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01 Tema: Contratos: noções gerais. Conceito e evolução. Princípios fundamentais. A nova ótica
contratual. Os princípios contratuais da autonomia da vontade, da obrigatoriedade, da relatividade
e do consensualismo e suas mitigações. A função social dos contratos. O princípio da probidade e
da boa-fé. A boa-fé objetiva e sua distinção da boa-fé subjetiva aplicabilidade do princípio da
boa-fé objetiva nas diversas fases do contrato.
1ª QUESTÃO:
Ensaboado, talentoso jogador de futebol, propõe demanda indenizatória por danos morais em face de
José Corneteiro. Aduz, em síntese, que o demandado enviou correspondência à sua patrocinadora cujo
conteúdo fazia menção a uma denúncia criminal oferecida perante a Justiça da Inglaterra. Todavia o
conteúdo não se limitou à mera reprodução dos fatos narrados na acusação criminal, tendo o
demandado emitido juízo de valor sobre as circunstâncias e adjetivado a conduta do atleta como
"mentirosa", "fraudulenta" e "desonesta". Diante da aludida correspondência, sua patrocinadora o
notificou, requerendo explicações sobre o ocorrido e, após algumas reuniões, o autor conseguiu
contornar a situação e manter os contratos em vigor. Assim sendo, por interferir, perturbar e
desestabilizar a relação jurídica das partes, deve responder pelos danos morais vivenciados pelo autor.
Em defesa, o demandado sustenta que agiu nos limites do exercício da sua liberdade e que não
configura ato ilícito a notícia de fatos verossímeis mediante opiniões irônicas, sobretudo quando se
tratar de figuras públicas. Afirma ainda que as instabilidades contratuais devem ser resolvidas entre as
partes contratantes, tendo em vista o princípio da relatividade dos contratos que, como se sabe, não
produz efeitos erga omnes. Por fim, aduz que o contrato entre o atleta e a patrocinadora não se
rompeu após a emissão da carta, o que, por si só, afasta qualquer pleito indenizatório requerido pelo
autor.
Restou provado o juízo de valor no conteúdo da carta enviada.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
Processo sob segredo de justiça, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, por unanimidade,
julgado em 26/04/2022, DJe 29/04/2022.
Tema
Responsabilidade civil. Eficácia transubjetiva das obrigações. Envio de carta desabonadora a
patrocinadora de jogador de futebol. Teoria do terceiro cúmplice. Danos morais. Ocorrência.
DESTAQUE
Terceiro ofensor também está sujeito à eficácia transubjetiva das obrigações, haja vista que seu
comportamento não pode interferir indevidamente na relação, perturbando o normal desempenho da
prestação pelas partes, sob pena de se responsabilizar pelos danos decorrentes de sua conduta.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
A responsabilidade civil, em face da sua relevância e da sua natureza dinâmica, tem alargado seu
horizonte, sem se restringir a um rol preestabelecido de direitos tutelados, buscando a proteção das
mais variadas órbitas da dignidade da pessoa humana.
A própria evolução da sociedade e o surgimento de relações jurídicas cada vez mais complexas
exigiram a expansão da responsabilidade civil, notadamente para que esta cumpra sua função
precípua (a de possibilitar o equilíbrio e a harmonia social), não se esgotando nos atributos
tradicionais da personalidade humana - honra, nome, imagem, intimidade e vida privada.
Dessa forma, diante do reconhecimento e da ampliação de novas áreas de proteção à pessoa humana,
resultantes da nova realidade social e da ascensão de novos interesses, surgem também novas
hipóteses de violações de direitos, o que impõe sua salvaguarda pelo ordenamento jurídico.
Diante dessas considerações, viu-se a necessidade de analisar o comportamento daquele terceiro que
interfere ou induz o inadimplemento de um contrato sob o prisma de uma proteção extracontratual, do
capitalismo ético, da função social do contrato e da proteção das estruturas de interesse da sociedade,
tais como a honestidade e a tutela da confiança.
Assim, a responsabilização de um terceiro, alheio à relação contratual, decorre da sua não
funcionalização sob a perspectiva social da autonomia contratual, incorporando como razão prática a
confiança e o desenvolvimento social na conduta daqueles que exercem sua liberdade.
Atualmente, difunde-se a ideia de que os contratos são protegidos por deveres de confiança, os quais
se estendem a terceiros em razão da cláusula de boa-fé objetiva, pois, da mesma forma que um
terceiro está protegido de contratos que possam vir a lhe prejudicar, os contratantes também estão
protegidos da conduta de terceiro que possa prejudicar o vínculo.
Portanto, um terceiro ofendido e que estava exposto aos riscos de danos pessoais e patrimoniais em
decorrência da execução do contrato teria direito a uma indenização não por ter violado algum dever
de prestação oriunda da relação obrigacional, mas por ter suportado uma ofensa à sua integridade
psicofísica ou econômica.
Em contrapartida, o terceiro ofensor também está sujeito à eficácia transubjetiva das obrigações, pois,
segunda a doutrina, "o comportamento do terceiro não pode manifestamente interferir, perturbando o
normal desempenho da prestação pelas partes. Nesse último sentido, o terceiro não pode se associar a
uma das partes para descumprir com
Sendo assim, foi editado o Enunciado n. 444 do Conselho da Justiça Federal, emitido na V Jornada de
Direito Civil, com a seguinte redação: "O dano moral indenizável não pressupõe necessariamente a
verificação de sentimentos humanos desagradáveis como dor ou sofrimento."
Modernamente se tem aproximado o dano moral do princípio da dignidade da pessoa humana, mas sem
se limitar a ele, sob pena de verificar um conceito abstrato e desprovido de segurança jurídica. Assim,
será indenizável aquela violação a um interesse existencial concretamente merecedor de tutela,
vislumbrando-se o ser humano diante de toda a coletividade e por meio de suas relações interpessoais.
Em face dessas premissas, constata-se que o caso concreto configura uma hipótese em que o terceiro
ofensor causou lesão a um interesse existencial do atleta.
Conforme o quadro fático delineado, ao enviar correspondência à patrocinadora do jogador de futebol,
fez-se expressa menção a uma denúncia criminal oferecida perante a Justiça da Espanha, mas sem se
limitar à mera reprodução dos fatos narrados na acusação criminal, tendo emitido juízo de valor sobre as
circunstâncias e adjetivado a conduta do atleta como mentirosa, fraudulenta e desonesta.
A conduta não pode ser caracterizada como exercício de sua liberdade de expressão, porquanto este
direito constitucional compreende a autonomia de receber e transmitir informações ou ideias sem uma
validação ou censura prévias por terceiros, mas encontra limites nos demais direitos fundamentais
individuais.
O Superior Tribunal de Justiça, à procura de solução que melhor concilie as situações de conflito entre a
liberdade de expressão e os direitos da personalidade, estabeleceu, entre outros, os seguintes elementos de
ponderação: a) o compromisso ético com a informação verossímil; b) a preservação dos chamados
direitos da personalidade, entre os quais incluem-se os direitos à honra, à imagem,
Por fim, importante relembrar que o art. 187 do CC reconhece como ilícito, e consequentemente
gerador do dever de indenizar, o exercício abusivo de um direito, isto é, mesmo que se considerasse
que a conduta foi um ato de liberdade de expressão, foi exercido o direito de forma abusiva,
interferindo indevidamente em uma relação jurídica da qual não fazia parte.
Assim, não obstante o alto grau de subjetivismo que envolve a matéria, a indenização deve ser um
desestímulo a futuras condutas ilícitas, sem, contudo, gerar o enriquecimento sem causa da vítima e,
de outro lado, a ruína econômica do ofensor, devendo ser pautada nos princípios da proporcionalidade
e da razoabilidade.
2ª QUESTÃO:
Examine as seguintes cláusulas contratuais firmadas entre empresas paritárias que prestam serviços
médicos a órgãos públicos municipais e, em seguida, responda fundamentadamente aos
questionamentos formulados:
01.1 A CONTRATADA tem pleno conhecimento de que foi contratada para prestar serviços à
CONTRATANTE, relacionados ao Contrato de Gestão do HOSPITAL MUNICIPAL DE BOM
PARAÍSO , no âmbito do Município de BOM PARAÍSO, e concorda desde já que, caso haja atraso
de qualquer pagamento à CONTRATANTE ou intervenha, rescinda ou encerre, por qualquer modo,
qualquer que seja a razão, o referido contrato de gestão, a CONTRATADA não fará jus a qualquer
remuneração, ainda que por serviços prestados, nem a qualquer tipo de indenização, qualquer que seja
sua natureza.
01.2. Na hipótese do atraso aludido na cláusula 01.1 retro, cumprirá à CONTRATANTE promover o
pagamento dos serviços prestados pela CONTRATADA, desde que os pagamentos efetuados pela
Prefeitura de Bom Paraíso se refiram aos meses de prestação de tais serviços, sem o acréscimo de
quaisquer juros, multa ou correção monetária. O pagamento referido nesta cláusula deverá ser
disponibilizado à CONTRATADA em até 10 (dez) dias úteis da regularização das pendências da
Prefeitura de Bom Paraíso junto à CONTRATANTE.
10.3. Não se aplica o disposto na cláusula 01.2 acima na hipótese de intervenção, rescisão ou qualquer
outro tipo de extinção do contrato de gestão, respeitando-se, nesses casos, a regra da cláusula 01.1,
ainda que para serviços prestados.
10.4 Caso se verifique o advento de qualquer das hipóteses indicadas na cláusula 10..3 retro, fica
desde já estabelecido que a CONTRATADA renuncia expressamente ao direito de pleitear quaisquer
valores a que entender fazer jus, seja por serviços prestados, seja com relação a qualquer tipo de
indenização, tanto da CONTRATANTE quanto da própria Prefeitura."
a) Há cláusulas abusivas no contrato em questão?
b) Supondo que a contratada tenha prestado serviços ao hospital e não tenha recebido por eles,
RESPOSTA:
REsp 1799039 / SP RECURSO ESPECIAL 2018/0251472-7 RELATOR Ministro MOURA
RIBEIRO (1156) RELATORA PARA ACÓRDÃO Ministra NANCY ANDRIGHI (1118) ÓRGÃO
JULGADOR T3 - TERCEIRA TURMA DATA DO JULGAMENTO 04/10/2022 DATA DA
PUBLICAÇÃO/FONTE DJe 07/10/2022
1ª QUESTÃO:
Ipatinga Produtos de Petróleo S.A. propõe demanda de despejo por falta de pagamento em face de
Posto Veloz. A demandante aduz, em síntese, que firmou com a ré um contrato de sublocação de
posto de serviço, por meio do qual locou imóvel com equipamentos nele instalados para a operação
de posto de gasolina. Todavia, informa a autora que a sublocatária deixou de arcar com o pagamento
de aluguéis e acessórios contratuais nos últimos 12 meses do contrato. Logo, não resta à autora outra
conduta senão pedir a extinção do contrato e o despejo do demandado do imóvel para que possa dar
continuidade às suas atividades ofertando negócios perante terceiros interessados.
O magistrado, ao receber o pedido, de ofício, extingue o processo sem resolução do mérito por
entender que a autora é carecedora de demanda. O Magistrado sustenta que é inadequada a ação de
despejo para rescindir o contrato de sublocação firmado entre as partes, pois a Lei nº 8245/91 só teria
aplicabilidade ao caso se o preço pago decorresse unicamente do uso e gozo da coisa, todavia o que se
observa da narrativa inicial é que existe uma gama de deveres impostos a ambas as partes, em que a
locação é indissociável da compra e venda de produtos da demandante em razão da cláusula de
exclusividade, tornando inviável a extinção do pacto através de mera denúncia vazia.
Diante do exposto, agiu corretamente o magistrado? Decida fundamentadamente a questão abordando
a classificação do contrato firmado entre as partes.
RESPOSTA:
Ensina Marco Aurélio Bezerra de Melo que
Os " contratos coligados são aqueles em que a operação econômica que se quer realizar aponta para
determinado objetivo, e para se alcançar tal desiderato, as partes realizam dois ou mais contratos, cada
qual com a sua estrutura e função própria, mas visando um objetivo final comum. Nos contratos
coligados, verificamos a existência de uma rede contratual que produz determinado efeito econômico.
Por exemplo, o dono de um imóvel em que está sediada uma habitação unifamiliar recebe proposta
para adquirir a cobertura de um futuro edifício que será construído. Para tanto, faz uma permuta com
uma incorporadora imobiliária, que por sua vez celebra um contrato de empreitada para a construção
de um edifício com dez unidades autônomas, sendo duas coberturas, e uma delas deverá ser entregue
ao permutante. Por sua vez, para a alienação das demais unidades autônomas, com a consequente
recuperação dos custos e aquisição de lucros, a incorporadora providenciará o ingresso de um banco
para financiar os imóveis ao consumidor. A diferença para os contratos mistos é a de que no contrato
coligado, cada pacto - permuta, incorporação, empreitada e mútuo - guarda a sua identidade própria,
enquanto naquele há a fusão entre diversos tipos contratuais, como no exemplo dado do leasing."
Direito Civil: contratos / coordenação Marco Aurélio Bezerra de Melo, J. M. Leoni Lopes de
Oliveira. - 3. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2019.
2ª QUESTÃO:
Carlos firma com João contrato de compra e venda de coisa futura, com fulcro na parte final do artigo
483 do Código Civil. O objeto consistia em 100 toras de madeira de lei. A fim de garantir melhor
preço, Carlos, comprador, assume o risco quanto a falta do objeto. Na data para a entrega da madeira,
somente duas toras puderam ser entregues diante da contaminação involuntária do solo.
Diante do exposto, João exige o pagamento integral, enquanto que Carlos somente pretende efetuar o
pagamento proporcionalmente, as duas toras.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
O caso concreto pode trazer dificuldades na determinação da espécie de compra e venda de coisa
futura. Orlando Gomes apresenta critério distintivo seguro, ressalvando, contudo, que a matéria não é
pacífica entre os doutos: "Na interpretação do contrato, para qualifica-lo, deve-se atender a intenção
das partes. Quando não esteja clara, a identificação pode ser feita pelo modo que tenha sido concluída
a venda. Se vendida, por preço global, massa de coisas futuras, como uma colheita ter-se-á emptio
spei, caso contrário, emptio rei speratae. Não é essa, todavia, a opinião dominante. Prevalece o
seguinte critério: há venda de coisa esperada, se a existência das coisas futuras está na ordem natural.
Uma colheita, por exemplo, será objeto da emptio rei speratae, porque é de se esperar que haja
normalmente frutificação. No fundo, trata-se de uma questio voluntatis, devendo-se, na dúvida,
preferir a emptio rei speratae, por ser mais favorável ao comprador.
No caso em comento, o risco que Carlos assumiu foi quanto a existência do objeto e não quanto a
quantidade, logo por ter a coisa existindo, em proporção menores e por não ter Carlos se submetido
ao emptio rei speratae, deve ele pagar proporcionalmente o preço a fim de se evitar o enriquecimento
sem causa. (Bruno Magalhães de Mattos - DIACD/EMERJ)
1ª QUESTÃO:
Carlos, proponente, pretende formalizar um contrato de prestação de serviços com João, e para tanto
envia a proposta ao mesmo com o prazo de 15 dias para a resposta. No décimo quarto dia, João
responde confirmando a contratação, contudo, a sua resposta somente chega ao proponente no décimo
sexto dia.
Diante do exposto, pode-se afirmar que o contrato está formalizado?
Responda fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
Marco Aurélio Bezerra de Melo ensina que na forma do artigo 428, III do CC que a proposta deixará
de ser obrigatória se a aceitação não for expedida no prazo eventualmente mencionado pelo
proponente. Sustenta que há um contradição grande com o artigo 434, III do mesmo diploma legal,
isto porque se há prazo estipulado para a resposta, o contrato já estará formalizado com o envio da
aceitação. Desse modo, a lógica indica que ou aplicamos a hipótese acima, em que se adota a
subteoria da recepção, ou o contrato já está formado, sendo de todo equivocado o inciso III do artigo
434 do Código Civil. Aduz que o acerto parece estar com Washington de Barros Monteiro quando diz
que " a terceira exceção é injustificável: se há prazo estipulado para a resposta, o contrato estará
perfeito no momento da expedição; se o prazo é para a chegada da resposta, reger-se-á a hipótese pelo
inciso II". Qualificamos essa hipótese como irrazoável pelos mesmos fundamentos críticos
expendidos acima, Clovis Beviláqua atribui a essa confusão de ideias o equívoco introduzido pela
comissão revisora do Código Civil de 1916. Como o artigo 434 do Código Civil atual é cópia fiel do
artigo 1.086 do Código Civil revogado, temos que o equívoco lamentavelmente se manteve.
2ª QUESTÃO:
Leandro doou sua biblioteca para o conceituado professor Fernando e, no ato da doação, deixou
consignado que o motivo que o levou a doar os bens foi justamente o mérito acadêmico do professor,
que com os livros em seu patrimônio poderia aprofundar ainda mais as suas pesquisas acadêmicas.
Ocorre que após seis meses da doação, o doador, através de notícia na imprensa que deixa claro que
os fatos foram comprovados, vem a saber que o aludido professor é um farsante e enganador e que
todos os seus diplomas são falsos.
Ato contínuo, Leandro pretende extinguir a doação, enquanto que Fernando sustenta que a situação
narrada não se encontra nas hipóteses de revogação da doação prevista no artigo 555 do Código Civil.
Diante do exposto, pergunta-se: quais fundamentos jurídicos poderiam ser alegados por Leandro para
extinguir a doação?
Responda fundamentadamente a pergunta apontando o(s) dispositivo(s) pertinente(s) do Código Civil
para o deslinde da controvérsia.
RESPOSTA:
Esclarece o Professor Marco Aurélio Bezerra de Melo que
Diferentemente da causa, o motivo merece uma análise subjetiva, pois para desvendá-lo é
fundamental que o intérprete perquira a intenção do sujeito ao celebrar um contrato. De regra e em
homenagem à segurança jurídica, o elemento anímico que leva alguém a contratar, isto é, o motivo da
contratação, é irrelevante e prescinde de análise pelo jurista, ou seja, a vontade é elemento desprezível
para a existência, validade e eficácia do negócio jurídico. Destarte, em um contrato de locação, o
motivo poderia ser a excelente localização do imóvel por parte do locatário e a necessidade premente
de dinheiro por parte do locador ou quem sabe a intenção de morar mais perto do local de trabalho
para o primeiro e a viagem, a trabalho, para outro país, para o segundo. Em uma compra e venda de
um terno, o comprador pode alimentar a esperança de ser escolhido para padrinho do casamento do
melhor amigo que se avizinha ou simplesmente necessita adquirir a referida vestimenta por ser uma
exigência social de sua atividade como advogado. Entretanto, como adverte Galvão Telles,77 a
irrelevância do motivo não pode ser admitida em toda a sua extensão. Por exemplo, à luz do que
prescreve o artigo 140 do Código Civil, inserido no estudo do erro como defeito do negócio jurídico,
o motivo pode ganhar relevo jurídico quando expresso como razão determinante do negócio
entabulado. Os professores Gustavo Tepedino, Heloisa Helena Barboza e Maria Celina Bodin de
Moraes78 assinalam que o referido artigo nos faz perceber que o motivo "perde sua natureza
subjetiva, incorporando-se ao próprio conteúdo do negócio, de tal modo que a sua falsidade
contamina o acordo de vontades a ele vinculado". Se uma pessoa adquire onerosamente um
estabelecimento para o exercício da atividade de lanches rápidos, tendo como razão determinante na
contratação a abertura em frente à lanchonete de uma escola de ensino fundamental para, no mínimo,
200 alunos no turno da manhã e mesmo número no turno da tarde, e essa circunstância prevista no
contrato não vir a ocorrer, o adquirente poderá anular o contrato se o motivo da contratação - escola
próxima à lanchonete - não se concretizar. O motivo tem repercussão, ainda, quando é estudado o
sistema de invalidade do Código Civil, pois o artigo 166, III, do Código Civil prescreve que é nulo o
negócio jurídico quando "o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito". Tomemos
como exemplo, para um perfeito entendimento da diferença entre causa e motivo, a situação em que
uma pessoa celebre um contrato de compra de 500 litros de acetona. Admitindo-se que não existe
nenhum defeito no pacto, o contrato será válido e eficaz (causa lícita); mas, se o motivo que levou os
contratantes a celebrarem a avença fora o de utilizar o produto adquirido para refino de cocaína,
consorciados que estão na empresa criminosa do tráfico ilícito de entorpecentes, torna, portanto, o
contrato nulo pela motivação ilícita do referido negócio jurídico.
Mello, Marco Aurélio Bezerra de - Direito Civil - Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2018)
1ª QUESTÃO:
José, promitente vendedor, celebrou com Marcos, promitente comprador, contrato preliminar de
compra e venda de imóvel situado em Niterói, por instrumento particular não averbado no registro
imobiliário, sem qualquer cláusula de arrependimento. Pergunta-se:
a) Cumpridas todas as prestações por parte de Marcos, esclareça se é cabível, no caso em tela, pedido
de adjudicação compulsória do imóvel em face de José, considerando o que estabelecem os artigos
1417 e 1418 do Código Civil.
b) Supondo que na hipótese acima José, na pendência do contrato preliminar, alienou o referido
imóvel para Caio, esclareça se Marcos, cumprindo todas as prestações decorrentes do pré-contrato,
poderá legitimamente requerer a adjudicação compulsória do imóvel em face do adquirente do
aludido bem (Caio).
RESPOSTA:
Existem três entendimentos sobre a questão. Um primeiro, sustentando a literalidade do art. 1.418,
afirma que o C.C./02 resgatou antiga jurisprudência do STF, exigindo o registro do contrato
preliminar para a adjudicação compulsória, pois o dispositivo disponibiliza essa demanda apenas ao
promitente comprador que seja titular de direito real, ou seja, o promitente que registrou o seu
contrato preliminar, de acordo com o art. 1.417.
Um segundo entendimento diz prevalecer a Súmula 239 do STJ ("o direito à adjudicação compulsória
não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis"). É a
posição majoritária da doutrina e a conclusão do Enunciado 95 do Conselho de Justiça federal:
Um terceiro entendimento, defendido pelo Prof. Fábio Azevedo (in Direito Contratual - Temas Atuais
- Ed. Método - Organizado pelos Professores Giselda Hironaka (USP) e Flavio Tartuce, Pag. 399 a
425), entende, assim como a primeira posição, que a adjudicação compulsória depende sim do
registro do contrato preliminar. No entanto, caso não tenha sido realizado o registro, não será a
questão resolvida através de perdas e danos, como defendia o STF, mas sim por uma sentença
substitutiva da vontade, proferida com base no art. 466-B, do CPC. Em síntese, quando o contrato
tiver sido registrado, caberá a adjudicação compulsória, de natureza real e que transfere a
propriedade. No entanto, não havendo registro, caberá a demanda de outorga de escritura definitiva,
de natureza obrigacional (obrigação de fazer) e que não transfere a propriedade, equiparando-se ao
contrato que deveria ter sido celebrado, o que significa que a sentença não poderá ser oposta contra o
terceiro que adquiriu o imóvel e registrou o seu contrato, diferentemente da adjudicação compulsória,
que é oponível contra terceiros.
O professor Francisco Eduardo Loureiro, afirma que admitir interpretação literal do art. 1418 do CC,
ou seja, o registro como requisito para a adjudicação compulsória, criaria manifesta contradição em
termos. Os demais contratos preliminares admitiriam execução específica, à exceção do mais
relevante deles, que é o compromisso de compra e venda. Além disso, geraria situação de manifesta
injustiça. Colocaria o promitente comprador, cujo contrato não obteve registro por falha meramente
formal, por exemplo, nas mãos do promitente vendedor, que poderia exigir vantagem indevida para
outorgar a escritura devida.
Para contornar a exigência absurda da lei, segundo o mencionado autor, necessária se faz uma
interpretação construtiva, com saída técnica e razoável para a questão. Basta entender que
adjudicação compulsória é espécie do gênero execução de obrigação de fazer, de prestar declaração
para concluir contrato (art. 461 do CPC). Logo, o promitente comprador com título registrado usa a
espécie adjudicação compulsória (art. 1.418 do CC), enquanto o promitente comprador sem título
registrado usa o gênero do art. 461 do CPC, que alberga todos os contratos preliminares. O resultado
prático é rigorosamente o mesmo e produzirá a sentença judicial todos os efeitos do contrato ou
declaração não emitida. (LOUREIRO, Francisco
Eduardo.Código Civil Comentado. Cesar Peluso (Org.). 7ed. São Paulo: Manole. 2013. P. 1504)
Marco Aurélio Bezerra de Melo sustenta que efetivamente, a relação entre promitente comprador e
vendedor é obrigacional e não real. O registro e a sua inafastável oponibilidade erga omnes serve para
que se crie o chamado direito real de aquisição exercido em face de terceiros, mas não pode ser
condicionante do cumprimento de uma obrigação contratual em que ao comprador incumbe o pagamento
do preço e ao vendedor, um vez adimplida a obrigação, a outorga da escritura definitiva. Essas obrigações
não podem estar condicionadas ao direito real criado pelo registro, sob pena de transformar o ônus do
registro em obrigação propriamente dita. Em que pese a infeliz redação do Código sugerir que o registro é
requisito para a adjudicação compúlsoria, somos do entendimento de que continua em plena
aplicabilidade o verbete de jurisprudência nº 239 do STJ.
Melo, Marco Aurélio Bezerra de. Direito das Coisas. São Paulo: Atlas, 2015. p.434
2ª QUESTÃO:
Renato encontra por acaso com João na rua. Após iniciarem conversa, João informa a Renato que é
locatário em um contrato de locação residencial e que os alugueis comprometem bastante a sua renda
mensal. Renato, preocupado com a situação de João, sinaliza com a possibilidade de lhe emprestar um
imóvel de sua titularidade que está desocupado, devendo João arcar tão somente com as despesas
ordinárias do imóvel.
Diante do surgimento da promessa, João efetua o pagamento da multa rescisória, extingue o contrato
de locação e vai morar provisoriamente com sua mãe até a entrega da posse do imóvel prometido pelo
amigo.
Após alguns dias, João entra em contato com Renato para entabular as cláusulas do contrato de
comodato, quando então toma ciência da desistência do proprietário, que inclusive locou o bem para
terceiro.
Diante do exposto, assiste algum direito a João?
Responda fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
Ensina Marco Aurélio Bezerra de Melo que " o contrato de comodato importa na tradição gratuita e
temporária de um bem infungível e inconsumível. Tratando-se de um contrato real, o comodato
somente se aperfeiçoa com a efetiva entrega do bem ao comodatário. Ainda que exista um contrato
escrito estabelecendo os direitos e deveres dos contratantes, se não houver a tradição do bem, objeto
do comodato, haverá uma promessa ou contrato preliminar de comodato que não torna o contrato
perfeito e acabado. Poderá exsurgir desse encontro de vontade os efeitos jurídicos de uma eventual
responsabilização pré-contratual se o comodante, injustificadamente, não honrar com a sua palavra,
disponibilizando efetivamente o bem em favor do comodatário." (Direito Civil: contratos /
coordenação Marco Aurélio Bezerra de Melo, J. M. Leoni Lopes de Oliveira. - 3. ed. - Rio de Janeiro:
Forense, 2019.)
05 Tema: Elementos naturais do contrato. Vícios redibitórios. Conceito. Requisitos. Efeitos. Ações
edilícias. Prazos. Evicção. Conceito. Requisitos. Cláusula de reforço, diminuição e exclusão da
garantia. Efeitos da evicção. Evicção parcial.
1ª QUESTÃO:
João propõe demanda indenizatória em face de Pedro. Aduz, em síntese, que adquiriu do réu um bem
móvel e que veio a perdê-lo por evicção. Diante da perda, pleiteia o direito reparatório, com fulcro no
artigo 450 do Código Civil.
Em defesa, sustenta o demandado pela prescrição, uma vez que o trânsito em julgado do
reconhecimento da evicção se deu em janeiro de 2019, enquanto que a presente demanda somente foi
distribuída em janeiro 2023, sendo certo que o pedido em questão se submete ao prazo prescricional
previsto no artigo 206, §3º, IV ou V do CC/02.
Em réplica, sustenta o autor que o ordenamento jurídico não prevê expressamente o prazo
prescricional da pretensão indenizatória em decorrência da evicção, e assim sendo, deve a evicção se
submeter ao prazo geral legal de 10 anos previsto no artigo 205 do mesmo diploma legal.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
AgInt no AREsp 557681 / RJ AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2014/0189458-3 RELATOR
Ministro RAUL ARAÚJO (1143) ÓRGÃO JULGADOR T4 - QUARTA TURMA DATA DO
JULGAMENTO 12/12/2022
DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE DJe 14/12/2022
EMENTA
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS DECORRENTES DA ALIENAÇÃO DE COTAS DE CLUBE
DE INVESTIMENTOS. PRAZO PRESCRICIONAL DECENAL. PRECEDENTE DA SEGUNDA
SEÇÃO. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Segundo o princípio da actio nata, o prazo prescricional somente passa a fluir a partir do momento
em que existir uma pretensão exercitável por parte daquele que suportará os efeitos do fenômeno
extintivo. No caso, os autores tiveram ciência da lesão na data de resgate das cotas, sendo este o
marco inicial da prescrição.
2. "Nas controvérsias relacionadas à responsabilidade contratual, aplica-se a regra geral (art. 205
CC/02) que prevê dez anos de prazo prescricional e, quando se tratar de responsabilidade
extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/02, com prazo de três anos. Para o
efeito da incidência do prazo prescricional, o termo ‘reparação civil‘ não abrange a composição da
toda e qualquer consequência negativa, patrimonial ou extrapatrimonial, do descumprimento de um
dever jurídico, mas, de modo geral, designa indenização por perdas e danos, estando associada às
hipóteses de responsabilidade civil, ou seja, tem por antecedente o ato ilícito. Por observância à lógica
e à coerência, o mesmo prazo prescricional de dez anos deve ser aplicado a todas as pretensões do
credor nas hipóteses de inadimplemento contratual, incluindo o da reparação de perdas e danos por
ele causados" (EREsp n. 1.280.825/RJ, relatora Ministra NANCY ANDRIGHI, Segunda Seção,
julgado em 27/6/2018, DJe de 2/8/2018).
3. Agravo interno desprovido.
àresponsabilidade contratual, aplica-se a regra geral (art. 205 CC/02) que prevê dez anos de prazo
prescricional e, quando se tratar de responsabilidade extracontratual, aplica-se o disposto no art. 206,
§ 3º, V, do CC/02, com prazo de três anos.
6. Para o efeito da incidência do prazo prescricional, o termo "reparação civil" não abrange a
composição da toda e qualquer consequência negativa, patrimonial ou extrapatrimonial, do
descumprimento de um dever jurídico, mas, de modo geral, designa indenização por perdas e danos,
estando associada às hipóteses de responsabilidade civil, ou seja, tem por antecedente o ato ilícito.
7. Por observância à lógica e à coerência, o mesmo prazo prescricional de dez anos deve ser aplicado
a todas as pretensões do credor nas hipóteses de inadimplemento contratual, incluindo o da reparação
de perdas e danos por ele causados.
8. Há muitas diferenças de ordem fática, de bens jurídicos protegidos e regimes jurídicos aplicáveis
entre responsabilidade contratual e extracontratual que largamente justificam o tratamento distinto
atribuído pelo legislador pátrio, sem qualquer ofensa ao princípio da isonomia.
9. Embargos de divergência parcialmente conhecidos e, nessa parte, não providos.
2ª QUESTÃO:
Ricardo adquiriu de Sandro um bem imóvel. Ocorre que, após dois anos e meio na posse do imóvel,
surgiu uma infiltração em uma de suas paredes. Restou apurado que a infiltração era originária de um
vício oculto que se apresentava na coisa antes da aquisição por Ricardo.
Isto posto, Ricardo, três meses após a revelação do vício, propôs demanda estimatória com fulcro no
parágrafo primeiro do artigo 445 do Código Civil.
Em defesa, Sandro não nega o fato, mas alega decadência do direito de Ricardo em requerer
abatimento no preço.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
Marco Aurélio Bezerra de Melo ensina que "com objetivo de não manter o transmitente
indefinidamente vinculado, a lei prevê um prazo máximo para a reclamação, qual seja: se for móvel, o
prazo será de cento e oitenta dias; se for imóvel, o prazo será de um ano. Assim, o empresário que
adquire um maquinário para a sua fábrica, ainda que esta não esteja em funcionamento, deve ficar
atento para a experimentação do produto, pois o prazo máximo estabelecido pela lei é fatal. Esta nos
parece ser a melhor interpretação, pois se o Código Civil por um lado protege o adquirente do bem
por meio de um contrato comutativo ao dizer que o prazo de caducidade do direito somente se aplica
06 Tema: Extinção dos contratos: Resolução, distrato, resilição unilateral, revogação. Cláusula
resolutiva tácita e expressa. Revisão dos contratos no Código Civil e no Código de Defesa do
Consumidor.
1ª QUESTÃO:
Antônio firma com Ricardo contrato de trato sucessivo por 18 meses. No contrato, restou pactuado
que Ricardo fornecerá insumos para a lavoura de Antônio, que, em contrapartida, efetuará o
pagamento mensal por meio de 10% da produção obtida com a colheita. Porém, no sexto mês do
contrato, na região onde se desenvolve o acordo, ocorreu uma geada que danificou quase toda a
produção de Antônio.
Apesar de o evento climático ser comum na região e previsível para as partes, Antônio requer a
resolução da avença por onerosidade excessiva. O produtor alega que, apesar de ser a geada
corriqueira na região, os resultado das perdas foram muito superiores aos dos anos anteriores, o que o
impede de cumprir com o pagamento acordado. Assim sendo, se direcionar 10% dos seus resultados
para pagamento a Ricardo, não conseguirá honrar com outros compromissos assumidos.
Por outro lado, o fornecedor aduz que a geada é um evento previsível e que o contratante pode
conseguir com outro produtor o objeto do seu pagamento.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
Segundo Marco Aurélio Bezerra de Melo, "não se deve levar ao pé da letra a apontada exigência, sob
pena de praticamente inviabilizar a sua aplicação. Há que se conferir uma interpretação benevolente
para a viabilização da modificação do contrato sem que isso signifique desconsideração à importância
de se respeitar a liberdade contratual e a obrigatoriedade das convenções. Nessa ótica, a doutrina tem
recomendado que se admita como imprevisível uma causa que seja previsível, mas que produza
resultados extraordinários e imprevisíveis segundo o risco que razoavelmente os contratantes
poderiam esperar.35 A seca no Nordeste ou a geada no sul do Brasil são eventos previsíveis em
determinados períodos do ano, mas em ambas as regiões, de alguma forma, a produção agropecuária
continua se desenvolvendo e há um risco razoável assumido pelos contratantes com relação a
financiamentos ou de compra e venda dos produtos, por exemplo. Dessa forma, pode suceder que em
determinado ano os eventos naturais assinalados que se mostrem previsíveis acabem ganhando uma
dimensão tão extraordinária que o resultado produzido seja de tal forma imprevisível que justifique a
modificação das bases contratuais iniciais em razão da onerosidade excessiva superveniente em
desfavor de uma das partes." (Direito Civil: contratos / coordenação Marco Aurélio Bezerra de Melo,
J. M. Leoni Lopes de Oliveira. - 3. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2019.)
III Jornada de Direito Civil - Enunciado 175 CJF
A menção à imprevisibilidade e à extraordinariedade, insertas no art. 478 do Código Civil, deve ser
interpretada não somente em relação ao fato que gere o desequilíbrio, mas também em relação às
conseqüências que ele produz.
2ª QUESTÃO:
Callcenter Ltda. propõe demanda indenizatória em face de Boa Vida Saúde. Aduz, em síntese, que a
demandada mantinha com a autora contrato de longa data para a prestação de serviços de
telemarketing. A demandante afirma que no último aditivo contratual, restou pactuado entre as partes
uma ampliação dos serviços de call center, o que demandou grande fluxo de investimentos por parte
da autora. Todavia, um ano após o termo aditivo, a demandada resolveu resilir unilateralmente o
vínculo jurídico, o que, consequentemente, lhe trouxe sérios prejuízos financeiros. Assim sendo, com
fulcro no artigo 473, parágrafo único, do Código Civil, faz-se imperioso o devido ressarcimento
substitutivo, ora pleiteado, tendo em vista a impossibilidade da suspensão dos efeitos da resilição
unilateral, apta a permitir a recuperação dos investimentos realizados.
Em defesa, a empresa ré não nega os fatos. Entretanto, alega que não cometeu qualquer ato ilícito
capaz de ensejar o pedido indenizatório ventilado. A demandada sustenta que foi convencionada no
termo aditivo a possibilidade de resilição unilateral após um ano da pactuação a qualquer dos
contratantes. Portanto, por existir prazo determinado convencionado livremente entre partes, não há
que se falar na aplicação do artigo 473 do CC e no suposto direito indenizatório.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
DECISÃO
03/05/2022 08:45
Contratante deve indenizar empresas contratadas por resilição unilateral antes da recuperação do
investimento
A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu, com base no artigo 473 do
Código Civil, ter havido abuso no direito de denúncia por parte de uma operadora de planos de saúde
que rompeu unilateralmente o contrato com duas empresas de telemarketing, sem que fosse respeitado
prazo razoável para a recuperação dos investimentos que elas fizeram para cumprir as obrigações
assumidas.
A turma julgadora condenou a operadora a indenizar as outras empresas pelos danos materiais
decorrentes da denúncia do contrato, a serem apurados na fase de liquidação de sentença por
arbitramento.
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) manteve a sentença de improcedência da ação de
indenização por danos materiais ajuizada pelas empresas de telemarketing, por entender que a
operadora de saúde, ao decidir pela resilição unilateral, respeitou os prazos expressamente previstos
no instrumento contratual para o exercício do direito de denúncia.
Investimentos para o cumprimento das obrigações contratuais
A ministra Nancy Andrighi, relatora do recurso especial das duas empresas, apontou que a resilição
unilateral - meio lícito para que uma das partes sujeite a outra ao exercício do seu direito de extinguir
o vínculo contratual - não exige motivação e pode ser efetivada a qualquer tempo.
Entretanto, a relatora explicou que, segundo o artigo 473, parágrafo único, do Código Civil, o prazo
expressamente acordado será plenamente eficaz desde que o direito à resilição unilateral seja exercido
quando já transcorrido tempo razoável para a recuperação dos investimentos realizados pela outra
parte para o cumprimento das obrigações assumidas no contrato.
Caso não se respeite esse prazo, prosseguiu a magistrada, o Código Civil considera que a denúncia
será abusiva - impondo, por consequência, a suspensão dos seus efeitos até que haja a absorção do
capital aplicado por uma das partes para a execução do contrato.
A ministra mencionou precedente (REsp 1.555.202) no qual a Quarta Turma do STJ entendeu que a
existência de cláusula autorizativa da resilição não justifica o rompimento unilateral e imotivado de
um contrato que esteja sendo cumprido a contento, principalmente se a parte que não deseja a
resilição fez altos investimentos para executar suas obrigações.
Contrato era a principal fonte de ganho das empresas
No caso dos autos, Nancy Andrighi lembrou que - como reconhecido pelo próprio TJSP - as empresas
de telemarketing realizaram investimentos para garantir a prestação dos serviços contratados pela
operadora de saúde, e tinham a expectativa de manutenção do contrato, o qual representava a
principal parte de seu faturamento.
A relatora entendeu que a operadora não observou prazo compatível com a natureza do contrato e
com o montante dos investimentos realizados, caracterizando-se sua conduta como abuso do direito
de denúncia.
"Como a suspensão dos efeitos da resilição unilateral não foi determinada em momento oportuno,
apto a permitir a recuperação dos investimentos realizados pelas recorrentes, faz-se imperioso o
respectivo ressarcimento", concluiu a ministra ao acolher o recurso e reconhecer o direito à
indenização, c
orrespondente aos valores estritamente necessários para o cumprimento das obrigações contratadas.
Leia o acórdão no REsp 1.874.358.
1ª QUESTÃO:
No dia seguinte à aquisição on line ( através de atendimento direto em tempo real ) de um programa
anti-vírus em um site da Internet, mediante o pagamento de um preço, tendo sido o bem objeto de
download no mesmo ato, o consumidor, ao verificar que o produto não correspondeu às suas
expectativas, se arrependeu do negócio, e resolveu desfazê-lo. Pergunta-se : a) A pretensão do
consumidor encontra amparo no ordenamento jurídico brasileiro? b) Em que momento o contrato se
considerou formado?
RESPOSTA:
a) O consumidor pode se valer do prazo de arrependimento de 7 dias fixado no art. 49 do Código de
Defesa do Consumidor, que serão contados, no caso, do download do programa, em se tratando de
contrato à distância, lhe dá uma menor possibilidade de avaliar o que está contratando, tendo em
vista, ainda, se tratar de operação considerada perigosa, em razão do meio.
b) Tendo sido o contrato realizado entre presentes, sua formação, de forma análoga aos contratos por
telefone, ocorre por ocasião do recebimento da aceitação pelo fornecedor-proponente, pois a
comunicação entre as partes foi realizada em tempo real, podendo as partes ouvir-se mutuamente e ao
mesmo tempo, ainda que haja um reduzido intervalo entre as suas manifestações.
2ª QUESTÃO:
O provedor de conteúdo da página de um jornal veicula notícia expondo a intimidade de uma famosa
atriz, de forma difamatória. Diante disso, a atriz ingressa com ação de reparação de danos, com
fundamento no art. 5º, V e X da Constituição da República. Argúi o provedor, em sua contestação,
tratar-se de mero intermediário, equiparado às companhias telefônicas em virtude do conteúdo das
chamadas, diante do que não cabe a sua responsabilização. Enfrente o argumento acima, enfatizando
se o provedor de conteúdo pode ou não ser responsabilizado por tal fato.
RESPOSTA:
0034785-53.2014.8.19.0014 - APELAÇÃO
1ª Ementa
Des(a). LUIZ FERNANDO DE ANDRADE PINTO - Julgamento: 17/10/2018 - VIGÉSIMA
QUINTA CÂMARA CÍVEL
1ª QUESTÃO:
Fernando propõe demanda anulatória de negócio jurídico cumulada com declaratória de direito de
preferência em face de Antônio e João. O autor aduz, em síntese, que o primeiro demandado, sem o
seu consentimento e sem que lhe fosse conferido o direito de preferência previsto no artigo 504 do
Código Civil, vendeu para o segundo réu fração de imóvel indiviso, do qual também é proprietário.
Informa ainda que somente soube da alienação da fração ideal do imóvel com o registro da compra e
venda no Cartório de Registro de Imóvel e dentro do prazo decadencial previsto em lei, contado a
partir de então, ingressou com a presente demanda e efetuou o depósito dos valores pagos "tanto por
tanto".
Em defesa, sustentam os demandados a decadência do direito do autor, isso porque a compra e venda
foi realizada há mais de um ano da propositura da presente demanda, sendo certo que o prazo previsto
em lei se inicia da venda e não do registro da mesma no Cartório de Registro de Imóveis como quer
crer o demandante. Por fim, os demandados aduzem ainda que os valores depositados pelo autor
foram realizados com base naqueles descritos na escritura de compra e venda. Todavia, os valores ali
consignados foram descritos a menor pelas partes contratantes, justamente para fins de redução de
carga tributária. Logo, os valores depositados para gerar o direito de sequela sobre o bem seriam
aqueles estabelecidos pelo mercado e não pelas partes em contrato, sob pena de, em assim se
mantendo, gerar o enriquecimento sem causa do depositante.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
REsp 1628478 / MG RECURSO ESPECIAL 2016/0252768-1 Relator(a) Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE (1150) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento
03/11/2020 Data da Publicação/Fonte DJe 17/11/2020
Ementa
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. VENDA DE QUINHÃO DE COISA COMUM INDIVISA.
DIREITO DE PREFERÊNCIA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO
OCORRÊNCIA. INOBSERVÂNCIA AO DIREITO DE PREEMPÇÃO DOS DEMAIS
CONDÔMINOS. AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. CIÊNCIA INEQUÍVOCA QUE SE
DEU APENAS COM O REGISTRO DA ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA.
DISSONÂNCIA ENTRE O PREÇO DO NEGÓCIO E AQUELE ESTAMPADO NO TÍTULO
TRANSLATIVO REGISTRADO EM CARTÓRIO. PRÁTICA DE PREÇO SIMULADO. ABUSO
DO DIREITO. OFENSA À BOA-FÉ OBJETIVA. PREVALÊNCIA DO DOCUMENTO LAVRADO
PELO TABELIÃO E LEVADO A REGISTRO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E
DESPROVIDO.
1. O propósito recursal consiste em definir, além da negativa de prestação jurisdicional: i) a forma
pela qual deve se dar a notificação que viabilize o direito de preferência do condômino na aquisição
de parte ideal de coisa comum indivisa; e ii) o parâmetro do valor do negócio a ser considerado para
tal fim.
2. Verifica-se que o Tribunal de origem analisou todas as questões relevantes para a solução da lide,
de forma fundamentada, não havendo falar em negativa de prestação jurisdicional.
3. Nos termos do art. 504 do CC/2002, é garantido ao condômino o direito de preferência na aquisição
de fração ideal de coisa comum indivisa, em iguais condições ofertadas ao terceiro estranho à relação
condominial, desde que o exerça no prazo de 180 (cento e
oitenta) dias a contar da ciência. Tal conhecimento deve ser possibilitado pelo coproprietário
alienante, em decorrência de imposição legal, através de prévia notificação, judicial, extrajudicial ou
outro meio que confira aos demais comunheiros
ciência inequívoca da venda e dos termos do negócio, consoante o previsto nos arts. 107 do CC/2002
e 27, in fine, da Lei n. 8.245/1991, este último aplicado por analogia.
4. Aperfeiçoada a venda (no caso imobiliária) ao terceiro, com a lavratura de escritura pública e o
respectivo registro no Cartório de Registro de Imóveis, sem a devida observância ao direito de
preempção, surge para os coproprietários preteridos o direito de
ajuizamento de ação anulatória ou de direito de preferência c/c adjudicação compulsória, desde que o
faça dentro do prazo decadencial de 180 (cento e oitenta) dias, contados do registro da escritura, cuja
publicidade implica a presunção de ciência acerca da venda e das condições do negócio estampadas
no título.
5. Praticado preço simulado pelas partes, fazendo constar da escritura pública preço a menor, que não
reflita o valor real do negócio, deve prevalecer aquele exarado na escritura devidamente registrada
para fins do direito de preferência, sendo que o registro do título (que tem como atributo dar
publicidade da alienação imobiliária a toda a sociedade, conferindo efeito erga omnes) é o ato
substitutivo da notificação, que deveria ter sido anteriormente remetida ao coproprietário, mas não
foi, não podendo o condômino alienante valer-se da própria torpeza, a qual denota oabuso
2ª QUESTÃO:
Estabeleça, fundamentadamente, a diferença e os efeitos jurídicos da venda "ad mensuram" e da
venda "ad corpus".
RESPOSTA:
Ensina Marco Aurélio Bezerra de Melo que
Um bem imóvel pode ser vendido pela sua medida de extensão ou como coisa certa e discriminada.
No primeiro caso, regulado no caput do artigo 500 do Código Civil, temos a chamada venda ad
mensuram. Na segunda, a venda será considerada ad corpus, na forma prescrita pelo parágrafo
terceiro do referido dispositivo legal.
A venda por medida de extensão ou com determinação precisa da área vendida dá azo a que a
metragem oferecida pelo vendedor não corresponda à realidade, por ser inferior ou superior. Nada
obsta que na venda ad mensuram seja referido o nome do imóvel, como, por exemplo, 180 hectares da
Fazenda Boa Esperança. Será igualmente ad mensuram quando o preço ficar condicionado às medidas
e extensões do bem (TJPR, 12ª CC, proc. nº 1225253-2, Rel. Des. D‘artagnan Serpa Sa, julg. em
09/02/2015).
Se a área for inferior, descortina-se para o comprador a possibilidade de exigir complementação da
área por meio da ação ex empto. Se isto não for possível, eventualmente, pelo fato de a área
extensível pertencer a outra pessoa, poderá o comprador reclamar abatimento proporcional do preço
ou pleitear a resolução do negócio. Para tanto, diz-nos Carvalho de Mendonça que será "bastante que
o vendedor declare qual a quantidade que vende para ficar adito a perfazer as faltas verificadas em
ulterior medida". No caso, prossegue o autor, "o comprador tem sempre ação para obter a quantidade
prometida ou declarada no contrato. Se isto, porém, for de qualquer modo impraticável, tem ele
direito de exigir a diferença do preço dado ou prometido".
Questão que sempre se mostrou polêmica é a possibilidade de o vendedor reclamar complemento do
preço ou indenização se a área, por ignorância sua acerca da dimensão real do imóvel, fosse maior do
que a que entregara. Clóvis Beviláqua se mostrava como o defensor mais estrênuo da inexistência
desse direito do vendedor, pois via a regra como um direito exclusivo do comprador. Em sentido
oposto, o parágrafo segundo do artigo 500 do Código Civil, na esteira da parte final do artigo 1.537
do Código Civil italiano, optou por prever que "se em vez de falta houver excesso, e o vendedor
provar que tinha motivos para ignorar a medida exata da área vendida, caberá ao comprador, à sua
escolha, completar o valor correspondente ao preço ou devolver o excesso".
Desta forma, por razões de equidade e atendendo ao princípio da boa-fé, se houver excesso na área
alienada e o vendedor incorrer em erro por ignorar o tamanho real do imóvel, poderá pleitear
complementação do preço ou exigir a devolução da área vendida em excesso. Ao vendedor caberá o
ônus de provar a falsa noção da realidade a fim de viabilizar o seu pleito.
Com a finalidade de tornar o alcance da norma o mais seguro possível, o legislador estabeleceu uma
presunção, qual seja: a dimensão é simplesmente enunciativa, não cabendo, portanto, reclamação por
parte do comprador ou do vendedor, se a diferença encontrada não exceder a cinco por cento da área
total, ou dito de outra forma, um vigésimo da área total enunciada. Imaginemos que um imóvel tenha
sido vendido como tendo 100 alqueires mineiros quando, na verdade, um levantamento topográfico
com o estabelecimento do real perímetro da área demonstrou medir 98 ou 102 alqueires
ouentão de um bem vendido como tendo área de Na ocorrência das duas hipóteses, não caberia
reclamação por parte do comprador ou do vendedor.
No direito anterior (art. 1.136, CC/16), esta presunção era absoluta, impossibilitando que o adquirente
demonstrasse que a despeito da pequena diferença o negócio não se realizaria se o comprador
soubesse do tamanho real do imóvel. Com a atual parte final do parágrafo primeiro do artigo 500 do
Código Civil a presunção é apenas juris tantum, como se pode perceber pela sua leitura: "Presume-se
que a referência às dimensões foi simplesmente enunciativa, quando a diferença encontrada não
exceder de um vigésimo da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em
tais circunstâncias, não teria realizado o negócio."109
O direito do comprador e do vendedor é potestativo, isto é, encontra o outro contratante num estado
de completa submissão ao exercício do direito assegurado pela lei e o prazo, portanto, é decadencial,
consoante preceitua o artigo 501 do Código Civil. A lei fixa para o comprador reclamar a área ou o
abatimento proporcional e o vendedor a complementação do preço o prazo de um ano a contar do
registro do título no cartório imobiliário competente, sob pena de decadência (TJRJ, Oitava Câmara
Cível, proc. nº 0007152-48.2013.8.19.0064, Rel. Des. Cezar Augusto R. Costa, julg. em 21/10/2014).
Já na venda ad corpus explica o professor que
Essa venda é feita quando o comprador adquire o bem como uma coisa certa e discriminada e a
metragem funciona como apenas um elemento enunciativo e que não tenha servido de razão
determinante para o assentimento do comprador. Nesse caso, encontrada eventual diferença de
metragem, não caberá reclamação, pois não se adquiriu extensão de terra. Para se saber se a venda de
terras foi feita ad mensuram ou ad corpus, o Juiz terá que consultar a vontade das partes, pois ainda
que não conste expressamente na escritura a referência que a venda é feita na modalidade ad corpus,
as circunstâncias do caso podem levar a que a compra teve por objeto coisa certa. Em princípio, terá
havido venda ad corpus se na descrição do imóvel constar, por exemplo, que está sendo vendida a
Fazenda Boa Esperança sendo a metragem uma referência na escritura, mas que não chegou a
identificar o intento do comprador em comprar determinada área. O ideal é que os contratantes, com a
devida consultoria de operador do direito, estabeleçam na escritura que a venda é feita ad corpus ou
ad mensuram a fim de se evitar disceptações do real intento das partes.
Contratos, Atlas, 2019.
09 Tema: Compra e venda II. Cláusulas especiais da compra e venda. Retrovenda. Venda a contento
e venda sujeita a prova. Preempção ou preferência. Venda com reserva de domínio. Venda sobre
documentos. Troca ou permuta.
1ª QUESTÃO:
Henrique teve desapropriado pelo poder público um imóvel de sua titularidade. A justificativa para a
realização do ato foi a necessidade de construir uma escola e uma praça pública no local.
Todavia, após dois anos da desapropriação, o poder público aliena onerosamente o bem para José, que
efetua o pagamento à vista.
Henrique, ciente do ocorrido, ingressa com ação de retrocessão em face dos envolvidos na compra e
venda, sob o argumento de que não lhe foi conferido o direito de preferência previsto no artigo 519 do
Código Civil, e, assim sendo, requer do magistrado que seja oportunizado o depósito do preço e a
sequela do bem em face do terceiro.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
Salienta Marco Aurélio Bezerra de Melo que
Há controvérsia doutrinária acerca da natureza da retrocessão com efeito jurídico relevante. Terá ela
natureza real ou pessoal? Se for real, a sua configuração possibilitará, à semelhança do condômino a
quem não deu direito de preferência, adjudicar o bem de modo forçado mediante o depósito do valor
atual do bem (art. 504, CC). A natureza real da retrocessão permitirá ao expropriado, preenchidos os
requisitos legais, pleitear a reincorporação do bem que saiu de seu patrimônio. Em favor dessa tese
levantam-se argumentos interessantes.
O primeiro é que a preempção convencional não se confunde com a legal e esta última assegura ao
expropriado, não a ação reivindicatória, mas sim a ação de retrocessão. Nessa linha de raciocínio, não
teria sentido o legislador assegurar ao expropriado o direito à indenização se isto já lhe fora outorgado
por ocasião da própria desapropriação, nos moldes da garantia fundamental prevista no artigo 5º,
XXIV da Constituição Federal. O próprio instituto da desapropriação funciona como um dos mais
importantes limites ao direito de propriedade e a venda forçada materializada pelo instituto apenas se
justifica se houver o efetivo respeito ao interesse público, na forma disciplinada pela lei maior. Assim,
se a desapropriação não se revestir da efetiva utilidade ou necessidade pública, ou ainda, do interesse
social, que serviram de justificativa jurídica para a referida intervenção estatal, nada mais justo e
coerente que o bem retorne ao patrimônio particular se este pagar o bem pelo seu preço atual.
A pequenez do cidadão perante o Estado e o dever deste de orientar a sua ação em estado de
permanente observância do interesse público, levam a que Otavio Luiz Rodrigues Junior36 defenda a
natureza real da retrocessão com fundamento que deve ser reproduzido na íntegra: "Com essa força
quase sem contraste do Estado, a retrocessão comparece como uma incipiente forma de se coibirem
os abusos e desvios da ação interventiva no domínio particular. Não é um privilégio do particular
sobre o Estado. Cuida-se de uma proteção mínima de um particular sem recursos jurídicos em face da
atuação abusiva, desviada e ilícita do poder expropriador. Sob essa ótica, é justificável em termos de
política jurídica a existência de uma figura como a retrocessão, com eficácia real."
Em trabalho jurídico específico e posterior ao Decreto-lei 3.365/41, Hélio Moraes Siqueira37 alude
ao caráter vinculado do ato administrativo que principiou a desapropriação, sustentando a existência
de uma condição resolutiva do domínio da Administração Pública se não fosse observada a finalidade
da desapropriação. Na opinião do autor, se esta não se verificar "o desvio de finalidade do ato
expropriatório pode resultar no retorno do bem ao estado anterior à desapropriação, pelo exercício do
direito de retrocessão, que é de natureza real, visto que o domínio jamais se transferira
definitivamente do patrimônio do expropriado".
Se a retrocessão for meramente obrigacional, o expropriado lesado deverá se satisfazer com as perdas
e danos como nos parece mais correto,considerando-se o
direito posto. Com as vênias devidas, o artigo 35 do Decreto-lei 3.365/41, aplicável às outras
modalidades de desapropriação, colocou uma pá de cal nessa questão38 ao dizer que "os bens
expropriados, uma vez incorporados à Fazenda Pública, não podem ser objeto de reivindicação, ainda
que fundada em nulidade do processo de desapropriação. Qualquer ação, julgada procedente,
resolver-se-á em perdas e danos". Além desse fundamento, José dos Santos Carvalho Filho39 entende
que a maior prova da natureza pessoal do instituto está na sua própria regulação no âmbito do estudo
do direito de preempção que como visto alhures gera direito obrigacional. A natureza pessoal é
igualmente referida pelo professor Ebert Chamoun40 ao afirmar que "o direito do expropriado não é,
evidentemente, um direito real, porque o direito real não se contrapõe jamais, a um mero dever de
oferecer". (Direito Civil: contratos / coordenação Marco Aurélio Bezerra de Melo, J. M. Leoni Lopes
de Oliveira. - 3. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2019.)
2ª QUESTÃO:
João propõe demanda de preferência em face de José e Pedro, na qual busca, com fulcro no artigo 504
do Código Civil, o reconhecimento do seu direito de preferência perante terceiros na compra de
quinhão de bem imóvel que titulariza em condomínio voluntário com o primeiro réu. Para tanto,
comprova nos autos o depósito dos valores no mesmo montante que foi pago pelo segundo
demandado.
Em contestação, os réus não negam o fato de a preferência não ter sido dada ao autor, todavia
sustentam que ele não teria condições financeiras de efetuar o depósito em igualdade de condições
com terceiros interessados na coisa, tendo em vista o seu parco patrimônio individual. Os réus
noticiam que o depósito somente se fez possível em razão de empréstimo contraído pelo autor junto a
uma empresa de incorporação imobiliária que não lhe exigiu qualquer garantia ou comprovação de
renda para a entrega do dinheiro. Afirmam, portanto, ter havido simulação e abuso do direito de
preferência por agirem em contrariedade à boa-fé objetiva e à função social dos contratos, o que, por
si só, no caso específico, afasta a regra do artigo 504 do CC.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
REsp 1875223 / SP RECURSO ESPECIAL 2019/0320840-6 Relator(a) Ministra NANCY
ANDRIGHI (1118) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 25/05/2021 Data
da Publicação/Fonte DJe 31/05/2021
Ementa
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE PREFERÊNCIA. IMÓVEL EM
CONDOMÍNIO. DEPÓSITO DO PREÇO DO BEM. MONTANTE OBTIDO ATRAVÉS DE
EMPRÉSTIMO. IRRELEVÂNCIA PARA O EXERCÍCIO DO DIREITO DE PREFERÊNCIA.
1. Ação de preferência, fundada no art. 504 do CC/02.
2. Ação ajuizada em 26/09/2007. Recurso especial concluso ao
gabinete em 31/03/2020. Julgamento: CPC/2015.
3. O propósito recursal é definir se a tomada de empréstimo para cumprimento do requisito do
depósito do preço do bem, previsto no art. 504 do CC/02, configura abuso de direito hábil a tolher o
exercício do direito de preferência do recorrente.
4. O art. 504 do CC/02 enumera taxativamente requisitos a serem observados para o exercício do
direito de preferência: i) a indivisibilidade da coisa; ii) a ausência de prévia ciência, pelo
condômino preterido acerca da venda realizada a estranho; iii) o depósito do preço, que deve ser
idêntico àquele que fora pago pelo estranho na aquisição; e iv) a observância do prazo decadencial de
180 (cento e oitenta) dias.
5. A origem do dinheiro utilizado para o depósito do preço do bem não tem qualquer relevância para
o exercício do direito de preferência.
6. Na hipótese, verifica-se que o TJ/SP concluiu, com base unicamente nos fatos de que a autora não
possuía patrimônio para fazer frente à aquisição do bem e de que o empréstimo realizado
ocorreu sem a prestação de qualquer garantia, que teria havido suposto abuso de direito no exercício
do direito de preferência.
Tais argumentos, contudo, não são suficientes para, por si sós, tolher o exercício do direito de
preferência da autora que prestou observância aos requisitos exigidos pelo art. 504 do CC/02.
7. Recurso especial conhecido e provido.
1ª QUESTÃO:
Em um contrato de locação residencial, o locatário, em razão da venda do imóvel a terceiro, pretende
depositar os valores e buscar o bem em face do adquirente. O locador alienante e o próprio comprador
se opõem à iniciativa do locatário, sob o argumento de que, apesar de o contrato estar averbado junto
à matrícula do imóvel, o mesmo não continha cláusula prevendo o direito de preferência ao locatário.
Aliás, sustentam que esse foi o principal motivo que propiciou a própria compra e venda do imóvel.
Decida fundamentadamente a questão, sabendo que todos os prazos previstos na lei de locações foram
respeitados pelos envolvidos na celeuma.
Pelo que se extrai da doutrina e jurisprudência não há necessidade de previsão no contrato do direito
de preferência ao locatário, pois é um direito oriundo da lei. Assim sendo, basta que o locatário
preencha os requisitos legais para opor o seu direito perante terceiros, sendo certo que cláusula
contratual prevendo a renúncia ao aludido direito é tida como não escrita.
RESPOSTA:
Neste sentido ensina Silvio Venosa
Com esta redação, mais técnica do que a lei anterior, ficam bem claros quais os direitos que podem
emergir de um direito de preempção preterido: existirá um direito real para o inquilino, se houver
registrado devidamente o contrato, o qual lhe permitirá haver o imóvel, ou então, exclusivamente, um
direito pessoal estampado em um pedido de perdas e danos. Não se admite renúncia a esse direito em
cláusula do contrato de locação, porque elide os objetivos específicos da lei, de acordo com o art. 45.
Uma cláusula desse teor é nula de pleno direito. (Lei do Inquilinato Comentada: doutrina e prática /
Sílvio de Salvo Venosa. - 16. ed. - São Paulo: Atlas, 2021.)
REsp 1272757 / RS RECURSO ESPECIAL 2011/0196196-2 RELATOR Ministro ANTONIO
CARLOS FERREIRA (1146) RELATOR PARA ACÓRDÃO Ministro RAUL ARAÚJO (1143)
ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA DATA DO JULGAMENTO 20/10/2020 DATA DA
PUBLICAÇÃO/FONTE
DJe 12/02/2021
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. LOCAÇÃO DE IMÓVEL. DIREITO DE PREEMPÇÃO DO INQUILINO
(LEI 8.245/1991, ART. 33). CONDIÇÕES PARA O EXERCÍCIO. DESCUMPRIMENTO PELO
LOCATÁRIO. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
1. Em harmonia com o Código Civil, no art. 221, caput, segunda parte, estabelece a Lei do Inquilinato
em seu art. 33, no que interessa ao exercício do direito de preferência na aquisição do imóvel locado
pelo inquilino, duas obrigações para o locatário: a) primeiro, para habilitar-se a eventual e futuro
exercício do direito de preempção, deve registrar o contrato de locação, averbando-o na respectiva
matrícula do registro imobiliário competente, dando, assim, plena publicidade a terceiros, advertindo
eventual futuro comprador do bem, de modo a não ser este surpreendido, após a compra, pela
pretensão de desfazimento do negócio pelo locatário preterido; b) segundo, pertinente agora já ao
exercício do direito de preferência pelo inquilino preterido e que se tenha oportunamente habilitado,
deverá este depositar o preço da compra e demais despesas da transferência, desde que o faça no
prazo decadencial de seis meses após o registro da alienação impugnada no registro imobiliário.
2. Na hipótese, é correto o entendimento do eg. Tribunal de Justiça ao dar provimento à apelação da
adquirente, julgando improcedente a ação proposta pela inquilina, assentando que o contrato de
locação somente fora averbado após a realização do negócio jurídico firmado entre o locador e a ora
recorrida.
3. Recurso especial desprovido.
2ª QUESTÃO:
Mauro, locatário de bem imóvel por prazo determinado, resolve, no curso da locação, resilir o
contrato na forma do art. 4° da Lei 8.245/91. Todavia, após a notificação encaminhada para tanto, o
locador exige, para a extinção do contrato e recebimento das chaves, o pagamento da multa resilitória,
com o que o locatário não concorda, sob o fundamento de que a extinção e liberação do imóvel
independem do pagamento da multa.
A quem assiste razão? Responda fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
11 Tema: Locação II. Sucessão, cessão e sublocação. O aluguel e a sua fixação, reajuste e revisão.
Ação de despejo. Direitos e deveres do locador e locatário. Direito real de aquisição. Regramento
das benfeitorias. Direito de retenção. Aspectos da Lei nº 12.112/09. Nulidades. Fraude à lei.
Regime jurídico da locação para fins residenciais e não residenciais.
1ª QUESTÃO:
Mario Silva propõe demanda de despejo por denúncia vazia em face de Laticínios Peçanha. O locador
aduz, em síntese, que diante do término do contrato de locação comercial notificou o réu para a
desocupação voluntária do imóvel, todavia o locatário se manteve inerte e continua no local
indevidamente exercendo sua atividade laborativa, não lhe restando outro caminho senão a presente
demanda judicial.
Em defesa o réu não nega o direito do locador de recuperar a posse do imóvel, mas apresenta pedido
reconvencional no sentido de que o reconvindo seja condenado ao pagamento de indenização pelo
valor do fundo de comércio constituído ao longo de dezoito anos de atividades exercidas no local.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
0026456-51.2020.8.19.0205 - APELAÇÃO 1ª Ementa
Des(a). CARLOS SANTOS DE OLIVEIRA - Julgamento: 03/04/2023 - SEGUNDA CAMARA DE
DIREITO PRIVADO
APELAÇÃO CÍVEL. RECONVENÇÃO EM AÇÃO DE DESPEJO. INDENIZAÇÃO POR
LUCROS CESSANTES E FUNDO DE COMÉRCIO. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO
RECONVENCIONAL (E PROCEDÊNCIA DO PRINCIPAL). APELO DO RECONVINTE/RÉU. 1.
Trata-se na origem de ação de despejo por denúncia vazia, certo que, na hipótese, o contrato de
locação comercial vigorava por prazo indeterminado. Réu que apresentou na contestação pedido
reconvencional de indenização por i) perda do ponto comercial; e ii) lucros cessantes por força de, na
vigência da locação, ter sido obrigado a manter fechado o bem, para a realização de obras referentes à
troca de bandeira do supermercado em seu entorno (de "Extra" para "Assaí". 2. Sentença de
procedência do pedido principal e improcedência da reconvenção. Apelo do reconvinte, limitado ao
pleito reconvencional. 3. Descabimento da reconvenção para o pedido de indenização de lucros
cessantes por fato ocorrido na vigência do contrato de locação. Artigo 343 do Código de Processo
Civil. Necessidade de conexão com a demanda principal, sob pena de burla ao princípio do juízo
natural. Extinção sem exame do mérito. Reforma de ofício da sentença de improcedência nesse
tocante. 4. Pretensão remanescente. Indenização pelo fundo de comércio. Rejeição. A previsão legal
de indenização pela perda do fundo de comércio se dá apenas na hipótese em que a renovação deixar
de ocorrer nas hipóteses citadas no § 3º do artigo 52 da Lei do Inquilinato. Está, portanto,
condicionado à existência do direito de renovação compulsória, circunstância que não se aplica no
caso analisado. REFORMA DE OFÍCIO DA SENTENÇA. RECURSO PREJUDICADO EM PARTE
E DESPROVIDO NO RESTANTE.
2ª QUESTÃO:
Modelo Modas propôs ação renovatória de locação em face de Gabriel Figueiredo. A autora aduz, em
síntese, ser locatária de uma loja comercial da ré desde os idos de 2008, e, ante a iminência do termo
final do contrato, sustenta que preenche os requisitos legais para a respectiva renovação, sob as
mesmas condições do negócio original, inclusive no que tange ao prazo de doze anos de duração do
contrato.
Em defesa, afirma a demandada que não se opôs à renovação do contrato, todavia impôs que deveria
ser respeitado o prazo máximo de cinco anos de prorrogação compulsória, o que não foi aceito pela
demandante. Assim sendo, como não houve o desejo de renovação pelo prazo máximo por parte da
locatária, a presente demanda deve ser julgada improcedente.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
REsp 1990552 / RS RECURSO ESPECIAL 2018/0115020-4 RELATOR Ministro RAUL ARAÚJO
(1143)
ÓRGÃO JULGADOR T4 - QUARTA TURMA DATA DO JULGAMENTO 17/05/2022 DATA DA
PUBLICAÇÃO/FONTE DJe 26/05/2022
EMENTA
CIVIL. LOCAÇÃO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO RENOVATÓRIA DE CONTRATO DE
LOCAÇÃO COMERCIAL. AUSÊNCIA DE NEGATIVA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
PRETENSÃO DO LOCADOR DE VER REPETIDO O PRAZO DO CONTRATO ORIGINAL.
IMPOSSIBILIDADE. PRAZO MÁXIMO DE PRORROGAÇÃO DE CINCO ANOS. RECURSO
DESPROVIDO.
1. Em sede da ação renovatória de locação comercial prevista no art. 51 da Lei 8.245/91, o prazo
máximo de prorrogação contratual será de cinco (5) anos. Assim, ainda que o prazo da última avença
supere o lapso temporal de cinco anos, a renovação compulsória não poderá excedê-lo, porquanto o
quinquênio estabelecido em lei é o limite máximo.
2. Recurso especial a que se nega provimento.
1ª QUESTÃO:
Sérgio e Sandro propõem demanda de cancelamento de cláusula de inalienabilidade sobre bem
imóvel. Aduzem, em síntese, que receberam por doação de seus pais o único bem imóvel que os
mesmos adquiriram em vida; todavia, na escritura de doação restou consignada cláusula de reserva de
usufruto vitalício aos doadores. Os demandantes informam ainda que os doadores e usufrutuários para
não terem que conviver com eventuais terceiros que por ventura viessem a adquirir o imóvel,
gravaram ainda o bem com cláusula de inalienabilidade. Os autores comprovam nos autos que seus
pais já faleceram há mais de 10 anos e que a aludida cláusula os impede de alienar a coisa a terceiros,
o que retira do imóvel a sua aptidão para circular economicamente e compromete a natural finalidade
do patrimônio. Daí porque pretendem que o magistrado, à luz do disposto no artigo 1911 do CC,
cancele a referida cláusula de inalienabilidade.
O magistrado indefere o pedido, sob o fundamento de que os autores não comprovaram a necessidade
da venda, bem como não apontaram supostos bens que seriam sub-rogados na cláusula imposta pelos
doadores.
Decidiu corretamente o magistrado?
Responda fundamentadamente a pergunta.
RESPOSTA:
0083154-73.2021.8.19.0001 - APELAÇÃO
Ementa sem formatação
1ª Ementa
Des(a). SANDRA SANTARÉM CARDINALI - Julgamento: 27/04/2023 - DECIMA SETIMA
CAMARA DE DIREITO PRIVADO (ANTIGA 26
APELAÇÃO. ALVARÁ JUDICIAL. PRETENSÃO DE CANCELAMENTO DAS CLÁUSUAS DE
INALIENABILIDADE, IMPENHORABILIDADE E INCOMUNICABILIDADE GRAVADAS
SOBRE IMÓVEL DOADO. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. APELO DA DONATÁRIA.
PRECEDENTES DO STJ QUE PREVEEM A POSSIBILIDADE DE CANCELAMENTO DE
GRAVAMES SOBRE O BEM DOADO, MEDIANTE A PRESENÇA DE DETERMINADOS
CRITÉRIOS. PRESENÇA, IN CASU, DOS CRITÉRIOS JURISPRUDENCIAIS.
IMPOSSIBILIDADE DE SE CONCLUIR QUE A VENDA DO IMÓVEL IRÁ IMPLICAR EM
PERDA DO PATRIMÔNIO, SOBRETUDO CONSIDERANDO QUE A APELANTE É PESSOA
COM 54 ANOS DE IDADE, POSSUINDO EXPERIÊNCIA DE VIDA, SENDO PLENAMENTE
CAPAZ E NÃO HAVENDO INDÍCIOS DE PRODIGALIDADE OU DE QUE A REQUERENTE
VIRÁ A AGIR DE FORMA A PROMOVER A DILAPIDAÇÃO DO PATRIMÔNIO, TENDO,
INCLUSIVE, MANIFESTADO A INTENÇÃO DE INVESTIR A QUANTIA FRUTO DA VENDA
DO BEM. BAIRRO ONDE SE LOCALIZA O IMÓVEL DOADO QUE É UM DOS MAIS
VALORIZADOS DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, RAZÃO PELA QUAL AS DESPESAS
ORDINÁRIAS DO IMÓVEL, COMO CONDOMÍNIO E IPTU, TENDEM A SER
NATURALMENTE MAIS ELEVADAS, REVELANDO-SE VEROSSÍMIL A TESE AUTORAL
DE QUE A MANUTENÇÃO DE UM IMÓVEL COM TAIS CARACTERÍSTICAS POSSA ESTAR
TRAZENDO ÔNUS FINANCEIRO DESNECESSÁRIO PARA A FAMÍLIA, AO PASSO QUE A
MUDANÇA PARA UM BEM LOCALIZADO EM OUTRO BAIRRO PODERIA ATENDER
MELHOR AO ORÇAMENTO FAMILIAR. C MANIFESTAÇÃO DE VONTADE INEQUÍVOCA
DA DONATÁRIA PELO CANCELAMENTO DOS GRAVAMES. FALECIMENTO DA MÃE DA
REQUERENTE QUE IMPLICOU NA EXTINÇÃO DA CLÁUSULA DE USUFRUTO E
REVERSÃO, ESTA ÚLTIMA QUE, DE FATO, INDICA UMA PREOCUPAÇÃO POR PARTE DA
REFERIDA DOADORA EM PRESERVAR O USUFRUTO INSTITUÍDO E POSSIBILITAR O
RETORNO DO BEM PARA SUA PROPRIEDADE E NÃO PROPRIAMENTE O INTUITO DE
PRESERVAR O BEM PARA FRUIÇÃO DOS HERDEIROS DA DONATÁRIA. DOAÇÃO QUE
OCORREU HÁ QUASE 6 (SEIS) ANOS. CONTEXTO FÁTICO QUE AUTORIZA A
EXCEPCIONAL INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO PARA DETERMINAR O
CANCELAMENTO DOS GRAVAMES INCIDENTES SOBRE O BEM, NOS TERMOS
REQUERIDOS NA INICIAL. RECURSO PROVIDO.
INTEIRO TEOR
Íntegra do Acórdão - Data de Julgamento: 27/04/2023 - Data de Publicação: 28/04/2023 (*)
INFO 646 STJ
REsp 1.631.278-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, por unanimidade, julgado em 19/03/2019,
DJe 29/03/2019
RAMO DO DIREITO
DIREITO CIVIL
TEMA
Imóvel doado aos filhos. Cláusula de inalienabilidade. Morte dos doadores. Ausência de justa causa
para a manutenção da restrição ao direito de propriedade. Cancelamento da cláusula. Possibilidade.
DESTAQUE
É possível o cancelamento da cláusula de inalienabilidade de imóvel após a morte dos doadores se
não houver justa causa para a manutenção da restrição ao direito de propriedade.
INFORMAÇÕES DO INTEIRO TEOR
O Superior Tribunal de Justiça, ainda sob a vigência do CC/1916, teve a oportunidade de interpretar o
art. 1.676 do referido Código com ressalvas, admitindo-se o cancelamento da cláusula de
inalienabilidade nas hipóteses em que a restrição, no lugar de cumprir sua função de garantia de
patrimônio aos descendentes, representava lesão aos seus legítimos i
nteresses. Nesse sentido, a imobilização do bem nas mãos dos donatários poderá não lhes garantir a
subsistência, seja porque a própria função social do imóvel objeto do negócio a título gratuito resta
por todo combalida, assumindo-se uma posição "antieconômica", com a sua retirada do mercado por
dilargadas décadas, cristalizando-o no patrimônio de quem dele não mais deseja ser o seu
proprietário. Assim, o atual Código Civil, no art. 1.848, passou a exigir que o instituidor da
inalienabilidade, nos casos de testamento, indique expressamente uma justa causa para a restrição
imposta, operando verdadeira inversão na lógica existente sob a égide do CC de 1916. Há de se exigir
que o doador manifeste razoável justificativa para a imobilização de determinado bem em
determinado patrimônio, sob pena de privilegiarem-se excessos de proteção ou caprichos
desarrazoados. Segundo a doutrina, "o que determina a validade da cláusula não é mais a vontade
indiscriminada do testador, mas a existência de justa causa para a restrição imposta voluntariamente
pelo testador. Pode ser considerada justa causa a prodigalidade, ou a incapacidade por doença mental,
que diminuindo o discernimento do herdeiro, torna provável que esse dilapide a herança". Nesse
contexto, o ato intervivos de transferência de bem do patrimônio dos pais aos filhos configura
adiantamento de legítima e, com a morte dos doadores, passa a ser legítima propriamente dita. Não
havendo justo motivo para que se mantenha congelado o bem sob a propriedade dos donatários, todos
maiores, que manifestam não possuir interesse em manter sob o seu domínio o imóvel, há de se
cancelar as cláusulas que o restrigem.
2ª QUESTÃO:
João, casado com Maria desde 2004, pelo regime da comunhão parcial de bens, proprietário de vários
imóveis na cidade do Rio de Janeiro (Ipanema, Tijuca e Barra da Tijuca), doa em 2022 um de seus
imóveis, localizado na Tijuca, adquirido em 1990, a seu filho mais velho, Manoel, fruto de
relacionamento anterior de João. Diante de impugnação formulada por Maria à doação, explique se a
pretensão de Maria deve ser julgada procedente ou improcedente.
Resposta objetivamente fundamentada.
RESPOSTA:
XXXV Concurso para Promotor de Justiça MP-RJ
Resposta sugerida pela Banca examinadora:
A pretensão de Maria deve ser julgada procedente, visto que o ato é anulável por falta de outorga do
cônjuge, em virtude do regime da comunhão parcial de bens, na forma do art. 1.647, I, do CC, bem
como porque a alienação de bem imóvel (gratuita ou onerosa), ainda que particular, depende de
outorga, na forma do art. 1.647, I, CC, não se aplicando o inciso IV do art. 1.647, CC, por se tratar de
bem particular.
Explica José Maria Leoni que
"O CC possui uma normatividade visando a garantir o patrimônio conjugal prevista em vários artigos
das disposições gerais do regime de bens entre os cônjuges (arts. 1.639/1.652) além de normas
esparsas nos capítulos que tratam de cada regime de bens ou ainda em outras partes do Código, como,
por exemplo, no capítulo da doação, entre outros. Tratei da matéria especificamente no Capítulo sobre
a administração dos bens e sua disponibilidade para o qual remetemos o leitor62. Aqui nos
limitaremos a ressalvar alguns aspectos dessas normas que, em conjunto, constituem um verdadeiro
princípio da preservação do patrimônio familiar. Apesar de o CC estabelecer o princípio da liberdade
no que diz respeito aos seus bens, os cônjuges encontram limitações previstas no próprio Código que
visam como um todo a proteger o patrimônio familiar. Uma norma da maior importância nesse
sentido é a que prevê como regra que um cônjuge não pode, sem autorização do outro, "alienar ou
gravar de ônus real os bens imóveis". A essa regra o Código apresenta exceções: a) no regime de
separação absoluta; b) no regime da participação final nos aquestos se houve previsão no pacto
antenupcial, mas somente em relação aos bens particulares; c) no caso de suprimento judicial66. Caso
tenha havido a alienação de imóvel sem autorização do outro, fora das exceções previstas, tanto o
marido como a mulher podem reivindicar o imóvel que foi alienado sem o seu consentimento67. Mas
a proteção, respeitada as exceções, também incide na alienação gratuita (doação). O efeito nessas
hipóteses é tornar o ato anulável. Igualmente se proíbe, visando a proteção do patrimônio familiar,
fora as exceções apresentadas acima, prestar fiança ou aval sem o consentimento do outro cônjuge.
Segundo a Súmula 332 do STJ: "A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a
ineficácia total da garantia". Ainda visando à preservação do patrimônio familiar, o CC considera
inválida a doação feita pelo cônjuge adultero ao seu cúmplice.
Direito Civil: família / coordenação J. M. Leoni Lopes de Oliveira, Marco Aurélio Bezerra de Melo. -
2. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2019.
1ª QUESTÃO:
Em um determinado contrato de fiança o fiador abdicou do benefício de ordem, pois se colocou como
solidário no cumprimento da prestação. Quando da data convencionada para efetuar o pagamento, o
credor exigiu do fiador o objeto da prestação e este, em razão do que dispõe o artigo 828 do CC,
cumpriu com o obrigado. Ato contínuo, na forma do artigo 347, III (por entender ser terceiro
interessado) e do artigo 831 do Código Civil, cobra a dívida inteira do devedor originário, que se
recusa a pagá-la integralmente, pois sustenta que o fiador - ao assumir a condição de devedor
solidário - passa a integrar o polo passivo da obrigação e, a partir de então, somente poderia exigir a
cota-parte do valor integramente pago, na forma do artigo 283 do CC.
A quem assiste razão, responda fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
A razão para a sub-rogação está em que o pagamento realizado pelo fiador não importa a extinção da
obrigação para o devedor, apenas modificando a pessoa a quem este deve prestar, uma vez que a
responsabilidade do fiador dá-se perante o credor, embora nada deva. O devedor não se libera
enquanto não quita sua obrigação, seja para com o credor, seja para com o fiador sub-rogado.
(TEPEDINO, Gustavo. BARBOZA, Heloisa Helena. DE MORAES, Maria Celina Bodin. Código
Civil Interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar. 2012. P.648).
Ocorre que ao assumir a condição de devedor solidário e interpretando-se os dispositivos arguidos
pela defesa literalmente poder-se-ia concluir pelo rateio da dívida entre o devedor e o fiador, uma vez
que no plano interno da relação jurídica que se forma entre os devedores, quando um paga
integramente a dívida inteira somente poderá cobrar dos demais as respectivas cota-partes, salvo
convenção em contrário.
Contudo, sabe-se que o fiador não integra a relação jurídica contratual, cabendo a ele apenas a
responsabilidade e não o débito, assim sendo não há, a princípio, contraprestação ao fiador por parte
do credor. Dessa forma para manter o equilíbrio das relações formadas e não prejudicar o fiador
quando este se coloca como solidário é que a próprio Código Civil editou o artigo 285 que assim
prescreve: “Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por
toda ela para com aquele que pagar.”
Portanto, na questão resta claro que a dívida interessa apenas ao devedor e em razão de tal interesse
deverá ressarcir integralmente àquele que a pagou, no caso o fiador e não apenas a cota-parte
conforme quer fazer crer.
2ª QUESTÃO:
Em um contrato de locação garantido por fiança, o locador propõe demanda de cobrança pelas verbas
inadimplidas em face do fiador, todavia não obtém êxito na cobrança integral dos valores. Ato
contínuo, em abril de 2023, o locador, não vendo outra solução, propõe nova demanda, agora em face
exclusivamente do locatário, para cobrar o saldo remanescente.
O devedor é citado e alega a prescrição com base no artigo 206, §3°, I, do CC, pois a inadimplência
ocorreu em março de 2020.
O locador, por outro lado, sustenta que não há que se falar em prescrição, pois houve a sua
interrupção quando da citação do fiador na ação de cobrança, ocorrida em março de 2021. Logo, à luz
da vedação ao enriquecimento sem causa, deve-se aplicar ao caso o artigo 202, parágrafo único e, por
meio de uma leitura a contrario sensu, o artigo 204, §3°, ambos do CC.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
PROCESSO REsp 1276778 / MS RECURSO ESPECIAL 2011/0214403-3 RELATOR Ministro
LUIS FELIPE SALOMÃO (1140) ÓRGÃO JULGADOR T4 - QUARTA TURMA DATA DO
JULGAMENTO 28/03/2017 DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE DJe 28/04/2017 REVPRO vol. 270
p. 442
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE LOCAÇÃO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA
ENTRE LOCATÁRIA E FIADORES. PROPOSITURA DE EXECUÇÃO APENAS EM RELAÇÃO
AOS FIADORES. CITAÇÃO. INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO QUE NÃO PREJUDICA O
DEVEDOR PRINCIPAL. EXCEÇÃO DO § 3° DO ART. 204 CC/02. IMPOSSIBILIDADE DE
EXTENSÃO EM SENTIDO INVERSO.
1. O Código Civil, em seu art. 204, caput, prevê, como regra, o caráter pessoal do ato interruptivo da
prescrição, haja vista que somente aproveitará a quem o promover ou prejudicará aquele contra quem
for dirigido (persona ad personam non fit interruptio).
2. Entre as exceções, previu o normativo que, interrompida a prescrição contra o devedor afiançado,
ipso facto, estará interrompida a pretensão acessória contra o garante fidejussório (princípio da
gravitação jurídica), nos termos do art. 204, § 4°, do CC.
3. A interrupção operada contra o fiador não prejudica o devedor afiançado (a recíproca não é
verdadeira), haja vista que o principal não acompanha o destino do acessório e, por conseguinte, a
prescrição continua correndo em favor deste.
4. Como disposição excepcional, a referida norma deve ser interpretada restritivamente, e, como o
legislador previu, de forma específica, apenas a interrupção em uma direção - a interrupção produzida
contra o principal devedor prejudica o fiador -, não seria de boa hermenêutica estender a exceção em
seu caminho inverso.
5. No entanto, a interrupção em face do fiador poderá, sim, excepcionalmente, acabar prejudicando o
devedor principal, nas hipóteses em que a referida relação for reconhecida como de devedores
solidários, ou seja, caso renuncie ao benefício ou se obrigue como principal pagador ou devedor
solidário, a sua obrigação, que era subsidiária, passará a ser solidária, e, a partir de então, deverá ser
norteada por essa sistemática (CC, arts. 204, § 1°, e 275 a 285). 6. Na hipótese, o credor, num
primeiro momento, ajuizou execução tão somente em face dos fiadores e, em razão da limitação da
responsabilidade destes, num segundo momento, intentou nova execução contra a devedora principal
para a execução do saldo restante. Dessarte, a interrupção da prescrição efetivada em relação aos
fiadores não pode vir a prejudicar a principal devedora, sendo que a análise de eventual renúncia à
fiança ou da obrigação solidária dos fiadores como devedores solidários demandaria a interpretação
de cláusula contratual e o revolvimento fático-probatório, o que é vedado no âmbito desta Corte, pela
incidência das Súmulas 5 e 7 do STJ.
7. Recurso especial não provido.
1ª QUESTÃO:
Rosana ajuizou ação de repetição de indébito cumulada com indenização por danos morais em face
do Banco Santo André. A autora narra que possui conta-corrente administrada pela demandada, com
quem contraiu empréstimo pessoal e que, por ocasião do depósito de suas verbas rescisórias -
oriundas de sua ex-empregadora -, houve o bloqueio de todo o montante, no valor total de R$
2.000,00 (dois mil reais), a título de recuperação de crédito em atraso. A autora pondera que a verba
serviria para o sustento de sua família, e que a gerente do banco se recusou a estornar o valor. A
demandante obtempera também que são absolutamente impenhoráveis os vencimentos, subsídios,
soldos, salários e remunerações, e que a conduta do réu caracteriza crime de apropriação indébita,
tendo havido retenção dolosa de verbas salariais, que devem ser devolvidas em dobro, com
condenação à reparação dos danos morais.
Em defesa, alega o banco que é incontroverso que a autora encontrava-se inadimplente em relação ao
empréstimo. Afirma que a autora, ao contratar com o banco, autorizou de forma expressa os
descontos das parcelas do empréstimo em sua conta-corrente. Por fim, sustenta que não se trata de
conta-salário, utilizada exclusivamente para o recebimento de salário, mas sim de conta-corrente
comum, que pode ser utilizada para recebimento de numerário de outras naturezas, o que afasta o
reconhecimento de qualquer ato ilícito.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
REsp 1863973 / SP RECURSO ESPECIAL 2020/0040610-3
RECURSO REPETITIVO
Pesquisa de tema: Tema Repetitivo 1085
Situação do tema: Acórdão Publicado - RE Pendente
Pesquisa de Repetitivos e IACs Anotados
RELATOR Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150) ÓRGÃO JULGADOR S2 - SEGUNDA
SEÇÃO DATA DO JULGAMENTO 09/03/2022 DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE DJe
15/03/2022
TESE JURÍDICA
"São lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns em conta-corrente, ainda que
utilizada para recebimento de salários, desde que previamente autorizados pelo mutuário e enquanto
esta autorização perdurar, não sendo aplicável, por analogia, a limitação prevista no § 1º do art. 1º da
Lei n. 10.820/2003, que disciplina os empréstimos consignados em folha de pagamento."
Separação doPoderes, promover a aplicação analógica de lei à hipótese que não guarda nenhuma
semelhança com a relação contratual legalmente disciplinada.
5. Não se pode conceber, sob qualquer ângulo que se analise a questão, que a estipulação contratual
de desconto em conta-corrente, como forma de pagamento em empréstimos bancários comuns, a
atender aos interesses e à conveniência das partes contratantes, sob o signo da autonomia da vontade e
em absoluta consonância com as diretrizes regulamentares expedidas pelo Conselho Monetário
Nacional, possa, ao mesmo tempo, vilipendiar direito do titular da conta-corrente, o qual detém a
faculdade de revogar o ajuste ao seu alvedrio, assumindo, naturalmente, as consequências contratuais
de sua opção.
6. A pretendida limitação dos descontos em conta-corrente, por aplicação analógica da Lei n.
10.820/2003, tampouco se revestiria de instrumento idôneo a combater o endividamento exacerbado,
com vistas à preservação do mínimo existencial do mutuário.
6.1 Essa pretensão, além de subverter todo o sistema legal das obrigações - afinal, tal providência, a
um só tempo, teria o condão de modificar os termos ajustados, impondo-se ao credor o recebimento
de prestação diversa, em prazo distinto daquele efetivamente contratado, com indevido afastamento
dos efeitos da mora, de modo a eternizar o cumprimento da obrigação, num descabido dirigismo
contratual -, não se mostraria eficaz, sob o prisma geral da economia, nem sequer sob o enfoque
individual do mutuário, ao controle do superendividamento.
6.2 Tal proceder, sem nenhum respaldo legal, importaria numa infindável amortização negativa do
débito, com o aumento mensal e exponencial do saldo devedor, sem que haja a devida
conscientização do devedor a respeito do dito "crédito responsável", o qual, sob a vertente do
mutuário, consiste na não assunção de compromisso acima de sua capacidade financeira, sem que
haja o comprometimento de seu mínimo existencial. Além disso, a generalização da medida - sem
conferir ao credor a possibilidade de renegociar o débito, encontrando-se ausente uma política pública
séria de "crédito responsável", em que as instituições financeiras, por outro lado, também não
estimulem o endividamento imprudente - redundaria na restrição e no encarecimento do crédito, como
efeito colateral.
6.3 A prevenção e o combate ao superendividamento, com vistas à preservação do mínimo existencial
do mutuário, não se dão por meio de uma indevida intervenção judicial nos contratos, em substituição
ao legislador. A esse relevante propósito, sobreveio - na seara adequada, portanto - a Lei n.
14.181/2021, que alterou disposições do Código de Defesa do Consumidor, para "aperfeiçoar a
disciplina do crédito ao consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do
superendividamento.
7. Ratificação da uníssona jurisprudência formada no âmbito das Turmas de Direito Privado do
Superior Tribunal de Justiça, explicitada por esta Segunda Seção por ocasião do julgamento do REsp
1.555.722/SP.
8. Tese Repetitiva: São lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns em conta-
corrente, ainda que utilizada para recebimento de salários, desde q
ue previamenteautorizados pelo mutuário e enquanto esta autorização perdurar, não sendo aplicável,
por analogia, a limitação prevista no § 1º do art. 1º da Lei n. 10.820/2003, que disciplina os
empréstimos consignados em folha de pagamento.
9. Recurso especial da instituição financeira provido; e prejudicado o recurso especial da demandante.
Antes:
REsp 1555722 / SP RECURSO ESPECIAL 2015/0226898-9 Relator(a) Ministro LÁZARO
GUIMARÃES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TRF 5ª REGIÃO) (8400) Órgão Julgador
S2 - SEGUNDA SEÇÃO Data do Julgamento 22/08/2018 Data da Publicação/Fonte DJe 25/09/2018
Ementa
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
EMPRÉSTIMO BANCÁRIO. MÚTUO FENERATÍCIO. DESCONTO DAS PARCELAS. CONTA-
CORRENTE EM QUE DEPOSITADO O SALÁRIO. AUSÊNCIA DE ATO ILÍCITO.
INTERPRETAÇÃO DA SÚMULA 603/STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
1. A discussão travada no presente é delimitada como sendo exclusiva do contrato de mútuo
feneratício com cláusula revogável de autorização de desconto de prestações em conta-corrente, de
sorte que abrange outras situações distintas, como as que autorizam, de forma irrevogável, o desconto
em folha de pagamento das "prestações empréstimos, financiamentos, cartões de crédito e operações
de arrendamento mercantil concedidos por instituições financeiras e sociedades de arrendamento
mercantil" (art. 1º da Lei 10.820/2003).
2. Dispõe a Súmula 603/STJ que "é vedado ao banco mutuante reter, em qualquer extensão, os
salários, vencimentos e/ou proventos de correntista para adimplir o mútuo (comum) contraído, ainda
que haja cláusula contratual autorizativa, excluído o empréstimo garantido por margem salarial
consignável, com desconto em folha de pagamento, que possui regramento legal específico e admite a
retenção de percentual".
3. Na análise da licitude do desconto em conta-corrente de débitos advindos do mútuo feneratício,
devem ser consideradas duas situações distintas: a primeira, objeto da Súmula, cuida de coibir ato
ilícito, no qual a instituição financeira apropria-se,
indevidamente, de quantias em conta-corrente para satisfazer crédito cujo montante fora por ela
estabelecido unilateralmente e que, eventualmente, inclui tarifas bancárias, multas e outros encargos
moratórios, não previstos no contrato; a segunda hipótese, vedada pela Súmula 603/STJ, trata de
descontos realizados com a finalidade de amortização de dívida de mútuo, comum, constituída
bilateralmente, como expressão da livre manifestação da vontade das partes. 4. É lícito o desconto em
conta-corrente bancária comum, ainda que usada para recebimento de salário, das prestações de
contrato de empréstimo bancário livremente pactuado, sem que o correntista, posteriormente, tenha
revogado a ordem. Precedentes.
5. Não ocorrência, na hipótese, de ato ilícito passível de reparação.
6. Recurso especial não provido.
2ª QUESTÃO:
João propõe demanda de extinção de comodato e arbitramento de aluguel em face de Antônio,
Ricardo e Luiz. O autor aduz, em síntese, que é proprietário, assim como os demandados, do bem
imóvel que estes utilizam para executar os seus ofícios. O demandante sustenta que foi firmado com
os réus contrato de comodato por prazo indeterminado. Todavia pretende, assim como os demais,
utilizar o imóvel para também exercer sua profissão, tudo conforme regimento interno, que precisa ser
elaborado para a caracterização do uso exclusivo sobre a coisa.
Em defesa, sustentam os demandados ser vedado ao autor, na condição de condômino minoritário,
requerer a extinção do contrato de comodato em desacordo com a maioria, a fim de postular o
arbitramento de aluguéis. Afirmam ainda que, independentemente do direito de copropriedade do
autor e da sua vontade, os demandados podem decidir acerca da destinação do bem comum mantido
em condomínio justamente por serem maioria. Por fim, e de forma subsidiária, aduzem inexistir
denúncia do contrato de comodato antes do ajuizamento da demanda, o que também ensejaria o
afastamento do arbitramento de aluguéis ora pleiteado.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
REsp 1.953.347-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
09/08/2022.
DESTAQUE
Cessado o comodato, o condômino privado da posse do imóvel tem direito ao recebimento de
indenização equivalente aos aluguéis proporcionais ao seu quinhão, dos proprietários que
permaneceram na posse exclusiva do bem, os quais, caso não notificados extrajudicialmente, podem
ser constituídos em mora por meio da citação nos autos da ação de arbitramento dos aluguéis.
semcontraprestação" (REsp 1.613.613/RJ, Relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira
Turma, julgado em 12/06/2018, DJe 18/06/2018).
Portanto, na linha dos precedentes antes citados, cessado o comodato, por meio de notificação judicial
ou extrajudicial, o condômino privado da posse do imóvel tem direito ao recebimento de indenização
equivalente aos aluguéis proporcionais ao seu quinhão, devida pelos proprietários e comodatários que
permaneceram na posse exclusiva do bem, medida necessária para evitar o enriquecimento sem causa
da parte que usufrui da coisa.
Sobre a forma de constituição em mora do comodatário e quanto ao termo inicial de apuração do
pagamento, o entendimento desta Corte Superior, em se tratando de "comodato precário - isto é, sem
termo certo - [...] a constituição do devedor em mora reclamará, no caso, a prévia notificação judicial
ou extrajudicial (mora ‘ex persona‘), com a estipulação de prazo razoável para a restituição da coisa,
cuja inobservância implicará a caracterização do esbulho autorizador do interdito possessório" (REsp
1.327.627/RS, Relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 25/10/2016, DJe
01/12/2016).
No entanto, "nos termos da jurisprudência desta Corte, a citação pode ser admitida como sucedâneo
da interpelação para fins de constituição do devedor em mora" (AgRg no AREsp 652.630/SC, Relator
Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, DJe 06/11/2015).
Nesse contexto, em relação ao termo inicial do arbitramento dos aluguéis, no comodato precário, em
regra, "o marco temporal para o cômputo do período a ser indenizado (...), é a data da citação para a
ação judicial de arbitramento de aluguéis, ocasião em que se configura a extinção do comodato
gratuito que antes vigorava" (REsp 1.375.271/SP, Relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma,
julgado em 21/09/2017, DJe 02/10/2017).
Na espécie, o Juiz de primeiro grau fixou o início do pagamento dos aluguéis na data da citação,
conclusão ratificada pelo Tribunal de origem, o que encontra amparo na jurisprudência do STJ, pois,
inexistindo notificação extrajudicial dos condôminos que usufruem com exclusividade o imóvel
comum, a constituição em mora poderá ocorrer pela citação nos autos da ação de arbitramento,
momento a partir do qual a contraprestação é devida.
1ª QUESTÃO:
João propõe demanda de reparação por danos materiais em face de Luiz Carlos e Sandra Silva. Aduz,
em síntese, que os demandados, na qualidade de advogados do demandante
(mandatário/substabelecente e substabelecida, respectivamente), em ação indenizatória na qual foi
realizada transação judicial (autos do Processo n. xxxxxxxx), não lhe repassou os valores oriundos do
acordo realizado (assinado pela segunda demandada) e que pôs fim àquele litígio. O demandante
sustenta que outorgou instrumento de procuração ao primeiro demandado com poderes para
substabelecer, e o mandatário o fez com reservas; logo, requer a condenação dos réus solidariamente
no montante das perdas e danos.
Em defesa, o primeiro demandado alega a sua ilegitimidade passiva para figurar na demanda.
Sustenta que não agiu com culpa na escolha da substabelecida, sendo certo ainda que não participou
da referida composição nos autos daquela ação ordinária. Afirma ainda que todos os termos da
aludida transação (inclusive o depósito dos valores na conta da segunda demandada) foram acordados
entre a segunda requerida e o advogado da outra parte no processo, não havendo qualquer
participação do primeiro réu no acordo, apesar de saber da existência do mesmo.
Já a segunda demandada não nega os fatos, mas requer a condenação solidária do primeiro
demandado.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
Info 644
REsp 1.742.246-ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, por unanimidade, julgado em 19/03/2019,
DJe 22/03/2019
RAMO DO DIREITO
DIREITO CIVIL
TEMA
Responsabilidade civil de advogado. Ato praticado exclusivamente pelo substabelecido.
Responsabilidade do substabelecente. Culpa in eligendo. Inexistência. Necessidade de circunstância
contemporânea à escolha e de conhecimento do substabelecente.
DESTAQUE
O advogado substabelecente somente irá responder por ato ilícito cometido pelo advogado
substabelecido se ficar evidenciado que, no momento da escolha, a despeito de possuir inequívoca
ciência acerca da inidoneidade do aludido causídico, ainda assim o elegeu para o desempenho do
mandato.
2ª QUESTÃO:
Carlos pactua com João, contrato de mandato "em causa própria" quanto aos bens imóveis que possui.
Contudo no curso do contrato, Carlos aliena um de seus imóveis a José, terceiro de boa-fé. Indignado
com a alienação efetuada pelo mandante, João ingressa com demanda de invalidade do negócio
jurídico com a consequente desconstituição do registro do imóvel no nome de José. Aduz que, em
razão da cláusula entabulada no negócio jurídico, houve a transferência dos direitos de alienação para
o mandatário, sendo, portanto, nula a venda efetuada ao terceiro, mesmo estando este de boa-fé.
Assiste razão a João? Responda fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
PROCESSO REsp 1962366 / DF RECURSO ESPECIAL 2021/0302539-2 RELATORA
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118) ÓRGÃO JULGADOR T3 - TERCEIRA TURMA
DATA DO JULGAMENTO 14/02/2023 DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE DJe 02/03/2023
EMENTA
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL
CUMULADA COM RESTITUIÇÃO DE VALORES. PROMESSA DE COMPRA E VENDA.
IMÓVEL EM CONSTRUÇÃO. PROCURAÇÃO EM CAUSA PRÓPRIA (IN REM SUAM OU IN
REM PROPRIAM). NATUREZA JURÍDICA. NEGÓCIO JURÍDICO UNILATERAL. PODER DE
DISPOR. TÍTULO NÃO TRANSLATIVO DE DIREITOS OU DE PROPRIEDADE.
LEGITIMIDADE ATIVA DO OUTORGANTE PROMITENTE COMPRADOR DE IMÓVEL.
1. Ação de rescisão contratual cumulada com restituição de valores, da qual foi extraído o presente
recurso especial, interposto em 19/7/2021 e concluso ao gabinete em 2/6/2022.
2. O propósito recursal consiste em definir se o promitente comprador tem legitimidade ativa para
pleitear a rescisão de promessa de compra e venda de imóvel, ainda em construção, após outorgar
procuração em causa própria a terceiro que, na sequência, a substabeleceu para outrem.
3. O promitente comprador que outorga procuração em causa própria (in rem suam ou in rem
propriam) detém legitimidade ad causam para figurar em ação de rescisão de contrato de promessa de
compra e venda de imóvel antes de realizado eventual negócio jurídico translativo de direitos sobre o
bem.
4. A procuração em causa própria é negócio jurídico unilateral, segundo o qual o outorgante confere
ao outorgado poder, formativo e dispositivo, de dispor sobre determinado bem (real ou pessoal), em
nome do outorgante, no interesse do outorgado, de maneira irrevogável e sem a necessidade de
prestar contas.
5. Não há, por meio da procuração em causa própria, a cessão de direitos creditícios, tampouco a
transmissão da propriedade.
6. Hipótese em que o Tribunal de origem, de ofício, concluiu pela ilegitimidade ativa do outorgante
para promover ação de rescisão contratual, sob o fundamento de que a procuração em causa própria,
outorgada a terceiro, apresenta natureza jurídica de instrumento translativo de direitos lato sensu.
7. Recurso especial conhecido e provido para anular o acórdão recorrido e determinar que o Tribunal
de origem, superada a preliminar de ilegitimidade ativa, julgue o recurso de apelação interposto.
REsp 1269572 / SP RECURSO ESPECIAL 2011/0120147-1 Relator(a) Ministro SIDNEI BENETI
(1137) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 17/04/2012
O mandato com a referida cláusula, na realidade, é instituído no interesse do mandatário. Em diversos
termos, por meio desse ajuste o mandatário é nomeado para agir no seu próprio interesse, por isso
ficando dispensado de qualquer prestação de contas. Pelo mesmo motivo essa espécie de mandato é
irrevogável e não se extingue com a morte do mandante ou do mandatário.
1.- O beneficiário de mandato com cláusula "em causa própria", tem garantido, ante quem lhe
outorgou esse mandato, o direito subjetivo de transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do
contrato, desde que obedecidas as formalidades legais.
2.- Em face de terceiros, porém,
1ª QUESTÃO:
Severino realizava, sem vínculo empregatício e com remuneração quinzenal, limpeza dos estábulos
do fazendeiro João no interior da Fazenda Cantagalo. Passados dois anos de cumprimento do referido
contrato, João aliena o imóvel para José, mas Severino pretende continuar a realização de seu serviço.
É cabível a pretensão de Severino?
RESPOSTA:
Severino tem direito potestativo a continuar trabalhando para o adquirente do referido prédio agrícola,
nos termos do artigo 609 do Código Civil. Trata-se de obrigação com eficácia real assumida pelo
adquirente do imóvel e que retrata mais uma das exceções ao princípio da relatividade dos contratos à
semelhança do que acontece com a cláusula de vigência no contrato de locação (art. 576 do CC e art.
8º da Lei nº 8.245/91). Excepciona, outrossim, o caráter personalíssimo do contrato de prestação de
serviços e tem por fundamento a proteção do trabalhador rural.
2ª QUESTÃO:
Daniel Souza propõe demanda de obrigação de fazer cumulada com pedido de danos morais em face
da Companhia de Águas Nascente. Aduz, em síntese, que mesmo com o pagamento em dia das contas
referentes ao serviço de água prestado pela ré, teve o abastecimento de sua residência interrompido.
Diante do exposto, requer o demandante que a demandada, no prazo de 24 horas, religue o sistema de
abastecimento para o seu imóvel, bem como seja indenizado pelos danos morais que sofreu em razão
da falta de água em sua residência.
Em defesa, argui a demandada a exceptio non adimpleti contractus, uma vez que, apesar de o
demandante ter pago pelos últimos seis meses de prestação de serviço de abastecimento de água,
encontra-se inadimplente quanto aos meses de janeiro a agosto de 2022, conforme documentos em
anexo. Daí porque ser legítima a interrupção no serviço de água da residência do autor.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
0438291-40.2016.8.19.0001 - APELAÇÃO
Ementa sem formatação
1ª Ementa
Des(a). CELSO SILVA FILHO - Julgamento: 08/03/2023 - VIGÉSIMA TERCEIRA CÂMARA
CÍVEL
APELAÇÕES CÍVEIS. Ação de obrigação de fazer, consistente no restabelecimento do serviço de
fornecimento de água e de cobrança de indenização por danos morais. Imóvel comercial abastecido
por um único hidrômetro. Alegação do autor de que a ilegítima cobrança pelo critério da tarifa
mínima multiplicado pelo número de economias impossibilitaria o pagamento das faturas, razão pela
qual teve o serviço suspenso, e pugna pelo seu restabelecimento. Critério que, todavia, já foi reputado
legítimo, por decisão desta C. 23ª Câmara Cível, que confirmou sentença, no âmbito do processo n.
0047316-15.2016.8.19.0205, que tramitou entre as mesmas partes. 1. Da legitimidade passiva da
CEDAE. Concessionária que, em suas razões recursais, afirma ser parte ilegítima para figurar em
Juízo, na medida em que a responsabilidade pelo fornecimento de água na região AP5 seria exclusiva
da F.AB ZONA OESTE S.A. Serviços de água que, todavia, jamais foram delegados, apenas os
serviços de esgotamento sanitário. Unidade consumidora que está localizada no Bairro de Campo
Grande (integrante da AP-5), na Zona Oeste, da cidade do Rio de Janeiro. CEDAE que, mesmo após
a celebração de Termo de Reconhecimento Recíproco de Direitos e Obrigações com o Município do
Rio de Janeiro, continuou sendo a responsável exclusiva pela captação, tratamento, adução e
distribuição de água potável, no local em que situado o imóvel. Rejeição da preliminar de
ilegitimidade passiva. 2. Da coisa julgada sobre questão prejudicial: indiscutível legalidade do critério
tarifário. A questão prejudicial, referente à legitimidade do critério de cobrança, encontra-se
acobertada pela imutabilidade e indiscutibilidade, decorrentes da formação de coisa julgada, pois a
regularidade da cobrança já foi decidida em outra ação, objeto do processo de n. 0047316-
15.2016.8.19.0205, ajuizada em face das mesmas rés, com resultado já transitado em julgado. O
principal argumento utilizado para postular o restabelecimento do serviço é, exatamente, a
irregularidade do critério de medição adotado pelas concessionárias, questão prejudicial já acobertada
pela coisa julgada, em demanda declaratória conexa, na forma do artigo 503, § 1º, inciso I, do CPC.
Legítimo o corte do fornecimento de água, em virtude do não pagamento das faturas pelo
consumidor. Afastados, assim, os pedidos de religamento do serviço e de indenização por danos
morais, na medida em que as apelantes agiram em exercício regular de seu direito. Exceção de
contrato não cumprido, visto que o consumidor não arcava com a obrigação que lhe cabia. Sentença
que merece reforma, a fim de que sejam julgados improcedentes todos os pedidos autorais.
RECURSO DA F.AB ZONA OESTE S.A. PROVIDO. RECURSO DA CEDAE PARCIALMENTE
PROVIDO.
1ª QUESTÃO:
João propôs demanda de revisão contratual cumulada com pedido de repetição de indébito em face da
Companhia de Seguros Fortaleza. O demandante aduz, em síntese, que possui um seguro de vida da
demandada há mais de 20 anos, o qual sofria reajustes anuais pelo IGP-M. Todavia, no período
compreendido 2010 a 2022, relata o autor que o contrato sofreu reajuste do prêmio de cerca de 500%,
ao passo que o reajuste do capital segurado no mesmo período teria sido de apenas 40%, fato que
evidenciaria a prática de reajuste por faixa etária. Assim sendo, requer a nulidade da cláusula de
reajuste por faixa etária e da cláusula de resilição unilateral do contrato, bem como a repetição dos
valores pagos a maior.
Em defesa, a seguradora defendeu a legalidade da cláusula.
O Juiz de primeira instancia julgou procedente o pedido para declarar abusivo os reajustes por faixa
etária, a partir da data em que o segurado completou 60 anos de idade, bem como condenou a
seguradora a restituir os valores pagos a maior a partir de tal marco temporal, por analogia ao artigo
15 da Lei dos Planos de Saúde (Lei nº 9.656/1998).
Com fulcro na atual jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, responda fundamentadamente se
o Magistrado decidiu corretamente.
RESPOSTA:
PROCESSO
AgInt nos EDcl no AREsp 1331730 / SP AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2018/0182858-0
RELATOR Ministro MARCO BUZZI (1149) ÓRGÃO JULGADOR T4 - QUARTA TURMA
DATA DO JULGAMENTO 07/03/2023 DATA DA PUBLICAÇÃO/FONTE DJe 17/03/2023
EMENTA
AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL - AÇÃO DECLARATÓRIA C/C PEDIDO CONDENATÓRIO - DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE DEU PARCIAL PROVIMENTO AO RECLAMO DO SEGURADO.
INSURGÊNCIA RECURSAL DA SEGURADORA REQUERIDA.
1. De acordo com a jurisprudência desta Corte, é ânuo o prazo prescricional para o exercício da
pretensão de declaração de abusividade de cláusula do contrato de seguro de vida que estabelece
critério etário como fundamento para majoração do prêmio securitário. Precedentes.
1.1. Ademais, o contrato de seguro de vida é avença de trato sucessivo, com renovação periódica e
automática, motivo pelo qual o termo inicial para a pretensão de nulidade de cláusula de reajuste
prevista em contrato deve ser contado a partir do pagamento de cada parcela indevida, não havendo se
falar em prescrição do fundo de direito. Precedentes.
2. Segundo a jurisprudência do STJ inexistente, em tese, a abusividade do aumento dos prêmios de
acordo com a faixa etária dos segurados em contrato de seguro de vida em grupo. Eventual
abusividade, no entanto, deve ser apreciada em concreto, à luz dos reajustes efetivamente praticados.
Precedentes.
2.1. Dadas as particularidades da causa, todavia, não é possível a análise, de plano, pelo STJ, da
abusividade em concreto dos reajustes aplicados com base na cláusula em testilha, na medida em que,
para tanto, é necessária dilação probatória. Necessidade de retorno dos autos à origem.
3. Agravo interno desprovido.
DECISÃO
16/01/2020 07:00
Quarta Turma reafirma que não há abuso no reajuste por faixa etária em seguro de vida
???A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reafirmou a jurisprudência segundo a qual
a adoção de reajuste por idade em seguro de vida, no momento da formalização de nova apólice, não
configura procedimento abusivo, sendo decorrente da própria natureza do contrato.
Com esse entendimento, o colegiado negou provimento ao recurso especial de segurados que pediam
a anulação dos reajustes aplicados pela seguradora, a qual incluiu no prêmio um fator anual variável,
conforme a faixa etária, aumentando o valor do seguro de forma que consideraram exagerada.
Eles ajuizaram ação pedindo o reconhecimento do direito à manutenção dos termos do seguro
originalmente contratado, além da condenação da empresa à devolução dos valores pagos a mais. Em
primeiro grau, o pedido foi julgado procedente, mas o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul deu
provimento à apelação da seguradora por não verificar abuso na situação.
Jurisprudência u???niforme
O relator do recurso no STJ, ministro Luis Felipe Salomão, afirmou que, diferentemente da Quarta
Turma, a Terceira Turma considerava abusiva a cláusula contratual que previsse o reajuste do prêmio
com base na faixa etária do contratante, a partir dos 60 anos, com contrato ativo há pelo menos dez
anos. Segundo ele, o colegiado aplicava, por analogia, a regra do artigo 15 da Lei dos Planos de
Saúde (Lei 9.656/1998)
2ª QUESTÃO:
Madeireira Ramones propõe demanda de cobrança de indenização securitária em face de Pistons
Seguros. A autora aduz, em síntese, que seu estabelecimento comercial, bem como todo o seu estoque
de mercadorias, foi destruído em razão de um incêndio involuntário ocorrido no local. Sustenta que,
segundo dispõe o artigo 788 do Código Civil, a empresa deveria ser indenizada em R$ 2.000.000,00
(dois milhões de reais) pelos danos verificados no edifício e no estoque (perda total), pois, além de
serem os valores acordados na apólice no momento da contratação do seguro de danos, esses valores
serviram de base para o pagamento do prêmio pela empresa autora, todavia a empresa ré se recusou a
proceder ao pagamento.
Em contestação, a seguradora alega que o valor da indenização deve ser limitado ao prejuízo
efetivamente comprovado pela segurada. Assim sendo, não há justificativa para que seja fixada
indenização no montante da apólice apenas porque verificada a destruição total do imóvel e das
mercadorias nele estocadas.
RESPOSTA:
REsp 1943335 / RS RECURSO ESPECIAL 2019/0071483-5 Relator(a) Ministro MOURA RIBEIRO
(1156) Órgão Julgador T3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 14/12/2021 Data da
Publicação/Fonte DJe 17/12/2021
Ementa
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA.
IRRESIGNAÇÃO MANEJADA SOB A ÉGIDE DO NCPC. SEGURO EMPRESARIAL CONTRA
INCÊNDIO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL NÃO VERIFICADA. SEGURO
CONTRATADO PARA PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO DA EMPRESA. INCIDÊNCIA DO CDC.
NULIDADE DO CONTRATO EM RAZÃO DE IRREGULARIDADES NA CONSTITUIÇÃO DA
SOCIEDADE. VÍCIOS QUE NÃO IMPLICARAM AGRAVAMENTO DO RISCO NEM SEQUER
CONFIGURARAM MÁ-FÉ DA SEGURADA. VALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO.
ALEGAÇÃO DE FRAUDE/MÁ-FÉ QUE NÃO PODE SER ACOLHIDA SEM REVISÃO DE
FATOS E PROVAS. INDEPENDÊNCIA ENTRE AS INSTÂNCIAS CIVIL E PENAL.
DESINFLUÊNCIA PARA O RESULTADO DO JULGAMENTO. SEGURO DE DANO.
NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO INDENITÁRIO. LIMITAÇÃO DA
INDENIZAÇÃO AO PREJUÍZO EFETIVAMENTE EXPERIMENTADO. COINCIDÊNCIA, NA
HIPÓTESE, ENTRE O VALOR DO BEM SEGURADO E O DA APÓLICE. JUROS LEGAIS E
CORREÇÃO MONETÁRIA. TAXA SELIC. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO, PROVIDO EM PARTE.
(...)
3. O seguro contratado por pessoa jurídica para proteção do seu patrimônio está submetido às regras
protetivas do CDC. Precedentes.
4. O Tribunal estadual consignou que eventual vício nos atos constitutivos da sociedade segurada não
seria suficiente para afastar o dever de indenizar, porque as declarações informadas foram
verdadeiras, a seguradora vistoriou os bens segurados, aceitou o negócio e recebeu o prêmio, não
havendo, portanto, como negar eficácia ao negócio jurídico.
5. No caso, não há como desautorizar essas premissas fáticas sem revisar fatos e provas, o que veda a
Súmula nº 7 do STJ.
6. Impossível alterar as conclusões fixadas pelo Tribunal estadual com relação a ausência de má-fé e
de fraude contra seguros, tendo em vista tambémo óbice da Súmula nº 7 do STJ.
7. A alegação de ofensa ao princípio da autonomia entre as instâncias civel e penal não pode
prosperar porque o acórdão recorrido mencionou a ausência de processo criminal para apuração de
crime de incêndio apenas como reforço de argumento. Súmula nº 284 do STF.
8. De acordo com o art. 778 do CC/02:Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode
ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da conclusão do contrato.Por outro lado, o art.
781 do mesmo diploma legal determina que a indenização securitária não pode ultrapassar o valor do
interesse segurado no momento do sinistro, e, em hipótese alguma, o limite máximo da garantia
fixado na apólice, salvo em caso de mora do segurador.
9. Conjugando essas duas regras, tem-se que o valor atribuído ao bem segurado no momento da
contratação é apenas um primeiro limite para a indenização securitária, uma vez que, de ordinário,
corresponde ao valor da apólice. Como segundo limite se apresenta o o valor do bem
segurado no momento do sinistro, pois é esse valor que representa, de fato, o prejuízo sofrido em caso
de destruição do bem.
10. Assim, nas hipóteses de perda totaldo b
1ª QUESTÃO:
Carlos firma contrato de mútuo feneratício com a Instituição Financeira Bola de Neve, na qual prevê
o empréstimo de R$ 10.000,00, para serem pagos em 60 meses, com juros compensatórios de 10% ao
mês e capitalização mensal dos aludidos juros durante todo o período contratual.
Diante dos princípios que cercam o ordenamento jurídico nacional, bem como diante do que dispõem
os artigos 591 e 406, ambos do Código Civil, bem como as normas de proteção previstas no Código
de Defesa do Consumidor, poderia Carlos se opor ao montante e a forma dos juros cobrados pelo
empréstimo do dinheiro?
Responda, fundamentadamente, a questão.
RESPOSTA:
Súmula 539 do STJ: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em
contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de
31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170-36/2001), desde que expressamente
pactuada.
Súmula 530: Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros efetivamente
contratada - por ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a
taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a
taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor.
Segundo Gustavo Tepedino, no ordenamento jurídico pátrio, o CC1916, por feição individualista,
deixou ao livre alvedrio das partes a fixação da taxa de juros. Tal liberdade excessiva foi contida com
a Lei da usura que estabeleceu a taxa máxima de juros em 12% ao ano, bem com proibiu a cobrança
de juros sobre juros chamados de anatocismo. Ocorre que O STF através da súmula 596, subtraiu as
instituições financeiras dos limites previstos na lei da usura, entendendo que essas instituições se
submetem
Súmula 539 do STJ: É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em
contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de
31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170-36/2001), desde que expressamente
pactuada.
Súmula 530: Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros efetivamente
contratada - por ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos -, aplica-se a
taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a
taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor.
2ª QUESTÃO:
Paulo propõe demanda indenizatória em face de Banco Piloto. Aduz, em síntese, que em 2015 firmou
contrato de alienação fiduciária em garantia com a empresa ré para a aquisição de veículo automotor
usado. Todavia, além da taxa de juros cobrada pela instituição financeira para a execução do contrato,
foram ainda cobradas pela mesma tarifas abusivas, que tinham por finalidade unicamente compensar
uma redução "artificial" das taxas de juros nominais praticadas. O autor sustenta que existe uma
tendência no mercado fornecedor de se reduzir as taxas de juros nominais, e compensar essa redução
mediante a elevação excessiva do valor das tarifas por serviços, que inclusive sequer foram prestados
pelo banco réu. Desta forma, entende o demandante que devem ser declaradas nulas as cláusulas
contratuais que fazem referências às tarifas por "despesas com serviços de terceiro", "comissão do
correspondente bancário", " despesas de registro do contrato" e por fim "tarifa de avaliação do bem".
Em defesa, a instituição financeira aduz que as tarifas cobradas estão de acordo com a regulação
bancária, composta por normas do Conselho Monetário Nacional, expedidas com base no art. 4º da
Lei 4.595/1964.
Quanto às provas, a instituição bancária não demonstrou quais serviços foram realizados por
terceiros; confirmou que o correspondente bancário era preposto do próprio banco; comprovou que o
contrato firmado com o autor foi registrado no órgão competente; e não apresentou laudo de avaliação
RESPOSTA:
AgInt no AREsp 2019677 / MS AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2021/0368972-8 RELATOR Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO (1140) ÓRGÃO JULGADOR
T4 - QUARTA TURMA DATA DO JULGAMENTO 30/05/2022 DATA DA
PUBLICAÇÃO/FONTE DJe 01/06/2022
EMENTA
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. BUSCA E APREENSÃO.
MATÉRIA CONSTITUCIONAL. INVIABILIDADE. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 489 E 1.022 DO
CPC/2015. INEXISTÊNCIA. SEGURO DE PROTEÇÃO FINANCEIRA. ALEGADA VENDA
CASADA. SÚMULAS 5 E 7 DO STJ. TARIFA DE REGISTRO DE CONTRATO. SÚMULAS 5, 7
E 83 DO STJ. JUROS REMUNERATÓRIOS E MORATÓRIOS. CUMULAÇÃO. SÚMULA 83 DO
STJ. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. Embora seja dever de todo magistrado velar a Constituição, para que se evite supressão de
competência do egrégio STF, não se admite apreciação, na via especial, de matéria constitucional,
ainda que para viabilizar a interposição de recurso extraordinário.
2. Não há falar em violação dos arts. 489 e 1.022 do CPC/2015, pois o Tribunal de origem dirimiu as
questões pertinentes ao litígio, apresentando todos os fundamentos jurídicos pertinentes à formação
do juízo cognitivo proferido na espécie, apenas não foi ao encontro da pretensão da parte agravante.
3. De acordo com tese firmada em recurso especial repetitivo, é válida a cláusula que prevê o
ressarcimento de despesa com o registro do contrato, ressalvadas a abusividade da cobrança por
serviço não efetivamente prestado e a possibilidade de controle da onerosidade excessiva, em cada
caso concreto. (REsp 1578553/SP, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção, julgado
em 28/11/2018, DJe 06/12/2018) 4. O acolhimento da pretensão recursal quanto à alegada existência
de venda casada e à nulidade da cláusula de tarifa de registro de contrato por alegada falta de
comprovação de efetiva prestação do serviço de registro demandaria o revolvimento do conjunto
fático-probatório dos autos e a interpretação de cláusulas contratuais, o que é viável na via especial
ante o óbice das Súmulas 5 e 7 do STJ.
5. "Na linha da jurisprudência do STJ, é possível a cumulação de juros remuneratórios e moratórios,
especificamente no período de inadimplência, sendo vedada, somente, a cobrança cumulativa de
comissão de permanência com os demais encargos contratuais (Súmula n. 472/STJ)." (AgRg no REsp
1460962/PR, Rel. Ministro Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, julgado em 11/10/2016, DJe
17/10/2016) 6. Agravo interno não provido.
AgInt no AREsp 1932969 / PR AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL
2021/0206375-6 RELATOR Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA (1146) ÓRGÃO
JULGADOR T4 - QUARTA TURMA DATA DO JULGAMENTO 23/05/2022 DATA DA
PUBLICAÇÃO/FONTE DJe 26/05/2022
EMENTA
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE EMBASADO NO ARTIGO 1.030, I, B, DO CP C DE 2015.
INTERPOSIÇÃO DO AGRAVO PREVISTO NO ARTIGO 1.042 DO CPC DE 2015.
DESCABIMENTO. COBRANÇA POR SERVIÇOS DE TERCEIROS. SÚMULAS N. 5, 7 E 83 DO
STJ. DECISÃO MANTIDA.
1. Conforme a jurisprudência desta Corte, não cabe o agravo previsto no art. 1.042, caput, do
CPC/2015 contra decisão que nega seguimento ao recurso especial por considerar ter havido, quanto
ao tema impugnado, decisão alinhada a precedente submetido
1ª QUESTÃO:
João, torcedor fanático do Perebas Esporte Clube, resolve fazer uma aposta esportiva na casa de
apostas on-line AdrenalinaBet, que não tem autorização estatal para atuar no mercado nacional. João
aposta R$ 1.000,00 na vitória do seu clube, último colocado, por quatro gols de diferença e contra o
líder do campeonato.
Por sorte, João acerta a aposta, e, como o cenário lhe era totalmente desfavorável, o valor final para
receber da casa de apostas se tornou bastante elevado.
Todavia, no dia combinado para o pagamento, a casa de apostas não efetua o depósito na conta-
corrente de João, e, diante da mora da empresa, o apostador propõe demanda judicial para cobrar os
valores prometidos.
Em defesa, a empresa não nega os fatos, mas sustenta que a aposta ou o jogo estão regulamentados no
artigo 814 do CC, que não impõe obrigatoriedade do pagamento, tratando-se, portanto, de uma
simples obrigação natural.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
Em artigo Publicado no site migalhas.com.br, o professor Rodrigo da Guia explica que
As dívidas oriundas de jogo ou aposta constituem hipóteses de obrigações naturais, passíveis de
compreensão, em esforço de síntese, como as obrigações em que, a despeito da existência do dever
jurídico, não há responsabilidade do devedor pela respectiva prestação. Trata-se, segundo as
expressões alemãs célebres na matéria, de obrigações em que há "Schuld" sem "Haftung": ou seja,
existe o dever jurídico, mas falta a responsabilidade do devedor - o que, focando na perspectiva do
credor, equivaleria a dizer que existe o direito ou título jurídico, mas falta a exigibilidade de tal
direito.
Diante do arcabouço normativo regente dos contratos de jogo e aposta, podemos perceber a
relevância da adequada qualificação das relações contratuais que tenham por objeto apostas
esportivas, uma vez que de tal classificação decorrem consequências drásticas do ponto de vista do
Direito Contratual. Como devem, então, ser qualificadas as apostas esportivas pactuadas junto a casas
de apostas online - trata-se de apostas proibidas, toleradas ou permitidas?
A questão é complexa e ainda não conta com uma resposta pacífica na experiência brasileira, o que,
por certo, não desaconselha (ao revés, reclama) um esforço da doutrina para a enunciação de
parâmetros para uma resposta segura. Tal esforço há necessariamente de levar em consideração um
marco normativo ainda recente e de todo relevante - a lei 13.756/2018, por meio da qual, como já
destacado, foi criada "a modalidade lotérica, sob a forma de serviço público exclusivo da União,
denominada apostas de quota fixa, cuja exploração comercial ocorrerá em todo o território
nacional" (art. 29, caput).
Afinal, subsiste a questão: o direito brasileiro permite o reconhecimento da plena exigibilidade
de obrigações oriundas de contratos de apostas esportivas de quota fixa celebrados junto a
plataformas de apostas que não contem com autorização estatal (seja porque ainda sequer existe a
regulamentação pertinente, seja porque a específica casa de apostas não obteve a necessária
autorização estatal)?
Penso que sim, por algumas razões.
Em primeiro lugar, parece-me possível a qualificação de tais apostas como permitidas quando, a
despeito da inexistência da regulamentação pelo direito brasileiro, a plataforma de apostas não for
sediada no Brasil (o que se afigura de todo frequente, como já destacado) e o contrato com ela
celebrado atender aos requisitos de validade estabelecidos pelo ordenamento jurídico correspondente
ao país de seu domicílio. Em tal cenário, a se admitir que a casa de apostas estrangeira seria
tecnicamente a parte proponente,12 concluiríamos que o contrato se formou "no lugar em que foi
proposto" (conforme preconiza o art. 435 do Código Civil) e, por conseguinte, a lei aplicável seria a
do país estrangeiro pertinente (conforme determina o art. 9º da Lei de Introdução às Normas do
Direito Brasileiro - LINDB).
Assim, caso atendidos os requisitos impostos pela ordem jurídica estrangeira, não apenas poderia
restar afastada a caracterização de contravenção penal (com base na premissa de que "[a] lei brasileira
só é aplicável à contravenção praticada
noterritório nacional", cfe. art. 2º do decreto-lei 3.688/1941), como, no plano do Direito Civil, impor-
se-ia o respeito à exigibilidade da obrigação validamente formada no exterior, na esteira do
entendimento jurisprudencial já encontrado na experiência brasileira a respeito de dívidas contraídas
junto a cassinos no exterior.13 Registro, por oportuno, que ainda permaneceriam em aberto relevantes
questões de índole processual, como a definição da jurisdição competente e a própria aferição da
validade de eventual cláusula de eleição de foro porventura considerada excessivamente gravosa ao
consumidor brasileiro.
Ademais, mesmo no cenário de impossibilidade de qualificação da aposta como permitida nos moldes
destacados acima - como, por exemplo, na hipótese de a empresa ser sediada no território brasileiro, a
inviabilizar a invocação de normativa estrangeira -, penso que o direito brasileiro permite o
reconhecimento da exigibilidade das dívidas oriundas de apostas esportivas. Com efeito, parece-me
que eventual recusa da plataforma ao pagamento do prêmio poderia ser considerada ilegítima com
base em fundamentos variados.
Nesse sentido, poderíamos pensar, ilustrativamente, em fundamentos como a vedação ao benefício da
própria torpeza, o princípio da boa-fé objetiva, o princípio da conservação do negócio jurídico, a
tutela da aparência, a proteção do apostador de boa-fé e o caráter vinculante da oferta ao público (v.
art. 429 do Código Civil e art. 30 do Código de Defesa do Consumidor). Tais fundamentos tendem a
se fortalecer pela circunstância - a que já pude fazer menção - de que as plataformas de apostas
esportivas oferecem os respectivos produtos ou serviços de modo manifestamente ostensivo, muito
diversamente do caráter clandestino que caracteriza o "Jogo do Bicho", por exemplo.
O reconhecimento da plena exigibilidade das obrigações me parece ainda mais necessário quando
estiver em jogo a proteção de apostador qualificado como consumidor, presumidamente vulnerável
inclusive quanto a informações a respeito da estrutura jurídica e do domicílio da pessoa jurídica da
casa de apostas.
link: https://www.migalhas.com.br/coluna/migalhas-contratuais/388099/dividas-oriundas-de-apostas-
esportivas-sao-juridicamente-exigiveis
2ª QUESTÃO:
João desafia seu amigo Ricardo para uma partida de tênis. Os jogadores acordaram que o perdedor
pagaria ao vencedor o montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais). João perde o jogo e, na data
combinada para a entrega do dinheiro, propõe a Ricardo a entrega de um cavalo de raça. Para tanto,
sugere uma nova obrigação, extinguindo a pretérita e com prazo de pagamento para dois meses, que é
quando o cavalo chegaria ao Brasil.
Diante do exposto, pergunta-se: qual é o instituto que está presente na operação de substituição do
dinheiro pelo cavalo narrada na questão? Essa nova obrigação seria válida?
Responda fundamentadamente às perguntas.
RESPOSTA:
J.M. Leoni exlica que o § 1º do referido art. 814 estabelece que "estende-se esta disposição a qualquer
contrato que encubra ou envolva reconhecimento, novação ou fiança de dívida de jogo". Essa
disposição pode induzir o intérprete em equívoco, acreditando, erroneamente, que a dívida de jogo
não pode ser novada. Pode. Simplesmente o contrato que extingue a anterior e o substitui deve, por
determinação legal, aplicar (estender, nos termos do § 1º do art. 814 do CC) o mesmo regime das
dívidas de jogo; isto é, não obrigam o pagamento, mas não se pode recobrar a quantia, que
voluntariamente se pagou. Aqui, por força da lei, temos uma exceção ao princípio de que a sorte da
dívida anterior não contagia à dívida novante. Direito Civil: obrigações / coordenação J. M. Leoni
Lopes de Oliveira, Marco Aurélio Bezerra de Melo. - 3. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2019.
Na verdade o que a lei dermina é que uma dívida de jogo não pode ser transformada em uma
obrigação civil, ou seja, exigível.