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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.848.036 - SP (2019/0336619-3)

RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO


RECORRENTE : C RC
ADVOGADOS : JULIO CESAR GORRASI - SP338430
VENCESLAU TAVARES COSTA FILHO - PE022407
RECORRENTE : GBIL
ADVOGADO : EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA - RJ130532
RECORRIDO : C RC
ADVOGADO : JULIO CESAR GORRASI - SP338430
RECORRIDO : GBIL
ADVOGADO : EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA - RJ130532
EMENTA

RECURSO ESPECIAL DA AUTORA. DIREITO DIGITAL. MARCO CIVIL DA


INTERNET. RESPONSABILIDADE DE PROVEDOR DE APLICAÇÃO POR ATOS DE
SEUS USUÁRIOS. REMOÇÃO DE CONTEÚDO DA INTERNET. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL NÃO CONFIGURADA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. ART. 19 DA LEI N. 12.965/14. RESERVA DE
JURISDIÇÃO. EXCEÇÃO PREVISTA NO ART. 21. DESNECESSIDADE DE ORDEM
JUDICIAL. NOTICE AND TAKE DOWN. CENAS DE NUDEZ E DE ATOS SEXUAIS
QUE DEVEM SER DE CARÁTER NECESSARIAMENTE PRIVADO.
INAPLICABILIDADE A FOTOGRAFIAS E DEMAIS MATERIAIS PRODUZIDOS EM
ENSAIO FOTOGRÁFICO COM INTUITO COMERCIAL E DESTINADOS À
CIRCULAÇÃO.
1. Violação do art. 489, § 1º, II, IV, V e VI, do CPC não configurada, uma vez que o
Tribunal de origem manifestou-se de forma clara e suficiente acerca de todas as alegações
relevantes à solução da lide.
2. Ausente o prequestionamento quando o Tribunal de origem não emite juízo de valor acerca
dos dispositivos legais apontados como violados, ainda que não tenha havido omissão
relevante ou mesmo negativa de prestação jurisdicional. Aplicação da Súmula 211/STJ.
3. Mostram-se deficientes as razões do recurso especial quando, ao impugnar a distribuição
dos ônus de sucumbência, alega-se a violação de dispositivo legal que não guarda qualquer
relação com a questão. Aplicação da Súmula 284/STF.
4. Acórdão recorrido que, ao afastar a possibilidade de restrição de busca em provedor de
pesquisa, foi proferido em consonância com a jurisprudência deste Superior Tribunal, que tem
entendimento pacífico no sentido de que os provedores de pesquisa não podem ser obrigados
a eliminar de seu sistema os resultados que apontem para uma foto ou texto específico,
independentemente da indicação do respectivo URL. Aplicação da Súmula 83/STJ.
5. A responsabilidade do provedor por atos de seus usuários, como regra, apenas se verifica
quando há descumprimento de ordem judicial de remoção de conteúdo. Inteligência do art. 19
do Marco Civil da Internet, que prevê a reserva de jurisdição.
6. Excepcionalmente, em casos de divulgação, sem consentimento, de cenas de nudez ou de
atos sexuais de caráter privado, há possibilidade de remoção de conteúdo mediante simples
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notificação da vítima. Inteligência do art. 21 do Marco Civil da Internet que, em excepcional
sistema de notice and take down, prevê a responsabilidade do provedor pela omissão diante
de simples notificação do ofendido para retirada do conteúdo ofensivo.
7. Para a aplicação do art. 21, mostra-se imprescindível i) o caráter não consensual da imagem
íntima; ii) a natureza privada das cenas de nudez ou dos atos sexuais disseminados; e iii) a
violação à intimidade.
8. Exceção prevista no art. 21 que se destina a proteger vítimas de um tipo de violência digital
conhecido como disseminação de imagens íntimas não consentidas, também conhecida pela
sigla NCII (da expressão em inglês non-consensual intimate images)
9. Modelo que tem suas fotografias sensuais indevidamente divulgadas de forma pirata não
pode ser equiparada à vítima de disseminação de imagens íntimas não consentidas, que tem
sua intimidade devassada e publicamente violada e cuja ampla e vexaminosa exposição de seu
corpo de forma não consentida demanda remoção mais célere do conteúdo que viola de forma
direta, pungente e absolutamente irreparável o seu direito fundamental à intimidade.
10. Equiparação indevida que poderia acabar por desvirtuar a proteção dada às vítimas de
divulgação de NCII, diminuindo o grau de reprovabilidade desse tipo de conduta e diluindo os
esforços da sociedade civil e do legislador no sentido de aumentar a conscientização acerca
dessa nova forma de violência surgida com a internet.
11. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO EM PARTE E DESPROVIDO.RECURSO
ESPECIAL DA RÉ. DIREITO DIGITAL. MARCO CIVIL DA INTERNET. DEVER DE
FORNECIMENTO DE REGISTROS DE ACESSO A APLICAÇÕES. INCLUSÃO DE
DADOS PESSOAIS DE USUÁRIOS. ALEGADA VIOLAÇÃO DOS ARTS. 5º, VIII, 15
E 22 DO MARCO CIVIL DA INTERNET. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO.
SÚMULAS 282 E 356/STF. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE
INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO LEGAL. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA.
1. Ausente o prequestionamento quando o Tribunal de origem não se manifesta, sequer
implicitamente, acerca da questão suscitada por meio dos dispositivos legais apontados como
violados. Aplicação das Súmulas 282/STF e 356/STF.
2. Conhecimento do recurso especial pela alínea c do permissivo constitucional que pressupõe
a expressa indicação do dispositivo legal a respeito de cuja interpretação haveria divergência
entre o acórdão recorrido e o julgado apontado como paradigma.
3. Dissídio jurisprudencial que não está demonstrado, porquanto ausente a similitude fática
entre o acórdão recorrido e o julgado apontado como paradigma.
4. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da TERCEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, prosseguindo
no julgamento, após os votos-vistas da Sra. Ministra Nancy Andrighi e do Sr. Ministro
Ricardo Villas Bôas Cueva, por maioria, não conhecer do recurso especial interposto por G B
I L e negar provimento ao recurso especial interposto por C R C, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator. Vencidos a Sra. Ministra Nancy Andrighi e o Sr. Ministro Ricardo Villas

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Bôas Cueva. Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com o Sr.
Ministro Relator.

Brasília, 26 de abril de 2022(data do julgamento)

MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO


Relator

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RECURSO ESPECIAL Nº 1848036 - SP (2019/0336619-3)

RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO


RECORRENTE : CRC
ADVOGADO : JULIO CESAR GORRASI - SP338430
RECORRENTE : GBIL
ADVOGADO : EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA -
RJ130532
RECORRIDO : CRC
ADVOGADO : JULIO CESAR GORRASI - SP338430
RECORRIDO : GBIL
ADVOGADO : EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA -
RJ130532

EMENTA

RECURSO ESPECIAL DA AUTORA. DIREITO DIGITAL. MARCO


CIVIL DA INTERNET. RESPONSABILIDADE DE PROVEDOR DE
APLICAÇÃO POR ATOS DE SEUS USUÁRIOS. REMOÇÃO DE
CONTEÚDO DA INTERNET. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL NÃO CONFIGURADA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. ART. 19 DA LEI N. 12.965/14. RESERVA
DE JURISDIÇÃO. EXCEÇÃO PREVISTA NO ART. 21.
DESNECESSIDADE DE ORDEM JUDICIAL. NOTICE AND TAKE
DOWN. CENAS DE NUDEZ E DE ATOS SEXUAIS QUE DEVEM SER
DE CARÁTER NECESSARIAMENTE PRIVADO. INAPLICABILIDADE
A FOTOGRAFIAS E DEMAIS MATERIAIS PRODUZIDOS EM
ENSAIO FOTOGRÁFICO COM INTUITO COMERCIAL E
DESTINADOS À CIRCULAÇÃO.
1. Violação do art. 489, § 1º, II, IV, V e VI, do CPC não configurada,
uma vez que o Tribunal de origem manifestou-se de forma clara e
suficiente acerca de todas as alegações relevantes à solução da lide.
2. Ausente o prequestionamento quando o Tribunal de origem não emite
juízo de valor acerca dos dispositivos legais apontados como violados,
ainda que não tenha havido omissão relevante ou mesmo negativa de
prestação jurisdicional. Aplicação da Súmula 211/STJ.
3. Mostram-se deficientes as razões do recurso especial quando, ao
impugnar a distribuição dos ônus de sucumbência, alega-se a violação
de dispositivo legal que não guarda qualquer relação com a questão.
Aplicação da Súmula 284/STF.
4. Acórdão recorrido que, ao afastar a possibilidade de restrição de
busca em provedor de pesquisa, foi proferido em consonância com a
jurisprudência deste Superior Tribunal, que tem entendimento pacífico
no sentido de que os provedores de pesquisa não podem ser obrigados a
eliminar de seu sistema os resultados que apontem para uma foto ou
texto específico, independentemente da indicação do respectivo URL.
Aplicação da Súmula 83/STJ.
5. A responsabilidade do provedor por atos de seus usuários, como
regra, apenas se verifica quando há descumprimento de ordem judicial
de remoção de conteúdo. Inteligência do art. 19 do Marco Civil da
Internet, que prevê a reserva de jurisdição.
6. Excepcionalmente, em casos de divulgação, sem consentimento, de
cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado, há possibilidade
de remoção de conteúdo mediante simples notificação da vítima.
Inteligência do art. 21 do Marco Civil da Internet que, em excepcional
sistema de notice and take down, prevê a responsabilidade do provedor
pela omissão diante de simples notificação do ofendido para retirada do
conteúdo ofensivo.
7. Para a aplicação do art. 21, mostra-se imprescindível i) o caráter
não consensual da imagem íntima; ii) a natureza privada das cenas de
nudez ou dos atos sexuais disseminados; e iii) a violação à intimidade.
8. Exceção prevista no art. 21 que se destina a proteger vítimas de um
tipo de violência digital conhecido como disseminação de imagens
íntimas não consentidas, também conhecida pela sigla NCII (da
expressão em inglês non-consensual intimate images)
9. Modelo que tem suas fotografias sensuais indevidamente divulgadas
de forma pirata não pode ser equiparada à vítima de disseminação de
imagens íntimas não consentidas, que tem sua intimidade devassada e
publicamente violada e cuja ampla e vexaminosa exposição de seu
corpo de forma não consentida demanda remoção mais célere do
conteúdo que viola de forma direta, pungente e absolutamente
irreparável o seu direito fundamental à intimidade.
10. Equiparação indevida que poderia acabar por desvirtuar a proteção
dada às vítimas de divulgação de NCII, diminuindo o grau de
reprovabilidade desse tipo de conduta e diluindo os esforços da
sociedade civil e do legislador no sentido de aumentar a
conscientização acerca dessa nova forma de violência surgida com a
internet.
11. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO EM PARTE E
DESPROVIDO.

RECURSO ESPECIAL DA RÉ. DIREITO DIGITAL. MARCO CIVIL DA


INTERNET. DEVER DE FORNECIMENTO DE REGISTROS DE
ACESSO A APLICAÇÕES. INCLUSÃO DE DADOS PESSOAIS DE
USUÁRIOS. ALEGADA VIOLAÇÃO DOS ARTS. 5º, VIII, 15 E 22 DO
MARCO CIVIL DA INTERNET. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356/STF. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO
LEGAL. AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA.
1. Ausente o prequestionamento quando o Tribunal de origem não se
manifesta, sequer implicitamente, acerca da questão suscitada por meio
dos dispositivos legais apontados como violados. Aplicação das
Súmulas 282/STF e 356/STF.
2. Conhecimento do recurso especial pela alínea c do permissivo
constitucional que pressupõe a expressa indicação do dispositivo legal
a respeito de cuja interpretação haveria divergência entre o acórdão
recorrido e o julgado apontado como paradigma.
3. Dissídio jurisprudencial que não está demonstrado, porquanto
ausente a similitude fática entre o acórdão recorrido e o julgado
apontado como paradigma.
4. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO.

RELATÓRIO

Trata-se de recursos especiais interpostos por C R C e por G B I L contra

acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que deu parcial provimento

à apelação manejada no curso da ação proposta pela primeira recorrente contra a

segunda.

A ementa do acórdão recorrido foi redigida nos seguintes termos (e-STJ fls.

851):

RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C.


INDENIZAÇÃO.
Disponibilização de ensaio fotográfico em blogs hospedados pelo apelado.
Indiscutível relação do conteúdo com a apelante, modelo fotográfica.
Contestação que não refuta a vinculação das imagens à demandante.
Improcedência, assim, que não prevalece. Cessão de direitos autorais que
não contempla a utilização irrestrita das imagens por qualquer interessado.
Prova documental, ainda, que afasta a comercialização do ensaio fotográfico
com terceiros. Suspensão dos conteúdos constantes das URLs hospedadas
pelo Google, à vista da ofensa ao art. 20 do Código Civil, bem como de
fornecimento dos registros cadastrais de criação e acesso a cada uma das
páginas, nos termos admitidos pelo art. 15 do Marco Civil da Internet.
Providências estabelecidas por esta Câmara por ocasião do julgamento do
Agravo de Instrumento nº 2001908-68.2017.8.26.0000, de minha Relatoria.
Procedência da ação, para esse fim, estabelecida. Circunstância, também, a
exigir a observância da jurisprudência do C. STJ: “A jurisprudência desta
Corte define que: (a) para fatos anteriores à publicação do Marco Civil da
Internet, basta a ciência inequívoca do conteúdo ofensivo pelo provedor, sem
sua retirada em prazo razoável, para que este se torne responsável e, (b)
após a entrada em vigor da Lei nº 12.965/2014, o termo inicial da
responsabilidade solidária do provedor é o momento da notificação judicial
que ordena a retirada do conteúdo da internet” (AgInt no AREsp
1177619/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 29/10/2018, DJe 08/11/2018). Descumprimento da
decisão judicial que não integra a causa de pedir, a qual insiste na
responsabilidade solidária da parte contrária. Inviabilidade, nesse caso, da
reparação moral e material pretendidas pela autora.
APELO PARCIALMENTE PROVIDO.

Opostos embargos de declaração (e-STJ fls. 1.093-1.104), foram rejeitados (e-

STJ fls. 1.105-1.110).

Em suas razões (e-STJ fls. 882-929), C R C alega, além de dissídio

jurisprudencial, a violação dos arts. 21, parágrafo único, 461 e 489, § 1º, II, IV, V e

VI, 497 e 499 do CPC, dos arts. 10, 15, 19, 21 e 22 da Lei n. 12.965/14, arts. 14 e

17 do CDC, dos arts. 17, 20, 21, 186, 944 e 927 do CC e dos arts. 102 e 103 da Lei

n. 9.610/98, afirmando: a) que o Tribunal de origem manteve-se omisso e

contraditório quanto aos pontos suscitados nos embargos de declaração, tendo

deixado de adentrar na discussão acerca do fato novo; b) que, por ter a recorrida

permanecido omissa diante das denúncias de URLs ilícitos, atraiu sua

responsabilidade solidária junto aos causadores do dano, sendo desnecessária

ordem judicial para que o provedor de aplicação remova obra protegida por direitos

autorais; c) que se trata de fotos e de vídeos contendo nudez explícita, razão pela

qual a remoção do conteúdo ilícito em até 24h depende unicamente de denúncia do

próprio interessado; d) que ficou demonstrada a conduta ilícita da empresa

requerida, que lhe causou danos morais indenizáveis, diante da utilização indevida

de sua imagem; e) que todos os URLs foram indicados inequivocamente, não se

tratando de filtragem prévia ou de monitoramento por parte do provedor; f) que se

mostra necessária a remoção das indexações ilícitas, já que perpetuam as violações

à sua imagem; g) que o art. 21 da Lei n. 12.965/14 não exclui as cenas de nudez

realizadas com intuito de lucro, não sendo permitido realizar distinção não prevista

no dispositivo, ressaltando que este Superior Tribunal já decidiu que, mesmo em


caso de imagens de nudez para revista adulta, a distribuição não autorizada em

sites blogger gera violação da intimidade e da privacidade; h) que, com a reforma

parcial da sentença, decaiu de parte mínima de seu pedido, devendo ser atribuídos

exclusivamente à parte adversa os ônus de sucumbência.

Em seu recurso (e-STJ fls. 1.033-1.045), G B I L alega a existência de

dissídio jurisprudencial, bem como a violação dos arts. 5º, VIII, 15 e 22 do Marco

Civil da Internet, defendendo: a) que o Tribunal de origem, ao determinar o

fornecimento dos registros de criação e de acesso aos blogs indicados, incluiu

dados pessoais de usuários cujo fornecimento não está previsto no Marco Civil da

Internet, como e-mail, dados cadastrais da conta e número de acesso; b) que o

Tribunal de origem deixou de observar a jurisprudência pacificada deste Superior

Tribunal quanto à suficiência do fornecimento de dados de IP para a identificação

de usuários de aplicações na internet e quanto à inexistência de previsão legal que

determine o fornecimento de dados pessoais desses mesmos usuários; c) que o

Marco Civil da Internet impôs aos provedores o dever de guarda e sigilo dos

registros de acesso às suas aplicações por parte dos usuários, sendo que tais

registros se resumem às informações referentes a data e hora de uso de determinada

aplicação da internet a partir de um determinado endereço IP; d) que os provedores

de aplicações de internet não são obrigados a guardar e a fornecer quaisquer outros

dados além dos previstos na legislação.

Foram apresentadas as contrarrazões (e-STJ fls. 1.115-1.132).

Os recursos especiais foram admitidos pelo Presidente da Seção de Direito

Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (e-STJ fls. 1.134-1.135 e

fls. 1.136-1.137).
É o relatório.

VOTO

Eminentes Colegas, deve ser conhecido em parte e negado provimento ao

recurso especial interposto por C R C e não deve ser conhecido o recurso especial

interposto por G B I L.

Passo a examinar, primeiramente, o recurso especial interposto por C R C.

I – Da ausência de violação do art. 489, § 1º, II, IV, V e VI, do CPC

O Tribunal de origem apresentou fundamentação suficiente, tendo se

manifestado de forma clara acerca de todas as questões relevantes à solução da

controvérsia.

Como é cediço, não se exige fundamentação detalhada acerca de todos os

dispositivos legais suscitados pelas partes, contanto que se examinem todas as

questões alegadas, aplicando o direito que se entende cabível e solucionando de

forma integral a lide, o que, sem dúvida, foi realizado de forma suficiente pelo

Tribunal a quo.

Nesse sentido:

AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO


EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO CONDENATÓRIA - DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECLAMO
INSURGÊNCIA DA PARTE AUTORA.
1. Não há falar em ofensa aos arts. 489 e 1022 do CPC/2015, porquanto
todas as questões fundamentais ao deslinde da controvérsia foram
apreciadas pelo Tribunal a quo, sendo que não caracteriza omissão ou falta
de fundamentação a mera decisão contrária aos interesses da parte, tal
como na hipótese dos autos.
2. A revisão das conclusões a que chegou o Tribunal de origem, no sentido da
ausência de comprovação, pela parte autora, do cumprimento dos termos
negociais a que se obrigou, encontra óbice nas Súmulas 5 e 7/STJ.
3. Agravo interno desprovido.
(AgInt nos EDcl no AREsp 1858082/RS, Rel. Ministro MARCO BUZZI,
QUARTA TURMA, julgado em 04/10/2021, DJe 08/10/2021)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ENERGIA ELÉTRICA.
RECUPERAÇÃO DE CONSUMO. FRAUDE NO MEDIDOR. ART. 1022 DO
CPC. OMISSÃO NÃO CONFIGURADA. ÔNUS DA PROVA.
COMPROVAÇÃO DO DANO MORAL. ACÓRDÃO RECORRIDO
ANCORADO NO SUBSTRATO FÁTICO DOS AUTOS. REVISÃO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO
DE ENERGIA ELÉTRICA. TEMA DIRIMIDO COM BASE NA ANÁLISE DE
RESOLUÇÃO.
1. Na origem, a parte autora pleiteou a condenação da concessionária de
energia elétrica ao pagamento de indenização pelos alegados danos morais,
decorrentes da conduta da ré na apuração de suposto débito de energia
elétrica.
2. Não se verifica ofensa aos arts. 489, § 1º, e 1.022, II, do CPC, na medida
em que o Tribunal de origem dirimiu, fundamentadamente, as questões que
lhe foram submetidas e apreciou integralmente a controvérsia posta nos
autos; não se pode, ademais, confundir julgamento desfavorável ao
interesse da parte com negativa ou ausência de prestação jurisdicional.
3. A alteração das conclusões adotadas pela Corte de origem, tal como
colocada a questão nas razões recursais, a fim de aferir se a parte adversa se
desincumbiu do ônus probatório que lhe competia, bem como para atestar a
ocorrência dos danos morais alegados pela parte autora, demandaria,
necessariamente, novo exame do acervo fático-probatório constante dos
autos, providência vedada em recurso especial, conforme o óbice previsto na
Súmula 7/STJ.
4. O tema relacionado ao procedimento para a suspensão do fornecimento de
energia elétrica foi analisado com base na Resolução n. 414/2010. Assim, o
exame da controvérsia demandaria a interpretação da referida resolução, ato
normativo não se enquadra no conceito de "tratado ou lei federal" de que
cuida o art. 105, III, a, da CF.
5. Agravo interno não provido.
(AgInt no AREsp 1772515/RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 16/08/2021, DJe 18/08/2021)
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.
PRECEITO COMINATÓRIO C/C PERDAS E DANOS. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE.
VIOLAÇÃO DO ART. 1022 DO CPC. INOCORRÊNCIA.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 211/STJ. DEFICIENTE
FUNDAMENTAÇÃO DO RECURSO. SÚMULA 284/STF. REEXAME DE
FATOS E PROVAS. SÚMULA 7/STJ. FUNDAMENTO DO ACÓRDÃO NÃO
IMPUGNADO. SÚMULA 283/STF. HARMONIA ENTRE O ACÓRDÃO
RECORRIDO E A JURISPRUDÊNCIA DO STJ.
1. Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, e
fundamentado corretamente o acórdão recorrido, de modo a esgotar a
prestação jurisdicional, não há que se falar em violação do art. 1022 do
CPC/15.
2. A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados como
violados, não obstante a oposição de embargos de declaração, impede o
conhecimento do recurso especial.
3. A deficiente fundamentação do recurso especial obsta o seu conhecimento.
4. Alterar o decidido no acórdão impugnado, no tocante à desnecessidade de
prova suplementar, ausência de associação/confusão de consumidores e
colidência de marcas, exige o reexame de fatos e provas, procedimento que é
vedado pela Súmula 7/STJ.
5. A existência de fundamento do acórdão recorrido não impugnado quando
suficiente para a manutenção de suas conclusões impede a apreciação do
recurso especial.
6. "A marca de alto renome, que, fazendo exceção ao princípio da
especificidade, impõe o prévio registro e a declaração do INPI de
notoriedade e goza de proteção em todos os ramos de atividade, tal como
previsto no art. 125 da Lei n. 9.279/96."
7. Agravo interno não provido.
(AgInt no REsp 1801873/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 29/03/2021, DJe 06/04/2021)

II – Da ausência de prequestionamento

A recorrente C R C alega a violação dos arts. 14 e 17 do CDC, dos arts. 102 e

103 da Lei n. 9.610/98 e dos arts. 21, parágrafo único, 497 e 499 do CPC.

Tais dispositivos legais, porém, não foram objeto de prequestionamento, não

tendo o Tribunal de origem emitido juízo de valor acerca das matérias por eles
disciplinadas, ainda que não tenha havido negativa de prestação jurisdicional.

Mostra-se aplicável neste ponto, portanto, a Súmula 211/STJ.

III – Da deficiência da fundamentação recursal

A recorrente C R C sustenta, em seu recurso, que, pelo fato de ter decaído em

parte mínima de seu pedido, os ônus de sucumbência devem ser integralmente

suportados pela parte adversa.

Ocorre que, neste ponto, sequer foi apontado corretamente o dispositivo legal

que teria sido violado no acórdão recorrido.

Com efeito, alegou-se, neste ponto, tão somente a ofensa ao art. 21, parágrafo

único, do CPC/15, norma que não guarda qualquer relação com o quanto discutido

nos autos.

Sendo assim, mostra-se deficiente a fundamentação recursal neste ponto, a

justificar a aplicação da Súmula 284/STF.

IV – Da exclusão de resultados de aplicações de busca

A recorrente C R C defende a necessidade de remoção das indexações

relativas a seu nome nos URLs indicados do buscador da Google, já que estariam a

perpetuar as violações à sua imagem.

No entanto, o acórdão recorrido, ao entender como inadmissível a

determinação de que se restrinja a busca em provedor de pesquisa, foi proferido em

consonância com a jurisprudência deste Superior Tribunal, cuja Segunda Seção

firmou entendimento no sentido de que os provedores de pesquisa não podem ser

obrigados a eliminar de seu sistema os resultados derivados da busca por


determinado termo ou expressão, tampouco os resultados que apontem para uma

foto ou texto específico, independentemente da indicação do respectivo URL.

Nesse sentido:

CIVIL. RECURSO ESPECIAL. INTERNET. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE


FAZER. EXCLUSÃO DE RESULTADOS DE PROVEDOR DE APLICAÇÃO
DE BUSCA. IMPOSSIBILIDADE. FORNECIMENTO DE LOCALIZADOR
URL. NECESSIDADE.
1. Ação ajuizada em 18/12/2015, recurso especial interposto em 13/10/2017 e
atribuído ao gabinete em 25/10/2018.
2. O propósito recursal consiste em determinar se o provedor de pesquisa
pode ser obrigado a desindexar dos resultados de buscas conteúdos
alegadamente ofensivos à imagem e à honra de terceiro.
3. O provedor de pesquisa constitui uma espécie do gênero provedor de
conteúdo, pois esses sites não incluem, hospedam, organizam ou de qualquer
outra forma gerenciam as páginas virtuais indicadas nos resultados
disponibilizados, se limitando a indicar links onde podem ser encontrados os
termos ou expressões de busca fornecidos pelo próprio usuário (REsp
1.316.921/RJ).
4. Os provedores de pesquisa virtual não podem ser obrigados a eliminar do
seu sistema os resultados derivados da busca de determinado termo ou
expressão, tampouco os resultados que apontem para uma foto ou texto
específico, independentemente da indicação do URL da página onde este
estiver inserido (Rcl 5.072/AC).
5. O precedente resultante do REsp 1.660.168/RJ não se aplica à espécie,
pois fundamentou-se, sobretudo, no denominado direito ao esquecimento.
Ocorre que, além desse direito não ter sido suscitado pelo recorrido para
fundamentar sua pretensão, recentemente, o Supremo Tribunal Federal
apreciou o Tema 786 e concluiu que o direito ao esquecimento é incompatível
com a Constituição Federal.
Ademais, a situação controvertida no recurso em julgamento não revela
excepcionalidade a justificar a não aplicação da tese há muito consagrada na
jurisprudência deste Tribunal.
6. Falta ao acórdão recorrido elemento essencial de validade, que é a
identificação inequívoca, por meio dos localizadores únicos da internet
(URLs), de quais informações devam ser censuradas dos resultados de busca.
7. Recurso especial provido.
(REsp 1771911/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 16/03/2021, DJe 26/04/2021)

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. INTERNET. AÇÃO DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLEITO PARA SE DESVINCULAR O NOME DO
AUTOR DAS EXPRESSÕES "DOLEIRO" E "MEGADOLEIRO " DO
PROVEDOR DE BUSCA. REMOÇÃO GENÉRICA DE CONTEÚDO DE
RESULTADO DE BUSCA, COM A ELIMINAÇÃO DE LINKS EXISTENTES
VINCULADOS AO SEU NOME, SEM INDICAÇÃO DE URL.
1. É firme a jurisprudência da Segunda Seção do STJ no sentido de que "os
provedores de pesquisa virtual não podem ser obrigados a eliminar do seu
sistema os resultados derivados da busca de determinado termo ou
expressão, tampouco os resultados que apontem para uma foto ou texto
específico, independentemente da indicação do URL da página onde este
estiver inserido" (Rcl 5.072/AC, Rel. p/ Acórdão Ministra Nancy Andrighi,
Segunda Seção, julgado em 11/12/2013, DJe 4/6/2014).
2. É de se ter, ademais, que "não há danos materiais que possam ser
imputados à inércia do provedor de internet, nos termos da causa de pedir.
Ato ilícito futuro não pode acarretar ou justificar dano pretérito. Se houve
omissão culposa, são os danos resultantes dessa omissão que devem ser
recompostos, descabendo o ressarcimento, pela Google, de eventuais
prejuízos que a autora já vinha experimentando antes mesmo de proceder à
notificação" (REsp 1512647/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/05/2015, DJe 05/08/2015).
3. Pacificou-se a jurisprudência do STJ de ser "inviável o conhecimento de
matéria suscitada somente em sede de Agravo Interno, por configurar
indevida inovação recursal"(AgInt no AREsp 1587029/SP, Rel. Ministro
MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 18/05/2020, DJe
25/05/2020).
4. Agravo interno não provido.
(AgInt nos EDcl no AgInt no REsp 1754214/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 29/06/2020, DJe 03/08/2020)

Aplicável, neste ponto, portanto, a Súmula 83/STJ.

V – Da responsabilidade do provedor de aplicação por atos de seus usuários

A recorrente C R C alega a violação do art. 21 da Lei n. 12.965/14 (Marco

Civil da Internet), bem como a ocorrência de dissídio jurisprudencial, afirmando


que, diante da omissão da recorrida, após a devida notificação, em remover páginas

com publicação indevida de fotografias em que figura em cenas de nudez, deve

responder pelos danos causados pela publicação indevida de sua imagem.

A controvérsia recursal, neste ponto, versa acerca da possiblidade de

aplicação do art. 21 do Marco Civil da Internet a casos de publicação indevida na

internet de conteúdo de nudez produzido profissionalmente para revista e destinado

à comercialização para o público adulto.

Recentemente, esta Terceira Turma teve a oportunidade de examinar questão

idêntica, no julgamento do REsp n. 1.930.256/SP. Em votação apertada, em que

proferi voto de desempate, concluiu-se pela inaplicabilidade do art. 21 do Marco

Civil da Internet a casos como o presente.

Cito a ementa do referido julgado:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MATERIAIS E MORAIS. DIVULGAÇÃO DE FOTOGRAFIAS DE NUDEZ
(PRODUZIDAS E CEDIDAS COM FINS COMERCIAIS) SEM O
CONSENTIMENTO DA MODELO RETRATADA, EM ENDEREÇOS
ELETRÔNICOS DA INTERNET. RESPONSABILIDADE DO PROVEDOR
PARA PROMOVER A RETIRADA DO CONTEÚDO INDICADO A PARTIR
DA DETERMINAÇÃO JUDICIAL PARA TANTO. ART. 21 DO MARCO
CIVIL DA INTERNET. INAPLICABILIDADE.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO DO PROVEDOR DE INTERNET E
PREJUDICADO O MANEJADO PELA PARTE DEMANDANTE.
1. Controverte-se sobre a aplicabilidade do disposto no art. 21 do Marco
Civil da Internet à hipótese de veiculação de fotografias de nudez (produzidas
e cedidas com fins comerciais), em endereços eletrônicos da internet, sem a
autorização da modelo fotografada, tampouco da revista a quem o material
foi cedido. Discute-se, assim, especificamente, se a responsabilidade do
provedor para promover a retirada do conteúdo inicia-se a partir da
notificação extrajudicial, a atrair a incidência do art. 21 da Lei n.
12.965/2014, ou se haveria necessidade de ordem judicial, nos termos do art.
19 da citada lei.
2. O art. 21 do Marco Civil da internet traz exceção à regra de reserva da
jurisdição estabelecida no art. 19 do mesmo diploma legal, a fim de impor ao
provedor, de imediato, a exclusão, em sua plataforma, da chamada
"pornografia de vingança" - que, por definição, ostenta conteúdo produzido
em caráter particular -, bem como de toda reprodução de nudez ou de ato
sexual privado, divulgado sem o consentimento da pessoa reproduzida.
2.1 A motivação da divulgação de materiais contendo cenas de nudez ou de
atos sexuais, sem a autorização da pessoa reproduzida, se por vingança ou
por qualquer outro propósito espúrio do agente que procede à divulgação
não autorizada, é, de fato, absolutamente indiferente para a incidência do
dispositivo em comento, sobretudo porque, de seu teor, não há qualquer
menção a esse fator de ordem subjetiva. Todavia, o dispositivo legal exige, de
modo expresso e objetivo, que o conteúdo íntimo, divulgado sem autorização,
seja produzido em "caráter privado", ou seja, de modo absolutamente
reservado, íntimo e privativo, advindo, daí, sua natureza particular.
2.2 Há, dado o caráter absolutamente privado em que este material foi
confeccionado (independentemente do conhecimento ou do consentimento da
pessoa ali reproduzida quando de sua produção), uma exposição
profundamente invasiva e lesiva, de modo indelével, à intimidade da pessoa
retratada, o que justifica sua pronta exclusão da plataforma, a requerimento
da pessoa prejudicada, independentemente de determinação judicial para
tanto.
2.3 O preceito legal tem por propósito proteger/impedir a "disponibilização,
na rede mundial de computadores, de conteúdo íntimo produzido em caráter
privado, sem autorização da pessoa reproduzida, independentemente da
motivação do agente infrator. Não é, porém, a divulgação não autorizada de
todo e qualquer material de nudez ou de conteúdo sexual que atrai a regra do
art. 21, mas apenas e necessariamente aquele que apresenta,
intrinsecamente, uma natureza privada, cabendo ao intérprete, nas mais
variadas hipóteses que a vida moderna apresenta, determinar o seu exato
alcance.
2.4 É indiscutível que a nudez e os atos de conteúdo sexuais são inerentes à
intimidade das pessoas e, justamente por isso, dão-se, em regra e na maioria
dos casos, de modo reservado, particular e privativo. Todavia - e a exceção
existe justamente para confirmar a regra - nem sempre o conteúdo íntimo,
reproduzido em fotos, vídeos e outro material, apresenta a referida natureza
privada.
3. As imagens íntimas produzidas e cedidas com fins comerciais - a esvaziar
por completo sua natureza privada e reservada - não se amoldam ao espectro
normativo (e protetivo) do art. 21 do Marco Civil da Internet, que excepciona
a regra de reserva da jurisdição.
3.1 Sua divulgação, na rede mundial de computadores, sem autorização da
pessoa reproduzida, por evidente, consubstancia ato ilícito passível de
proteção jurídica, mas não tem o condão de excepcionar a reserva de
jurisdição (que se presume constitucional, até declaração em contrário pelo
Supremo Tribunal Federal) .
3.2 A proteção, legitimamente vindicada pela demandante, sobre o material
fotográfico de conteúdo íntimo, produzido comercialmente e divulgado por
terceiros sem a sua autorização, destina-se a evitar/reparar uma lesão de
cunho primordialmente patrimonial à autora (especificamente, os alegados
lucros cessantes) e, apenas indiretamente, a sua intimidade.
4. Recurso especial do Provedor de internet provido. Prejudicado o recurso
especial da demandante.
(REsp 1930256/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em
07/12/2021, DJe 17/12/2021)

Considerando a divergência verificada no âmbito desta Terceira Turma, bem

como a ausência de julgamento colegiado acerca da mesma questão pela Quarta

Turma, julgo necessário trazer novamente a questão para debate.

Reitero o entendimento que adotei no julgamento do REsp n. 1.930.256/SP.

Relembro, inicialmente, que a presente demanda não versa acerca da

responsabilidade civil direta da recorrida, mas, sim, de sua responsabilidade

enquanto provedora, por conteúdos publicados por seus usuários.

Em hipóteses como a presente, em princípio, o provedor apenas pode ser

responsabilizado quando, tendo sido determinada judicialmente a remoção, ele

permanece omisso, nos termos do art. 19 do Marco Civil da Internet.

Cito, por oportuno, doutrina abalizada a respeito do tema (in Marco Civil da

Internet [livro eletrônico]: jurisprudência comentada. Coordenadores Carlos

Affonso Souza, Ronaldo Lemos, Celina Bottino – São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 2017):

“O Marco Civil da Internet estabelece que a responsabilidade civil do


provedor de aplicações de Internet será subjetiva e derivará do não
cumprimento da ordem judicial que determinou a remoção de certo conteúdo.
Ao colocar o Poder Judiciário como instância legítima para definir o que é
ou não um conteúdo ilícito, bem como o que deve necessariamente ser
removido da rede, a lei determinou, portanto, que a responsabilidade do
referido provedor não irá nascer do descumprimento de uma notificação
privada, como regra. A missão da Lei foi a de encontrar um equilíbrio entre
a criação de um espaço onde fosse possível cultivar as liberdades de
expressão e de informação e, ao mesmo tempo, garantir à vítima da
disponibilização de conteúdo lesivo os meios para identificar seu ofensor e
remover o material impugnado.
A norma estabelecida parece oferecer um equilíbrio no exercício de direitos,
na medida em que retira do provedor a pressão de remover todo e qualquer
conteúdo apontado como ilícito, o que atingiria em cheio a liberdade de
expressão na rede, mas não o impede de assim proceder caso entenda que o
material questionado é realmente contrário aos termos de uso e demais
políticas que regem o funcionamento da plataforma.”

Como regra, portanto, deve ser observada a reserva de jurisdição para que o

provedor tenha o dever de remoção de conteúdo da internet.

No entanto, o art. 21 do mesmo diploma legal prevê que, excepcionalmente, o

provedor será responsável pela violação da intimidade de terceiros causada pela “

divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de

outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado”

se permanecer omisso após a notificação realizada pelo participante ou por seu

representante legal.

Tal dispositivo legal configura clara exceção à reserva de jurisdição e, como

tal, deve ser interpretada restritivamente, sendo imprescindível notar que a adoção

excepcional do sistema do notice and take down prevista no art. 21 do Marco Civil

da Internet refere-se especificamente a cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter

privado.

Esta exceção visa a garantir proteção contra a disseminação de imagens

íntimas não consentidas (também conhecida como NCII, da expressão em inglês n


on-consensual intimate images).

A divulgação de NCII não se resume à pornografia de vingança, porquanto o

verdadeiro intuito daquele que dissemina imagens íntimas de forma não consentida

se afigura irrelevante, mas abrange todo e qualquer modo que possa assumir esta

forma contemporânea de violência digital.

A mens legis do art. 21 do Marco Civil da Internet, portanto, traduz-se em

uma tentativa de possibilitar à vítima desse tipo de violência uma remoção mais

célere do conteúdo que viola de forma direta, pungente e absolutamente irreparável

o seu direito fundamental à intimidade.

Isso é o que se depreende da doutrina especializada (SOUZA, Carlos Affonso;

LEMOS, Ronaldo. Marco civil da internet: construção e aplicação. Juiz de Fora:

Editar Editora Associada Ltda, 2016, p. 107):

Essa norma decorreu de uma demanda presente nos trabalhos legislativo de


aprovação do Marco Civil no sentido de se proteger situações infelizmente
usuais em que um conteúdo de natureza íntima é divulgado na rede sem a
autorização de uma ou mais pessoas retratadas. Episódios de suicídios de
meninas retratadas em vídeos íntimos publicados e compartilhados online
sem a sua autorização no ano que antecedeu a aprovação do Marco Civil
contribuíram também para que esse dispositivo fosse adicionado à redação
original do projeto.

Nesse contexto, mostram-se essenciais à aplicação do mencionado art. 21:

1. o caráter não consensual da imagem íntima;

2. a natureza privada das cenas de nudez ou dos atos sexuais disseminados;


e

3. a violação à intimidade.

Tais elementos não se encontram presentes no caso em tela.


C R C cedeu os direitos de sua imagem para a Editora RickDan sobre

fotografias e outros materiais produzidos em ensaio sensual realizado para a

Revista Sexy, a ser disponibilizado para maiores de idade mediante pagamento em

sites específicos.

A realização e a divulgação do material, tanto virtual quanto fisicamente,

foram devidamente consentidas por C R C, inclusive internacionalmente.

Ademais, não se trata de material de natureza privada, mas, sim, de obras

produzidas profissionalmente, com intuito exclusivamente comercial e destinadas

precipuamente à circulação. Quanto mais o material circulasse (de forma lícita),

maior seria o benefício econômico auferido pela editora e pela própria autora.

Por fim, não houve violação direta ao direito de intimidade, sendo que, por

meio da presente demanda, busca-se apenas evitar e reparar os lucros cessantes

decorrentes da disseminação gratuita do material em que figura C R C.

Como é evidente, se as fotos e os vídeos estiverem disponíveis na internet de

forma gratuita, haverá menos interessados em adquiri-los mediante pagamento,

reduzindo, assim, o proveito econômico oriundo da cessão do direito de imagem.

A toda evidência, não se pode equiparar o caso dos autos à situação de

disseminação de imagens íntimas não consentidas (NCII), em que a vítima tem sua

intimidade devassada e publicamente violada, com a ampla e vexaminosa

exposição de seu corpo de forma não consentida.

A recorrente não é vítima de violência, mas pretende apenas repor o que

deixou de ganhar pela publicação pirata de suas fotografias.

Não se discute que a publicação gratuita e não autorizada de seu material

configura ato ilícito, não apenas violador de seu direito de imagem, mas
possivelmente também dos direitos autorais de que eventualmente são titulares a

própria editora e os profissionais que trabalharam em sua realização.

Porém, essa ilicitude, por si só, não autoriza a aplicação do art. 21 do Marco

Civil da Internet, de modo que seria imprescindível uma determinação judicial para

a remoção do referido conteúdo.

Esta parece ser a solução mais adequada a partir de duas constatações,

verificadas à luz do art. 20 da LINDB, que determina que, também na esfera

judicial, não se pode decidir com base em valores jurídicos abstratos sem que se

levem em consideração as consequências práticas da decisão.

Em primeiro lugar, uma interpretação excessivamente extensiva do art. 21 do

Marco Civil da Internet poderia acabar por atribuir ao provedor de aplicação a

obrigação de examinar cláusulas contratuais de negócios jurídicos envolvendo

terceiros, a fim de averiguar, por exemplo, se a publicação de ensaio sensual em

determinado blog, rede social ou página da internet estava ou não dentro do

consentimento dado pelo(a) modelo, tarefa que reconhecidamente não lhe pode ser

atribuída.

Em segundo lugar, equiparar casos como o presente – de divulgação pirata de

fotos sensuais de caráter comercial – a casos de disseminação não consentida de

imagens íntimas (NCII) poderia acabar por desvirtuar a proteção dada às vítimas

dessa violência, diminuindo o grau de reprovabilidade desse tipo de conduta e

diluindo os esforços da sociedade civil e do legislador no sentido de aumentar a

conscientização acerca dessa nova forma de violência surgida com a internet.

Ante o exposto, conheço em parte do recurso especial interposto por C R

C e a ele nego provimento.


Passo a examinar o recurso especial interposto por G B I L.

A recorrente G B I L alega a violação dos arts. 5º, VIII, 15 e 22 do Marco

Civil da Internet, bem como a ocorrência de dissídio jurisprudencial entre o

acórdão recorrido e o REsp n. 1.342.640/SP.

Ocorre que os dispositivos legais apontados como violados não foram objeto

de prequestionamento, não tendo sido emitido qualquer juízo de valor pelo

Tribunal de origem acerca da matéria neles retratada.

Com efeito, embora o Tribunal de origem tenha feito expressa menção ao art.

15 do Marco Civil da Internet, o fez apenas para justificar a procedência do pedido

de fornecimento dos registros cadastrais de criação e acesso a cada uma das

páginas apontadas por C R C.

Apenas na conclusão do julgado é que o Tribunal de origem esclareceu que,

no seu entender, os registros de criação e de acesso deveriam incluir informações

sobre IP, data, hora, e-mail, dados cadastrais da conta, números de acesso.

Não foi examinada, no entanto, a apontada suficiência dos dados de IP, sendo

imprescindível notar que G B I L sequer opôs embargos de declaração para suscitar

a manifestação do Tribunal de origem acerca dessa questão.

Não tendo sido opostos embargos de declaração na origem, sequer há falar em

prequestionamento ficto, sendo aplicáveis as Súmulas 282 e 356/STF.

Ademais, no que diz respeito ao dissídio jurisprudencial, a recorrente G B I L

deixou de apontar o dispositivo legal acerca do qual teria havido a referida

divergência, o que se mostra imprescindível para o conhecimento do recurso

especial com base na alínea ‘c’ do permissivo constitucional.

Nesse sentido:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. DECISÃO DA PRESIDÊNCIA DESTA CORTE. AÇÃO
INDENIZATÓRIA. PROTESTO INDEVIDO. DANO MORAL.
DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NÃO VERIFICADA. DECISÃO
MANTIDA.
1. O conhecimento do recurso especial pela alínea "c" do permissivo
constitucional exige indicação do dispositivo legal ao qual foi atribuída
interpretação divergente e demonstração do dissídio, mediante verificação
das circunstâncias que assemelhem ou identifiquem os casos confrontados
(art. 1.029, § 1º, CPC/2015).
2. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1948019/SP, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA,
QUARTA TURMA, julgado em 14/02/2022, DJe 17/02/2022)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO DE
INDENIZAÇÃO. DANO MORAL CONFIGURADO. PRETENSÃO
RECURSAL QUE ENVOLVE O REEXAME DE PROVAS. INVIABILIDADE.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7 DO STJ. FUNDAMENTAÇÃO
DEFICIENTE. NÃO INDICAÇÃO DE DISPOSITIVO DE LEI TIDO POR
OFENDIDO. APLICAÇÃO DA SÚMULA Nº 284 DO STF, POR ANALOGIA.
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO NOS MOLDES
LEGAIS. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. Aplica-se o NCPC a este julgamento ante os termos do Enunciado
Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016:
Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões
publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de
admissibilidade recursal na forma do novo CPC.
2. A alteração das conclusões do acórdão recorrido exige reapreciação do
acervo fático-probatório da demanda, o que faz incidir o óbice da Súmula nº
7 do STJ.
3. O conhecimento do recurso especial pela alínea c do permissivo
constitucional exige, além de demonstração e comprovação do dissídio
jurisprudencial, a indicação de qual dispositivo legal teria sido violado ou
objeto de interpretação divergente entre o acórdão impugnado e os
paradigmas, sob pena de incidência, por analogia, da Súmula nº 284 do
STF. Precedentes.
4. Agravo interno não provido.
(AgInt no AREsp 1943027/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 06/12/2021, DJe 10/12/2021)
De todo modo, verifico que sequer há similitude fática entre os julgados,

considerando que, no REsp n. 1.342.640/SP, foi examinada situação anterior à

entrada em vigor do Marco Civil da Internet.

Ante o exposto, não conheço do recurso especial interposto por G B I L.

Conheço em parte e nego provimento ao recurso especial interposto por C R

C.

Majoro em 2% os honorários advocatícios devidos por cada uma das partes ao

patrono da parte adversa, passando de 15% para 17% a verba devida por C R C e

de 10% para 12% aquela devida por G B I L, sobre o valor da causa, à luz do art.

85, § 11, do CPC/2015.

É o voto.
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2019/0336619-3 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.848.036 / SP

Números Origem: 0013821-72.2017.8.26.0100 1132602-70.2016.8.26.0100 11326027020168260100


138217220178260100

PAUTA: 29/03/2022 JULGADO: 29/03/2022


SEGREDO DE JUSTIÇA
Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. EDUARDO KURTZ LORENZONI
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CRC
ADVOGADOS : JULIO CESAR GORRASI - SP338430
VENCESLAU TAVARES COSTA FILHO - PE022407
RECORRENTE : GB I L
ADVOGADO : EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA - RJ130532
RECORRIDO : CRC
ADVOGADO : JULIO CESAR GORRASI - SP338430
RECORRIDO : GB I L
ADVOGADO : EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA - RJ130532

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil - Indenização por Dano Material

SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr. JULIO CESAR GORRASI, pela parte RECORRENTE: C R C
Dr. EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA, pela parte RECORRENTE: G B I L

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, não conhecendo do recurso
especial interposto por G B I L e negando provimento ao recurso interposto por C R C, pediram
vista conjunta a Sra. Ministra Nancy Andrighi e o Sr. Ricardo Villas Bôas Cueva. Aguardam os
Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro.

Documento: 149151812 - CERTIDÃO DE JULGAMENTO - Site certificado Página 1 de 1


Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.848.036 - SP (2019/0336619-3)
RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO
RECORRENTE : CRC
ADVOGADOS : JULIO CESAR GORRASI - SP338430
VENCESLAU TAVARES COSTA FILHO - PE022407
RECORRENTE : GBIL
ADVOGADO : EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA - RJ130532
RECORRIDO : CRC
ADVOGADO : JULIO CESAR GORRASI - SP338430
RECORRIDO : GBIL
ADVOGADO : EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA - RJ130532

VOTO-VISTA

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI:


Cuida-se de recursos especiais interpostos por C R C e G B I L, ambos
fundados nas alíneas “a” e “c” do permissivo constitucional, contra acórdão do
TJ/SP.
Ação: de obrigação de fazer cumulada com pedido de indenização por
danos materiais e morais ajuizada por C R C em desfavor de G B I L, em razão da
divulgação gratuita e sem a sua anuência de fotos com nudez explícita em blogs
por ela hospedados e em páginas indexadas, as quais foram tiradas em um ensaio
fotográfico para uma revista masculina.
Segundo narra a inicial, a recorrente notificou a recorrida
extrajudicialmente, requerendo a remoção do conteúdo, mas o pedido foi
recusado. Alega que a manutenção das publicações lhe causa danos materiais e
morais.
Sentença: julgou improcedente o pedido, consoante o fundamento
de que a autora não de desincumbiu do seu ônus de comprovar que as fotografias
divulgadas na internet são idênticas às publicadas na revista sexy e de que a
demandante é a pessoa fotografada nas imagens juntadas à inicial. Ademais,
registrou que a ora recorrente cedeu, mediante cláusula contratual, os seus
Documento: 151452277 - VOTO VISTA - Site certificado Página 1 de 17
Superior Tribunal de Justiça
direitos de imagem à Editora Rickdan.
Acórdão: deu parcial provimento à apelação de CRC, para fins de que
a ré (recorrente/recorrida) suspenda o acesso às URLs indicadas pela recorrente e
forneça os registros de criação e acesso a cada uma das páginas indicadas, nos
termos da seguinte ementa:

RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C. C. INDENIZAÇÃO.


Disponibilização de ensaio fotográfico em blogs hospedados pelo apelado.
Indiscutível relação do conteúdo com a apelante, modelo fotográfica.
Contestação que não refuta a vinculação das imagens à demandante.
Improcedência, assim, que não prevalece. Cessão de direitos autorais que não
contempla a utilização irrestrita das imagens por qualquer interessado. Prova
documental, ainda, que afasta a comercialização do ensaio fotográfico com
terceiros. Suspensão dos conteúdos constantes das URLs hospedadas pelo
Google, à vista da ofensa ao art. 20 do Código Civil, bem como de fornecimento
dos registros cadastrais de criação e acesso a cada uma das páginas, nos termos
admitidos pelo art. 15 do Marco Civil da Internet. Providências estabelecidas por
esta Câmara por ocasião do julgamento do Agravo de Instrumento nº
2001908-68.2017.8.26.0000, de minha Relatoria. Procedência da ação, para
esse fim, estabelecida. Circunstância, também, a exigira observância da
jurisprudência do C. STJ: “A jurisprudência desta Corte define que: (a) para fatos
anteriores à publicação do Marco Civil da Internet, basta a ciência inequívoca do
conteúdo ofensivo pelo provedor, sem sua retirada em prazo razoável, para que
este se torne responsável e, (b) após a entrada em vigor da Lei nº 12.965/2014,
o termo inicial da responsabilidade solidária do provedor é o momento da
notificação judicial que ordena a retirada do conteúdo da internet” (AgInt no
AREsp 1177619/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 29/10/2018, DJe 08/11/2018). Descumprimento da decisão
judicial que não integra a causa de pedir, a qual insiste na responsabilidade
solidária da parte contrária. Inviabilidade, nesse caso, da reparação moral e
material pretendidas pela autora. APELO PARCIALMENTE PROVIDO.

Embargos de declaração: opostos por C R C, foram desacolhidos.


Recurso especial de C R C: sustenta violação aos arts. 1.022, I e III,
86, parágrafo único, 497 e 499 do CPC/2015, aos arts. 20, 186, 927 e 944 do
CC/02, aos arts. 10, 15, 19, 21 e 22 do Marco Civil da Internet, aos arts. 14 e 17 do
CDC e aos arts. 102 e 103 da Lei nº 9.610/98, além de divergência jurisprudencial.
Alega que o acórdão recorrido é omisso quanto às alegações de que as
Documento: 151452277 - VOTO VISTA - Site certificado Página 2 de 17
Superior Tribunal de Justiça
fotografias contêm nudez explícita, atraindo a incidência do art. 21 do MCI e é
desnecessária ordem judicial para remoção de obra protegida por direitos autorais
e da ocorrência de sucumbência mínima.
Sustenta, além do mais: a) que é cabível a condenação da recorrida ao
pagamento de indenização por danos materiais e morais, porque o material
publicado, além de violar os direitos autorais da fotografada, contém cenas de
nudez explícita, as quais foram divulgadas sem sua autorização, em nítida violação
aos direitos à imagem, honra e intimidade da recorrente, não tendo sido atendido
o pedido de remoção deduzido extrajudicialmente; b) deve ser acolhido pedido de
remoção dos URLs indicados na inicial, referentes a blogs hospedados pela
recorrida e também decorrentes do serviço de busca google search, não se
tratando de filtragem prévia de conteúdo e c) houve sucumbência mínima, já que,
com exceção ao pedido subsidiário de conversão da obrigação em perdas e danos,
todos os demais requerimentos foram acolhidos.
Recurso especial de G B I L: aponta violação aos arts. 5º, VIII, 15 e 22
do MCI, além de dissídio jurisprudencial. Para tanto, argumenta que, nos termos da
jurisprudência do STJ, é suficiente o fornecimento dos dados de IP para
identificação dos usuários de aplicações na internet, inexistindo previsão legal que
obrigue ao fornecimento de dados pessoais dos usuários.
Juízo de admissibilidade prévio: o Tribunal de origem admitiu os
recursos especiais, determinando a remessa dos autos a esta Corte.
Voto do Relator: na sessão do dia 29/03/2021, o e. Ministro Paulo de
Tarso Sanseverino, relator dos presentes recursos, votou por conhecer em parte
do recurso especial de C R C, e nessa extensão, negar-lhe provimento e por não
conhecer do recurso especial de G B I L. Na sequência, pedi vista dos autos, para
melhor exame da matéria em debate.
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Superior Tribunal de Justiça
É o relatório.

O propósito recursal de C R C é dizer sobre: a) a ocorrência de negativa


jurisdicional; b) a aplicabilidade do disposto no art. 21 do Marco Civil da Internet à
hipótese de veiculação de fotografias com conteúdo pornográfico em endereços
eletrônicos da internet sem autorização da fotografada, tampouco da revista à qual
se destinaram as imagens; c) a possibilidade de se atribuir à recorrida a obrigação
de exclusão dos URLs e d) a ocorrência de sucumbência mínima.
A seu turno, o propósito recursal de G B I L é limitar o fornecimento de
dados dos usuários ao endereço de IP.

- RECURSO ESPECIAL DE C R C

1. Da negativa de prestação jurisdicional.


I. A jurisprudência do STJ é firme no sentido de que não há ofensa
ao art. 1.022 do CPC/15 quando o Tribunal de origem, aplicando o direito que
entende cabível à hipótese, soluciona integralmente a controvérsia submetida à
sua apreciação, ainda que de forma diversa daquela pretendida pela parte (AgInt
no AREsp 1650384/MG, DJe 26/10/2020; AgInt nos Edcl no REsp 1871018/SP, Dje
21/09/2020).
II. No particular, todas as questões suscitadas no recurso de apelação
foram devidamente examinadas pela Corte de origem.
III. A respeito da aplicação do art. 21 do MCI, destacou-se no acórdão
recorrido que:

Afirma-se que se “denunciou pela primeira vez todo conteúdo ainda em


10/08/2016!” (fls. 746). Nesta ocasião já estava em vigoro Marco Civil da
Internet, oportunidade em que exigível a aplicação da jurisprudência editada pelo
C. STJ, segundo a qual “a) para fatos anteriores à publicação do Marco Civil da
Internet, basta a ciência inequívoca do conteúdo ofensivo pelo provedor, sem sua
retirada em prazo razoável, para que este se torne responsável e, (b) após a
entrada em vigor da Lei nº 12.965/2014, o termo inicial da responsabilidade
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solidária do provedor é o momento da notificação judicial que ordena a retirada do
conteúdo da internet” (AgInt no AREsp 1177619/SP, Rel. Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 29/10/2018, DJe
08/11/2018).
No presente caso, portanto, as comunicações prévias e extrajudiciais
levadas a efeito pela apelante não eram suficientes a vincular o apelado quanto à
prática da ilicitude e, consequentemente, ao pedido reparatório. (e-STJ, fls.
856-857)

IV. Atinente à ausência de análise do argumento segundo o qual,


em caso de violação de direitos autorais, é desnecessária ordem judicial para
exclusão dos conteúdos, embora o Tribunal de origem não o tenha examinado, a
omissão não foi suscitada em sede de embargos de declaração.
V. A respeito da sucumbência, embora o Tribunal de origem
tenha decidido contrariamente à parte recorrente, expressamente asseverou
tratar-se de hipótese de sucumbência recíproca (e-STJ, fl. 857).
VI. Portanto, não se constata a suscitada ofensa aos arts. 489 e
1.022 do CPC/2015.

2. Da ausência de prequestionamento.
VII. O acórdão recorrido não decidiu acerca dos arts. 102 e 103 da
Lei nº 9.610/98, dos arts. 14 e 17 do CDC e dos arts. 497 e 499 do CPC/2015, razão
pela qual o julgamento do recurso especial é inadmissível quanto ao ponto (Súmula
282/STF).
VIII. Portanto, no tópico, não conheço do recurso especial.

3. Dos provedores de aplicação na internet.


3.1. Da responsabilidade dos provedores de aplicação por
conteúdos gerado por terceiros.
IX. As discussões acerca da responsabilidade civil dos provedores
de aplicações apresentam uma complexidade elevada, já que, em regra, não se

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Superior Tribunal de Justiça
está a discutir uma ofensa diretamente causada pelo provedor, mas sim por
terceiros usuários das funcionalidades por ele fornecidas. A dificuldade é ainda
mais elevada quando os provedores não exercem nenhum controle prévio sobre
aquilo que fica disponível on-line, o que afasta a responsabilidade editorial sobre as
informações.
X. Este Superior Tribunal de Justiça já teve a oportunidade de
examinar a questão relativa ao regime de responsabilidade civil aplicável aos
provedores de aplicações por conteúdos gerados por terceiros. O entendimento
desta Corte é no sentido de que a responsabilidade dos provedores é subjetiva. A
propósito:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL - AÇÃO


CONDENATÓRIA - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU
PROVIMENTO AO RECLAMO. INSURGÊNCIA DA REQUERIDA.
1. Nos termos dos Enunciados Administrativos nº 2 e 3 deste Superior Tribunal de
Justiça, aplicam-se aos recursos as regras do diploma processual vigente ao
tempo da publicação desafiada.
1.1. No caso em tela, tanto o recurso especial quanto o respectivo agravo foram
interpostos em face de decisões publicadas na vigência do CPC/73, sendo
aplicáveis a eles tal regramento.
1.2. O agravo interno, por sua vez, desafia decisão publicada na vigência do
CPC/15, de modo que o prazo de interposição correspondente é de 15 (quinze)
dias úteis, o que foi respeitado pela insurgência sub judice.
2. Conforme a jurisprudência deste Tribunal Superior, não incide aos provedores
de conteúdo da internet a responsabilidade objetiva prevista no art. 927, parágrafo
único, do CC/02, sendo descabida, ainda, a exigência de fiscalização prévia.
2.1. Aos provedores de conteúdo aplica-se a tese da responsabilidade
subjetiva, segundo a qual o provedor torna-se responsável solidariamente
com aquele que gerou o conteúdo ofensivo se, ao tomar conhecimento da
lesão que determinada informação causa, não tomar as providências
necessárias para removê-la. Precedentes.
2.2. A Corte de origem rejeitou o apelo da autora, em que se discutiam fatos
ocorridos antes da entrada em vigor da Lei 12.965/2014, o Marco Civil da
Internet, afirmando que a responsabilidade da requerida somente poderia ser
reconhecida caso descumprisse notificação judicial, sem ao menos analisar as
alegações quanto à empresa-ré ter sido devidamente comunicada a respeito de
conteúdo ofensivo, o que destoa da citada jurisprudência.
2.3. Deve ser mantida a decisão monocrática que determinou o retorno dos autos
à origem para novo julgamento, à luz da jurisprudência desta Corte Superior, de
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modo a evitar a supressão de instância, uma vez que a causa não se encontra
madura para julgamento neste Tribunal.
3. Agravo interno desprovido.
(AgInt no AREsp 685.720/SP, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA
TURMA, julgado em 13/10/2020, DJe 16/10/2020) (grifou-se)

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. GOOGLE.


BLOGGER. AÇÃO DE REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS.
CONTEÚDO REPUTADO OFENSIVO.
MONITORAMENTO PRÉVIO. AUSÊNCIA. RESPONSABILIDADE
OBJETIVA.
AFASTAMENTO.
1. Ação ajuizada em 09/07/2010. Recurso especial interposto em 08/08/2014 e
distribuído a este gabinete em 25/08/2016.
2. A verificação do conteúdo das imagens postadas por cada usuário não constitui
atividade intrínseca ao serviço prestado pelos provedores de compartilhamento de
vídeos, de modo que não se pode reputar defeituoso, nos termos do art. 14 do
CDC, a aplicação que não exerce esse controle.
3. Aos provedores de aplicação, utiliza-se a tese da responsabilidade
subjetiva, segundo a qual o provedor de aplicação torna-se responsável
solidariamente com aquele que gerou o conteúdo ofensivo se, ao tomar
conhecimento da lesão que determinada informação causa, não tomar as
providências necessárias para a sua remoção. Precedentes.
4. Na hipótese dos autos, não houve determinação de monitoramento prévio, mas
de retirada do conteúdo de blog, nos termos da jurisprudência deste STJ.
5. Recurso especial conhecido e não provido.
(REsp 1501603/RN, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 12/12/2017, DJe 18/12/2017) (grifou-se)

XI. Destaque-se que essa teoria se subdivide em duas vertentes a


depender do termo inicial para se considerar o provedor de aplicação responsável por
conteúdo gerado por terceiro. Esse termo a quo pode ser: (i) a notificação do próprio
usuário, pelos meios oferecidos pelo provedor, caso o ocorrido tenha se verificado quando
não estava em vigor o MCI ou (ii) a notificação judicial, após a provocação do Poder
Judiciário por aquele que se considera ofendido, nos termos do art. 19 do MCI.
XII. Todavia, a própria Lei nº 12.965/2014 consagra exceção à reserva de
jurisdição para a retirada de conteúdo infringente da internet na hipótese de “vídeos ou
de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado” (art.
21). Nessas circunstâncias, o provedor passa a ser subsidiariamente responsável a partir
da notificação extrajudicial formulada pelo particular interessado na remoção desse

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conteúdo e não a partir da ordem judicial com esse comando.
XIII. A controvérsia devolvida a esta Corte por meio do presente recurso
especial diz com o âmbito de incidência desse dispositivo legal, a qual se passa a analisar
a seguir.

3.2. Da divulgação não consentida de cenas de nudez. Do âmbito


de incidência do art. 21 do MCI.
XIV. Inicialmente, convém transcrever o conteúdo do art. 21 do Marco
Civil:

Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo


gerado por terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da
intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de
imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos
sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo
participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no
âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo.

Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob


pena de nulidade, elementos que permitam a identificação específica do material
apontado como violador da intimidade do participante e a verificação da
legitimidade para apresentação do pedido.

XV. Esse dispositivo legal tutela a denominada “pornografia de


vingança” (revenge porn), a qual comumente se verifica em términos de relacionamentos,
quando uma das partes divulga o material produzido durante a relação com vistas a punir
a outra pelo encerramento do vínculo afetivo.
XVI. No entanto, o art. 21 não tem sua aplicação restrita a tais situações,
haja vista que o legislador não faz referência à motivação do agente. Por essa razão,
defende-se que o termo mais adequado para caracterizar a hipótese retratada na norma
é “pornografia não consensual”, que inclui tanto a veiculação de cenas íntimas obtidas
sem o consentimento da vítima quanto com o seu consentimento, mas divulgadas sem a
sua autorização (SOUZA, Afonso Carlos; LEMOS, Ronaldo; BOTTINO, Celina. Marco Civil da
Internet: jurisprudência comentada. E-book. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018;
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Superior Tribunal de Justiça
SCHREIBER, Anderson. Marco Civil da Internet: avanço ou retrocesso? A responsabilidade
civil por dano derivado de conteúdo gerado por terceiro. LUCCA, Newton de; SIMÃO
FILHO, Adalberto; LIMA, Cíntia Rosa Pereira de. Direito & Internet III. Tomo II. Quartier
Latin, 2015, p. 296).
XVII. No julgamento do REsp 1.679.465/SP (DJe 19/03/2018), por mim
relatado, esta Terceira Turma teve a oportunidade de analisar com cuidado os detalhes e
contornos da exposição pornográfica não consentida e como esse tipo de divulgação causa
prejuízos às pessoas expostas. Segundo destacou-se naquela oportunidade, “a 'exposição
pornográfica não consentida', da qual a 'pornografia de vingança' é uma espécie,
constituiu uma grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta
indevidamente, além de configurar uma grave forma de violência de gênero que deve ser
combatida de forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis”.
XVIII. Nessa linha de intelecção, percebe-se que a proteção conferida pelo
Marco Civil da Internet à pessoa que teve a sua imagem íntima divulgada ilicitamente
guarda estreita relação com o direito à imagem, à intimidade e à privacidade
assegurados no plano constitucional (art. 5º, X, da CF/88) e infraconstitucional (arts. 20 e
21 do CC/02).
XIX. O direito à imagem “é mera extrinsecação do direito sobre o próprio
corpo enquanto direito sobre o aspecto exterior deste que é objeto corporal ou material
por excelência” (MORAES, Walter. Direito à própria imagem. Revista dos Tribunais, vol.
61, n. 443, set./1972, pp. 343-344). Sua finalidade consiste em “proteger o interesse que
tem a pessoa de opor-se à divulgação dessa imagem, em circunstâncias concernentes à
sua vida privada” (EREsp 230.268/SP, Segunda Seção, DJ 04/08/2003).
XX. Especialmente para fins de aplicação do art. 21 do MCI, se a pessoa
exposta consentiu com a realização da fotografia ou vídeo, é imprescindível perquirir
acerca do propósito do consentimento. Afinal, “a interpretação do consentimento deve,
em regra, ocorrer de forma restritiva, não podendo o intérprete estender a autorização
concedida para o uso da imagem para outros meios além daqueles pactuados, para

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momento posterior, para fim diverso ou, ainda, para pessoa distinta daquela que recebeu
a autorização” (TEFFÉ, Chiara Spadaccini de. Direito à imagem na internet: estudo sobre o
tratamento do Marco Civil da Internet para os casos de divulgação não autorizada de
imagens íntimas. Revista de Direito Civil Contemporâneo, Vol. 15, abr.-jun./2018, p. 100).
A título de exemplo, se a pessoa posou nua para determinada revista, a publicação das
imagens em outras revistas ou meios de comunicação configura violação ao seu direito de
imagem.
XXI. Destarte, o fato de a pessoa ter consentido em ser fotografada, por
quem quer que seja, é insuficiente para tornar púbico o conteúdo inegavelmente sensível.
XXII. Nessas circunstâncias, a intimidade e a privacidade também
assumem especial relevo, já que o próprio dispositivo em análise se refere, repise-se, a
“materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado”.
XXIII. Valendo-se dos ensinamentos da doutrina civilista, tem-se que “lugar
público é aquele franqueado a todas as pessoas, sem nenhuma restrição” (MONTEIRO
FILHO, Rafael de Barros. Comentários ao Novo Código Civil. Vol. I. Rio de Janeiro: Forense,
2010, p. 246). Mas, para a adequada tutela da privacidade e em atenção à boa-fé
objetiva, o mais importante é analisar a expectativa de privacidade do retratado em torno
do ato captado (SCHREIBER, Anderson. Direitos da Personalidade. 2. ed. São Paulo: Atlas,
2013, pp. 145-146). Isto é, se a pessoa representada tinha consciência de que a cena
registrada seria divulgada e em que extensão isso ocorreria.
XXIV. Na hipótese em julgamento, de acordo com o quadro fático traçado
pelas instâncias de origem, a recorrente participou de um ensaio fotográfico para uma
revista voltada ao público masculino. A revista poderia ser acessada por um terminal com
acesso à internet, por pessoas maiores de 18 (dezoito) anos e mediante prévio pagamento
de certa quantia. Ou seja, a recorrente não autorizou a exposição pública dessas imagens
com conteúdo pornográfico, mas apenas a publicação naquele veículo específico e desde
que observadas determinadas condições.
XXV. Além de o consentimento ter se restringido a um fim específico, pelo

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contexto narrado, é certo que a retratada não tinha a expectativa de que as fotografias
seriam republicadas em blogs da internet e passíveis de acesso por qualquer indivíduo que
se conectasse à internet.
XXVI. Embora tenha havido o consentimento para a realização do ensaio
fotográfico, a publicação das fotografias com conteúdo pornográfico em meio não
autorizado pela vítima e para um público significativamente mais numeroso qualifica-se
como pornografia não consentida e viola os direitos da retratada à imagem, à privacidade
e à intimidade. Nessa circunstância, sobressai um interesse privado passível de proteção
pelo art. 21 da Lei nº 12.965/2014.
XXVII. Em consequência, não tendo a recorrida atendido ao pedido de
exclusão dos URLs formulado nas notificações extrajudiciais encaminhadas pela
recorrente, é responsável pelos danos por ela suportados em virtude das publicações.
XXVIII. Em síntese, o art. 21 do MCI não tem sua aplicação restrita às
situações de pornografia de vingança, mas alcança também hipótese de divulgação de
fotografias de nudez tiradas com o consentimento da vítima para publicação em
determinada revista de acesso restrito, mas veiculadas em outros sites da internet sem a
sua autorização.
XXIX. Reitera-se, portanto, o posicionamento já externado no julgamento
do REsp 1.930.256/SP, no qual fiquei vencida, tendo sido relator para o acórdão o Ministro
Marco Aurélio Bellizze.

4. Da obrigação da recorrida de exclusão dos URLs.


XXX. A recorrente (autora) pretende que a recorrida (ré) seja compelida a
excluir as imagens publicadas em blogs por ela hospedados, bem como a desindexar os
resultados decorrentes da busca do seu nome no google search.
XXXI. Nesse aspecto, s.m.j., o deslinde da controvérsia exige que seja feita
uma diferenciação acerca da natureza jurídica assumida pela recorrida com relação a
cada um desses pedidos.
XXXII. Com a publicação da Lei nº 12.965/2014, que instituiu o Marco Civil
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Superior Tribunal de Justiça
da Internet, muitos dos elementos que compõem a rede mundial de computadores foram
definidos normativamente. Assim, temos que a internet foi definida como “o sistema
constituído do conjunto de protocolos lógicos, estruturado em escala mundial para uso
público e irrestrito, com a finalidade de possibilitar a comunicação de dados entre
terminais por meio de diferentes redes” (art. 5º, I).
XXXIII. Na internet, há uma multiplicidade de atores oferecendo diferentes
tipos de serviços e utilidades para os usuários. Ante a ausência de uma orientação
legislativa clara, a jurisprudência acabou por definir os diversos tipos de provedores de
serviços e utilidades na internet. Veja-se, nesse sentido, o que foi estabelecido no REsp
1.316.921/RJ (Terceira Turma, DJe 29/06/2012):

Os provedores de serviços de Internet são aqueles que fornecem


serviços ligados ao funcionamento dessa rede mundial de computadores, ou por
meio dela. Trata-se de gênero do qual são espécies as demais categorias, como:
(i) provedores de backbone (espinha dorsal), que detêm estrutura de rede
capaz de processar grandes volumes de informação. São os responsáveis pela
conectividade da Internet, oferecendo sua infraestrutura a terceiros, que
repassam aos usuários finais acesso à rede; (ii) provedores de acesso, que
adquirem a infraestrutura dos provedores backbone e revendem aos usuários
finais, possibilitando a estes conexão com a Internet; (iii) provedores de
hospedagem, que armazenam dados de terceiros, conferindo-lhes acesso
remoto; (iv) provedores de informação, que produzem as informações
divulgadas na Internet; e (v) provedores de conteúdo, que disponibilizam na
rede os dados criados ou desenvolvidos pelos provedores de informação ou
pelos próprios usuários da web. É frequente que provedores ofereçam mais de
uma modalidade de serviço de Internet; daí a confusão entre essas diversas
modalidades. Entretanto, a diferença conceitual subsiste e é indispensável à
correta imputação da responsabilidade inerente a cada serviço prestado.

XXXIV.A partir do Marco Civil da Internet, em razão de suas diferentes


responsabilidades e atribuições, é possível distinguir simplesmente duas categorias
de provedores: (i) os provedores de conexão; e (ii) os provedores de aplicação.
XXXV. Os provedores de conexão são aqueles que oferecem “a
habilitação de um terminal para envio e recebimento de pacotes de dados pela
internet, mediante a atribuição ou autenticação de um endereço IP” (art. 5º, V,

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MCI). No Brasil, os provedores de conexão acabam, em sua maioria,
confundindo-se com os próprios prestadores de serviços de telecomunicações,
que em conjunto detêm a esmagadora maioria de participação neste mercado.
XXXVI. Por sua vez, utilizando as definições estabelecidas pelo art. 5º,
VII, do Marco Civil da Internet, uma “aplicação de internet” é o conjunto de
funcionalidades que podem ser acessadas por meio de um terminal conectado à
internet.
XXXVII. Como é possível perceber, essas funcionalidades podem ser
as mais diversas possíveis, tais como serviços de e-mail, redes sociais, hospedagem
de dados, compartilhamento de vídeos, pesquisa, e muitas outras ainda a serem
inventadas. Por consequência, os provedores de aplicação são aqueles que, sejam
com ou sem fins lucrativos, organizam-se para o fornecimento dessas
funcionalidades na internet.
XXXVIII. A recorrida (ré), quando na condição de hospedeira de blog,
tem natureza jurídica de provedor de aplicação, na subespécie rede social e não de
mero provedor de pesquisa virtual. A respeito do tema, consoante já decidiu esta
Corte:
O provedor de hospedagem de blogs é uma espécie do gênero
provedor de conteúdo, pois se limita a abrigar e oferecer ferramentas para
edição de blogs criados e mantidos por terceiros, sem exercer nenhum controle
editorial sobre as mensagens postadas pelos usuários. (REsp 1328706/MG,
Terceira Turma, DJe 13/12/2013)

XXXIX.Outrossim, no julgamento do REsp 1.771.911/SP (DJe


16/03/2021), o e. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva traçou distinção importante e
esclarecedora sobre a diferença entre desindexação de resultados de busca e
remoção de conteúdo específico constante de páginas precisamente indicadas
pelos URLs. Segundo destacou Sua Excelência, a desindexação corresponde à

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Superior Tribunal de Justiça
remoção de links de resultados de buscas, enquanto a exclusão de conteúdo
caracteriza-se pela simples remoção de determinado conteúdo pela indicação
específica de URL.
XXXX. Nesse cenário, a tese firmada pela Segunda Seção, no
julgamento da Rcl 5.072/AC (DJe 04/06/2014), segundo a qual “os provedores de
pesquisa virtual não podem ser obrigados a eliminar do seu sistema os resultados
derivados da busca de determinado termo ou expressão, tampouco os resultados
que apontem para uma foto ou texto específico, independentemente da indicação
do URL da página onde este estiver inserido” tem aplicação restrita às hipóteses
em que o provedor de conteúdo se enquadra na subespécie provedor de pesquisa.
XXXXI.Por sua vez, quando na condição de provedor de aplicação de
rede social – blog – a Google, pode ser compelida a exclusão de conteúdos, desde
que haja, por parte do postulante, “indicação clara e específica do
localizador URL do conteúdo infringente para a validade de comando judicial que
ordene sua remoção da internet” (AgInt no REsp 1504921/RJ, Quarta Turma, DJe
24/08/2021; AgInt nos EDcl no REsp 1917025/RJ, Terceira Turma, DJe
07/06/2021).
XXXXII. Sendo assim, o requerimento de desindexação dos resultados
decorrentes da busca do seu nome no google search não encontra respaldo na
jurisprudência do STJ. De modo diverso, é viável a imposição à recorrida (ré) de
exclusão das imagens da recorrente (autora) publicadas em blogs por ela
hospedados, devidamente identificadas pelos URLs correspondentes.

5. Da sucumbência mínima.
XXXXIII. Este Tribunal Superior consolidou entendimento segundo o
qual não é possível a apreciação da existência de sucumbência mínima ou

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Superior Tribunal de Justiça
recíproca, por demandar incursão no suporte fático da demanda, esbarrando no
óbice da Súmula 7/STJ (AgInt no AREsp 1571169/RJ, Terceira Turma, DJe
12/03/2021; AREsp 1700955/GO, Segunda Turma, DJe 18/12/2020; AgInt no REsp
n. 1.418.989/RS, Quarta Turma, DJe 01/10/2020; AgInt no REsp 1750080/MG,
Terceira Turma, DJe 21/08/2020).
XXXXIV. Destarte, quanto ao tópico, impõe-se o não conhecimento do
recurso especial.

- RECURSO ESPECIAL DE G B I L
1. Do conhecimento do recurso especial.
XXXXV. Inicialmente, rogando vênias ao e. Relator, não se vislumbra
óbice ao conhecimento do recurso especial.
XXXXVI. Os arts. 5º, VIII, 15 e 22 do MCI indicados como vulnerados
pela recorrente, tratam dos dados que devem ser armazenados pelos provedores
de aplicações de internet e cujo fornecimento pode ser requerido em juízo, com o
propósito de formar conjunto probatório em processo judicial cível ou penal.
XXXXVII. Nada obstante a matéria não tenha sido analisada de forma
aprofundada no acórdão impugnado, foi objeto de exame, à medida em que a
Corte de origem acolheu o inconformismo deduzido pela recorrida (autora), para
determinar à recorrente (ré) o “fornecimento dos registros cadastrais de criação e
acesso a cada uma das páginas cadastrais de criação e acesso a cada uma das
páginas” (e-STJ, fl. 855). Ao final do acórdão aliás, esclareceu-se que os dados a
serem fornecidos correspondem a “IP, data, hora, e-mail, dados cadastrais da
conta, números de acesso” (e-STJ, fl. 857).
XXXXVIII. Assim, rogando vênias ao i. Relator, conheço do recurso
especial de G B I L e, por conseguinte, adentro a análise do mérito.

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Superior Tribunal de Justiça

2. Dos dados a serem fornecidos pela recorrente.


XXXXIX. De acordo com os precedentes deste STJ, não se pode
considerar de risco a atividade desenvolvida pelos provedores de conteúdo e
sequer é possível exigir a fiscalização prévia das informações disponibilizadas em
aplicações de internet.
L. Por outro lado, esta mesma Corte exige que o provedor tenha
o cuidado de propiciar meios para que se possa identificar cada um desses
usuários, coibindo o anonimato e atribuindo a cada manifestação uma autoria certa
e determinada. Trata-se, nada mais, que a contrapartida da liberdade de
manifestação do pensamento, prevista no art. 5º, IV, da CF/88, que é a vedação ao
anonimato.
LI. Nesse contexto, a jurisprudência desta Corte consolidou-se no
sentido de que é suficiente a apresentação dos registros de número IP, por se
tratar de um meio razoavelmente eficiente de rastreamento dos usuários (Terceira
Turma, julgado em 08/05/2012, DJe 19/06/2012; REsp 1.512.647/MG, Segunda
Seção, julgado em 13/05/2015, DJe 05/08/2015; REsp 1914596/RJ, Quarta Turma,
DJe 08/02/2022). Vale dizer, para adimplir a sua obrigação de identificar os
usuários que eventualmente publiquem conteúdos considerados ofensivos por
terceiros, basta que o provedor forneça o número do IP correspondente à
publicação ofensiva indicada pela parte.
LII. Desse modo, impõe-se o acolhimento da irresignação, para
limitar a obrigação da recorrente (ré) à apresentação o número IP correspondente
a cada publicação considerada ofensiva.

- DISPOSITIVO

Documento: 151452277 - VOTO VISTA - Site certificado Página 16 de 17


Superior Tribunal de Justiça
LIII. Forte nessas razões, rogando as mais respeitas vênias, divirjo
parcialmente do e. Relator, para CONHECER PARCIALMENTE do recurso especial
de C R C e, nessa parte, dar-lhe PARCIAL PROVIMENTO, para a) reconhecer a
aplicabilidade do art. 21 do MCI à hipótese e, por conseguinte, declarar a
responsabilidade da recorrida pelos danos enfrentados pela recorrente (autora),
porquanto não atendidas as notificações extrajudiciais para remoção de conteúdo
contendo nudez, determinando o retorno dos autos à origem, para fins de
arbitramento da indenização e b) determinar que a recorrida proceda à remoção
dos conteúdos ofensivos devidamente identificados pelo URL correspondente e
que estejam publicados em blogs por ela hospedados.
LIV. Por sua vez, renovando as vênias, CONHEÇO do recurso
especial de G B I L e DOU-LHE PROVIMENTO, para limitar a sua obrigação de
fornecimento de danos ao número IP das postagens identificadas como ofensivas.
LV. Ante o resultado do julgamento, mantenho a distribuição dos
ônus sucumbenciais arbitrados na origem.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1848036 - SP (2019/0336619-3)

RELATOR : MINISTRO PAULO DE TARSO SANSEVERINO


RECORRENTE : CRC
ADVOGADOS : JULIO CESAR GORRASI - SP338430
    VENCESLAU TAVARES COSTA FILHO - PE022407
RECORRENTE : GBIL
ADVOGADO : EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA - RJ130532
RECORRIDO : CRC
ADVOGADO : JULIO CESAR GORRASI - SP338430
RECORRIDO : GBIL
ADVOGADO : EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA - RJ130532

VOTO-VISTA

VENCIDO
 
O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA:
Pedi vista dos autos para melhor compreensão da controvérsia.
 
1. Breve histórico
Trata-se, na origem, de ação de obrigação de fazer c/c indenização por
danos morais e materiais ajuizada por C. R. C. contra a G. B. I. L., em 6/12/2016 (fls.
1-43 e-STJ).
No tocante à obrigação de fazer, pleiteou-se a remoção de várias páginas
de blogs hospedados pela ré que disponibilizavam, de forma gratuita, sem o seu
consentimento ou autorização, ensaio de nudez explícita da autora realizado para uma
revista, bem como excluir os registros eletrônicos desses blogs (URLs) dos resultados
de pesquisa do Google Search.
Quanto ao segundo pleito, indenizatório, postulou-se R$ 40.000,00
(quarenta mil reais) por danos morais, e, relativamente aos danos materiais (lucros
cessantes), mais R$1,00 (um real) por usuário único que tenha visitado o conteúdo, a
partir de 10/8/2016, conforme os dados produzidos pelo Google Analytics, também
requeridos na inicial.
Os pedidos foram julgados improcedentes pela sentença, com a condenação
da ora recorrente ao pagamento das custas e despesas processuais, além de
honorários advocatícios arbitrados em 10% (dez por cento) do valor atualizado da
causa  (fls. 664-667 e-STJ).
Irresignada, a recorrente interpôs apelação perante o Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo que, distribuída à Terceira Câmara de Direito Privado, foi
parcialmente provida, à unanimidade, para:
 
"(...) restabelecer o v. acórdão proferido pela Câmara em sede de
agravo de instrumento, mas agora para que o Google suspenda,
definitivamente, o acesso às URLs a serem indicadas pela recorrente, de
forma legível e em formato texto, devendo fornecer os registros de criação e
acesso de cada uma das páginas apontadas (IP, data, hora, e-mail, dados
cadastrais da conta, números de acesso), tudo sob pena de multa diária,
arbitrada em R$ 1.000,00 (mil reais) por dia de descumprimento, respeitado
o limite máximo de R$ 50.000,00. Rejeitam-se as demais pretensões
Consequentemente, a apelante será responsável pelo pagamento
de 2/3 das custas e despesas processuais, além de honorários de
sucumbência arbitrados em 15% do valor atribuído à causa, com
responsabilidade do remanescente atribuído ao recorrido (1/3 das custas e
despesas), além de honorários estabelecidos em 10% do valor da causa,
tudo na forma trazida pelo art. 85, par. 2º, do CPC." (fl. 857 e-STJ)
 
A ementa respectiva ficou assim redigida:
 
"RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C.C.
INDENIZAÇÃO.
Disponibilização de ensaio fotográfico em blogs hospedados pelo apelado.
Indiscutível relação do conteúdo com a apelante, modelo fotográfica.
Contestação que não refuta a vinculação das imagens à demandante.
Improcedência, assim, que não prevalece. Cessão de direitos autorais que
não contempla a utilização irrestrita das imagens por qualquer interessado.
Prova documental, ainda, que afasta a comercialização do ensaio fotográfico
com terceiros. Suspensão dos conteúdos constantes das URLs hospedadas
pelo Google, à vista da ofensa ao art. 20 do Código Civil, bem como de
fornecimento dos registros cadastrais de criação e acesso a cada uma das
páginas, nos termos admitidos pelo art. 15 do Marco Civil da Internet.
Providências estabelecidas por esta Câmara por ocasião do julgamento do
Agravo de Instrumento nº 2001908-68.2017.8.26.0000, de minha Relatoria.
Procedência da ação, para esse fim, estabelecida. Circunstância, também, a
exigir a observância da jurisprudência do C. STJ: 'A jurisprudência desta
Corte define que: (a) para fatos anteriores à publicação do Marco Civil da
Internet, basta a ciência inequívoca do conteúdo ofensivo pelo provedor, sem
sua retirada em prazo razoável, para que este se torne responsável e, (b)
após a entrada em vigor da Lei nº 12.965/2014, o termo inicial da
responsabilidade solidária do provedor é o momento da notificação judicial
que ordena a retirada do conteúdo da internet' (AgInt no AREsp
1177619/SP, Rel. Ministro RICAR DO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 29/10/2018, DJe 08/11/2018). Descumprimento da
decisão judicial que não integra a causa de pedir, a qual insiste na
responsabilidade solidária da parte contrária. Inviabilidade, nesse caso, da
reparação moral e material pretendidas pela autora.
APELO PARCIALMENTE PROVIDO." (fl. 851 e-STJ)
 
Os embargos de declaração opostos pela recorrente C. R. C. (fls. 1.093-
1.104 e-STJ) foram rejeitados (fls. 1.105-1.110 e-STJ)
Foram interpostos recursos especiais por ambas as partes (fls. 882-929 e
1.033-1.045 e-STJ), ambos admitidos na origem (fls. 1134-1.135 e 1.136-1.137 e-STJ).
Nas razões recursais de C. R. C. (fls. 882-929 e-STJ), sustenta-se, além de
dissídio jurisprudencial, violação do disposto nos arts. 1.022, I, II e III, do Código de
Processo Civil de 2015; 10, 15, 19, 21 e 22 da Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da
Internet); 20, 186, 927 e 944 do Código Civil de 2002; 14 e 17 do Código de Defesa do
Consumidor; e, 102 e 103 da Lei nº 9.610/1998.
Aduz, preliminarmente, a nulidade do acórdão recorrido, pois o Tribunal de
origem, apesar de instado em embargos de declaração, permaneceu silente quanto a
omissões, obscuridades e ao erro material oportunamente apontados (fls. 900-903 e-
STJ).
No mérito, alega-se, em suma: (i) a necessidade de arbitramento de danos
materiais e morais, diante da violação dos direitos de imagem, intimidade, vida
privada e honra da recorrente; (ii) a aplicação do art. 21 da Lei nº 12.965/2014 ao
presente caso, por se tratar de fotos contendo nudez explícita de caráter privado; (iii) a
condenação da recorrida à integralidade dos ônus sucumbenciais, pelo fato de ter
decaído em parte mínima do pedido.
Requereu, ao final, (a) a complementação do julgamento dos pontos
destacados nos embargos de declaração opostos ao acórdão recorrido; (b) a aplicação
do CDC à espécie; (c) a responsabilização do provedor que, notificado do conteúdo
ilícito, não o suspendeu; (d) a exclusão das URLs indicadas dos resultados de busca
do Google Search; (e) a exclusão da das URLs indicadas da plataforma Blogspot; (f) a
condenação da recorrida ao pagamento de danos materiais e morais; (g) a atribuição
dos ônus sucumbenciais à recorrida.
As contrarrazões foram apresentadas às fls. 1.115-1.132 (e-STJ).
Nas razões recursais de G. B. I. L. (fls. 1.033-1.045 e-STJ), alega-se, além
de dissídio jurisprudencial, violação do disposto nos arts. 5º, VIII, 15 e 22 da Lei nº
12.965/2014 (Marco Civil da Internet).
Sustenta-se, em suma, a inexistência de obrigação legal para o
fornecimento de outros dados para a identificação de usuários que não o IP.
Requereu a reforma do acórdão recorrido, afastando-se a condenação ao
fornecimento de dados de identificação além do IP dos usuários responsáveis pelo
conteúdo impugnado.
Não foram apresentadas as contrarrazões (certidão à fl. 1.133 e-STJ).
Os recursos especiais foram admitidos pela instância de origem (fls. 1.134-
1.135 e 1.136-1.137 e-STJ).
Na sessão da Terceira Turma realizada em 29/3/2022, o Ministro Paulo de
Tarso Sanseverino, Relator, proferiu voto para não conhecer do recurso especial
interposto por G. B. I. L. e para conhecer em parte e negar provimento ao recurso
especial interposto por C. R. C..
O voto de Sua Excelência está sintetizado na ementa seguinte:
 
"RECURSO ESPECIAL DA AUTORA. DIREITO DIGITAL. MARCO CIVIL DA
INTERNET. RESPONSABILIDADE DE PROVEDOR DE APLICAÇÃO POR ATOS
DE SEUS USUÁRIOS. REMOÇÃO DE CONTEÚDO DA INTERNET. NEGATIVA
DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL NÃO CONFIGURADA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. ART. 19 DA LEI N. 12.965/14. RESERVA DE
JURISDIÇÃO. EXCEÇÃO PREVISTA NO ART. 21. DESNECESSIDADE DE
ORDEM JUDICIAL. NOTICE AND TAKE DOWN. CENAS DE NUDEZ E DE
ATOS SEXUAIS QUE DEVEM SER DE CARÁTER NECESSARIAMENTE
PRIVADO. INAPLICABILIDADE A FOTOGRAFIAS E DEMAIS MATERIAIS
PRODUZIDOS EM ENSAIO FOTOGRÁFICO COM INTUITO COMERCIAL E
DESTINADOS À CIRCULAÇÃO.
1. Violação do art. 489, § 1º, II, IV, V e VI, do CPC não configurada, uma vez
que o Tribunal de origem manifestou-se de forma clara e suficiente acerca de
todas as alegações relevantes à solução da lide.
2. Ausente o prequestionamento quando o Tribunal de origem não emite juízo
de valor acerca dos dispositivos legais apontados como violados, ainda que
não tenha havido omissão relevante ou mesmo negativa de prestação
jurisdicional. Aplicação da Súmula 211/STJ.
3. Mostram-se deficientes as razões do recurso especial quando, ao
impugnar a distribuição dos ônus de sucumbência, alega-se a violação de
dispositivo legal que não guarda qualquer relação com a questão. Aplicação
da Súmula 284/STF.
4. Acórdão recorrido que, ao afastar a possibilidade de restrição de busca em
provedor de pesquisa, foi proferido em consonância com a jurisprudência
deste Superior Tribunal, que tem entendimento pacífico no sentido de que os
provedores de pesquisa não podem ser obrigados a eliminar de seu sistema
os resultados que apontem para uma foto ou texto específico,
independentemente da indicação do respectivo URL. Aplicação da Súmula
83/STJ.
5. A responsabilidade do provedor por atos de seus usuários, como regra,
apenas se verifica quando há descumprimento de ordem judicial de remoção
de conteúdo. Inteligência do art. 19 do Marco Civil da Internet, que prevê a
reserva de jurisdição.
6. Excepcionalmente, em casos de divulgação, sem consentimento, de cenas
de nudez ou de atos sexuais de caráter privado, há possibilidade de remoção
de conteúdo mediante simples notificação da vítima. Inteligência do art. 21
do Marco Civil da Internet que, em excepcional sistema de notice and take
down, prevê a responsabilidade do provedor pela omissão diante de simples
notificação do ofendido para retirada do conteúdo ofensivo.
7. Para a aplicação do art. 21, mostra-se imprescindível i) o caráter não
consensual da imagem íntima; ii) a natureza privada das cenas de nudez ou
dos atos sexuais disseminados; e iii) a violação à intimidade.
8. Exceção prevista no art. 21 que se destina a proteger vítimas de um tipo
de violência digital conhecido como disseminação de imagens íntimas não
consentidas, também conhecida pela sigla NCII (da expressão em inglês non-
consensual intimate images)
9. Modelo que tem suas fotografias sensuais indevidamente divulgadas de
forma pirata não pode ser equiparada à vítima de disseminação de imagens
íntimas não consentidas, que tem sua intimidade devassada e publicamente
violada e cuja ampla e vexaminosa exposição de seu corpo de forma não
consentida demanda remoção mais célere do conteúdo que viola de forma
direta, pungente e absolutamente irreparável o seu direito fundamental à
intimidade.
10. Equiparação indevida que poderia acabar por desvirtuar a proteção dada
às vítimas de divulgação de NCII, diminuindo o grau de reprovabilidade
desse tipo de conduta e diluindo os esforços da sociedade civil e do
legislador no sentido de aumentar a conscientização acerca dessa nova
forma de violência surgida com a internet.
11. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO EM PARTE E DESPROVIDO.
 
RECURSO ESPECIAL DA RÉ. DIREITO DIGITAL. MARCO CIVIL DA
INTERNET. DEVER DE FORNECIMENTO DE REGISTROS DE ACESSO A
APLICAÇÕES. INCLUSÃO DE DADOS PESSOAIS DE USUÁRIOS. ALEGADA
VIOLAÇÃO DOS ARTS. 5º, VIII, 15 E 22 DO MARCO CIVIL DA INTERNET.
AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356/STF. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO LEGAL.
AUSÊNCIA DE SIMILITUDE FÁTICA.
1. Ausente o prequestionamento quando o Tribunal de origem não se
manifesta, sequer implicitamente, acerca da questão suscitada por meio dos
dispositivos legais apontados como violados. Aplicação das Súmulas
282/STF e 356/STF.
2. Conhecimento do recurso especial pela alínea c do permissivo
constitucional que pressupõe a expressa indicação do dispositivo legal a
respeito de cuja interpretação haveria divergência entre o acórdão recorrido e
o julgado apontado como paradigma.
3. Dissídio jurisprudencial que não está demonstrado, porquanto ausente a
similitude fática entre o acórdão recorrido e o julgado apontado como
paradigma.
4. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO."
 
Após o voto do Ministro Relator, a Ministra Nancy Andrighi formulou pedido
de vista, ao qual eu aderi.
Feito esse resumo, passo a votar.
O acórdão impugnado pelos recursos especiais em apreciação foi publicado
na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e
3/STJ).
 
2. Do recurso especial de C. R. C.
 2.1. Da inexistência de nulidade no acórdão recorrido e do
conhecimento parcial do recurso especial
Em primeiro lugar, acompanho integralmente o eminente Ministro
Relator para afastar a preliminar de nulidade do acórdão recorrido por negativa
de prestação jurisdicional e para conhecer parcialmente do recurso especial
interposto por K. R. S. (reconhecendo a falta de prequestionamento do disposto nos
arts. 14 e 17 do CDC; 102 e 103 da Lei nº 9.610/1998; 21, parágrafo único, 497 e 499
do CPC/2015; e, também, a aplicação da Súmula nº 284/STF quanto à alegação de
sucumbência mínima).
 
 2.2. Da falta de interesse recursal quanto à exclusão/deleção dos
resultados de pesquisa do provedor de busca recorrido
A recorrente postula ao final das suas razões recursais:
 
"Que seja a apelada condenada a EXCLUIR/DELETAR do Google
Search as URLs indicadas no item (d) da inicial (CONCORRÊNCIA DESLEAL
E DEVIO DE CLIENTELA) - Não se tratando de fiscalização prévia ou
obrigação impossível dado que as URLs foram inequivocamente indicadas e
a Editora Rickdan já afirmou que não são autorizadas a republicar a obra da
recorrente (revista sexy)" (fl. 929 e-STJ)
 
No ponto, entretanto, observa-se que a apelação da ora recorrente foi
parcialmente provida pelo acórdão impugnado, para, segundo o comando da sua parte
dispositiva:
 
"(...) restabelecer o v. acórdão proferido pela Câmara em sede de
agravo de instrumento, mas agora para que o Google suspenda,
definitivamente, o acesso às URLs a serem indicadas pela recorrente,
de forma legível e em formato texto, devendo fornecer os registros de criação
e acesso de cada uma das páginas apontadas (IP, data, hora, e-mail, dados
cadastrais da conta, números de acesso), tudo sob pena de multa diária,
arbitrada em R$ 1.000,00 (mil reais) por dia de descumprimento, respeitado
o limite máximo de R$ 50.000,00." (fl. 857 e-STJ - grifou-se)
 
Como se observa, não remanesce interesse recursal quanto ao tema.
De todo modo, é importante notar que há diferença ontológica entre
desindexação de resultados de busca e remoção/exclusão de conteúdo específico
constante de páginas precisamente indicadas pelos URLs.
Por um lado, o entendimento desta Corte Superior tem repudiado a primeira
- desindexação de resultados de busca - , como bem observa o voto do eminente
Relator (Capítulo IV). Mesmo antes do advento da Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da
Internet), a orientação jurisprudencial já era no sentido de que "os provedores de
pesquisa não podem ser obrigados a eliminar do seu sistema os resultados da busca de
determinado termo ou expressão" (AgInt no REsp 1.593.873/SP, Terceira Turma, Rel.
Ministra Nancy Andrighi, DJe de 17/11/2016).
Por outro lado, excepcionalmente, tem sido admitida a segunda -
remoção/exclusão de conteúdo específico constante de páginas precisamente
indicadas pelos URLs - , em situações como as verificadas nos casos de aplicação do
art. 21 do MCI.
A propósito:
 
"CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER. RETIRADA DE CONTEÚDO ILEGAL.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. PROVEDOR DE PESQUISA.
FILTRAGEM PRÉVIA DAS BUSCAS. IMPOSSIBILIDADE. RETIRADA DE
URLS DOS RESULTADOS DE BUSCA. POSSIBILIDADE. EXPOSIÇÃO
PORNOGRÁFICA NÃO CONSENTIDA. PORNOGRAFIA DE VINGANÇA.
DIREITOS DE PERSONALIDADE. INTIMIDADE. PRIVACIDADE. GRAVE
LESÃO.
1. Ação ajuizada em 20/11/2012. Recurso especial interposto em
08/05/2015 e distribuído a este gabinete em 25/08/2016.
2. Na hipótese, o MP/SP ajuizou ação de obrigação de fazer, em defesa de
adolescente, cujo cartão de memória do telefone celular foi furtado por colega
de escola, o que ocasionou a divulgação de conteúdo íntimo de caráter
sexual, um vídeo feito pela jovem que estava armazenado em seu
telefone.
3. É cabível o recurso especial contra acórdão proferido em agravo de
instrumento em hipóteses de antecipação de efeito da tutela, especificamente
para a delimitação de seu alcance frente à legislação federal.
4. A atividade dos provedores de busca, por si própria, pode causar
prejuízos a direitos de personalidade, em razão da capacidade de
limitar ou induzir o acesso a determinados conteúdos.
5. Como medida de urgência, é possível se determinar que os
provedores de busca retirem determinados conteúdos expressamente
indicados pelos localizadores únicos (URLs) dos resultados das
buscas efetuadas pelos usuários, especialmente em situações que: (i)
a rápida disseminação da informação possa agravar prejuízos à
pessoa; e (ii) a remoção do conteúdo na origem possa necessitar de
mais tempo que o necessário para se estabelecer a devida proteção à
personalidade da pessoa exposta.
6. Mesmo em tutela de urgência, os provedores de busca não podem ser
obrigados a executar monitoramento prévio das informações que
constam nos resultados das pesquisas.
7. A 'exposição pornográfica não consentida', da qual a 'pornografia de
vingança' é uma espécie, constituiu uma grave lesão aos direitos de
personalidade da pessoa exposta indevidamente, além de configurar uma
grave forma de violência de gênero que deve ser combatida de forma
contundente pelos meios jurídicos disponíveis.
8. A única exceção à reserva de jurisdição para a retirada de conteúdo
infringente da internet, prevista na Lei 12.965/2014, está relacionada a
'vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais
de caráter privado', conforme disposto em seu art. 21 ('O provedor de
aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros será
responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente
da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos
ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de
caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante
ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito
e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo').
9. Na hipótese em julgamento, a adolescente foi vítima de 'exposição
pornográfica não consentida' e, assim, é cabível para sua proteção a ordem
de exclusão de conteúdos (indicados por URL) dos resultados de pesquisas
feitas pelos provedores de busca, por meio de antecipação de tutela.
10. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido."
(REsp 1.679.465/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 13/3/2018, DJe 19/3/2018 - grifou-se).
 
Feitas essas considerações, apesar de concordar com o voto do eminente
Relator quanto à tese da impossibilidade de se impor aos provedores de busca os ônus
de filtragem ou desindexação de pesquisa, não conheço do recurso especial, diante da
falta de interesse recursal.
 
 
  2.3. Da extensão da proteção conferida pelo art. 21 do Marco Civil da
Internet: reserva de jurisdição x notice and takedown
Cabe registrar, inicialmente, que o debate acerca da extensão da proteção
conferida pelo art. 21 do Marco Civil da Internet teve início, no âmbito da Terceira
Turma, por ocasião do julgamento do REsp nº 1.930.256/SP, concluído em
7/12/2021.
Na oportunidade, proferi voto oral para acompanhar a corrente minoritária
capitaneada pela Ministra Nancy Andrighi, Relatora originária.
Ficou relator para o acórdão o Ministro Marco Aurélio Bellizze, que foi
acompanhado pelos votos dos Ministros Paulo de Tarso Sanseverino e Moura Ribeiro.
Diante da relevância da matéria, da existência de correntes de
entendimentos divergentes no âmbito da Terceira Turma e da constatação de que
ainda não houve pronunciamento da Quarta Turma acerca do assunto, registro
expressamente o meu posicionamento quanto à discussão central nesse processo,
isto é, definir a extensão da proteção conferida pelo art. 21 do Marco Civil da
Internet (Lei nº 12.965/2014), nos casos em que há exposição de nudez ou
mesmo de pornografia consentida num primeiro momento, ainda que para fins
comerciais.
O texto do referido dispositivo é o seguinte:
 
"Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize
conteúdo gerado por terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela
violação da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização
de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais
contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado
quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu
representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos
limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo.
Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter,
sob pena de nulidade, elementos que permitam a identificação específica do
material apontado como violador da intimidade do participante e a
verificação da legitimidade para apresentação do pedido." (grifou-se)
 
É um debate muito pertinente porque está em jogo, na realidade, o futuro
do modelo de reserva de jurisdição adotado pelo art. 19 do Marco Civil da Internet.
Há pelo menos dois recursos extraordinários que discutem essa questão no
âmbito do Supremo Tribunal Federal e que lá deverão ser julgados depois de
audiências públicas que até o momento não foram realizadas, sobretudo em virtude da
pandemia da COVID-19. Refiro-me ao RE nº 1.037.396, Rel. Ministro Dias Toffoli
(Tema nº 987 da Repercussão Geral) e ao RE nº 1.057.258/MG, Rel. Ministro Luiz Fux
(Tema nº 533 da Repercussão Geral).
Então, provavelmente, não teremos tão logo um desfecho dessa discussão
na Suprema Corte quanto à constitucionalidade do art. 19.
Esse debate procura contrastar alguns modelos que existem no mundo.
O modelo de reserva de jurisdição é defendido pelas plataformas de
tecnologia e pelos provedores de aplicativos na internet, como o Google, porque os
exime de exercer um papel que é entendido por eles como de censura, uma função
censória que recusam. Segundo defendem, só poderiam agir para a retirada de
conteúdo da internet mediante ordem judicial expressa nesse sentido.
Mas há outros países em que o modelo adotado é o de imputação direta
de responsabilidade aos provedores de aplicativo pela seleção do conteúdo que
veiculam, já que eles obtêm proveito econômico com essa atividade. É o modelo
chamado notice and takedown que, basicamente, significa que o provedor de
serviços não será responsabilizado pela publicação do conteúdo protegido se,
notificado pelo legítimo interessado, imediatamente providenciar a sua remoção.
Esse foi o modelo adotado no art. 21 do Marco Civil, em razão dos valores
que são muito caros a nossa ordem constitucional, como a preservação da intimidade
e da vida privada, num dos seus recônditos mais importantes, que é a questão da
nudez e da sexualidade.
Segundo o eminente Relator, no entanto, não estariam presentes os
elementos essenciais para a aplicação do aludido art. 21 na espécie, quais sejam, (a) o
caráter não consensual da imagem íntima; (b) a natureza privada das cenas de
nudez ou dos atos sexuais disseminados; (c) a violação à intimidade.
Para tanto, o voto de Sua Excelência registra que a realização e a divulgação
do material foram consentidas, sendo os direitos de imagem respectivos cedidos a
terceiros, com intuito exclusivamente comercial, já que destinado precipuamente
à circulação, e, por isso, sem violação do direito à intimidade da recorrente, que,
por meio desta demanda, busca apenas reparar os lucros cessantes decorrentes da
disseminação gratuita do material em que ela figura.
Esclarece o Ministro Relator que não se pode conferir interpretação
excessivamente extensiva ao art. 21 do Marco Civil da Internet, sob pena de se
acarretar ao provedor de aplicação a responsabilidade de examinar cláusulas
contratuais de negócios jurídicos envolvendo terceiros com o intuito de se averiguar se
o consentimento dado pela modelo estaria a permitir a publicação de ensaio sensual
em determinado blog, rede social ou página da internet.
Salienta também que equiparar casos como o presente - de divulgação
pirata de fotos sensuais de caráter comercial - a casos de disseminação não
consentida de imagens íntimas (NCII - non-consensual intimate images) poderia
desvirtuar a proteção dada às vítimas dessa violência surgida com a internet.
Peço a mais respeitosa vênia, no entanto, para divergir do entendimento do
eminente Ministro Relator, pois, no meu ponto de vista, estão presentes os requisitos
essenciais para a aplicação do art. 21 do Marco Civil.
Em primeiro lugar, anoto que, para o deslinde de controvérsias dessa
natureza, o exame da violação à intimidade deve partir da análise da extensão do
consentimento da(o) ofendida(o).
Nesse aspecto, considero, pois, que é necessário o consentimento da
vítima para cada uso, não importando que a captação da foto, da imagem ou do vídeo
tenha sido feita com consentimento ou de forma sub-reptícia, ainda que para fins
comerciais, o que não lhe retira o caráter privado nem autoriza que terceiros que
tenham tido acesso a esse tipo de material sensível, ainda que licitamente, passem a
divulgá-lo de forma irresponsável na rede mundial de computadores.
O que importa sobremaneira é que o uso dessa imagem, a disponibilização
dessa mídia ou conteúdo em espaço público, seja feito sempre com o consentimento
da vítima, o que justificaria, portanto, o emprego do art. 21 não apenas para a
chamada pornografia de vingança (revenge porn), mas também para os usos não
consentidos de imagens de caráter íntimo, ainda que a captação da imagem tenha
sido feita mediante consentimento.
No sentido de definir essas hipóteses como "exposição pornográfica não
consentida", a jurisprudência da Terceira Turma tem se apresentado da seguinte
forma:
 
"CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA. AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER. RETIRADA DE CONTEÚDO ILEGAL.
PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. PROVEDOR DE PESQUISA. FILTRAGEM
PRÉVIA DAS BUSCAS. IMPOSSIBILIDADE. RETIRADA DE URLS DOS
RESULTADOS DE BUSCA. POSSIBILIDADE. EXPOSIÇÃO PORNOGRÁFICA
NÃO CONSENTIDA. PORNOGRAFIA DE VINGANÇA. DIREITOS DE
PERSONALIDADE. INTIMIDADE. PRIVACIDADE. GRAVE LESÃO.
1. Ação ajuizada em 20/11/2012. Recurso especial interposto em
08/05/2015 e distribuído a este gabinete em 25/08/2016.
2. Na hipótese, o MP/SP ajuizou ação de obrigação de fazer, em defesa de
adolescente, cujo cartão de memória do telefone celular foi furtado por colega
de escola, o que ocasionou a divulgação de conteúdo íntimo de caráter
sexual, um vídeo feito pela jovem que estava armazenado em seu
telefone.
3. É cabível o recurso especial contra acórdão proferido em agravo de
instrumento em hipóteses de antecipação de efeito da tutela, especificamente
para a delimitação de seu alcance frente à legislação federal.
4. A atividade dos provedores de busca, por si própria, pode causar
prejuízos a direitos de personalidade, em razão da capacidade de
limitar ou induzir o acesso a determinados conteúdos.
5. Como medida de urgência, é possível se determinar que os
provedores de busca retirem determinados conteúdos expressamente
indicados pelos localizadores únicos (URLs) dos resultados das
buscas efetuadas pelos usuários, especialmente em situações que: (i)
a rápida disseminação da informação possa agravar prejuízos à
pessoa; e (ii) a remoção do conteúdo na origem possa necessitar de
mais tempo que o necessário para se estabelecer a devida proteção à
personalidade da pessoa exposta.
6. Mesmo em tutela de urgência, os provedores de busca não podem ser
obrigados a executar monitoramento prévio das informações que
constam nos resultados das pesquisas.
7. A 'exposição pornográfica não consentida', da qual a 'pornografia
de vingança' é uma espécie, constituiu uma grave lesão aos direitos
de personalidade da pessoa exposta indevidamente, além de
configurar uma grave forma de violência de gênero que deve ser
combatida de forma contundente pelos meios jurídicos disponíveis.
8. A única exceção à reserva de jurisdição para a retirada de
conteúdo infringente da internet, prevista na Lei 12.965/2014, está
relacionada a 'vídeos ou de outros materiais contendo cenas de
nudez ou de atos sexuais de caráter privado', conforme disposto em
seu art. 21 ('O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo
gerado por terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da
intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes,
de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de
atos sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de notificação
pelo participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma
diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização
desse conteúdo').
9. Na hipótese em julgamento, a adolescente foi vítima de 'exposição
pornográfica não consentida' e, assim, é cabível para sua proteção a ordem
de exclusão de conteúdos (indicados por URL) dos resultados de pesquisas
feitas pelos provedores de busca, por meio de antecipação de tutela.
10. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido."
(REsp 1.679.465/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 13/3/2018, DJe 19/3/2018 - grifou-se).
 
Nesse contexto, a divulgação de ensaio sensual com cenas de nudez para
outros destinos que não aqueles para os quais a recorrente tenha consentido expõe de
forma indevida a sua intimidade, reclamando a aplicação do art. 21 do MCI.
Assim, uma vez reportado ao provedor de aplicação que os limites desse
consentimento foram ultrapassados, a retirada de material, requerida nos termos
excepcionais dos art. 21 do MCI, deve ser atendida de pronto, sob pena de sua
responsabilização (notice and takedown), sem que haja a necessidade de se examinar
cláusulas contratuais de negócios jurídicos envolvendo terceiros.
Nesse passo, não se trata de conferir interpretação extensiva ao art. 21, na
medida em que a linguagem do dispositivo consagra a ideia de quais são os valores
constitucionais a proteger, motivo por que ali se encontra uma exceção ao modelo da
reserva de jurisdição, a qual deve ser interpretada à luz do texto constitucional.
E, sob esse prisma, não há dúvidas de que a exegese que mais se coaduna
com os valores em jogo deve ser a da máxima proteção efetiva dos direitos individuais
garantidos constitucionalmente, em especial a intimidade e a vida privada dos
legítimos interessados, consoante o disposto no art. 5º, X, da Constituição Federal.
Desse modo, tendo como pressuposto que o consentimento deve ser aferido
a cada uso, a pessoa que tem fotos sensuais, ainda que de caráter comercial,
indevidamente difundidas é também vítima da violência resultante da divulgação não
consentida de imagens íntimas e, por essa razão, deve merecer a especial proteção do
art. 21 do MCI.
Por último, além dos lucros cessantes, saliente-se que também foi postulado
pela recorrente reparação por danos morais (fl. 42 e-STJ).
Em conclusão, voto pelo parcial provimento do recurso especial
interposto por C. R. C., para condenar a recorrida G. B. I. L. ao pagamento de
indenização pelos danos morais, no importe de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais).
Fica ressalvado, por fim, a quem de direito demandar a exclusão do material
indevidamente divulgado nas páginas específicas diretamente contra os seus
titulares/proprietários, bem como a buscar a reparação pelos alegados danos
materiais (lucros cessantes) decorrentes da utilização indevida da imagem, com
violação dos direitos resguardados pela Lei nº 9.610/1998, os quais extrapolam o
âmbito de abrangência da proteção conferida pelo art. 21 do Marco Civil da Internet
contra a ora recorrida nesta ação.
 
3. Do recurso especial de G. B. I. L.
Nas razões recursais de G. B. I. L. (fls. 1.033-1.045 e-STJ), alega-se, além
de dissídio jurisprudencial, violação do disposto nos arts. 5º, VIII, 15 e 22 da Lei nº
12.965/2014 (Marco Civil da Internet).
Sustenta-se, em suma, a inexistência de obrigação legal para o
fornecimento de outros dados para a identificação de usuários que não o IP.
Nesse aspecto, acompanho integralmente o voto do eminente Ministro
Relator para não conhecer do recurso especial, tendo em vista a falta de
prequestionamento dos dispositivos legais apontados como violados (aplicação das
Súmulas nºs 282 e 356/STF) e, quanto ao dissídio jurisprudencial, diante da falta de
indicação dos artigos tidos por afrontados (aplicação da Súmula nº 284/STF) e ainda
pela ausência de similitude fática entre os julgados confrontados.
 
4. Do dispositivo
Ante o exposto, não conheço do recurso especial de G. B. I. L. e conheço
parcialmente do recurso especial de C. R. C. e, nessa extensão, respeitosamente,
peço vênia ao Ministro Relator para divergir, dando-lhe parcial provimento para
condenar a recorrida G. B. I. L. a pagar danos morais à recorrente C. R. C., arbitrados
em R$ 40.000,00 (quarenta mil reais).
Condeno a recorrida G. B. I. L. ainda ao pagamento das custas processuais
e de honorários advocatícios, estes últimos fixados em 10% (dez por cento) sobre o
valor da condenação.
Na origem, os honorários advocatícios arbitrados em favor dos patronos da
recorrente C. R. C. foram estabelecidos em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa
(fl. 857 e-STJ), os quais devem ser majorados para 15% (quinze por cento), em razão
do não conhecimento do recurso especial de G. B. I. L., nos termos do art. 85, § 11, do
CPC/2015.
É o voto.
Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2019/0336619-3 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.848.036 / SP

Números Origem: 0013821-72.2017.8.26.0100 1132602-70.2016.8.26.0100 11326027020168260100


138217220178260100

PAUTA: 26/04/2022 JULGADO: 26/04/2022


SEGREDO DE JUSTIÇA
Relator
Exmo. Sr. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ROGÉRIO DE PAIVA NAVARRO
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : CRC
ADVOGADOS : JULIO CESAR GORRASI - SP338430
VENCESLAU TAVARES COSTA FILHO - PE022407
RECORRENTE : GB I L
ADVOGADO : EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA - RJ130532
RECORRIDO : CRC
ADVOGADO : JULIO CESAR GORRASI - SP338430
RECORRIDO : GB I L
ADVOGADO : EDUARDO BASTOS FURTADO DE MENDONÇA - RJ130532

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil - Indenização por Dano Material

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após os votos-vistas da Sra. Ministra Nancy Andrighi e do
Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, a Terceira Turma, por maioria, não conheceu do recurso
especial interposto por G B I L e negou provimento ao recurso especial interposto por C R C, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator. Vencidos a Sra. Ministra Nancy Andrighi e o Sr. Ministro
Ricardo Villas Bôas Cueva. Os Srs. Ministros Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram
com o Sr. Ministro Relator.

Documento: 151566434 - CERTIDÃO DE JULGAMENTO - Site certificado Página 1 de 1

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