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No geral, é um ótimo artigo, muito bem escrito, com bom referencial bibliográfico.
O artigo segue um tema possível de argumentação, porém, deveria ser menos
dogmático nas afirmações, muitas das quais são “apressadas” demais.
Linguagem mais comedida como “pode significar”, ou “provavelmente significa”
é mais apropriada, especialmente quando as conclusões são muito rápidas
baseadas em argumentações não tão convincentes, que tendem a
desconsiderar os tipos variados de uso que João faz do AT em Apocalipse.
Atribuir todo o cumprimento de Ap 1.7 à liderança judaica do primeiro século é
extremamente forçado na minha opinião. Isso primeiramente dependeria de
provar que o livro foi escrito antes da década de 70, o que tem sido uma tarefa
bem ingrata para autores com Gentry e outros. Mesmo que se pretenda dizer
que isso se dará na segunda vinda de Cristo, então, limitar a cena de juízo
apenas para aquelas pessoas também soa estreito demais. Por outro lado,
partindo do pressuposto da Escatologia amilenista, do já mas ainda não, o seu
trabalho ficaria muito mais “fácil” de ser comprovado. Do mesmo modo que
1Aluno de Novo Testamento no STM do Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ) e ministro
presbiteriano da 2ª Igreja Presbiteriana de Jaboticabal (2ª IPJ).
Mateus 24 tem uma perspectiva profética que aponta para a geração judaica
daquele período sob juízo de Deus, mas extrapola isso para a “volta de Cristo e
a consumação do século”, (coisas que muito forçosamente se aplicariam
exclusivamente ao ano 70, onde nem sequer a cidade foi de todo destruída),
também Apocalipse 1 pode fazer uma menção retroativa ao juízo já consumado
sobre a geração judaica do século 1 (se o livro foi escrito depois da década de
70), e de um momento final de juízo sobre todas as tribos, não apenas as tribos
de Israel, mas sobre o mundo todo.
RESUMO
2 Comentaristas que destacam isso: BEALE, G. K. The book of Revelation: a commentary on the Greek
text (The new international Greek Testament commentary). Michigan: Wm. B. Eerdmans Publishing,
1999; BLOUNT, Brian K. Revelation (2009): A Commentary (The New Testament Library). Presbyterian
Publishing Corporation. Edição do Kindle; BORING, M. Eugene. Revelation (INTERPRETATION - A Bible
Commentary for Teaching and Preaching). Kentucky: John Knox, 1989; DUVALL, J. Scott. Revelation
(Teach the Text Commentary Series). Baker Publishing Group. Edição do Kindle; LADD, George Eldon.
Apocalipse: Introdução e Comentário. Tradução: Hans Udo Fuchs. São Paulo: Vida Nova, 1986; GENTTRY
Jr., Kenneth L. O Apocalipse para leigos. Tradução: André Mattos Duarte. Brasiília, DF: Monergismo, 2016;
OSBORNE, Grant R. Apocalipse: comentário exegético. Tradução de Robinson Malkomes, Tiago Abdalla
T. Neto. - São Paulo: Vida Nova, 2014.
algumas coisas que parecem universais são específicas e algumas coisas que
parecem ambíguas são únicas.
PALAVRAS-CHAVE
INTRODUÇÃO
3 BEALE, G. K. The book of Revelation: a commentary on the Greek text (The new international Greek
Testament commentary). Michigan: Wm. B. Eerdmans Publishing, 1999. p. 72-76.
4 PATE, C. Marvin (org.). O Apocalipse: quatro pontos de vistas. Trad.: Victor Deakins. São Paulo: Editora
Dessa forma, este artigo visa a contribuir com a discussão sobre esse
assunto, trazendo uma interpretação que especifica as tribos da terra como o
povo judeu do primeiro século e que seu lamento é pelo terrível juízo que caiu
sobre ele. Isso será feito por meio de análises semânticas, gramaticais, literárias
e contextuais das expressões “καὶ οἵτινες”, “φυλαὶ τῆς γῆς”, “ἔρχεται μετὰ
8 AUNE, David E. Word Biblical Commentary: Revelation 1-5. Thomas Nelson, 1997; BARR, David L. Tales
of the End: A Narrative Commentary on the Book of Revelation. Polebridge Press. Edição do Kindle;
BEAGLEY, Alan James. The "Sitz im Leben" of the Apocalypse with particular reference to the role of the
Church's enemies. Waiter de Gruyter, 1987; BEALE, G. K. The book of Revelation: a commentary on the
Greek text (The new international Greek Testament commentary). Michigan: Wm. B. Eerdmans
Publishing, 1999; BLOUNT, Brian K. Revelation (2009): A Commentary (The New Testament Library).
Presbyterian Publishing Corporation. Edição do Kindle; BORING, M. Eugene. Revelation
(INTERPRETATION - A Bible Commentary for Teaching and Preaching). Kentucky: John Knox, 1989;
DUVALL, J. Scott. Revelation (Teach the Text Commentary Series). Baker Publishing Group. Edição do
Kindle; GILL, John. Exposition on the Entire Bible-Book of Revelation. Grace Works Multimedia. Edição
do Kindle; GUNDRY, Robert H. Commentary on Revelation (Commentary on the New Testament Book
#19). Baker Publishing Group. Edição do Kindle; HENDRIKSEN, William. Mais que vencedores. Tradução:
Wadislau Martins. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2018; KIDDLE, Martin. The Revelation of St. John (The
Moffatt New Testament Commentary). SOURCE DIGITAL PUBLISHING. Edição do Kindle; KISTEMAKER,
Simon. Comentário de Apocalipse. Tradução: Valter Martins. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004;
KOESTER, Craig R. Revelation: A new translation with introduction and commentary; Vol. 38. London:
The Anchor Yale Bible, 2014; LADD, George Eldon. Apocalipse: Introdução e Comentário. Tradução: Hans
Udo Fuchs. São Paulo: Vida Nova, 1986; LEITHART, Peter J. Revelation 1-11. T&T Clark, 2018; METZGER,
Bruce M. Breaking the Code - Participant's Book: Understanding the Book of Revelation. Abingdon Press.
Edição do Kindle; MORRIS, Leon. REVELATION: AN INTRODUCTION AND COMMENTARY. Illinois. IVP
Academic, 2009; ROLOFF, Jorgen. Revelation: a continental commentary. Translated by John E. Alsup.
Minneapolis: Fortress Press, 1993; SMALLEY, Stephen S. THE REVELATION TO JOHN: A Commentary on
the Greek Text of the Apocalypse. Grã-Bretanha: Promoting Christian Knowledge, 2005; STEFANOVIC,
Ranko. Revelation of Jesus Christ: commentary on the book of Revelation. Berrien Springs: Andrews
University Press, 2002; OSBORNE, Grant R. Apocalipse: comentário exegético. Tradução de Robinson
Malkomes, Tiago Abdalla T. Neto. - São Paulo: Vida Nova, 2014; WILLIAMSON, Peter S. Revelation
(Catholic Commentary on Sacred Scripture). Baker Publishing Group. Edição do Kindle.
verá, até quantos os transpassaram” de Ap 1.7 como sendo o reconhecimento
do senhorio de Cristo por todos, gentios e judeus. Boring, por exemplo, diz “todos
verão e reconhecerão o senhorio de Cristo, inclusive seus inimigos que o
transpassaram”9. Koester observa que o texto indica uma ampliação dos
adversários de Jesus, incluindo os do tempo de João e dos demais períodos da
história10. Apesar do assunto parecer resolvido, pesquisas têm questionado a
posição.
anterior, pois o “καὶ” é epexegético. Gentry11 diz que a expressão pode ser mais
bem traduzida por “isto é, a saber, os quais”, mostrando que os “que o verão”
são identificados como “os que o transpassaram”, diferentemente dos que
defendem a união dos grupos de gentios e judeus12.
9 BORING, M. Eugene. Revelation (INTERPRETATION - A Bible Commentary for Teaching and Preaching).
Kentucky: John Knox, 1989. p. 80.
10 KOESTER, Craig R. Revelation: A new translation with introduction and commentary; Vol. 38. London:
as frases. Ou seja, as frases: καὶ ⸁ὄψεται αὐτὸν πᾶς ὀφθαλμὸς // καὶ οἵτινες °αὐτὸν ἐξεκέντησαν, // καὶ
κόψονται [...], progridem em paralelos, resultando em um choro geral, envolvendo judeus e gentios
(OSBORNE, Grant R. Apocalipse: comentário exegético. Tradução de Robinson Malkomes, Tiago Abdalla
T. Neto. - São Paulo: Vida Nova, 2014. p. 77-78). Entretanto, o paralelismo falha porque “οἵτινες” só
aparece na frase central e está no nominativo, explicando o termo “ὀφθαλμὸς” que também está no
nominativo.
13 GENTTRY Jr., O Apocalipse para leigos, p. 149.
14 A posição que apresenta Ap 20.4 como um único grupo para os decapitados, e não dois, é defendida
pelo Dr. Leandro Lima, quando discutíamos em sala sobre as ressurreições de Ap 20 (Notas de sala de aula
na disciplina APOCALIPSE DE JOÃO: Estudo Teológicos e Literários, no Centro de Pós-Graduação Andrew
Jumper).
Além desse aspecto gramatical, quando analisamos o discurso e
observamos as escolhas feitas por João na escrita do vs. 7, é possível entender
que “os que o transpassaram” explica e específica “os que o verão”. Segundo
Runge15, as escolhas de palavras, expressões e categorias gramaticais implicam
em significados pretendidos pelo autor. Sendo assim, a escolha da expressão
“καὶ οἵτινες”, por parte de João, implica na ideia de descrever aqueles que
verão a vinda de Cristo nas nuvens. Para indicar que seriam dois grupos, e sendo
um grupo que se estenderia até os judeus que mataram Jesus, João poderia
usar a palavra “ἄχρι”, indicando uma extensão de pessoas até um grupo
15 Runge diz: “Uma das principais pressuposições da gramática do discurso é que a escolha implica
significado. Tudo de nós fazemos escolhas enquanto nos comunicamos: o que incluir, como priorizar e
ordenar eventos, como representar o que queremos dizer. As escolhas que fazemos são dirigidas por
nossos metas e objetivos da comunicação. A implicação é que, se uma escolha é feita, então há um
significado associado à escolha. Vamos descompactar um pouco essa ideia. Se eu optar por fazer X quando
Y e Z também são opções disponíveis, isso significa que tenho no mesmo tempo optou por não fazer Y ou
Z. A maioria dessas decisões são tomadas sem consciência pensamento. Como falantes do idioma, apenas
fazemos o que melhor se encaixa no contexto com base em o que queremos comunicar. Embora
possamos não pensar conscientemente sobre essas decisões, ainda assim as estamos tomando. O mesmo
princípio vale para os escritores do NT. Se um escritor escolheu usar um particípio para descrever uma
ação, ele ao mesmo tempo optou por não usar um indicativo ou outro verbo finito de. Isso implica que há
algum significado associado a essa decisão” (RUNGE, Steven E. DISCOURSE GRAMMAR of The GREEK
NEW TESTAMENT: A PRACTICAL INTRODUCTION FOR TEACHING AND EXEGESIS. Hendrickson Publishers,
2010. p. 3).
16 Segundo o Léxico Grego-Português do NT baseado em domínios semânticos, a expressão “ ἄχρι“ pode
ter o significado de extensão até um alvo ou terminando nele. (LOUW, Johannes P.; NIDA, Eugene A.
(edit.). Léxico Geego-Português do Novo Testamento baseado em domínios semânticos. Trad. Vilson
Scholz. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013. p. 642).
17 Beale diz: “[...] não se limitam aos israelitas, mas afirmado de todas as nações. Aqueles que choram não
são aqueles que literalmente crucificaram Jesus, mas aqueles que são culpados de rejeitá-lo. Esta
provavelmente não é uma referência para todas as pessoas sem exceção, mas para todas as nações que
crêem, como indicado claramente por 5:9 e 7:9 (cf. o plural de φυλή [“tribo”] como uma referência
universal aos incrédulos em 11:9; 13:7; 14:6) (BEALE, G. K. The book of Revelation: a commentary on the
Greek text (The new international Greek Testament commentary). Michigan: Wm. B. Eerdmans
Publishing, 1999. p. 191-192.
que João reinterpreta a profecia de Zacarias 12.10-14, aplicando a profecia a
todos os habitantes da terra” e não somente a “Casa de Davi”. Boring18,
acompanhando Beale, diz que João universaliza o que era restrito apenas aos
habitantes de Jerusalém. Apesar de entender esse movimento de
reinterpretação do sujeito ao longo da história 19, pesquisas têm questionado
essa posição.
18 Boring diz: “O texto de Zacarias limitava-se "aos habitantes de Jerusalém", mas João universaliza para
incluir "todas tribos da terra" (BORING, M. Eugene. Revelation (INTERPRETATION - A Bible Commentary
for Teaching and Preaching). Kentucky: John Knox, 1989. p. 80).
19 “A definição do efeito metafórico permite-nos, pondo em relação discurso e língua, objetivar, na
análise, o modo de articulação entre estrutura e acontecimento. O efeito metafórico, nos diz M. Pêcheux,
é um fenômeno semântico produzido por uma substituição contextual [...]” (ORLANDI, Eni P. Análise do
Discurso: princípios e procedimentos. Campinas-SP: Pontes Editores, 2015. p. 77).
20 Essa questão é levantada por teólogos amilenistas. Por exemplo, Kistemaker diz que a expressão pode
se referir às tribos de Israel ou aos povos da terra. (KISTEMAKER, Simon. Comentário de Apocalipse.
Tradução: Valter Martins. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004. p. 120).
21 Além disso, o autor destaca que expressões como “terra de Judá” (Mt 2.6), terra da Judeia (Jo 3.22),
“terra de Israel” (Mt 2.20-32), “terra de Zebulom” (Mt 4.15), “terra de Naftali” (Mt 4.15) e “terra dos
judeus” (At 10.39), apontam para o significado restrito e específico da palavra “ γῆς” como “Terra
Prometida ou Terra de Israel”. (GENTTRY Jr., O Apocalipse para leigos, p. 48).
22 CHILTON, David. THE DAYS OF VENGEANCE: An Exposition of the Book of Revelation. Texas: Dominion
geografia de Jerusalém, sua história e o conceito de cidade no AT em BEAGLEY, Alan James. The "Sitz im
Leben" of the Apocalypse with particular reference to the role of the Church's enemies. Waiter de
Gruyter, 1987.
24 MATHEWSON, David L.; EMIG, Elodie Ballantine. Intermediate Greek Grammar. Baker Publishing
judaica29. Contudo, ele utiliza a palavra “φυλαὶ” que lembra seu público de toda
a história da nação israelita, das alianças com o Senhor e do distanciamento
deles diante de Deus. Logo, a expressão “φυλαὶ τῆς γῆς” carrega em si
lembranças da história do povo de Israel, a tradição judaica, sentimentos e
convicções que só podem ser compreendidas de forma mais completa com o
significado de que são as tribos da terra de Israel.
25 Até porque, se João quisesse trazer esse aspecto universal, poderia usar a palavra “ κόσμον”.
26 Gregg pontua: “No Antigo Testamento (e também no Novo) as nações gentis são chamadas
simbolicamente de mar, em contraste com a terra (isto é, Israel). Assim que, frases como os que habitam
na terra e reis da terra podem ser referências ao povo de Israel e seus respectivos governantes” (GREGG,
Steve (ed). Revelation: Four Views, Revised and Updated. Thomas Nelson, 2020. p. 22)
27 O gráfico de Moyises mostra que Apocalipse é o livro mais veterotestamentário do NT. (MOYISE, Steve.
The Old Testament in the Book of Revelation. Journal for the Study of the New Testament. Sheffield:
T&T Clark, 1995. p. 16).
28 O efeito pragmático são experiências de sentimentos, pensamentos, lembranças e situações específicas
comunicadas através de palavras adaptadas a um contexto para um determinado público. Runge diz: “Este
efeito não é algum significado semântico oculto subjacente à frase, apenas um efeito de usá-lo da maneira
certa no contexto certo. O efeito pragmático é alcançado por usando uma expressão relacional mais
distante (seu) em um contexto onde uma menos distante vale (meu). A norma esperada é que eu usaria
a expressão relacional mais próxima possível. Afinal, eles também são meus filhos! Chamá-los de meus
filhos ou filhos é o esperado norma. Quando me afasto dessa norma, um efeito pragmático específico de
“distanciamento” é alcançado, embora o que eu disse fosse completamente verdadeiro”. (RUNGE,
DISCOURSE GRAMMAR of The GREEK NEW TESTAMENT: A PRACTICAL INTRODUCTION FOR TEACHING
AND EXEGESIS, p. 4-5)
29 LOUW; NIDA (edit.). Léxico Geego-Português do Novo Testamento baseado em domínios
semânticos, p. 118).
Portanto, a expressão “φυλαὶ τῆς γῆς” está relacionada com as tribos da
Terra de Israel, porque ela específica a terra e é usada com efeitos
perlocucionários30 e pragmáticos ao público de João.
30 Os efeitos perlocucionários são aspectos que provocamos nas pessoas ao anunciar palavras (convencer,
persuadir, surpreender e etc). VANHOOZER, Kevin J. Há um significado nesse texto? Interpretação
bíblica: os enfoques contemporâneos. Trad.: Álvaro Hattnher. São Paulo: Vida, 2005. p. 245.
31 KISTEMAKER, Comentário de Apocalipse, p.120.
32 Gundry, Robert H. Commentary on Revelation (Commentary on the New Testament Book #19). Baker
Press, 1987; WILSON, Douglas. When the Man Comes Around: A Commentary on the Book of Revelation.
Canon Press. Edição do Kindle; GENTRY JR., Kenneth L. O Apocalipse para leigos: você pode entender a
profecia bíblica. Brasília: Monergismo, 2010; OSBORNE, Grant R. Apocalipse: comentário exegético.
Tradução de Robinson Malkomes, Tiago Abdalla T. Neto. - São Paulo: Vida Nova, 2014; BLOUNT, Brian K.
Revelation (2009): A Commentary (The New Testament Library). Presbyterian Publishing Corporation.
Edição do Kindle
34 KISTEMAKER, Comentário de Apocalipse, p. 120.
35 BLOUNT, Revelation (2009): A Commentary (The New Testament Library), p. 38.
Ambos os versículos trazem imagens de Deus vindo com as nuvens para
julgar o Egito e Nínive. A literatura profética usa esse recurso apocalíptico para
descrever eventos históricos de julgamento da parte do Senhor 36.
“Eis que ele vem com (μετὰ) as “Eu estava olhando nas minhas
nuvens, e todo olho o verá [...]”- NAA visões da noite. E eis que vinha com
(ἐπὶ.) as nuvens do céu alguém como
um filho do homem [...]” – NAA
que está sobre as nuvens. No caso de João, ele usa a preposição “μετὰ”,
destacando o juízo que está chegando, pois usa a preposição em genitivo de
associação ou companhia39. Logo, a vinda nas nuvens é uma vinda de juízo no
texto de Ap 1.7.
39 ALEXANDRE Jr., Manuel. Exegese do Novo Testamento: um guia básico para o estudo do texto
bíblico. São Paulo: Vida Nova, 2016. p. 154.
40 AUNE, David E. Word Biblical Commentary: Revelation 1-5. Thomas Nelson, 1997; BARR, David L. Tales
of the End: A Narrative Commentary on the Book of Revelation. Polebridge Press. Edição do Kindle;
BEAGLEY, Alan James. The "Sitz im Leben" of the Apocalypse with particular reference to the role of the
Church's enemies. Waiter de Gruyter, 1987; BEALE, G. K. The book of Revelation: a commentary on the
Greek text (The new international Greek Testament commentary). Michigan: Wm. B. Eerdmans
Publishing, 1999; BLOUNT, Brian K. Revelation (2009): A Commentary (The New Testament Library).
Presbyterian Publishing Corporation. Edição do Kindle; BORING, M. Eugene. Revelation
(INTERPRETATION - A Bible Commentary for Teaching and Preaching). Kentucky: John Knox, 1989;
DUVALL, J. Scott. Revelation (Teach the Text Commentary Series). Baker Publishing Group. Edição do
Kindle; GILL, John. Exposition on the Entire Bible-Book of Revelation. Grace Works Multimedia. Edição
do Kindle; GUNDRY, Robert H. Commentary on Revelation (Commentary on the New Testament Book
#19). Baker Publishing Group. Edição do Kindle; HENDRIKSEN, William. Mais que vencedores. Tradução:
Wadislau Martins. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2018; KIDDLE, Martin. The Revelation of St. John (The
Moffatt New Testament Commentary). SOURCE DIGITAL PUBLISHING. Edição do Kindle; KISTEMAKER,
Simon. Comentário de Apocalipse. Tradução: Valter Martins. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004;
KOESTER, Craig R. Revelation: A new translation with introduction and commentary; Vol. 38. London:
The Anchor Yale Bible, 2014; LADD, George Eldon. Apocalipse: Introdução e Comentário. Tradução: Hans
Udo Fuchs. São Paulo: Vida Nova, 1986; LEITHART, Peter J. Revelation 1-11. T&T Clark, 2018; METZGER,
Bruce M. Breaking the Code - Participant's Book: Understanding the Book of Revelation. Abingdon Press.
Edição do Kindle; MORRIS, Leon. REVELATION: AN INTRODUCTION AND COMMENTARY. Illinois. IVP
Academic, 2009; ROLOFF, Jorgen. Revelation: a continental commentary. Translated by John E. Alsup.
Minneapolis: Fortress Press, 1993; SMALLEY, Stephen S. THE REVELATION TO JOHN: A Commentary on
the Greek Text of the Apocalypse. Grã-Bretanha: Promoting Christian Knowledge, 2005; STEFANOVIC,
Ranko. Revelation of Jesus Christ: commentary on the book of Revelation. Berrien Springs: Andrews
University Press, 2002; OSBORNE, Grant R. Apocalipse: comentário exegético. Tradução de Robinson
Malkomes, Tiago Abdalla T. Neto. - São Paulo: Vida Nova, 2014; WILLIAMSON, Peter S. Revelation
(Catholic Commentary on Sacred Scripture). Baker Publishing Group. Edição do Kindle.
41 LADD, George Eldon. Apocalipse: Introdução e Comentário. Tradução: Hans Udo Fuchs. São Paulo: Vida
“Eis que ele vem com as nuvens, e todo “[...] Mas eu lhes digo que, desde agora,
olho o verá, até mesmo aqueles que o vocês verão o Filho do Homem sentado
traspassaram [...]” – NAA à direita do Todo-Poderoso e vindo
sobre as nuvens do céu” – NAA
42 Idem.
43 MATHEWSON, David L. Verbal aspect in the Book of Revelation: the function of Greek verb tenses in
John's Apocalypse (Linguistic Biblical studies, vol. 4). Boston: BRILL, 2010. p. 72.
44 Chilton aponta que a linguagem de João no Apocalipse é a mesma que Jesus usa para alertar o sumo
sacerdote e os membros do Sinédrio. CHILTON, THE DAYS OF VENGEANCE: An Exposition of the Book of
Revelation, p. 39.
A expressão “vocês verão”, no texto de Mateus 26.64, aponta para o juízo
que a liderança judaica45 receberia pelas blasfêmias, mentiras e incredulidade
diante de Jesus, o Cristo de Deus.
Eis que ele vem com as nuvens, e todo Pois quem, nesta geração adúltera e
olho o verá, até mesmo aqueles que o pecadora, se envergonhar de mim e das
traspassaram [...]” – NAA minhas palavras, também o Filho do
Homem se envergonhará dele, quando
vier na glória do seu Pai [...]” – NAA
45 Gentry diz: “E note que ele se refere ao sumo sacerdote e às pessoas reunidas ao redor dele: “[Vós]
vereis”. Isso deve ser uma referência ao juízo em 70 d.C., profetizado em vários lugares por Jesus (veja
em particular Mt 21.33,34; 22.1-7; 24.1-34) e testemunhado por muitos que se posicionaram contra Cristo
naquele dia”. GENTRY Jr., O Apocalipse para leigos, p. 43.
46 Uttinger, falando sobre como Cristo envergonhou os incrédulos e começou a estabelecer seu reino,
disse: “Na era da Nova Aliança, como na Antiga, Deus visita o seu povo em julgamento e misericórdia.
Cristo veio “sobre as nuvens do céu” várias vezes durante a História deste mundo. Porém, mais
especialmente, ele veio com nuvens de glória e ira contra a Jerusalém apóstata no ano 70 d.C. Ele destruiu
a ordem da Antiga Aliança e revelou o esplendor do seu reino. [...]. “E então verão vir o Filho do homem
numa nuvem, com poder e grande glória. Ora, quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para
cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima. Em verdade vos digo que não
passará esta geração até que tudo aconteça” (Lucas 21.27-28, 32). “Em verdade vos digo que alguns há,
dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino” (Mateus
16.28). Observe em cada uma dessas passagens os parâmetros do primeiro século. Quando Jesus
prometeu vir rapidamente, ele quis dizer isso”. UTTINGER, Greg. Um mundo totalmente novo: O
Evangelho de acordo com Apocalipse. Edições Calcedônia. Edição do Kindle. p. 15-16
47 Gentry traz vários paralelos entre Ap 1.7 e os evangelhos, mostrando que o juízo era sobre os judeus
48 BEALE, The book of Revelation: a commentary on the Greek text (The new international Greek
Testament commentary), p. 193-195
49 BLOUNT, Brian K. Revelation (2009): A Commentary (The New Testament Library). Presbyterian
Kindle. p. 25.
55 KIDDLE, Martin. The Revelation of St. John (The Moffatt New Testament Commentary). DIGITAL
Deste modo, ao ver que Jesus estava morto pelo testemunho do soldado,
João cita o texto de Zc 12.10-14 em Jo 19.37 para mostrar que o contexto
ambíguo foi direcionado apenas para a dureza de coração e abandono do
Senhor.
Consequentemente, ao avançarmos para o texto de Ap 1.7, podemos
entender que, enquanto Zc 12.10-14 era um chamado para o povo rebelde se
arrepender, em Ap 1.7 temos um lamento diante do terrível juízo para aqueles
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste artigo foi proposto uma interpretação de Ap 1.7 que contribui para
o avanço dos estudos no livro de Apocalipse. Ele não é a palavra final para a
discussão, mas destaca uma nova abordagem exegética do livro, unindo
elementos da análise do discurso, aspectos gramaticais e da intertextualidade.
Portanto, ao apresentar as tribos da terra de Ap 1.7 como sendo o povo judeu
do primeiro século e seu lamento como uma expressão do terrível juízo de Deus,
baseado nas análises semânticas, gramaticais, literárias e contextuais das
expressões “καὶ οἵτινες”, “φυλαὶ τῆς γῆς”, “ἔρχεται μετὰ τῶν νεφελῶν” e
REFERÊNCIAL TEÓRICO
ALEXANDRE Jr., Manuel. Exegese do Novo Testamento: um guia básico
para o estudo do texto bíblico. São Paulo: Vida Nova, 2016.
64Chilton apresenta que no texto de Zc 12, o profeta fala de juízo com a intenção de chamar o povo ao
arrependimento. Já no texto de Ap 1.7, a intenção de João é apresentar o terrível julgamento a nação que
recebeu tantas dádivas de Deus, mas endureceu o coração por tanto tempo que é impossível se
arrepender. CHILTON, CHILTON, THE DAYS OF VENGEANCE: An Exposition of the Book of Revelation, p.
39.
BARR, David L. Tales of the End: A Narrative Commentary on the Book of
Revelation. Polebridge Press. Edição do Kindle.
CLARK, David S. The Message from Patmos. Titus Books. Edição do Kindle.
MOYISE, Steve. The Old Testament in the Book of Revelation. Journal for
the Study of the New Testament. Sheffield: T&T Clark, 1995.
OSBORNE, Grant R. Apocalipse: comentário exegético. Tradução de
Robinson Malkomes, Tiago Abdalla T. Neto. - São Paulo: Vida Nova, 2014.
PATE, C. Marvin (org.). O Apocalipse: quatro pontos de vistas. Trad.: Victor
Deakins. São Paulo: Editora Vida, 2003.
ROLOFF, Jorgen. Revelation: a continental commentary. Translated by John
E. Alsup. Minneapolis: Fortress Press, 1993.
RUNGE, Steven E. DISCOURSE GRAMMAR of The GREEK NEW
TESTAMENT: A PRACTICAL INTRODUCTION FOR TEACHING AND
EXEGESIS. Hendrickson Publishers, 2010