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I – FATOS

O Autor, menor incapaz cujo dever de cuidado está subscrito à sua


representante Fernanda, teve sua imagem e honra denegridas diante de
publicações em redes sociais a exemplo de “memes”.
Nos “memes” e brincadeiras, todos os tipos de conotações eram atribuidas a
imagem do autor, entre elas políticas, engraçadas e até mesmo com um fundo de
lascívia o que gerou preocupações para a representante.
Assim Fernanda, logo após o incidente com os “memes”, com a intenção de
proteger o curatelado solicitou a ré que realizasse a retirada das “brincadeiras” e
imagens, mediante notificação extra-judicial, visto que estas colocavam em cheque
a honra e moral do autor.
Em contra-partida nada foi feito pela ré, esta negou-se a retirar as imagens
de seu provedor, sem ao menos arguir motivos para a negativa.
Eis os fatos expostos.

II – FUNDAMENTOS DE DIREITO

a) Da legitimidade e responsabilidade da ré
Mediante os fatos expostos anteriormente, verifica-se que a ré tem
legitimidade para a demanda apresentada pela autora, visto que no Marco Civil da
Internet em seu art. 15 lhe obriga a manter os dados armazenado por pelo menos o
prazo de 6 meses, conforme abaixo:
“Art. 15. O provedor de aplicações de internet constituído na forma de pessoa
jurídica e que exerça essa atividade de forma organizada, profissionalmente e com
fins econômicos deverá manter os respectivos registros de acesso a aplicações de
internet, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo de 6 (seis)
meses, nos termos do regulamento.”

Assim é possível verificar que a ré detém os meios necessários para realizar


a retirada das imagens, visto que sua responsabilidade é solidária em relação as
publicações, divulgações, disponibilizações e compartilhamentos existentes na
plataforma, conforme art. 21 da mesma lei:
“Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por
terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade
decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de
vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de
caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu
representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites
técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo.”
Ainda julgados no mesmo sentido respaldam a retirada das imagens
conforme abaixo:
“EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO ORDINÁRIA - PEDIDO DE
TUTELA ANTECIPADA DEFERIDO - ART.273 DO CPC/73 - PRESENÇA DOS
REQUISITOS LEGAIS - RETIRADA DE IMAGEM DE SITE DA INTERNET -
POSSIBILIDADE. 1. Para a concessão da antecipação dos efeitos da tutela, nos
termos do art.273 do CPC/73, devem estar presentes a prova inequívoca do direito
do autor, a verossimilhança de suas alegações e o fundado receio de dano
irreparável ou de difícil reparação ou, ainda, quando restar caracterizado o abuso de
direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. 2. Diante da
exposição de imagem da autora de forma irregular e sem prévia autorização, resta
plausível o direito invocado consistente na retirada do conteúdo da rede mundial de
computadores, em razão do fundado receio de dano irreparável advindo da
exposição indevida de sua imagem (art.5º, X, da CF). 3. Considerando que foi
indicada de forma expressa não só a imagem, como também o endereço eletrônico
(URL) nos documentos que instruíram a inicial e, conforme a teoria do risco em que
a responsabilidade do agente está na atividade exercida no mercado, não há o que
se falar em ofensa a Lei nº.12.965/2014. 4. Recurso conhecido e não provido.
(TJMG -  Agravo de Instrumento-Cv  1.0024.14.333730-1/001, Relator(a): Des.(a)
Shirley Fenzi Bertão , 11ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 01/06/2016, publicação
da súmula em 02/06/2016)”

“EMENTA - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - VEICULAÇÃO DE MATÉRIA
JORNALISTICA EM SITE DA INTERNET - IMPLICITA INCLUSÃO DO NOME DO
AUTOR NO ROL DOS POLICIAIS EXONERADO POR PRÁTICA DE EXTORSÃO -
ATO ILÍCITO CONFIGURADO - OFENSA À HONRA E IMAGEM - INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS - DEVIDA - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO
IMPROVIDO.
(TJMS. Apelação Cível n. 0044859-45.2010.8.12.0001,  Campo Grande,  2ª Câmara
Cível, Relator (a):  Des. Paulo Alfeu Puccinelli, j: 03/04/2012, p:  13/04/2012)”

Portanto não há como recorrer a outro alguém a quem caiba legitimar a não
ser a ré para a retirada e controle das informações.
Com o exposto se abre portanto a possibilidade do dano moral para o
requerente.

b) Do Dano Moral
Os direitos a serem tutelados na lide, encontra fundamentos na Constituição
Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente, especialmente os que são
pertinentes a dignidade da pessoa humana.
O autor teve seu foro íntimo e pessoal violados, tendo suas privacidades
frustradas e invadidas por terceiros agindo de extrema má-fé. Ainda há o que se
falar sobre a honra subjetiva e objetiva de modo que houve a mácula a sua imagem,
mediante o constrangimento sofrido pela parte autora.
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: [...] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação; [...] XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no
último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para
fins de investigação criminal ou instrução processual penal;” “Art. 17. O direito ao
respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança
e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. Art. 100.
Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas,
preferindo-se aquelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e
comunitários. [...] V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e
do adolescente deve ser efetuada no respeito pela intimidade, direito à imagem e
reserva da sua vida privada;”

Assim a divulgação das imagens ofendeu diretamente a dignidade e decoro


da vítima, não somente em seu estado pessoal mas também em relação a seus
familiares.
Portanto a busca não é simplesmente pela indenização e sim para sanar a
insegurança jurídica permeada. A cada demora a parte autora têm sua imagem
ferida e com o conteúdo sendo compartilhado incessantemente, o que poderá gerar
um dano irreparável em decorrência da impossibilidade de controle e retirada das
imagens veiculadas.
Vale ressaltar que o quantum indenizável deverá ser compatível a ofensa,
sendo subjetiva a proporcionalidade os tribunais têm entendido:
“(...) a indenização não compensa nem faz desaparecer a dor do ofendido. A
reparação não compreende, por isso mesmo, uma "avaliação da dor em dinheiro".
Representa apenas uma forma de tutelar um bem não-patrimonial que foi violado.
A indenização é feita, então, como maneira de substituir um bem jurídico por
outro.(Rev. Forense 93/529)”

O objetivo, portanto, de indenização por dano moral, não é atribuir um preço


ou um valor econômico à dor sofrida, mas substituir um bem jurídico irreparável
por outro reparável, numa busca imprecisa de tentar reaver a situação de equilíbrio
razoável havida anterior ao ato ilícito.
Assim:
“DANO MORAL – INDENIZAÇÃO – CRITÉRIO DE QUANTIFICAÇÃO – O critério
de fixação do valor indenizatório levará em conta, tanto a qualidade do atingido,
como a capacidade financeira do ofensor, de molde a inibi-lo a futuras
reincidências, ensejando-lhe expressivo, mas suportável, gravame patrimonial.
(TJRS – EI 595032442  – 3ª GCC – Rel. Des Luiz Gonzaga Pilla Hofmeister – J.
31.09.95).”

Conforme julgado a cima, verifica-se a dimensão indenizatória por dano


moral de modo que não apenas lhe cabe a punição do agente mas também
suprimir possíveis reincidências.
Assim, visto o grau de ofensividade cabe uma quantia expressiva,
proporcional ao agravo, quantia a qual não será capaz de restaurar sua honra e
imagem que o demandante levará pelo resto de sua vida.
Diante dos fundamentos expostos é perceptível que a ré cerceando as
possibilidades da parte autora, não restando nenhuma alternativa a não ser pleitear
sua demanda ao juízo para que os direitos lhe sejam garantidos.

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