etrech os p od e ser im p o rtan te p ara sua
co n cen tração . H á pessoas q ue só g o stam de 1er em casa,
vestindo pijam a. O u tras pref erem resp onder a m ensagens
R itm o s
ou realizar pesquisas b ib liográficas em cafés ou b ib liotecas.
H á u m a geo grafia d a p ro d u ção intelectu al que é sin gu lar
C o n sid eran d o q ue v o cê ten h a reserv ado m ais de
para cad a u m a de nós: f aça u m esf orço p ara d escob rir co m o
10 horas sem anais p ara os q u atro d o m ín io s - pesquisa
irá o cu p ar esses diferentes espaços n o tem p o de que disp õe.
b ib liográfica ou de cam p o , leitura, escrita e revisão —,
a o rg an iz ação de seus dias p ara a execu ção de cad a u m A o rg an iz ação d o tem p o entre essas q u atro taref as —
deles deve ser u m ajuste entre seus afazeres diários e u m pesquisa b ib liográfica e de cam p o , leitura, escrita e revisão
au to co n h ecim en to sob re o seu ritm o circad ian o . Exp lico - - será estab elecid a p o r v o cê. Só v o cê sabe q uan d o é m elh o r
m e sob re esse p on to . C o n h eci m uitas jovens pesq uisadoras
’’ D e to d o s esses agentes d e p erturb ação , só náo reco nheço o s cães. D eto x v irtual
q ue m e d iz iam q ue seu ritm o de estu d o era n o tu rn o ,
é o univ erso de redes e co m unicaçõ es v irtuais q ue passam o tem p o e p erturb am o
isto é, só co n seg u iam trab alh ar no p ro jeto à noite, q uan d o esp írito . É fácil reco nhecer no d ia seg uinte um a so brev iv ente d e o verdo se de d eto x

n ão tin h am in terru p çõ es, sendo as m ais co m u n s: m ãe. v irtual.


“ H á q u em d iga q ue só co nseg ue ler o u escrev er co m a televisão ligada. Sem
qu alquer ev id ência d e p esquisa, rejeito essa tese. A leitu ra exige so lid ão , silêncio
e co ncentração .

46 47
C ^ru Je iiniti oiir/iiM /o Dehom IVniz
: f '“ -.

escrev er o u 1er. Se ain d a n áo sabe, faça testes, descub ra-se pães: alg u m as vezes a pressa n ão p erm itia q ue o ferm en to
n o tem p o . Reserve a p rim eira sem an a de sua in iciação à crescesse a m assa, o u tras vezes eu n ão ajustava co rretam en te
pesq uisa p ara co n h ecer seus ritm os e tem p o s. In sp irad a; a tem p eratu ra d o f orno. R ap id am en te descob ri q ue m eu
nas nu tricionistas q ue p rescrev em d ietas p ara en g o rd ar desafio era a q uan tid ad e de açú car - u m erro de p u n h ad o e
ou em agrecer, an o te em u m a M olesk in e, a legendária o pão ficava sovado.
cad ern eta de Ern est H em in g w ay , seus h orários e estím ulos
p ara cad a u m a das q u atro tarefas. M as, assim co m o q uem ■ Para p raticar ioga, eu estudei, viajei à ín d ia e m e

está em d ieta náo p o d e m en tir no d iário alim en tar, n ão 1 m an ten h o ativa nas aulas. M eu eq u ip am en to b ásico se

se eng an e. Eu não lerei sua cad ern eta, p o r isso n ão h á po r reduz a u m tap ete e um cro n ô m etro . D u ran te m u ito

q ue sen tir v ergo nha. Ela será u m a p eça secreta e privada tem p o , eu co n seg u ia p raticar ioga sem tap ete, m as não

sua; a f u n ção é p erm itir u m estran h am en to de sua ro tin a sem cronôm etro.^ ^ Faça o m esm o : p ara co m eçar, u n a-

in telectu al n o tem p o . A cred ite em m im : seu b em m ais se a u m cro n ô m etro en q u an to b usca d esco b rir seu ritm o

p recio so , m as tam b ém m ais escasso, será o tem p o . H á de pesq uisa. Seu celu lar deve ter essa f u n ção , senão

m u ito o q ue 1er, pois o univ erso d a en ciclop éd ia q ue nos troq ue o aparelho ou arru m e u m cro n ô m etro ch arm o so .

an teced e e aco m p an h a é f ascinante. M eça o tem p o de q ue v o cê necessita p ara algum as tarefas


corriq ueiras de pesquisa. Já listarei algu ns itens b ásicos,
Eu acred ito em “trein o intelectu al p ara o uso do m as antes m e p erm ita acalm ar seus suspiros. Essas são
tem p o ”. A p rim eira vez q ue pratiq uei ioga m e lem b rei perg un tas q ue sem pre atem o riz aram m in h as orientan das
dos prim eiros pães que assei. N ão sou iogue n em coz in heira. e b astava eu enun ciá-las p ara alg u m as m e am eaçarem de
Só q ue descob ri q ue, até m esm o p ara m e m an ter firm e ab and ono. Elas ach av am que eu era u m a n eu ró tica co m o
em um a p osição, o tem p o im p o rtav a - em posições tem p o. N ão vou co n testar esse possível d iag n ó stico , m as
m u scu lares de f o rça, eu n ão co n seg u ia m ais do que trin ta m e dê a ch an ce de p ro v o car em v o cê a sensatez no uso do
segu nd os, ao passo q ue, nas p osições de alo n g am en to , tem p o . Em b reve, p o d erá ab an d o n ar o cro n ô m etro , m as
eu f acilm en te atin g ia os cin co m in u to s. M eu treino p o r en q u an to ele será u m b o m com panheiro.^ ^ Prep are-
co n cen tro u - se em au m en tar o tem p o de p erm an ên cia nos se p ara suspirar, pois estas são p ergun tas aleatórias sobre
ásanas de f o rça e ap erf eiço ar a estética d a p erm an ên cia diferentes tarefas de pesquisa:
nos ásanas de flexibilidade.^ * H o je ten h o ritm os m ais
eq uilib rado s, m as m in h a preferência pela flexib ilidade m e a) de q u an to tem p o preciso p ara ler u m a p ág in a de

exige co n tin u am en te p raticar a p erm an ên cia n a f o rça ou texto teórico?

no eq uilíb rio. E esse m esm o jo g o entre au to co n h ecim en to


e d iscip lin am en to d o co rp o que v o cê terá q ue desenvolver
p ara av an çar nas q u atro tarefas b ásicas da pesquisa. H o je, eu v ivo sem cro nô m etro e sem tap ete, mas náo aband o no m eu iPad e as

A lg u m as serão suas preferidas, m as terá q ue trab alhá-las aulas v irtuais.


A lg um as p esquisad oras co ntestam o cro nô m etro e d efend em p lano s de leitura
co n ju n tam en te. D a m esm a f o rm a m e ob servei assando d iária o u sem anal, tais co m o um livro p o r sem ana e d ez artigo s p o r m ês. O s
sistem as são p arecid o s, desde q ue se co nheça qual o ritm o d e leitu ra p ara cad a
“A sana” é o term o em sânscrito que rep resenta a técnica co rp o ral d a ioga. tarefa. O cro nô m etro é a m aterializ ação d o tem p o . Entend a-o dessa fo rm a.

48 ' 49
C jr t í Je u n u o r Ic n u Jo r ii
wm

b) de q u an to tem p o preciso p ara lo caliz ar u m a fonte


confiável nas bases de bibliografia?
s ík '

c) de q u an to tem p o preciso p ara fazer o f ich am en to


de u m texto de 2 0 páginas?

d) de q u an to tem p o preciso p ara escrev er um a


página?

e) de q u an to tem p o preciso p ara revisar u m a p ág in a


escrita?

Para co n tar o tem p o , an o te suas atividades em u m a EN C O N T RO C O M O T EX T O


segund a M olesk in e. Seu diário de leitura nâo p recisa ter
h istória m ítica p ara f u n cio n ar, p o d e ser u m a cad ern eta
q ualq uer ou u m p ed aço de papel q ue náo d esap areça em
sua escrivan in h a. M as seja h o n esta co m v o cê: an o te as A leitura será sua atividad e m ais b ásica de pesquisa.
in terru p ções, as d istraçõ es, os telefonem as, os lan ches, Ela terá de ser feita d u ran te to d o o períod o de elab o ração
as idas ao b an h eiro. E não p o n h a a cu lp a em seu cach o rro . do projeto e de red ação d a m o n o g raf ia. Ler é escolher,
A s cam in h ad as co m ele ajud am a pensar. Saiba exatam en te m uito m ais do q ue d eixar se d o m in ar pelo q ue cru z ar o
de q u an to tem p o precisará p ara en f ren tar um a nova seu cam in h o . N ão haverá u m m o m en to final em que v o cê
leitura ou in iciar u m nov o cap ítu lo d a m on o g raf ia. M as pod erá dizer “acab ei a revisão d a literatu ra”, sem elh an te ao
an tes de tu d o saib a p o r q uan to tem p o con segu e m an ter- m arco zero d a pesq uisa que já registrou em seu calen d ário .
se em regim e de co n cen tração . C ad a u m a de nós co m eça Esse an ú n cio é apenas u m a pausa f ictícia en q u an to se
co m um in tervalo de tem p o e, co m o q ualq uer p rática, descob re n a escrita. Sim , v o cê terá de d im in u ir o ritm o da
ele au m en ta a cad a d ia. A ideia desse exercício é co n h ecer revisão d a literatu ra p ara escrever, m as jam ais ab an d o n ará
as unid ades de tem p o necessárias p ara as atividades b ásicas a leitura, nem m esm o q uan d o estiver prestes a m e en tregar
d a pesquisa. V eja se essas são b oas p erg u n tas p ara o seu o texto final p ara a derrad eira revisão. A leitura nos inspira,
trein o intelectu al p ara uso d o tem p o ou se g o staria de perm ite desv end ar segredos nos dado s de cam p o , estim ula
sub stituí-las. os dedos p ara a escrita. N ão sei se a m ed icin a co n co rd a
co m o q ue sinto, m as acho q ue h á u m a co n exão neuron al
entre os olhos e as m ãos - q u an to m ais leio, m ais m eus
dedos fluem n a escrita. T alvez p ara as escritoras cegas, essa
co n exão seja en tre os ouvidos e os dedos.^'^

Já co nheci auto ras cegas que utilizav am p ro g ram as de co nv ersão d e vo z em texto .


A co nexão deve ser entre v o z e d edo s.

50
éf unu arhmoiiorti Dehonliinh

N a m in h a exp eriên cia co m o leitora-o uvid ora, me scr pega na có p ia in f am e. M in h a im pressão é que a leitora
surp reen d o co m o essa relaçáo entre olhos e dedo s, ou í b u ro crata não exp erim en ta a delícia das m ãos trem en d o
entre ouvidos e ded os, se rep ete entre as pesq uisadoras. para a criação . Eu a im ag in o repleta de fichas, n o tas,
A rep etição m e inspirou a descrevê-las p o r estilos. Eu n u n ca arq uivos, tu d o m ilim etricam en te o rg an iz ad o e sep arado
aco m p an h ei m in h as o rien tan d as lendo, m as pelo texto que cm sua escriv an in h a en q u an to escreve a m onog rafia. N ad a
m e ap resen taram fui cap az de im ag in ar q ue leitoras seriam . há de errado em ser o rg an iz ad a, eu ad m iro pesq uisadoras
Sem q uerer co m eter a im p ru d ên cia d a classificação , até m uito o rgan iz ad as, e m e esforço p ara ser u m a delas. M as a
m esm o po rq ue tod as nós so m os ú n icas nessa d esco b erta org an iz ação é u m m eio p ara a criação e não u m fim em si
de livros e escrituras, desenhei q u atro estilos de leitora: m esm o. O m érito d a leitora b u ro crata é ser excessivam ente
a b u ro crata, a atriz , a d esn o rtead a e a criad o ra. C laro que responsável e alg u ém co m acu m u lo suficiente de
h á variantes desses estilos; este é só u m exercício b em - co n h ecim en to p ara alg u m dia ro m p er o m ed o e v ir a
h u m o rad o p ara o rg an iz ar m in h as ideias sob re leituras e possuir u m a vo z. E m geral, a jovem pesq uisadora b u ro crata
leitoras. A ntes de apresentá-las, assum o m in h a pref erência - não m e traz dissab ores - eu é que m e m an ten h o à espera de
seja u m a leitora criad o ra. M eu esforço será p o r descrever os um su rto criativo.
sim ulacro s da criad o ra p ara inib ir-lhe q ualq uer ap ro xim ação
co m esses ou tros esp ectros de leitora. A n tecip o q ue não A leitora atriz é o co n trário d a b u ro crata. T o d as as

sou n eu tra na d escrição que f aço dos estilos de leitura e professoras já tiv eram alg u m a alu n a assim : ela não lê, m as

lem b ro q ue jam ais etnog raf ei m in h as orientan d as lendo. instantes antes de a aula iniciar passa os olhos no texto

O q ue agora lhe escrevo baseia-se em “ fontes secu n d árias” ou assunta o tem a co m suas colegas b u ro cratas. Isso é o

de pesq uisa, p articu larm en te os texto s q ue elas p ro d u z iram suficiente p ara assu m ir u m ar co m p en etrad o e reb uscado

no p erío do de orientação.^ ^ Em term os m eto d o ló g ico s, na lin g u ag em , e acred itar p articip ar ativ am ente d a aula.

co nsid ere m in h as fontes co m o p o u co confiáveis p ara o que Ela é u m a fingid ora de leitora. A leitora atriz n u n ca m e

passo a escrever. con ven ce, e sinto p o r ela u m a piedade m u ito m aio r que em
relação à b u ro crata. A b u ro crata m e inspira a p ro v o cá-la, ao
A leitora b u ro crata é aquela cap az de cu m p rir co m passo que a atriz m e af asta da escu ta ativa. A cred ito q ue a
as regras form ais d a pesquisa e, p o r isso, realiz a u m a bela leitora atriz seja u m a p regu içosa p o r háb ito q ue crê en g an ar
revisão da literatu ra. Lê in can sav elm ente, repete co m a aud iência. M in h a dúvid a é se ela se reco n h ece em alg u m
precisão o que m uitas autoras disseram . M as dificilm ente m o m en to f ora do papel de in telectu al q ue representa. Em
cria, p o r isso ten h o d ificuldade em id en tif icar sua voz no geral, o m o m en to d a b an ca d a m o n o g raf ia de g rad u ação
texto q ue m e apresenta. Sinto que as vozes das autoras que é u m choq u e de realidad e p ara ela — o f in gim ento não
a insp iram em u d ecem sua p o tên cia criad o ra. Seu regim e a salvará da arg u ição oral.^^ Ao co n trário da leitora
de escritu ra é tam b ém b u ro crático - u m a co stu ra de b u ro crata, que é u m a cu m p rid o ra das regras, a leitora atriz
citaçõ es. N ão é u m a plag iado ra, longe disso. Seu espírito
cu m p rid o r das regras a af asta do risco d o plágio; ela tem e “ Im ag ino que seu curso tenha o rito d a arg uição o ral co m d efesa ao final da
m o no g rafia. Se não o tiver, sugiro que inicie um a d iscussão p ara sua im p lem entação ,
Fo ntes secund arias são aquelas não d iretam ente co letad as p ela p esquisad o ra. p o is é um m o m ento rico de fo rm ação p ara a o ralid ad e acad êm ica.

52 53
CÀ trta d e u n u o rien tad o m D eb o n i D in iz

é a q ue m ais rap id am en te su cu m b e ao p lan ejam en to , ao an tig o , Ela não acred ita em teses p rontas, duvida de q uem
ritm o p erm an en te e p ro f u n d o das leituras, às exigências lhe diz q ue as teorias serão cap azes de resp onder a tod as as
de criaçáo co m consistência. Em geral, é a leitora atriz q u em suas inq uietações. A leitora criativ a aprende rap id am en te a
fracassa na pesquisa acad êm ica séria, ap esar de ser u m a respeitar seu grilo do trem o r e duvid a tam b ém de si m esm a.
sobrevivente d u ran te o cu rso de g rad u ação e até m esm o É cautelo sa no que lê, é seletiva em suas au to ras, e tem
fazer sucesso em aud iências superficiais. calm a p ara avan çar. N ão se in tim id a co m suas colegas que
p ro cu ram im p ressio nar pelo o b scu ran tism o do texto ou
A leitora d esn o rtead a p ro v o ca co m p aixão em sua pela arro g ân cia de autoras e co n ceito s en q u an to d iscu rsam .
orien tad o ra, apesar de alg u m as vezes desafiar a paciência. Ela m e ouve co m respeito, m as tam b ém co m cautela. N ão
Esto u sendo hon esta co m você. Eu d escub ro as leitoras sou u m a m en to ra, só u m a leito ra- o uvid ora atenta. Serei só
d esnortead as na p rim eira co nv ersa sob re su a revisão da m ais u m a o p inião entre várias o utras.
literatu ra - ela n ão co n seg u e d if eren ciar a tese cen tral de um
artig o , perde-se em d etalh es periféricos de u m arg u m en to C o m o vê, não ten h o lim ites p ara elogiar a leitora
e sofre p o r essa p erd ição. Ela an d a rep leta de livros e faz criativ a. Eu não ten h o um a f o rm u leta, co m o a que
q uestão de m e m o strar os prazos da b ib lioteca, as últim as apresentei p ara en u n ciar o prob lem a de pesquisa, p ara
aq uisições, os texto s q ue arq uivo u em seu p ro g ram a de ensiná-la a ser u m a leitora criativ a e af u g en tar os espectros
bibliografia.^ ^ O p rincip al desafio da leitora d esn o rtead a é das outras leitoras. T o d as nós já f om os b u ro cratas ou
en co n trar ru m o s, p o r isso é a q ue m ais d em an d a atenção desnorteadas n a leitura, em especial q u an d o iniciam os
de sua orien tad ora. H á aqui u m a d if eren ça im p o rtan te a investigação sob re u m novo tem a. M as m uitas de nós
entre d esn o rteam en to e in o cên cia, esse ú ltim o u m estad o co n seg u im o s evitar o esp ectro da leitora atriz . Ela é u m a
n atu ral de u m a jo vem pesq uisadora d ian te do universo da fantasia alim en tad a pela arro g ân cia acad êm ica que ignora o
en ciclop éd ia que a ron d a. A leitora d esn o rtead a não sabe que h á de m ais sub lim e n a in telectu alid ad e - o verd adeiro
p o r on d e seguir e, alg u m as vezes, m esm o após boas listas prazer de 1er e d escob rir seu próprio texto nas vozes de
de leitura oferecidas pela o rientad ora, ela não é cap az de outras autoras. Po r isso, eu lhe p eço: n u n ca se co m p o rte
en co n trar o ru m o p ara ter u m a voz. M as eu sem pre acredito co m o u m a leitora atriz co m ig o . Eu m e co m p ro m eto a ter
que o n o rte p od e ser en co n trad o na vid a acad êm ica. p aciência co m seus su rto s b u ro cratas ou desnortead os,
em especial se eles f orem se to rn an d o raros à m ed id a q ue
C ertam en te há o u tro s tipos de leitoras, m as a leitora av an çarm o s n a pesq uisa. N ão há u m ciclo evolutivo en tre
criativ a é a q ue m ais m e en can ta. Ela tem em si o espírito os estilos de leitoras. A lg u m as já in iciam a vida acad êm ica
iro nista d a dúv ida, m as é tam b ém cap az de o u v ir e repetir co m o leitoras criativ as e, rap id am ente, exp lod em co m o
co m h on estid ad e e p aciên cia. Ela cu ltiva a sab edoria, sem autoras. Seja p aciente co m v o cê m esm a, m as não esq ueça
pressa pelo acú m u lo arq uiv ista que assola alg u m as leitoras que a leitura é o que fará seus dedos trem erem no teclad o e
b u ro cratas. A leitora criativ a é cap az de co m b in ar u m seu espírito se in q u ietar p ara a criação .
senso ag u çad o p ara o novo co m u m respeito suspeito pelo

A d iante falarei d o s p ro gram as d e biblio grafia.

54 55
(Jjiitíi Je unu orientadora Pchora Diniz

4^ 3

Sabe p o r que falei d a leitura em u m a carta sobre polícias dè f ro n to m ^ W co n h ecim en to q ue sup õem haver
orientação ? Porq ue ten h o u m a suspeita q ue q ueria dividir cred enciais para a auto rid ad e. A s b oas autoras p o d em estar
co m v o cê. A leitura é u m háb ito associai. Ela irá desafiá- na filosofia ou n a literatu ra.
la a ter p raz er soz in ha, em silêncio, af astad a d o convívio
de o u tras pessoas. V o cê sen tirá que essa é u m a experiência
im possível de ser co m p artilh ad a co m o u tro s h u m an o s.
H áb ito s de leitu ra
O s cach o rro s são b ons p arceiros nessa jo rn ad a. Eu batizei
m in h a cad eira de leitura de “p o ltro n a d a d iscó rd ia”, pois
Ler não é u m ato m ecân ico resultado de u m a b o a
b asta m e sentar p ara m eus dois cach o rro s d isp u tarem esp aço
alfab etiz ação. É u m exercício solitário de prazer. H á autoras
p ara se an in h arem . A lg u m as vezes, u m livro é o sinal p ara
m ais fáceis, outras m ais difíceis. O estatu to de dif iculd ade
q ue eles se an tecip em a m im em d ireção à p oltro n a. S om os
de u m texto não é ab soluto, m as u m ju lg am en to situado em
três n o silêncio d a leitura dividindo o esp aço de u m a só
um d eterm in ad o m o m en to de nossa trajetória acad êm ica.
leitora. Para m im , ler é ter prazer n a solid ão, acalen tad a
Por isso, é sem pre u m a avaliação sin gu lar feita p o r u m a
pela co m p an h ia de dois velhos cães.
leitora ind ivid ualm ente em um d eterm in ad o m o m en to .
M as alg u m as autoras são con h ecid as pelo estilo h erm ético
V o cê terá de ler m u ito e inten sam ente p ara con segu ir
e até m esm o rude de escrita. A p rim eira vez que li H an n ah
co n stru ir u m texto co m voz de auto ra. R o lan d Barth es disse
A rendt duvidei de m in h a cap acid ad e de com p reen são.
q ue h á níveis de leitura - a leitura n a extensão e a leitura que
R ecorri a m an u ais, d icio n ários especializ ados, a autoras
p ro v o ca deslocamentos.^ ® Pref ira sem pre essa ú ltim a. O s
experientes que m e aju d aram a en tend er o que eu deveria
d eslo cam en to s nos in q u ietam , af u g en tam nossas certezas
b uscar nas leituras.^^ Já fui u m a leitora voraz de A ren d t e
tem p o rárias, m as nos m o v em ru m o ao d esco n h ecid o de
não m ais preciso de au xílio p ara co m p reen d ê-la. H á outras
ond e n ascerá a criação g enu ín a. É do d eslo cam en to que
autoras q ue m esm o os anos de solidão in telectu al não f oram
n ascerá sua voz de au to ra. E som en te a leitora criativa
suficientes p ara u m a ap ro xim ação in telectu al tão pacifizada.
exp erim en tará d eslo cam en to s co m as p alavras de outras
Para elas, dei o m eu veredito do ab an d on o: não m e interessa
autoras. V o cê não será a m esm a depois que co n h ecer
co n h ecê- las. A o m enos agora. Essa é u m a lib erdade de
u m a au to ra f orte. O s d eslocam en to s serão sentidos em
escolh a q ue em breve v o cê co n q u istará, acred ite. Po r
seu texto , p o r isso po d erei identificá-la de aco rd o co m
en q u an to , evite o v eredito do abando no , pois é n atu ral que
seu estilo de leitura. A leitura de u m a au to ra f orte é o que
algum as autoras lhe p areçam densas e im p enetráveis co m o
nos d eslo ca p ara sem pre, seja no p en sam en to ou n o texto .
Eu m e lem b ro d a p rim eira vez que li Ju d ith Butler, u m
d eslo cam en to definitivo n a f o rm a co m o penso o co rp o e H á q uem sustente que a leitura de um a auto ra fo rte exige im ersão abso luta,
a vid a. O u q uan d o descob ri M ia C o u to e K en z ab u ro O e não d ev end o ser m ed iad a p o r o bras secundárias. M inha o p inião é a m esm a: as
auto ras fo rtes m erecem essa exp eriência de so lid ão , m as algum as vezes a barreira
n a literatu ra. Busq ue as auto ras fo rtes, e não acred ite nas
d a co m p reensão é tão intensa que o bras críticas e co m entaristas facilitam a
ap ro xim ação . A v erd ad e é que não há substitu to s p ara o encantam ento p ro v o cad o
Barthes, Ro land . L eçon in au g u rale d e la c h air e d e s ém io lo g ie lit t é rair e du C ollèg e d e p o r um a auto ra fo rte em nó s. N o entanto , p recisam o s d e treino intelectual p ara
F ran ce. Paris: Éd itio ns d u Seuil, 1978. ap reciá-las.

56 57
Cnn»deumaorientadora DehoraDIniz

Im m an u el K an t. Insista, n ão ab an d on e ain d a as leituras no registros m n em ô n ico s a lápis ao lado d o texto ou em m in h a


m eio do cam in h o . terceira M oleskine, reserv ada p ara a pesquisa. A M oleskine
para notas de leitura é larga e sem p au tas, pois m e perm ite
Precisei de b ons háb itos de leitura p ara superar m eus registrar idéias, p en sam en tos, d iag ram as. T en h o diferentes
desafios. V ocê deve fazer o m esm o . V im de u m a g eração em cad ernetas, co m o já viu: u m a p ara leitura, o u tra para
q ue as pessoas segu ravam o livro em u m a m ão e n a o u tra novas idéias, o u tra p ara usar co m o d iário de cam p o , u m a
m an tin h am u m cig arro aceso . O s tem p os m u d aram , p o r j m in úscu la p ara rom p antes de idéias no avião, e p o r aí vai.
isso m in h as dicas são tod as livres de vício.^ “ D escreva p ara
si m esm a co m o são seus háb itos de leitura: onde lê? Q u an to Jam ais f aço o resum o de u m texto antes de ter
tem p o conseg ue ler sem pausas? Precisa de silêncio p ara a dele u m a avaliação glob al. N e m tod as as leituras valem
leitura? A n o ta en q u an to lê? Q u e tip o de an o tação realiz a: o f icham ento. Q u an d o resolvo fazê-lo, já o f aço em
visual ou registro literal de trech o s d a ob ra? O p rim eiro um p ro g ram a de b ib liografia p ara q ue seja u m registro
passo p ara m elh o rar seus háb itos de leitura é co n h ecê-lo s. permanente.^ ^ H á vários p ro g ram as de acesso livre que
S im , eu ado ro p ro v o car a co n sciên cia sob re nossos háb itos, p od em ser utiliz ados p o r você. M eu con selh o é que não
ach o que já p erceb eu isso. A verdad e é q ue a leitura é u m a inicie seu p ro jeto de pesquisa sem se v in cu lar a u m desses
dessas experiências q ue vivem os d iariam en te, m as sob re as program as de b ib liografia. Faça u m a b u sca n a in tern et e
quais p o u co refletim os. Se puder, an o te seus háb itos. T race descob rirá dezenas deles. Eles são intuitivos e rap id am en te
u m a av aliação sob re suas práticas co tid ian as de leitura. você aprend erá a utilizá-los. É nele que d ev em f icar seus
texto s integrais e suas notas sobre a leitura, q uan d o f orem
Eu descob ri q ue preciso ler texto s acad êm ico s co m p ertinen tes. A v an tag em é que p o d erá dividir co m ig o e
u m m arca- texto am arelo n a m ão . A co r am arela p ro v o ca co m suas colegas de pesquisa a revisão d a literatura. Irem os
m in h a atenção. N o passado já foi u m lápis de co r verm elho. tro car nossas b ib liotecas v irtu ais em um p ro g ram a de
Essa certam en te é u m a avaliação estética, m as que tem bibliografia.
razões psíq uicas p ara m im . O am arelo foi u m a escolh a
af etiva e estética q ue p od e m u d ar em b reve, e só serve
p ara os livros. Para os artigos que leio em m eu tablet, uso
M ap a d e au to ras
tod as as cores disponíveis co m o m arca- texto , m as ain d a
pref iro o am arelo.^ ' N ão f aço notas en q u an to leio, apenas
A revisão da literatu ra abre u m U niverso q uase infinito
de autoras. A b u sca é exp on encial. A o lev an tar u m a fonte,
Para ser ho nesta, tenho um v icio ino cente. Sem p re tenho um jãr u n g jit à m ão
enq u anto leio . Trata-se d e um a m istura d e ervas tailand esa q ue refresca a respiração . a análise de referências cruz ad as p erm ite a recu p eração de
U m instrum ento im p o rtante para a p esquisa bib lio g ráfica e a leitura de artigo s
de p erió d ico s científico s é um t ab le t co m leito r p ara texto s em p d f. Facilita o “ U m p ro g ram a de b iblio grafia é um gerenciad o r de texto s, info rm açõ es e registro s
arm az enam ento e é eco lo g icam ente sensível. U m b erto Eco , em p arceria co m Jean- biblio gráfico s. Se v o cê d er um a o lhad a na b ib lio teca v irtual Scielo , v erá que há
C laud e Carrière, escrev eu um liv ro p ara reafirm ar a im p o rtância d o liv ro e sua um íco ne so bre im p o rtação d a referência p ara um p ro g ram a d e biblio grafia. O
p erenid ad e na era d ig ital (Eco , U m b erto ; Carrière, Jean-C lau d e. N ão co n tem com texto m igrará p ara o seu p ro g ram a de biblio grafia, sera arquiv ad o , e as referencias
0 fim d o liv ro . São Paulo : Reco rd , 2 010). Em entrev ista m ais recente, no entanto , biblio gráficas serão im p o rtad as. Vo cê não d ig itará o s d ado s, o que d im inui
ap resento u-se m arav ilhad o co m o p o d er dos tablets p ara a p esquisa acad êm ica. co nsid erav elm ente o s risco s d e erro na fo rm atação d a biblio grafia.

58 59
m » -
Ctm deunu oriemudont PehoruüinU

dezenas de outras autoras. C ru z ar as referências é ir ao final i N ão irei reprod uz ir o m od elo de Jo h n C resw ell aqui
d o texto e ver q uem sua fo nte cito u p ara escrever o artig o . I para evitar a cóp ia b anal de u m a ideia tão genial. Só q ueria
V ocê ag o ra irá b u scar as m esm as fontes, refazer o p ercurso que .soubesse q ue, além de co n sid erar essa u m a b o a técn ica
da au tora e d escob rir p o r v o cê m esm a novas idéias. ■ para a o rg an iz ação d a revisão da literatu ra, eu sofro po r
Lem b re-se de que a b u sca de fontes deve ser precisa, p o r f não ter sido a sua criad o ra. T en te ap rim o rar essa ideia de
isso suas p alav ras-chave sáo táo im p o rtan tes p ara gu iá-la na m apa visual às suas necessidades. Sem pre q ue inicio u m a
pesq uisa. A m ed id a q ue lev an tar os texto s, m o n te um m ap a | nova pesquisa, passo ho ras revisando o m ap a visual a cad a
de autoras a p artir das palavras-chave.^ ^ C o n tin u am en te ■ nova leitura. Sim , ele lhe co n su m irá u m b o m tem p o , pois
terá q ue am pliar, revisar, reduzir, rever o esco p o de seu a agend a de leitura é d eterm in ad a p o r ele. Ele lhe m o strará
p rojeto, g u iad a pelo seu prob lem a de pesq uisa. ' o que já recu p erou e o q ue planeja ler. D e m in h a p arte,
poderei ajudá-la a rever suas prioridad es de leitura e tem as
O m ap a de autoras é u m a rep resentação visual do co m m aio r facilidade. A o resu m ir suas b uscas b ib liográficas
universo das fontes co m q ue v o cê irá d ialo g ar em seu c escolhas de leituras no m ap a visual, af u g en tarem o s dois
texto . N ão é fácil elab o rá-lo , pois ele nos ob rig a a um esp ectros de leitoras - a atriz e a deso rien tad a.
duplo m o v im en to : de precisão do tem a e do p rob lem a de
pesq uisa, b em co m o de reco n h ecim en to de q uais fontes
im p o rtam p ara a pesq uisa. H á u m a relação de dependência
en tre as p alav ras-chave e as autoras q ue irão exp lorar as
q uestões de cad a b raço d a pesquisa. Para ter u m a ideia de
co m o d esen há-lo , sug iro a leitura do m an u al de m eto d ologia
de Jo h n Cresw^ell, que diz ter sido o criad o r dessa técn ica
visual de registro d a literatu ra. Em an exo a esta carta há o
exem plo de u m m ap a visual realizad o p o r u m a o rientan d a
co m q u em trab alhei. In sp irad a em C resw ell, ela o rgan iz ou
seu p róp rio m ap a e m e autoriz o u a reprod uz i-lo nesta
carta. O tem a de pesq uisa era o en q u ad ram en to do crack
na m íd ia im pressa n acion al. Ela q ueria en tend er co m o a
m íd ia im p ressa ap resentava o crack , se co m o u m a q uestão
de saúde p úb lica ou de seg u ran ça púb lica. C o n sid ero u m
dos m elhores m ap as visuais q ue já revisei.

U m m ap a v isual d e auto ras é um o rg ano gram a q ue v o cê p reencherá co m os


tem as e co m as auto ras que lerá p ara co m p o r seu m arco co nceitu ai e/ ou teó rico
d o p ro jeto . É um registro visual das id éias que irá co m p o nd o p ara d esenhar seu
p ro jeto .

60 61
EN C O N T RO C O M A ESCRITA

N áo vale sofrer p ara escrever. A verdade é essa; náo


vale. En ten d a- m e em um duplo sentid o: p o r u m lado,
po rq ue a an g ú stia náo será criativ a; p o r o u tro , porq ue
esse deve ser nosso aco rd o afetivo. N ão acred ite em q u em
diz q ue a escrita é sem pre sof rida — essa m e p arece ser
u m a narrativa heróica sob re as conq u istas ou desafios.
A escrita p od e ser u m a exp eriência fascin an te de d esco b erta
e sup eração. E u m m o m en to em que nos d escob rim o s em
u m nov o papel - o de au tora. A p rend em os co m nossas
próprias palavras: ao escrever, p rod u z im os novos sabores.
O s dedos no teclad o são criativ os: é o m o m en to em que
os d eslo cam en to s causad os pela leitura das autoras fortes
p ro v o cam a escritu ra. E veja q u em é v o cê agora: u m a
aprendiz de au to ra, in ician d o a carreira acad êm ica. A ssu m a
esse m o m en to de sua trajetória co m o de exp erim en tação ,
p o r isso não suspire pela som b ra das au toras fortes que
ad m ira. R elaxe seus ded os, respeite o grilo do trem o r e
siga em frente. M as, an tes, leia m u ito e inten sam en te.
Exp erim en te os d eslo cam en to s, não se refugie nas certez as.
,, , ff»;
(jint Jeumj ortcmajorn D éb o r a D in iz

N áo escjueça q ue so a leitora criativ a é cap az de escrev er |


tem co m p etid o ras — v o cê se b asta, não h a n in g u ém ao seu
co m trem o r nos dedos.
lado m ais veloz ou n a so m b ra de sua chegad a. O ritm o
é d ad o p o r v o cê m esm a. N osso s lim ites são o calen d ário
N en h u m a au to ra, n em m esm o as m ais experientes, í
acad êm ico , o q ual v o cê co n h ece an tecip ad am en te e cujo
finaliza u m texto e o envia p ara p u b licação . N ão se co n h ece i
ritm o diário foi estab elecido p o r v o cê. M as acred ito que
o sab or do p ão co m ele ain d a no f orno. É preciso deixá-lo
haja u m o u tro lado desse relato de an g u stia. S om os m al
esf riar p ara p ro v ar a p rim eira fatia. D a m esm a m an eira, as ^
treinad as p ara a crítica. O sucesso e m ed id o pela ausência
au to ras testam o sentid o dos arg u m en to s, a clareza do texto
de co rreçõ es ou co m en tário s. Esp eram o s aplausos, m esm o
o u a f o rça da criação co m sua co m u n id ad e de leitoras. N ão
em u m a fase ain d a m u ito inicial d a d esco b erta, em que,
pense que essa seja u m a co m u n id ad e in iciática e secreta
co m o autoras, so m os m ais leitoras b u ro cratas q ue criativas.
d a q ual som en te as autoras fortes p articip am . É algo b em
m ais p rosaico . V o cê certam en te tem u m g ru p o de colegas
V eja co m o isso é falso e, se m e perm ite a franq ueza,
de cu rso em q uem co n f ia e q ue, co m o v o cê, exp erim en tam
um p o u co tolo: q u an to m ais criticas e co rreçõ es v o ce
a an g u stia de se d esco b rir co m o autoras. Fo rm e u m g ru p o
receb er nas rod ad as de leitura, seja de m im ou de sua
de leitoras co m elas. N o s duas terem os u m cro n o g ram a de
com u n id ad e de leitoras, m elhor. Seu texto sairá m ais
etapas e revisões q ue cu m p rirei p ara cad a m o m en to de sua
seguro e p ro n to p ara novas leitoras. Se sua an g ú stia tiver
escrita. M as não conf ie só em m im , ten h a ou tros filtros
origem nessa dificuldade de receb er críticas, prep are-se: é o
antes e depois de m in h a leitura. O m ais im p o rtan te é ter
que m ais o u v irá de m im . E , m esm o q ue não goste d a ideia,
esses filtros antes d a m in h a leitura. Seu texto ch eg ará m ais
você está sob avaliação . A o final desses dois sem estres, v o cê
denso p ara m in h a ap reciação . É co m o se a p rim eira prova
e eu serem os avaliadas p o r u m a b an ca extern a q ue d ara o
do p ão avaliasse se o ferm en to f u n cio n o u ou não. O p ão
vered icto sobre o seu texto . A b an ca e ind ep en dente e nos
p od e ser refeito ou reto rn ar ao f orno antes m esm o que eu o
não tem o s co m o inf luenciá-la. C ertam en te co n v id arem o s
prove. Eu ch am o esses m ovim ento s de leitura e revisão de
leitoras sensíveis ao seu tem a e, não suspire, algum as
ro dadas de leitura.
delas talvez co n h eçam o tem a ain d a m ais do que nós, o
que será f ascinante. É u m privilégio ter leitoras preparadas
Há q uem descreva as rod ad as de leitura co m o
e cap acitad as se d eb ru çan d o sob re nossos texto s recem -
experiên cias an g u stian tes. Eu ten to entend er essa reação.
saídos do f orno d a criação . Elas farão leituras origin ais e
Po r u m lado, são exercícios de sup eração e aprend iz agem .
p rov ocativas de seu texto , m as n ão h a garantias sob re q ual
H a algo a ser alcan çad o , m as ain d a n ão se sabe b em o
será o vered icto sob re o sabor.
que e, n em co m o atingi-lo. É n atu ral que isso provoq ue
ansiedade, assim co m o deve aco n tecer em provas de
co m p etição nos espo rtes. T en te im ag in ar os sentim entos Plág io
de u m a n ad ad o ra cujos anos de treinos são m edido s pelos
seg und os finais d a co m p etição . A d if eren ça p ara a atleta T en h a p ân ico do plágio. Lev e- o a sério co m o
é q ue, neste m o m en to de sua vid a acad êm ica, v o cê não u m a am eaça irrefletida. E , q u an to m ais jovem n a vid a
acad êm ica, m aio res os riscos do plágio inadv ertid o.
64
65
í^ n » Je u& t o rtem ado n '‘ DcboraDiniz

O q ue e o plágio? U m a cop ia ou u m p astich e do texto nu n ca passou pelas m ão s de b oas leitoras. B astam p ou cas
de au to ras que ad m iram o s. A cóp ia literal é resultado de'!' i b oas leitoras para o plágio ser d esco b erto . Eu sou u m a b oa
um p ro ced im en to sim ples n o teclad o: reco rtar e colar. leitora, e sua b an ca será co m p o sta de b oas leitoras. Busq ue
U m a m áq u in a é cap az de perseg uir esse tip o de plágio | 'b a histó ria do ex- m in istro alem ão q ue perd eu o carg o porq ue
p reguiçoso. O p astich e é u m a reco n stru ção v u lg ar do foi d esco b erto plágio em sua tese de doutorado.^ ^ A lém da
texto origin al em sim u lacros q ue só en g an am a m áq u in a. vergo nha, ele foi d estitu íd o do carg o de m in istro de Estad o .
Para enten der o p astich e no texto , m in h a reco m en d ação H á dezenas de histórias trág icas co m o essas. Lem b re-se
é que o visualize n a arte. In terro m p a a leitura d esta carta e de que sua m o n o g raf ia talvez seja o seu prim eiro p rod u to
b usq ue duas ob ras n a in tern et: a M o n alisa de Leo n ard o da intelectual púb lico. N ão im p o rta seu f u tu ro profissional,
V in ci e a M o n alisa de Jean - M ich el Basq u iat. A segund a é o que v o cê fizer ag o ra será sem pre p arte de sua trajetória.
u m p astich e d a p rim eira. D if erente d a arte, o p astich e na O rg u lh e-se dessa sua p rim eira criação .
escrita científ ica é u m a fraude acadêm ica.^ ^ Sua p rim eira
leitura depois d esta carta sera u m texto q ue escrevi co m Q u an d o me f orm ei em ciências sociais, na

A n a T erra M ejia M u n h o z sob re plágio, no q ual prop usem os U niversidade de Brasília, escolhi co m o tem a de pesq uisa a

o co n ceito de p lágio-p astich e p ara diferen ciá-lo do p lágio- m ig ração japo nesa p ara o D istrito Fed eral. Eu era f ascinada

cópia.^^ Leia-o antes de nosso p rim eiro en co n tro . Estu d e o pela cu ltu ra jap on esa, até acho q ue estudava a lín g ua

texto , co nv ersarem os ju n tas sob re ele. Q u ero co n h ecer suas japonesa m ais do que a an tro p o lo g ia, e m eu son h o era

duvidas sob re a escrita e a etica na co m u n icação científ ica. vagu ear pelo Jap ão e ler m an g as d a Suz ue- sãn no orig inal.
Escrevi u m a m o n o g raf ia sobre os m ig ran tes de co lo nias
V o cê jam ais co p iará a criação in telectu al de o u tra agrícolas do D istrito Fed eral, o que m e rend eu a p rim eira
au to ra - essa é u m a regra inviolável entre nós. Em n en h u m pu b licação em p erió d ico cien tíf ico, um an o depois
m o m en to irei perseguir suas palavras, sem pre as assum irei da defesa. G ran d e p arte dos m ig ran tes que co n h eci já
co m o suas. M as in co rp o re a delícia da criação - não se m o rreram , eram já idosos n a ep o ca d a pesq uisa de cam p o .
af u gen te co m a sab ed oria de q uem veio antes de você. H o je, leio o artig o e sei q ue é u m texto de u m a pesq uisadora
M in h a exp eriência co m o o rien tad ora m e m o stro u que as iniciante, m as m e o rg u lh o dele — fiz u m a pesq uisa séria,
jovens pesq uisadoras n ão plagiam p o r deso nestid ad e, m as ouvi histórias, aprendi co m os trab alh ad o res ru rais, escrevi
p o r in o cên cia, descuid o ou pressa. Evite q ualq uer u m a u m texto orig in al. Ele é p arte de m in h a historia. Faz m ais
dessas m o tiv açõ es não intencionais do plágio. A cóp ia de vinte anos q ue o escrevi.
não au to riz ad a será sem pre d esco b erta, se não hoje, no
f u tu ro ; se não p o r u m a b o a leitora, p o r u m a m áq u in a de M as eu p o d eria ter errado . A an g ú stia o u a in o cên cia

caça-p lág io s. Se não for d esco b erta, é p orq u e seu texto p o d er iam ter m e feito plagiar alg u ém . Eu p od eria não ter
d ad o aten ção ao m eu grilo do trem o r, talv ez po r n u n ca
O p astiche na literatura p o d e ser um a fo rm a o riginal de p aró d ia.
D m iz , D éb o ra; M unho z , A na Terra M ejia. C ó p ia e p astiche: p lágio na Univ ersid ad e cassa títu lo de d o uto r de m inistro alem ão p o r plágio . F o lh a d e S.
co m u nicação científica. A rg u m en tu m , ano 3, n. 3, v. 1, p. 11-28, jan./ jun. 2011. P au lo , 2 4 fev. 2 0 1 1 . D isp o nív el em : <http :/ / w w w l.fo lha.u o l.co m .br/ d w / 880360-
O artig o está d isp o nív el em fo rm ato eletrô nico no end ereço : http:/ / p eriod ico s. u niv ersid ad e-cassa-titu lo -d e-d o u to r-d e-m inistro -alem ao -p o r-p lag io .shtm l> .
ufes.br/ argumentum / article/ view / 1430 ■ ’ . Tri •■ ■ A cesso em : 4 ju l. 2 0 1 1 .

66 : ' 67
D e h o n D In Iz
C ara de um a orJen radoa

o ap ud co m o u m in terd ito. Se eu lo caliz ar alg u m em seu


ter sido ap resentad a a ele. E o q ue eu f aria agora? U m p ed id o
texto , terá u m a o rien tad o ra em sofrim ento.
de desculpas sob re algo que escrevi ao final de m in h a,
grad uação? Sera q ue a co m u n id ad e cien tíf ica aceitaria'
A verdade é q ue, p o r razões m u ito diversas, o m ed o do
a justif icativa de q ue eu era u m a jo v em pesq uisadora
plágio vem crescen d o , o que au m en ta a vigilância às origens
aos vinte anos? M in h a hipó tese e q ue não. Eu sofreria as
do texto.^*^ E isso n ão apenas en tre as escritoras acad êm icas.
san ções reservadas a alg u ém que plagia. Elas são terríveis
H á dois cam p o s on d e a n o ção de plágio se co n f u n d ia co m
e im placáveis, e em geral resu ltam n o o stracism o e na
a de ap ro p riação criativ a: a cu lin ária e a literatu ra ficcional.
ap artação da vid a acad êm ica. N ão im p o rta se p o r u m erro
R ecen tem en te, u m a co z in h eira p o rtu g u esa foi pro cessad a
de hoje ou do passad o, ao plagiar, viola-se u m interd ito.
por ter pub licad o em seu b log receitas p rop ostas po r
A co m u n id ad e cien tíf ica perderá a co n f ian ça n a sua voz
outras coz inheiras. Em sua defesa, a co z in h eira acu sad a de
de au tora. Po r isso, n ão erre n em se arrisq ue. V á até ond e
plágio ten to u d iz er que fez acréscim os m ín im o s às receitas
co n seg u ir co m seus próprios passos, exp lore os seus lim ites
originais, o que resultaria em novos sabores nos pratos.^ ’
e desejos, m as não co rra riscos im p ru d entes. E não conf ie
A justif icativ a n ão co n v en ceu , e a co z in h eira p o rtu g u esa
em sua m em ó ria: sem pre cheq ue suas citaçõ es e paráf rases.
foi d em itid a. Já n a literatu ra, em p articu lar nas narrativas
históricas em q ue as escritoras se b aseiam em pesquisas
H á um recu rso de citação q ue tan to d en u n cia as
p ara co rretam en te localiz ar suas person ag en s, vestuários ou
leitoras fracas q u an to acend e o m eu sinal p ara o plágio: o
linguagens, as acusaçó es de plagio passaram a tu m u ltu ar
a p u d P Fo rm alm en te, o ap ud é u m reg istro em latim que
o m ercad o edito rial pro tegido por direitos auto rais e
significa “citad o p o r”, o u , em term os in f o rm ais, “eu não li
propried ades intelectu ais. Um bom sinal de m u d an ça
o q ue cito, m as cito m esm o assim . H á q u em o descreva
de m entalid ades é a m ais recente ob ra de Philip R o th ,
co m o citação in d ireta”. O ap ud é u m resq uício de u m
Nêmesis.^'^ A p ág in a de ab ertu ra do ro m an ce é u m registro
tem p o da co m u n icação cien tif ica em q ue o acesso às fontes
das fontes utilizadas p ara os eventos históricos narrad os,
n ão era tão am p lo q u an to hoje: as b ib liotecas n ão eram
cujo plano de f u n d o foi u m a ep id em ia de pólio nos anos
in f o rm atiz ad as e os livros em o u tro id io m a eram raros
1 9 4 0 nos Estad o s U n id os.
entre nós. O ap ud p erm itia que u m a escritora alcan çasse
ob ras que não tin h a co m o 1er, m as, co m o desejava ser
h o n esta em suas fontes, registrava q u em a havia co nd u zid o
aos novos territórios textu ais. D e u m sinal de ho nestid ad e N a busca pelas fo ntes de insp iração das auto ras é que algumas vezes se esbarra
no s p lágio s o u sim p lesm ente se traçam as genealo gias criativas. O co nto Fu nes, o
e tran sp arên cia do passado, o ap ud hoje deve ser p ara v o cê
m em o rio so ” narra a saga d e um p erso nagem cu ja m em ó ria não tinha hm ites. H á
u m íco n e d a p reg u iça in telectu al. Po r isso, de u m a m an eira um a esp eculação entre os esp ecialistas em Jo rg e Luis Bo rg es se Funes não teria sid o
um p aciente d escrito p elo neuro lo gista russo A lexand er Luria, na o b ra T he m in d
b em m ais in f o rm al, d escrev o -o co m o o acrô n im o de
o f th e m n em on ist.
a p reg u iça, u m a d esgraça: a- p- u- d'\ N ão esq ueça: trate 35 A nne Fad im an iro niza a p itad a de o régano na pizza co m o send o urn ato de
criação só no s livros d e receita (Fad im an, A nne. N ad a de no v o so b o so l. In;
. E x - L ibris: co nfissõ es de um a leito ra co m u m . Rio d e Janeiro : Jo rg e Z ahar,
O a p u d é tam b ém um sinal de fraqueza o u ind o lência (D iniz , D eb o ra; M unho z ,
2002. p. 107-114).
A na Terra M ejia. C ó p ia e p astiche: p lágio na co m unicação científica. A rg u m en tu m ,
Ro th, Philip . N êm esis. São Paulo : C ia. das Letras, 2 0 1 1 .
ano 3, n. 3, v. 1, p. 11-28. jan./ jun. 2 011).

69
68
ii-ir u i/riini.1 o iin iu iio u
Ihhora Diniz
s
O plágio será u m a in f ração ética sua. Eu não serei
S c a resp osta for “ para m e f orm ar, pois a m o n o g rafia de
corresponsável p o r ela, tam p o u co terei co m o p r o t e S
g rad u ação é u m a exig ên cia f o rm al do cu rso ”, d ou u m
das im p h caçó es, do estig m a ou d o o stracism o . Se o plágio
conselho: jam ais p erm ita q ue eu co n h eça essa sua resp osta
o r d esco b erto pela b an ca de ju lg am en to da m o n o g rafia
c pense seriam ente em m u d ar de orien tad o ra, pois, se eu
de g rad u açao , v o cê será reprovada. H á q u em sustente
perceb er que essa é sua m o tiv ação , terá u m a orientad ora
q ue o plagio e u m a violação q ue ju stif icaria até m esm o a
cm sof rim ento. A prov eite o p erío do de m atrícu la e tro q ue
pulsao da aluna da universidade.^ ' A cred ito q ue, depois
de o rien tad o ra. M as m e m an ten h a n a in o cên cia de suas
de ler esta carta você estará m u ito m ais aten ta ao risco do
razões. Seja generosa co m ig o e alegue que deseja pesq uisar
plagio inad vertid o e, p o rtan to , m ais p rep arad a p ara evitá-
o u tro tem a, u m b em d istante de m in h a área de pesquisa.
lo. Po r ISSO en tend a m in h a ho nestidade co m o u m a súplica
Ficarei h o n estam en te co n v en cid a de suas razões e ju ntas
p ara q ue af ug en te a cóp ia f rau dulenta de seu texto . Se for
falarem os co m a co o rd en ad o ra de g rad u ação .
1 entif icad o plagio em seu texto , eu a d eixarei soz inha
eu sentim ento p o r v o cê será u m m isto de co m p aixão e
Eu não espero b eleza de seu texto , m as precisão
rep rovação, m as não m e sentirei corresponsável. N ão m e
arg u m en tativ a. E n ão é porq ue eu duvide de sua voz de
p eça so co rro , pois eu não estarei ao seu lad o. Sua p rim eira
autora. A estética facilita a co m u n icação , as leitoras g o stam
p eça de criaçao nao será exib id a p u b licam en te e v o cê terá
vergo nha de tê-la produzid o. de reco n h ecer o estilo das au to ras fo rtes, m as, diferente da
poesia, p o d em o s ser au toras ord inárias e, ain d a assim , sérias
pesq uisad oras. N ão so u ou sad a co m o R ain er M aria R ilk e,
q ue, em cartas a u m jovem p o eta q ue o co nsultav a sobre
Escrita acad êm ica
a q ualidad e de seus escrito s, sentenciou : “ Investigue o
m o tiv o que o im p ele a escrever; co m p ro v e se ele estende as
A escrita acad êm ica tem suas regras - alg um as raízes até o p o n to m ais p rof u n d o do seu co ração , confesse
esteticas, o u tras de co n d u ta. A ssim co L na cL tu ra a si m esm o se o sen h o r m o rreria caso fosse proib ido de
n a co z in h a, n em tod as as textu ras ou ingredientes escrever”."*^ H á m u itas outras coisas que m e m atariam
antes de ser proib ida de escrever. Ser proib ida de ler, talvez.
m aT ^ criação ,
ele dep ende do reco n h ecim en to inicial das regras T en h o livros ao red or da cam a, na m ala do avião, p ara a fila
b as,cas de co rre de u m red d o o u da q u ím ica c u l i n a L . de espera da d entista ou na bolsa de passeio dos cach o rro s.
erd ito d o plagio e u m a regra ética de co n d u ta. Já E , sem que eu ab ale sua ad m iração e respeito p o r m im , na
m in h a lista de prioridad es vitais, talvez vag u ear seja m ais
• ema. A clarez a da escrita é daq uelas n o rm as na fronteira im p o rtan te q ue escrever. M as, m esm o não sendo a princip al
da estetica e d a m o ral acad êm ica. Para en ten d er o que raz ão de m in h a existência, escrever é u m a p o tên cia criativ a
igo, p rim eiro me respo nd a: por q ue você escreve.? em m im .

I p u t” H a « p t: “ - p - - ' " « .b»


d o cu m ento s. ^ ^ ^ g u ns desses
Rilke, Rainer M aria. C artas a u m jo v e m p o e t a. Po rto A legre: L & P M , 2 0 1 1 , p. 2 5 .
70
71
(^nn i/ runuoríeiiuJoni Débora Din/z

A verdad e é q ue, sem as raizes de R ilk e, eu tam b ém b ula de en ten d im en to p ara o q ue escrevem os. N osso s texto s
acred ito q ue a m o tiv ação p ara a escrita é de u m a o rd em serão lidos p o r leitoras reais e aquelas ain d a p o r vir, po r
existencial. Ela e ín tim a e p o lítica. Escrev em o s p ara existir q u em pensa co m o nós, p o r pessoas que estão do o u tro lado
em nossas idéias, p ara hab itá-las, p ara possuí-las e, co m d a m esa do deb ate arg u m en tativ o . E serão lidos co m m u ita
isso, p ro v o car nossas leitoras que não su p o rtam co n h ecê- aten ção p o r aquelas q ue seq uer sen tam co n o sco p ara o
las. Sem a escrita, as idéias são co m o o ar q ue respiram os, d eb ate p olítico. Po r isso, reco n h eça a p o tên cia d a escritu ra
se m e p erm ite u m a alego ria b em co lo q u ial - tod as se acad êm ica, m as seja h u m ild e n o uso desse pod er. Só assum a
ap ro p riam dele, m as n ão p ensam os de on d e ele vem , co m o seu o q ue sair de suas en tran h as e se expressar po r
tam p o u co lem b ram os q ue p recisam os dele p ara existir. seus ded os, só an u n cie o que co n seg u irá su stentar p o r to d a
Eu q uero co n h ecer a au to ria das idéias q ue leio, eu q uero a etern id ad e de sua vid a. Lem b re- se; sua assin atura em u m
p ro d u z ir novas idéias. N ão é à to a que Fried rich N ietzsch e texto é u m a in scrição existencial nas palavras.
dizia q ue, de tu d o o q ue se escreve, aprecio som ente o q ue
alg u ém escreve co m seu p ró prio san g u e”.^^ ^ ã o entend a N ão ten h a m ed o d a escrita. Exp lo re, descub ra seu

sangu e co m o u m p ed id o de m artírio físico p ara a escrita, estilo. M as seja clara, ob jetiva, não use jargões, evite ironias,

m as de d esn u d am en to pela escritu ra. Po r isso, escrev er não f aça acu saçõ es. Seu arg u m en to se sustenta em evidências

é arriscar- se. É expo r-se ao deb ate pú b lico , é p ro v o car a e n ão n a f o rça dos adjetivos o u das gen eraliz ações. O s

o rd em estab elecida, m as p o r m eio de u m in stru m en to verb os são seus traid ores, pois sem pre po d erão dizer coisas

p erm an en te e p od ero so de in terven ção — o texto.'*'^ D a diferentes de suas inten çõ es. O s adjetivos o p eram co m o

m esm a f o rm a, o texto nos ap ro xim a de pessoas e lugares exig ências a q u em lê; não é o arg u m en to o q ue im p o rta,

n u n ca vistos. C o n h eci m ulheres e h om en s espetaculares m as sua co n v icção de que devo acred itar nele. D escu b ra

que se ap ro xim aram de m im pelo que escrevi. Saí à p ro cu ra seus caco etes, seus vícios, suas rep etições. Só se an u n cie na

de m u itas au to ras pelos texto s q ue li. Fu i até elas apenas co n clu são . A co n clu são é seu esp aço de lib erdade e, para

p ara d em o n strar m in h a ad m iração . H o je som os, além de alg u m as autoras, de lib ertin ag em . N ão co n f u n d a seu texto

f raternas colegas, leitoras m ú tu as. co m u m p asq uim , tam p o u co co m u m b log. E u m a peça


q ue b u sca tran sf o rm ar a realid ade, m as se realiza apenas na
M as o texto g an h a vid a sem nós. É u m a criatu ra leitura e se p rocessa na escritu ra. N ó s precisam os de nossas
p arad o xal; sem pre será nosso, m as, um a vez criad o leitoras. E n em tu d o precisa ser d ito p ara elas.
e p ub licad o, não p o d erem o s m ais alterá-lo. Ele é
ind ep end en te, p o r isso n ão m ais p ed irá licen ça à criad o ra
O te xto em co n te xto
p ara se expressar em diferentes tem p os e espaços. Ele passa
a existir em seus próp rios term o s e as leitoras passam a ser N ão acred ite q ue p ara in iciar u m tem a é preciso
co au to ras n a criação . O q ue isso significa? Q u e não existe
histó ria — a histo riograf ia é u m cam p o p ara especialistas,

’ N ietz sche, Fried rich. Z aratu stra, P rim eira P arte, D o 1er e d o escrev er. Rio de e h á m éto d o s p ara a pesquisa h istó rica. U m a histo riad ora
Janeiro ; C iv iliz ação Brasileira, 1998. p. 66.
b u sca as fontes origin ais e co m p õ e u m p ercu rso. N ão
O texto p o d e ser escrito o u v isual. C o m o d o cu m entarista, tam b ém reco nheço
essa p o tência no film e. vale só rep etir a histo riograf ia de o u tras au to ras. E m enos

72 1^
■ y - Jii. i t ir iiniii o ilc n u ilo iii P elt o m P In u

ain d a sair das cavernas p ara a Idade M éd ia e, em um Sua unid ad e de texto é o p arágraf o. R o lan d Barth es

salto, p ara o am an h à. Só f aça p ercu rso s h istó ricos se eles dizia que era a frase, m as serei m ais generosa co m nossa
f orem necessários p ara co m p reen d er alg u m co n ceito , e o escritura. Faça u m a nova pausa n a leitura desta carta.
m ais im p o rtan te: ele deve ser circu n scrito a u m a q uestão Busque u m texto de dez p ág inas que v o cê ten h a escrito

e b aseado em diferentes fontes autorais. M as ele deve ser d u ran te a g rad u ação . A nalise seu fôlego. Com o? V eja
feito p o r você. A h istó ria de u m evento n ão é u m a n arrativ a de q uan tas linhas precisa p ara escrev er u m a unid ad e de
n eu tra - im p o rta sab er a histó ria d a violência co n tra a p ensam en to, isto é, um p arágraf o. V eja co m q uantos

m u lh er no Brasil, m as ig u alm en te im p o rtan te é sab er q u em pontos, v írgulas, p on to s e v írgulas, travessões v o cê pausa

escreveu essa histó ria, q ue tipos de evidências usou, e quais seus arg u m en to s p ara que as leitoras p ossam respirar. Se

ig n o ro u . Po r isso, não co n f u n d a as seções In tro d u ção ou não houver ritm o , p erm ita-se u m rep aro textu al. V ocê

Revisão da Literatu ra de sua m o n o g raf ia co m h istorio graf ia deve b u scar u m ritm o , que deve ser estável e p erm anente,

de segund a m ão , sem autoras e fontes. A h istória não se não h á parágraf os de dez linhas e ou tros de duas linhas.
resum e ao senso co m u m de u m cam p o de pesquisa. Perco rra esta carta e descob rirá que eu ten h o u m fôlego
ritm ad o n a escritu ra. Preciso entre nove e dezesseis linhas
M enos ain d a se co n f u n d a co m u m a etim o lo g ista de p ara cad a respiração de ideias.^^ Esse ritm o não veio co m o
seus con ceito s. A etim o lo g ia é o u tro ram o im p o rtan te u m d o m , foi trein ad o , d o m esticad o e sem pre co n tro lad o
d o co n h ecim en to q ue nossas colegas ling uistas ou filósofas pelas sucessivas revisões. H á algo de estético na im pressão
se d esd ob ram em exp lo rar co m co m p etên cia. N ão vale do texto nessa h arm o n ia.
citar dicio n ários de ref erência, não vale d iz er q ue a palavra
éd ca vem do latim , d o grego ou de o u tra líng ua das A lg u n s m an u ais sugerem q ue o p arágraf o n a líng ua

origens. N u n ca se esq ueça: n ão se cita d icio n ário. Percorrer p o rtu g u esa se alo nga en tre seis e q uinze linhas. N ão sei de
a etim o lo g ia das p alavras n ão nos d á autorid ad e p ara onde tiraram essas regras, m as o im p o rtan te é que ela faz
co m p reen d er as redes de p o d er e sab er q ue nossos tem as sentido. D ê u m a passeada nos texto s nos q uais ad m ira os
p ro v o cam n a atualid ad e. Lo u cu ra não foi a m esm a coisa estilos narrativos. A precie o fôlego de suas au to ras fortes.
nos últim os trezen tos anos d a h istória - M ich el Fo u cau lt D ev ag ar, ten te desenvolver seu estilo en tre esses lim ites.

nos m o stro u co m o é recen te a sig nif icação desse term o V o cê não é José S aram ag o , cujo diálo go en tre deus, Jesus e

co m o d o en ça m en tal.« Falar de lo u cu ra na G récia A n tig a o diab o em O Ev angelho segundo Jesus Cristo to m o u quase

é f alsam en te pressup or u m a long a p erm an ên cia na história: trin ta páginas do livro sem pausas lo n g as.« S aram ag o
o que antes era lo u cu ra n ão é a m esm a coisa que hoje a sub verteu os p arágraf os, reinventou a estética textu al e
p siq uiatria classifica co m o d o en ça m en tal. Sem pre que g an h o u o Prêm io N o b el de Literatu ra. N ão se im ag in e

p en sar em m éto d o , seja relativista co m as cu ltu ras e as tam p o u co co m o a co rp o rif icação ocid ental de M atsu o
socied ad es, m as tam b ém co m a história. Bash õ , cujas três linhas do h aicai m etaf o riz am a cu ltu ra

« Esse ritm o se expressa em um a fo lha A 4 na tela d o co m p utad o r. A d ep end er das


d im ensõ es d e um liv ro , ele p o d e variar. , j i
Saram ag o , Jo sé. O E v an g elho seg u n do Jesu s C risto. Sáo Paulo : C ia. das Letras,
’ Fo u cau lt, M ichel. H istó ria d a lo u cu ra. Sáo Paulo : Persp ectiv a, 2 0 1 0 .
2 005.

74 75
UB'A-,) W W W r P W W t p " ■ O»

< i/r imm DehomDiniz

japo nesa e en can tam q u em o lê q u atro cen to s anos depois idéias de o u tras autoras e autores q u an d o estu d o q uestões
(O velho tanq ue - U m a rá salta. B aru lh o de ág u a).“« En tre de gênero. Im p o rta sab er se são m ulheres ou hom ens
S aram ag o e Bash õ é q ue nó s estarem os.
I que respo nd em pelos texto s q ue ad m iro ou dos q uais m e
d istancio. Po r isso, ao citar pela p rim eira vez u m a fonte
N áo entendeu o haicai? Eu tam b ém d em orei m u ito em m eu texto , ref eren cio-a pelo n o m e e sob renom e. V olte
tem p o p ara senti-lo. M ais tem p o ain d a p ara estu d ar uns p arágraf os e se d ará co n ta de q ue fiz isso até aqui.
a cu ltu ra japo nesa e o p erío d o Ed o p ara id entif icar os O p rincip al sistem a de n o rm aliz ação b ib liog ráf ica utiliz ado
sentidos o cu lto s do p o em a. A poesia p od e ser m etaf ó rica, pela co m u n icação cien tíf ica em h u m an id ad es no Brasil,
m as o texto acad êm ico q ue v o cê escrev erá deve ser a A sso ciação Brasileira de N o rm as T écn icas (A B N T ), não
cauteloso q u an to à m etáf o ra. A o m en os nesse m o m en to reco n h ece a regra de tran sp arên cia de gênero , m as essa é
de sua escritu ra. Sei que é u m p ed id o estran h o , pois u m a v io lação co m p artilh ad a e aceita p o r au toras fem inistas.
lhe retiro u m a p o tên cia n arrativa. En ten d a co m o um a A lg u n s de seus leitores náo f em inistas a consid erarão u m
m o rató ria, p o r isso n ão m e co n teste co m as m etáf oras excesso , m as se justifiq ue dizendo q ue essa p ro v o cação não
de Ju d ith Bu tler sob re “p erf o rm an ce de g ên ero ” para co m p ro m ete a n eutralid ad e da ciên cia. O s m eus leitores
d em o n strar o q uan to a m etáf o ra e a alego ria estão na sab em q ue sou u m a f em in ista antes m esm o de m e ler.
o rd em d a escritu ra acad êm ica f em in ista. E m ais ain d a o Eles tam b ém sab em que n eutralid ad e foi a m en tira m ais
q u an to eu g osto delas e as in co rp o ro em m eu texto . N áo b em co n tad a n a ciên cia p ara nos d ar p od er de voz co m o
vale m e usar co m o co n trap ro v a de m im m esm a. Essas são cientistas d iante dos não cientistas.
m etáf o ras co n ceitu ais. Eu p eço q ue v o cê evite as m etáf oras
pela insuficiência do arg u m en to . E m ais: eu im p lo ro que V o cê deve estar in q uieta, sentin d o -se talvez lim itad a
esq ueça os adjetivos e os advérbios to taliz an tes, tais co m o co m tan tas regras e p rescrições. D ê u m a volta. T este a
sem pre , n u n ca , to d o s” e “n in g u ém ”. pausa do cro n ô m etro q ue já é seu co m p an h eiro de leitura.
Releia o q ue escrevi até agora. En ten d a esse am o n to ad o
Sem pre ev ite a histó ria de lo nga perm anência. N unca de palavras co m o a ab ertu ra de u m a caixa q ue antes era
cite dicio nário s o u use metáforas. Todos os parágrafo s dev em secreta. A g o ra v o cê co n h ece cad a u m a das regras. Ju n tas,
ter ritm o . N inguém dev e escrev er parágrafo s de três linhas. inventarem os o u tras. Esse é o m elh o r cam in h o p ara violar
as prescrições, af u g en tar os tab us, descob rir-se co m o au tora
M as há o u tra regra - u m a p ro v o cação fem in ista
antes m esm o que suas leitoras o f açam . So m ente nesse
n a escritu ra acad êm ica q ue se crê n eutra. Eu g osto que
m o m en to de pleno d o m ín io das regras d o jogo é que v o cê
m e reco n h eçam co m o u m a autora. O que escrev o sobre
estará p rep arad a p ara violá-las e descob rir-se co m o u m a
m ulheres se m istu ra a m in h a existência f em in in a. M uito s
criad o ra. Se n ão acred ita nesse m éto d o de co n h ecer p ara
de m eus tem as não fazem p arte de m in h a in tim id ad e, m as
subverter, olhe as prim eiras ob ras de Salvador D ali. Eram
são explorad os a p artir de m in h a vivência co m o m u lh er
u m a rep etição elegante d a p in tu ra acad êm ica. O surrealista
em convívio co m outras m ulheres. Eu q uero co n h ecer as
de Persistência da m em ó ria explode co m o u m estilo após
essa fase inicial. A lg u m as artistas sof rem co m esse p erío do
Bashõ , M atsu o . T rilha estreita ao c o n fim . Sáo Paulo : Ilum inuras, 1997.

76 77
( i/c um a tmcntatitira t k h o n i P ú i/z

inicial de sub m issão às regras, co m o foi o caso de Yayoi Eu disse q ue a seção de ag rad ecim en to s era u m a
K u sam a, artista jap on esa co n tem p o rân ea q ue descrevei peça cu rio sa da co m u n icação cien tíf ica. Em geral, eu m e
seus anos iniciais de ap ren d izagem da arte trad icio n al de ! d ivirto lend o-a. Ela é repleta de excesso s, de eq uívocos
p in tu ra {niho ngd) co m o lim itan tes p ara sua pulsáo criativ a. de in tim id ad e, de u m d esn u d am en to d a privacidade para
A verdade é que a arte se m ove p o r p ercursos m ais livres e a eternid ad e. A s jovens au to ras acred itam ser essa seção
singulares q ue a pesq uisa acad êm ica, on d e o aprendizado um esp aço livre p ara o registro dos af eto s, das filiações
inicial é f u n d am en tal p ara a sub versão n o f u tu ro . religiosas, ou m esm o p ara a d isputa am o ro sa. N ão f aça
isso. Se q uer ag rad ecer à sua m ãe pelo am o r, f aça u m a
d ed icató ria m an u scrita a ela. Se q uer se lem b rar de seu

Elem entos pré e p ó s-textu ais cach o rrin h o , carim b e as p atin has dele no texto finalizado.
A seção de ag rad ecim en to s é p arte arg u m en tativ a de seu
texto , n ão é u m esp aço em que se susp end em as regras
Pode p arecer excesso de zelo m en cio n ar os
fo rm ais da co m u n icação científ ica. C o m o q ualq uer o u tra
elem entos pré e p ó s- textu ais de sua m o n o g raf ia de
p arte d a m o n o g raf ia, é passível de av aliação, de leitura e
g rad u ação nesta carta. Os elem entos p ré- textu ais são
de crítica.?“ Só deve ser m en cio n ad a nos agrad ecim en to s
aquelas seções que co m p õ em sua m o n o g raf ia co m o u m a
q uem d iretam en te co n trib u iu p ara o seu texto . N ão valem
m o ld u ra da co m u n icação científ ica: a cap a, o sum ário ,
referências m ísticas sob re a existên cia o u a sob revivência
os ag rad ecim en to s, a lista de tab elas ou a epígrafe. O s
h u m an a. O s ag rad ecim en to s são u m registro secu lar e
elem entos p ó s- textu ais são as referências, os índices,
acad êm ico , cujas d estin atárias são pessoas co n cretas que
os glossários ou os anexos. Q u eria m e d ed icar a u m a
fazem p arte de sua rede de pesquisa. Só agrad eça a q u em
das seções p ré-textu ais m ais curio sas da co m u n icação
ef etiv am ente co lab o ro u co m seu trab alh o de pesquisa: essa
cien tíf ica - a de agradecimentos.'*® Ela p o d e estar presente
é u m a seção de reco n h ecim en to pela co o p eração m ú tu a.
em sua m o n o g raf ia, m as n ão faz p arte de seu projeto . N os
ag rad ecim en to s, as pessoas q ue co lab o raram co m alg u m a
ativ id ad e da pesq uisa são m en cio n ad as. Q u em são elas.?
U m a delas sou eu. H á algo de ego ico em lhe escrev er sobre
essa regra não d ita nos m an u ais de red ação acad êm ica,
m as estam o s ab rind o a caixa de segredos. A lém de m im ,'
p o d em estar m encio nad as a b ib liotecária q ue levantou as
fontes, as colegas das rod ad as de leitura, o u tras colegas de
pesq uisa, ex-professoras, etc. O u seja, pessoas co n cretas que
ef etivam ente co o p eraram p ara o sucesso de seu texto .

« Sy u n d o a no rm a técnica A BN T N BR 14724, “texto em que o auto r faz


agrad ecim ento s d irigid o s àqueles que co ntrib uíram d e m aneira relev ante à 5» N a p u blicação científica em p erió d ico s, a seção de agrad ecim ento s é p arte fo rm al
e a o ração d o trabalho ” (A BN T. In fo rm aç ão e do c u m en taç ão — T rabalho s d o texto , ao p o nto d e se exigir a co m p ro v ação d e co nco rd ância das pessoas citad as
ac ad êm ic o s — A p resen tação . Rio de Janeiro : A BN T, 2 011. p, 1). e de ser co ntad a no to tal d e caracteres d o artigo .

78 79
PO S A LEIT U R A

A g o ra posso lhe dizer co m seg u ran ça: b em -v in d a. Eu


serei sua o rien tad o ra p ara a elab o ração do p ro jeto e p ara a
escrita da m o n o g raf ia. Esta carta expressa e an tecip a m eu
m ais sincero aco lh im en to às suas idéias e exp ectativas.
N o sso prim eiro en co n tro será em breve. V ocê m e co n h ece
m elh o r ag o ra, e acalm o u seu espírito inq uieto q ue não vê
a h o ra de co m e çar a pesquisar, deslocar-se p o r au to ras e
ob ras, p ara descob rir-se em seu próprio texto . C o n sid ere
esta carta co m o u m a p ro p o sta de ru m o , m as m e p erm ita
sab er o q ue fez sentid o, o que precisa aind a ser d ito e foi
esq uecido. Eu terei p razer em f alar das ausências, em af ag ar
os seus suspiros. Es ta não é u m a carta em q ue tu d o foi
dito . N a verd ade, é apenas u m p reâm b u lo de u m en co n tro
gen u íno entre nós duas, cuja m o tiv ação será sua criação
intelectu al. S om en te nossas b iografias d arão o verd adeiro
sentido ao en co n tro que nos espera.
D eho ra P InIx

(àiit Ê Je unu orient Mhm ~

„ rR an h açio do seu tem p o , das etap as e dos produtos p ata


Eu n u n ca vi cartas co m anexos ou apêndices,
O p eríod o q ue viverá. Esp ero q ue lhe sejam utets. A ntes
u m a daquelas seções de elem entos p ó s- textu ais que já
P.S., h á u m suspiro final sob re o f u tu ro .
m encionei.^ ’ Po r isso, en ten d a as páginas que aco m p an h am
esta carta co m o os antig os P.S. {po stscriptuni). O s P.S. estáo
desap arecend o do texto escrito nos co m p u tad o res. Eles
eram arrem ates de u m a carta escrita à m ão . A p areciam m elhores votos de sucesso e felicidade.
C o m m eus
q u an d o a m em ó ria traía sob re algo f u n d am en tal que
deveria ter sido escrito ou sob re algo táo fútil q ue não
m erecia estar n a carta, m as precisava ser registrad o nem que
fosse co m o u m f ech am en to . O s P.S. eram os com p lem en to s
sua o rientado ra
ch arm o so s das cartas de am o r entre os ap aixo n ad o s ou das
cartas de saudade de m ães p ara filhos que p artiam p ara a
guerra. N u n ca vi P.S. em d o cu m en to s oficiais, relatórios do
governo ou co m u n icad o s po líticos. T am b ém n u n ca os vi
nos m an u ais de pesquisa. Para m im , os P.S. são u m sinal de
que a co m u n icação se deu entre duas pessoas q ue tro cam
histórias, saberes ou co nf id ências. E de q ue sem pre há algo
aind a p o r ser dito.

H á dois P.S. nesta carta. O prim eiro é o m ap a visual


de u m a de m in h as ex- o rien tan d as, q ue pôs em p rática o
m od elo de Jo h n C resw ell. O m ap a dela p od e ser útil para
v o cê p en sar o seu.^^ O segund o é u m cro n o g ram a p ara a
pesq uisadora q ue usa o cronôm etro.^ ^ É u m a p ro p o sta de

H á um a d iferença entre anexo e ap ênd ice, segund o a A BN T N BR 14724.


O anexo é o “texto o u d o cu m ento náo elabo rad o p elo auto r, que serve de
fund am entação , co m p ro v ação e ilustração ” ; e o ap ênd ice é o “texto o u d o cu m ento
elabo rad o p elo auto r, a fim d e co m p lem entar sua arg um entação , sem p rejuízo da
unid ad e nuclear d o trabalho ” (A BN T. In fo rm aç ão e do c u m en taç ão — T rabalhos
ac ad êm ic o s — A p resen tação . Rio d e Janeiro : A BN T, 2011 p. 2). Esta carta tem um
anexo e um ap ênd ice, am bo s d escrito s co m o P.S.
A grad eço à Patrícia A lvares pela gentilez a de cessão d o m ap a d e auto ras.
O cro no g ram a fo i um exercício co letiv o de co nstrução entre o rientand as que não
se co nheceram . Era um a herança de m eu grup o de p esquisa às jo v ens p esquisad oras.
M uitas d elas d eram sua co ntrib u ição na fo rm a d e p equeno s arrem ates o u bo rd ado s
estético s. O m o d elo final recebeu um a co ntrib u ição singular d e Ju liana Paiva, a
qu em agrad eço .
83
82
,-(i J9U|Hí
II ^ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . I .........

o FU T U R O ?

ítalo C alv in o é um escritor italian o, nascid o em


C u b a. Seu p rim eiro livro, in titu lad o A trilha dos ninho s de
aranha, foi pu b licad o aos 2 3 anos. C alv in o o define co m o
u m ro m an ce engajado, u m p ro jeto de co n to que g an h o u
fôlego ao ser escrito, insp irado em u m a ép o ca de intensa
p articip ação na resistência p o lítica italian a ao final da II
G u erra M u n d ial. A o p refaciar u m a nova ed ição d a ob ra,
vinte anos após a p u b licação origin al, sua in q u ietação se
resu m ia pelo ref rão repetid o q u atro vezes no breve texto :
“ Este ro m an ce é o p rim eiro q ue escrev i”. A p ós descrevê-
lo co m o sua p rim eira ob ra, C alv in o dividia suas an gú stias
co m q u em o lia: “ Q u e im p ressão m e causa, reto m á-lo
agora?”, “que efeito m e causa, ao relê-lo hoje?”, “co m o
posso defini-lo, ag o ra, ao reexam in á- lo tan to s anos depo is”,
“o q ue posso dizer dele, hoje?”.^'*

C alv ino , ítalo . Prefácio . In; _ _. A tr ilh a n os n in hos d a aran h a. São Paulo :
C ia. das Letras, 2 0 0 4 . p. 5-25.
/V/ h»« IR nii
a.; ( lí/M Je iiflu (Hientdiloia
p • 5Q não tem a o f u tu ro , m as
Essas p ergun tas tam b ém serão suas, assim co m o são ;
C J e t r ;: L ,u e e . e x . — u .a p ,o ie ç.o
m in h as sob re os prim eiros artig o s q ue escrevi. A co n clu são ;
desse instante inicial d a ese m u ta acad en tica.
de C alv in o é u m p arad o xo que tam b ém será de tod as as^
escritoras: “O p rim eiro livro, m elh o r seria n u n ca tê-lo
escrito ”. A verdade é q ue, en q u an to o p rim eiro livro ain d a
não foi escrito, vivem os à sua espera. S o n h am o s co m sua
perf eição q ue jam ais será alcan çad a. T alvez v o cê n u n ca
ven h a a escrev er u m livro , e sua m o n o g raf ia venh a a ser
seu início e fim n a exp eriên cia da escrita. N ão im p o rta —
assim co m o C alv in o , v o cê viverá a inq uietud e d a prim eira
ob ra e, talvez m ais tran q u ila do que ele, n ão exp erim en tará
as p erg u n tas que o p ertu rb aram após ter se to rn ad o u m
escrito r m u n d ialm en te co n h ecid o e ad m irad o . A prim eira
ob ra é a exp eriência origin al de tod as as au toras, sejam
elas fortes ou não. A lg u m as se m an terão etern am en te
o rgulhosas dessa p rim eira exp eriência, o u tras sentirão,
co m o C alv in o , u m a p itad a de rem orso pela ingenuid ad e e
pelo excesso de ativism o p o lítico do p rim eiro ro m an ce.

N ão pense em seus sen tim en tos p ara daq ui a vinte


anos.^^ Planeje o que co n seg u irá execu tar neste m o m en to
co m suas próprias palavras, seja responsável pelo que
seus dedo s co n seg u irão criar d ian te d a tela à espera dos
arg u m en to s. Sua p rim eira criação a aco m p an h ará p o r to d a
a v id a, e n ão apenas p o r ter sido o m arco in icial da sua
trajetó ria co m o au tora. Se v o cê se to rn ar verd ad eiram ente
um a au to ra fo rte, e n ão apenas um a escrito ra para
co n clu são de seu cu rso de g rad u ação , o seu p rim eiro texto
será lido e nele serão desarq uivadas suas inspirações juvenis

” É sem p re p o ssív el e d esejáv el se redescrever. Susan So ntag escrev eu S o bre a


fo t o g r afia, em 1973, o nd e d efend eu um a p o siçáo crítica em relação à fo to grafia
co m o ev id ência p o lítica. D uas d écad as d ep o is, p ublico u um no v o liv ro sobre
o m esm o tem a. N a no v a o bra, d uv id o u de si m esm a co m o auto ra e d e sua tese
“co nserv ad o ra so bre a fo to grafia” : “ Isso é v erdade?” , inq uieto u-se d uv id and o de
seus arg um ento s d e v inte ano s antes. “ Pensei q ue era q uand o escrev i, mas não esto u
tão segura ago ra” (So ntag , Susan. R eg ardin g th e p a in o f others. N ew Yo rk: Farrar,
Straus and G iro u x, 2 0 0 2 . p. 82).
87

86
M a pa d e l it er a t u r a
0 e n qu adr am e n t o do cr ack na m ídia im pr e ssa nacional: um e st udo sobr e se gur ança e saúde pública

A N T U N ES, El t o n ( 2 0 0 9 )
CARVA L H O , A n a b e l a ( 2 0 0 0 )
CH A RA U D EA U , Pa t r i c k ( 2 0 0 6 )
D ’ A N G EL O , Pa u l ( 2 0 0 2 )
DE V REESE, C l a e s H. ( 2 0 0 5 ) BRA SIL . A Po l ít i c a d o M i n i st é r i o d a
A L L EN , C h r i s ( 2 0 0 5 )
DO W L ER, K e n n e t h ( 2 0 0 8 ) Sai Td e p a r a a t e n ç ã o i n t e g r a l a ^
BEST, Da v i d ( 2 0 0 1 )
EN T M A N , Ro b e r t M. ( 1 9 9 3 ) ^ u su á r i o s d e á l c o o l e o u t r a s d r o g a s ^
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ESPI N O Z A , F e r n a n d o ( 2 0 0 9 ) (2003) ^
H O PE, V i v i a n D. ( 2 0 0 5 )
GADRET , Dé b o r a L ( 2 0 1 0 )
M EN A , Fe r n a n d a ( 2 0 0 9 )
G U T SCH O V EN , K l a a s ( 2 0 0 5 )
N A DEL M A N N , Et h a n A. ( 1 9 8 9 )
H YE- J IN , Pa e k ( 2 0 0 7 )
K I T Z IN G ER, J e n n y ( 2 0 0 0 )
DU A IL IBI , L í g i a B. ( 2 0 0 8 )
W O RRA L , J o h n L. ( 2 0 0 8 )
FI SCH ER, B e n e d i k t ( 2 0 0 6 )
J A CO BS, B r u c e A. ( 1 9 9 9 )
J O H N SO N , J e n n i f e r E. ( 2 0 1 1 )
J O N SSO N , Pa t r i c k ( 2 0 1 1 )
C r o n o g r a ma

1° Semes t r e

El a bo r a ç ã o d o Pr o jet o d e Pes q uisa

Su m á r i o d e Pr o j e t o d e Pe squ isa

1. In t r odu ção e r e visão da lit e r a t u r a

2. Ob j e t iv o ge r al, o bj e t iv os e spe cíf icos, h i pót e se ou pe r gu n t as de pe squisa

3. Me t odo logia , u n idade de an álise , suj e it os, t é cn i cas de pe squ isa e an álise
dos dados

4. Cu i dad os é t icos e r e visão é t ica e m pe squisa

5. Cr on ogr am a, or ça m e n t o, r e f e r ê n cia s b i blio gr á f ica s e ane x os


Se m a n a 2
■ mm
Debora D iniz
T
1. Am bi e n t a çã o 1. Le v an t am e n t o de pa lav r a s- ch a ve 1. Ela b or a çã o de t it u lo, palavr as-
ch ave , obj e t iv o ge r al e obj e t ivos
2. Le van t am e n t o da bi bli ogr af ia da ár e a de pe squisa
e spe cíf i cos - a pr e se n t ação par a a
básica par a e lab or açã o de 2. Escolh a do t e m a de pe squisa 2. Le va n t am e n t o de f o n t e s -
m on ogr af ia ( m anu ais de or ie n t ador a
3. Le it u r a da pr odu ção da obse r vação dos t i t u los f u n cion ais
m e t odologia ) 2. Le v an t am e n t o biblio gr á f i co e m
or i e n t ador a sob r e o t e m a e obj e t iv os ge r ai s e e spe ci f icos
Cart a de uma
3. Le it u r a da base s n acion ais
4. Pr im e ir o e n con t r o com a 3. Le i t u r a dos m an u ai s de
orient adora - o primeiro proj et o m e t od ol ogi a sobr e t it u l os
3. Or ga n i z a çã o do le v an t am e n t o
or ie n t ador a
de pesquisa f u n cion ais, obj e t i vos ge r ai s e biblio gr á f i co
e spe cí f icos e palav r a s- ch a ve 4. Le it u r as das r e f e r ê n cias
r e cu pe r adas ( list ar as le it u r as)

I I Conclu ído. It e n s; . I I Conclu ído. It e n s: . I I Con clu ído. It e n s; . I I Conclu ído. It e n s: .

I I Não conclu ído. Por quê ? I I Não conclu ído. Por quê ? I I Nã o conclu ído. Por quê ?
I I Nã o conclu ído. Por quê ?

Se m a n a 3 I Se m a n a 4 Se m a n a 3 Se m a n a 4

1. Ela b or a çã o e e n t r e ga do 1. Le va n t am e n t o b i blio gr á f i co na 1. Re visão do t ít ulo, das palav r as-


1. Le van t am e n t o biblio gr á f i co e m
cr on ogr a m a par a o se m e st r e base s n acion ais Bib li ot e ca N acion al d e Livr os ch ave , do obj e t i vo ge r a l e dos
2. Or ga n i z a çã o do t e m po o bj e t iv os e spe cíf icos
2. Or gan iz ação do le van t am e n t o 2. Le v an t am e n t o b i blio gr á f ico de
( p la n e j a m e n t o se m an a l de bib li ogr á f i co e m base de 2. Re f e r ê n cia cr u z ada das f on t e s
lit e r a t u r a a lt e r n a t iv a no
e st u do) : le it ur a, or ga n iz açã o da bibliogr a f i a cu r r ícu lo La t t e s d e au t or as- ch a ve 3. Le it u r a sob r e m é t od os e t é cn i cas
bi blio gr a f i a e pe squ isa
3. Re visão do t e m po de e st u do 3. Le va n t am e n t o b i blio gr á f i co de de pe squ isa
bib li ogr á f i ca
4. List age m da s le it u r a s e m t e se s e d isse r t a çõ e s dos dois 4. Le it u r a e se le ção da s f on t e s
3. Le va n t am e n t o bi bli ogr áf ico e m ú lt im os anos r e cu pe r adas ( list ar as le it u r as)
an d am e n t o
base s n acion ais
4. Or gan iz ação do le v an t am e n t o
bi bli ogr áf ico

I I Conclu ído. It e n s: . I I Conclu ído. It e n s; . I I Con clu ído. It e n s: .


I I Conclu ído. It e n s; .

I I Não conclu ído. Por quê? I I Não con clu í do. Por quê ? I I Nã o con clu ído. Por quê ?
I I Não conclu ído. Por quê ?

>-
Pr o d u t o s d o m ê s Pr o d u t o s d o m ê s
1. El abor ação do cr on ogr am a se m e st r a l 1. T ít u lo, palavr as- ch ave , obj e t i vo ge r al e obj e t iv os e spe cí f icos
(S
2. El ab or a çã o do t e m a da pe squ isa
(/) 2. Le va n t am e n t o de f on t e s; 50 f on t e s ú t e is par a a pe squ isa i/t
«lí 3. Le va n t am e n t o de 15 f on t e s ú t e is r e lacio n a da s à pe squisa 3. List a de pr ior i dad e s par a le it u r a e e st u do <dí
4 . Le v an t am e n t o de 3 f on t e s ú t e is r e laci on a das à e l a b or açã o da m on ogr a f ia 4. Le it u r a de 10% das r e f e r ê n cias r e cu pe r adas
5. Or ga n i z a çã o do le v an t am e n t o b i blio gr á f i co e m base de bi bli ogr af ia 5. Ava li ação do r it m o de le it u r a e do t e m po de di ca do ao pr oj e t o de
pe squisa

I I Con clu ído. It e n s: .


I I Conclu ído. It e n s: .
□ Não conclu ído. Por quê ? I I Não conclu ído. Por quê ?

94 95
m m
Débora Diniz

Se m a n a 1 Se m a n a 2

1. So li ci t a çã o das au t or iz açõe s 1. Con st r u çã o do m a pa d e au t or as


i n st it u cio n a is pa r a r e al iz ação da 2. Pr im e ir a v e r são do pr oj e t o de
pe squ isa pe squisa
2. F e ch am e n t o da in t r odu çã o do 3. Le it u r a e e st u do das f on t e s
pr oj e t o r e cu pe r adas
3. Con st r u çã o do m a pa de au t or as

I I Conclu ído. It e n s: . I I Con clu íd o. It e n s: ---------

I I Não conclu ído. Por quê ? I I Não conclu ído. Por quê ?

Se m a n a 3 Se m a n a 4
1. Le it u r a e e st u do das f on t e s
r e cu pe r adas 1. Re visão e n or m a t i z a çã o do 1. Re visão f i n a l do pr oj e t o
pr oj e t o de pe squisa 2. Su b m issã o do pr oj e t o ao Com it ê
2. At u a li z a çã o da pe squ isa
2. At u a li z a çã o e r e visão do m apa de de Ét i ca e m Pe squ isa
bib li ogr á f i ca
au t or as 3. Le it u r a e e st u do das f on t e s
3. Re visão do de li n e am e n t o da
3. Co le t a das a u t or i z açõe s r e cu pe r adas
m e t odologia
in st i t u cio n a is par a r e a li z ação da
4. Re visão do de li n e am e n t o da
pe squisa
j u st if i ca t i v a e dos cu idados
é t icos

5. Ela b or a çã o do in st r u m e n t o de

d
e squ isa
Conclu ído. It ens;
I I Conclu ído. It e n s: . I I Conclu ído. It e n s: ---------
I I Não conclu ído. Por quê ?
I I Nã o conclu ído. Por quê ? I I Não conclu ído. Por quê ?

Pr o d u t o s d o m ê s
Pr o d u t o s d o m ê s
1. Ela b or a çã o da m e t odologia, da j u st if i ca t i v a e dos cu idad os é t icos do i[>nnr
pr oj e t o 1. Pr oj e t o de pe sq u isa con clu ído e e n t r e gu e

2. Ela b or a çã o do in st r u m e n t al de pe squisa 2. Su b m i ssã o do pr oj e t o ao Co m it ê de Ét ica e m Pe squ isa

3. Le it u r a de 25 % das r e f e r ê n cia s r e cu pe r adas 3 M a pa de au t or as e l a b or ad o e r e visado

4. Ava li a çã o do r it m o de le it u r a e do t e m po de di ca do ao pr oj e t o de 4. Le it u r a de 4 0 % d a s r e f e r ê n cias r e cu pe r adas


pe squ isa

I I Con clu íd o. It e ns
[ I Conclu ído. It e n s: .
I I Não con clu ído. Por quê ?
I I Não con clu ído. Por quê ? .

97
Cartadcumaorientadora

2® Semes t r e

El a bo r a ç ã o d a mo n o g r a f ia

Su m á r i o de M o n o gr a f i a d e Gr a d u a çã o
• Ele m e n t os pr é - t e x t u ais: capa, agr ad e ci m e n t os, de dicat ór ia , su m ár io

. Re su m o/ a b st r a ct , p a la v r a s- ch a ve / k e y - w or d s

• Int r odu ção

• Ca p it u lo 1

• Ca p it u lo 2

• Ca pi t u lo 3

• Con clu sã o
. Ele m e n t os pós- t e x t u ais: ane x os, Índice s, r e f e r ê n cia s bi blio gr á f i ca s

Dica- Re cupe r ar as r e gr as de m on ogr af i a de gr a du a çã o de t e r m in a das


5 í o c^ r so e a s r e gr as de n or m a li z ação biblio gr á f i ca da m on ogr af ia.

98
Cam Je uma orientaJura Dehon Diniz

V"
Se m a n a 1 Se m a n a 2 Se m a n a 1 Se m a n a 2

1. Sist e m a t iz a çã o e an ál ise dos 1. Sist e m at i z ação e a n á li se dos 1. Re dação da in t r odu ção, do 1. Re dação da int r odu ção, do
dados co le t a d os dados cole t a d os r e su m o e das con sid e r a çõe s r e su m o e d a s con side r açõe s
2. Re dação dos ca pí t u los 1 e 2 f in ais f in ais
2. Re dação dos ca pí t u los 1 e 2

I I Conclu ído. It e n s: _ _ _ _ _ _ I I Conclu ído. It e n s: _ _ _ _ _ _ I I Conclu ído. It e n s: --------- I I Con clu ído. It e n s: ---------

I I Não conclu ído. Por quê? I I Não con clu ído. Por quê ? I I Nã o conclu ído. Por quê ? I I Não conclu ído. Por quê ?

>- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- - -6 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - -- - - <
Se m a n a 3 -----------1 Se m a n a 4
Se m a n a 4 Se m a n a 3
>---------- -- ------------------ - - -- - -- - - A -------- --------------- ----------- <
1. Re da ção do ca pí t u lo 3 1. Re visão dos ca pí t u los 1, 2 e 3 1. Ela b or a çã o da ve r são da 1. Re visão da m on ogr af ia
2. An ál ise dos dados 2. An ál ise dos dados m o n o gr a f ia co m ple t a 2. En vio da m on ogr af i a par a a
2. En vio da m o n o gr a f ia par a a ban ca
or ie n t ador a

I I Conclu ído. It e n s: _ _ _ _ _ _ I I Conclu ído. It e n s: _ _ _ _ _ _ I I Conclu ído. It e n s: --------- I I Con clu ído. It e n s: ----------

I I Não conclu ído. Por quê ? I I Não conclu ído. Por quê ? I I Nã o conclu ído. Por quê ? I I Nã o conclu ído. Por quê ?

1
Pr o d u t o s d o m ê s Pr o d u t o s d o m ê s
1. Ca pí t u los 1, 2 e 3 e scr it os e r e visados 1. Mon o gr a f i a con clu íd a e e n t r e gu e par a ban ca e or ie n t ador a
en 2. Dad os a n a li sa do s
1/1 </i
<(U <0)

I I Con clu íd o. It e n s: _ _ _ _ _ _ [ I Conclu ído. It e n s: ---------


I I Não con clu ído. Por quê ? . I I Não conclu ído. Por quê ? .

102 103
104
O BR E A A U TO RA

D éb o ra D in iz é u m a híb rid a acad êm ica. D esco b riu -


se an tro p ó lo g a, m as dirige d o cu m en tário s e vag ueia co m o
m arid o e os cáes n a praia. E au to ra de livros e artig o s sobre
tem as diversos, m as m otiv ad os pela m esm a in q u ietação —
os direitos h u m an o s. En sin a m eto d o lo g ia, d o cu m en tário ,
f em in ism o, b ioética e direitos h u m an o s na U niv ersid ade
de Brasília. Já foi pesq uisadora visitan te no C an ad á,
nos Estad o s U n id o s, n o Jap áo e no R ein o U n id o . A d o ra
o rien tar e está sem pre às voltas co m novas pesq uisadoras
p ara d escob rir o q ue ain d a d esco n h ece. D esd e que se
tran sf o rm o u em prof essora-o rientad ora, já aco m p an h o u o
trab alh o acad êm ico de quase 1 0 0 pesq uisad oras. R eceb eu
81 p rêm io s p o r pesq uisas, livros e film es (h ttp :/ / lattes.cn p q .
b r/ 3 8 6 5 1 1 7 7 9 1 0 4 1 1 1 9 ).

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