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Razões de apelação

5ª Vara Criminal da Comarca de Belém - PA.

Processo n.º 0816169-91.2021.8.14.0401

Apelante: CLEISON ROBERTO CARVALHO DE CASTRO

Apelado: Ministério Público

Egrégio Tribunal

CLEISON ROBERTO CARVALHO DE CASTRO foi processado no incurso no art.


Artigo 157, § 2º, Inciso II, e § 2º-A, Inciso I c/c Artigo 71, ambos do Código Penal, porque
no dia 19/10/2021 teria sido encontrado em posse de material que fora, em tese, furtado.

Ocorre que, tanto por ocasião da apresentação em delegacia, quanto por ocasião da
realização da audiência de instrução e julgamento, o Réu não foi reconhecido em
consonância do disposto no artigo 226, CPP.

Segundo constou da denúncia, os indivíduos que subtraíram os bens utilizavam


arma de fogo, o que não foi encontrado com o Réu, o que não foi encontrado com o
Acusado. Além do mais, não se encontra nos autos relatos de que os Réus possam ter
praticado o descarte da suposta arma de fogo.

Dessa forma, não há do que se falar em acusação por roubo, pois, não há prova de
tal fato. Existe, porém, provas de receptação, o que impõe a desclassificação do presente
para o crime de receptação.

I. PRELIMINARMENTE - DA AUSÊNCIA DA ARMA DE FOGO

Inicialmente se traz à tona o fato da inexistência da arma de fogo.

Sabe-se que parte da jurisprudência pátria reconhece a existência de arma de fogo


com o simples relato da vítima.

Mas, é necessário se insurgir contra este posicionamento pois, se uma arma, ao ser
apreendida, precisa ser submetida à teste científico para se aferir o potencial lesivo do
item, sob o risco do agente responder pela posse de simulacro. Como se pode certificar a
existência de arma de fogo? pelo simples relato da vítima, motivado pelo natural
sentimento de vendetta ?

Nesse sentido se insurge a defesa contra a decisão que reconheceu a existência de


arma de fogo pois não há provas de que o Apelante tenha tido posse de qualquer arma de
fogo. Levando em consideração este entendimento, caminha a Jurisprudência:

PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO. CAUSA DE AUMENTO


DE PENA REFERENTE AO USO DE ARMA DE FOGO.
AUSÊNCIA DE APREENSÃO E DE PERÍCIA. AUSÊNCIA DE
DEMONSTRAÇÃO DA EFICÁCIA DA ARMA POR OUTROS
MEIOS DE PROVA. DECOTE DA CAUSA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM
CONCEDIDA. 1. A necessidade de apreensão da arma de
fogo para a implementação da causa de aumento de pena do
inciso I, do § 2.º, do art. 157, do Código Penal, decorre da
revogação da Súmula n. 174, deste Sodalício. 2. Sem a
apreensão e perícia na arma, nos casos em que não é
possível aferir a sua eficácia por outros meios de prova, não
há como se apurar a sua lesividade e, portanto, o maior risco
para o bem jurídico integridade física. 3. ORDEM
CONCEDIDA. (STJ - HABEAS CORPUS (HC) n º89.518 -SP
(2007/0203366-1. RELATORA : MINISTRA JANE SILVA
(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG. Data Publ.
21/02/2008)

A conclusão que fica é: Se para a aferição do potencial lesivo do item, se faz


necessária a perícia, como se majora a pena pela simples alegação da vítima, desprovida
de quaisquer outros elementos probantes?

Dessa forma, se insurge a defesa quanto o reconhecimento posse de arma de fogo


pelo requerente, o que majorou sua pena.

Vale dizer que a jurisprudência pátria caminha nesse sentido, conforme pode-se
verificar no Habeas Corpus 680.416 (STJ) e os 28 acórdãos das duas turmas de direito
penal do tribunal e 61 decisões monocráticas que absolveram os réus ou revogaram a
prisão preventiva em razão de graves dúvidas sobre o reconhecimento feito em
desacordo com as exigências do CPP, as quais – nas palavras do ministro Rogerio
Schietti Cruz, relator do HC 598.886 – "constituem garantia mínima para quem se vê na
condição de suspeito da prática de um crime".
Seria autorizada a condenação, se existissem outros meios de provas que
corroborassem a tese de existência de arma de fogo. O que não aconteceu:

Súmula n. 174 - No crime de roubo, a intimidação feita com arma de


brinquedo autoriza o aumento da pena.

Percebe-se que, in casu, não existem provas que corroborem a versão das supostas
vítimas de que tenha havido o uso de arma de fogo ou instrumento similar.

II – DA AUSÊNCIA DE RECONHECIMENTO PESSOAL

Como se sabe, o art. Nº 226, do Código de Processo Penal, impõe que se haja o
reconhecimento pessoal do acusado, respeitando uma fórmula legal.

Ocorre no caso em comento, o reconhecimento não aconteceu. Tendo sido


substituído por alegação das vítimas em delegacia – inclusive uma delas através de
reconhecimento fotográfico.

Inclusive, se faz mister acrescentar que, o reconhecimento pessoal poderia se dar


em próprio juízo, o que não ocorreu.

Dessa forma restam severas dúvidas quanto da participação do agente na suposta


empreitada.

Não tendo havido por parte das vítimas, em sede de delegacia ou judicial, a
confirmação de que o Apelante praticou os supostos crimes, inexiste prova de autoria do
delito de roubo.

III – DA DESCLASSIFICAÇÃO

Como vimos, não existem provas que corroborem a tese de que o Apelado praticou
o roubo. O que se vê nos autos, são provas de que o mesmo estava de posse do
material. Dessa forma, não havendo reconhecimento, deveria o magistrado, proceder com
a desclassificação do crime de roubo, para o de receptação, haja vista a flagrância indicar
que o Apelante se encontrava de posse do material em tese subtraído. O que não lhe
vincula automaticamente ao crime de roubo/furto.

Diante do acima exposto, requer-se a reforma do decisum em comento, para a


desclassificação do fato para receptação, haja vista não haver provas de participação do
agente na empreitada criminosa. Havendo, apenas, acusações em sede de delegacia
desprovidas de reconhecimento oficial.

II. MÉRITO

II.1. Da absolvição, por insuficiência de provas.

Não há provas suficientes para a condenação do réu, devendo prevalecer o princípio


constitucional da presunção de inocência.

Verificando os autos, nota-se que não existem provas que apontem para a autoria
do Apelante. Dessa forma deve-se proceder com a absolvição por insuficiência de provas.

II.2 Do afastamento da causa de aumento da pena.

O Respeitabilíssimo juízo aplicou a causa de aumento da pena contida no art, 157,


§2º-A, Inciso I, do Código Penal Brasileiro (se a violência ou ameaça é exercida mediante
o uso de arma de fogo). Mesmo sem ter havido reconhecimento pessoal dos agentes e
sem ter havido provas da utilização de arma de fogo.

Em Direito Penal, nada se pode presumir, tornando-se fundamental a prova do


alegado. Ausente esta, o ideal é o afastamento da causa de aumento da pena.

Ante o exposto, requer a REFORMA da sentença, para:

a) A anulação do presente dada a não observância do art. 226, CPP;


b) A Absolvição por insuficiência de provas quanto ao delito roubo, previsto no art,
157, §2º-A, Inciso I, do Código Penal Brasileiro;
c) b) Afastar a causa de aumento prevista no art. 157, §2º, I, do CP (emprego de
arma), tendo em vista que o artefato nunca foi encontrado;
d) Subsidiariamente, requer-se a desclassificação para o delito de receptação (Art.
180, cp), haja vista os itens supostamente subtraídos terem sido apenas
encontrado em posse do Apelante e não haver provas do suposto roubo pelo
Apelante.

Termos que pede deferimento


Belém – PA, 14 de novembro de 2023

Sergio Y. R. Moraes
OAB/PA nº 28852

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