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INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE

CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO ANDREW JUMPER

AP 22.6-21 - A CONCLUSÃO DE APOCALIPSE ATESTA A FIDELIDADE DO


LIVRO, MOSTRANDO COMO VIVER E ADORAR AO SENHOR COM UMA VIDA
DE FIDELIDADE, RECONHECENDO QUE JESUS É QUEM TRAZ AS
RECOMPENSAS E JULGA A NOSSA CAUSA.

POR

WILLIAM STEIGENBERGER DE SOUZA

São Paulo

2022
INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE

CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO ANDREW JUMPER

AP 22.6-21 - A CONCLUSÃO DE APOCALIPSE ATESTA A FIDELIDADE DO


LIVRO, MOSTRANDO COMO VIVER E ADORAR AO SENHOR COM UMA VIDA
DE FIDELIDADE, RECONHECENDO QUE JESUS É QUEM TRAZ AS
RECOMPENSAS E JULGA A NOSSA CAUSA.

Trabalho exegético de Ap 22.6-21, em cumprimento parcial


às exigências da disciplina BNT 301 – Pesquisa Exegética
do Novo Testamento, ministrada pelo Prof. Dr. João Paulo
Thomaz de Aquino, para obtenção do grau de Magister
Divinitatis.

POR

WILLIAM STEIGENBERGER DE SOUZA

São Paulo
2022

2
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 4
1. ESTUDO CONTEXTUAL ............................................................................................................ 4
1.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA PASSAGEM .............................................................................. 4
1.2 CONTEXTO LITERÁRIO DA PASSAGEM............................................................................... 5
2. ESTUDO TEXTUAL..................................................................................................................... 7
2.1 TRADUÇÃO DO TEXTO .............................................................................................................. 7
2.2 ESBOÇO MECÂNICO: ............................................................................................................... 10
2.3 JUSTIFICAÇÃO DOS LIMITES E DIVISÕES DA PERÍCOPE ............................................ 14
2.4 COMENTÁRIO ............................................................................................................................. 16
2.5 MENSAGEM PARA A ÉPOCA DA ESCRITA ....................................................................... 33
2.6 MENSAGEM PARA TODAS AS ÉPOCAS............................................................................. 33
2.7 TEOLOGIA DO TEXTO .............................................................................................................. 33
2.7.1 Implicações para a Teologia Bíblica ................................................................................. 33
2.7.2 Implicações para Teologia Sistemática............................................................................ 33
2.7.3 Implicações para a Teologia Prática ................................................................................. 34
CONCLUSÃO ..................................................................................................................................... 34
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 35

3
INTRODUÇÃO
Na conclusão do livro de Apocalipse, há algumas personagens afirmando a
fidelidade e veracidade das palavras dessa profecia. Essas palavras foram reveladas
a fim de que os ouvintes fossem encorajados a adoração a Deus e a guardar os
ensinos do livro, pois Cristo está vindo julgar os seus inimigos.
Entretanto, a conclusão de Apocalipse oferece algumas dificuldades para o
intérprete desse livro. Por exemplo, há uma repetição da palavra “em breve” (tacu,j),
levando-nos a pensar em qual o significado dessa expressão. Além disso, o livro não
deve ser selado, diferenciando dos escritos de Daniel que fala para selar o livro. Outra
dificuldade é entender qual a importância do coro pedindo a vinda do Senhor.
Talvez, a grande confusão esteja em equilibrar a certeza da vinda de Cristo com
os dissabores da vida. Por mais que nossas lutas sejam diferentes em relação aos
nossos irmãos das igrejas da Ásia, mesmo assim precisamos ouvir as verdadeiras e
fiéis palavras do livro para animar nosso coração e ter a certeza que Cristo já começou
a restauração desse mundo. O objetivo da pesquisa que se fará é solucionar essas e
outras dificuldades exegéticas do epílogo do Apocalipse de João. A proposição
exegética proposta neste trabalho é que “a conclusão de Apocalipse atesta a
fidelidade do livro, mostrando como viver e adorar ao Senhor com uma vida de
fidelidade, reconhecendo que Jesus é quem traz as recompensas e julga a nossa
causa”.

1. ESTUDO CONTEXTUAL

1.1 CONTEXTO HISTÓRICO DA PASSAGEM

Em Ap 22.6-21, João, um profeta cristão judeu e apóstolo de Cristo Jesus, que


pertencia a um círculo de profetas, está escrevendo para igrejas que enfrentavam
falsos ensinos (cf. Ap 2.20) (BAUCKHAM, 1993. p. 2).

João não era apenas um vidente, mas era um pastor que sabia da situação das
igrejas do Apocalipse. Ele não escreve mensagens aleatórias. Pelo contrário, ele toca
em questões particulares de cada igreja, detalhando sua situação e orientando em
como enfrentar seus problemas (BAUCKHAM, 1993. p. 2).

O epílogo também nos apresenta um contexto de idolatria (Ap 22.9) e prática


de imoralidade (Ap 22.11; 15). No que parece, as igrejas do Apocalipse estavam
4
enraizadas em um sincretismo idólatra. A citação de nomes como Balaão e Jezabel
mostram que os ensinos idólatras estão afastando o povo de Deus e os levando para
outros deuses (KRAYBILL, 2004. p. 50-51).

Além disso, João fala sobre recompensas e maldições (Ap 22.14-15; 18-19),
lembrando a Lex Talionis do AT. O povo judeu, integrante da igreja da Ásia, entendia
perfeitamente essa linguagem. Por isso, João está chamando os santos a fidelidade
e anunciando a vindicação de Cristo sobre as igrejas idólatras. A renovação e a
bênção veem entrelaçada com o julgamento. Por isso, se eles buscassem fidelidade
ao Senhor, Deus traria paz diante dos inimigos, ou convertendo-os ou destruindo-os
(JORDAN, 2021. p. 13-14).

1.2 CONTEXTO LITERÁRIO DA PASSAGEM

O epílogo de Apocalipse é um texto literariamente difícil. Ele segue uma


estrutura epistolar, mas com diálogos entre muitas vozes. A bênção final mostra que
o Apocalipse tem o gênero epistolar. Os diálogos servem para mostrar que apesar
das muitas vozes (Jesus, anjo, João, Espírito e Noiva), todas elas são direcionadas
por Jesus.

Uma outra curiosidade literária é que o epílogo forma um inclusio com a


introdução do livro. Alguns vão dizer que a introdução foi escrita por último. Mas, qual
a importância de ser um inclusio? A importância do inclusio é mostrar que as visões
mensagens e ditos de todo o livro são dignas de confiança (OSBORNE, 2014. p. 870).

Por fim, Apocalipse é o livro mais veterotestamentário do NT, não somente nas
citações e alusões, mas principalmente no texto grego. No epílogo, é possível
observar algumas hebraísmos (Ap 22.18), merismas (Ap 22.13) e sentenças
marcadas com o sindeto “” que mostram uma estrutura narrativa hebraica marcada
pelo “”.

1.3 CONTEXTO CANÔNICO

O epílogo de Apocalipse não finaliza apenas o livro. Mas, traz afirmações que
podem ser aplicadas ao fechamento do próprio cânon. Diante disso, João dialoga com
vários textos do AT, trazendo-os para o seu contexto e fortalecendo seus argumentos.

5
No pentateuco, é possível ver textos de Gn 2.9 e 3.22 sendo aludidos para falar
sobre a árvore da vida. Alusões ao livro de Êxodo são vistas nas pragas que seriam
derramadas sobre os ímpios (Êx 7-12; Ap 22.18). Em Levítico, a alusão é sobre a
punição dos feiticeiros (Lv 20.27; Ap 22.15). Em Ap 22.16 tem-se uma alusão a Nm
24.17. Por fim, Ap 22.6 faz alusão a Dt 4.2; 12.32.

Os escritos proféticos estão esparramados no epílogo. O livro do profeta Daniel


é aludido em Ap 22.10-11. O livro de Isaías é ecoado em Ap 22.13-14; 17. O livro de
Ezequiel pode ser visto na característica testemunhal de Cristo em Ap 22.18-19.

No saltério, João usa o Sl 111.7 para associar as palavras do livro como vindas
de Deus e sendo verdadeiras e fiés (Ap 22.6). Além disso, ele alude o Sl 28.4 ao dizer
que Cristo traz a recompensa para todos os atos dos homens (Ap 22.12).

O NT também é mencionado. João usa a mesma linguagem de Paulo para falar


dos incrédulos, como cães (Ap 22.15; Fp 3.2), da vinda do Senhor em juízo e ânimo
em 1Co 16.22 e a bênção final em 1Co 16.23.

Qual a importância disso tudo? A importância é que João está usando todas as
promessas, instruções e história da Bíblia para mostrar que Cristo é o cumpridor e
inaugurador do reino de Deus na terra. Ele quer mostrar que Cristo não é um marcador
da história cronológica apenas (a.C. e d.C), mas o inaugurador da nova era anunciada
por toda a Bíblia.

6
2. ESTUDO TEXTUAL

2.1 TRADUÇÃO DO TEXTO

ARC NAA NVT NVI TRAD. LIT.


6E 6 6 6 6 Dsse
disse-me: Estas Então o anjo me Então o anjo me O anjo me disse: a mim: estas
palavras são fiéis e disse: Estas palavras disse: “Tudo que "Estas palavras são palavras fiéis e
verdadeiras. O são fiéis e você ouviu e viu é dignas de confiança verdadeiras, e o
Senhor, o Deus dos verdadeiras. O digno de confiança e e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos
Senhor, o Deus dos verdadeiro. O Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas,
santos profetas, espíritos dos Senhor, o Deus dos espíritos dos enviou anjo seu
enviou o seu anjo, profetas, enviou o espíritos dos profetas, enviou o (para) mostrar aos
para mostrar aos seus seu anjo para profetas, enviou seu seu anjo para servos seus que está
servos as coisas que mostrar aos seus anjo para dizer a mostrar aos seus sendo necessário
em breve hão de servos as coisas que seus servos o que servos as coisas que acontecer (coisas) em
acontecer. em breve devem acontecerá em breve. em breve hão de breve.
7 Vejam, eu venho em 7 (e) Veja! Estou indo
7 Eis que presto venho. acontecer. acontecer".
7 Eis que venho sem 7 "Eis que venho em
Bem-aventurado breve! Felizes em breve. Bem-
aquele que guarda as demora. Bem- aqueles que breve! Feliz é aquele aventurado aquele
aventurado aquele obedecem às que guarda as que está guardando
palavras da profecia que guarda as palavras da profecia palavras da profecia as palavras da
deste livro. 8 E eu, palavras da profecia registrada neste deste livro". 8 Eu, profecia do livro
João, sou deste livro. 8 Eu, livro.” 8 Eu, João, sou João, sou aquele que deste. 8 Eu, João,
aquele que vi e ouvi João, sou quem aquele que ouviu e ouviu e viu estas estou ouvindo e
estas coisas. E, ouviu e viu estas viu todas essas coisas. Tendo-as vendo essas coisas.
havendo-as ouvido e coisas. E, depois de coisas. E, quando as ouvido e visto, caí Quando, ouvi e vi, caí
visto, prostrei-me aos ter ouvido e visto, ouvi e vi, caí aos pés aos pés do anjo que a adorar diante dos
pés do anjo que mas prostrei-me diante do anjo que as me mostrou tudo pés do anjo, aquele
mostrava para o dos pés do anjo que mostrou a mim, a fim aquilo para mim, que estava
me mostrou essas de adorá-lo. 9 Mas ele para adorá-lo. mostrando a mim
adorar. 9 E disse-me: coisas, para adorá- disse: “Não faça isso! 9 Mas ele me disse: essas coisas. 9 Então,
Olha, não faças tal, lo. 9 Mas ele me Sou um servo, como "Não faça isso! Sou disse a mim: Preste
porque eu sou disse: Não faça isso! você e seus irmãos, servo como você e atenção. Não!
conservo teu e de teus Sou um servo de os profetas, e como seus irmãos, os Conservo seu sou e
irmãos, os profetas, e Deus, assim como todos os que profetas, e como os de seus irmãos, dos
dos que guardam as são você e os seus obedecem ao que que guardam as profetas, e dos que
palavras deste livro. irmãos, os profetas, está escrito neste palavras deste livro. estão guardando as
Adora a Deus. 10 E e como são os que livro. Adore somente Adore a Deus! 10 palavras desse livro.
disse-me: Não seles guardam as palavras a Deus!”. 10 Em Então me disse: A Deus, adore!
deste livro. Adore a seguida, disse: “Não "Não sele as 10 Então, disse a mim:
as palavras da Deus! lacre com um selo as palavras da profecia não seles as palavras
profecia deste livro, 10 Disse-me ainda: palavras proféticas deste livro, pois o da profecia desse
porque próximo está o Não sele as palavras deste livro, porque o tempo está próximo. livro, o tempo,
tempo. 11 Quem é da profecia deste tempo está próximo. 11 Continue o injusto porque, perto está. 11
injusto faça injustiça livro, porque o tempo 11 Que o mau a praticar injustiça; Aquele que é injusto,
ainda; e quem está está próximo. continue a praticar a continue o imundo na (faça) injustiça ainda,
11 Continue o injusto
sujo suje-se ainda; e maldade; que o imundícia; continue o e aquele que é
quem é justo faça a fazer injustiça, e impuro continue a ser justo a praticar imundo, (faça)
justiça ainda; e quem continue o imundo a impuro; que o justo justiça; e continue o imundícia ainda. O
ser imundo. O justo continue a viver de santo a santificar- justo, justiça faça
é santo seja continue na prática forma justa; que o se". ainda e o santo,
santificado ainda. 12 E da justiça, e o santo santo continue a ser 12 "Eis que venho em santifique-se ainda. 12
eis que cedo venho, e continue a santificar- santo”. breve! A minha Veja! Estou vindo em
o meu galardão está se. 12 Eis que venho 12 “Vejam, eu venho recompensa está breve, (e) a
comigo para dar a sem demora, e em breve e trago comigo, e eu recompensa (está)
cada um segundo a comigo está a comigo a retribuirei a cada um comigo e (para ele)
sua obra. 13 Eu sou o recompensa que recompensa para de acordo com o que vou dar a cada um,
Alfa e o Ômega, o tenho para dar a retribuir a cada um de fez. de acordo com a obra

7
13
Princípio e o Fim, o cada um segundo as acordo com seus Eu sou o Alfa e o (que) é dele. 13 Eu
Primeiro e o suas obras. 13 Eu sou atos. Ômega, o Primeiro e (sou)
13 Eu sou o Alfa e o
Derradeiro. o Alfa e o Ômega, o o Último, o Princípio o alfa e o ômega,
14 Bem-aventurados Primeiro e o Último, Ômega, o Primeiro e e o Fim. o primeiro e o último,
14 "Felizes os que
o Princípio e o Fim. o Último, o Princípio e o princípio e o fim.
aqueles que lavam as 14 Bem-aventurados o Fim.” lavam as suas 14 Bem-aventurado
suas vestiduras no aqueles que lavam 14 Felizes aqueles vestes, para que aqueles que estão
sangue do Cordeiro, as suas vestes, para que lavam suas tenham direito à lavando os mantos
para que tenham que tenham direito à vestes. A eles será árvore da vida e deles, (para que) pois
direito à árvore da vida árvore da vida e permitido entrar pelas possam entrar na a autoridade será
e possam entrar na entrem na cidade portas da cidade e cidade pelas portas. (ênfase) deles para a
cidade pelas portas. pelos portões. 15 comer do fruto da 15 Fora ficam os árvore da vida e as
15 Ficarão de fora os Fora ficam os cães, árvore da vida. 15 Do cães, os que portas para que eles
cães e os feiticeiros, e os feiticeiros, os lado de fora da praticam feitiçaria, os entrem para a cidade.
15 Fora os cães, e os
impuros, os cidade ficam os cães: que cometem
os que se prostituem, assassinos, os os feiticeiros, os imoralidades feiticeiros, e os
e os homicidas, e os idólatras e todo sexualmente impuros, sexuais, os imorais, e os
idólatras, e qualquer aquele que ama e os assassinos, os assassinos, os assassinos, e os
que ama e comete a pratica a mentira. adoradores de ídolos idólatras e todos os idólatras, e todos os
mentira. 16 Eu, Jesus, enviei o e todos que gostam que amam e que amam e os que
16 Eu, Jesus, enviei o meu anjo para dar de praticar a mentira. praticam a mentira. fazem (praticam) a
16 “Eu, Jesus, enviei 16 "Eu, Jesus, enviei
meu anjo, para vos testemunho destas falsidade. 16 Eu
testificar estas coisas coisas a vocês nas meu anjo a fim de o meu anjo para dar mesmo, Jesus, enviei
nas igrejas. Eu sou a igrejas. Eu sou a lhes dar esta a vocês este o anjo meu para
Raiz e a Geração de mensagem para as testemunho testificar a vocês
Raiz e a Geração de Davi, a brilhante igrejas. Eu sou a concernente às essas coisas na
Davi, a resplandecente Estrela da Manhã. 17 origem de Davi e o igrejas. Eu sou a igreja. Eu mesmo,
Estrela da manhã. O Espírito e a noiva herdeiro de seu trono. Raiz e o sou a raiz e o
17 E o Espírito e a
dizem: — Vem! Sou a brilhante Descendente de descendente de Davi,
esposa dizem: Vem! E Aquele que ouve, estrela da manhã.” Davi, e a a estrela brilhante da
quem ouve diga: Vem! diga: — Vem! Aquele 17 O Espírito e a noiva resplandecente manhã. 17 (e) O
E quem tem sede que tem sede venha, dizem: “Vem!”. Que Estrela da Manhã". 17 espírito e a noiva
venha; e quem quiser e quem quiser todo aquele que ouve O Espírito e a noiva estão dizendo: Vem!
tome de graça da receba de graça a diga: “Vem!”. Quem dizem: "Vem! " E O que escuta, diga:
água da vida. tiver sede, venha. todo aquele que Vem! Aquele que tem
água da vida. 18 Eu, a todo aquele Quem quiser, beba ouvir diga: "Vem! " sede, venha, e aquele
18 Porque eu testifico a
que ouve as palavras de graça da água da Quem tiver sede, que deseja, receba
todo aquele que ouvir da profecia deste vida. 18 Declaro venha; e quem água da vida sem
as palavras da livro, testifico: Se solenemente a todos quiser, beba de custo. 18 Testifico, eu,
profecia deste alguém lhes fizer que ouvem as graça da água da a todos os que
livro que, se alguém qualquer acréscimo, palavras da profecia vida. escutam as palavras
18 Declaro a todos os
lhes acrescentar Deus lhe registrada neste livro: da profecia desse
alguma coisa, acrescentará os Se alguém que ouvem as livro, se alguém
Deus fará vir sobre ele flagelos escritos acrescentar algo ao palavras da profecia colocar algo nela,
neste livro. 19 E, se que está escrito aqui, deste livro: se colocará, Deus, nele
as pragas que alguém tirar qualquer Deus acrescentará a alguém lhe as pragas que foram
estão escritas neste coisa das palavras essa pessoa as acrescentar algo, e continuam escritas
livro; 19 e, se alguém do livro desta pragas descritas Deus lhe nesse livro, 19 e se
tirar quaisquer profecia, Deus tirará neste livro. 19 E, se acrescentará as alguém tirar algo das
palavras do livro desta a sua parte da árvore alguém retirar pragas descritas palavras do livro
profecia, Deus tirará a da vida, da cidade qualquer uma das neste livro. 19 Se dessa profecia, tirará,
sua parte da árvore da santa e das coisas palavras deste livro alguém tirar alguma Deus, a parte dela da
vida e da Cidade que estão escritas de profecia, Deus lhe palavra deste livro de àrvore da Vida e fora
Santa, que estão neste livro. 20 Aquele retirará a participação profecia, Deus tirará da cidade santa, que
que dá testemunho na árvore da vida e dele a sua parte na foram e continuam
escritas neste livro. destas coisas diz: na cidade santa árvore da vida e na escritas nesse livro. 20
20 Aquele que testifica
Certamente venho descritas neste livro. cidade santa, que Está dizendo aquele
estas coisas diz: Certa sem demora. Amém! 20 Aquele que é são descritas neste que é a testemunha
mente, cedo Vem, Senhor Jesus! testemunha fiel de livro. dessas coisas:
venho. Amém! Ora, 21 A graça do Senhor todas essas coisas 20 Aquele que dá certamente, estou
vem, Senhor Jesus! Jesus esteja com diz: “Sim, venho em testemunho destas indo (com força) em
21 A graça de nosso todos. breve!”. Amém! Vem, coisas diz: "Sim, breve. Amém! Vem
Senhor Jesus Senhor Jesus! venho em breve! " (com força) Senhor
21 Que a graça do
Cristo seja com todos Amém. Vem, Senhor Jesus.
21 A graça do Senhor
Senhor Jesus esteja Jesus!
vós. Amém! com todos 21 A graça do Senhor Jesus com todos.
Jesus seja com
8
todos. Amém.

Na comparação das traduções, pode-se observar as seguintes diferenças:

• o “Καὶ” do v. 6 é traduzido por então na NAA e NVT, indicando que o v. 6 está


concluindo as visões da Nova Jerusalém.
• a palavra anjo aparece nas traduções da NAA, NVT e NVI, indicando uma
interpretação acerca de quem fala. Porque não existe a palavra no texto grego.
• a NVT traduz o verbo “τηρῶν” por obedecer, indicando uma interpretação
teológica na tradução.
• todas as traduções seguem a variante textual1 no v. 9 que acrescenta o verbo
“ποιησης” após a partícula negativa “μή”.
• a tradução da ARC menciona “no sangue do Cordeiro”, sendo que a expressão
não aparece no texto grego. Mais uma vez, a tradução foi interpretativa.
• no v. 16, a NVT traduz a palavra “ῥίζα” por “origem”. Essa tradução é possível,
mas tentando pensar no ambiente no qual João escreve, a palavra não faria
sentido para os propósitos teológicos dele.
• no v. 18, a NVT e NVI traduzem o verbo “Μαρτυρῶ” por “declaro”. Essa é uma
tradução possível. Contudo, o público de João, provavelmente, não entenderia
isso como uma declaração judicial. Isso pode nos ajudar a fazer um paralelo
com nossos dias, mas perde o ambiente contextual e teológico de João e seu
público.

1
Os manuscritos que acrescentam esse verbo são “1006. 1841 latt; Cyp”.
9
• no v. 21, a ARC e NVI acrescentam a palavra “amém” no fechamento do livro.
Elas seguem alguns manuscritos2 que terminam com “αμην”.

2.2 ESBOÇO MECÂNICO:

Καὶ ⸀εἶπέν μοι·* (fala)


οὗτοι οἱ λόγοι πιστοὶ καὶ ἀληθινοί,
καὶ °ὁ κύριος ὁ θεὸς
τῶν ⸂πνευμάτων τῶν⸃ προφητῶν
ἀπέστειλεν ⸆ τὸν ἄγγελον αὐτοῦ ⸋δεῖξαι τοῖς δούλοις* αὐτοῦ⸌
ἃ δεῖ γενέσθαι ἐν τάχει.
καὶ ἰδοὺ ἔρχομαι ταχύ. (refrão)
μακάριος ὁ τηρῶν τοὺς λόγους τῆς προφητείας τοῦ βιβλίου τούτου.*

Κἀγὼ Ἰωάννης ὁ (fala)


ἀκούων καὶ βλέπων⸊ ταῦτα.*
καὶ ὅτε ἤκουσα καὶ ⸀ἔβλεψα,*
ἔπεσα προσκυνῆσαι ἔμπροσθεν τῶν ποδῶν τοῦ ἀγγέλου τοῦ
δεικνύοντός μοι ταῦτα.
καὶ λέγει μοι· ὅρα μή⸆·
σύνδουλός σού εἰμι
καὶ τῶν ἀδελφῶν
σου τῶν προφητῶν °
καὶ τῶν τηρούντων τοὺς λόγους
τοῦ βιβλίου τούτου·
τῷ θεῷ προσκύνησον.
Καὶ λέγει μοι·* (fala)
μὴ σφραγίσῃς τοὺς λόγους τῆς προφητείας τοῦ βιβλίου τούτου,*
⸂ὁ καιρὸς γὰρ⸃ ἐγγύς ἐστιν.
ὁ ἀδικῶν ἀδικησάτω ἔτι
καὶ ὁ ῥυπαρὸς ⸀ῥυπανθήτω ἔτι⸌,
καὶ ὁ δίκαιος δικαιοσύνην ποιησάτω ἔτι
καὶ ὁ ἅγιος ἁγιασθήτω ἔτι.*
Ἰδοὺ ἔρχομαι ταχύ,* (refrão)
καὶ ὁ μισθός μου μετʼ ἐμοῦ ⸀ἀποδοῦναι ἑκάστῳ ὡς τὸ ἔργον
⸁ἐστὶν αὐτοῦ.*

2
Os manuscritos que acrescentam essa palavra são “051. 046 ‫א‬s. 1611s. 1854. 2030. 2050. 2053. 2062.
2344. 2377 𝔪 vgcl sy co”.
10
ἐγὼ (fala)
τὸ ἄλφα καὶ τὸ ὦ,
⸂ὁ πρῶτος καὶ ὁ ἔσχατος,
ἡ ἀρχὴ καὶ τὸ τέλος⸃.*
Μακάριοι
οἱ ⸂πλύνοντες τὰς στολὰς αὐτῶν⸃,*
ἵνα ἔσται ἡ ἐξουσία αὐτῶν ἐπὶ τὸ ξύλον τῆς ζωῆς
καὶ τοῖς* πυλῶσιν εἰσέλθωσιν εἰς τὴν πόλιν.*
ἔξω
οἱ κύνες*
καὶ οἱ φάρμακοι
καὶ οἱ πόρνοι
καὶ οἱ φονεῖς*
καὶ οἱ εἰδωλολάτραι
καὶ πᾶς ⸂φιλῶν καὶ ποιῶν⸃ ψεῦδος. (hendíadis?)
Ἐγὼ Ἰησοῦς* (fala)
ἔπεμψα τὸν ἄγγελόν μου
μαρτυρῆσαι ὑμῖν ταῦτα ⸀ἐπὶ ταῖς ἐκκλησίαις.*
ἐγώ εἰμι (fala)
ἡ ῥίζα καὶ τὸ γένος Δαυίδ (hendíadis?)
ὁ ἀστὴρ ὁ λαμπρὸς ὁ πρωϊνός.
Καὶ
°τὸ πνεῦμα καὶ °1ἡ νύμφη λέγουσιν·* ἔρχου.
καὶ ὁ ἀκούων εἰπάτω·* ἔρχου.
καὶ ὁ διψῶν ἐρχέσθω, ὁ θέλων λαβέτω ὕδωρ ζωῆς δωρεάν.
Μαρτυρῶ ἐγὼ (fala)
παντὶ °τῷ ἀκούοντι τοὺς λόγους τῆς προφητείας τοῦ βιβλίου
τούτου·*
ἐάν τις ἐπιθῇ ἐπʼ αὐτά, ἐπιθήσει ⸂ὁ θεὸς ἐπʼ αὐτὸν⸃ τὰς ⸆ πληγὰς τὰς
γεγραμμένας ἐν τῷ βιβλίῳ τούτῳ,
καὶ ἐάν τις ἀφέλῃ ἀπὸ τῶν λόγων ⸆ τοῦ βιβλίου τῆς προφητείας
ταύτης, ἀφελεῖ ὁ θεὸς τὸ μέρος αὐτοῦ ἀπὸ τοῦ ξύλου τῆς ζωῆς καὶ °ἐκ
τῆς πόλεως τῆς ἁγίας τῶν γεγραμμένων ἐν τῷ βιβλίῳ τούτῳ.*
Λέγει ὁ μαρτυρῶν ταῦτα·* (fala)
ναί, ἔρχομαι ταχύ. °Ἀμήν, (refrão)
ἔρχου κύριε Ἰησοῦ⸇.*
Ἡ χάρις τοῦ κυρίου ⸀Ἰησοῦ μετὰ ⸁πάντων3

3
Kurt Aland et al., Novum Testamentum Graece, 28th Edition (Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft,
2012), Ap 22.6–21.

11
Dsse a mim:
estas palavras fiéis e verdadeiras,
e o Senhor, o Deus
dos espíritos dos profetas,
enviou anjo seu (para) mostrar aos servos seus que está sendo
necessário acontecer (coisas) em breve.
(e) Veja! Estou indo em breve.
Bem-aventurado aquele que está guardando as palavras da
profecia do livro deste.
Eu, João,
estou ouvindo e vendo essas coisas.
Quando, ouvi e vi,
caí a adorar diante dos pés do anjo, aquele que estava mostrando a mim
essas coisas.
Então, disse a mim: Preste atenção. Não!
Conservo seu sou
e de seus irmãos,
dos profetas,
e dos que estão guardando as palavras desse
livro.
A Deus, adore!
Então, disse a mim:
não seles as palavras da profecia desse livro,
o tempo, porque, perto está.
Aquele que é injusto, (faça) injustiça ainda,
e aquele que é imundo, (faça) imundícia ainda.
O justo, justiça faça ainda e o santo, santifique-se ainda.
Veja! Estou vindo em breve,
(e) a recompensa (está) comigo e (para ele) vou dar a cada um,
de acordo com a obra (que) é dele.
Eu (sou)
o alfa e o ômega,

12
o primeiro e o último,
o princípio e o fim.
Bem-aventurado
aqueles que estão lavando os mantos deles,
(para que) pois a autoridade será (ênfase) deles
para a árvore da vida e
as portas para que eles entrem para a cidade.
Fora
os cães,
e os feiticeiros,
e os imorais,
e os assassinos,
e os idólatras,
e todos os que amam e os que fazem (praticam) a
falsidade.
Eu mesmo, Jesus,
enviei o anjo meu
para testificar a vocês essas coisas na igreja.
Eu mesmo,
sou a raiz e o descendente de Davi,
a estrela brilhante da manhã.
(e)
O espírito e a noiva estão dizendo: Vem! O que escuta,
diga: Vem! Aquele que tem sede, venha, e aquele que
deseja, receba água da vida sem custo.
Testifico, eu,
a todos os que escutam as palavras da profecia desse livro,
se alguém colocar algo nela, colocará, Deus, nele as pragas que
foram e continuam escritas nesse livro,
e se alguém tirar algo das palavras do livro dessa profecia, tirará,
Deus, a parte dela da àrvore da Vida e fora da cidade santa, que
foram e continuam escritas nesse livro.
Está dizendo aquele que é a testemunha dessas coisas:

13
certamente, estou indo (com força) em breve. Amém!
Vem (com força) Senhor Jesus.
A graça do Senhor Jesus com todos.

2.3 JUSTIFICAÇÃO DOS LIMITES E DIVISÕES DA PERÍCOPE

Ap 22.6-21 pode ser considerada uma perícope, porque:

a) termina com a expressão “Ἡ χάρις τοῦ κυρίου ⸀Ἰησοῦ”, seguindo de perto os


encerramentos das cartas paulinas (KOESTER, 2014. p. 857-858). Isso
contrária a posição de Boring, dizendo que é um resumo poderosodos temas
que João viu em suas visões e o final da visão da Nova Jerusalém com um
coro de Aleluia (BORING, 1989. p. 224)
b) a expressão “ἔρχομαι ταχύ” é usada três vezes em Ap 22.6-21 para trazer
alertas ao público sobre a importância de guardar as palavras da profecia deste
livro, formando um inclusio com a introdução Ap 1.1-3 (OSBORNE, 2014. p.
870). Ela tem essa função em Ap 2.16; 3.11; 11.14.
c) há uma mudança temática entre Ap 21.1 – 22.5 e Ap 22.6-21. Koester diz que
há uma transição entre a majestade da cidade e os alertas para a igreja
(KOESTER, 2014. p. 847). Isso contraria o que Aune diz, ao defender o início
do epílogo no em Ap 22.10, pois entende que Ap 22.6-9 reitera o valor da visão
da Nova Jerusalém (AUNE, 1998. p. 362). Além disso, a expressão “τοὺς λόγους

τῆς προφητείας τοῦ βιβλίου” e aquilo que o autor fala acerca de bem-
aventuranças em receber as palavras do Apocalipse (Ap 22.7) e da maldição
para os que não as recebem (Ap 22.18-19), mostram que a intenção autoral é
falar sobre a veracidade, autenticidade e importância das palavras do
Apocalipse através de um caráter parentético nos versículos 11, 15, 18 e 19
(OSBORNE, 2014. p. 869) que Ap 21.1 – 22.5 não tem. Logo, a descrição das
características da Nova Jerusalém se encerra em Ap 22.5.
d) existe uma distinção literária entre Ap 21.1 – 22.5 e Ap 22.6-21 é a forma de
João receber a mensagem. Em Ap 21.1 – 22.5, João recebe a mensagem do
anjo através de visões. Isso é visto pelos verbos “εἶδον”, “δείξω” e “ἔδειξέν” em
Ap 21.1, 21.9 e 22.1 respectivamente. Além disso, o autor descreve detalhes,
medidas, estruturas, pedras e outras coisas, mostrando que o aspecto
14
visionário era a forma de comunicação da mensagem. Por outro lado, em Ap
22.6-21, João escuta a mensagem da parte final do livro, pois os verbos “εἶπέν”

e “λέγει” estão presentes em Ap 22.6, 9 e 10 respectivamente. Além disso, a


linguagem de Ap 22.6-21 é judicial, pois é um testemunho de alguém que
voltará para vindicar a causa do seu povo (JORDAN, 2021. p. 60).

Portanto, Ap 22.6-21 é uma perícope bem delimitada e definida.

Quanto a estrutura interna da perícope, não há um consenso em quantas partes


ela deve ser dividida. Analisando a estrutura discursiva de Ap 22.6-21, não
conseguimos ver um padrão marcado através das conjunções ou assíndetos, tema ou
palavras-chave4. É possível que o gênero tripartite de apocalipse influencie nisso, pois
em Ap 1-3 vemos o “καὶ” tendo o aspecto mais marcado. Enquanto que em Ap 4-22
isso não ocorre (POYTRHEES, 1985. p. 331-333).

Koester (KOESTER, 2014. p. 849) divide o epílogo em três partes. Duvall


(DUVALL, 2014. p. 304) divide em quatro. Enquanto que Osborne (OSBORNE, 2014.
p. 885) divide em cinco. Há aqueles5 que dividem em sete, por causa da estrutura
sétupla do livro. Por fim, outros teólogos dizem que não existe uma estrutura para o
epílogo6.

Neste trabalho, a divisão proposta para o epílogo de Apocalipse é de quatro partes:

1. A autenticação do livro (Ap 22.6-7)


2. A correta adoração através das palavras do livro (Ap 22.8-12)
3. Declarações de Cristo (Ap 22.13-20)
4. A bênção final (Ap 22.21)

4
Runge estabelece um aspecto marcado e não marcado do discurso através das conjunções e assíndetos em
RUNGE, Steven E. DISCOURSE GRAMMAR of The GREEK NEW TESTAMENT: A PRACTICAL INTRODUCTION FOR
TEACHING AND EXEGESIS. Lexham Press, 2010. Contudo, não é possível aplicar seu método em Ap 22.6-21, pois
os “καὶ” e assíndetos não cumprem a função estabelecida.
5
WENDLAND, Ernst R. The Hermeneutical Significance of Literary Structure in Revelation. Neotestamentica, v.
48, nº 2, 2014, p 447-476; GUNDRY, Robert H. Commentary on Revelation (Commentary on the New
Testament Book #19). Baker Publishing Group. Edição do Kindle.
6
Cf. Mounce, Robert H. The Book of Revelation, Revised Edition (Spanish Edition). Wm. B. Eerdmans
Publishing Co.. Edição do Kindle; MICHAELS, J. Ramsey. Interpreting the Book of Revelation (Guides to New
Testament Exegesis). Baker Publishing Group. Edição do Kindle.
15
A divisão está baseada nas declarações acerca das palavras do livro e do refrão
da vinda iminente de Cristo7. Esses aspectos trazem esperança e autenticidade para
toda a história da Bíblia. João está terminando a gloriosa história da redenção,
chamando a igreja a fidelidade esperançosa em Cristo, que já tem nos proporcionado
adoração e comunhão com Deus e concretizará sua obra restaurando todas as
coisas8. Gallusz entende que a linguagem da iminência do Apocalipse tem como
objetivo exortar a igreja, pois o contexto parece mostrar que algo urgente acontecerá
(GALLUSZ, 2014. p. 144). Na literatura apocalíptica, essa mudança pode ser que a
nova era está sobrepondo a antiga9. Assim, a divisão do epílogo harmoniza-se com o
objetivo do restante do livro que é trazer esperança através da vindicação de Cristo
contra os inimigos.

2.4 COMENTÁRIO

v. 6-7: A autenticação do livro

As palavras finais de Apocalipse enfatizam a validade da mensagem do livro,


como vindas da parte de Deus, e exortam a igreja a guardar seus ensinamentos.
(BLOUNT, 2009. p. 402). Por isso, o epílogo inicia mostrando a fidelidade e veracidade
do livro e conclui dizendo que a felicidade está em continuar sendo obediente10.

O anjo mostra que as palavras são completamente confiáveis. A expressão


“πιστοὶ καὶ ἀληθινοί” pode ser entendido como um merisma hebraico, mostrando que

7
Rossing diz que a expressão “ἔρχομαι ταχύ” soa como um refrão antifonal no epílogo de Apocalipse, servindo
como força perlocutória para a guardar as palavras do livro. (cf. ROSSING, Barbara. Waters Cry Out: Water
Protectors, Watershed Justice, and the Voice of Waters in Revelation 16:4-6, 21:6 and 22:17. Currents in
Theology and Mission – Chicago, v. 47, nº. 1, 2020. p. 38-42)
8
Fanning diz: “Assim, o Apocalipse recapitula a história da Bíblia como um todo, desde a criação até a nova
criação. Está firmemente ancorado no relato do AT da criação e alianças de Deus, bem como na crônica dos reis
e profetas de Israel e, finalmente, culmina no evangelho do NT da graça salvadora de Deus por meio de Cristo.
A estes, acrescenta o glorioso clímax da redenção bíblica, visões de libertação e renovação que levarão os
humanos à adoração direta e à comunhão com Deus e o Cordeiro para sempre em uma criação restaurada
(21:1-22:5)”, implicando na esperança acerca da volta de Cristo (Buist Fanning: Taking a Peek Ahead: The Value
of the Book of Revelation for Understanding the Whole Bible. CTR n.s.17/1 (Fall 2019) 3-27; p. 5)
9
Barr mostra essa ideia de mudança de eras ao dizer: “Há duas eras e a era vindoura será o oposto desta era: o
bem prevalecerá; o mal será julgado. Todos os apocalipses postulam esse dualismo, mas alguns não o projetam
como uma época histórica do futuro; em vez disso, é visto como uma retribuição além da morte. Novamente
notamos o forte dualismo. Deus trará um sobre essa mudança por meio de algum ato decisivo de intervenção.
Devemos estar preparados para a mudança, pois ela está próxima” (Barr, David L. Tales of the End: A Narrative
Commentary on the Book of Revelation . Polebridge Press. Edição do Kindle).
10
“τηρῶν” continuar a ser obediente as ordens ou mandamentos (LOUW,Johannes P.; NIDA, Eugene A. (ed.).
Léxico Grego-Português baseado em domínios semânticos. Trad. Vilson Scholz. Barueri, SP – SBB, 2013).
16
todos os tipos de qualidades autênticas são vistos nas palavras do livro. O diferencial
do Apocalipse de João da literatura apocalíptica é que as palavras do livro são
autenticadas por Deus.

Além disso, a expressão “οἱ λόγοι πιστοὶ καὶ ἀληθινοί” é uma alusão a Daniel
2.45, inspirando certeza de que a profecia de João tem autoridade divina e, portanto,
que seu conteúdo é verdadeiro e confiável (BEALE, 1999. p. 910).
Depois de falar sobre a autoridade das palavras do livro, o anjo apresenta a
fonte delas. A partícula “καὶ”, que antecede a expressão “ὁ κύριος”, soma as ideias
anteriores com as que vem a seguir (RUNGE, 2010. p. 16). Isso fortalece e destaca
ainda mais a autoridade e veracidade das palavras do livro.
O destaque do anjo é que “ὁ κύριος ὁ θεὸς” é a fonte de toda a mensagem

profética do livro. A expressão “τῶν ⸂πνευμάτων τῶν⸃ προφητῶν” é um duplo genitivo.


Isso mostra que as qualificações de Deus especificam que ele governa os espíritos
dos profetas (MATHEWSON; EMIG, 2016. p. 35). Como se fosse uma forma construta
do hebraico, um duplo genitivo, mostrando que o que move o profeta a anunciar a
mensagem vem do Senhor. Diante dessa construção gramatical, Porter conclui que a
fonte da mensagem é o Senhor (PORTER; REED; O'DONNELL, 2010. p. 45).

Há duas questões aqui. Primeira, quem está falando é o anjo11. Ele não é um
profeta. Logo, Deus é a fonte da mensagem que ele traz? Segunda, o espírito dos
profetas é o Espírito Santo ou as faculdades da alma?

A primeira questão é facilmente resolvida pelo verbo “ἀπέστειλεν” que está na


terceira pessoa do singular, indicando que Deus é o que envia o anjo. Ou seja, o anjo
é um emissário de Deus para comunicar sua mensagem. Quanto a segunda questão,
Osborne, citando Swete, responde: ”[...] quando afirma que isso indica “as aptidões
naturais dos profetas, despertadas e vivificadas pelo Espírito Santo”. Isso faz eco a
Números 27.16. (OSBORNE, 2014. p. 873). Deste modo, os espíritos são aas
faculdades da alma dos profetas que Deus controla pelo seu Espírito Santo.

O interessante é que nessa dinâmica plural de comunicação, na qual o anjo,


João e Jesus falam, o verdadeiro narrador é Jesus (MICHAELS, 1998). Isso mostra

11
Isso é defendido por: Bealle, Witherington III, Blount e Koester.
17
que o Apocalipse autentica toda a escritura, porque na pluralidade de vozes, todas
elas foram guiadas por Jesus. As alusões, citações e a própria forma de receber a
mensagem mostram que o Apocalipse autêntica e fecha o cânon bíblico12.

Depois de destacar a autenticidade do livro, algo estranho acontece. Há uma


frase conectada por “καὶ”, mas que não fala sobre as palavras do livro. Fala sobre uma
vinda. A vinda de quem? E, o que essa vinda tem a ver com a veracidade de
Apocalipse?

Teólogos13 de várias posições escatológicas concordam que a vinda anunciada


no v. 7 é a de Jesus. O ponto de inflexão é o período de tempo acerca da vinda.
Olhando de forma literária, o autor quer destacar a importância das palavras do livro.
Por isso, ele inicia falando sobre sua veracidade e autenticidade e termina dizendo
que felizes são os que continuam seguindo e obedecendo os ensinamentos delas.
Kistemark observa bem que o verbo “τηρῶν” está no particípio presente, indicando
uma tarefa contínua, voluntária e alegre, que mostra a obediência do povo às palavras
do Apocalipse por causa da sua importância na vida (KISTEMARK, 2014. p. 762).
Logo, o foco é a mensagem que o livro traz.

Qual mensagem? Moyise diz que João está trazendo a seguinte mensagem: “o
que Daniel esperava que ocorresse em um futuro distante - a derrota do mal cósmico
e a introdução do reino - João espera começar em sua própria geração, e talvez já
tenha sido inaugurado”. (MOYISE, 1995. p. 47). Osborne diz que a mensagem da
expressão “em breve” é um alerta para permanecer firmes em todas as eras, pois o
tempo de Deus é diferente do nosso (OSBORNE, 2014. p. 874). Bauckham fala que,
apesar de Deus ter dito “em breve”, Ele usa um efeito retórico para dizer que dá tempo
para as pessoas se arrependerem (BAUCKHAM, 1993. p. 157). Gentry Jr. diz que “em
breve” significa que João está nos levando a entender que o reino prometido no AT
estava sendo inaugurado na nova criação no primeiro século (GENTRY JR., 2016. p.
172). Diante disso, lendo Apocalipse com as lentes do AT de João e entendendo o

12
Stefanovic diz que o AT e o NT têm a mesma fonte, ao mencionar: “Espírito dos profetas” indica que as
palavras do livro vem da mesma fonte que inspirou as mentes dos profetas do AT, mostrando a seriedade e
confiabilidade da mensagem do livro (STEFANOVIC, Ranko. Revelation of Jesus Christ: commentary on the
book of Revelation. MICHIGAN - BERRIEN SPRINGS, 2002. p. 605)
13
Moyise, Osborne, Beale, Gallusz, Barr, Bauckham, Aune, Stefanovic, Gentry Jr., Witherington III e outros.
18
clímax das profecias veterotestamentárias, acredito que Moyises e Gentry Jr. são os
que explicam melhor o termo.

Portanto, a fala desajeitada de Cristo no v. 7 tem como intenção de motivar o


povo de Deus a viver como se a eternidade já invadisse nossa realidade. Contudo,
Cristo ainda está colocando seus inimigos debaixo dos pés. Ele está vindo e ninguém
poderá deter o avanço do reino. Por isso, tenham a palavra de Deus como verdade,
autêntica, instruidora e com recompensas salvíficas já hoje.

v. 8-12: A adoração correta através das palavras do livro

Nesta parte da perícope, João se coloca como locutor, chamando a atenção


para si. No diálogo com o anjo, João responde pessoalmente, mostrando seu distintivo
visionário. Os verbos “ἀκούων” e “βλέπων” caracterizam todas as experiências de João,
pois ele tanto ouviu quanto viu aquilo que Deus o revelou. Qual a importância dele ter
visto e ouvido as palavras dessa profecia? Isso é importante porque João mostra que
estava se envolvendo com tudo, como se estivesse dentro do cenário visionário. Ou
seja, ele era o canal profético envolvido e autorizado por Deus (OSBORNE, 2014. p.
876).
Apesar de ser o canal profético, João tem uma atitude errada diante do anjo.
Ele se prostra diante dele e o adora. A expressão “ἔπεσα προσκυνῆσαι” mostra que

João se prostrou diante do anjo com a intenção de adorá-lo. O infinitivo “προσκυνῆσαι”


traz o objetivo de João em se lançar aos pés do anjo.
Por que João faz isso? Era uma posição de temor e reverência? Creio que não,
pois o próprio anjo, no v. 9, adverte-o com um “Preste atenção! De forma alguma!”14.
Há uma variante textual nessa parte que complementa a ideia de não praticar a
adoração. O verbo “ποιησης” é acrescentado em alguns manuscritos, enfatizando que
João não deveria adorar o anjo.
É possível que essa fala do anjo servisse de alerta para os leitores de João,
pois a idolatria atingia algumas das igrejas da Ásia Menor (Ap 2.14-15; 2.20-21)15.

14
A expressão “ὅρα μή” é composto pelo verbo “ὁράω” que significa notar algo ou alguém de forma especial,
com a implicação de preocupar-se com aquilo (LOUW; NIDA, 2013. p. 318-319) e pela partícula negativa
enfática “μή”.
15
Tanto Heiser (HEISER, 2021. p. 310) quanto Beale (BEALE, 1999. p.314) acreditam em uma idolatria presente
nas igrejas para as quais João escreve.
19
Logo, a idolatria devia ser combatida com a adoração correta através das palavras
dessa profecia.
O anjo combate a idolatria de João explicando sua posição e ordenando a
adoração somente a Deus. Ele se apresenta como “σύνδουλός σού εἰμι”. O destaque
dessa está na ordem das palavras. Como Apocalipse é o livro mais semita que temos,
o anjo destaca sua posição de companheiro de João colocando a palavra “σύνδουλός”
iniciando a sentença. Ou seja, o anjo é alguém que serve, que tem a função de ajudar,
sendo um companheiro para João e para os profetas que guardam a palavra. O anjo
enfatiza a fidelidade à palavra com a expressão “καὶ τῶν τηρούντων τοὺς λόγους τοῦ

βιβλίου”, fazendo distinção com aqueles que estavam abandonando a palavra


(OSBORNE, 2014. p. 877). Com a chagada da nova era, o crente faz parte do
conselho celestial para adorar a Deus junto com os anjos (CHILTON, 1987. p. 914).
O anjo complementa o combate contra a idolatria dizendo para não selar o livro
no v. 10. Isso indica uma ênfase sobre a veracidade do livro, iminência do
cumprimento e a bênção para os que guardam as palavras (TABB, 2019. p. 187-189).
Por que é dito para não selar o livro, enquanto que em Daniel é ordenado que ele
selasse o livro?
A expressão “μὴ σφραγίσῃς” está no subjuntivo aoristo ao invés de um
imperativo presente. Deste modo, João especifica a proibição, indicando a urgência
em não selar o livro (AUNE, 1998. p. 365).

Isso é visto na interpretação de alguns teólogos. Bauckham, por exemplo, diz


que o futuro escatológico estava longe de Daniel, por isso deveria manter as palavras
do seu livro em segredo. Com João é diferente, pois o futuro escatológico chegou,
afeta-os e as palavras da profecia devem ser comunicada publicamente (BAUCKHAM,
1993. p. 251). Por que? Porque chegou a era da salvação, na qual as profecias estão
se cumprindo e Deus terminando sua obra.
Para Tabb, há uma inversão de João com Daniel, pois enquanto esse deveria
se calar, aquele deve falar e anunciar. Tabb diz:

O imperativo “não sele” em Apocalipse 22:10 sinaliza uma reversão da


situação de Daniel. Daniel calou a boca e selou suas visões porque
diziam respeito ao futuro distante, mas as palavras do livro de
profecias de João devem permanecer abertas porque se relacionam
com "o que deve acontecer em breve" (22:6) e "o tempo está próximo"

20
(22: 10). Beale explica o significado histórico-redentor desse
desenvolvimento: “O que Daniel profetizou agora pode ser entendido
porque as profecias começaram a se cumprir e os últimos dias
começaram.” (TABB, 2019. p. 187-189)

Sendo assim, aqui é possível ver o aumento da expectativa escatológica com


a expressão “ὁ καιρὸς γὰρ⸃ ἐγγύς ἐστιν”. O tempo do reino inaugurado chegou e o
triunfo completo de Deus pode ser esperado (GALLUSZ, 2014. p. 133). Ou seja,
enquanto Daniel não deveria ser divulgado até gerações distantes, João deveria falar,
anunciar e mostrar aos seus contemporâneos tudo o que ele experimentou, pois o
tempo da nova era chegou (MOYISE, 1995. p. 55-56).

O interessante é que depois dessa declaração maravilhosa da chegada do


reino, o anjo diz para o impuro continuar praticando a impureza, o imundo continuar
sendo imundo, o justo praticando a justiça e o santo a se santificar no v. 11. Qual o
sentido dessas expressões no discurso do anjo?
Para responder a essa pergunta é preciso definir qual a função dos imperativos
aoristos, analisar o v. 11 juntamente com o v. 12 e o contexto anterior, além disso,
dialogar com alguns comentaristas.

Qual a função dos imperativos aoristos “ἀδικησάτω”, “ῥυπανθήτω”, “ποιησάτω” e

“ἁγιασθήτω”? Alguns dizem que o modo imperativo só tem a função de comandar ou


ordenar alguma coisa. Contudo, o imperativo pode ser melhor descrito como a
intenção, desejo ou volição (KÖSTENBERGER; MERKLE; PLUMMER, 2016. p. 225).
Deste modo, acredito que não seja uma ordem fatalista da parte do anjo. Mas, uma
expressão do desejo de Deus através do anjo mostrando que não há mais tempo para
os idólatras e impuros da igreja. Ou seja, não há mais tempo para a grande cidade,
que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi
crucificado (Ap 11.8).

Uma outra característica do texto é a partícula “ἔτι” que aparece três vezes. Ela
se refere a uma condição ou ação sem alteração, interrupção ou que não cessa. Ou
seja, não há mais tempo para voltar ou parar as obras. Os imperativos unidos com a
partícula “ἔτι”, trazem a ideia de que o julgamento contra os apóstatas da época de
João, estava para acontecer.

21
Sendo assim, olhando para o contexto anterior ao v. 11, observa-se que a ideia
de um chamado de adoração baseada nas palavras do livro, encaixa-se com os
imperativos. Era como se o anjo dissesse que chegou o tempo de romper com os que
praticam a injustiça e impureza, e se unir com os renovados pela justiça e santidade
do Senhor.

Além disso, o v. 12 complementa essa ideia, porque o Senhor diz que virá em
breve, trazendo a recompensa de cada um. O verbo “” está na voz média, indicando
uma ênfase na participação mais direta de Cristo (MATHEWSON; EMIG,2016. p. 197).
Ou seja, os alertas de 8-11 sobre a adoração somente a Deus recebem maior peso
com a vinda do Senhor especificamente para trazer a recompensa. Isso é observado
em Kistemaker, quando diz: “as palavras do versículo 12 são uma confirmação do
versículo que antecede (v. 11). (KISTEMAKER, 2014. p. 766). Osborne destaca a
relação entre os v. 11 e 12 da seguinte forma: “a proximidade da parúsia de Cristo
serve de base para o chamo ao compromisso ético do seu povo”. (OSBORNE, 2014.
p. 881). Logo, o v. 12 confirma que o v. 11 traz a ideia de um rompimento com os
idólatras e uma união com os santos.

Essa ideia pode ser observada em alguns comentaristas. Para Beale, o v. 11


chama a igreja a ouvir o Senhor urgentemente, pois não há mais tempo para os
apóstatas ou os que estão na igreja e não escutam. (BEALE, 1999. p. 906). Para
Koester, o objetivo do v. 11 é mover os “sujos” para “lavar suas vestes”. (KOESTER,
2014. p. 840). Para Blount, o v. 11 assegura os ouvintes que Deus fará o que prometeu
fazer. Deste modo, os seres humanos devem se decidir qual caminho vai trilhar
(BLOUNT, 2009. p. 406-407).

Portanto, a adoração correta e verdadeira vem das palavras do Apocalipse, que


devem ser anunciadas urgentemente, porque a era da salvação rompeu e o Senhor
já está trazendo juízo para os ímpios e bênçãos para os santos. A adoração que
agrada a Deus vem da sua Palavra.

v. 13-20: Declarações de Cristo

Após o anjo e João falarem, Cristo traz algumas declarações para contribuir e
corroborar com a mensagem do epílogo. Ele inicia apresentando sua identidade para
revelar sua autoridade soberana (v. 13). Depois, Ele fala acerca de bênçãos e

22
advertências, apontando para a ideia de guardar as palavras (v. 14-15). Na sequência,
Ele apresenta a esperança messiânica como fonte de ânimo (v. 16-17). Por fim, Cristo
adverte contra acréscimos e subtrações das palavras do livro (v. 18-20).

Cristo se define como o soberano da história e controlador de todas as coisas.


Ele inicia a frase com o pronome “Ἐγὼ”, indicando a sua proximidade com os atributos
listados. O verbo ser/estar não está presente na língua grega. Contudo, é possível
assumir que os atributos representam características do ser de Cristo, pois todos os
substantivos estão no nominativo. Deste modo, esses substantivos servem como
complemento de um verbo de ligação, expressando um estado de ser em vez de uma
ação (KÖSTENBERGER; MERKLE; PLUMMER, 2016. p. 68).

A forma como João escreve essas características é muito interessante, pois


aponta para uma soberania total sobre tudo. Os pares “τὸ ἄλφα καὶ τὸ ὦ”, “ὁ πρῶτος

καὶ ὁ ἔσχατος” e “ἡ ἀρχὴ καὶ τὸ τέλος” são espécies de merismas, indicando que Cristo
é soberano de A à Z na história deste mundo (STEFANOVIC, 2002. p. 608). Além
disso, os pares enfatizam a ideia que Cristo controla a história, pois repetem a ideia
que Ele é o iniciador e que termina, por exemplo o princípio e o fim.

Qual a importância desses atributos de Cristo? Esses atributos são importantes


porque aponta para a divindade de Cristo (WITHERINGTON III, 2003. p. 281) e para
destacar que Cristo está concluindo a história com sua vinda (BEALE, 1999. p. 921).
Logo, quem está anunciando as declarações é aquele que controla soberanamente a
história.

Após dizer quem é, Cristo tem propriedade para fazer declarações acerca de
bênçãos e advertências. Esse contraste é visto pelas expressões que iniciam os v. 14
e 15, “Μακάριοι” e “ἔξω” respectivamente. “Μακάριοι” significa abençoado, feliz e

agraciado pelas bênçãos de Deus e sua presença. Já a expressão “ἔξω” indica que
está fora, vivendo do lado de fora de algum lugar. Duvall entende que viver fora da
cidade é uma expressão de viver sob a maldição de Deus, separado da comunidade
da aliança (DUVALL, 2014. p. 306). Desta forma, os versículos contrastam aqueles
que vivem na presença de Deus e os que vivem sob a maldição de Deus.

A diferença não é somente de posição, mas de características externas e


visíveis. A característica dos bem-aventurados é dada pelo particípio presente
23
“πλύνοντες” que representa uma ação contínua e próxima dos que são bem-
aventurados em serem libertados de sua vida das corrupções desse mundo e a
experiência de viver de modo puro diante de Deus (OSBORNE, 2014. p. 883). Ou
seja, o sinal da bem-aventurança é lutar perseverantemente para matar o velho
homem e minimizar as corrupções do pecado.

Uma outra característica que os bem-aventurados têm é a autoridade para


desfrutar da árvore da vida e entrar pelas portas da cidade. A gramática grega é
dificílima nesse versículo. Para falar sobre a finalidade de ter as vestes lavadas, Jesus
usa o verbo “ἔσται”, que está no futuro do indicativo, e o verbo “εἰσέλθωσιν”, que está
no aoristo do subjuntivo. Por que João faz essa mistura de tempo-formas?

Parece-me que João está usando uma linguagem de expectação diante daquilo
que já se tem. Para alguns gramáticos16, o tempo futuro pode ser entendido como o
tempo da expectação ou espera. Já o subjuntivo17 com a partícula “ἵνα”, pode ser
entendido como como uma permissão. Deste modo, Jesus diz que a espera por uma
vida abundante e eterna, o direito18 que receberão a árvore da Vida, é certamente
garantida pelo fato de já termos acesso a presença de Deus, na qual entramos por
Cristo, que é a porta de acesso a Deus. Deste modo, João mistura os tempo-formas
para trazer certeza, convicção e garantia as expectativas do seu público da eternidade
através da permissão de estar na presença de Deus já.

Ao contrário dos bem-aventurados, os que vivem distantes de Deus e do seu


povo, também são caracterizados por Jesus. Ele usa cinco palavras no nominativo19
e dois verbos no particípio20 para descrever os que recebem a maldição. Os
nominativos descrições do estado de vida daqueles que não vivem com Deus. A

16
Mathewson e Emig dizem: “Consequentemente, trataremos provisoriamente o futuro como uma forma que
expressa expectativa – ação que pode ser esperada. A característica da expectativa geralmente deve ser
entendida como se referindo ao tempo futuro. É provavelmente a coisa mais próxima que o grego tem de um
tempo verbal verdadeiro. Embora relacionado ao modo subjuntivo, como mencionado acima, a principal
diferença é que o tempo futuro é mais forte e mais certo que o subjuntivo” (MATHEWSON; EMIG, 2016. p.
184).
17
Mathewson e Emig dizem: “Em particular, ἵνα com o subjuntivo é usado com verbos de esforço, desejo,
permissão, súplica e comando [...]” (MATHEWSON; EMIG, 2016. p. 223)
18
A palavra grega “ἐξουσία” traz a ideia de alguém que recebe direito, domínio e tem um status de alguém que
tem o privilégio de ter acesso a algo.
19
Essas são as palavras: “κύνες”, “φάρμακοι”, “πόρνοι”, “φονεῖς” e “εἰδωλολάτραι”.
20
Esses são os verbos “φιλῶν” e “ποιῶν”.
24
palavra “κύνες” traz uma característica de alguém abominável, considerado como uma
prostituta no AT (cf. Deut. 23:18 “o salário de um cão” são equiparados com “o salário
de uma prostituta”, referindo-se aos israelitas fazendo oferendas votivas no templo
compradas com dinheiro ganho com a prostituição cultual no ídolo templos [...]).
(BEALE, 1999. p. 924-925). No NT, Paulo usa a palavra para definir os falsos mestres
judaizantes (cf. Fp 3.2). Osborne entende que é melhor interpretar os cães de forma
geral, ou seja, todos os que resistem a vontade de Deus (OSBORNE, 2014. p. 884-
885). Contudo, creio que Beale entende de forma correta quem são os “cães”, ao
identificá-los com os falsos cristãos das igrejas de Apocalipse (cf. Ap 2.14,15,20-23.
(BEALE, 1999. p. 1141).

A palavra “φάρμακοι” traz uma característica de alguém que faz uso de magia
ou feitiçaria para encantar as pessoas. Essa era uma prática abominável no AT (cf. Lv
20.27). No NT, Paulo cita alguns homens em Éfeso que eram como Janes e Jambres,
que resistiam a verdade e corrompiam as pessoas com suas práticas mágicas (cf.
2Tm 3.8). A igreja de Pérgamo seguia algumas doutrinas de Balaão, misturando a
verdade com outras coisas (cf. Ap 2.14). Logo, Jesus está dizendo que já no primeiro
século, os feiticeiros receberiam a sua justa paga.

As palavras “πόρνοι”, “φονεῖς” e “εἰδωλολάτραι” são características que mostram

quão distantes de Deus estão e quão maus são os que ficam fora. “πόρνοι” significa
alguém que se envolve em adultério, podendo ser física ou espiritualmente. Em
Apocalipse vemos que Jerusalém foi considerada como Sodoma e Egito
espiritualmente (cf. Ap 11.8) e que Tiatira foi considerada uma prostituta por seguir
ensinamentos de profetisas de Jezabel (cf. Ap 2.20). Já “φονεῖς” significa alguém que
tira a vida de uma pessoa sem razão ou por maldade. Para alguns21, a Grande
Meretriz é o povo de Isarel do antigo pacto. Se isso estiver correto, pode se perceber
que os judeus assassinaram os profetas do Senhor (cf. Ap 17.6), pois faziam parte da
grande Meretriz. E, “εἰδωλολάτραι” significa alguém idólatra. Essa característica é
vista na igreja de Esmirna que tinham blasfemadores da sinagoga de Satanás (cf. Ap

21
Gentry Jr. em “Apocalipse para leigos. Brasília, DF: Editora Monergismo, 2016”; HEISER em “John's Use of the
Old Testament in the Book of Revelation: Notes from the Naked Bible Podcast”, Jordan em “A vindicação de
Jesus Cristo: Um guia introdutório ao Apocalipse. Brasília: Editora Monergismo, 2021. (Ed. do Kindle)”; Gary
DeMar e outros.
25
2.9). Deste modo, todas essas características já estavam presentes nas igrejas da
Ásia, principalmente entre os judaizantes.

Por fim, João muda sua forma de escrever. Ao invés de manter os nominativos,
ele finaliza com dois particípios que podem ser entendidos como uma característica
de alguém que é totalmente falso. Os particípios “φιλῶν” e “ποιῶν” trazem a ideia de
alguém que não é só caracterizado pela mentira, mas alguém que externaliza e busca
a mentira. A expressão “φιλῶν καὶ ποιῶν” está entre o adjetivo “πᾶς” e a palavra

“ψεῦδος”, mostrando que amar e praticar a mentira representam alguém que está
envolvido completamente com a falsidade. Parece-me, mais uma vez, que João se
utiliza de um merisma para trazer ênfase a essa característica dos que estão longe do
Senhor. A palavra “ψεῦδος” pode significar alguém que diz ser uma coisa, mas não é.
(BEALE,1999. p. 923-924). Isso é visto na igreja de Éfeso, em que alguns se diziam
apóstolos, mas não eram (cf. Ap 2.2). Isso é visto na igreja de Filadélfia, em que alguns
se diziam judeus, mas não eram. Logo, a falsidade estava espalhada entre as igrejas
da Ásia, principalmente entre os judeus.

Portanto, as características dos bem-aventurados e as dos que ficam de foram


do povo de Deus apontam que Cristo já começou a vindicar sua causa e o reino já
está presente para fortalecer a expectativa da sua completude.

Isso é fortalecido pelos v. 16 e 17, trazendo a ideia da esperança messiânica


como fonte de ânimo. Jesus inicia o v. 16, dizendo que tem uma mensagem
esperançosa para os que estavam sofrendo. É interessante notar que há um cuidado
de Cristo para alcançar todo o seu povo. Ele envia o anjo para “vos” testificar. O
pronome “ὑμῖν” aponta para um grupo específico, provavelmente, o círculo profético22
da época de João. Ou seja, Jesus está enviando o anjo, que entregou a mensagem
para os profetas e, então, eles testificaram às igrejas. Assim, a mensagem se
espalharia mais rápido (cf. Ap 22.10).

22
Teólogos como Swete, Beasley-Murray e Beale acreditam que o pronome “vos” significa as igrejas do
Apocalipse. Contudo, Aune em seu artigo “THE PROPHETIC CIRCLE OF JOHN OF PATMOS AND THE EXEGESIS OF
REVELATION 22.16. Chicago, JSNT37, 1989, p. 103-116” faz uma excelente abordagem exegética do assunto.
Além dele, Beckwith, Lohmeyer, Hill, Michaels, Giesen defendem a ideia do circulo profético (OSBORNE, 2014. p.
886).

26
Além disso, a estrutura de Ap 22.16 é muito parecida com Ap 1.1. O que isso
significa? Significa que ao manter a mesma estrutura, Jesus reafirma e fortalece a
ideia que Ele é o princípio e o fim, o Messias de Deus para o seu povo (BLOUNT,
2009. p. 409),

Por isso, Jesus se identifica com dois nomes messiânicos para trazer
esperança aos que sofriam. A repetição do pronome “ἐγώ” somado ao verbo “εἰμι” traz
uma ênfase na pessoa de Cristo e na esperança que Ele traz. Era como se Ele
dissesse: “Eu Jesus [...]. Eu mesmo sou [...]”, mostrando que Jesus é o Messias que
cumpre as promessas veterotestamentárias.

Jesus diz ser aquele descendente de Davi que cumpriria todas as profecias do
AT. A expressão “ἡ ῥίζα καὶ τὸ γένος Δαυίδ” traz algumas divergências de interpretação.
Osborne diz que Swete e Thomas acreditam que Jesus é tanto o ancestral quanto o
descendente de Davi. Mas, ele entende que a “raiz de Davi” é uma metáfora militar e
o “descendente de Davi” é o que cumpriria todas as promessas messiânicas.
(OSBORNE, 2014. p. 886). Contudo, pelo fato do nome “Δαυίδ” estar no genitivo, João
transmite a ideia que Jesus é o Messias prometido em todo AT, tanto antes de Davi
quanto o cumpridor das promessas davídicas (BEALE, 1999. p. 927).

Jesus diz ser aquele que traz luz poderosa para acabar com os inimigos. A
expressão “ὁ ἀστὴρ ὁ λαμπρὸς ὁ πρωϊνός” faz alusão a estrela de Jacó que teria um
cetro para destruir os inimigos em Nm 24.17. Deste modo, ao se identificar com essa
passagem, Jesus diz que Ele é o Messias guerreiro que começou a derrotar seus
inimigos, porque o reino já raiou (HEISER, 2021. p. 310). A expressão “estrela da
manhã” aparece em Ap 2.28. Quando o texto de Ap 2.28 é lido juntamente com Ap
22.16, pode observar que Jesus o grande Messias poderoso, que tem autoridade
sobre tudo, concede-nos autoridade para reinar com Ele (HEISER, 2021. p. 311).
Sendo assim, Jesus compartilha mais um de seus títulos messiânicos para trazer
esperança aos que enfrentavam lutas na igreja da Ásia.

Diante da sua identidade messiânica, o ânimo é renovado e a resposta é um


desejo para que o Senhor venha. O v. 17 inicia com “Καὶ”, indicando que é uma
reposta diante dos títulos messiânicos.

Essa resposta traz duas dúvidas:


27
1) quem fala no v. 17?

2) a expressão vem é um clamor ou um brado de vitória?

Diante da dúvida “1) quem fala no v. 17?”, não há consenso na resposta.


Rossing23, Blount24 e Beale25 defendem que são o Espírito e a noiva. Já Stefanovic
diz que é a Espírito testemunhando através da igreja. Michaels26 diz que é Jesus e
outros teólogos dizem que é João. É possível que haja mudança do narrador, porque
já aconteceu nos versículos anteriores. Mas, quando os particípios “ἀκούων”, “διψῶν”

e “θέλων” aparecem, a pergunta que surge é: os que escutam, tem sede e desejam
são quem? Diante dessa pergunta, parece que a maioria27 defende que são os não
convertidos. Logo, parece que os falantes do v. 17 são: i) o Espírito e a noiva, porque
estão no nominativo e o verbo “λέγουσιν” está no indicativo, mostrando que são eles
que falam; 2) Jesus convidando o mundo para beber da sua água (DUVALL, 2014. p.
306).

Na dúvida “2) a expressão é um clamor ou brado de vitória?”, a maioria28 diz


que é um clamor. Contudo, Blount diz que, se for um clamor do Espírito e da Noiva,
então a sugestão é que “o convite é redundante ou uma demonstração de falta de fé
no Cordeiro” (BLOUNT, 2009. p. 412-413). A melhor forma de enxergar as expressões
“ἔρχου” e “ἐρχέσθω” é que a primeira expressão diz respeito ao desejo do Espírito e da
noiva acerca da vinda do cordeiro, pois já desfrutam de um relacionamento íntimo com
Cristo e confiam na sua palavra. (BLOUNT, 2009. p. 412-413). O verbo “ἔρχου” está
na segunda pessoa indicando maior proximidade e intimidade com o falante. Já o
verbo “ἐρχέσθω” está na terceira pessoa, indicando alguém que está mais distante e
que é chamado para vir e receber a água que mata a sede da alma dele. Deste modo,
a expressão vem é tanto uma forma de louvor pelo que já se tem recebido,
aguardando a vinda de Cristo, como um clamor para os que estão longe se
arrependam e venham a Cristo.

23
(ROSSING, 2020. p. 38-42).
24
(BLOUNT, 2009. p. 412-413).
25
(BEALE, 1999. p. 928-930).
26
(OSBORNE, 2014. p. 887-88).
27
Osborne, Stefanovic, Beale, Gentry Jr, Koester, Aune, Blount, Rossing, Duvall e outros.
28
Osborne, Stefanovic, Koester, Aune, Rossing, Duvall e outros.
28
Depois de Cristo se apresentar como o soberano da história e o Messias
prometido, agora Ele se apresenta como uma testemunha judicial para trazer
advertências contra acréscimos e subtrações das palavras do Apocalipse.

Jesus inicia o v. 18 com a expressão “Μαρτυρῶ ἐγὼ”. Isso é interessante porque


a estrutura da frase é um hebraísmo, indicando que Ele está se colocando como uma
testemunha judicial do AT. Tabb diz: “a expressão “Μαρτυρῶ ἐγὼ” carrega a força de
um juramento ou testemunho legal” (TABB, 2019. p. 189-190). Ou seja, o soberano
Senhor e Messias é também a testemunha fiel contra os idólatras.

Jesus testemunha a quem? Jesus testemunha a “παντὶ °τῷ ἀκούοντι τοὺς λόγους

τῆς προφητείας τοῦ βιβλίου”. A expressão “παντὶ °τῷ ἀκούοντι” mostra que o alerta é
para toda a igreja, pois a qualidade de ouvir em Apocalipse é de alguém que guarda
e obedece às palavras de Cristo. Deste modo, Jesus está alertando seu povo contra
os falsos ensinos e, também, está dizendo que Ele punirá os que fazem tal coisa.

Falando sobre isso, Royalty Jr. diz:

“Apocalipse 22: 18-19 direciona suas advertências contra a interpretação,


não para as bestas demoníacas, aqueles que adoram a besta e os reis da
terra, mas para οι άκούντες (1: 3). O epílogo e a advertência em 22: 18-19
implicam retoricamente a audiência das mensagens nos caps. 2-3, a
comunidade das sete assembleias nas cidades asiáticas. Este aviso enfoca a
batalha com professores e profetas oponentes sobre a interpretação de
textos, especificamente este texto ("as palavras deste livro de profecia," τους
λόγους της προφητείας του βιβλίου τούτου). O principal eixo de poder neste
texto não é romano vs. cristão, mas cristão apocalíptico-profético vs. outros
líderes e professores cristãos”. (ROYALTY JR., 2004. p. 297)

O foco dessa advertência continua sendo a autenticidade e veracidade das


palavras do livro. A expressão “τοὺς λόγους τῆς προφητείας τοῦ βιβλίου”” se repete três
vezes no epílogo (Ap 22.7, 18-19). Isso mostra a importância acerca das palavras do
livro, a unidade na mensagem do epílogo e as consequências para aqueles que
respondem infielmente à mensagem de Jesus. (TABB, 2019. p. 192-193).

Diante da importância da mensagem da profecia de Apocalipse, Jesus faz uma


espécie de Lex Talionis. Isso significa, o que fizerem com as palavras do livro da
profecia, será feito com eles também. Tabb diz que “a punição se ajusta ao crime”. Ou
seja, caso distorçam ou negligenciem a mensagem do livro, então serão expostos ao
julgamento divino e excluídos da benção do Senhor (TABB, 2019. p. 192).
29
Mas, o que significa “acrescentar” e “tirar” no contexto de Ap 22.18-19?
Acrescentar e tirar fazem alusão aos textos de Dt 4.2; 12.32 que enfatizam a
obediência integral diante das palavras que vieram de Deus, sem acréscimos ou
reduções (OSBORNE, 2014. p. 891). Tabb diz que era uma forma de chamar o povo
a rejeitar as palavras de profetas ou sonhadores que induzem o povo a servir a outros
deuses e se rebelar contra Yahweh. (TABB, 2019. p. 189-190). Além disso, um
significado para o contexto da época é advertência contra a idolatria, devido a heresia
nicolaíta que atingiu as igrejas do Apocalipse (BEALE, 1999. p. 1151). Deste modo,
acrescentar e tirar dizem respeito a qualquer distorção hermenêutica, insubordinação
e desobediência idólatra em relação a mensagem de Deus.

A consequência para tais atos é dupla, pragas aumentadas e afastamento


completo do Senhor. As advertências de Ap 22.18-19 estão formuladas em
condicionais de terceira classe29, por causa da partícula “ἐάν”. Desta forma, é possível
entender que as condicionais são exortações veladas, tendo como consequências a
atividade escatológica de Deus em trazer os juízos aos que desobedecem a essa
condição (OSBORNE, 2014. p. 889-890). Assim, Jesus está dizendo que a condição
anunciada em Dt 4 está sendo reafirmada em Ap 22.18-19 para mostrar que o tempo
estava acabando dos que praticavam tais coisas. Por isso, Aune diz acerca das
consequências:

“Se alguém “acrescentar” o próprio sentido ao texto, “Deus lhe acrescentará


as pragas escritas neste livro”. Essas pragas são como as “pragas”
atormentadoras dos cavaleiros demoníacos (9.18,20), como as “pragas”
infligidas sobre os habitantes da terra pelas duas testemunhas (11.6), como
as “pragas” das sete taças (15.1,6,8; 16.9,21) ou como as “pragas”
derramadas sobre a grande Babilônia (18.4,8). Em outras palavras, tais
pessoas serão tratadas como incrédulos e sofrerão as punições impostas aos
ímpios. Se alguém “tirar” o sentido pretendido por Deus, “Deus lhe tirará a
sua parte da árvore da vida”. Essa punição é mais severa, pois significa que
as pessoas que assim fizerem sofrerão a “segunda morte” (2.11; 20.6) ou o
lago de fogo” (AUNE, 1998. p. 1213-1215)

Para reiterar a urgência de Jesus trazer o cumprimento dessas coisas e


fortalecer o ânimo do seu povo, Jesus encerra suas declarações com a esperança da

29
“Uma condicional de terceira classe ao contrário de uma condicional de primeira classe, é mais experimental
e simplesmente projeta alguma ação ou evento para consideração hipotética. Somente o contexto pode dizer
por que o autor opta por ser mais provisório e meramente projetar uma ação. Às vezes, as condicionais de
terceira classe podem servir a um propósito exortativo, como exortações mitigadas: “Se você perdoar um ao
outro” pode transmitir “Você deve perdoar um ao outro” [...]. (MATHEWSON.; EMIG, 2016. p. 304-305)
30
sua vinda. A expressão “Λέγει ὁ μαρτυρῶν ταῦτα” indica que é Jesus que continua
falando no início do v. 20. Depois de ter orientado e advertido, entendendo o momento
difícil que eles viviam, Jesus está mais uma vez trazendo esperança e ânimo ao seu
povo com a urgência da manifestação da sua vinda.

Nessa ultima declaração da sua vinda, Jesus muda o padrão. Ele não coloca
mais “Ἰδοὺ”, como fez nos v. 7 e 12, para chamar a atenção do povo a confiabilidade

do que Ele disse. Agora, Ele coloca “ναί” que fortalece e traz firmeza às promessas
ditas aqui. Gallusz diz o seguinte sobre isso:

“[...] por uma repetição tripla da fórmula ἔρχομαι ταχύ (‘Estou chegando em
breve’). As primeiras duas referências a fórmula são precedidas pela
partícula demonstrativa ἰδού ('veja!'; 22:7, 12) o que ressalta a confiabilidade
do ditado, enquanto no terceiro texto, o ditado é introduzido pela partícula
afirmativa ναί (‘certamente’; 22:20) que ancora a promessa. A força retórica
do simbolismo numérico não deve ser esquecido. O enfático tríplice ditado
traz uma acentuação da breve vinda de Jesus e fornece um clímax apropriado
para o livro [...] O termo funciona como uma espécie de refrão, enfocando o
interesse teológico do autor de Apocalipse” (GALLUSZ, 2014. p. 136)

O interessante é que Jesus não inicia diferente somente, mas Ele acrescenta a
expressão “Ἀμήν”, que pode significar assim seja, ou uma disposição para viver com

essa certeza. Ou seja, tanto “ναί” quanto “Ἀμήν” trazem fortalecimento para a vinda
de Jesus no livro. Eles funcionam um clímax de que Jesus virá em breve (OSBORNE,
2014. p. 891-892). Fortalecendo essa ideia, Koester diz que a expressão “Ἀμήν” pode
se referir ao pressuposto de que Cristo já está presente entre os leitores. Eles podem
falar com ele porque ele agora caminha entre eles (KOESTER, 2014. p. 857-858). Ou
seja, Jesus já está no meio da sua igreja, guardando, protegendo e se relacionando
com ela, e Ele já veio em juízo nesse mundo e virá de forma definitiva no futuro.

Por fim, a declaração “ἔρχου κύριε Ἰησοῦ” parece trazer um sentimento de

cansaço com esperança, pois o imperativo “ἔρχου” pode gramaticalizar situações de


estresse emocional intenso, ou comunicar uma urgência afetiva para o público
(GALLUSZ, 2014. p. 136). Além disso, ela é usada em 1Co 16.22 e no Didaquê 10.6.
Em 1Co 16, Paulo parece expressar seu sentimento de estresse emocional, clamando
pelo Senhor para tratar da igreja e fortalecer sua esperança. Já no Didaquê, a
expressão aparece no contexto de uma admoestação ao arrependimento (“Se alguém
31
é santo, venha; se alguém não é, arrependa-se. Maranata. Amém”). Para Osborne, “o
retomo de Cristo é tanto uma promessa quanto uma advertência” (OSBORNE, 2014.
p. 891-892). Contudo, parece-me mais um grito cansado de alguém que busca
esperança.

Portanto, as declarações de Cristo fortalecem a mensagem de que as palavras


do livro devem ser guardadas, pois elas trazem bênçãos no já e no porvir. Contudo,
aqueles que não fazem isso, receberão as punições no já e no porvir.

v. 22.21: A bênção final

Ao finalizar seu livro, João traz esperança para o povo de Deus permanecer
fiel, porque a graça é a fonte de capacitação deles. O v. 21 nos lembra que o gênero
hibrido está presente em Apocalipse. Ao terminar seu livro assim, João indica que
essa é uma carta que lidava com algumas situações reais da vida da igreja, mas que
ele trazia esperança e ânimo através da mensagem de Jesus, assim com Paulo fazia
em suas cartas (OSBORNE, 2014. p. 892)

No final do seu livro, João suplica que o Senhor manifeste sua graça sobre a
igreja. É isso que podemos entender da expressão “τοῦ κυρίου ⸀Ἰησοῦ”, na qual,
provavelmente, é um genitivo subjetivo, indicando que é o Senhor Jesus é a fonte
transbordante da graça (OSBORNE, 2014. p. 892). Stefanovic complementa: “[...] é
pela graça de Cristo que as promessas do livro se tornarão realidade [...]
(STEFANOVIC, 2002. p. 610).

A dificuldade que existe é para quem era a bênção final de Apocalipse. Porque
uma variante textual relacionada à palavra “πάντων” apresenta as seguintes situações:

1) παντων των αγιων; 2) παντων ημων; 3) των αγιων. Talvez, os escribas perceberam

que a expressão “πάντων” era muito genérica e decidiram limitar a bênção aos santos,
pois é isso que se vê no epílogo. A graça e as bem-aventuranças são para todos os
santos. Logo, precisamos entender que “todos” do v. 21 são “todos os santos”.

Outra questão interessante é a variante textual do “Ἀμήν”. Faz sentido inseri-

lo? O que ele acrescentaria? Segundo Blount, uma conclusão com o “Ἀμήν”,
forneceria um final antifonal para toda a narrativa de João (BLOUNT, 2009. p. 404).
Ou seja, seria um grande coro do “assim seja e vivamos conforme as verdades do
32
livro”. Portanto, apesar de ser preferível o texto sem o “Ἀμήν”, a variante textual não
muda o sentido do texto e acrescenta aspectos interessantes.

2.5 MENSAGEM PARA A ÉPOCA DA ESCRITA

João escreve àqueles que enfrentavam embates externos e internos na igreja


da Ásia. Deste modo, a mensagem do epílogo era para eles crerem nas palavras do
Apocalipse, viverem conforme os ensinamentos dele e se animarem diante das
promessas de Cristo, enfrentando tudo com a certeza de que o reino messiânico já
raiou e virá em sua plenitude.

2.6 MENSAGEM PARA TODAS AS ÉPOCAS

Todas as épocas enfrentam seus dilemas. Diante disso, o epílogo de


Apocalipse nos encoraja a confiar na Palavra do Senhor, nos anima para enfrentar
nossos medos, esperando a manifestação do nosso Senhor, e nos motiva a buscar
uma vida de santidade, pois assim revelaremos que somos filhos de Deus e
expandiremos o reino dele aqui.

2.7 TEOLOGIA DO TEXTO

2.7.1 Implicações para a Teologia Bíblica


É possível ver os seguintes temas de Teologia Bíblica em Ap 22.6-21:

• O reino do Messias já presente, mas ainda não em plenitude.


• A identidade santa e militante da igreja.
• As tipologias do AT aplicadas a Cristo.
• O relacionamento cuidadoso entre Cristo e seu povo.
• Lex Talionis: bênçãos e maldições.

2.7.2 Implicações para Teologia Sistemática


É possível ver os seguintes temas de Teologia Sistemática em Ap 22.6-21:

• Os atributos de Deus na pessoa de Cristo:


Cristo é a segunda pessoa da Trindade, tendo a mesma natureza divina que o
Pai. Isso nos assegura que temos um Deus poderoso ao nosso lado, pois Ele
estará conosco até o fim.

33
• A vinda de Cristo e seus eventos:
A primeira vinda trouxe o raiar do reino de Deus e os últimos dias. Agora,
aguardamos a segunda vinda, esperançosos de que Cristo avançará o seu
reino até o fim.
• A Trindade santa:
Nosso Deus é um Deus relacional, por isso são três pessoas em uma
divindade. Logo, podemos desfrutar desse relacionamento íntimo com o
Senhor.
• A vocação externa dos eleitos:
A eleição precisa ser evidenciada com a vida. Por isso, o chamado é ser santo
e continuar praticando a justiça em todo tempo.
• A Escritura como cânon pactual:
A Bíblia toda é a palavra de Deus para nossa orientação e direcionamento. Por
isso, devemos buscar nela a sabedoria de Deus para vivermos.

2.7.3 Implicações para a Teologia Prática


É possível ver os seguintes temas para a Teologia Prática:

• Consolo diante das lutas, dificuldades e desânimos da vida.


• Segurança em saber que a bíblia sempre tem palavras fiéis e verdadeiras que
nos orientam em todo tempo.
• Alegria em saber que bênçãos escatológicas são materializadas em nossa
vida, porque Cristo é a testemunha fiel que venceu por nós.

CONCLUSÃO
Diante das questões levantadas, da análise textual e teológica do texto, e da
proposta de proposição exegética é possível concluir que:
a) A divergência entre exegetas afirma a dificuldade de lidar com o epílogo de
Apocalipse.
b) A vinda breve de Cristo deve nos fazer olhar para a história e ver o que Ele
já tem feito.
c) A mensagem do Apocalipse, assim como da Palavra de Deus, deve ser
anunciada urgentemente, porque essa é a era da salvação que foi inaugurada
por Cristo.

34
d) A Bíblia é a Palavra de Deus que traz verdades eternas para nos direcionar
a uma vida de fidelidade e esperança naquilo que Jesus tem feito na história
desse mundo.

REFERÊNCIAS
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EXEGESIS OF REVELATION 22.16. Chicago, JSNT37, 1989, p. 103-116.

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Clark. Edinburgh, 1993.

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