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ESTUDOS SOBRE O APOCALIPSE

Apostila com materiais compilados para Estudos de Classe

IASD Santo André - Central

Pr Roger Menezes e Pr Robson Menezes

2020
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CAPÍTULO 1

OS BASTIDORES DO APOCALIPSE
Extraído e Adaptado dos Livros: 1) “Estudos Sobre Apocalipse”; Frank B Holbrook - Editor , 2) “Pelo Sangue do Cordeiro” - Vanderlei Dorneles, 3) Revista Parousia: Princípios do
Fim - O Apocalipse a luz do Antigo Testamento; “O Apocalipse de João - Ranko Stefanovic; “ Comentário Biblico Adventista do Sétimo Dia, Vol. 7

I - Abordagens Interpretativas do Apocalipse

Os comentários sobre o Apocalipse geralmente são classificados em quatro


grandes categorias: historicismo, preterismo, futurismo e Idealismo.

- Historicismo - O método histórico pode seguir duas abordagens básicas: 1)


Abordagem "linear”, que interpreta o Apocalipse como uma sequência de
acontecimentos que se inicia na era apostólica e continua passo a passo até o
grandioso ponto culminante escatológico, 2) a abordagem da "recapitulação', a qual
interpreta que as várias Visões do Apocalipse percorrem o mesmo terreno desde os dias
do profeta até o fim

dos tempos. Este último tipo de interpretação tem sido modelo para os adventistas do
Sétimo Dia." Em um ou outro caso as profecias são compreendidas com seu
cumprimento no tempo histórico entre os dias de João e o estabelecimento do reino
eterno.
Entendemos que o método historicista é a opção mais viável e correta de
interpretarmos a profecia apocalíptica por alguns motivos : 1) Possibilita a comprovação
histórica precisa dos fatos apresentados previamente pela profecia, uma vez que a
história é usada como uma régua precisa para avaliar e julgar a credibilidade da
concretização dos eventos profetizados e dos padrões interpretativos empregados; 2)
Apresenta maior coerência na tratativa do texto base, especialmente quando comparado
ao futurismo, uma vez que respeita a progressão temporal lógica proposta pelo texto da
profecia de Daniel, fato ignorado no método interpretativo futurista; 3) Essa abordagem
foi a mais empregada para a compreensão das profecias apocalípticas ao longo da
história do cristianismo, incluindo os grandes reformadores, 4) Uma análise histórica das
bases que levaram a rejeição do historicismo nos leva primeiramente ao período da
contra-reforma, onde a intencionalidade da igreja romana era propor uma alternativa para
não ser enquadrada na profecia bíblica. Posteriormente o preterismo resultante da
contra-reforma possibilitou a as bases para outras escolas interpretativas, como o
futurismo e o idealismo (que nega os aspectos sobrenaturais e preditivos da profecia).
Assim, a própria historicidade por de trás da origem das demais escolas de interpretação
nos levam a questionar a intencionalidade e validade destas novas propostas
interpretativas.

- Preterismo - Por outro lado, o preterismo costuma interpretar todo o livro do


Apocalipse como história antiga ou enxergá-lo virtualmente dessa forma. A maioria dos
eruditos preteristas considera que as profecias do Apocalipse reflete eventos e
condições relacionadas à igreja cristã e ao Império Romano no próprio tempo de João,
possivelmente alcançando também um breve período além daquele tempo, para
abranger acontecimentos antecipados por João. Há, porém, algumas exposições
preteristas que admitiriam que as profecias do Apocalipse chegassem até Constantino, o
Grande, no início do quarto século, e as posteriores possivelmente pertencendo a um
período ainda futuro em nossos dias.

Futurismo - O sistema futurista de interpretação vê o cumprimento da maioria do


Apocalipse restrito a um breve período de tempo ainda futuro em nossos dias. Uma
classe secundária de futurismo , em que muitos futuristas e mesmo muitos evangélicos
se encontram , é o pré-tribulacionismo / dispensacionalismo . Esta abordagem específica
normalmente interpreta Apocalipse 4 : 1 até o capítulo 19 : 14 como um período de sete
anos ainda no futuro período que se inicia com um “ arrebatamento ” secreto, e
assinalado no final pelo glorioso e visível aparecimento de Cristo . Os pré-
tribulacionistas / dispensacionalistas consideram esse período de sete anos como a
septuagésima semana de anos da profecia de Daniel 9 : 24-27 , embora a sexagésima
nona semana tenha terminado no início da era cristã .

Idealismo - também chamado de abordagem espiritual, ou abordagem alegórica, ou


abordagem não literal. Esta metodologia interpretativa dos livros apocalípticos vê todas
as imagens que aparecem nestes como símbolos não-literais.

Entende categoricamente que não existe nenhuma profecia temporal real nos livros de
Daniel e Apocalipse , apontando para eventos futuros, tão pouco o fluxo temporal de
passado , presente e futuro na narrativa. Desta forma, os livros de Daniel e Apocalipse
devem apenas servir como lições morais, e gerar sentimentos espirituais que nos
aproximem de Deus.

IDEALISMO
(Ausência do tempo)

II - Exegese básica do Apocalipse

- Sobre a autoria - O autor do Apocalipse se identifica várias vezes como “João” (Ap
1:1,4,9; 21:2; 22:8). A Forma grega para o nome , Iōannēs (ver Lucas 1:13) , representa o
nome hebraico Yochanan, Joanã, que ocorre várias vezes nos últimos livros do AT, nos
livros apócrifos e em escritos de um grande historiador judaico, Flavius Josefo. Isso
evidencia que o escritor era judeu. Várias evidências indicam que João era o autor, e não
um pseudônimo. Embora haja algumas diferenças no estilo de escrita, por outro lado
existe uma grande proximidade entre os estilos de escrita do Apocalipse e o Evangelho
de João.

Com base nessa tradição antiga, a afirmação no final do evangelho “este é o


discípulo que dá testemunho a respeito destas coisas e que as escreveu; e sabemos

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que o seu testemunho é verdadeiro" (Jo 21:24)- parece ser o depoimento dos auxiliares
de João quanto à veracidade do relato. Se tal reconstrução das evidências estiver
correta, não fica difícil justificar as diferenças linguísticas e literárias entre o Apocalipse,
escrito quando o apóstolo estava sozinho em Patmos, e o evangelho, composto com a
ajuda de um ou mais companheiros de fé, em Éfeso.

As evidencias anteriores, pode-se acrescentar que há alguns paralelos literários


notáveis entre o Apocalipse e o evangelho de João, os quais sugerem a identidade da
autoria.

O Apocalipse fala da "água da vida" (Ap 21:6; 22:17), e o evangelho, da "água viva" (Jo
4:10, O Apocalipse convida: "Aquele que tem sede venha" (Ap 22:17), e o evangelho
declara: De alguém tem sede, venha" (Jo 7:37). A palavra opsis, "aparência" ou “face”, é
usada somente nos escritos joaninos no NT (Jo 7:24; 11:44; Ap 1:16). O mesmo se pode
dizer das expressões térein ton logon, "manter minha palavra" (Jo 8:51, 52, 55; 14:23, 24;
15:20; 17:6; 1Jo 2:5; Ap 3:8,10; 22:7, 9), e onoma autö, "seu nome", literalmente, "um
nome para ele" (Jo l:6; 3:1; Ap 6:8).

Com exceção de referências diretas aos simbolismos do AT, Cristo só é


caracterizado como Cordeiro no evangelho de João e no Apocalipse (Jo 1:29, 36; Ap 5:6
e outras 28 vezes). Portanto, embora alguns refutem as evidências contra a autoria
joanina do Apocalipse, é preciso reconhecer que os argumentos favoráveis ao ponto de
vista tradicional de que o apóstolo João é o autor do Apocalipse são razoáveis e
sensatos.

- Sobre a Datação - O testemunho dos primeiros escritores cristãos é quase unânime


quanto ao Apocalipse ter sido escrito durante o reinado de Domiciano, imperador
romano. A respeito do Apocalipse, Irineu, que afirmou ter feito contato pessoal com João
por intermédio de Policarpo, diz: "Pois essas coisas não foram vistas há muito tempo,
mas quase em nossos dias, no final do reinado de Domiciano" (op. cit., v.30.3; ANF, vol.
1, p. 559, 560). Vitorino (m. 303 d.C.) declarou: "Quando João disse essas coisas, estava
na ilha de Patmos, condenado ao labor nas minas, por César Domiciano. Logo, foi ali que
ele viu o Apocalipse" (Commentary on the Apocalypse, sobre Ap 10:11; ANE, vol. 7, p.
353; ver com. de Ap 1:9), Eusébio (op. cit., iii.20.8, 9) registra que João foi enviado a
Patmos por Domiciano e retornou para Éfeso quando os banidos injustamente pelo
imperador foram libertados por seu sucessor, Nerva (96-98 d.C., ver vol. 6, p. 75). Esses
testemunhos cristãos, de período tão remoto, nos levam a datar a escrita do Apocalipse
durante o período do reinado de Domiciano, que terminou em 96 d.C, ou seja , foi escrito
numa data muito próxima a este marco referencial (96 d.c.)

- Sobre o Propósito - Para entender o Propósito do livro (1:1b) : O prólogo afirma que o
propósito do Apocalipse é mostrar ao povo de Deus as coisas que em breve devem
acontecer (Ap 1:1). E obvio que a descrição e acontecimentos futuros ocupa boa parte
do livro. Ao passo que a primeira metade do Apocalipse (cap. 1-11) delineia, de modo
geral, acontecimentos mundiais que ocorrerão entre o 1° século e o tempo do fim, a
segunda metade (cap. 12-22) lida, em primeiro lugar, com o tempo do fim e os
acontecimentos que levam à segunda vinda.

Essa divisão sugere a pergunta : Como o livro pode revelar tanto Jesus Cristo como
os acontecimentos que ocorrerão no futuro? De um lado, as profecias do Apocalipse
explicam, da perspectiva divina, porque os acontecimentos preditos ocorrerão. Também
asseguram que, não importa o que o futuro trouxer, Deus sempre estará no controle. Por
outro lado, os eventos futuros preditos no Apocalipse não são o tema principal. Eles não
estão registrados para fazer do Apocalipse um livro divino de adivinhação, nem as
profecias foram registradas para satisfazer nossa curiosidade quanto ao futuro. Seu
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propósito principal é nos dar a garantia da presença de Jesus com Seu povo ao longo
da história e dos eventos finais.

Cristo sabia, porém, que o impacto pleno de Sua promessa de estar com Seu povo
não seria eficaz sem apresentar os acontecimentos futuros por meio de Sua palavra
profética. A descrição vívida desses eventos em Sua mensagem tem o propósito de nos
impressionar com a gravidade da crise final e com nossa necessidade de depender de
Deus durante esse período.

A hora da crise nos lembrará da promessa de Cristo ao povo de Deus de Deus de


que estaria com Seus filhos para sustentá-los nos momentos difíceis. Jesus disse: 'Ora,
estas coisas vos tenho dito para que, quando a hora chegar, vos recordeis de que Eu vo-
las disse (Jo 16:4). Devemos ter em mente que o cumprimento das profecias do tempo
do fim não deve ser alvo de especulação e sensacionalismo. O Apocalipse nos Informa a
respeito dos acontecimentos do tempo do fim, mas não revela exatamente quando e
como eles acontecerão. Diversos livros e sites predizem com exatidão como essas
profecias se, cumprirão, porém a maioria dessas ideias são enganosas. Não foram
extraídas da Biblia, mas da imaginação de pessoas que se baseiam em interpretações
alegóricas ou manchetes de jornais. O tempo e a maneira do desenrolar dos
acontecimentos finais são segredos de Deus, reservados Somente para Ele mesmo (Mt
24:36; At 17). Eles só ficarão totalmente claros para nós quando se cumprirem, não antes
(Jo 14:29; 16:4).

Quando compreendidas de maneira adequada, as profecias do Apocalipse atendem


a propósitos práticos: ensinar-nos Como viver o hoje e como nos preparar para o futuro.
O estudo das profecias deve nos tornar pessoas melhores, motivar-nos a levar nosso
destino a sério e nos inspirar a alcançar, outras pessoas com a mensagem do evangelho.

- Sobre os Destinatários - A introdução do Apocalipse montra que o mesmo deveria ser


destinado às igrejas. Quais igrejas ?Entendemos que o público alvo do livro se aplica
em três níveis:

Aplicação histórica - É importante ter em mente que as igrejas existiam de verdade na


Asia Menor e enfrentavam desafios reais. Elas ficavam em centros urbanos importantes e
prósperos , localizados à beira da principal estrada postal, a qual os interligava.
Governadas pelos romanos, as cidades desfrutavam, de modo geral, paz e prosperidade.
Como prova de sua gratidão e lealdade a Roma, uma série de cidades instituiu a
adoração ao imperador em seus templos. Essa pratica era obrigatória e um dever de
todos os cidadãos. Também se esperava que os moradores se envolvessem nos eventos
públicos da cidade e participassem das cerimônias religiosas pagas. Consequências
sérias aguardavam aqueles que não participassem, como os cristãos para quem João
escreveu.

Aplicação universal - Embora originalmente enviadas às igrejas da Asia Menor, essas


mensagens não foram escritas somente para os cristãos dessas congregações. Embora
Paulo tenha escrito suas epístolas em primeiro lugar às igrejas de sua época, elas
continuam a conter mensagens atemporais para gerações subsequentes de cristãos. De
maneira semelhante, as mensagens às sete igrejas contêm lições valiosas que se aplicam
aos cristãos de todas as épocas. Porém, acima disso, as mensagens predisseram as
condições da igreja cristã em todas as suas fases. As mensagens não foram enviadas
separadamente, mas juntas em uma só carta (Ap 1:11). A epistola inteira deveria ser lida
pelas igrejas. Uma vez que cada mensagem é encerrada com uma exortação para dar
ouvidos ao que o Espirito diz às igrejas, cada uma se aplica a todas as igrejas, mesmo
tendo sido escrita para uma congregação específica. Logo, as mensagens falam a todos
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os cristãos e podem representar, de modo geral, diferentes tipos de cristãos em
determinados períodos da história ou em lugares diferentes.

Aplicação profética - O Apocalipse afirma ser um livro profético e reforça a relevância


profética das sete mensagens (v. 1-3). Além disso, a condição espiritual das sete igrejas
corresponde, de forma notável, a situação espiritual do cristianismo em diferentes
períodos da história. Tudo isso reforça que a mensagem do Apocalipse , da perspectiva
celestial, queria apresentar uma visão panorâmica do cristianismo do Primeiro século até
o tempo do fim.

III - As Imagens Históricas Bíblicas do Apocalipse

A maneira mais segura de interpretar as Escrituras, especialmente as profecias, é


buscar conhecer a linguagem original e a mentalidade em que os autores bíblicos
estavam inseridos. Quando falamos aqui de linguagem original, com propósito de
interpretação das Escrituras, não falamos só da língua falada pelos autores inspirados,
no caso o hebraico, aramaico e grego, mas também do conjunto de imagens e estruturas
de pensamento com as quais eles estavam familiarizados.

Muitas vezes, as pessoas hoje leem as profecias como se tivessem

sido escritas empregando eventos e linguagens de nossos dias. As profecias revelam o


futuro, mas a linguagem e a mentalidade em que foram codificadas é a do profeta e de
seu tempo. Para entender a profecia portanto, é preciso entender o que ela significou
para o autor origina em sua linguagem, mentalidade e cultura.

O pesquisador adventista Jon Paulien, autor de diversos artigos e livros sobre o


Apocalipse, pontua que os autores do Antigo Testamento construíram suas mensagens a
partir de quatro imagens primordiais, as quais se transmutaram na memória do povo
hebreu em ícones de eventos e atos especiais.de Deus. Esses eventos seriam a
criação, dilúvio, é êxodo e retorno do cativeiro babilônico. A maioria das profecias
do Antigo Testamento emprega a linguagem de um ou mais desses eventos (2004, 34,
35).

Ainda segundo Paulien, essa recorrência aos eventos-chave ou primordiais é uma


característica da revelação divina, transmitida por meio dos profetas. Entender esse
processo de recorrênciados eventos ou imagens-chave nos ajuda a organizar uma
metodologia para o estudo das profecias, especialmente as do Apocalipse.

IV - A Chave Interpretativa Central do Apocalipse : Santuário

As referências, imagens e conexões intertextuais com o Antigo Testamento


constituem uma forte evidência de que as fundações do Apocalipse são, de fato, as
Escrituras hebraicas. No entanto, as estratégicas cenas do santuário, descritas nesse
livro, não deixam dúvida de que a visão profética de João está particularmente fundada
na aliança de Deus com Israel como retratada no santuário.

Uma das mais impressionantes características do Apocalipse é a constante


representação das cenas de adoração no Céu, geralmente em meio a espaço e as
imagens do santuário. As imagens e cenas do santuário são um tipo específico de
referência ao Antigo Testamento por parte do Apocalipse.

O erudito e especialista no livro do Apocalipse, Jon Paulien, diz que "o santuário do
Antigo Testamento e seus rituais exercem uma função estrutural na organização do livro
do Apocalipse (2004,124). Isso significa que o livro de João não é um mero arranjado de
relatos e visões. Ele tem uma estrutura detalhadamente organizada, com base nas cenas
e mesmo nas festas hebraicas relacionadas ao ritual do santuário.

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Tal é a predominância do santuário no Apocalipse que, em seus 22 capítulos, que a
todo tempo vemos as imagens e palavras ligadas ao santuário na narrativa do livro. A
palavra santuário ocorre 13 vezes, sangue 18 vezes, altar 7 vezes, tabernáculo 4 vezes,
candeeiro 7 vezes, sacerdote 3 vezes , trono 36 vezes e cordeiro 31 vezes. É impossível
entender o livro do Apocalipse sem a compreensão do Santuário e do seu respectivo
ritual.

V - A Relação do Apocalipse com o Antigo Testamento

Nenhum outro livro se baseia tão fortemente no AT como o Apocalipse. Ele está
imerso na teologia e na profecia do AT. A menos que não entendamos e e apreciemos
esse fato, não perceberemos plenamente Significado do livro. João deve grande parte de
sua teologia, vocabulário e simbolismo ao AT, embora sempre seja profundamente
cristocêntrico . Isso não Significa que João não tenha recebido suas mensagem em
visões, como ele afirma, mas implica em aceitar a realidade de que João contemplou
coisas notavelmente semelhantes àquelas reveladas aos profetas do AT e considerou
conveniente descrever o que viu usando a linguagem e as formas de pensamento do AT,
que lhe eram familiares e lhe foram naturalmente trazidas à mente por suas próprias
visões. Esse fato foi muito bem demonstrado na obra de Hans K. LaRondelle (1997),105
How to understand the end-time prophecies of the Bible.

As visões de João estão enraizadas nas profecias do AT, especialmente as dos


profetas maiores e apocalípticos. A teologia e a perspectiva da história da salvação
sustentadas por João são uma extensão cristológica e eclesiológica do que é
apresentado pelos profetas do AT. Tentar compreender o Apocalipse sem reconhecer as
raízes do AT, às quais as profecias de João continuamente fazem alusão, significa
impedir toda interpretação do livro.

O Apocalipse não pode ser compreendido à parte de sua constante referência ao


AT. Porém, até nesse ponto devemos ter cautela, porque João não meramente transfere
conceitos do AT para o Apocalipse; ele os transforma de acordo com seus propósitos.

É interessante notar que não há citações do AT no Apocalipse, mas apenas


antecedentes aos quais João parece apontar mediante referência indireta ou alusão.
Esses antecedentes extraídos do AT podem ser avaliados de maneira objetiva seguindo-
se a metodologia estabelecida por Jon Paulien (1988, p. 165-194; 1992a, p. 83-92). Ele
sugere formas de avaliar o nível de certeza com o qual os textos do AT podem ser
considerados antecedentes para se compreender os conteúdos do Apocalipse, com
base em paralelos

verbais, temáticos e estruturais existentes entre eles. Usando essas ferramentas e


métodos objetivos, podemos desenvolver interpretações mais seguras, em vez de utilizar
referências subjetivas aos textos do AT. 12

Embora possam aparecer algumas alusões a fontes não bíblicas, é certo que o
Apocalipse não pode ser compreendido sem contínua referência ao AT (BUL-LINGER,
1970, p. 17; FEUILLET, 1959, p. 55; SCROGGIIE, p. 22). Ele é "um perfeito mosaico de
passagens do AT" (MILLIGAN, 1892, p. 72). A infiltração total do AT no Apocalipse indica
que ele é a principal chave para desvendar o significado dos símbolos do livro. Os
ouvidos da audiência de João estavam muito melhor sintonizados para assimilar as
alusões ao AT do que é o caso hoje com muitas congregações cristãs (LINDARS, 1976,
p. 65). O AT fornecia um meio de "descodificar" a mensagem do Apocalipse que não
estava disponível ao observador externo (HOYT, 1953, p. 7).

Nosso estudo do Apocalipse deve, portanto, incluir uma completa compreensão da


história, poesia, linguagem e temas do AT. Sem tal compreensão, o significado do livro
permanece oculto em grande parte.

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CAPÍTULO 2

O GÊNERO LITERÁRIO PROFÉTICO


Extraído e Adaptado dos Livros: 1) “Tempo do Fim” - Dr Hans Karl LaRondelle, autor, 2) “Estudos Sobre Apocalipse”; Frank B Holbrook - Editor

I - Compreendendo a Profecia Clássica

Os profetas do Antigo Testamento tais como Amós, Isaías, Sofonías, Ezequiel e


Jeremias são chamados profetas clássicos. Suas mensagens foram em primeiro lugar
pronunciados em voz alta, seja ao reino rebelde do Israel no norte (as 10 tribos) ou à
apóstata Jerusalém e Judá (as 2 tribos). Com freqüência suas mensagens foram um
clamor em favor da justiça social, econômica e política para as classes oprimidas. Os
profetas convocaram Israel e Judá para que voltassem para a torah ou lei do pacto do
Moisés, e para que servissem a Deus com arrependimento verdadeiro. Se os líderes
políticos e religiosos do povo eleito originavam justiça social e uma renovação da
adoração, o reino de Deus viria sobre a terra em sua história futura. Em realidade, o "dia
do Senhor", ou o "dia do Jeová", não viria como Israel o tinha antecipado popularmente.

- Amós: Este profeta, como porta-voz de Deus, pronunciou em forma fulminante


estas horríveis palavras às 10 tribos:

"Ai de vós que desejais o Dia do Senhor! Para que desejais vós o Dia do Senhor? É dia
de trevas e não de luz   ...Não será, pois, o Dia do Senhor trevas e não luz? Não será
completa escuridão, sem nenhuma claridade?

"Por isso, vos desterrarei para além de Damasco, diz o Senhor, cujo nome é Deus dos
Exércitos" (Amós 5:18, 20, 27).

O Profeta Amós deu a conhecer dois castigos sobre Israel: Em primeiro lugar, a
nação infiel seria levada cativa ao exílio em Assíria ("além de Damasco") como resultado
da maldição do pacto do Deus do Israel, em harmonia com suas ameaças do pacto
pronunciadas mediante Moisés (Deut. 28; Lev. 26). Esta sentença teve lugar no ano 722
a.C., e se conhece como o desterro assírio das dez tribos. Em segundo lugar, o
significado pleno deste juízo nacional chega a compreender-se só quando se vê este
acontecimento como um tipo ou prefiguração do juízo cósmico de Deus ao fim da
história sobre todas as nações que se rebelem contra Deus.

Ele apontou ao juízo final de Deus quando se referiu aos sinais cósmicos: "Farei
que fique o sol ao meio dia, e cobrirei de trevas a terra no dia claro" (Amós 8:9), e: "Não
se estremecerá por isso a terra, e fará luto tudo o que nela habita? (v. 8, BJ). Escuridão
repentina ao meio-dia ou um terremoto catastrófico podem ser mais que um desastre
natural. O fogo apocalíptico consumirá a terra e o mar (7:4) e levará a seu fim a história
de Israel!

Na escatologia (a ordem dos acontecimentos finais) que apresenta Amós, o dia do


Senhor seria um juízo iminente sobre Israel a mãos de seu inimigo nacional: Assíria (no
722 a.C.). Mas Amós anunciou uma catástrofe ulterior, na qual Deus julgará a uma
sociedade mundial apóstata e libertará a seus fiéis em todas as nações. A esta relação
do juízo local iminente e do juízo mundial do tempo do fim chamamos "conexão
tipológica". Ambos os juízos procedem do mesmo Deus, mas o juízo sobre a nação é um
tipo ou modelo profético que garante que Deus julgará finalmente a todo mundo pelos
mesmos princípios morais. Só mediante sua retribuição final se cumprirá completamente
o propósito redentor de Deus para esta terra. O tipo histórico pode ser local e
incompleto, mas o antitipo escatológico será universal e completo em seus resultados. 

- Sofonías: O duplo foco do juízo de Deus em Amós também o descrevem


graficamente os outros profetas. Em geral se considera que Sofonías é o profeta mais
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grandioso que fala do juízo de Deus. Inclusive começa seu pequeno livro com uma
admoestação da destruição universal vindoura:

"De fato, consumirei todas as coisas sobre a face da terra, diz o Senhor. Consumirei os
homens e os animais, consumirei as aves do céu, e os peixes do mar, e as ofensas com
os perversos; e exterminarei os homens de sobre a face da terra, diz o Senhor" (Sof. 1:2,
3).

Assim como Amós, Sofonías contempla o futuro histórico imediato contra o fundo do
juízo final, porque é o mesmo Deus o que visita Israel e o mundo para juízo e salvação. A
mensagem principal é que Deus atua, não a duração do período de tempo entre os
juízos. 

- Joel: O profeta Joel estruturou sua perspectiva profética de forma tal que uma
praga histórica de lagostas (1:4-12) serve como um tipo profético do juízo escatológico
de todo o mundo, que é seu antitipo (2:10, 11; 3:11-15). A história local e a escatologia
do tempo do fim estão tão mescladas entre si que não podem ser completamente
separadas na descrição profética. O presente corresponde ao futuro porque é o mesmo
Deus quem vem agora e no futuro. Este é a mensagem principal do Antigo Testamento. O
propósito moral de cada anúncio de um juízo de Deus é levar a seu povo a caminhar em
harmonia com sua vontade redentora no presente. O objetivo final da profecia não é a
catástrofe e a destruição, a não ser uma nova criação e a restauração do paraíso perdido
na terra.

- Isaías: Um exemplo de como o juízo de Deus sobre um arquiinimigo histórico do


Israel e seu juízo final do mundo estão intimamente misturas, como se ambos fossem um
só dia do Senhor, encontra-se no Isaías 13. Isaías anuncia a iminente queda do Império
Neobabilônico às mãos dos medos: " Uivai, pois está perto o Dia do SENHOR; vem do
Todo-Poderoso... Eis que eu despertarei contra eles os medos" (Isa. 13:6, 17). Neste
oráculo profético de guerra, Deus atuará logo como o guerreiro divino para liberar a seu
povo oprimido: "O Senhor dos exércitos revista seu exército para o combate" (v. 4, NBE).
O resultado será a destruição: "Babilônia, a jóia dos reinos, glória e orgulho dos caldeus,
será como Sodoma e Gomorra, quando Deus as transtornou. Nunca jamais será
habitada, ninguém morará nela de geração em geração" (vs. 19, 20).

Depois, o profeta acrescenta a dimensão cósmica do dia apocalíptico do Senhor:


"As estrelas dos céus e seus luzeiros não darão sua luz; e o sol se obscurecerá ao
nascer, e a lua não dará seu resplendor" (V. 10). Deus castigará "ao mundo por sua
maldade, e aos ímpios por sua iniqüidade" (V. 11). Deus fará "estremecer os céus, e a
terra se moverá de seu lugar... no dia do ardor de sua ira" (V. 13).

Esta é uma descrição de um juízo universal. Por isso, a profecia de Isaías de


condenação sobre Babilônia contém a estrutura de uma perspectiva tipológica. É claro
que o dia apocalíptico do Senhor, com seus sinais cósmicos e seu terremoto universal,
não ocorreu durante a queda histórica de Babilônia ante os medo-persas no 539 a.C.
Aquele juízo sobre Babilônia serve só como um tipo ou símbolo do juízo final da
humanidade; por esta razão se descrevem os dois juízos como se fossem um só dia de
retribuição divina. A natureza tipológica da queda de Babilônia da antiguidade não requer
que cada rasgo da profecia se cumpra no tipo. Antes, o cumprimento parcial das antigas
profecias de condenação e liberação indicam que ainda precisam encontrar sua
consumação definitiva. O livro do Apocalipse nos assegura que todas as profecias
antigas de condenação e liberação ocorrerão em escala mundial por ocasião da segunda
vinda de Cristo. Por definição, o antitipo sempre é maior que o tipo. Por isso
encontramos que a característica da profecia clássica é seu duplo foco, sobre o próximo
e o longínquo, sem nenhuma diferenciação de tempo. Ensina-nos que o Deus do Israel é
o Deus da história. É o rei que vem na história e ao fim da história da humanidade. Sua
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vinda traz o fim desta era maligna, para restaurar o reino de Deus sobre nosso planeta
por meio do Jesus Cristo.

Outra característica vital da profecia clássica são suas preocupações éticas, seu
chamado ao arrependimento e a uma vida santificada. Os profetas de Israel não fizeram
predições incondicionais mas sim desafiaram tanto ao Israel como aos gentios com a
vontade imediata de Deus. De fato, as predições divinas satisfazem o propósito mais
elevado de chamar o povo ao arrependimento e a obedecer a vontade de Deus e dessa
forma, evitar o juízo vindouro. O resultado significativo desta preocupação ética dos
profetas do Israel é a segurança de que só um remanescente do Israel, fiel e purificado,
entrará no reino escatológico de Deus.

Os profetas anunciaram que só um fragmento ou remanescente da nação como


um tudo seria salva, assim como o "tronco" que fica de uma árvore (Amós 3:12; 5:14, 15;
Ouse. 5:15; 6:1-3; Isa. 4:2-4; 6:13; Jer. 23:3-6). A razão é que só o remanescente
restaurado se voltará para Senhor com arrependimento verdadeiro (Isa. 10:20-23; Zac.
12:10-13); só um Israel espiritual dentro do Israel nacional receberá um coração
"circuncidado" (Deut. 10:15, 16; 30:6; Jer. 4:4). A distinção no Antigo Testamento entre
um verdadeiro o Israel de Deus dentro da nação do Israel não se apóia na relação de raça
ou de sangre com Abraão, e sim na fé e na obediência a Deus. O fator decisivo é possuir
a relação espiritual de pacto com Deus. De acordo com esta teologia do remanescente
do Antigo Testamento, o apóstolo Paulo chegou a esta conclusão: "Porque nem todos os
que descendem de Israel são israelitas" (Rom. 9:6). Seu ensino apostólico enfatizou que
só quando israelitas reconheçam que Jesus é o Messias da profecia, são os portadores
de luz das promessas do novo pacto de Deus. E enquanto que os gentios são chamados
para serem os herdeiros das mesmas promessas, Paulo insistiu: "Só o remanescente
será salvo" (v. 27).

II - Compreendendo a Profecia Apocalíptica

O livro do Daniel forma uma classe de profecia por si mesmo dentro do Antigo
Testamento. Aqui nos encontramos com um fenômeno: Não se prediz um só evento ou
juízo, e sim uma seqüência total de acontecimentos que começam nos próprios dias do
Daniel e se estendem adiante sem interrupção até o estabelecimento do reino de glória
de Deus. Um contínuo histórico ininterrupto em profecia, como apresenta Daniel, não tem
precedentes na profecia clássica. Alguns profetas, como Joel e Ezequiel, revelaram o
princípio de uma sucessão de dois períodos em seus esboços proféticos (Joel 2:28;
Ezeq. 36-39), mas nenhum havia predito uma história contínua religiosa e política do
povo do pacto de Deus terminando com o juízo final do dia do Senhor. Um panorama tão
amplo da história da salvação adiantado é a característica específica da profecia
apocalíptica. Este contínuo apocalíptico na história está em um marcado contraste com a
profecia clássica, com seu dobro foco e sua perspectiva tipológica futura.
O segundo aspecto único no livro apocalíptico do Daniel é que contém uma
quantidade de esboços históricos e cada um culmina no juízo universal do Deus de Israel.
Podem distinguir-se 4 séries proféticas principais (Dan. 2; 7; 8; 11). Cada uma reitera a
mesma ordem básica de acontecimentos, mas todas acrescentam detalhes com respeito
ao conflito do povo do pacto de Deus com as forças que se opõem a Deus.

Estas visões paralelas mostram um interesse crescente em enfocar a era do


Messias e seu conflito com o antimessias ou o anticristo (especialmente em Dan. 8 e 9).
A idéia chave de cada série profética é o triunfo do governo de Deus sobre o mal.
Portanto, precisamos compreender que a meta da apocalíptica bíblica não é predizer
acontecimentos específicos da história secular do mundo em si. A apocalíptica bíblica
não é um exibicionismo da presciência de Deus. Antes, o seu interesse é inspirar
11
esperança entre o oprimido povo de Deus. Anima-os a perseverar até o fim, porque o
Deus fiel do pacto estabeleceu ao anticristo limite de tempo e poder. Deus vindicará a
seus fiéis na luta entre o bem e o mal. O foco definitivo da apocalíptica bíblica não é o
primeiro advento do Messias e sua morte violenta (Dan. 9:26, 27), e sim seu segundo
advento quando voltar como o vitorioso Miguel para resgatar o remanescente fiel (Dan.
12:1, 2).
O que forma a culminação de toda a profecia apocalíptica do Antigo Testamento é
este evento final da história da humanidade. É este "fim" o que está em vista na singular
frase do Daniel: "o tempo do fim" (5 vezes em Dan. 8-12). Este foco notável do tempo do
fim também é a razão de por que a profecia apocalíptica enfatiza mais o aspecto
incondicional do plano determinado de Deus para a redenção da humanidade. Mas este
aspecto distintivo de determinismo não deve ver-se como um contraste fundamental com
as profecias clássicas do Israel com seu chamado ao arrependimento.

As profecias apocalípticas de Daniel se centram ao redor da libertação final do fiel


remanescente do Israel, o povo espiritual do pacto de Deus, em quem se realizarão
finalmente as preocupações éticas de todos os profetas (Dan. 11:32-35; 12:3; Ezeq.
11:17-20; 18:23, 30-32; 33:11; Isa. 26:2, 3).

Em Daniel, a preocupação fundamental, tanto dos capítulos históricos (caps. 1-6)


como dos proféticos (caps. 7-12), parece ser a vindicação que Deus faz de seu santos
acusados falsamente. Esta soberania de Deus como Rei e Juiz está expressa pelo foco
centralizado no Messias que se apresenta em muitos capítulos (Dan. 2; 7; 8; 9; 10-12), e
em suas divisões predeterminadas de tempo da história da redenção (Dan. 7:25 [3 ½
tempos]; 8:14, 17 [2.300 dias]; 9:24-27 [70 semanas de anos]; 12:4, 7, 11, 12 ["o tempo
do fim", 1.290 e 1.335 dias]).

Em todos os tempos, Deus proporciona um povo remanescente fiel, coloca os


limites sobre a história pecaminosa deste mundo, permite tempos especificamente
atribuídos para a apostasia e a perseguição, determina "o tempo do fim", ordena o
mundo para a hora de seu juízo final e levará a cabo a libertação dos santos na segunda
vinda. Estes característicos únicos pertencem à soberania de Deus e constituem a pedra
angular da profecia do Daniel.

Pode fazer-se uma observação adicional a respeito da parte histórica do livro de


Daniel. Nos capítulos 3 (a liberação do forno de fogo) e 6 (a liberação do fosso dos
leões), os relatos da intervenção divina e o resgate sobrenatural têm a finalidade de ser
mais que simplesmente um pouco de interesse histórico. O autor do livro chama a
atenção a sua inerente perspectiva tipológica, em vista da libertação futura do povo
remanescente de Deus ao fim da história da redenção. Isto chega a ser evidente a partir
da repetição enfática do verbo chave "libertar" ou "resgatar" que se encontra no Daniel
3:15 e 17 (e 5 vezes no capítulo 6), e que volta a aplicar-se na seção apocalíptica do
Daniel 12:1, quando Miguel "libertará" o verdadeiro o Israel de Deus por meio de sua
intervenção pessoal.

Além desta conexão literária entre a seção histórica e a apocalíptica de Daniel,


também existe uma correspondência temática fundamental entre as duas seções do
livro. As narrações que Daniel faz da lealdade religiosa à sagrada lei de Deus por uns
poucos fiéis, proporciona os tipos ou as prefigurações essenciais da natureza da crise
final para o povo de Deus no tempo do fim. Estes acontecimentos históricos no livro de
Daniel servem como o pano de fundo para a crise vindoura do tempo do fim e seu
resultado providencial, tal como se descreve no livro de Apocalipse (caps. 13 e 14). 

O livro apocalíptico de Daniel revela ao menos quatro características únicas:

(1) Uma repetição dos esboços apocalípticos que mostram um contínuo da história da
redenção. Cada esboço culmina no estabelecimento do reino de glória (Dan. 2:44, 45;
7:27; 8:25; 12:1, 2);

12
(2) O foco centrado no Messias de todos seus esboços (Dan. 2:44; 7:13, 14; 8:11, 25;
9:25-27; 10:5, 6; 12:1);

(3) As divisões predeterminadas de tempo, que servem como o calendário sagrado da


história progressiva da redenção de Deus (Dan. 7-12). Estas profecias de tempo únicas
determinam o começo do famoso "tempo do fim", particularmente a terminação do
período de tempo profético dos 2.300 "dias" na visão selada de Daniel 8 (vs. 14, 17, 19);

(4) O aspecto incondicional da história da redenção, o qual recalca uma sessão


predeterminada de juízo no céu e a vindicação dos santos fiéis por um Filho do Homem.
Isto também está expresso pela imagem de um guerra santa final e o triunfo do Miguel
como o guerreiro divino, e a ressurreição de todos os mortos para receber sua
recompensa (Dan. 2:7-12).

Em resumo, o livro apocalíptico de Daniel contém o fundamental da profecia


clássica (o duplo foco de uma perspectiva tipológica na seção histórica do livro) e o
esboço profético de um contínuo histórico em sua seção apocalíptica.

A unidade orgânica da profecia clássica e da apocalíptica pode observar-se na


harmoniosa combinação de sua perspectiva do tempo do fim: O juízo universal com a
libertação cósmica de um povo remanescente fiel na última guerra entre o bem e o mal, e
a restauração do reino de Deus em paz e justiça eternas.

III - Características da Literatura Apocalíptica

Vários autores salientam características comuns ao gênero de literatura conhecido


como apocalíptica. A lista seguinte, baseada em grande parte em meu livro “Interpreting
the Book of Revelation” [Interpretando o Livro do apocalipse] pode ser considerada
representativa (ver STRAND, 1979, p. 18-20).

Assinalados contrastes - A Profecia apocalíptica faz uma clara e invariável linha de


demarcação entre o bem e o mal, entre as forças de Deus e as forças de Satanás, entre
os justos e os ímpios, entre salvação para os filhos de Deus e perdição para os seus
inimigos. Entre os numerosos e notáveis contrastes no livro de Apocalipse estão o selo
de Deus e a marca da besta, a testemunha fiel e verdadeira e a serpente que engana o
mundo, a virgem de Apocalipse 12 e a prostituta de Apocalipse 17, os exércitos do céu e
os exércitos da Terra, o fruto da árvore da vida e o vinho do furor da ira de Deus, a Nova
Jerusalém em glorioso esplendor e Babilônia em flamejante destruição, o mar de vidro e
o lago de fogo.

Alcance cósmico - A profecia clássica lida com a situação local e contemporânea


como seu enfoque primário, com certo grau de ampliação para retratar o final grande Dia
do Senhor. A apocalíptica tem, em vez disso, o elemento de alcance cósmico ou escopo
universal como sua próprio drama. A profecia apocalíptica aborda o grande conflito entre
o bem e o mal, não dentro de uma estrutura histórica local e contemporânea (como é
descrita nas mensagens dos profetas maiores e menores), mas do ponto de observação
que descerra a cortina, por assim dizer, em todo o mundo e por toda a extensão da
história humana.

Por exemplo, Daniel 2 e7 tratam dos impérios mundiais em sucessão pelo restante
da história terrestre desde o tempo de Daniel até a consumação final e o estabelecimento
do eterno Reino de Deus. O Apocalipse, semelhantemente, explora grandes
desenvolvimentos históricos desde os dias de João em diante e, inclusive, uma
descrição do grandioso final escatológico.

13
Ênfase escatológica - As vezes, os profetas gerais ampliam o escopo dos oráculos de
condenação ou "juízos do Dia do Senhor-quer sejam dirigidos contra Israel, Judá, Nínive,
Babilónia, Moabe, Edom, ou qualquer entidade para retratar brevemente um julgamento
final no fim da história terrestre. Contudo, o principal objetivo de seus escritos é para a
situação de seus próprios dias.

Por outro lado, a profecia apocalíptica, embora trate a história através do fluxo do
tempo, tem um enfoque especial nos acontecimentos do fim dos tempos. Ela descreve
uma luta continua entre o bem e o mal na história, uma história que tende a degenerar-se
ao prosseguir no tempo. Mas é uma história que está realmente se movendo em direção
a um fim em cujo tempo o próprio Deus intervirá diretamente para destruir o mal e
estabelecer a justiça.

Em um sentido, podemos afirmar que os profetas gerais consideravam a história do


ponto de vista de sua própria posição no tempo, ao passo que os profetas apocalípticos
visualizam uma extensão da história com um enfoque especial no ápice final da historia.

Origem em tempos de angústia e perplexidade. Em seu ambiente histórico, a


apocalíptica biblica, como Daniel e Apocalipse, surgiu em tempos de angústia,
perplexidade e perseguição. Assim, parece que a profecia apocalíptica surge quando
horrendas circunstâncias para o povo de Deus poderiam levá-lo a questionar se Deus
está ainda no controle. Também ensina de maneira clara e convincente que Deus ainda ė,
de fato, o Senhor da história, que Ele está com seu povo e que os vindicara plenamente
em um magnífico e glorioso momento escatológico culminante. A profecia apocalíptica é
uma espécie de literatura especialmente apropriada para proporcionar conforto e
esperança aos oprimidos e humilhados servos de Deus no momento que mais
necessitam.

Base em visões e sonhos. Uma comparação da profecia apocalíptica com a profecia


clássica e outra literatura bíblica indica que a primeira é caracterizada por referências
mais frequentes a visões e sonhos do que é verdade quanto a qualquer outro tipo de
literatura encontrada na Bíblia. Além disso, o aparecimento de anjos para interpretar tais
visões e sonhos não é incomum.

Extenso uso de simbolismo. Embora a profecia clássica use simbolismo em certa


medida, a apocalíptica pode ser distinguida por isto. O livro do Apocalipse está
permeado de símbolos de várias espécies; seu repertório de imagens é particularmente
rico. Alem disso, seja qual for o simbolismo que os profetas clássicos usem, ele tende a
seguir padrões fiéis à realidade, ao passo que a apocalíptica frequentemente se afasta
das formas convencionais. Retrata, por exemplo, animais inexistentes na natureza, tais
como o dragão de sete cabeças e a besta do mar em Apocalipse , o leão alado e o
animal de quatro cabeças em Daniel etc. O simbolismo complexo era comum, é claro, na
arte e na literatura do antigo Oriente Próximo.

Resumo. Embora a classificação baseada em tais critérios tenha sido questionada (ver
HANSON, 1975, p. 6-7), muitos eruditos ainda creditam esses elementos como
características básicas da profecia apocalíptica. Em todo caso, o simples fato é que há
um conjunto de literatura antiga que manifesta, em maior ou menor grau, muitos desses
elementos; portanto, para fins descritivos e práticos, uma classificação baseada neles
parece útil e justificável. Conhecer e compreender tais características especiais da
apocalíptica é, sem dúvida, um primeiro passo para a interpretação correta.

14
Também deve ser notado que todas as características apresentadas acima não são,
necessariamente, completamente exclusivas da literatura apocalíptica.

A extensão em que elas aparecem e a maneira como usadas na apocalíptica é, porém,


muito distinta e serve para promover um significativo contraste com a dinâmica
evidenciada na profecia clássica.

15

CAPÍTULO 3

A ESTRUTURA LITERÁRIA DO APOCALIPSE


Extraído e Adaptado dos Livros: 1) “Estudos Sobre Apocalipse”; Frank B Holbrook - Editor; 2) Pelo Sangue do Cordeiro - Dorneles

Para se obter uma compreensão correta e profunda do Apocalipse, é fundamental


entender como ele foi construído, observar sua estrutura literária, e assim, entender a
essência geral do livro e suas particularidades específicas. A seguir vamos apresentar
um esboço específico do livro que surge diretamente do próprio texto do Apocalipse.

I - A Estrutura Quiástica do Apocalipse

A Definição de Quiasmo - Quiasmo ou Quiasma vem do grego: χιάζω, chiátsō,


("formar como a letra Χ"). O nome se deriva da letra grega X (Chi). As composições
literárias baseadas no quiasmo são construídas de tal forma que a primeira parte do
texto combina com a última, a segunda parte combina com a penúltima, etc. Assim,
geralmente a estrutura quiástica tem um ponto central, no qual é apresentado a
mensagem mais importante do texto em questão.

A composição quiástica do Apocalipse - Quando analisamos o texto do Apocalipse,


percebemos claramente que o livro foi escrito dentro de um padrão quiástico. Um belo e
amplo modelo literário para todo o livro surge do texto. Toma a forma de um quiasma,
isto ,um modelo de paralelismo inverso. Existe um prólogo (1:1-10a) que está em
paralelo com com o epílogo do livro (22:6-21), e depois 4 visões iniciais que estão em
paralelo com as 4 visões finais, sendo que o centro desta estrutura está nos capítulos 12
ao 14, quando vemos a descrição central do Grande Conflito entre Deus e Satanás. Este
ponto central do livro apresenta a essência da narrativa do livro.

As visões depois da pausa (Caps 12-14) estão focalizadas na era do juízo


escatológico. As visões da primeira parte do livro revelam que a igreja é defeituosa. Os
santos de Deus são perseguidos e as forças do mal estão tendo um período de grande
sucesso. Contrastando, as visões que se iniciam com o capítulo 15 revelam uma
mudança radical, de sorte que há gloriosa vitória para Os santos de Deus e ruína para os
poderes que outrora dominavam sobre eles.
As visões até o capítulo 14 podem ser caracterizadas como a "era histórica, e
aquelas depois disso como a "era do juízo escatológico. Na primeira, sai o clamor das
16
almas debaixo do altar: "Até quando, o Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas,
nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? (Ap 6:9,10). Na última
encontramos uma contrapartida na aclamação: "pois |Deus| julgou a grande meretriz [...]e
das mãos dela vingou o sangue dos seus servos" (Ap 19:2)
Nas cenas da primeira grande parte do Apocalipse, as visões 2, 3 e 4 revelam uma
sucessão de eventos ou desenvolvimentos que alcançam e incluem o segundo advento
de Cristo. Assim, o último item de cada série nos leva ao clímax escatológico final.
Contudo, antes desse ponto culminante os eventos lidam especificadamente com a era
histórica. Por causa dessa ênfase primária, eles podem ser corretamente designados
como visões da "era histórica".
Na segunda metade do livro, as próprias visões manifestam coerentemente a
perspectiva do juízo escatológico. Todavia, elas incluem duas espécies de material que
pertencem à era histórica I) explicações - que necessariamente devem ser no tempo do
profeta a fim de serem compreendidas por ele e seus leitores e 2) apelos - que
obviamente devem ser aplicados ao período antes do encerramento da graça humana
para que sejam ouvidos. Estes não são "encruzilhadas nas próprias visões, porque o
cenário das visões do juízo escatológico é invariável”, começando com as sete últimas
pragas e continuando através dos eventos subsequentes até que seja atingido o glorioso
ponto culminante na descrição da Nova Jerusalém e da Nova Terra.
Quando consideramos essa estrutura quiástica do Apocalipse, imediatamente vemos
que ela se alinha com o duplo tema declarado no prólogo e no epilogo. A primeira grande
parte do livro (Ap 1-14) lida com a era em que Alfa e o Omega é o protetor e mantenedor
do seu povo a despeito das provas e perseguições que podem vir em seu caminho. A
segunda grande parte do livro, começando com o capítulo 15, lida com os juízos
escatológicos que se agrupam em torno e se centralizam na consumação da era: o
segundo advento de Cristo.

II - As Divisões Centrais do Apocalipse

Em síntese podemos dizer que a primeira parte do Apocalipse é HISTÓRICA começando


no capítulo 1:10 (após o prólogo do livro) e indo até o capítulo 11:18. No capítulo 11:19,
encontramos um importante evento de transição, que é justamente quando é revelado no
Santuário Celestial o Lugar Santíssimo, cenário este que aponta para o juízo final de
Deus e os eventos finais da história (Escatologia).

A parte final do livro é ESCATOLÓGICA e se apresenta do capítulo 15:1 extende-se até o


capítulo 22:6 (após isso temos o epílogo do livro).

A parte central do livro é a narrativa do GRANDE CONFLITO entre Deus e Satanás, e


encontra-se do capítulo 12 ao capítulo 14.

III - A Tipologia do Santuário na Estrutura do Apocalipse

As cenas do santuário no Apocalipse progridem do lugar santo para lugar santíssimo, da


intercessão para a expiação. Da mesma forma, por meio de imagens e expressões no
decorrer das cenas, o Apocalipse faz referência às festas Judaicas, executadas no
contexto do santuário, as quais progridem da Páscoa até a Festa dos Tabernáculos. As
festas constituem um segundo elemento organizador da estrutura do livro de João.
17
Jacques Doukhan, um judeu adventista, diz que cada um dos sete ciclos de visões é
aberto com uma cena do santuário que faz alusão aos dias santos de Israel, prescritos em
Levítico 23. Segundo ele, "o autor, portanto, nos convida a ler o Apocalipse à luz das
festas judaicas, rituais que lançam significado simbólico ao longo da história" do plano da
salvação (2002, 14).
As festas judaicas se encerraram na cruz, quando o verdadeiro Cordeiro foi morto pelos
pecados do mundo. Entretanto, a referência às mesmas no Apocalipse aponta, assim
como as cenas do santuário, para a permanência dos conceitos e princípios do santuário
e de suas festas para além da cruz.
Embora as festas já tenham se tornado obsoletas, uma vez que o antítipo se sobrepôs ao
tipo, as verdades espirituais transmitidas por essas festas permanecem e são garantidas
pelo ministério de Cristo no templo celestial.
18
CAPÍTULO 4

ANÁLISE DAS 8 VISÕES DO APOCALIPSE


Extraído e Adaptado dos Livros: “Estudos Sobre Apocalipse”; Frank B Holbrook - Editor

O Apocalipse inicia com um prólogo e termina com um epílogo, contudo entre estas
partes encontramos 8 grandes visões; quatro que precedem a linha divisória traçada entre
os capítulos 14 e 15 (parte central do livro) e quatro de sucedem. As 4 visões iniciais são
conhecidas como visões de perspectiva histórica e as 4 finais são escatológicas, com
ênfase no juízo final de Deus.

A estrutura quiástica do Apocalipse é abrangente, e composta


por prólogo, epílogo e oito visões, que foram apresentadas previamente em forma de
esboço no capítulo anterior.

ANÁLISE DOS PADRÕES DENTRO DAS OITO VISÕES

Percebe-se que a estrutura das visões apresenta uma “Cena de introdução vitoriosa"
, quando o profeta vê algo glorioso e impactante. Depois aparece um grande bloco de
texto, o qual pode ser chamado a "Descrição profética básica. Após esta descrição
profética, as visões apresentam (com exceção da primeira e da oitava) um "Interlúdio" ,
uma pausa no assunto central tratado no texto, para apresentação de uma outra realidade
adicional. A parte final das visões retratam uma culminação escatológica, imagens que
culminam com o momento final da história.

AS 4 VISÕES INICIAIS (HISTÓRICAS)

VISÃO I, (1:10 - 3:22) / Visão de Jesus glorificado e das 7 Igrejas

* Cena da Introdução Vitoriosa (1:10b-20). Cristo aparece a João em Patmos como o


que vive para sempre e 'lodo-poderoso, que caminha entre os sete candeeiros de ouro
que representam as sete igrejas.
* Descrição profética básica, (capítulos 2 e 3). Cristo dá mensagens de aprovação,
reprovação, advertência e exortação a igrejas individuais de acordo coma a
necessidade de suas variadas condições.

VISÃO II, 4:1-8:1 / Visão do Trono de Deus, da Exaltação do Cordeiro e dos 7 selos

* Cena da introdução vitoriosa (capítulos 4 e 5). João vê um trono no Céu, com um mar
de vidro e sete lâmpadas de fogo diante do trono e, ao redor deste, quatro seres
viventes e vinte e quatro anciãos. Em uma cena dramática e repleta de suspense é
feita a declaração de que somente o Cordeiro morto é digno de tomar da mão daquele
que estava assentado no trono um livro selado com sete selos e abrir o livro e desatar
os selos. Então o Cordeiro toma o livro e antífonas de louvor ascendem dos quatro
seres viventes, dos vinte e quatro anciãos e de todo o universo.
* Descrição profética básica (capítulo 6). Os primeiros seis selos do livro são abertos,
resultando na saída dos quatro cavaleiros. Almas debaixo do altar pronunciam um
clamor" até quando? até que há julgamento e vindicação para elas e são dados sinais
na Terra e no céu do juízo iminente.
19
* Interlúdio ( capítulo 7). A sequência é "interrompida" para focalizar o selamento dos 144
mil durante o fim dos tempos.
* Culminação escatológica (8:1). O sétimo selo é aberto, ante o qual há silêncio no céu
pela direção de meia hora (alusão à volta de Jesus).

VISÃO III, 8:2-11:18 / Visão das 7 Trombetas, do Livrinho e das 2 Testemunhas

* Cena da introdução vitoriosa ( 8:2-6 ). Aparecem sete anjos com trombetas e outro anjo
se dirige ao altar de ouro e ali oferece incenso, cuja fumaça misturada com as orações
dos santos, ascende a Deus. Em seguida, o anjo enche um incensário com brasas
vivas do altar e o lança sobre a Terra, resultando nos símbolos de juízo de vozes,
trovões, relâmpagos e terremoto.
* Descrição profética básica ( 8:7-9:21) . As primeiras seis trombetas foram tocadas e
liberam forças devastadoras que abrangem os simbolismos de uma tempestade de
saraiva sobre a Terra, uma grande montanha que ardia em chamas foi atirada no mar
etc. As primeiras cinco dessas trombetas evocam imagens das pragas sobre o antigo
Egito, mas a sexta trombeta muda o cenário para Babilônia pela menção do "grande rio
Eufrates em 9:14.
* Interlúdio (10:1-11:13) Um anjo segurando um livrinho aberto anuncia (Ap 10:6) que "já
não haverá demora. João recebe a ordem de comer o livro e assim o faz, achando-o
doce na boca e amargo no estômago; o profeta é então instruído a medir o templo, o
altar e o povo (uma alusão direta, como mostrado em outro momento, ao ritual do Dia
da Expiação do final do ano na antiga religião judaica; por fim, são descritos o
testemunho e o ministério das duas testemunhas.
* Culminação escatológica (11:14-18). É tocada a sétima trombeta resultando no anúncio
de que "o reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, então se ergue
uma antífona de louvor, enfatizando, entre outras coisas, que chegou o tempo para o
julgamento dos mortos, para o galardão dos santos, e para destruir os que destroem a
terra.

VISÃO IV, 11:19-14:20 / Abertura do Templo Celestial, O Grande Conflito

* Cena da introdução vitoriosa (11:19). "O templo de Deus foi aberto no céu', tornando
visível "a arca da sua Aliança"; então ocorrem "relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e
grande saraivada".
* Descrição profética básica (capítulos 12 e 13). O dragão, a besta do mar semelhante
ao leopardo e a besta da Terra de dois chifres perseguem o povo de Deus.
* Interlúdio (14:1-13) - João vê o Cordeiro e os 144 mil santos vitoriosos em pė sobre O
monte Sião; vê também três anjos voando no céu e proclamando mensagens de
advertência.
* Culminação escatológica (14:14-20) . É ceifada a dupla seara da Terra a colheita do
trigo e as uvas que são lançadas no grande lagar da ira de Deus.

AS 4 VISÕES FINAIS (JUÍZO ESCATOLÓGICO)

VISÃO V, 15:1-16:17 / As 7 últimas Pragas

* cena da introdução vitoriosa, (15:1-16:1). Os santos vitoriosos estão sobre o mar de


vidro e cantam o cântico de Moisés e do Cordeiro. Ao ser aberto o "santuário do
tabernáculo do testemunho" no Céu, sete anjos saem e recebem sete taças "cheias da
20
ira de Deus'; a fumaça enche o templo de sorte que ninguém pode entrar até que as
sete pragas dos sete anjos fossem cumpridas. Finalmente é dada instrução aos anjos
para que saíssem e derramassem as sete taças.
* Descrição profética básica (16:2-14). São derramadas as primeiras seis taças da ira,
com efeitos devastadores sobre a terra, mar, rios, fontes etc. (Novamente, como no
septeto das trombetas, as imagens para as cinco primeiras taças são modeladas
segundo as pragas do antigo Egito, coma cena mudando para Babilônia ao se referir a
sexta taça ao grande rio Eufrates em Ap 16:12).
* Interlúdio (16:15). Na descrição da sexta taça a secagem do rio Eufrates e a presença
de espíritos demoníacos que enganam os reis da Terra e os conduzem à "batalha do
grande dia do Deus Todo-poderoso (Ap 16:12-14) e inserido um impressionante hino no
verso 15: “Eis que venho como o ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia. Segue-se,
então, um comentário acrescentando que o local da batalha é chamado "Armagedom (v.
16). Uma vez que mudamos para a seção do Apocalipse que provisões do juízo
escatológico, em vez de pertencer à era histórica, é óbvio que um novo tipo de
interlúdio" pode ser esperado, como é realmente o caso aqui. Os interlúdios anteriores
foram descrições de eventos ou condições um tanto detalhadas durante uma porção
final da era histórica. Os interlúdios que ocorrem nas visões V até VII, são antes de
uma natureza incisiva, exortatória.
* Culminação escatológica, (16:17). E derramada a sétima taça da ira e declarado do
trono no templo do céu: "Está feito!

VISÃO VI, 16:18-18:24 / Descrição da Grande Babilônia, sua queda e destruição

* Cena da introdução vitoriosa, (16:18-17:3a). Ocorrem os sinais tradicionais de juízo


(vozes, trovões, relâmpagos, terremoto e saraivada) e a grande Babilônia entra em
"lembrança julgadora" diante de Deus. João é então levado ao deserto para ver esse
julgamento contra Babilônia.
* Descrição profética básica ( 17:3b-18;3). A descrição de Babilônia como uma prostituta
e também da besta cor de escarlate com sete cabeças e dez chifres sobre a qual ela se
assenta é introduzida nos primeiros versos do capítulo 17 (v. 3b-8). Esta cena descritiva
é seguida por considerável detalhe explicativo (v. 9-18) que culmina em uma referência
à devastação da prostituta pelos dez chifres da besta (v. 16-17) e a identificação dessa
meretriz como a grande cidade que reina sobre os reis da terra (v. 18). Nos primeiros
três versos do capítulo 18, uma narração de vários aspectos da corrupção de Babilônia
prepara o terreno para o apelo do interlúdio e a descrição da destruição que se segue.
* Interlúdio (18:4-8, 20). Antes da descrição real da devastação de Babilónia pelo fogo, é
feito um apelo ao povo de Deus para "sair de Babilônia , para não participar de seus
pecados e receber de suas pragas. Nessa conexão há também uma reiteração, de
forma detalhada, do decreto divino de juízo contra Babilônia.Visto que na estrutura
quiástica de 18:20 há um correlativo quiástico dos versos 4-8, ambos os "interlúdios
dentro deste quiasmo específico devem provavelmente ser considerados como o
"interlúdio" total para a maior sequência de 17:3b-18:24. O verso 20 faz um chamado ao
regozijo pelo fato de que Deus proclama o o juízo contra a própria Babilônia que havia
se imposto sobre o povo de Deus
* Culminação escatológica (18:9-19,21-24). A seção central do capítulo (v.9-19) retrata,
através de uma tríplice lamentação, a desolação completa de Babilônia pelo fogo. A
seção final do capitulo (v. 21-24) enfatiza a condenação de Babilônia e sua condição de
desolação após o juízo divino sobre ela.
21
VISÃO VII, 19:1-21:4 / Descrição da Volta de Jesus, Milênio e Novo Céu e Nova Terra

* Cena da introdução vitoriosa, (19:1-10). No cenário celestial que é paralelo ao cenário


dado no capitulo 4, antífonas sobem em louvor a Deus por ter julgado a grande
prostituta Babilônia e vindicado o seu povo. É feita, então, a referência à esposa do
Cordeiro, pronta para as bodas, e uma bênção é pronunciada sobre aqueles que sao
convidados para a ceia das bodas do Cordeiro" deve ser notado que embora o cenário
do templo celestial dos capítulos 4 a 5 e do capítulo 19 seja o mesmo, ha diferença com
respeito à atividade e perspectiva - fato também deixado claro pelo conteúdo das
antífonas nas duas visões ). A primeira visão pertence claramente à era histórica e esta
se refere claramente à era do juízo escatológico.
* Descrição profética básica, 19:11-20:5. O segundo advento de Cristo é retratado
dramaticamente e são dadas as consequências dele. Entre os resultados negativos
enumerados estão o banquete das aves, formado pelos inimigos de Deus (Ap19:17-18),
a sorte do lago de fogo para a está e o falso profeta (Ap 19:19-20) e o aprisionamento
de Satanás no "'abismo" por mil anos (Ap 20:1-3). Do lado positivo está a primeira
ressurreição, em que ressurgem os santos martirizados. Eles então vivem e reinam com
Cristo durante mil anos (Ap 20:4-5).
* Interlúdio (20:6). "Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte da primeira
ressurreição; sobre esses a segunda morte nāo tem autoridade.
* Culminação escatológica,( 20:7-21-14). São apresentados os eventos do final dos mil
anos. Os pontos negativos são a libertação maligna para se apoderar do "acampamento
dos santos e a destruição final dessa confederação no fogo. Do lado positivo está a
visão de João de "novo Céu e nova Terra', com a cidade santa, a Nova Jerusalém
descendo do Céu para a Terra, e o próprio Deus habitando com o seu povo.

VISÃO VIlI, 21:5-22:5 / Visão da Nova Jerusalém

* Cena da introdução vitoriosa, (21:5-11a). E proclamado que os vitoriosos de Cristo


herdarão todas as coisas e João vê a cidade santa, a Nova Jerusalém, descendo do
Céu para a Terra. (Como um pano de fundo, a seção final da visão precedente já
retratou a condição da Terra depois da descida da Nova Jerusalém [21:1-41.)
* Descrição profética básica, (21:11b-22:5). A cidade santa, Nova Jerusalém, é descrita
em detalhes.
22
CAPÍTULO 5

ANÁLISE DAS 7 IGREJAS DO APOCALIPSE


Extraído e Adaptado do livro: O Apocalipse de João - Dr Ranko Stefanovic

Interpretando as Mensagens para as 7 Igrejas

As mensagens contidas no capítulo 2 e 3 do Apocalipse foram dadas por Jesus, que


tinha por objetivo comunicar verdades importantes as igrejas . Surge então a pergunta :
Como devemos interpretar a mensagem das 7 igrejas?

APLICAÇÃO HISTÓRICA :
Esta deve ser a principal maneira de ver a mensagem das 7 igrejas. Precisamos ter
em mente que as igrejas existiam de verdade na Asia Menor e enfrentavam desafios
reais. Elas ficavam em grandes centros urbanos importantes e prósperos, localizados a
beira da principal estrada postal, a qual os interligava. Governadas pelos romanos, as
cidades desfrutavam, de modo geral, paz e prosperidade. Como prova de sua gratidão e
lealdade a Roma, uma série de cidades instituiu a adoração ao imperador em seus
templos. Essa prática era obrigatória e um dever de todos os cidadãos. Também se
esperava que os moradores se envolvessem nos eventos públicos da cidade e
participassem das cerimônias religiosas pagãs.
Consequências sérias aguardavam aqueles que não participassem, como os
cristãos para quem João escreveu; portanto, o sentido primário é original das cartas
precisa levar em consideração este aspecto histórico : foram mensagens que foram
escritas para igrejas reais, situação em locais específicos, com características peculiares.
Apenas estudando o contexto de cada igreja e das suas respectivas cidades
poderemos ter a correta compreensão da mensagem das 7 igrejas, uma vez que seu
sentido original aponta primordialmente para esta aplicação histórica.

APLICAÇÃO UNIVERSAL :
É inegável que a mensagem divina direcionada as 7 igrejas também tem um aspecto
Epístolar. Embora originalmente enviadas às igrejas da Asia Menor, essas mensagens
não foram escritas somente para os cristãos dessas congregações. Embora Paulo tenha
escrito suas epístolas em primeiro lugar às igrejas de sua época, elas continuam a conter
mensagens atemporais para gerações subsequentes de cristãos. De maneira semelhante,
as mensagens às sete igrejas contém lições valiosas que se aplicam aos cristãos de
todas as épocas. Porém, acima disso, as mensagens predisseram a condição da igreja
cristã em todas as suas fases.
As mensagens não foram enviadas separadamente, mas juntas em uma só carta
(Ap 1:11). A epístola inteira deveria ser lida pelas igrejas. Uma vez que cada mensagem é
encerrada com uma exortação para dar ouvidos ao que o Espirito diz às igrejas, cada uma
se aplica a todas as igrejas, mesmo tendo sido escrita para uma congregação especifica.
Conselhos, exortações e promessas são estendidos a todos os cristãos ao longo da
história através das mensagens às 7 igrejas.

APLICAÇÃO PROFÉTICA :
A Aplicação Profética da mensagem divina às 7 igrejas não deve ser vista como
principal, mas como uma aplicação possível. Muitos se esquecem das duas aplicações
anteriormente descritas, e utilizam esta terceira aplicação como sendo a principal maneira
23
de se entender esta parte inicial do livro, mas ela deve ser entendida juntamente com a
aplicação Histórica e Universal . Tal exclusividade não encontra sustentação exegética e
tampouco parece ser uma intencionalidade da narrativa do Apocalipse. Entretanto, ainda
assim é uma possibilidade interpretativa , uma vez que Ellen White também aplica a
mensagem das 7 igrejas ao desenvolvimento histórico do cristianismo ao longo dos
séculos, bem como a observação histórica do cristianismo apresenta impressionantes
paralelos sequenciais com esta seção da primeira grande visão do Apocalipse.
O Apocalipse afirma ser um livro profético e também reforça a relevância profética
das sete mensagens (v. 1-3). Além disso, a condição espiritual das sete igrejas
corresponde, de forma notável, à situação do cristianismo em diferentes períodos da
história. Tudo isso revela que as sete mensagens têm a intenção de apresentar, da
perspectiva celestial, uma visão panorâmica do cristianismo desde o primeiro século até
o tempo do fim. Cada igreja representa um período da história cristā, parTondo do tempo
de João até o período anterior à segunda vinda de Cristo.

A Descrição das 7 Igrejas do Apocalipse

- Éfeso
Localizada na encruzilhada entre duas estradas principais, Éfeso era um famoso
centro politico, comercial e religioso. Com uma população de aproximadamente 250 mil
habitantes, era uma das maiores cidades do Império Romano. Na cidade, havia dois
templos dedicados à adoração do imperador, além de 15 templos para outras divindades.
O maior deles era o templo de Artémis (ou Diana dos romanos), uma das sete maravilhas
do mundo antigo. No entanto, a cidade era conhecida pela criminalidade, imoralidade e
superstição.
Jesus Se apresenta à igreja de Éfeso como Aquele que conserva na mão direita as
sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro" (Ap 2:1), representando
Sua presença na igreja e o conhecimento da situação que ela enfrenta. Ele a elogia por
suas qualidades positivas. Apesar de viver num ambiente idólatra, cercados por um estilo
de vida pagāo e práticas imorais, os membros daquela comunidade trabalhavam duro e
demonstravam perseverança na causa do evangelho, permanecendo firmes diante da
perseguição. A igreja também era correta na doutrina, exercendo discernimento ao testar
falsos apóstolos, sem tolerar os falsos ensinos (v. 2, 3).
Em particular, eles resistiam aos nicolaítas (v. 6). Embora a identidade precisa dos
nicolaítas não seja clara, alguns autores cristãos primitivos os identificavam como os
seguidores de Nicolau de Antioquia, um dos sete diáconos da igreja de Jerusalém, que
acabou se tornando um herege (At 6:5). Os nicolaitas defendiam concessões e
conformidade com praticas pagãs, a fim de evitar o desconforto e as dificuldades do
isolamento social e a perseguição iminente. Esse grupo agia de forma semelhante a
alguns membros da igreja de Pérgamo, que sustentavam a doutrina de Balaão,
apostatando, comprometendo sua fé e se vendendo para obter ganhos pessoais (Ap 2:14,
15; comparar com Nm 31:16). A igreja de Éfeso, porém, não foi seduzida pelas doutrinas
perversas dos falsos mestres. Fez todos os esforços a fim de preservar a pureza do
evangelho e evitar que a falsidade corrompesse seus membros. Inácio, bispo de
Antioquia, elogiaria os Efésios por essa atitude não muito tempo depois.
Apesar das excelentes qualidades, a igreja de Éfeso tinha um defeito grave: estava
perdendo seu amor. Nos primeiros dias, os cristãos de Éfeso eram conhecidos pela fé 'no
Senhor Jesus" e seu "amor para com todos os santos (Ef 1:15). Contudo, esse amor
estava se desvanecendo. Ao colocar toda ênfase nas ações corretas e na sensatez da
doutrina, os membros estavam perdendo o amor a Cristo e, por consequência, o amor
24
uns pelos outros. Sua religião havia se tornado legalista e sem amor. Estavam fazendo o
que era certo, mas suas obras eram frias e desprovidas de amor.
A situação da igreja de Éfeso refletia a situação de Israel antes do exílio, que havia
perdido o amor e a devoção ao Senhor que existia no início de Sua história (Jr 2:2).
Posteriormente, os israelitas renunciaram ao seu amor a Deus. Como resultado, eles
perderiam o privilégio de ser uma nação portadora de luz. Um castigo semelhante
recairia sobre a igreja de Éfeso. Se não refletisse o amor a Deus, ela perderia a própria
razão de existir, correndo risco de que o candeeiro fosse removido do lugar (Ap 2:5) uma
perda de privilégio semelhante à do Israel histórico.
Jesus apela à igreja com tres imperativos (V. 5). Em primeiro lugar, os efésios
deveriam continuar lembrando. Conforme o texto grego indica, eles não haviam se
esquecido do relacionamento que tinham com Cristo, mas haviam falhado em dar
continuidade. Ao recordar o amor intenso por Jesus é uns pelos outros, os membros
reconheceriam sua condição espiritual presente. Assim, os efésios deveriam se
arrepender. Na Biblia, o arrependimento está intimamente ligado a uma virada radical na
vida. Jesus chama os efésios a se afastar de sua condição presente e a se voltar para
Deus.
Por fim, os efésios deveriam começar a praticar as primeiras obras. Jesusos
chamou para amar em detrimento de fazer aquilo que é correto. A revitalização do
primeiro amor por Cristo resultaria em fazer o que é Certo. Se os cristãos de Éfeso
voltassem à sua primeira devoção a Cristo, o amor por outros seres humanos
transbordaria no meio deles.
Ao longo de toda a historia, Os cristaos sempre estão sob a pressão cumprir práticas
religiosas rigorosas e expressar o amor de Cristo. A mensagem a igreja se Éfeso consiste
em uma advertência perene a todos os cristãos cuja principal preocupação é fazer o que
é certo. Os vencedores de Éfeso - aqueles que dão ouvidos aos coelhos de Cristo -
Recen, a promessa de se alimentar “ da árvore da vida que se encontra no paraíso de
Deus”. Depois que Adão e Eva pecaram foram proibidos de comer da arvore da vida,
mas a boa notícia para os habitantes de Éfeso que permanecessem fieis e não praticam
as práticas pagãs é que receberiam permissão para comer da árvore no Éden
restaurado (Ap 22:2).
A situação da igreja de Éfeso corresponde a condição espiritual da igreja como um todo
no primeiro século, por volta de 31 d.C. a 100 dc Esse período foi caracterizado por amor
e fidelidade ao evangelho. No entanto, na ocasião em que João escreveu o Apocalipse, a
igreja havia começado a perder o primeiro amor, afastando-se assim da simplicidade e
pureza do evangelho.

- Esmirna
Esmirna estava localizada em uma grande encruzilhada da rota comercial greco-
asiática e abrigava o porto mais acessível e seguro da Asia. Naturalmente , isso
transformava Esmirna em um centro cultural, religioso e politico. Ostentando um estádio
famoso, uma biblioteca e o maior teatro público da província, mereceu o titulo de "glória
da Asia'. A cidade também era o centro da adoração ao imperador. Como ato de lealdade,
todos os cidadãos tinham a obrigação de comparecer ao templo uma vez por ano a fim de
queimar incenso diante da estátua do imperador e proclamar: César é Senhor! Quem
cumpria essa exigência recebia um certificado que permitia ter um negocio ou emprego.
Aqueles que se recusavam enfrentavam perseguição ou morte.
Jesus Se apresenta à igreja de Esmirna como o primeiro e o último, que esteve
morto e tornou a viver p 20) As características de Cristo correspondem de forma
adequada a situação da igreja. Ele entende a condição dela, pois também foi perseguido
ate a morte. Os membros enfrentavam extrema pobreza; muitos estavam desempregados
25
e eram excluídos, alguns sofriam prisão e até a morte - tudo por Cristo. Os judeus que se
distanciavam dos cristãos e os difamavam foram chamados por Jesus de 'sinagoga de
Satanás" (v. 9).
E compreensível que os cristãos de Esmirna vivessem em constante temor, pois
enfrentavam perseguições. Jesus, porém, apelou aos fieis para que permanecessem até
a morte a fim de que recebessem a "coroa da vida (v. 10). A guirlanda entregue ao
vencedor dos Jogos olímpicos da Antiguidade era passageira, mas a coroa prometida por
Cristo aos fiéis de Esmirna era a vida eterna, concedida por ocasião de Sua segunda
vinda (2Tm 4:8). Os vencedores de Esmirna recebem a promessa de que não sofrerão
"dano da segunda morte" (Ap 2:11). A morte física não passa de um sono Temporário; por
isso, não é uma tragédia, graças à esperança da ressurreição . E a segunda morte que
deve ser temida, pois é a morte eterna, da qual não haverá ressurreição.
A experiência da igreja de Esmirna simboliza profeticamente a perseguição aos
cristãos em todo o Império Romano durante o 2° e o 3º séculos. Os dez dias
mencionados no verso 10 apontam para a notória perseguição iniciada pelo imperador
Diocleciano e levada adiante por seu sucessor Galério (303-313 d.C). Dessa maneira, a
igreja de Esmirna representa um período da história da igreja, começando por volta do
início do 29 século até 313 d.C., quando Constantino, o Grande, emitiu o conhecido Edito
de Milão, concedendo liberdade religiosa aos cristãos.

- Pérgamo
Ao longo de mais de dois séculos, Pérgamo serviu como capital politica, intelectual e
religiosa da Asia. Era também uma das cidades mais elitizadas do mundo helênico.
Ostentava uma biblioteca que rivalizava com a de Alexandria, abrigando quase 2 mil
obras. De todos os templos magníficos de Atena, Dionisio e Esculápio, a obra-prima era o
enorme altar a Zeus. Com uma fumaça que ascendia constantemente dele. Histórias de
curas milagrosas pelo salvador Esculapio, o deus grego da cura, espalhavam-se a partir
do imenso asclépieion (templo de Esculápio ou Asclépio), do lado de fora da cidade. Essa
saturação de paganismo realmente fazia de Pérgamo o lugar 'onde Satanás habita" (v.
13). Jesus aparece como Aquele que tem a espada afiada de dois gumes (V12). O
imperador romano detinha o ius gladii (o direito à espada) - o poder da execução, Usado
com muita frequência contra os cristãos, mas o poder sobre a vida e a morte pertence
somente a Cristo.
Jesus sabia que os cristãos de Pérgamo viviam bem no coração das atividades de
Satanás. Eles eram excluídos por se recusarem a adorar o imperador, honrar os deuses
pagãos. Alguns, como Antipas, pagaram com a própria vida. No entanto, a maioria
permaneceu inabalável diante dessa perseguição.
Cristo passa então a destacar aqueles que estavam comprometendo o cristianismo: os
nicolaitas e os que sustentam a doutrina de Balaão (Ap 2:14, 15). Assim como Balaão
havia seduzido os israelitas a ter relacionamentos ilícitos com as mulheres moabitas e a
praticar idolatria (Nm 31:16) esses indivíduos incentivavam os irmãos cristãos a fazer
concessões à adoração ao imperador e a outras atividades socioreligiosas pagas (Ap
2:14): ao contrário da igreja de Éfeso, que resistiu com firmeza aos nicolaítas.
Jesus incentiva os cristãos de Pérgamo a se opor às transigências com o paganismo
e os adverte de que, caso nāo se arrependessem, viria até eles com 'a espada de dois
gumes do juízo em Sua boca (v. 12, 16). Da mesma forma que Balaao foi morto a espada
(Js 13:22), os nicolaitas seriam julgados. O único modo de evitar essa destruição seria por
meio do arrependimento, dando uma reviravolta decisiva em seu relacionamento com
Cristo.
Além do Maná escondido, que é' o pão dos anjos (SI 78:25), Cristo promete aos
vencedores que Ele substituiria os certificados de prática comercial emitidos por Roma, ao
26
qual não tinham acesso por se recusarem a adorar o imperador, por pedras brancas com
um novo nome inscrito. Essas pedras concederão privilégios muito superiores a qualquer
prazer pagão.
A igreja de Pérgamo simboliza profeticamente a terceira fase histórica da igreja, a partir
de 313 d.C. Naquele ano, marcado pela conversão de Constantino, o Grande, os cristãos
deixaram de temer a perseguição externa. No entanto, as transigências ainda assolavam
a igreja à medida que filosofias e costumes pagãos se infiltraram, substituindo aos poucos
a Biblia como fonte de ensino e crença. Ao passo que muitos permaneciam
inabalavelmente fiéis, o 4 e o 5 séculos testemunharam declínio espiritual e apostasia à
medida que a igreja lutava contra a tentação das concessões impróprias.

- Tiatira
A cidade de Tiatira abrigava muitas associações comerciais locais. Em lugar de templos
ou centros administrativos, era a menos importante das sete cidades mencionadas no
Apocalipse. Essas associações controlavam as numerosas profissões existentes na
cidade, e não era permitido ter um negócio sem ser membro de uma delas. Contudo, cada
associação tinha um deus padroeiro e fazia festas em homenagem a ele, muitas vezes
acompanhadas de atividades imorais, como por exemplo a prostituição ritual.
A recusa em participar resultava em consequências terríveis, sanções severas ou
expulsão das associações. Essas penalidades eram um dano significativo para os
cristãos do 1º século. Para Tiatira, Jesus Se apresenta como o Filho de Deus. Seus olhos
Flamejantes simbolizam Sua habilidade de ver a parte mais intima dos seres humanos
(Ap 2:23) - sondando a mente e o coração (o centro da inteligência , uma capacidade que
pertence somente a Deus (Jr 17:10). Os pés de bronze polido enfatizam Sua posição
intransigível contra as influencias sedutoras dentro da igreja.
Cristo descreve a igreja de Tiatira como amorosa, fiel, voltada para o serviço e
perseverante. Em contraste com Éfeso, suas obras posteriores de amor são maiores do
que as primeiras. No Novo Testamento, amor e fé andam juntos (GI 5:6; Et 1:15; 1Is 3:6).
Além disso, o serviço é resultado do amor, e a perseverança e produto da fé (CI 1:23; 21s
1:3, 4).
Entretanto, possivelmente, Tiatira tolerasse uma mulher influente, a quem Jesus dá o
apelido de Jezabel, que também pode ser entendida simbolicamente. No Antigo
Testamento, Jezabel foi a famosa rainha esposa de Acabe que levou Israel à apostasia
(1Rs 16:31-33). De maneira semelhante aos nicolaítas, essa Jezabel" afirmava ser
profetisa de Deus, alegando que não havia problema os cristãos cumprirem as exigências
das associações comerciais (Ap 2:20) e aceitar comerem coisas sacrificadas aos ídolos e
praticarem a prostituição (v. 14). Sua influência levou muitos a transigirem com o
paganismo.
A prostituição espiritual de Jezabel é precursora da Babilónia, a grande meretriz,
que, no tempo do fim, seduzirá os lideres mundiais para o serviço a satanás (Ap 1/:1-/).
Uma vez que a atuação da prostituta ocorre na cama, é no leito que Jezabel e seus
Consortes - aqueles que aceitam seus ensinos serão julgados (ver Ap 2:22). Jesus trará
grande aflição a estes e à sua descendência caso não se arrependam da gravidade de
seus atos. Ao remanescente que não experimentou o conhecimento oculto de Jezabel,
Jesus promete não aumentar seus fardos, exorta a conservar o que tem. Além disso,
promete dar Sua vitória, concedendo-lhes "autoridade sobre as nações" (Ap 2:26,27)
Também Ihes dá a estrela da manhã, um símbolo de Jesus (Ap 22:16). Isso quer dizer
que Cristo, em última instância, dá a Si mesmo, o maior presente de todos.
A igreja de Tiatira simboliza a igreja cristă de 538 a 1565 dC. Durante a Idade Média,
a igreja enfrentou perigos que não vinham de fora mas de dentro. Aqueles que alegavam
ter autoridade divina colocaram a tradição acima das Escrituras. Um sacerdócio humano e
27
relíquias sagradas substituíram o sacerdócio de Jesus, e as obras se tornaram o meio
para obter a salvação. Aqueles que defendiam a fé biblica enfrentavam perseguição e
severa e morte.

- Sardes
Sardes tem uma história esplêndida. Seis séculos antes do Apocalipse ser escrito,
era uma das maiores cIdades do mundo, a capital do opulento reino Lídio. Era conhecida
como o centro comercial das indústrias têxteis, de tingimento e lã, oferecendo a seus
cidadãos um estilo de vida luxuoso. Localizada em um morro bem íngreme e com apenas
uma rota de acesso, Consistia em uma fortaleza natural. Compreensivelmente, seus
habitantes tinham excesso de confiança e vigiavam mal os muros da cidade, quando o
faziam. Em razão disso, a cidade foi capturada de surpresa em duas ocasiões, primeiro
por Ciro, o Grande (547 a.C.), e posteriormente por Antíoco (214/213 aC.). Em ambas as
ocasiões, soldados inimigos escalaram o precipício a noite e encontraram os muros sem
vigilância, invadindo depressa aquela cidade arrogante e sem defesa.
O tom de Jesus é alarmante e severo desde o princípio, dando apenas repreensões.
Elas não dizem respeito a nenhum pecado específico, mas de Complacência e letargia
espiritual. Apesar da reputação que a igreja tinha de estar viva, Ele a encontra
espiritualmente morta, refletindo uma cidade que sobrevivia da reputação passada. As
obras de Sardes não estavam a altura daquilo que Deus esperava, pois careciam do
poder transformador do evangelho (Ap 3:2). Suas concessões ao ambiente pagão haviam
de fato matado sua espiritualidade e seu testemunho.
Jesus incentiva a igreja a se manter alerta, lembrando como ela ouvira e aceitara o
evangelho no início (v. 2, 3). A única maneira de reacender a devoção a Deus seria
mantendo vivas na mente as experiências passadas, aplicando-as ao presente. O
arrependimento resultante tiraria seus membros da letargia e, pelo Espírito de Deus, daria
uma nova energia a seu amor e devoção.
Caso, porém, os cristãos de Sardes não se arrependessem, Jesus viria inesperadamente
a eles em juízo, como um ladrão no meio da noite. Se a igreja não vigiar, seu destino
espelhará a história da cidade, conquistada duas vezes de maneira inesperada, por falta
de vigilância. De maneira semelhante, Cristo a visitará em juízo e, caso fracasse em
permanecer alerta, será tarde demais para se arrepender (v. 3b).
Entretanto, nem todos estavam espiritualmente mortos. Alguns mantiveram suas
vestes limpas, sem vestígios de paganismo (v. 2, 4). Jesus promete que essas pessoas
são dignas de andar com Ele vestidas de branco, o que simboliza a fidelidade delas para
com Ele. O cumprimento dessa promessa é apresentado em Apocalipse 7:9 a 17. Ao
vencedor, Cristo dará vestes brancas e promete não apagar seu nome do Livro da Vida,
confessando-o perante o Pai e Seus anjos.
A mensagem da igreja de Sardes simboliza profeticamente o período da Reforma
Protestante, de aproximadamente 1565 a 1740. Durante esse período, a igreja passou
pela Escolástica Protestante, que sucedeu as renovações trazidas pela Reforma,
mergulhando a igreja em um formalismo sem vida. Cada vez mais, as pessoas se
concentraram em polemicas e controvérsias doutrinárias, degenerando para um estado
de letargia espiritual.
No fim, a maré crescente de racionalismo filosófico e secularismo subjugou a graça
salvadora do evangelho, dando lugar ao racionalismo e a argumentos teológicos. Apesar
da aparência de vitalidade, a igreja estava, na verdade, morta.

- Filadélfia
Filadelfia era uma cidade próspera que ficava na estrada imperial, a qual conectava todas
as partes do oriente com o ocidente. Desde o princípio, havia a intenção de que Filadélfia
28
fosse uma cidade missionária de promoção da língua e cultura grega para todas a Frigia,
mas sua localização geográfica a sujeitava a terremoto. O mais grave de todos
aconteceu por volta de 17 dC.devastando Filadélfia , Sardes e outras cidades próximas.
O discurso de Jesus a Filadelfia é rico em alusões ao Antigo Testamento; o Santo" é uma
descrição de Deus (Ap 3:7; cf. Is 43:15-) bem como uma designação do Novo Testamento
para Jesus (Mc 1:24)
A posse da chave de Davi consiste em uma alusão a Isaias 20 Aquele que possui plena
autoridade e acesso aos depósitos celestiais explicando por que é capaz de fazer
promessas grandiosas a Sua igreja.
Em contraste com Sardes, Filadélfia não recebe repreensão nenhuma. Seus
membros guardavam as palavras de Jesus e não O negavam. Assim como os habitantes
de Esmirna, eles também sofriam com a oposição dos judeus, mas Cristo garante a igreja
que estava lidando com seus adversários. Está chegando o dia em que aqueles que Ihe
causam dano serão forçados a admitir que Deus está com Sua igreja. Essa congregação,
porém, não era espiritualmente forte. Como Sardes sofria a influencia do ambiente pagão
no qual estava inserida, o qual impactava de forma significativa sua vida espiritual e
testemunho. Apesar de sua fraqueza, Cristo promete lhes abrir uma porta de
oportunidades. Quando Ele abre essa porta, nem todo o poder do inimigo é capaz de
fechá-la.
Jesus também prometeu preservar os filadelfenses durante o período de provação
severa que sobreviria aos ímpios, a "hora da provação que há de vir sobre o mundo
inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra (Ap 3:10). Apesar da aproximação
de momentos difíceis, Cristo promete proteger Seu povo fiel durante esse período de
prova. Tudo o que Ele pede é que permaneçam firmes diante da pequena chama de
fidelidade que possuem. Caso façam isso, nem Satanás, nem seres humanos serão
capazes de tirar a coroa da vitória que lhes foi reservada. Os vencedores recebem a
promessa de se tornar colunas permanentes simbolos da igreja do Novo Testamento
(1Tm 3:15) - no templo da nova Jerusalém, como nome de Deus, da nova Jerusalém e de
Jesus escrito neles. Os fiéis recebem a promessa de permanecer sempre na presença de
Deus e servi-Lo em Seu templo (Ap 7:15).
A mensagem à igreja de Filadélfia simboliza profeticamente a situação do
cristianismo ao longo dos séculos 18 e 19, período caracterizado por um grande
reavivamento do protestantismo. Diversos movimentos revitalizaram a fé genuína na
graça salvadora de Cristo, resultando em uma restauração do espirito de comunhão e
sacrifício pessoal cristãos. Durante essa época, a igreja foi impulsionada por um desejo
genuíno de levar o evangelho ao mundo inteiro. Ao longo desses anos, houve uma
circulação mais significativa do evangelho do que nunca antes.

- Laodicéia
Por causa de sua localização favorável na principal estrada comercial entre Éfeso e a
Síria, Laodicéia era um dos grandes centros comerciais do mundo antigo. Sua riqueza
provinha, em grande parte, da luxuosa lã negra usada para fabricar roupas, bem como de
sua posição como importante centro bancário, armazenando grandes quantidades de
ouro. Laodicéia também ostentava uma escola de medicina que produzia um unguento
para os olhos, feito com pó da Frigia misturado com óleo.
A cidade era tão rica que rejeitou auxilio imperial após ser devastada por um
terremoto em 60 d.C., explicando que a ajuda era desnecessária. De fato, o único revés
foi a falta de água, a qual era levada até a cidade por meio de um aqueduto de quase 10
km de extensão. Abastecida tanto por uma fonte termal quanto por água gelada das
montanhas, a cidade ganhou a fama de ter água morna.
29
Laodicéia esta em uma condição tão ruim que Jesus não tem nada de positivo para dizer
a respeito dela. Apesar da ausência de acusações especificas de pecado, apostasia ou
heresia, nenhuma outra igreja recebe uma repreensão tão severa da parte de Cristo. Ele
compara o suprimento de água da cidade aos membros, nem agradavelmente frios, nem
quente, mas mornos. Por esse motivo, Jesus estava prestes a vomitá-los da boca (Ap
3:16).
A igreja reflete a complacência de uma cidade cheia de si. Crendo que a Riqueza é
um sinal de favor divino, por isso não sente necessidade alguma. Infelizmente, sua
riqueza material não se traduz em riqueza espiritual. Pelo contrário, os cristãos de
Laodicéia acabam experimentando o efeito oposto. Nesse caso, a palavra grega para
pobre (ptöchos) Significa pobreza extrema. Além disso, a falta de consciência da própria
condição os deixou espiritualmente cegos. Que irónico para uma cidade conhecida por
tratamento para os olhos!
Jesus aconselhou a igreja a comprar três coisas Dele. A primeira é ouro refinado
pelo fogo, O que tornaria os laodicenses verdadeiramente - um símbolo da fé testada e
provada (1Pe 1:7). Em segundo lugar, oferece vestiduras brancas para cobrirem a nudez
um símbolo da salvação (Ap 3:4-6; 7:9, 13, 14; Is 6l:10) e de um relacionamento com
Deus (Ap 3:4). Por fim, oferece colírio para curar os olhos, a fim de conseguirem enxergar
com precisão a própria condição e o valor que Jesus torna disponível a eles (cf. Ef 1:17,
18). O fato de que esses itens não estão disponíveis de graça indica que os habitantes de
Laodicéia precisariam dar algo em troca por aquilo que necessitavam. Deveriam
abandonar o orgulho, a complacência e a autossuficiência, a fim de receber as riquezas
de Cristo.
Jesus não desiste deles e faz todo o possível para que reconheçam sua condição e
quebrem as correntes da autossuficiência. O único remédio é o arrependimento
verdadeiro e um novo começo com Cristo. Jesus Conclui Seu apelo com a imagem
emocionante de Sua presença batendo à porta (Ap 3:20; cf. Ct 5:2-6). De repente, Cristo
passa a falar aos indivíduos da igreja. Aqueles que abrirem a porta desfrutarão um jantar
especial com Ele, indicando um relacionamento profundo e pessoal.
Em geral o numero de promessas é proporcional ao declínio da condição espiritual
da igreja. Mas Laodicéia só recebe uma promessa: sentar-se no trono com Jesus.
Entretanto, essa promessa, que se cumprirá quando Cristo voltar à Terra (Ap 20:4-6),
abrange todas as outras. Sentar-se com Jesus no trono é ter tudo.
A atitude morna e autossuficiente de Laodiceia anuncia profeticamente a condição
da igreja desde 1844 até a volta de Jesus. Lutamos para ter autenticidade e fazer mais do
que apenas deixar a vida nos levar. O tempo é urgente. Enfrentamos tumulto politico,
religioso e secular de uma forma jamais experimentada por qualquer geração anterior.
A advertência de Cristo a Laodicéia é uma mensagem direta para nós e tem
desdobramentos abrangentes para todos que vivem no fim da história da Terra.
30
CAPÍTULO 6

ANÁLISE DOS 7 SELOS DO APOCALIPSE


Extraído e Adaptado dos Livros: “Estudos Sobre Apocalipse”; Frank B Holbrook - Editor

EXEGESE GERAL

Após a visão indicial do apocalipse, há um convite a João para "subir para aqui'
através de uma porta aberta no próprio Céu (Ap 4:l). Ali Ihe é permitido ver o trono de
Deus circundado de uma corte celestial (Ap 4:2-8). Em uma cena de inexprimível louvor e
devoção (Ap 4:8-11) "aquele que se acha assentado no trono" é adorado por sua
santidade e sua função na criação de todas as coisas.
A cena de adoração é interrompida por um momento de crise. Um livro de grande
importância na mão do monarca entronizado não pode ser aberto a menos que uma
pessoa digna seja encontrada para desatar os seus sete selos (Ap 5:1- 4) Cristo, descrito
como um cordeiro morto e declarado digno, se levanta e toma o livro da mão direita
daquele que estava assentado no trono (Ap 5:5-7). Esse ato evoca um crescendo ainda
maior de louvor ao Cordeiro e ao que está assentado no trono (Ap 5:8-14). E deixada a
impressão de que este é talvez, o momento mais decisivo na história do universo.
A cena se volta agora para a abertura sucessiva dos sete selos do livro pelo Cordeiro (Ap
6:1-17).
Conquanto um livro selado não possa ser lido até que todos os selos sejam abertos,
a ação de abrir cada selo provoca eventos assustadores na Terra. A abertura dos
primeiros quatro resulta no aparecimento de cavaleiros em cavalos cujas ações produzem
crescente desunião e angústia sobre a terra (Ap 6:1-8). A abertura do quinto e de sexto
selos destaca o sofrimento dos mártires e os sinais cósmicos que precedem o fim (Ap
6:9-17). O capitulo conclui com uma solene interrogação em face do grande dia da ira de
Deus e do Cordeiro: qual ser humano "pode suster-se" (Ap 6:17)?
A resposta é apresentada no capítulo 7, quando os ventos da agitação sopram sobre
a Terra, aqueles que estão selados na fronte com o selo do Deus vivo serão abrigados
(Ap 7:1-3). Esses que estão "em pé são descritos por um par de imagens: 144 mil
compostos de 12 mil de cada uma das 12 tribos de Israel (Ap 7:4-8) e uma multidão
inumerável de todas as tribos da Terra (Ap 7: 9-17). Quer essas duas designações
representem um grupo ou dois, elas claramente retratam a totalidade daqueles que sao
protegidos no grande dia da ira. Eles se unem à corte celestial em louvor (AP 7:9-12) e
serviço diante do trono (Ap 7:14-17)

SELOS NO CONTEXTO

Declarações de introdução e conclusão são de grande relevância na compreensão


de qualquer livro bíblico. E particularmente importante no que diz respeito ao Apocalipse .
O profeta João tem uma técnica de encaixar engenhosamente cada um seus resumos
introdutórios na seção precedente, geralmente no ponto culminante. Por exemplo,
embora o sofrimento das almas debaixo do altar (Ap 6:9-11) forneça um clímax incisivo
para a guerra, fome e pestilência na sequência dos quatro cavaleiros, a resposta ao seu
clamor "Até quando, ó Senhor? aguarda as pragas das sete trombetas (ver Ap 8:3-5, 13).
Igualmente, os cinco conceitos centrais de Apocalipse 11:18 se tornam o princípio
ordenador dos capítulos 12 a 22. A mensagem do terceiro anjo (Ap 14:9-12) chega ao
clímax na resposta de Deus ao ataque do dragão e seus aliados.
Ao mesmo tempo, porém, a linguagem aponta para Apocalipse 15:1, que introduz as
31
taças das pragas. Apocalipse 21:1-8 funciona como o ponto culminante da visão dos mil
anos e como a introdução à descrição detalhada da Nova Jerusalém.

PASSAGEM DE LIGAÇÃO / TRAMPOLIM (Ap 3:21)

A chave para o significado mais amplo de muitas porções do Apocalipse está,


portanto, frequentemente localizada em uma declaração culminante precedente. Tendo
isso em mente, não deve ser nenhuma surpresa que o melhor ponto de partida para um
estudo dos selos seu contexto seja Apocalipse 3:21. Embora a passagem funcione como
o ponto culminante de todas as promessas ao vencedor (Ap 2-3), sua linguagem fornece
uma visão geral resumida do conteúdo dos sete selos.

“Aquele que vencer,


dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono,
assim como também eu venci
e me sentei com meu Pai no seu trono”.

Nesse texto Cristo promete recompensar o vencedor dando a ele a participação em


Seu trono. A vitória do cristão é descrita como uma experiência continua presente, mas o
seu assentar no trono é futuro. O trono do Pai, a vitória de Cristo e a união de Cristo e o
Pai em seu trono, são os temas centrais de apocalipse 4 e 5. Somente em apocalipse 7 é
permitido aos redimidos se unir no regozijo e na adoração da corte celestial (Ap 7:9-12).
A cena introdutória dos selos (Ap 4-5)é portanto, um aprimoramento da última parte
de Apocalipse 3:21 (concernente à vitória e entronização de Cristo). A cena de louvor de
7:9-17 cumpre a promessa de que o vencedor se juntará a Cristo em seu trono. Entre as
duas cenas do trono está o capítulo 6. Portanto, os selos do capitulo 6 correspondem à
afirmação de apocalipse 3:21. Os selos do capítulo 6 tem a ver com o período em que o
povo de Deus está no processo de vencer.
Considerando que os eventos de Apocalipse 7 correspondem ao final da história
terrestre, enquanto a ênfase da cena do trono em Apocalipse 5 está sobre a morte de
Cristo, é evidente que Apocalipse 6 é uma descrição visionária dos eventos sobre a Terra
entre a cruz e a segunda vinda. Há um foco especial sobre o evangelho de Jesus Cristo e
sobre as pessoas que aceitam e proclamam esse evangelho.

PARALELOS ESTRUTURAIS

É essencial que o intérprete do apocalipse seja sensível a outras partes do livro que
podem se relacionar com a passagem em estudo. No livro do apocalipse a chave para o
significado de uma passagem pode estar na extremidade oposta da profecia. “Os
primeiros 14 capítulos do livro funcionam com um paralelo quiástico com os últimos oito
capítulos" . A escolha da linguagem por João sugere-lhe que Apocalipse 4-7 está disposto
em posição paralela principalmente relacionada ao material de Apocalipse 19 (embora
elementos de Ap 7:15-17 estejam estreitamente relacionados com Ap 21:3,4).

Cenas de adoração
O primeiro elemento que envolve estas duas partes do apocalipse são as cenas de
adoração. A única passagem que combina os quatro seres viventes, os 24 anciãos, o
trono de Deus e cenas de louvor e adoração são encontradas em Apocalipse 4, 5, 7 e 19
(ver Ap 4:6-11; 5:8-14; 7:9-14; e 19:4). Outros elementos comuns destes capítulos incluem
as palavras escolhidas para louvar a Deus e as vestimentas que se usavam.
Nos capítulos 4 e 5, Deus e o Cordeiro são louvados por sua atividade na criação e
na cruz (Ap 4:11; 5:9, 12). Mas nos capítulos 7 e 19 eles são louvados por redimir a
32
grande multidão no final de sua tribulação (Ap 7:9-14) e por destruir a grande Babilónia do
fim dos tempos (Ap 19:1-8). Isso confirma o ponto de vista de que a cena de Apocalipse
4-5 pertence principalmente ao inicio da era crista, mas aquelas em Apocalipse 7 e 19
focalizam o final desta era.

Cenas dos Cavalos


O segundo grupo principal liga as atividades dos quatro cavaleiros (Ap 6:1-8),
principalmente o primeiro, ao cavalo branco e ao cavaleiro (Ap 19:11-15). Os elementos
comuns incluem o cavalo branco, a coroa , e a espada.' A analogia mais impressionante
é a do cavalo branco, um símbolo que não aparece em nenhuma outra parte do
Apocalipse. A imagem em ambos os casos tem a ver com conquista. Apocalipse 6:2,
porém, a palavra grega para "coroa” (stephanos) implica uma recompensa pela vitória.
Contudo, a palavra grega em 19:12 (diadēmata) indica uma coroa real , implicando no
direito de reinar.
Apocalipse 6:2 destaca a vitória sobre a Cruz e suas consequências, ao passo que
19:11-15 realça a subjugação final do mal na segunda vinda de Cristo, quando Ele
literalmente assume o seu reino. Essa analogia sinaliza a mudança do estabelecimento
do direito de Cristo de reinar nos lugares celestiais (cap 4,5) para demonstrar seu direito
de reinar sobre a terra em seu retorno (Ap 19:11-15). O cavalo branco do capítulo 6
simboliza a vitória de Cristo na propagação do seu reino invisível através da pregação do
evangelho. O cavalo ou cavalos brancos do capítulo 19 simbolizam a subjugação total do
mal por Cristo em sua segunda vinda.

Juízo
O terceiro grupo de analogias liga o quinto selo (Ap 6:9-11) a Apocalipse 19:1, 2. O
primeiro é um chamado ao juízo (krineis) e vingança (ekdikeis) sobre aqueles que habitam
na Terra. O último proclama que o juízo (kriseis, ekrinen) e a vingança (exedikësen) são
executados sobre Babilônia, o equivalente do fim dos tempos daqueles que atormentaram
os mártires ao longo da era cristã.
A hora do juízo e vingança mencionada em Apocalipse 19 não se refere diretamente
a nada nos selos, mas resume o conteúdo explícito de Apocalipse 18, que, por sua vez,
se baseia em Apocalipse 17 e 14:8-11. Assim, o surgimento da Babilônia do fim dos
tempos e o seu juízo e destruição caem entre o tempo do quinto selo e a proclamação de
Apocalipse 19:2.

Dia da ira
Finalmente, o quarto grupo envolve um paralelo ou analogia entre aqueles que são
aterrorizados no dia da ira (Ap 6:15-17) e aqueles que são consumidos nos lugares
celestiais (cap. 4–5) para demonstrar esse direito de reinar sobre a Terra em seu retorno
(Ap 19:11-15).
O exame acima apoia a observação geral (Strand) de que a profecia dos selos cobre
a vasta extensão da história cristã, ao passo que o material do capítulo 19 focaliza os
acontecimentos finais que precedem a consumação dessa história. Isso não exclui o fato
óbvio de que os elementos dessa sequência histórica podem em sua ordem focalizar o
fim como parte dessa extensão histórica. A evidência sugere que o quinto e o sexto selos
definitivamente “inclinam-se para o fim” e apontam para o mesmo clímax mencionado em
Apocalipse 19. Por outro lado, os quatro cavaleiros (Ap 6:1-8) tomam seu exemplo da
cruz e suas consequências, com ênfase na primeira parte da era cristã.
33
A APRESENTAÇÃO DO DEUS CRIADOR

“Depois disso, olhei, e eis que uma porta havia sido aberta no Céu, e a primeira voz
que ouvi, falando comigo em tons como de trombeta, disse: Sobe para aqui, e te
mostrarei as coisas que devem acontecer depois disso (Ap 4:10).”

Cena do santuário celestial.


A profecia dos selos inicia com uma cena introdutória em que João ascende ao
santuário celestial. A porta aberta (thura ēneõgmenē) é recordativa da porta aberta (thuran
ēneõgmenēn) de acesso a Cristo, que fortalece a igreja de Filadélfia em sua fraqueza (Ap
3:8). A voz como de trombeta lembra a aparição anterior de Jesus a João (Ap 1:10). A
frase “que devem acontecer depois disso” deliberadamente lembra o propósito do
Apocalipse (1:1, 19). Jesus declara que as “as coisas que são, e as que hão de acontecer
depois destas” são a substância do livro (Ap 1:19).
Apocalipse 1:1 indica que a ênfase está sobre as últimas coisas. A ausência das
cousas que são" em 4:1 nos diz duas coisas: 1) as cartas às igrejas focalizam
principalmente a situação original do tempo de João em vez da história posterior; 26 e 2)
com capítulo 4 estamos caminhando para a principal ênfase do livro – os eventos devem
ocorrer depois do tempo da visão.
Vista sob essa luz, a conexão literária entre a porta aberta” de 3:8 e 4:1 não
pressupõe um cenário do fim dos tempos para a cena do trono em Apocalipse 4-5. A porta
aberta, através da qual João ascende às cortes celestiais, o habilita a "ver” a “revelação
de Jesus Cristo", que resultará na produção do seu livro. Não é, portanto, distorcer o texto
sugerir que o capítulo 4 provê uma introdução não somente para os selos, mas para o
restante do livro.
“Em espírito” (Ap 4:2) parece ser a maneira de João de introduzir uma sequência
visionária (ver Ap 1:10; 17:3; 21:10). O tempo do verbo grego traduzido na New American
Standart Bible, “estava em pé” (ekeito), atesta que o profeta não compreende o trono
como posto ou armado recentemente, mas antes ter estado continuamente naquele lugar
até aquela ocasião. Isto está em contraste com Daniel 7:9, onde tronos são “postos” ou
“levantados”, um claro sinal de que João não percebe essa cena como uma duplicata
daquela encontrada em Daniel.
A visão do santuário celestial apresenta uma série de imagens que destacam a
glória da cena (Ap 4:3-6a). Há pedras preciosas, um arco-íris, trovões e relâmpagos, sete
lâmpadas, um mar de vidro semelhante ao cristal e 24 anciãos que se assentam em
tronos ao redor do trono vestidos de branco e usando coroas (stephanoi) de ouro em suas
cabeças.

Quem são esses 24 anciãos?


Eles são mencionados 12 vezes em Apocalipse (Ap 4:4, 10; 5:5, 6, 8, 11, 14; 7:11,
13; 11:16; 14:3; 19:4). O fato de que o numeral 24 é a soma de duas séries de 12 pode
sugerir um elo com as 12 portas da Nova Jerusalém, que têm os nomes das doze tribos
de Israel e 12 fundamentos que têm os nomes dos 12 apóstolos do Cordeiro.40 Uma
ligação com os 144 mil (12 vezes 12) pode ser também indicada. Os 24 anciãos
evidentemente representam a humanidade exaltada e redimida. Os crentes vencedores
partilham o trono de Deus, não anjos (3:21). Eles são as primícias, os primeiros que
chegaram aos Céus , e lá estão como garantia de que todos os demais em breve lá
estarão tambem. As vestes brancas são normalmente usadas pelos santos em Apocalipse
(Ap 3:4, 5, 18; 6:11; 7:9, 13, 14)." As coroas de ouro não são coroas reais (diadēmata, ver
19:11), mas coroas de vitória (stephanoi), particularmente apropriadas para os redimidos
e Cristo (Ap 2:10; 3:11; 12:1; 14:14).
34
Essa evidência de sua humanidade é ainda apoiada pela evidência do contexto.
Anjos nunca se assentam em tronos na Bíblia ou na literatura judaica primitiva. Os
cristãos, por outro lado, que têm funções reais (1Pe 2:9-10; Ap 1:6; 5:9-10), podem ser
descritos assim (Mt 19:28; Lc 22:30; Ap 20:4). A palavra para “coroas de
vitória” (stephanoi) é usada para a coroa de espinhos de Cristo (Mt 27:29; Mc 15:17; Jo
19:2,5) e para a dos crentes e sua recompensa (Fp 4:1; 1Ts 2:19; 2Tm 4:8). Anjos jamais
as usam (FEUILLET, 1958, p. 7). Nem os anjos são chamados anciãos, embora essa seja
uma designação comum para os dirigentes tanto da sinagoga quanto da igreja
(FEUILLET, 1958, p. 9-14).
Os 24 anciãos, portanto, parecem ser seres humanos levados ao Céu antes da
consumação de todas as coisas. Eles devem provavelmente ser identificados com os
indivíduos ressuscitados na ressurreição de Cristo (Mt 27:52-53; Ef 4:8). Eles simbolizam
o que todos os crentes podem se tornar em Cristo (Ap 3:21; 12:11; cf. Ef 2:6).

Os 4 seres viventes
O pleno significado dos quatro seres viventes (Ap 4:6b-8) torna-se evidente apenas
quando eles são vistos à luz da formação literária de João. Do trono celestial, eles
introduzem o primeiro hino cantado na sala do trono, o tríplice "santo” (Ap 4:8). Esse hino
é fortemente recordativo de Apocalipse 1:4, 8. Do trono e cantam um cântico próprio (Ap
4:9-11)
Sempre que (hotan) os quatro seres viventes louvam ao Pai que se encontra
sentado no trono, os 24 anciãos prostram-se em adoração. A expressão “sempre que”
deixa claro que essa cena do capítulo 4 não é um ponto específico no tempo (como 31
d.C. ou 1844). Antes, retrata a natureza contínua da adoração celestial. O capítulo 4 não é
um evento único, mas o cenário básico para toda a atividade da sala do trono celestial.
No capítulo 5, por outro lado, uma crise atinge a corte celestial. O cântico dos anciãos em
4:11 inicia com uma palavra que se tornará central para a resolução dessa crise.
Os anciãos atribuem dignidade suprema a Deus baseados no fato de Criador, Ele é
a fonte para a existência de toda a criação. Assim, o capítulo 4 é levado ao seu glorioso
clímax sem nenhum indício da crise a seguir.

ANALOGIAS ESTRUTURAIS COM O ANTIGO TESTAMENTO

“Maldições da aliança.”
Encontramos as principais analogias estruturais com os capítulos 4 e 5 nas visões
do trono do AT. Por outro lado, o capítulo 6 lembra as maldições da aliança no Pentateuco
e sua execução no contexto do exílio babilônico. O conceito de “guerra, fome e
pestilência” se originou nas bênçãos e maldições que atingiram o clímax nos Códigos de
Santidades do Pentateuco. As maldições da aliança de Levítico 26:21-26 contêm muitas
analogias aos quatro cavaleiros de Apocalipse 6.

Os cavalos de Zacarias.
É muito provável que a visão dos selos tire suas principais imagens da combinação
feita por Zacarias de quatro cavalos coloridos de patrulha com o plangente “Até quando, ó
Senhor?" A cena se relaciona com o final do exílio de Judá em Babilônia. Os ímpios estão
tranquilos. Deus havia entregue Judá em suas mãos como punição por seus pecados.
Mas os pagãos exageraram em sua função de juízo. Deus agora está prestes a agir em
resposta ao apelo da aliança, "Até quando?" Particularmente significativa para os sete
selos é a equação dos quatro cavalos com os quatro ventos (espíritos] do Céu” (Zc 6:5).
35
INTERPRETAÇÃO DO APOCALIPSE 6

Tempo dos selos


Reconhecemos, a despeito da discussão acima, que vários elementos de Apocalipse
4-6 sugerem para alguns que a passagem envolve o juízo investigativo conforme descrito
em Daniel 7:9-14. Insiste-se que a cena introdutória é extraída das imagens de Daniel 7.
Assim, o trono poderia estar associado ao lugar santíssimo do santuário celestial. Além
disso, acredita-se que o sexto capítulo baseia-se na linguagem do juízo. Contudo,
devemos reagir observando que este não é o caminho mais natural para se ler os selos.
A conexão entre a passagem dos selos e Apocalipse 3:21, implica que a cena introdutória
(Ap 4–5) retrata simbolicamente a entronização de Cristo no santuário celestial em sua
ascensão.
O capítulo 7 termina com o povo de Deus na sala do trono. Portanto, os selos do
capítulo 6 retratam eventos na terra desde a cruz até a segunda vinda, com foco particular
boneca velho e na experiência do povo de Deus.
Embora a cena introdutória tire imagens de Daniel 7, grandes diferenças tornam-se óbvias
quando as duas visões são comparadas. Por exemplo, a atenção é dirigida para um livro
em contraste com os vários livros de Daniel; o trono não foi erguido recentemente ,
omnívoro está se,ado em vez de aberto, aquele que se aproxima do livro é o Cordeiro,
não como o Filho do Homem. Assim, é evidente que as duas cenas não são as mesmas.
Há uma ausência total da linguagem explícita do juízo em toda a seção.
Concluímos, portanto, que a cena introdutória do santuário é uma descrição da
entronização de Cristo e a inauguração do santuário celestial em 31 d.C. Esse evento
tornou-se possível por sua vitória na cruz. O capítulo 6 retrata as consequências sobre a
Terra desde aquele tempo até a segunda vinda. Seu foco é sobre o evangelho e sobre o
processo histórico dentro do qual o povo de Deus.

Primeiro selo (Ap 6:1-2).


O primeiro ser vivente (leão, com uma voz como a de trovão) faz surgir um cavalo
branco cujo cavaleiro carrega um arco e sal para vencer. A interpretação deste selo é
decisiva para a compreensão de todos os quatro cavaleiros. A natureza positiva do cavalo
branco é apoiada pelo fato de que o primeiro cavaleiro não produz aflições como os
outros três. Parece melhor, portanto, compreender o cavalo branco como símbolo do reino
de Cristo e sua conquista gradual do mundo através da pregação do evangelho por sua
igreja. O que foi ratificado no Céu na entronização do Cordeiro é agora ativado uma
experiência do seu povo no decorrer da história humana. Esse quadro está
provavelmente baseado no tema israelita da realeza em Salmo 45:3-7.
O Salmo 45 combina essa imagem militar com aquela de um casamento real (SI
45:10-15). Quando a vitória está completa, o casamento pode ocorrer. Em Apocalipse 6:2,
contudo, a vitória está apenas a caminho, o casamento deve que a frase "vencendo e
para vencer" expressa um aumento progressivo de vitória, o cavalo branco não termina
com o primeiro século. Antes, o símbolo retrata de um modo geral o progresso do
evangelho durante toda a era cristã.

Segundo selo (Ap 6:3-4).


Na abertura do próximo selo, o segundo ser vivente (novilho, Ap 4:7) faz surgir um
cavalo vermelho. Seu cavaleiro recebe uma grande espada e lhe é permitido tirar a paz
da Terra, resultando em guerra e mútua destruição humana. O cavalo não é “vermelho” no
sentido técnico. O adjetivo é extraído da palavra grega para "fogo” (pur). O fogo no livro
do Apocalipse está frequentemente associado às coisas celestiais (Ap 8:5; 14:18), mas
sempre para o propósito de juízo (Ap 8:7; 20:10, 14, 15).
36
Embora as imagens dessa passagem lembrem guerra militar, a única outra menção
de “paz” em Apocalipse é de natureza espiritual (Ap 1:4). A palavra grega para “matar” é
normalmente usada para a morte de Cristo e de seus santos (Ap 5:6, 9, 12; 6:9; 13:8;
18:24). Consequentemente, é improvável que o segundo selo se refira primariamente ao
conflito militar. Antes, pode representar perseguição, a perda da paz espiritual e a divisão
por causa do evangelho...

Terceiro selo (Ap 6:5-6).


Na abertura do terceiro selo, o terceiro ser vivente (presumivelmente, o que tem o
rosto de um homem) faz surgir um cavalo preto e seu cavaleiro segura uma balança. A cor
“preta” não é de outra forma simbólica nas Escrituras gregas. É normalmente usada para
a cor do cabelo ou pele por um lado, e para "tinta” por outro. Seu significado nessa
passagem provavelmente deriva de seu contraste com o cavalo branco do primeiro selo.
A “balança” (zugon) é frequentemente usada como um símbolo de Deus julgando as
pessoas (Jó.31:6; Dn 5:27). Nesse caso, seria juízo segundo o evangelho (Jo 3:18-21;
5:22-25). O cavaleiro do cavalo preto, diferente dos primeiros dois cavaleiros,
aparentemente não se empenha em nenhuma ação. Uma voz no meio dos quatro seres
viventes proclama:

Uma medida de trigo por um denário;


três medidas de cevada por um denário;
e não danifiques o azeite e o vinho.

Cereais, azeite e vinho eram as três principais culturas da antiga Palestina.


Como tais, elas representavam a bênção de Deus (Dt 7:13; Os 2:8; Jl 2:19, 24). Assim, a
imagem é de uma fome induzida pela seca. Este selo remete simbolicamente a fome da
Palavra de Deus (ver Am 8:11-12), mas uma fome que está limitada pela ordem do Céu
de forma que não remova os recursos da graças. O evangelho foi obscurecido, mas seus
benefícios ainda estão disponíveis.

Quarto selo (Ap 6:7-8).


Ao ser aberto o quarto selo, o quarto ser vivente (provavelmente a águia ou abutre)
faz surgir um cavaleiro sobre um cavalo de cor amarelo-esverdeada. Esse cavaleiro,
Morte, é seguido pelo Hades e tem autoridade sobre a quarta parte da Terra para matar
com a espada, fome, pestilência (morte)" e as feras da terra. Essa intensificação das
perniciosas atividades do segundo e terceiro cavaleiros é aumentada pelos outros dois
elementos do juízo da aliança: (pestilência) (morte) e animais selvagens (ver Ez 14:20-21;
5:12, 17; Jr 14:12; 29:17-18).
Se o selo deve ser compreendido em termos espirituais, ele retrata de longe
a mais grave decadência espiritual já descrita no livro (o clímax vem em Ap 18:2-3); é uma
pestilência de alma. Essas pragas caem sobre aqueles cuja rejeição ao evangelho tem
endurecido ao ponto de quase desespero. Em Apocalipse 1:18, a morte e o Hades
(sepultura) estão claramente sob o controle de Cristo. Em 20:14, eles estão associados
com o conceito da “segunda morte.” Essa tríplice analogia apresenta evidência de que o
quarto selo envolve a ameaça de permanente exclusão da misericórdia.
Esse selo, porém, por mais terrível que seja, não deve ser equiparado ao último.
Como foi o caso com o terceiro, esse cavaleiro não “sai", indicando que é o término da
graça no fim dos tempos. Nos textos que contextualizam Levítico 26 e Deuteronômio 32,
essas pragas não são finais, mas destinadas a evocar o arrependimento. Juízos
adicionais sobre os ímpios estão adiante, no quinto e sexto selos.
37
Junção Histórica
Quatro cavaleiros. Os quatro cavaleiros provavelmente devem ser compreendidos
mais como uma progressão de pensamento do que como uma sequência histórica rígida.
Em primeiro lugar, a virtual ausência de qualquer referência a tempo está em evidente
contraste, por exemplo, com as sete trombetas. Além disso, as desgraças refletidas nos
selos 2-4 são ordenadas de uma ampla variedade de maneiras no AT.79 Uma variedade
semelhante de uso pode ser vista, comparando-se as três versões do Apocalipse Sinótico
(Mt 24; Mc 13; Lc 21), onde essas desgraças constituem o caráter geral da era cristã.
A descrição do cavaleiro do cavalo branco "vencendo e para vencer" sugere uma
atividade contínua em vez de um período da história a ser seguido por outro período.
Assim, os quatro cavaleiros muito provavelmente representam uma descrição geral da
propagação do evangelho (cavalo branco), a resultante perseguição e divisão (cavalo
vermelho e as crescentes consequências da rejeição desse evangelho (cavalos preto e
amarelo).
Conforme mencionado anteriormente, aos dois primeiros cavaleiros é dito que
“saiam", ao passo que os dois últimos são apenas vistos. Cada um afeta somente quarta
parte da Terra (Ap 6:8). Assim, os “juízos” dos cavaleiros são parciais e reprimidos. O
terceiro e quarto cavaleiros em si não são eventos finais. Eles são preliminares e
antecipações parciais do grande colapso da vida e da compreensão espiritual do fim dos
tempos. Historicamente, eles se ajustam melhor à Idade Média, um tempo de declínio
espiritual e perseguição.

Quinto selo (Ap 6:9-11).


A abertura do quinto selo revela um quadro de pessoas justas mortas "debaixo do
altar” que clamam. A cena está simbolizando crentes que foram sacrificados por sua fé em
tempos anteriores a abertura desse selo. Depois de receber vestiduras brancas, esses
mártires são informados de que devem repousar por pouco tempo até que seus não
julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?
A imagem dos mortos debaixo do altar representa a frustração do povo de Deus para
quem o conteúdo do livro selado ainda está oculto. Embora sua confiança em Deus não
seja abalada, eles anseiam pelo juízo final, quando seus nomes serão absolvidos em um
tribunal mais elevado. O quinto selo representa que Deus sabe dos sofrimentos do seu
povo e Ele responderá no devido tempo.
A cena está simbolizando crentes que foram sacrificados por sua fé em tempos
anteriores a abertura desse selo. Depois de receber vestiduras brancas, esses mártires
são informados de que devem repousar por pouco tempo até que sejam julgados. A
imagem dos mortos debaixo do altar representa a frustração do povo de Deus para quem
o conteúdo do livro selado ainda está oculto. Embora sua confiança em Deus não seja
abalada, eles anseiam pelo juízo final, quando seus nomes serão absolvidos em um
tribunal mais elevado. O quinto selo representa que Deus sabe dos sofrimentos do seu
povo e Ele responderá no devido tempo.

Sexto Selo (Ap 6:12-17)


A abertura do sexto selo desencadeia fenômenos celestiais e terrestres gigantescos.
Há um grande terremoto , uma série de sinais celestiais e um terremoto ainda maior , que
move as montanhas e ilhas (Ap 16:18) o terremoto final leva ao grande horror a
humanidade que não se salvou, fazendo com que fujam da presença de Cristo e busquem
a própria morte.
O paralelismo com o Apocalipse Sinótico argumenta que ao menos alguns, desses
fenômenos ocorrem logo após o período da grande tribulação a que alude o quinto selo.
Que os sinais celestiais devem ser compreendidos como literais é indicado pelo fato de
38
que cada um é seguido por um “como” (hös), que nessa construção introduz uma
analogia figurativa a um evento real.
O sexto selo, portanto, abarca o período desde o clamor dos mártires até Tempo o
fim dos tempos. Sendo que os sinais celestiais de 1780 e 1833 tiveram um
grande impacto sobre o interesse em desenvolvimento no estudo da profecia, o
terremoto de Lisboa de 1755 é o melhor candidato para o terremoto de Lisboa em 1755.

Sétimo selo (Ap 8:1)


A abertura do sétimo selo resulta em apenas uma simples declaração no sentido de
que um breve silêncio ocorre no céu. O silêncio funciona como uma calmaria depois da
tempestade de destruição ocasiona. Uma possibilidade é que o silêncio é um anúncio de
que a justiça divina nada pela segunda vinda de Cristo. Várias explanações são
apresentadas explicar o significado desse silêncio, mas nenhuma prova ser decisiva.
Isso se baseia em declarações textuais que em face da injustiça, Deus se recusa a
guardar silêncio até que a justiça tenha sido satisfeita (ver Sl 50:3-6; Is 65:6-7).

Por amor de Sião, me não calarei e,


por amor de Jerusalém, não me aquietarei,
até que saia a sua justiça como um resplendor,
e a sua salvação, como uma tocha acesa.
As nações verão a tua justiça,
e todos os reis, a tua glória (Is 62:1-2).

Outra possibilidade para interpretar o silêncio desse selo consiste em comparar o


silêncio do fim dos tempos ao silêncio do princípio (Gn 1:2; ver Esdras 7:26-31), ao
silêncio do universo, enquanto observa a destruição do mal (em nítido contraste com a
celebração do apocalipse, 5) e ao silêncio da sala do tribunal, quando o livro é finalmente
aberto. Sendo que o sexto selo retrata os eventos que envolvem a segunda vinda (Ap
6:15-17) e descreve a presença dos redimidos diante do trono (Ap 7:9-17), o sétimo selo
pode ser melhor compreendido ou como um precursor enigmático do milênio ou a paz
universal que resulta da consumação no final do milênio (ver Ap 20:9-15).
39
CAPÍTULO 7

ANÁLISE DAS 7 TROMBETAS DO APOCALIPSE


Extraído e Adaptado dos Livros: “O Apocalipse de João”- Ranko Stefanovic / Questões na Interpretação das Sete Trombetas de Apocalipse - Ángel Manuel Rodríguez

Apocalipse 8:2 inicia uma nova visão, com sete anjos tocando trombetas. Conforme
as trombetas soam, uma série de eventos vai se desencadeando na Terra. Ao abordar
essa visão, é importante recordar a característica literária especial repetida diversas
vezes no livro: o interlúdio. À medida que começa uma nova descrição da visão, João
interrompe seus comentários e insere outra cena com um conteúdo diferente.

As orações dos santos e as sete trombetas


O primeiro interlúdio de Apocalipse 8 está nos versos 3 a 5. O verso 2 fala sobre
sete anjos com trombetas na presença de Deus, mas é somente no verso 6 que eles
recebem a ordem de tocá-las. Já os versos 3 a 5 retratam uma cena que ocorre dentro do
santuário.
Em Apocalipse 8:2, João observa sete anjos com trombetas, prontos para anunciar
os juízos que sobrevirão aos habitantes da Terra. Antes que os anjos toquem as
trombetas, outro anjo não especificado aparece, segurando um incensário de ouro. Ele
fica em pé junto ao altar, que é, sem dúvida, o altar de sacrifício. O altar de sacrifício
ficava localizado no átrio exterior do templo que, na tipologia bíblica, representa a Terra
(cf. Ap 11:2). Isso revela que a cena de Apocalipse 8:3 a 5 começa na Terra.
No altar, o anjo recebe "muito incenso” (Ap 8:3). Ele leva o incenso para o lugar
santo e o oferece com as orações dos santos no altar de ouro perante o trono de Deus. “E
da mão do anjo subiu à presença de Deus a fumaça do incenso, com as orações dos
santos” (v. 4). Depois disso, o anjo encheu o incensário com fogo do altar de ouro e o
atirou à Terra.
Ao jogar o incensário com fogo, "houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto" (v.
5). Esse é o sinal para os sete anjos tocarem suas trombetas. Essa cena reflete os rituais
diários do templo terrestre. Depois que o sangue das ofertas era colocado no altar de
sacrifício, ele era derramado na base do altar: O sacerdote designado pegava um
incensário de ouro e o enchia de brasas do altar. Então levava o incenso para dentro do
templo e oferecia no altar de ouro dentro do lugar santo. Após oferecer o incenso, o
sacerdote saía do templo e soltava o incensário no chão entre o altar de sacrifício e a
entrada do santuário, provocando um barulho bem alto. Nesse instante, sete sacerdotes
tocavam suas trombetas, marcando o fim dos rituais diários.
A ação simbólica de Apocalipse 8:2 a 5 - reproduzindo os ritos diários do templo
terrestre - nos dá uma pista quanto ao significado das sete trombetas. O incenso que o
anjo queima no altar de ouro representa as orações do povo de Deus (Ap 5:8; cf. SI
141:2). Esse incenso se originou no altar de sacrifícios, debaixo do qual, no quinto selo, o
sangue dos mártires santos clama a Deus pelo juízo daqueles “que habitam sobre a terra”
(Ap 6:10).
Isso mostra que o incenso que o anjo ministra perante o Senhor representa as
orações do povo sofredor de Deus. O juízo recairá então sobre os “que moram na terra"
em resposta às orações dos santos encontrados na cena do quinto selo (Ap 8:13). As
sete trombetas se referem à intervenção do Senhor na história, em resposta às orações
de Seu povo oprimido. Elas anunciam o juízo divino contra aqueles que fizeram mal a Seu
povo. No entanto, não consistem na palavra final de Deus aos ímpios. Embora tenha
intenção punitiva, esses juízos estão misturados à misericórdia. Seu propósito é advertir
40
os habitantes da Terra antes do dia do juízo, oferecendo-lhes a salvação antes que seja
tarde demais.
A que momento da história as sete trombetas se referem? Os rituais diários do
templo nos dão uma pista quanto ao início do toque das sete trombetas. No santuário
terrestre, as trombetas eram tocadas após o sacrificou ser oferecido no altar. Seguindo
esse padrão, o toque das sete trombetas deve começar após a morte de Jesus na cruz.
Eles ocorrem enquanto Cristo intercede no Céu (v. 3-5) e o evangelho é pregado na Terra
(Ap 10:8-11:14). Isso quer dizer que as trombetas dizem respeito à era cristã, isto é, da
cruz à segunda vinda, até que a sétima trombeta soe e Deus estabeleça Seu reino
(Ap11:15-18).
As trombetas abrangem o mesmo período da história que os sete selos. As duas
séries são correspondentes, tanto na estrutura quanto na sequência. No que diz respeito
à sequência, os selos e as trombetas iniciam no 1º século, após a morte de Jesus na cruz
e Sua ascensão ao Céu. A conclusão a sexta e a sétimo parte) Ao passo que o interlúdio
entre o sexto e o sétimo das duas series nos leva ao tempo do fim. No tocante à estrutura,
as séries são subdivididas em grupos de quatro e três, com um interlúdio e selos
apresenta o povo de Deus no tempo do fim, o interlúdio entre a sexta e a sétima
trombetas descreve sua experiência e papel durante esse período.
A diferença entre as duas séries está no foco. Enquanto os selos dizem respeito, em
primeiro lugar, àqueles que professam ser o povo de Deus, embora sejam infiéis ao
evangelho, as trombetas se referem, exclusivamente, àqueles que não professam
pertencer ao Senhor. No entanto, Deus deseja que os dois grupos se salvem. Ele quer
ganhá-los antes que a porta da salvação se feche.

O anjo com o livrinho (10:1-7)


Nesse momento, João vê um anjo de aparência magnífica descendo do Céu. Ele é
chamado de "outro anjo forte” para distingui-lo dos sete anjos que tocaram as trombetas
(Ap 10:1). A descrição desse anjo se assemelha à de Cristo em Apocalipse 1:12 a 16." Na
mão, o Anjo segura um livrinho que contém a narrativa do tempo do fim e da experiência
do povo de Deus no mundo durante os últimos dias (Ap 12–22).

Já não haverá demora (10:5-7)


Com voz solene, o Anjo jura pelo Eterno que criou os céus, a terra e tudo o que
neles há, declarando que “ já não haverá mais tempo!" (Ap 10:6, Biblia de Jerusalém).
Além disso, durante o toque do sétimo anjo, o mistério de Deus se completará, assim
como foi revelado a Seus servos, os profetas (v. 7).
Essa cena aponta para Daniel 12:4 a 10. Nessa passagem, Daniel recebe a ordem
de selar as palavras do livro até o tempo do fim. Depois disso, um dos homens visto por
ele em visão pergunta quanto tempo demoraria até a perseguição dos santos terminar e
os eventos proféticos acontecerem. Em resposta, o mensageiro celestial ergue as mãos
ao céu e jura por Aquele que vive para sempre que a perseguição do povo de Deus
durará "um tempo, dois tempos e metade de um tempo" (Dn 12:7), então virá o fim. Até
que esse momento chegue, o povo do Senhor deve esperar com
paciência (v. 12).
Apocalipse 10 ecoa Daniel 12 de forma clara, com exceção da expressão “já não
haverá mais tempo”, que substitui a frase “um tempo, dois tempos e metade de um
tempo" de Daniel. "Um tempo, dois tempos e metade de um tempo” é a designação
simbólica do período profético de 1.260 anos, quando o povo de Deus foi perseguido pelo
poder do anticristo. O fim viria após esse período profético.
Em Apocalipse 6:10, encontramos a súplica contínua do povo oprimido de Deus:
“Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso
sangue dos que habitam sobre a terra?" Eles recebem a instrução de esperar um pouco
41
mais (v. 11). Já em Apocalipse 10:6, o povo de Deus recebe a certeza, por meio de um
juramento divino, de que "não haverá mais tempo”. O Senhor ouviu o clamor de Seu povo,
encontrado no quinto selo. Os eventos do tempo do fim logo deveriam ocorrer. Embora o
tempo do fim profetizado por Daniel já esteja em andamento, o anjo adverte João de que
ainda não é o fim. É somente ao toque da sétima trombeta que o fim virá e o mistério de
Deus será cumprido, conforme anunciado pelos profetas (v. 7) e por Daniel em particular.
O mistério mencionado pelo anjo abrange todo o propósito de Deus: estabelecer Seu
reino eterno, simbolizado pelo livro selado de Apocalipse 5, que será aberto na vinda de
Cristo. Nesse momento, conforme declarou Paulo, Deus “não somente trará à plena luz
as coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações” (1Co
4:5). Na segunda vinda, a plenitude desse mistério será revelada a todo o Universo (Ap
20:11-15).

As duas testemunhas (11:3-6)


A cena se desloca do anjo para as duas testemunhas, que são um exemplo perfeito
da amarga experiência cristã durante os 1.260 dias proféticos. João as descreve usando
diversas personalidades do Antigo Testamento. Primeiro elas são caracterizadas como as
duas oliveiras e os dois candeeiros que se acham em pé diante do Senhor" (Ap 11:4).
Nesse verso, João aponta para a visão de Zacarias do candelabro e das duas oliveiras
(Ze 4:2, 3). Foi dito a Zacarias que as duas oliveiras representavam os dois ungidos em
pé junto ao Senhor da Terra (Zc 4:14), isto é, Josué, o sumo sacerdote, e Zorobabel, o
governador da Judeia. Assemelhando-se aos papéis de Josué e Zorobabel, as duas
testemunhas são retratadas com termos sacerdotais e reais.
Em seguida, João retrata as duas testemunhas como Elias e Moisés (Ap 11:5, 6).
Elias fechou o céu para que não chovesse por três anos e meio (equivalentes a 1.260
dias; cf. 1Rs 17; Lc 4:25) e fez cair fogo do céu sobre os soldados que foram prendê-lo
(2Rs 1:9-14). De maneira semelhante, as duas testemunhas mandam fogo de suas bocas
sobre os inimigos e fecham os céus para que não chova durante 1.260 dias (ou três anos
e meio). Assim como Moisés transformou água em sangue e feriu a terra do Egito com
toda sorte de pragas (Ex 7-11), as duas testemunhas também têm autoridade para
transformar água em sangue e ferir a terra com pragas.
Quem são essas duas testemunhas? Estudiosos apontam para dois aspectos: (1) a
Palavra de Deus - o Antigo e o Novo Testamentos; 3 e, mais recentemente, o povo de
Deus, que testemunha da veracidade da Bíblia e do evangelho para o mundo. Apocalipse
11:8, possivelmente, mostre que as duas testemunhas são uma entidade única, em lugar
de duas (o grego diz "o cadáver delas”). Talvez seja também apropriado ver as duas
testemunhas como o povo do Senhor em seu papel real e sacerdotal, pregando a Bíblia
como a Palavra de Deus (cf. Ap 1:6; 5:10). É por causa de sua fidelidade à Bíblia que o
povo do Senhor sofreu ao longo da Idade Média, durante o período profético dos 1.260
dias ou 42 meses (Ap 6:9; 12:6, 13, 14).
Ao tratar das duas testemunhas, Ellen G. White as identifica como o Antigo e o Novo
Testamentos, mas, na descrição desse símbolo, inclui também o povo de Deus, que foi
tão perseguido quanto o texto sagrado:

As duas testemunhas representam as Escrituras do Antigo e Novo Testamentos. Ambos


são importantes testemunhas quanto à origem e perpetuidade da lei de Deus. Ambos são
também testemunhas do plano da salvação. [...] Quando a Bíblia foi proscrita pela
autoridade religiosa e secular; quando seu testemunho foi pervertido, fazendo homens e
demônios todos os esforços para descobrir como desviar da mesma o Espírito do povo;
quando eram perseguidos, traídos, torturados, sepultados nas celas das masmorras,
martirizados por sua fé, obrigados a fugir para a fortaleza das montanhas e para as covas
e cavernas da Terra - então profetizam as fiéis testemunhas vestidas de saco. Contudo,
42
continuaram com o seu testemunho por todo o período de 1.260 anos. Nos mais obscuros
tempos houve fiéis que amavam a Palavra de Deus e eram ciosos de sua honra. A esses
fiéis servos foram dados sabedoria, autoridade e poder para anunciar Sua verdade
durante aquele tempo todo.

A morte das duas testemunhas (11:7-10)


Depois que as duas testemunhas terminaram sua obra ao longo dos 1.260 dias, “a
besta (símbolo de poder político (Ap 13; 17:3-8)] que surge do abismo pelejará contra
elas, e as vencerá, e matará" (Ap 11:7). Uma vez que o abismo é a morada de Satanás
(Lc 8:31; 2Pe 2:4), essa besta é controlada e apoiada por ele, de maneira específica, por
meio do poder político dominante ao fim dos 1.260 dias. Os adventistas do sétimo dia
identificam a morte das duas testemunhas com o ataque ateísta ao Antigo e Novo
Testamentos e a abolição da religião durante a Revolução Francesa. Esses dois eventos
ocorreram na conclusão do período de 1.260 dias.
As duas testemunhas são mortas e publicamente expostas “na praça da grande
cidade” (Ap 11:8). No Apocalipse, a “grande cidade” costuma se referir à Babilônia do
tempo do fim, um poder contrário ao povo de Deus no conflito final.
Em Apocalipse 11, a grande cidade é um território governado pela besta que vem do
abismo ao fim dos 1.260 dias proféticos. Esse território tem as características espirituais
das grandes cidades bíblicas que se opunham a Deus. Possui a maldade e a degradação
moral de Sodoma (Gn 19:4-11), a arrogância ateísta do Egito (Ex 5:2) e a rebelião de
Jerusalém, “onde também o seu Senhor foi crucificado” (Ap 11:8). De igual maneira, essa
grande cidade simbólica mata o povo de Deus e a Bíblia.
O cadáver das testemunhas fica exposto, sem enterro por três dias e meio,
espelhando o período que Jesus passou no túmulo. A morte delas provoca grande alegria
entre "os que habitam sobre a terra” (Ap 11:10). A Palavra de Deus sempre incomoda a
consciência de quem a ouve, mas não está disposto a se entregar.

A ressurreição das duas testemunhas (11:11-14)


Três dias e meio depois, Deus sopra vida nas duas testemunhas e ressuscita. Ele
também faz com que elas fiquem em pé. Essa cena lembra a visão de Ezequiel do vale
de ossos secos (Ez 37:1-10), uma profecia referente à restauração de Israel após o exílio
babilônico. Israel era visto por seus inimigos como uma nação derrotada e morta. Nessa
visão, porém, o Senhor ordena que Ezequiel profetize a fim de que o fôlego entre nos
ossos secos. Então o fôlego de vida entra nos cadáveres, fazendo com que eles
voltem à vida e se coloquem em pé.
Historicamente, uma das consequências da Revolução Francesa foi o grande
reavivamento do interesse pela Biblia, manifesto, em particular, por meio da criação das
grandes sociedades bíblicas e das diversas sociedades missionárias. Elas foram
fundadas para espalhar o evangelho, cumprindo a profecia das duas testemunhas que
voltam a viver. Como nunca antes, o cenário ficou pronto para a pregação do evangelho
por toda a parte.
A ascensão das testemunhas ressuscitadas é acompanhada por um grande
terremoto que assola um décimo da grande cidade e mata 7 mil pessoas. Na Bíblia, a
décima parte simboliza a menor porção de um todo," já as 7 mil pessoas mortas
representam a totalidade dos incrédulos endurecidos.
O restante das pessoas se enche de temor e da glória ao Senhor. Isso traz à
lembrança a conversão do rei Nabucodonosor, que glorificou a Deus após experimentar o
juízo divino (Dn 4:34-37). A palavra “aterrorizadas” e a expressão “deram glória ao Deus
do céu” parecem uma resposta ao apelo do primeiro anjo de Apocalipse 14:7: "Temei a
Deus e dai-Lhe glória”. Isso sugere que, como resultado da vindicação e exaltação das
43
duas testemunhas, bem como do terremoto que abalou a grande cidade, alguns
aceitaram o evangelho e depositaram sua fé em Cristo.
A mensagem das duas testemunhas nos mostra que, assim como no passado, Deus
tem um povo fiel que dá testemunho do evangelho ao mundo atual. Ele o usa assim como
usou Moisés durante o êxodo, Elias durante a apostasia de Israel, bem como Josué e
Zorobabel durante o período pós-exílio.

Questões na Interpretação das Sete Trombetas de Apocalipse

Ángel Manuel Rodríguez

Um ciclo visionário de Apocalipse que tem provado ser um dos mais difíceis de se
interpretar é Apocalipse 8–11: as sete trombetas. A linguagem e o imaginário são
complexos; e sua aplicação a eventos históricos específicos tem resultado em uma
diversidade de interpretações. Esta incerteza hermenêutica poderia estar confundindo os
membros da igreja e aqueles interessados em encontrar nesta profecia apocalíptica uma
interpretação clara e final. Na conjuntura atual, tal interpretação final não está disponível.
Porventura, a pergunta que deveríamos fazer é: O que pode ser feito para evitar
transformar esta diversidade de opiniões em uma disputa teológica interna? Deixe-me
sugerir duas coisas. Primeiro, deveríamos pedir ao Senhor para fortalecer nossa
disposição para trabalharmos juntos em um espírito de amor e humildade cristãos para
edificarmos a igreja. Segundo, deveríamos concordar em como abordar esta profecia
apocalíptica—esta é a questão hermenêutica apropriada.

Princípios Básicos
Eu não tenho nada particularmente novo a oferecer, mas eu destacarei a
necessidade de permanecermos firmemente compromissados com nossos princípios
hermenêuticos indiscutíveis de interpretação apocalíptica. Listarei alguns deles no
contexto do estudo das trombetas.

• Na interpretação das trombetas, teólogos adventistas têm, quase


consistentemente, empregado o método historicista de interpretação profética
porque encontra-se baseado nas próprias Escrituras. Este método foi provido aos
visionários apocalípticos pelo intérprete angelical. Tem provado ser uma abordagem
válida para profecia apocalíptica conforme ilustrada em seu uso por Jesus, os
apóstolos e os intérpretes durante a história cristã. Enquanto neste artigo proverei
toda a evidência necessária para fundamentar os elementos mais importantes do
método historicista de interpretação,1 sugerirei que os seguintes são indispensáveis
para uma interpretação apropriada das trombetas:

• Profecia apocalíptica cobre o período inteiro da história do tempo do


profeta ao fim da história (Dn 7). Para ser leal a esta metodologia, é
necessário aplicá-la ao ciclo visionário apocalíptico das sete trombetas.
Quando examinamos esta profecia a partir de nosso momento histórico,
devemos compreender que alguns elementos da profecia já se cumpriram
enquanto outros estão no processo de cumprir-se ou serão, brevemente,
cumpridas. 

Portanto, o cumprimento da profecia apocalíptica toma lugar dentro do fluxo
da história como um todo. Consequentemente, não pode e não deveria ser
interpretada pelos critérios de preterismo ou do futurismo ou aplicada a
abstrações conceituais desconexas de eventos históricos específicos
44
(idealismo). 

Recapitulação é central nas profecias apocalípticas (Dn 2; 7; 8; 11). As
trombetas recapitulam a história a partir de uma perspectiva particular e, de
certo modo, paralela a outros ciclos proféticos das sete encontradas em
Apocalipse.2 Casa paralelo analisa o período histórico a partir de ângulos
diferentes e, até mesmo, suplementares. 


• 

A natureza apocalíptica da visão almeja um cumprimento específico o suficiente
para estar localizado em um evento ou processo histórico. Em outras palavras,
cumprimentos múltiplos das trombetas devem ser excluídas da discussão.3 Isto tem
sido considerada por nós e pelo escritor bíblico como sendo uma característica
fundamental da profecia apocalíptica (e.g., Daniel diz ao rei da Babilônia que ele
representa o reino: “tu és a cabeça de ouro” [2:38]; similarmente, Gabriel identifica
“os reis da Média e da Pérsia” e “o rei da Grécia” conforme representados pelo
carneiro e pelo bode respectivamente [8:20–21]). 

As trombetas não são os juízos escatológicos finais de Deus sobre pecadores
impenitentes, mas juízos tomando lugar dentro do fluxo da história. Deveríamos,
portanto, distinguir, claramente, entre o propósito das trombetas e o das sete
pragas (Ap 16). As pragas ocorrerão em um momento histórico específico que
resultará, rapidamente, na parousia. 

A menção aos períodos de tempo dentro das trombetas dever ser,
cuidadosamente, estudada para determinar se estamos lidando com períodos de
tempo proféticos ou algo mais. Se a referência é aos períodos de tempo, devemos
tentar encontrar o cumprimento histórico aplicando o princípio dia-ano a eles. 

Devemos, cuidadosamente, estudar os antecedentes bíblicos da linguagem e do
imaginário usado para descrever cada trombeta antes de tentar identificar seu
cumprimento histórico. Este elemento metodológico baseia-se no princípio
hermenêutico que as Escrituras interpretam a si mesma. Sua aplicação exclui o uso
de nossa imaginação para determinar o significado e identificar o cumprimento. 


Usar esses princípios não garantirá unanimidade de interpretação, mas configurará


alguns parâmetros importantes para a interpretação das trombetas. Embora as
diferenças de opinião não possam ser resolvidas completamente, como intérpretes
adventistas, devemos fazer uso dos princípios discutidos acima. Por exemplo, poderia
ser que a linguagem e o imaginário usado na descrição de uma trombeta particular
poderiam ser aplicados por diferentes intérpretes à diferentes eventos históricos. Isto é
tolerável enquanto um cumprimento histórico particular está em conta e o texto bíblico
tem sido, cuidadosamente, analisado para justificar essa possibilidade particular. Isto
sugere que, em relação a interpretação das trombetas completa ou final, nossa jornada
ainda não tem alcançado seu destino intencionado.

Diversidade de interpretações
O quadro a seguir ilustra como a aplicação dos princípios de interpretação prévios
às trombetas por adventistas dedicados poderiam resultar em uma diversidade de
interpretações em relação ao cumprimento histórico preciso da profecia. Este quadro não
é abrangente, mas ilustrativo.4

45

46

O quadro revela diversos pontos importantes. Primeiro, está claro que


interpretação tradicional entre adventistas, representada por Uriah Smith, não é
fortemente apoiada por muitos intérpretes. Entretanto, o fato do estudioso (Alberto Treiyer
ter, recentemente, provido uma exposição e uma defesa valorosa das trombetas
alinhadas a Smith indica que esta interpretação não deve ser facilmente desconsiderada.
Segundo, nenhuma das outras interpretações segue Smith em sua interpretação das
primeiras quatro trombetas. De fato, se esta amostra de expositores tem algum valor,
pode-se, facilmente, concluir que um novo consenso parece estar emergindo na
interpretação das primeiras quatro trombetas que diferem, radicalmente, das visões de
Smith. Terceiro, há algumas diferenças de interpretação significantes em relação a quinta
e a sexta trombeta. Dois intérpretes se alinham com Uriah Smith em sua interpretação da
quinta trombeta (Thiele e Maxwell) e três na sexta trombeta (Thiele, Maxwell e Shea). Mas
encontramos entre eles variações em alguns detalhes. Isto sugere que a interpretação de
Smith não tem sido totalmente descartada.

Quarto, o desenvolvimento mais importante na interpretação da quinta e da sexta


trombetas encontra neles a ascensão do secularismo e do ateísmo no mundo ocidental e
na obra da Babilônia do tempo do fim (Paulien, LaRondelle e Stefanovic).5 Em vista de ser
uma ruptura importante da abordagem tradicional, torna necessário fazer alguns
comentários sobre ela. A questão é se esta interpretação continua compatível com a
abordagem historicista. Em minha opinião, parece ser compatível—tenha em mente que
eu não estou dizendo que esta é ou não é a interpretação correta dessas trombetas. A
razão primária para minha opinião é que não é nem preterista nem futurista, nem uma
abordagem idealista para com as trombetas. O problema aparente é que esta
interpretação identifica os poderes escritos nas trombetas com movimentos espirituais e
filosóficos em vez de impérios e nações em particular. Mas, aqui, devemos ser
cuidadosos. Por exemplo, no Novo Testamento, Israel não é simplesmente um poder
geopolítico. Mediante a vinda do Messias Judeu, a fé de Israel tem sido universalizada e,
agora, o Israel da fé do Antigo Testamento incorpora pessoas de todas as línguas, tribos e
pessoas. Há vários outros exemplos do Livro de Apocalipse em si, mas o melhor é,
provavelmente, Babilônia. Não é mais uma cidade na Mesopotâmia, mas um símbolo da
apostasia e da rebelião global contra Deus. Esta manobra hermenêutica de uma área
geográfica limitada a um fenômeno universal é, também, apoiada por Ellen G. White no
contexto das profecias apocalípticas. Ela toma a referência apocalíptica ao Egito para
representar o espírito da Revolução Francesa que tem, agora, alcançado dimensões
globais na forma de ateísmo.6 Portanto, esta nova interpretação da quinta e da sexta
47
trombetas não solapam o historicismo. Identifica um modo de pensar que originou-se em
uma nação particular e considera ser o cumprimento histórico da quinta e da sexta
trombetas. Esta nova abordagem permanece dentro das fronteiras do historicismo.
Provavelmente, o desafio mais significativo que esta visão enfrenta é prover uma
interpretação válida aos elementos de tempo mencionados nas duas trombetas. Por outro
lado, aqueles que seguem Uriah Smith ou estão próximos a suas interpretações não têm
que concordar com datas específicas para o cumprimento dos períodos proféticos, mas
eles precisam, também, encontrar uma explicação melhor para a menção do selo de Deus
na quinta trombeta (Ap 9:4).

Quinto, um outro item que tende a complicar a discussão dos períodos proféticos e
tem influenciado alguns expositores é que Ellen G. White parece apoiar a interpretação do
pregador milerita Josiah Litch. Isto é o que ela diz: “No ano de 1840 outro notável
cumprimento de profecia despertou geral interesse. Dois anos antes, Josias Litch, um dos
principais pastores que pregavam o segundo advento, publicou uma explicação de
Apocalipse 9, predizendo a queda do Império Otomano. Segundo seus cálculos esta
potência deveria ser subvertida ‘no ano de 1840, no mês de agosto’; e poucos dias
apenas antes de seu cumprimento ele escreveu: ‘Admitindo que o primeiro período, 150
anos, se cumpriu exatamente antes que Deacozes subisse ao trono com permissão dos
turcos, e que os 391 anos, quinze dias, começaram no final do primeiro período, terminará
no dia 11 de agosto de 1840, quando se pode esperar seja abatido o poderio otomano em
Constantinopla. E isto, creio eu, verificar-se-á ser o caso.” (Josias Litch, artigo no Signs of
the Times, and Expositor of Prophecy, de 1 de agosto de 1840).

“No mesmo tempo especificado, a Turquia, por intermédio de seus embaixadores, aceitou
a proteção das potências aliadas da Europa, e assim se pôs sob a direção de nações
cristãs. O acontecimento cumpriu exatamente a predição. . . . Quando isto se tornou
conhecido, multidões se convenceram da exatidão dos princípios de interpretação
profética adotados por Miller e seus companheiros, e maravilhoso impulso foi dado ao
movimento do advento. Homens de saber e posição uniram-se a Miller, tanto para pregar
como para publicar suas opiniões, e de 1840 a 1844 a obra estendeu-se rapidamente.”7

O contexto indica que ela está descrevendo a experiência de Guilherme Miller e


seus apoiadores no início dos anos 1840. Desde que, nessa época, ela era uma milerita,
ela, muito provavelmente, aceitou a interpretação da profecia de Litch. Seu ponto principal
na citação é que o cumprimento da predição dele deu impulso à interpretação profética
dos 2300 dias propagada por Guilherme Miller. Tem-se sugerido que o que parecemos ter
aqui é uma recontagem da experiência dos mileritas, incluindo a dela, sem prover,
48
necessariamente, uma interpretação final do período profético. Se este for o caso ou não,
continuará a ser um tema de debate.[i] Mas o fato dela nunca mais mencionar 1840 como
um ano quando uma profecia bíblica foi cumprida, deveria nos fazer cautelosos sobre
como usamos essa declaração única. Curiosamente, quando se olha para o gráfico, é
claro que, além de Uriah Smith, apenas um outro escritor termina o período em 1840
(Thiele). Treiyer é atraído para 1840, mas parece ser mais confortável com 1844. Em
outras palavras, a maioria deles não permitiu um único comentário de Ellen G. White para
resolver a questão. Eles deveriam, em vez disso, reexaminar a questão tendo um olhar
atual no texto bíblico e por examinar as fontes históricas. Neste caso em particular, parece
ser um bom procedimento.

Conclusão

As interpretações sumarizadas neste documento são todas compatíveis com o


método historicista da interpretação profética. Enquanto esta metodologia em particular
não for solapada, a igreja deveria permitir diversidade de interpretações.8 Reconhecendo
isto, devemos, imediatamente, descartar interpretações dogmáticas e discussões
acaloradas que poderiam, facilmente, sacrificar a humildade e o amor cristãos. Cada
interpretação sugerida precisa de discussão em termos da validade da análise do texto
bíblico e seu alegado cumprimento histórico.

• Ver, por exemplo, William Johnsson, “Biblical Apocalyptic,” em Handbook of Seventh-day Adventist Theology, e. Raoul
Dederen (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2000), pp. 784–814. 


Sobre o tópico da recapitulação e das trombetas, ver Ekkehardt Mueller, “Recapitulation in Revelation 4-11,” Journal of the

Adventist Theological Society 9, no. 1 (1998): 260–277. 


Ver Jon Paulien, “Seals and Trumpets: Some Current Discussions,” em Symposium on Revelation—Livro I, e. Frank B.

Holbrook (Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 1992), pp. 183–198. 


A informação do quadro foi extraída das seguintes fontes: Hans LaRondelle, How to Understand the End-Time Prophecies of

the Bible: The Biblical/Contextual Approach (Sarasota, FL: First Impressions, 1997); C. Mervyn Maxwell, God Cares, vol. 2

(Boise, ID: Pacific Press, 1985); Roy C. Naden, The Lamb Among the Beasts (Hagerstown, MD: Review and Herald, 1996);

Jon Paulien, “Interpreting the Seven Trumpets,” documento não publicado preparado para o Comitê sobre Daniel e Apocalipse

da Conferência Geral, 1986; William Shea, “Revelation’s Trumpets,” documento não publicado, 1998; Uriah Smith, The

Prophecies of Daniel and Revelation (Nashville, TN: Southern Publishing Association, 1944); Ranko Stefanovic, The

Revelation of Jesus Christ: Commentary on the Book of Revelation (Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 2002);

Edwin R. Thiele, Outline Studies in Revelation (Angwin, CA: Class Syllabus, Pacific Union College); Alberto Treiyer, The Seals

and the Trumpets: Biblical and Historical Studies (publicado 2005). Peço desculpas aos autores se, sem intenção, descrevi

incorretamente suas interpretações. 


Jacques Doukhan defende, também, esta interpretação em particular (Secrets of Revelation: The Apocalypse Through Hebrew

Eyes [Hagerstown, MD: Review and Herald, 2002], pp. 84–91). Ele vê nas primeiras quatro trombetas a história da igreja dos
49
tempos pós-apostólicos à grande apostasia, em paralelo, de certo modo, com os selos. 


Ela escreveu: “A ‘grande cidade’ em cujas ruas as testemunhas foram mortas, e onde seus corpos mortos jazeram, é

"espiritualmente" o Egito. De todas as nações apresentadas na história bíblica, o Egito, de maneira mais ousada, negou a

existência do Deus vivo e resistiu aos Seus preceitos. Nenhum monarca já se aventurou a rebelião mais aberta e arrogante

contra a autoridade do Céu do que o fez o rei do Egito. Quando, em nome do Senhor, a mensagem lhe fora levada por

Moisés, Faraó orgulhosamente, respondeu: ‘Quem é o Senhor cuja voz eu ouvirei, para deixar ir Israel? Não conheço o

Senhor, nem tão pouco deixarei ir Israel.’ [Êx 5:2.] Isto é ateísmo; e a nação representada pelo Egito daria expressão a uma

negação idêntica às reivindicações do Deus vivo, e manifestaria idêntico espírito de incredulidade e desafio. A ‘grande cidade’

é também comparada ‘espiritualmente’ com Sodoma. A corrupção de Sodoma na violação da lei de Deus, manifestou-se

especialmente na licenciosidade. E esse pecado também deveria ser característica preeminente da nação que cumpriria as

especificações deste texto.” (O Grande Conflito, p. 269). Em outra ocasião, após descrever a corrupção moral do mundo, ela

pergunta: “O que deverá impedir que o mundo se torne uma segunda Sodoma?” (Educação, p. 228). Ela, então, acrescenta:

“Ao mesmo tempo a anarquia procura varrer todas as leis, não somente as divinas mas também as humanas. A centralização

da riqueza e poder; vastas coligações para enriquecerem os poucos que nelas tomam parte, a expensas de muitos; as

combinações entre as classes pobres para a defesa de seus interesses e reclamos; o espírito de desassossego, tumulto e

matança; a disseminação mundial dos mesmos ensinos que ocasionaram a Revolução Francesa—tudo propende a envolver o

mundo inteiro em uma luta semelhante àquela que convulsionou a França” (Ibid., ênfase acrescida).

• Ela parece considerar tal tendência como prevalecente agora no mundo inteiro: “Ateísmo e infidelidade prevalecem por toda a

terra. Blasfemadores ousados estão diante de toda a terra, a casa da própria edificação de Deus, negam a existência do Criador

e desafiam o Deus dos céus a matá-los se algum ponto de suas posições estiver errado. Dirigem sociedades de infiéis por todo

o canto planejando meios de espalhar seus venenos infernais!” (Review and Herald, 4 de maio de 1886).

• Está claro para Ellen G. White que os nomes das cidades representam, agora, movimentos mundiais que foram iniciados na

França durante a Revolução Francesa. Este modo de ver o cumprimento profético apocalíptico se encaixa, ainda, no que

chamamos de método historicista de interpretação profética.

• Ellen G. White, The Great Controversy, pp. 334,335. 


Este artigo foi publicado neste site com permissão da Associação Ministerial da Conferência Geral Adventista do Sétimo Dia.
50
CAPÍTULO 8

ANÁLISE DAS 7 ÚLTIMAS PRAGAS DO APOCALIPSE


Extraído e Adaptado dos Livros: “O Apocalipse de João”- Ranko Stefanovic

Apocalipse 15 e 16 elaboram a visão das duas colheitas de Apocalipse 14:14 a 20.


Essa visão retrata os santos como o trigo a ser ajuntado no celeiro de Cristo (Ap
14:14-16; cf. Mt 13:30, 31) e os impenitentes como uvas pisadas no lagar de Sua ira (Ap
14:17-20).

Tempo das pragas

Apocalipse 16:1 a 11 nos conta que as sete últimas pragas estão reservadas
exclusivamente para aqueles que rejeitam a Deus e recebem a marca da besta. Os
flagelos são especificados como os "últimos (Ap 15:1) porque aparecem depois das sete
pragas das trombetas (Ap 8; 9; 11:15-19). As trombetas foram juízos preliminares,
antecipando pragas mais severas, ainda por vir. Embora existam semelhanças de
linguagem entre as pragas das trombetas e as últimas pragas, as duas séries não são
idênticas.
Em primeiro lugar, durante as trombetas, o evangelho está sendo pregado ao mundo
inteiro (Ap 10:8, 11; 11-14), e o ministério mediador de Cristo está em andamento no Céu
(Ap 8:3-5). Já as últimas pragas são derramadas após o término da pregação do
evangelho e da intercessão no santuário celestial (Ap 14:6-13).
Segundo, Apocalipse 15:8 observa que o templo no Céu “se encheu de fumaça
procedente da glória de Deus e do Seu poder, e ninguém podia penetrar no santuário".
Essa linguagem é derivada tanto da dedicação do tabernáculo no deserto durante o
Êxodo de Israel (Ex 40:34, 35) quanto do templo de Salomão (1Rs 8:10, 11). Nas duas
ocasiões, a nuvem da glória de Deus encheu o templo, de modo que os sacerdotes não
conseguiram entrar para ministrar perante o Senhor. Sem a presença dos sacerdotes, não
havia intercessão no templo. Apocalipse 15:8 reflete essa ideia, a qual nos diz que o
ministério mediador de Cristo será concluído antes do derramamento das sete últimas
pragas sobre a humanidade rebelde. A porta de oportunidades se fechará de maneira
definitiva, e o destino de todos os seres humanos será decidido (Ap 14:14-20).
Em terceiro lugar, as pragas das trombetas são restritas em alcance e efeito. Elas só
afetam uma parte do reino de Satanás - a expressão "a terça parte é repetida
constantemente no texto (Ap 8:7-12; 9:15, 18). Quanto às sete últimas pragas, porém,
nenhuma restrição é feita. Fica claro que elas são mais abrangentes. Observe a
declaração: "E morreu todo ser vivente que havia no mar" (Ap 16:3).
Por fim, as sete trombetas abrangem um longo período da história, desde o século
até a segunda vinda de Cristo. Períodos de tempo relativamente duradouros estão ligados
a elas (Ap 9:5, 15; 11:2, 11), ao passo que nenhuma estrutura temporal profética é
especificada para as sete últimas pragas. Elas afetam a humanidade no fim da história
por um período relativamente curto antes da segunda vinda de Cristo e ocorrem dentro da
estrutura temporal das sete trombetas.

Propósito das pragas

As pragas têm natureza redentora. Assim como Deus enviou as pragas para o Egito
a fim de livrar Seu povo e levá-lo à Terra Prometida (Ex 7–12), o Senhor derrama as sete
51
últimas pragas para derrotar Seus inimigos e livrar Seu povo daqueles que desejam
destruí-lo.
Em segundo lugar, as últimas pragas são punitivas Ap 15:1; 16:2). Em Apocalipse
6:9 a 11, os santos martirizados são retratados clamando a Deus por vindicação. O
clamor deles representa todo o povo do Senhor que sofre ao longo da história. Com o
derramamento das sete últimas pragas, suas preces finalmente são atendidas, e o povo
de Deus é vindicado.
Terceiro, as sete últimas pragas têm a intenção de fazer a humanidade rebelde
reconhecer as consequências de suas escolhas e ações Em Apocalipse 13, os habitantes
do mundo escolhem seguir Babilônia. A medida que Deus retira Sua proteção do planeta,
as sete últimas pragas são derramadas sobre a Terra, provocando consequências
devastadoras. As pessoas são forçadas então a refletir nas consequências de suas
escolhas. No entanto, a resistência contínua ao chamado misericordioso de Deus faz com
que elas se tornem impenitentes.
Assim como as pragas do Egito, as sete últimas pragas têm a intenção de revelar a
dureza do coração daqueles que rejeitaram o evangelho (cf. Ex 7:1-5). Por mais severas
que sejam as últimas pragas, elas não levam as pessoas a se arrepender. Da mesma
forma que cada uma das pragas egípcias somente aumentou a dureza do coração de
faraó e de seus oficiais, cada praga que recair sobre os adoradores da trindade satânica
endurecerá o coração deles, levando-os a nutrir um ódio ainda maior de Deus e de Seu
povo (Ap 16:9-11).

Literal ou simbólico?

Uma questão importante e difícil a respeito da natureza das pragas é se elas são
literais ou simbólicas. Com frequência, a linguagem do Apocalipse é simbólica. Isso
parece óbvio ao interpretar os selos e as trombetas, mas a situação se mostra diferente
com as sete últimas pragas. O fato de que as cinco primeiras pragas causam dor física e
sofrimento intensos, levando as pessoas a maldizer a Deus, mostra que elas são literais
(Ap 15:8-11). Isso é afirmado em Apocalipse 7:16. Esse verso declara que os 144 mil não
terão mais fome nem sede e que o sol escaldante não os assolará mais. Tudo isso parece
se referir a provações literais. No entanto, a sexta praga, que conduz à batalha do
Armagedom, contém linguagem simbólica e espiritual. E a praga final, que fala da queda
da Babilônia do tempo do fim, parece misturar significado literal e simbólico.
Em meio a tudo isso, é importante lembrar que as sete últimas pragas são uma
profecia que ainda se cumprirá. A verdadeira natureza da profecia será plenamente
compreendida quando ela se cumprir. Sejam literais ou figuradas, as sete últimas pragas
exporão a impotência da trindade satânica para ajudar a humanidade sofredora e
vindicarão a Deus e Seu governo.

As cinco primeiras pragas (16:1-11)

Uma voz vinda do templo celestial – o lugar no qual a intercessão estava


acontecendo antes - ordena aos sete anjos que derrame as pragas sobre aqueles que se
aliaram à trindade satânica e receberam a marca da besta (Ap 16:1). Chegou o momento
de Deus vindicar Seu povo fiel e executar Seus juízos sobre aqueles que lhe fizeram mal.
O primeiro anjo derrama sua taça sobre a Terra, e úlceras malignas atingem aqueles
que têm a marca da besta. Essa enfermidade é descrita na Biblia como algo doloroso,
incurável e que cobria o corpo inteiro (cf. Dt 28:35; Jó 2:7). Uma praga dessa natureza
acometeu os egípcios durante o Êxodo (Ex 9:10, 11). As vítimas dessa praga são os que
têm a marca da besta e adoram sua imagem. A primeira praga cumpre a ameaça
52
da terceira mensagem angélica: quem adorar a besta e sua imagem e receber sua marca
beberá do cálice do vinho do furor da ira de Deus preparado "sem mistura" (Ap 14:9, 10).
O segundo anjo derrama sua taça no mar, que se torna como o sangue de
cadáveres. Em razão disso, todas as criaturas vivas dentro dele morrem.
O terceiro anjo derrama sua taça nos rios e nas fontes das águas. Imediatamente
águas ao redor do mundo se transformam em sangue. "Estas pragas não são universais,
ao contrário os habitantes da Terra seriam inteiramente exterminados. Contudo serão os
mais terríveis flagelos que já foram conhecidos por mortais."
O quarto anjo derrama sua taça no Sol, e um calor intenso queima as pessoas,
causando-lhes uma dor insuportável. A dor, porém, não as leva ao arrependimento, pois
endureceram tanto o coração que não conseguem se arrepender. Em vez disso,
amaldiçoam e blasfemam o nome de Deus, insultando Aquele a quem rejeitaram. Ao agir
dessa forma, elas seguem os passos da besta blasfema (Ap 13:6).
Ao passo que as quatro primeiras pragas afetam a população geral, a quinta praga
atinge o trono da besta, trazendo uma escuridão total sobre a Terra. Essa cena espelha a
nona praga do Egito, que cobriu toda a terra da nação rebelde com uma intensa escuridão
(Ex 10:21-23).
É importante lembrar que Satanás delegou seu trono e autoridade à besta do mar de
Apocalipse 13 (Ap 13:2). Com o apoio da besta da terra, a besta do mar começa a
exercer sua autoridade sobre a Terra, enganando e coagindo os habitantes do mundo a
se aliar à trindade satânica. No entanto, nem mesmo esse poder extraordinário, o centro
da autoridade de Satanás, é capaz de resistir à força dessas pragas.
O poder da besta do mar é então minado, à medida que sofre humilhação diante das
pessoas. Os habitantes da Terra mordem a língua de dor e se enchem de ira ao perceber
a impotência das habilidades da trindade profana para protegê-los das consequências das
pragas. Sentem-se enganados. Contudo, assim como no caso de faraó, o terror e a dor
das pragas endurece cada vez mais seu coração. Firmaram a mente contra Deus, de
modo que continuam a amaldiçoar e blasfemar o Senhor por causa da dor e das úlceras,
recusando-se a se arrepender (Ap 16:11). Dessa forma, os habitantes da Terra são
preparados para o engano final. Quando dirigirem ira ao povo do Senhor, Satanás os
atrairá para a grande batalha entre ele e Deus. Essa estratégia nefasta está em vigor e se
desenrola durante a sexta praga (v. 12-16).

O Secamento do Eufrates (16:12a)

A imagem do secamento do Eufrates está enraizada na queda da Babilônia histórica.


Em 539 a.C., Ciro, o Grande, veio com seus exércitos e cercou a cidade. Por causa das
fortificações intensas da cidade e seu farto suprimento de água e alimento, as pessoas
achavam que ela era inexpugnável. De noite, porém, enquanto seus líderes festejavam no
palácio do rei Belsazar, a cidade foi capturada pelo exército persa (Dn 5). Os historiadores
antigos contam que os persas desviaram o curso do rio Eufrates e entraram na cidade por
meio do leito seco, tomando-a de surpresa? Por causa da queda de Babilônia, o povo de
Deus recebeu permissão de voltar para casa.
A captura da antiga Babilônia por Ciro é o contexto para a cena da sexta praga.
Assim como no caso da Babilônia histórica, o secamento simbólico do rio Eufrates resulta
no colapso da Babilônia do tempo do fim. Essa cena deve ser entendida de maneira
simbólica, pois, no Apocalipse, o Eufratęs representa os poderes civis, (seculares e
políticos do mundo, que apoiam Babilônia (Ap 17:15). Esses poderes acabarão retirando
o apoio da Babilônia e se voltarão contra ela (v. 15-17), secando o rio Eufrates.
Até a quinta praga, os habitantes do mundo concentraram suas esperanças na
Babilônia, em busca de proteção. Ao sofrerem grandes tragédias naturais, esperam que
Babilônia os proteja. Entretanto, quando a quinta praga atinge o centro da autoridade da
53
besta, as pessoas, desiludidas, percebem a impotência da Babilônia para protegê-las das
consequências das pragas (Ap 16:10). Cheias de hostilidade e sentindo-se enganadas,
unem-se contra Babilônia e a destroem (Ap 17:16, 17).

Os três espíritos imundos semelhantes a rãs (16:13, 14)

O secamento do rio Eufrates abala a trindade satânica - o dragão, a besta do mar e


a besta da terra, que é chamada de falso profeta Nesse momento, Satanás e seus dois
aliados reúnem o mundo inteiro para o engano final. Da boca dos integrantes da trindade
satânica, saem três espíritos demoníacos com aparência de rā, que se dirigem aos líderes
do mundo a fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso" (Ap
16:14). Esses demônios são o "fôlego" da trindade satânica no engano final.
Esses espíritos lembram a praga das râs no Egito (Ex 8:1-15). Ela foi a última praga
que os magos de faraó conseguiram reproduzir, a fim de usar sua influência corruptora
para induzir o faraó a se opor persistentemente a Deus. Por fim, o faraó rejeitou a
mensagem que Deus havia enviado por intermédio de Moisés.
A luz desse contexto do Antigo Testamento, os três demônios semelhantes à rå da
sexta praga consistem na última tentativa satânica de falşificar a obra de Deus. Eles são
retratados como a contrafação dos três anjos de Apocalipse 14, enviados com um
evangelho falso a fim de persuadir as autoridades políticas e seculares do mundo a se
aliar a eles contra Deus e Seu povo, no preparo para o grande dia do Todo-Poderoso.
Portanto, esses 3 demônios semelhantes a rás são agentes poderosos de Satanás, que
seduzirão os moradores da Terra a participar da batalha final.
Essa situação lembra o espírito mentiroso" (IRs 22:22) que incitou o rei Acabe a
recusar a mensagem enviada por Deus e ir para a batalha (v. 21-23). Satanás está
determinado a ser vitorioso na crise final, por isso permite que os espíritos demoníacos
realizem sinais milagrosos. O método de persuasão desses espíritos é o engano, o que
combina perfeitamente com o plano de Satanás no tempo do fim de atrair as pessoas
para seu lado, em vez de levá-las para perto de Deus (Ap 13:13, 14).
As atividades da trindade demoníaca resultarão em grande sucesso. As nações do
mundo serão enganadas mais uma vez e sujeitarão seus poderes a Satanás. Dessa
forma, elas se arregimentarão contra o povo de Deus, preparando o palco para a batalha
final.

Ajuntamento para o Armagedom (16:16)

Os poderes mundiais se reunirão no lugar que é chamado de “Armagedom" em


hebraico, que significa “o monte de Megido" No Antigo Testamento , Megido era uma
cidade fortaleza, Jlocalizada na planície de Esdraleom, ao pé da cordilheira do Carmelo. A
cidade ficava em um ponto crucial na grande estrada do Egito a Damasco, transformando-
a em um lugar estratégico. Não é surpresa então que a região tenha ficado conhecida
por diversas batalhas famosas (cf. Jz 5:19-21; 6:33; 1Sm 31; 2Rs 9:27; 23:29, 30).
O monte de Megido está associado de maneira mais especifica ao monte Carmelo,
lugar da batalha entre Elias e os profetas de Baal quanto à identidade do Deus verdadeiro
- o Senhor ou Baal (1Rs 18:21). O fogo que caiu do céu sobre a terra demonstrou que o
Senhor era o único Deus verdadeiro (v. 38, 39). Na batalha final, porém, a besta da terra
faz descer fogo do céu a fim de imitar a obra do Senhor e enganar o mundo inteiro (Ap
13:13, 14).
O Armagedom resolverá de maneira definitiva o grande conflito, demonstrando quem
é o governante legitimo do Universo. Não se trata de uma batalha militar travada no
Oriente Médio. Em vez disso, é uma batalha espiritual entre Cristo e Seus seguidores e as
forças das trevas, uma guerra pela mente das pessoas (2Co 10:4, 5). Seu resultado será
54
semelhante ao do conflito no Carmelo, isto é, o triunfo final de Deus sobre as forças das
trevas.
Apocalipse 16:12 a 16 não retrata a batalha em si, mas somente o grande
ajuntamento dos poderes religiosos e políticos para o Armagedom. A batalha real ocorre
após a sexta praga e é descrita em Apocalipse 16:17 a 19:21. Posteriormente, João vê "a
besta e os reis da terra, com os seus exércitos, congregados para pelejarem” contra
Cristo, que vem do Céu acompanhado por Seu exército de santos (Ap 19:19; cf. Ap
17:14). Essa batalha concluirá com a derrota da besta e seus exércitos (Ap 19:20, 21)
pelo legítimo “REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (v. 16).

Referências

Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), p. 628, 629.
2 Heródoto, The Histories, 1.191. O registro que Heródoto faz da captura de Babilônia por Ciro foi
confirmada nos tempos modernos pelo Cilindro de Ciro, o qual narra a conquista de Babilônia
pelos persas sem qualquer batalha. Ver James B. Pritchard, Ancient Near Eastern Texts Relating
to the Old Testament, 34 ed. (Princeton, NJ: Princeton University Press, 1969), p. 315.
55

CAPÍTULO 9

APOCALIPSE 12 : A MAIOR HISTÓRIA DE TODAS


Extraído e Adaptado dos Materiais: “O Apocalipse de João”- Ranko Stefanovic / Palestra Jon Paulien : The Biggest Story Ever Told

O capítulo 12 do livro do Apocalipse apresenta a maior história de todas presenciada


no universo. Essa história é o pano de fundo de toda a narrativa bíblica - a história do
grande conflito entre Cristo e Satanás.

Os Personagens Centrais de Apocalipse 12

Alguns personagens centrais são introduzidos no livro do apocalipse, portanto é


essencial compreender a maneira como isso acontece dentro da profecia. Existe uma
estrutura de apresentação quantos aos personagens proféticos no livro do apocalipse,
onde sempre dois elementos estão presentes: 1) uma descrição visual do personagem, 2)
uma descrição do pano de fundo histórico no qual o personagem está inserido
( background ).

1º Personagem : A MULHER
- A descrição visual da mulher aparece no verso 1
- O background do personagem aparece no verso 2
- A Mulher é claramente identificado na profecia como o povo de Deus, desde o Antigo
Testamento

2º Personagem : O DRAGÃO

- A descrição visual do Dragão aparece no verso 3


- O background do personagem aparece no verso 4
- O livro do apocalipse não está lidando com realidades normais da vida, e sim com
elementos simbólicos que apontam para a realidade suprema que nos cerca. O Dragão
(v.9) é Satanás, e ele ataca o filho da mulher, Jesus Cristo. Esse ataca é evidenciado
na profecia desde o nascimento do Messias, e continua por todo o tempo no seu
ministério na Terra, contudo Satanás falha neste propósito.

3º Personagem - O FILHO
- Não há uma descrição visual nem um background sobre o menino introduzido na
profecia, porque Ele já fora introduzido anteriormente na narrativa do apocalipse. O
menino nada mais é do que o Filho do Homem, Jesus Cristo, apresentado com seu
corpo glorificado no capítulo 1.

4º Personagem: MIGUEL

- Não há visão descritiva bem background porque ele é Jesus, o mesmo personagem
anteriormente já introduzido, mas agora aparecendo com um simbolismo diferente : um
arcanjo. Ele é o cordeiro, ele é o Filho do Homem.
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5º Personagem: O REMANESCENTE

- O remanescente é o que restou da igreja, atacada é perseguida por Satanás e seus


poderes ao longo dos séculos. Embora o povo de Deus tenha sofrido e sido dizimado
durante a história, Deus mantém aqui na terra um grupo como Seu representante,
caracterizado pela guarda dos mandamentos e pelo testemunho de Jesus.

Sequência Histórica envolvendo os Personagens

- A Igreja aparece como a Mulher e o remanescente


- Satanás aparece como o Dragão e a antiga serpente
- Jesus aparece como o Filho do Homem, o Cordeiro
- É apresentado o nascimento de Jesus e sua ascensão na profecia
- O que acontece após estes personagem serem introduzidos? Para onde vai a mulher ?
Para onde vai o dragão? Como termina a história?
- O verso 4 introduz a verdade bíblica que Satanás foi expulso do Céu, juntamente com
seus anjos, quando se rebelou contra Deus, invejando o lugar de Cristo. Isso introduz o
grande Conflito no universo, que posteriormente se expandiria para a Terra.
- O verso 5 descreve o nascimento de Jesus aqui na terra, como o meio divino para
proporcionar salvação para seu povo. Após esta descrição, vemos a menção da
ascensão vitoriosa de Cristo ao Céu, para junto do Pai.
- O dragão (Satanás) não seguiu a mulher imediatamente após ela dar a sua luz , ele foi
atrás do Filho (Jesus) no céu, após a ascensão.
- Ap 12:6 indica que neste ínterim a mulher foge para o deserto, onde Deus havia
preparado um lugar para protegê-la.
- Ap 12:7-9 descreve uma guerra no céu que ocorre após a ascensão de Jesus. Nesta
guerra, satanás é expulso pela segunda vez dos Céus, agora de maneira definitiva,
juntamente com seus anjos.
- Ap 12: 10,11 retrata a entronização de Cristo diante da expulsão de Satanás.
- O direito divino assegurado para a expulsão definitiva é o sacrifício de Cristo realizado
na cruz, que determina a derrota de Satanás no grande conflito. Esta cena redunda em
alegria nos Céus, mas trará como resultado consequências terríveis, porque Satanás
agora expulso é derrotado, volta-se para atacar a humanidade sabendo que pouco
tempo lhe resta.
- Apenas em Ap 12:13 é que o dragão se volta para perseguir a mulher no deserto, onde
agora desfere todos seus golpes contra a igreja(mulher) e o remanescente.

UM INIMIGO DERROTADO

Apocalipse 12 relata uma nova visão, que dá início à parte escatológica do


Apocalipse. Ao passo que a primeira metade do Apocalipse narra as lutas históricas da
igreja em um mundo hostil, o foco principal da segunda metade do livro é o tempo do fim
e os últimos eventos que levarão ao retorno de Cristo. A partir de então, o Apocalipse se
concentra no conteúdo do livro aberto (Ap 10).

A mulher (12:1, 2)

Em visão, João contempla um grande sinal no céu. Algo especial e notável é


mostrado nessa passagem (cf. Ap 12:3; 15:1). A palavra grega sēmeion “sinal” denota a
apresentação simbólica de um objeto real. Esse sinal consiste em uma mulher vestida de
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sol com a lua debaixo dos pés, com uma guirlanda de 12 estrelas na cabeça. Ela está em
trabalho de parto, prestes a dar à luz um filho.
Na Bíblia, a figura da mulher é um símbolo do povo de Deus, seja ele fiel ou
apóstata. No Antigo Testamento, Israel, o povo da aliança, é chamado com frequência de
a esposa de Deus (Is 54:5; Jr 3:20). Quando Israel era fiel à aliança com Deus, era
chamado de mulher pura e fiel. Por outro lado, o Israel apóstata e idólatra era retratado
como uma prostituta. Esse conceito é transportado para o Novo Testamento e aplicado à
igreja (cf. 2Co 11:2; Ef 5:25-32). No Apocalipse, o povo fiel a Deus é representado como
uma mulher fiel (Ap 19:7, 8; 22:17), enquanto os apóstatas e infiéis são retratados como
uma meretriz (cap. 17; 18).
A imagem de uma mulher com belos adornos em trabalho de parto trazà memória
diversas passagens do Antigo Testamento. Para começar, ecoa a descrição da noiva de
Salomão, que é "formosa como a lua, pura como o sol” (Ct 6:10). Também reflete os
textos que retratam Israel como uma mulher em trabalho de parto (Is 26:17, 18; 66:7-9; Jr
4:31; Mq 4:10). Acima de tudo, porém, a imagem de uma mulher que suporta dores de
parto para dar à luz o Messias consiste em uma alusão a Gênesis 3:15. Apocalipse 12
mostra o cumprimento da promessa divina de redimir a humanidade caída por meio da
descendência da mulher.
A mulher notável de Apocalipse 12 é um símbolo da igreja, tanto no Antigo quanto no
Novo Testamentos. Essa realidade é expressa por meio de sua descrição - vestida de sol
com a lua debaixo dos pés. O sol, como fonte de luz, é símbolo do evangelho (2Co 4:6; cf.
Jo 8:12; 12:46), e a lua reflete a luz do sol. Em outras palavras, a mulher está em pé
sobre a revelação do Antigo Testamento, que reflete a luz do evangelho." As 12 estrelas
em sua cabeça representam as 12 tribos de Israel, bem como os 12 apóstolos. Nessa
parte da visão (Ap 12:1-5), a mulher simboliza o Israel do Antigo Testamento trazendo o
Messias ao mundo. No entanto, nos versos 6 e 13 a 17, ela representa a igreja cristã.

O dragão (12:3-6)

Em oposição à mulher, está o dragão ou Satanás, que é a serpente de Gênesis 3.


Suas sete cabeças representam os reinos na história, por meio dos quais ele trabalhou
para se opor aos planos e propósitos divinos no mundo e para oprimir o povo de Deus (Ap
17:9-11). Os dez chifres em sua cabeça simbolizam autoridades políticas (v. 12). As sete
coroas na cabeça do dragão se referem à falsa alegação de Satanás de ter domínio sobre
este mundo (cf. Lc 4:6). Essas imagens revelam que o diabo estava por trás do Império
Romano quando houve a tentativa de destruir o Messias tão esperado, Jesus Cristo.
Satanás é um inimigo real, não uma figura imaginária. O fato de que Deus havia
anunciado que viria Alguém nascido “de mulher”, que esmagaria a cabeça da serpente
(Gn 3:15), fez com que o diabo esperasse o Filho prometido nascer para tentar destruí-Lo.
Embora desejasse matar esse Filho, Satanás não conseguiu, uma vez que o Filho foi
levado para o Céu (Ap 12:5) - uma referência à exaltação de Cristo ao trono celestial (Ef
1:20-22; 1Pe 3:21,22). A exaltação de Cristo serve para introduzir a cena seguinte (Ap
12:7-12). A ida de Cristo ao Céu resultou na expulsão permanente de Satanás (v. 10).
À medida que Cristo é levado para o trono de Deus no Céu, a mulher que simboliza
a igreja encontra proteção divina durante o período profetico de 1.260 dias. Ao longo
desse período, ela aguarda o retorno de Cristo e o estabelecimento de Seu reino eterno.

Guerra no Céu (12:7-12)

Apocalipse 12:7 a 12 faz a transição para uma nova cena na história. A narrativa
revela que, durante a ascensão de Cristo e Sua exaltação ao trono celestial , eclodiu uma
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guerra no Céu. Miguel e Seus anjos lutaram contra Satanás e seus anjos. Miguel (cujo
nome significa “Quem é como Deus?") é o comandante das hostes celestiais. Em outras
partes da Bíblia, Ele é chamado de o grande principe (Dn 12:1; cf. 10:13, 21) e de arcanjo
(Jd 9). Logo, a informação bíblica leva à conclusão de que Miguel é um nome
escatológico para Cristo.
Em Apocalipse 12, Cristo conduz o exército celestial no confronto
contra Satanás. O inimigo e seus anjos revidam, mas perdem. Em consequência, Satanás
e suas forças são expulsos do Céu e lançados para a Terra (v. 9). Quando aconteceu
essa guerra, bem como a expulsão de Satanás e seus anjos? As pistas para responder a
essa pergunta estão no hino que é ouvido no Céu após a expulsão do diabo (v. 10-12):

"Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do Seu Cristo” (v.
10). O reino de Deus e a autoridade de Cristo foram estabelecidos após a morte de Jesus
na cruz. "Foi expulso o acusador de nossos irmãos, o mesmo que os acusa de dia e de
noite, diante do nosso Deus” (v. 10).

A acusação de Satanás não pode ter acontecido no início do grande conflito, porque
os seres humanos ainda não haviam sido criados. Com frequência, o Antigo Testamento
retrata Satanás acusando o povo de Deus na presença do Senhor (Jó 1; 2; Zc 3). Após
ser expulso do Céu, Satanás percebe que lhe resta pouco tempo (Ap 12:12). Ele só
reconhece isso após a morte de Jesus na cruz.
Depois de ser expulso, Satanás começa a perseguir a igreja, durante o Período
profético de 1.260 dias (v. 13). Esse período se refere à Idade Média. Ele começou em
538 d.C. e terminou com a Revolução Francesa e a captura do papa Pio VI por Berthier,
general de Napoleão, em 1798 d.c. Tudo isso revela que a guerra e a expulsão de
Satanás do Céu, retratadas em Apocalipse 12:7 a 9, aconteceram após a morte de Jesus
na cruz e Sua ascensão subsequente.
Satanás foi expulso do Céu pela primeira vez no início de sua rebelião contra o
governo de Deus. Ele queria tomar o trono celestial, a fim de ser semelhante ao Altíssimo"
(Is 14:14). Ele se revoltou de forma aberta contra Deus, mas foi derrotado e lançado a
Terra. Ao enganar Adão, o inimigo usurpou o governo e o domínio sobre esta Terra (Lc
4:6). Jesus o chamou de "principe deste mundo” (Jo 12:31, ARC; 14:30; 16:11).
Mesmo após ser expulso, Satanás ainda tinha acesso ao Céu. O livro de Jó o retrata
participando de assembleias celestiais na presença de Deus e fazendo acusações contra
Jó (Jó 1:6-12; 2:1-7). De maneira semelhante , Zacarias o contemplou em visão acusando
o sumo sacerdote Josué perante a corte celestial (Zc 3:1, 2). A situação mudou com a
morte de Jesus na cruz. O domínio sobre a Terra foi transferido de Satanás para Cristo.
Sem dúvida, essa transferência de autoridade não ocorreu sem resistência da parte do
inimigo, que, mais uma vez, se revoltou abertamente contra Deus. Na ocasião, Satanás e
seus associados foram expulsos para sempre do Céu.
Com a expulsão de Satanás, "veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a
autoridade do Seu Cristo” (Ap 12:10). Desde então, Satanás e os anjos caídos foram
confinados como prisioneiros na Terra até receberem seu castigo (2Pe 2:4; Jd 6). Satanás
não tem mais acesso às cortes celestiais e não pode mais acusar o povo de Deus no
Céu.
Embora o destino de Satanás tenha sido decidido com sua expulsão do Céu, sua
derrota ainda não é completa. Ele ainda reivindica o domínio sobre a Terra, por isso o Céu
faz esta advertência: “Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande
cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta” (Ap 12:12). A referência à terra e ao mar
aponta para a dimensão global dessa advertência. A esse respeito, Apocalipse 13 é
especialmente significado, uma vez que um dos associados de Satanás surge da terra e o
outro do mar, a fim de persuadir os habitantes da Terra a se aliar a ele na crise final.
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Guerra na Terra (12:13-16).

Satanás não pode fazer mal a Cristo, mas ele sabe como a igreja é amada por
Jesus. Por isso, ele se volta contra a igreja que representa Cristo na Terra. Mas a mulher
(a igreja) recebe “duas asas da grande águia" a fim de voar até o deserto, onde é cuidada
por Deus pelo período de um tempo, dois tempos e metade de um tempo” (Ap 12:14) ou
1.260 dias (v. 6).
Essa linguagem ecoa a saída de Israel do Egito (Ex 19:4). Assim como Deus cuidou
de Israel durante os anos que o povo passou no deserto (Dt 8:15-18), Ele cuida da igreja
durante o período profético de 1.260 dias em que ela está no deserto (538-1798 d.C).
Durante aquele período, o povo de Deus sofreu perseguição pelo poder do anticristo (Ap
13:5). A igreja romana perseguiu aqueles que optavam pelos ensinos bíblicos em vez da
tradição. Milhões de cristãos sofreram martírio por sua fidelidade ao evangelho. O povo
fiel a Deus encontrou refúgio em lugares isolados, a fim de escapar da perseguição e das
influências corruptoras da igreja instituída.
No esforço de destruir a mulher, “a serpente arrojou da sua boca, atrás da mulher,
água como um rio, a fim de fazer com que ela fosse arrebatada pelo rio" (Ap 12:15). Essa
torrente de água que vem da boca da serpente lembra as palavras enganosas que ela
proferiu no jardim do Éden (Gn 3:1-5). Da mesma forma, Satanás está tentando destruir o
povo de Deus com uma enxurrada de falsos ensinos. No Antigo Testamento, a imagem de
uma torrente de água é usada com frequência como símbolo dos inimigos do povo
de Deus, que o atacam e destroem (SI 69:1, 2; 124:2-5; Is 8:7, 8; Jr 47:2).
A água como um rio que sai da boca do dragão tem dois significados: perseguição e
falsos ensinos. São essas as armas que Satanás utiliza contra o povo de Deus durante o
período profético de 1.260 dias na era medieval. No entanto, a terra resgata a mulher de
maneira providencial, ao tragar a água mandada pelo dragão (Ap 12:16). Mais uma vez,
João utiliza a linguagem do Êxodo. Assim como a terra tragou os egípcios que estavam
perseguindo os israelitas (Êx 15:12), a amistosa terra engole a torrente de perseguição e
falsos ensinos que o dragão usou para tentar destruir a mulher.

O ataque de Satanás ao remanescente (12:17)

O dragão não foi capaz de destruir totalmente a mulher, mas ele não desiste.
Reposiciona-se para “pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os
mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus” (Ap 12:17). Essa passagem serve
de introdução para Apocalipse 13, capítulo no qual Satanás se prepara para a batalha
final contra o povo de Deus do tempo do fim. Ele se retira a fim de ficar pronto para o
último ataque contra os fiéis. Para isso, escolhe a ajuda de dois aliados: a besta do mar
(Ap 13:1-10) e a besta da terra (v. 11-18). Juntos, os três formam um triunvirato profano
para travar a batalha final contra Cristo e Seu remanescente fiel.
No Antigo Testamento, o termo "remanescente" se refere àqueles que sobreviveram
à destruição para dar sequência ao povo fiel a Deus (Is 10:20-22; 11:11, 12; Jr 23:3; Sf
3:13). Ao longo de todo o Antigo Testamento, à medida que a maior parte da nação de
Israel apostatava, sempre havia pessoas que permaneciam fiéis ao Senhor (cf. 1Rs
19:18). João utiliza o termo remanescente” (gr., loipos) para se referir aos cristãos que
continuaram fieis a Deus nas igrejas de Tiatira e Sardes (Ap 2:24; 3:4). Ele também usa
essa palavra para dizer que, no tempo do fim, à medida que a maioria das pessoas se
une a Satanás e seus aliados, haverá um povo que manterá a lealdade a Cristo.
O remanescente do tempo do fim tem duas características. A primeira delas é a
obediência aos mandamentos de Deus. Apocalipse 13 mostra que, no tempo do fim, os
quatro primeiros mandamentos do Decálogo terão importância central no conflito. Uma
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vez que a crise final diz respeito a adoração - quem deve ser adorado e quando -, o
quarto mandamento se tornará um teste de lealdade e obediência a Deus (cf. Ap 14:7).
A segunda característica do remanescente do tempo do fim é a posse do
testemunho de Jesus. Esse atributo está relacionado ao “espírito da profecia” (Ap 19:10;
cf. Ap 22:9). A expressão “o espírito da profecia” era usada na época de João para
designar a atitude do Espírito Santo de falar por intermédio dos profetas. Já a expressão
“testemunho de Jesus” se refere ao testemunho que Cristo dá de Si mesmo por
intermédio dos profetas (Ap 19:10). Satanás fará todo o esforço para enganar e destruir o
remanescente, mas o Apocalipse mostra que o povo fiel a Deus terá o dom profético para
guiá-lo em meio a esses tempos difíceis.

A estratégia de Satanás no tempo do fim

Ocorre então uma mudança na estratégia de Satanás em relação à tentativa de


conquistar pessoas para seu lado. A compreensão desse plano nos ajudará a evitar essa
armadilha enganosa. Ao longo da história, Satanás tem atacado a igreja por meio de
perseguição e coerção. Porém, quando começa seu ataque final contra o remanescente
do tempo do fim, sua estratégia muda da coerção para o engano. Essa alteração de
estratégia corresponde à transição do foco histórico para o escatológico no Apocalipse . É
possível observar que o termo "seduzir" não aparece nenhuma vez na seção histórica do
livro (cap. 4-11), mas é usado com regularidade na seção escatológica (cap. 12–20), a fim
de descrever as atividades de Satanás.
Na tentativa de ganhar a lealdade do mundo, o inimigo fará uma grande contrafação
do Deus verdadeiro e de Seus esforços para salvar a humanidade. Apocalipse 13 observa
que esse ataque é obra do dragão, da besta de mar e da besta da terra, um trio cuja
missão é destruir a verdadeira Trindade (Ap 1:4-6). A partir de então, os membros dessa
tríade satânica passam a estar inseparavelmente ligados na tentativa de enganar o
mundo e afastar as pessoas do Senhor (Ap 16:13, 14; 19:20; 20:10).

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