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RESENHA

William Steigenberger de Souza1

VOGET, Peter T. Interpretação do Pentateuco. São Paulo: Cultura Cristã,


2015. 293p.

A editora Cultura Cristã enriqueceu o contexto teológico nacional ao


traduzir essa excelente. Peter T Voget não é muito conhecido no cenário
nacional, pois não há muitas obras traduzidas. Ele é Deão e professor de estudos
no Antigo Testamento no Bethel Seminary. O Dr. Voget é claro, profundo e
inovador na sua apresentação dos diferentes gêneros do AT e das estratégias
para a pregação e ensino do Pentateuco.

O livro é prefaciado pelo Dr. David M. Howard Jr., professor de Antigo


Testamento no Bethel Theological Seminary em St. Paul, Minnesota. Dr. Howard
Jr. é doutor em Antigo Testamento.

Após a introdução, o livro é estruturado em seis capítulos apresentando


os gêneros do Pentateuco, seus temas principais, críticas textuais, ferramentas
para a interpretação e a melhor maneira de comunicá-los.

No primeiro capítulo da área, o autor destaca a lei e a narrativa como os


gêneros mais proeminentes. A lei, segundo ele, pode ser definida como uma
instrução ou ensino teológico para o povo de Deus a viver uma vida justa e de
relacionamento com o Senhor (p. 22-24). Depois, ele apresenta algumas
abordagens históricas e paradigmáticas da lei (29-44). Por fim, encerra
apresentando uma abordagem paradigmática para a lei: “a lei estabelece os
parâmetros dentro dos quais a justiça pode ser vivenciada” (p. 46).

Na continuação do capítulo, o autor fala sobre o gênero narrativo no


Pentateuco. Ele define que a intenção comunicativa das narrativas bíblicas é
teológica (p. 49). Para isso, ele mostra que as narrativas são registros seletivos
dos eventos (p. 49), com um propósito norteador para a escolha do que entra (p.

1
Mestrando no programa MDiv no Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper com ênfase em Estudos
Bíblicos Hermenêuticos.
50) e escritas de forma atrativa (p. 52). Por fim, apresenta o que é cenário,
enredo, diálogo e ponto de vista que são as características de uma narrativa.

No segundo capítulo, o autor apresenta a soberania e supremacia de


YAHWEH, a seriedade do pecado e a graça de YAWEH em todo o Pentateuco.
Ele diz que são temas norteadores e orientadores para entendermos o
Pentateuco, porque formam uma metanarrativa para estruturar nossa
interpretação. (p. 110)

No terceiro capítulo, o autor trata de aspectos preliminares de


interpretação. O primeiro aspecto é a crítica textual e como ela pode nos ajudar
a determinar a leitura original do texto (p. 118). Em seguida, ele fala sobre como
devemos ter conhecimento da cosmovisão do Antigo Oriente Próximo (p. 127-
130). Depois, ele menciona que conhecer os textos legais do Antigo Oriente
Próximo, ajuda-nos a entender melhor a lei bíblica. Por fim, ele apresenta
ferramentas exegéticas como livros de crítica textual, manuais de introdução ao
AT e comentários bíblicos para auxiliar na interpretação do Pentateuco (p. 154-
160)

No quarto capítulo, depois de apresentar as ferramentas nos capítulos


anteriores, o Dr. Voget examina as peculiaridades da interpretação do
Pentateuco. A primeira coisa que analisa é a questão de unidade e diversidade
no Pentateuco. Ele apresenta a famosa hipótese documental com sua proposta
de colocar vários autores em diferentes épocas para escrever o Pentateuco. Ele:
“o consenso da maioria dos estudiosos do Antigo Testamento era de que o
Pentateuco era uma amalgamação de fontes hipotéticas reunidas em sua forma
presente muito depois do tempo de Moisés (p. 168)”.

Combatendo de forma profícua esse pensamento, o autor propõe uma


abordagem alternativa para a questão de unidade e diversidade no Pentateuco.
Ele apresenta que essa peculiaridade do Pentateuco advém do fato de: 1) o autor
do Pentateuco ter utilizado várias fontes para escrever sua obra; 2) que houve
atualização da linguagem em alguma época do primeiro milênio a.C. diante
disso, ele conclui: “o Pentateuco é visto, corretamente, como produto de um
único autor, que usou criativamente algumas fontes disponíveis para cumprir
seus propósitos em escrever para sua audiência” (p. 173).
Na sequência desse capítulo, Dr. Voget fala sobre a interpretação da lei e
das narrativas. Quanto a lei, ele inicia sua abordagem falando sobe o autor
implícito, mostrando que ele é importante no processo hermenêutico da lei
bíblica. Depois disso, o autor apresenta diretrizes que auxiliam na interpretação
como determinar o contexto da passam (p. 175), identificar os tipos de leis
envolvidas (p. 176), determinar a natureza do requisito legal (p. 178), descrever
o propósito da lei em Israel (p. 180) e identificar a aplicabilidade em um contexto
contemporâneo (p. 182).

No caso da narrativa, o autor inicia sua abordagem para interpretá-la


focando na intenção autoral (p. 186). Em seguida, ele apresenta diretrizes que
auxiliam na interpretação como estabelecer o contexto da passagem (p. 186),
identificar e rotular as cenas (p. 189) analisar o enredo (p. 189), examinar os
detalhes da cena (p. 190), identificar a intenção comunicativa do autor (p. 193) e
recontextualizar contemporaneamente para aplicar com mais propriedade (p.
195).

No quinto capítulo, o autor fala da importância da exegese em nos trazer


a verdade do texto bíblico para comunicá-la efetivamente ao nosso público hoje
(p. 203). Deste modo, o Dr. Voget inicia considerando que atitudes chamadas
“Marcionismos funcional” (p. 205), ignorância quanto aos costumes,
cosmovisões e outras características do AT (p. 209) e falta de atenção a
coerência das narrativas do Pentateuco (p. 212) prejudicam nossa comunicação
do Pentateuco.

Para ajudar-nos na comunicação do Pentateuco, o autor apresenta


estratégias para a comunicação da lei e das narrativas. Na comunicação da lei,
ele mostra que as conotações culturais da lei na época da escrita devem ser
destacadas (p. 214), o propósito da lei no seu contexto deve ser comunicado (p.
218), como Jesus lidou com a lei em seu ministério é importante (p. 220) e a lei
é relevante hoje, pois tem aplicabilidade em nossos dias (p. 222).

Na comunicação das narrativas, o autor mostra que o poder das histórias


está no fato de mostrarem o que o autor quer (p. 223), agregar paralelos
contemporâneos permite que os ouvintes vejam a importância das histórias para
sua vida (p. 224), comunicar de forma literária ajuda os ouvintes a
compreenderem melhor as histórias (p. 225) e não tente responder o que o autor
não quis, mas dê espaço para a ambiguidade (p. 227).

Por fim, no capítulo 6, o autor reúne todo esse ferramentário literário-


exegético-teológico para interpretar e comunicar um texto legal e um narrativo.
No texto legal, ele trata de Lv 19.28 aplicando as estratégias de interpretação e
comunicando que a lei exige “que a pessoa de Deus cumpra seu luto como
alguém que tem esperança e como uma testemunha para um mundo que
observa” (p. 253). Além disso, a segunda proibição de Lv 19.28 mostra que “as
tatuagens eram proibidas porque YAHWEH estabeleceu outras marcas externas
(circuncisão, vestuário, filactérios, etc) para o seu povo, bem como os aspectos
contraculturais mais importantes para a sociedade israelita, que deveriam ser as
marcas do seu povo” (p. 253).

No texto narrativo, o autor aplica as estratégias de interpretação em Gn


39 e comunica que “José foi preservado e protegido para desempenhar o plano
de YAHWEH de abençoar todas as nações” (p. 271). Isso mostra que Deus
sempre tem preservado um povo para si, a fim de cumprir o seu plano redentivo
nesse mundo.

Dr. Voget me chamou a atenção nesta obra pela sua forma envolvente de
escrever e pela profundidade de seu conhecimento. Ele trata de forma técnica
cada parte do livro, mas com uma linguagem acessível e compreensível ao seu
público.

O autor me despertou para ler de forma mais literária o Pentateuco. Por


conta de pressupostos que obtive na minha caminhada de estudos do AT, lia o
Pentateuco com um propósito de responder algumas perguntas e solucionar
alguns problemas. Mas, agora entendi que o Pentateuco tem um objetivo de
moldar nossa cosmovisão quanto a vida com Deus e atitudes com o próximo.

O Dr. Voget aplica Lv 19.28 especificamente a tatuagem, mas o texto diz


sobre marcas que traziam identidade religiosa. Deste modo, o autor tem buscar
no NT uma base para a sua afirmação. Com isso, entendo que Dr. Voget
especificou algo que o texto não especifica.

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