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Especialização em

OITAVO
MÓDULO 8 TEOLOGIA
PENTECOSTAL

ESCATOLOGIA
FACULDADE
CRISTÃ DECURITIBA
Elias Rangel Torralbo

Elias Rangel Torralbo, pastor, escritor, possui Mestrado em Teologia


pelo Centro Presbiteriano Andrew Jumper, Bacharel em Teologia pela
FAERPI, Licenciatura em Pedagogia pelo Centro Universitário FAM, é
Diretor Executivo da FAESP - Faculdade Evangelica de São Paulo,
casado com Jocelma e pai de Sofia e Hadassa.

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ESCATOLOGIA 8
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MÓDULO

INTRODUÇÃO

Junto das demais doutrinas bíblicas, a Escatologia Bíblica compõe a


revelação de Deus à humanidade, e não por casualidade, o livro do
Apocalipse é introduzido com o termo de origem grega, “revelação”,
(Apokálypsi) que etimologicamente significa, “últimas coisas”. Diante
disso, o objetivo aqui é o de apresentar um panorama escatológico,
indicando as principais correntes ou escolas de interpretação dos textos
escatológicos. Partindo da premissa de que a Bíblia Sagrada é a Palavra de
Deus, a presente elaboração se pauta no que a Declaração de Fé das
Assembleias de Deus afirma:

Cremos, professamos e ensinamos que a Bíblia Sagrada é a


Palavra de Deus, única revelação escrita de Deus dada pelo
Espírito Santo, escrita para a humanidade e que o Senhor
Jesus Cristo chamou as Escrituras Sagradas de a “Palavra de
Deus”, que os livros da Bíblia foram produzidos sob
inspiração divina [...].
A estrutura sobre a qual os livros canônicos estão, demonstra a disposição
de Deus em descortinar o futuro para o seu povo, uma vez que somam
dezessete livros proféticos no Antigo Testamento e um no Novo
Testamento, isto por si só, representa um conteúdo de pouco mais de 1/4
de toda a revelação bíblica. Para Walvoord “o relato bíblico tem o seu
clímax no plano de Deus para o futuro, em que o nosso planeta será
transformado, a fim de que surja uma nova terra”, ele também afirma que
“uma interpretação adequada da profecia serve para apoiar ou aperfeiçoar
todas as outras áreas teológicas, e sem um estudo apropriado da profecia
bíblica, todas as outras áreas, em certo sentido, tornam-se uma revelação
incompleta” (2002, p.9).

Há uma harmonia singular entre o registro da criação dos céus e da terra


(Gn 1.1) e o anúncio de um novo céu e uma nova terra (Ap 21.1). Soma-se a
isso o fato de que em Gênesis 1 e 2 há a informação sobre os detalhes da
criação original, enquanto Apocalipse 21 e 22 registra o final de todas as
coisas e o ressurgimento de um mundo não mais temporal, mas eterno.
Desta forma, cabe à Igreja buscar com diligência a interpretação mais
ajustada e bíblica possível, evitando assim erros e desvios teológicos e
doutrinários a respeito deste assunto basilar à fé cristã.
1. SILVA, Esequias Soares
Nesse sentido, o presente estudo refletirá sobre: i) definição de termos; ii) (Org.). Declaração de Fé das
os principais conceitos e a relevância da Escatologia; iii) os métodos e as Assembleias de Deus, Rio de
escolas de interpretação do Apocalipse e os seus principais temas como o Janeiro: Casa Publicadora
das Assembleias de Deus,
Aliancismo e o Dispensacionalismo, Arrebatamento, Septuagésima Semana 2017, p. 25
de Daniel, os conceitos Tribulacionistas, a Grande Tribulação, o Milênio de
Cristo e as correntes milenistas, o Juízo Final e o Estado Eterno.

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1. ESCATOLOGIA – DEFINIÕES, CONCEITOS E CONTEÚDO

1.1. DEFINIÇÕES

A palavra Escatologia tem sua origem em dois termos do vocabulário grego,


sendo: eschatos que traduzido é último, e logia que significa, tratado ou
estudo. Desta forma, a palavra portuguesa Escatologia,
etimologicamente, significa, “tratado ou estudo das últimas coisas”.

1.2. CONCEITOS E CONTEÚDO

A Escatologia pode ser conceituada como o estudo que visa organizar e


esclarecer - com base bíblica - os acontecimentos futuros a respeito do ser
humano, do fim de todas as coisas, da esperança de vida eterna. Quanto ao
seu conteúdo, ele se reserva em observar os sinais que apontam para este
fim, e os eventos que ocorrerão em todo o mundo, abalando as estruturas
da terra, que vão desde o tribunal de Cristo, as bodas do Cordeiro, a
segunda vinda de Jesus Cristo, a Grande Tribulação, o anticristo e o falso
profeta, o estado intermediário, a ressurreição dos mortos, o reino milenar
de Cristo, até o julgamento final e o estado eterno.

1.3. PLENITUDE DO TEMPO, FIM DOS TEMPOS, ÚLTIMOS DIAS E


ÚLTIMA HORA

Plenitude do Tempo – da expressão “pliroma” significa plenitude,


completude, “tou” do e “chronou” que significa tempo. Em um tempo
completado Deus enviou o seu Filho, contrastando com o tempo anterior a
Jesus, chamado de “primeiros dias”, ao passo que o tempo após Jesus é
chamado de “os últimos dias”.

Fim dos Tempos – da expressão “synteleia” significa “fim ou consumação”,


“tou” dos e “ainos” significa séculos ou tempos. Esse termo aparece no
interesse dos discípulos em saber a respeito dos acontecimentos futuros, e
em resposta a isso Jesus apresentou os sinais característicos dos tempos
escatológicos, cuja finalidade é despertar a atenção para que não houvesse
engano (Mt 24.6, “mas ainda não é o fim, Mt 24.13 “até o fim” e Mt 24.14
“então virá o fim”).

Últimos dias – do termo “eschatos” que significa “últimos” e “heméra” que


significa “dias”. Este termo se refere a um período de tratamento para com
Israel e oportunidade para com os povos e nações da terra (Is 2:3). Os
“últimos dias” não é o mesmo que o “Dia do Senhor” (Is.2:12), pois aqui diz
respeito à segunda vinda de Cristo, e consequentemente, o final do período
chamado de “últimos dias”, como se vê em outras passagens bíblicas (Is
49:8 “tempo favorável” e “no dia da salvação”; 2 Co 6:2 “tempo oportuno”

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e “dia da salvação”; Ef 1.10 “dispensação da plenitude dos tempos”; Ef 3:2


“dispensação da graça” e 1 Tm 4.1 “últimos tempos”).

Última hora (“eschati” significa última e “ora” significa hora). O Apóstolo


João declara que a sua geração já vivia a “última hora” como referência a
aproximação do anticristo, cuja evidência maior é o surgimento de muitos
anticristos (I Jo 2.18-28).

Todas essas expressões indicam a aproximação do fim, pois em cada uma


delas se encontram elementos que reafirmam quão próximo está o futuro
eterno (Rm 13.11).

2. FORMAS DE INTERPRETAÇÕES

De acordo com a Hermenêutica, a investigação precisa sobre o sentido


original de qualquer produção literária passa pelo conhecimento de todo o
processo para que se chegue a uma conclusão plausível. Sendo assim, é
impossível ter clareza sobre a Escatologia se não houver o conhecimento
mínimo sobre a metodologia interpretativa dessa área, além de ser preciso
aplicá-la da forma correta e no momento certo.

A Escatologia se firma na Palavra de Deus, principalmente nos escritos


apocalípticos, os quais têm grau elevado de dificuldade na sua
interpretação, visto que estão carregados de linguagens simbólica e
tipológica, impondo a necessidade de um cuidado redobrado em seu
processo interpretativo. Quais os principais métodos interpretativos na
Escatologia?

2.1. OS MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO

O bom uso das técnicas de interpretação auxilia na manutenção da pureza


do significado do texto. A interpretação da Bíblia, incluindo a previsão dos
últimos acontecimentos, deve ser bastante confiável e firmada em uma
base sólida, e isso requer ferramentas e elementos confiáveis.

2.1.1. MÉTODO ALEGÓRICO

A palavra alegoria é composta de duas palavras gregas, “allos”, que


significa “outro” e “agoreuein”, significando “falar” ou “proclamar”,
resultando em “proclamar alguma coisa que significa outra”.

A alegoria visa desvendar o que está por detrás do que está escrito,
buscando um sentido espiritual mais profundo. Esse recurso interpretativo
também pode ser usado em textos escatológicos, mas sempre com o
cuidado para não anular a literalidade do texto. Sendo assim, é preciso
considerar os seguintes princípios:

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i) se o sentido de uma profecia é literal, não se deve interpretá-la


alegoricamente para que o seu verdadeiro sentido não seja distorcido;

ii) cuidado, pois há uma tendência de se espiritualizar todas as coisas à


medida que se usa o recurso da alegoria;

iii) nem tudo dentro da Escatologia deve ser interpretado como literal.
Existem textos na escrita apocalíptica onde a numerologia pode ser real e
outros onde ela é simbólica.

iv) cuidado, pois a alegoria desprovida de embasamento bíblico-teológico


abre espaço para maquinações elaboradas em mentes férteis que
distorcem a Palavra de Deus e perdem o sentido original do que o escritor
tinha em mente quando produzia o texto sagrado.

2.1.2. MÉTODO LITERAL

É o método gramático-histórico, isto é, procura dar sentido literal às


palavras. O texto, nesse caso, deve ser interpretado sem uso de analogias
ou simbologias, deve ser entendido como está escrito. Muitos confundem
esse método com interpretar tudo “ao pé da letra”, simplesmente
ignorando o contexto histórico, cultural, social e religioso da época; é
quase que uma decodificação das palavras. Na interpretação escatológica,
os cuidados devem ser: não usar interpretação “ao pé da letra” e nem
ignorar contexto, e aqui se apresentam dois princípios inegociáveis: i) as
predições futuras não podem ser interpretadas “ao pé da letra”, pois elas
estão carregadas de elementos obscuros e alegóricos, que a princípio, as
tornam até mesmo fantasiosas, carecendo de estudo mais acurado para se
chegar ao sentido real do texto; ii) não se deve desprezar o contexto, pois
ler hoje o que foi escrito há aproximadamente dois mil anos atrás, numa
cultura tão diferente requer o devido cuidado com o contexto para não se
incorrer em erros graves de interpretação.

2.1.3. MÉTODO ANAGÓGICO

Do grego “anagogo” que aponta para o ato de “levar para cima”, esse
termo se refere à descoberta de uma verdade espiritual, antes oculta, mas
que agora foi revelada. Assemelhando-se à interpretação alegórica, a ideia
é que o indivíduo é “elevado” do sentido literal para o simbólico, espiritual
ou místico. Isso pode se dar por meio de códigos ou símbolos. A
interpretação anagógica é cabível, desde que não seja utilizada de
maneira exacerbada, na qual tudo é tratado como código, símbolo ou
espiritual.

Conclui-se, portanto, que todos esses três métodos de interpretação


devem ser utilizados, mas sempre com o cuidado para não serem usados
inadequadamente.

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2.2. O PROCESSO DE INTERPRETAÇÃO NA ESCATOLOGIA

Há diferentes maneiras de se interpretar os escritos escatológicos, e


conhecê-los é fundamental para a compreensão correta a respeito deste
tema tão importante.

Em primeiro lugar, destaca-se a Interpretação Preterista, cuja palavra é


formada do prefixo latim “preter”, que denota o “passado” ou “além de”.
Sendo assim, esse método de interpretação atribui o cumprimento das
profecias escatológicas ao próprio tempo em que foram vaticinadas.

Nesse método de interpretação, todas as predições apocalípticas de Daniel


se cumpriram no período Inter Bíblico e as de Apocalipse, na sua quase
totalidade, nos primeiros três séculos da Era Cristã. O preterismo é o
método mais popular, e o mais usado por eruditos críticos que entendem
que estes registros foram destinados aos crentes, em especial à liderança
de seu tempo, sendo que, na verdade, quase tudo se cumpriu até o período
da queda do Império Romano.

Ao contrário disso, destaca-se que João, ao escrever, tinha convicção plena


de que estava escrevendo para gerações futuras e não para aquela
geração, até porque os próprios profetas, em suas predições, não sabiam
do real alcance de suas mensagens. Dizer que as predições apocalípticas
estavam restritas à geração em que foram produzidas é incoerente com o
agir de Deus na história e, principalmente, com aqueles que O servem. Se
realmente tudo tivesse seu cumprimento somente para aquela época, isso
deixaria a Igreja ao longo dos séculos sem um rumo definido, pois se tudo já
se cumpriu, qual é a esperança da Igreja? O preterismo não consegue
responder a essa pergunta.

Em segundo lugar, há o método da Interpretação Histórica que encara a


mensagem apocalíptica de maneira simbólica, cujos símbolos são parte do
esboço da história da Igreja, desde a época inicial da Igreja Primitiva até a
volta de Cristo, estendendo-se ao final dos tempos. Esse método também é
conhecido como Continuidade Histórica ou progressista, pensamento
existente há mais de 2.000 anos. Os adeptos dessa metodologia
vislumbram os períodos da história da Igreja, mui especialmente nos seus
principais eventos. Este método abrange pontos do preterismo e do
futurismo.

A Interpretação Histórica é atraente, sedutora e até mesmo facilita o


encaixe do livro das revelações no contexto histórico mundial, porém,
como as demais, deve ser avaliada com cuidado.

Em terceiro lugar, existe a Interpretação Idealista, também chamada de


mística ou simbólica, já que a sua maior preocupação é apresentar o
significado dos símbolos nas revelações do fim. Este método não tem

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interesse em cronologias, mas fixa no agir de Deus em relação ao mal,


estimulando o crente a perseverar até o fim. Os símbolos são vistos como
tendências que podem se cumprir de época em época. Tomando o exemplo
do Anticristo, ele é apenas uma tendência que aparece em vários
momentos da história e pode ser visto naqueles que se portam com o
significado do símbolo que ele carrega; sendo assim, não importa a época
do acontecimento e sim o símbolo. De acordo com esse pensamento, o
Anticristo pode ser Nero, Domiciano, Napoleão, Hitler e outros que
surgiram e surgirão ainda. O fim último dessa interpretação é o grande
conflito entre Deus e o império do mal, apresentando o triunfo do Senhor.

Os adeptos desse pensamento tendem a espiritualizar tudo; valorizam os


símbolos e descartam os fatos históricos, pois na verdade eles não são e
nunca serão reais, simplesmente retratam a luta do bem contra o mal.

Em quarto e último lugar, encontra-se a Interpretação Futurista, na qual os


seus defensores defendem que as profecias do Apocalipse se referem ao
futuro, cujo ápice se dará após o Arrebatamento da Igreja e com o início do
período da Grande Tribulação até que o fim chegue. Eles acreditam que
após isso Israel será invadida pelo inimigo e será salva pela intervenção do
anticristo após três anos e meio de falsa paz, vindo então a revelar a sua
verdadeira identidade. Esse método parte do princípio hermenêutico de
que, sempre quando possível, deve se interpretar o texto de maneira
literal, e apenas quando isto não for possível, deve se recorrer a outras
formas interpretativas.

Os defensores da visão futurista optam pelo dispensacionalismo, ou seja,


acreditam que Deus ao implementar o seu plano de salvação, o faz por
meio de dispensações ou eras, sendo elas: i) Período da Inocência (da
criação a queda); ii) da Consciência (da queda ao dilúvio); iii) do Governo
humano (de Noé a Abraão); iv) Patriarcal (de Abraão a Moisés); v) de Israel
(de Moisés a Cristo); vi) da Igreja (do derramamento do Espírito Santo no
dia do Pentecostes até o Arrebatamento da Igreja); vii) do Milênio (após o
Armagedom e antes do Juízo Final).

O Dispensacionalismo ou Pré-Milenismo, tem sido a corrente escatológica


mais aceita entre os pentecostais e os de fé renovada, seu surgimento
ocorre em meados do século XIX e seus principais nomes são: Jhon N. Darby
(1800 - 1882) sendo considerado o pai do dispensacionalismo; Cyrus
Ingerson Scofield (1843 – 1921), principal popularizador do
dispensacionalismo através das notas de rodapé de sua Bíblia de Estudo; L.
S. Chafer (1871 – 1952) influente disseminador do dispensacionalismo do
século XX , entre outros.

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3.1. AS SENTENTA SEMANAS DE DANIEL (Dn 9)

Essa é a terceira série de revelações escatológicas dentro do livro do


profeta Daniel, nas últimas duas, capítulo 2 e capítulo 7, é possível
identificar os eventos prognosticados, mas não com muitos detalhes acerca
da cronologia em que eles acontecerão, mas na do capítulo 9 é possível
perceber como a história da civilização humana se relaciona diretamente
com a escatologia bíblica, sendo imprescindível uma visão global em que se
sucederam os relatos para uma melhor compreensão do assunto.

IMPÉRIOS MUNDIAIS NA BÍBLIA


Egito Período Patriarcal até o Êxodo - Gn 46 a Dt 34

Assíria Período onde as dez tribos de Israel (Reino do Norte) foram


levadas para o cativeiro - 722 a 605 a.C.

Babilônia Período onde as duas tribos de Judá (Reino do Sul) foram levadas
para o cativeiro - 605 a 539 a.C.

Medo-Pérsia Período em que Israel retornou para a sua terra em 536 a.C. – 539
– 331 a.C.

Grécia Período intertestamentário – 321 a 63 a.C.

Roma Período em que Israel ficou subjugada por Roma, Jerusalém é


destruída – 63 a.C a 70 d.C.

Milênio de Cristo Serão mil anos sob o governo de Jesus Cristo, até o Juízo final,
quando se estabelecerá o reino eterno.

Esta profecia, também chamada de “As Setenta Semanas de Daniel”, é


fundamental para um bom estudo sobre o Apocalipse, a Grande Tribulação,
ou qualquer outro assunto que fale sobre o tempo do fim. Essas Setenta
Semanas dizem respeito a Israel e à Cidade Santa Dn 9.24).

3.1.1. CONDIÇÕES QUE ENVOLVEM O CUMPRIMENTO DA PROFECIA


E A SUA ESTRUTURA

Em Daniel 9.24-27 é possível encontrar condições para o cumprimento


desta profecia, são elas: i) as setenta semanas estão determinadas para o
povo Judeu, e estes, necessitam estar em Jerusalém (Cidade Santa); ii) se
o povo Judeu se ausentasse de Jerusalém, ou perdesse o seu domínio, esta
profecia seria interrompida.

Uma semana é constituída de sete dias, entretanto, a profecia de Daniel se


refere a semanas de anos e não de dias, sendo assim, para cada dia da
semana se conta um ano, que, desta forma, para cada semana teremos
sete anos no lugar de sete dias. No Antigo Testamento era comum o uso de

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semana de anos (Lv 25.8, Ez 4.6, Gn 29.20-28). Os acontecimentos que


envolvem essa profecia tiveram seu início com a ordem para a restauração
e edificação de Jerusalém (Ne 2), que se deu por volta do ano 445 a.C.,
data esta que até a morte de Cristo somam aproximadamente 483 anos, e
isso serve como mais uma garantia de que esta profecia se trata de
semanas de anos, e não de dias.
07 Semanas Dn 9.25 49 anos

62 Semanas Dn 9.25 434 anos

01 Semana Dn 9.27 7 anos

A primeira parte se refere à restauração e edificação de Jerusalém, ou


seja, a cidade seria edificada e restaurada da destruição que o império
Babilônico lhe causou (Dn 1.1, II Rs 24.1). Esta ordem foi dada pelo Rei
Ataxerxes a Neemias aproximadamente no ano 445 a.C., e nesta mesma
data iniciou-se a contagem da primeira divisão, e terminou
aproximadamente no ano 397 a.C., o que é relativo a 49 anos (7 semanas de
anos), e que ao final deste período Jerusalém estava totalmente
reconstruída. A segunda divisão tem início aproximadamente no ano 397
a.C., alcançando os dias da pregação dos apóstolos de Cristo. Este período
foi marcado pelo nascimento de Cristo, a Sua morte, a invasão e a
destruição de Jerusalém, conforme previsto pela profecia (Dn 9.25-26). A
terceira e última divisão é ainda futura, principalmente porque o povo
Judeu não está em Jerusalém (Dn 9.24), pois com a invasão dos Romanos, a
cidade de Jerusalém foi destruída aproximadamente no ano 70 d.C, e os
Judeus foram expulsos e se dispersaram dali (Ez 36.19-20; Lc 21.24),
fazendo com que esta profecia fosse interrompida na sua 69º semana.

Esta última semana não pode ter se cumprido em hipótese alguma, pois
nesta última semana (7 anos) os Judeus iriam fazer um acordo com o
assolador (anticristo), e este assolador seria destruído, porém isto ainda
não aconteceu. Israel ainda não fez este acordo (Is 28.15-18), e muito
menos o anticristo foi destruído, sendo assim, a última semana de Daniel
ainda não se cumpriu, de modo que essa profecia permanece
interrompida. Ela se reiniciará com o cumprimento do Tempo dos gentios
(Lc 21.24). A última semana de Daniel terá a duração de 7 anos, que será
dividida em duas partes de três anos e meio (Dn 9.27, Ap 11.1-3, Ap 12.6-
14, Ap 13.5). Durante este período, o assolador (Dn 9.27) que é o anticristo,
fará um concerto com Israel por sete anos (uma semana), e na metade da
semana (três anos e meio) irá quebrar o concerto com os Judeus. A 70º
Semana de Daniel também é chamada de Grande Tribulação (Mt 24.21) que
terá a duração de sete anos, dividida em duas partes de três anos e meio,
conforme se vê abaixo:
Quarenta e dois meses é igual a três anos e meio

Mil duzentos e sessenta dias é igual a três anos e meio

Tempo e tempos e metade de um tempo é igual a três anos e meio


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4. O ARREBATAMENTO

O arrebatamento tem relação com a esperança do crente e com o


cumprimento da escatologia na doutrina cristã (1Co 15.51-56), tratando-se
de uma promessa deixada pelo próprio Senhor Jesus (Jo 14.3).

A expressão arrebatamento resulta da palavra rapturô da Vulgata Latina,


cuja origem é a palavra grega harpazo. Essa palavra aparece no texto
bíblico na ocasião em que Paulo foi arrebatado (II Co 12.2-4), assim como
ocorre no episódio que envolve Filipe (At 8.39), e com o próprio Jesus (At
1.11).

Arrebatar significa arrancar, levar, tirar por força, ou mesmo por violência,
raptar mostrando rapidez ou urgência, razão pela qual a ideia de
arrebatamento é associada a ação de um ladrão que vem com velocidade e
subtrai o seu alvo com veemência (I Ts 4.15-17; 5.2; II Pd 3.10).

4.1.1. O CONCEITO PRÉ-TRIBULACIONISTA

Os pré-tribulacionistas afirmam que o arrebatamento da Igreja ocorrerá


antes do início da Grande Tribulação, ou seja, que Jesus virá, e arrebatará
a Igreja para o encontro com Ele nos ares, local onde se dará o Tribunal de
Cristo, e em seguida o Filho apresentará a sua noiva e tudo estará completo
para as bodas do cordeiro na casa do Pai. Enquanto a Igreja estará
desfrutando do gozo celestial, na terra se cumprirá a septuagésima semana
de Daniel, ao final, a Igreja descerá com o seu Senhor para a sua segunda
vinda a esta terra, neste momento, acontecerá a aparição de Jesus, e o
Armagedon que encerrará a Grande Tribulação, a inauguração do Milênio e
por fim o Juízo Final.

Segundo este conceito, a Igreja não passará pela Grande Tribulação, ela
será guardada (Ap 3.10), afinal, a Grande Tribulação é mencionada na
Bíblia como o grande e terrível Dia do Senhor, o dia da ira do Senhor (Jl 2.2;
Sf 1.14-17; Ml 4.5), logo a Igreja têm a promessa de ser preservada dessa
ira (Rm 5.9).

Aqui se apresenta a doutrina da


Iminência da Volta de Jesus Cristo,
cujo significado é qualidade,
condição ou característica do que
está iminente; ameaça,
aproximação, urgência. A respeito
da vinda de Jesus, isso quer dizer ela
pode ocorrer a qualquer momento,
não necessitando de mais nenhum
outro acontecimento.

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Sobre a doutrina da iminência Pentecost escreve:

A igreja tem a ordem de viver à luz da vinda iminente do


Senhor para transladá-la à Sua Presença (Jo 14.2,3; At
1.11; 1Co 15.51,52; Fl 3.20; Cl 3.4; 1Ts 1.10; 1Tm 6.14;
Tg 5.8; 1Pe 3.3,4). Passagens como 1Tessalonicenses 5.6,
Tito 2.13 e Apocalipse 3.3. alertam o crente a aguardar o
próprio Senhor, não aguardar sinais que antecederiam
Seu retorno. É verdade que os acontecimentos da
septuagésima semana lançarão um prenúncio antes do
arrebatamento, mas a atenção do crente deve ser
sempre dirigida para Cristo, nunca aos presságios.
Sendo assim, a doutrina Pré-Tribulacionista defende a tese de que a Igreja
de Cristo será arrebatada antes que se inicie o período da Grande
Tribulação, utilizam-se do método literal da interpretação das profecias
bíblicas e boa parte de sua base é dispensacionalista, crendo na distinção
entre Israel e a Igreja como grupo, havendo um plano de Deus exclusivo
tanto para Israel como para a Igreja, e que a Grande Tribulação é uma
dispensação na qual o objetivo é exclusivamente Israel.

4.1.2. O CONCEITO PÓS-TRIBULACIONISTA

Para os pós-tribulacionistas a Igreja de Cristo não será “poupada” da


Grande Tribulação, mas enfrentará este período auxiliada pela força e pela
graça oferecidas pelo Senhor. Além disso, defendem que a segunda vinda
de Jesus ocorrerá em um único momento, que será ao final do período
tribulacional.

Os pós-tribulacionistas não veem distinção entre a Igreja e Israel, unem o


arrebatamento à Segunda Vinda de Jesus, fazendo de ambos um único
evento. Eles também não fazem distinção entre os sofrimentos desta era
presente com o que está por vir.

O método de interpretação adotado pelos pós-tribulacionistas é o


alegórico. Os que aderem essa crença negam o dispensacionalismo,
acreditam que, embora a Igreja passe pela Grande Tribulação, no entanto,
ela não será alvo da ira de Deus que se destinará exclusivamente aos
gentios, assim como ela não se destina aos judeus. Eles também negam o
cumprimento futuro das Setenta Semanas de Daniel com o argumento de
2. PENTECOST, J. Dwight. que se trata de um cumprimento histórico e não escatológico. Finalmente,
Manual de Escatologia. São o pós-tribulacionismo ensina que não há distinção entre Tribulação e
Paulo: Editora Vida, 2006, p.
226 Grande Tribulação, e que a vinda visível de Cristo marcará o fim da Grande
tribulação.

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4.1.3. O CONCEITO MIDI-TRIBULACIONISTA

Esta escola conhecida como midi-tribulacionista ou meso-tribulacionista


tem uma visão intermediária acerca do arrebatamento, e defende que a
Igreja sofrerá apenas a primeira metade da Grande Tribulação e será salva
durante o curso da septuagésima semana de Daniel (Dn 9.27). Por outro
lado, se assemelham ao pós-tribulacionismo ao não distinguirem a
Tribulação da Grande Tribulação. Este método se utiliza da ressurreição
das Duas Testemunhas com vistas a ilustrar o que está para ocorrer com a
Igreja (Ap 11.3,11).

Uma das principais defesas dessa crença é de uma cronologia dada em II


Tessalonicenses 2.1-3, cuja interpretação defende que o Anticristo será
revelado antes do arrebatamento da Igreja, o que justificaria que a igreja
experimentará a primeira parte da Grande Tribulação. Os seus adeptos
defendem, também, que a última trombeta (I Co 15.51-52) se relaciona
com a sétima trombeta (Ap 11.15), e que soa na metade da Grande
Tribulação. Eles fundamentam os seus argumentos em Apocalipse 14.14-
16, além de considerarem o arrebatamento a partir dessa passagem
bíblica. Finalmente, ensinam que a segunda vinda visível de Cristo marcará
o fim da Grande Tribulação, encerrando assim o calendário profético da
última Semana de Daniel.

Diante da apresentação dessas diferentes formas interpretativas acerca da


Grande Tribulação, destaca-se aqui o que afirma a Declaração de Fé das
Assembleias de Deus:

CREMOS, professamos e ensinamos que a Segunda Vinda


de Cristo é um evento a ser realizado em duas fases. A
primeira é o arrebatamento da Igreja antes da Grande
Tribulação, momento este em que “nós, os que ficarmos
vivos, seremos arrebatados” (1 Ts 4.17); a segunda fase
é a sua vinda em glória depois da Grande Tribulação e
visível aos olhos humanos: “Eis que vem com as nuvens,
e todo olho o verá, até os mesmos que o traspassaram;
e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim!
Amém!” (Ap 1.7). Nessa vinda gloriosa, Jesus retornará 3. SOARES, Esequias.
com os santos arrebatados da terra: “na vinda de nosso Declaração de Fé das
Assembleias de Deus, Rio de
Senhor Jesus Cristo, com todos os seus santos” (1 Ts Janeiro: Casa Publicadora
3.13). das Assembleias de Deus,
2017, p. 175

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8 ESCATOLOGIA
OITAVO
MÓDULO

4.1.4. A TEORIA DO ARREBATAMENTO PARCIAL

Essa teoria defende que somente os crentes que estiverem vigiando e


esperando pelo arrebatamento serão arrebatados. Esta interpretação é
fruto de um equivocado entendimento de textos como o de Lucas 21.36,
Filipenses 3.20, Tito 2.13, II Timóteo 4.8 e Hebreus 9.28, contrariando o
que geralmente é professado pela maioria dos cristãos evangélicos, que
acreditam na salvação pela graça e por meio da fé (Ef 2.8,9), pois o crente
salvo e que será arrebatado é justificado pela fé em Deus (Rm 5.1). Sendo
assim, deve-se acreditar que as promessas e as bênçãos eternas são
provenientes da graça, e não da fidelidade do crente. Evidentemente que a
fidelidade do crente tem o seu valor, mas aparece como fruto, ou evidência
da operação do Espírito em seu interior, mas não se pensa ser ela a
responsável pela salvação. ção, e que a vinda visível de Cristo marcará o
fim da Grande tribulação.

4.2. SINAIS DA SUA VINDA

De início é preciso afirmar que os Sinais da Vinda de Jesus não anulam o


caráter iminente do arrebatamento da Igreja (Mt 24.30,36). Embora tenha
sido adiado, todavia, o plano de Deus para com Israel não foi anulado, e ao
falar aos discípulos acerca dos sinais que antecedem à Sua vinda, Jesus se
refere a um tempo em que os judeus serão enganados, perseguidos e
sofrerão muito, havendo até mesmo tentativa de aniquilá-los por
completo, afinal de contas, o Senhor se dirige tanto aos judeus quanto aos
que se juntarem a eles na esperança de um Salvador.

Os sinais referentes aos judeus podem ser expostos da seguinte forma: i)


surgimento de falsos profetas; ii) a profanação do Templo; iii) sinais na
natureza; iv) o aparecimento do Filho do Homem no céu.

Quanto aos sinais que se referem ao Arrebatamento da Igreja, são eles: i)


aumento da iniquidade; ii) esfriamento do amor, ausência de paz e o
enfraquecimento da justiça; iii) proliferação de falsos profetas; iv) fome,
pestes, violência, terremotos em grandes escalas e guerras; v) a apostasia
dos últimos tempos, caracterizado pelo sofrimento espiritual e pela falta
de fé por parte de muitos (Mt 24.12).

4.3. DISTINÇÃO ENTRE A PRIMEIRA FASE (ARREBATAMENTO) E A


SEGUNDA FASE (A REVELAÇÃO EM GLÓRIA)

Enquanto o termo do latim usado para arrebatamento é raptus que


equivale ao termo grego harpadzo (I Ts 4:17) referindo-se à primeira fase, o
termo grego parousia que literalmente significa “visita ou presença” diz
respeito à segunda fase (ITs 2.13; 4.15), ou ainda a palavra Epiphanéia que
significa “manifestação, resplandecer, brilhar, vir a luz” que aponta para
uma manifestação visível e gloriosa (ITm 6.14, II Ts 4.8), e finalmente, a

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ESCATOLOGIA 8
OITAVO
MÓDULO

palavra grega Apokalypsis que significa “revelação, desvelamento,


aparecimento” (I Co 1.7; II Ts 1.6-7).

A primeira fase indica uma vinda inesperada e oculta aos olhos dos que não
forem arrebatados (Mt 24.42-44; I Ts 5.2 e II Pd 3.10). Já a segunda fase
revelará a Glória de Jesus publicamente (Jl 3.11, I Ts 3.13; Ap 1.7), e
enquanto a primeira é comparada à ação oculta e inesperada de um ladrão,
essa segunda é comparada ao esplendor do relâmpago que pode ser visto
por todos (Mt 24.27-31).

A primeira fase objetiva a ressurreição e a transformação dos que


morreram no Senhor, assim como a transformação dos crentes que
estiverem vivos (Fl 3.21, I Co 15.51-52; I Ts 4.15-17). Outro propósito dessa
primeira fase é livrar a Igreja da Grande Tribulação (Ap 3.10, Lc 17.26),
revelar a ela a glória de Cristo e levá-la para a sua nova habitação (Rm 8.18,
II Co 5.2-8, 1 Pe 5.1), livrá-la também do pecado e da morte (I Co 15.53-57),
julgar as suas obras no Tribunal de Cristo (II Co 5.10, Rm 14.10-12, Ap 22.12)
e celebrar as Bodas do Cordeiro (Ap 19.7-9, Ef 5.25-27,32; Mt 9.15; 25.1-
10).

No que se refere à segunda fase, o propósito é revelar a glória de Cristo aos


seus santos (I Jo 3.2; Cl 3.4; Jd 1.14), aniquilar o Anticristo (II Ts 2.8), julgar
todos os seus inimigos (Ap 20.4), livrar Israel (Zc 14.1-4, Jr 30.4-7, Is 11.11-
16, Jr 31.35-40), fazer uma aliança com Israel (Zc 12.10-13, Ap 1.7),
estabelecer o Milênio (Ap 19.15,16,20; 20.1-3), libertar a terra da
maldição (At 3.20,21; Rm 8.21) e instituir um reinado de plena paz e
perfeita prosperidade (Zc 14.9; Is 11.1ss.; Ap 20.2-7).

3.4. O ESTADO INTERMEDIÁRIO

Uma vez que os assuntos tratados aqui são o Arrebatamento e a Segunda


Vinda do Senhor, se impõe a necessidade de uma abordagem acerca do
estado intermediário, pois este tema envolve assuntos como: céu e terra,
morte e ressurreição, vivos e mortos, logo, precisamos compreender o que
a Palavra de Deus nos revela. Pearlman explica que:

O estado intermediário dos justos descreve-se como um


estado de descanso (Ap 14:13), de espera e repouso (Ap
6:10,11), de serviço (Ap 7:15), e de santidade (Ap 7:14).
Os ímpios também passam para um estado
intermediário, onde aguardam o castigo final, que se
4. PEARLMAN, Mayer.
realizará depois do juízo do Grande Trono Branco, Conhecendo as Doutrinas da
quando a Morte e o Hades serão lançados no lago de Bíblia. São Paulo: Editora
Vida, 1970, p. 233
fogo (Ap 20:14).

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OITAVO
ESCATOLOGIA

MÓDULO

O Estado Intermediário é o período no qual os seres humanos que morreram


ficam aguardando a ressurreição e posteriormente o julgamento, tanto
para os salvos quanto para os perdidos.

4.4.1. A MORTE

A palavra morte vem do grego “thanatos” que significa “separação, estar


separado; já no hebraico o termo é “maweth”, traduzido muitas vezes
como sepultura, cova. A morte em linguagem biológica molecular é
definida como a dissolução da estruturação molecular necessária para o
fenômeno de vida. O teólogo Louis Berkhof afirma o seguinte:

A morte não é uma cessação da existência, mas uma


disjunção das relações naturais da vida. A vida e a morte
não são antagônicas entre si como ocorre com a
existência e a não existência, mas são mutuamente
opostas somente como diferentes modos de existência. É
deveras impossível dizer exatamente o que é a morte.⁵
A morte é uma realidade que atinge toda a humanidade e está presente em
todas as culturas desde as mais remotas até as mais atuais, sendo um mau
indestrutível, e que – inquestionavelmente - deve ser aceito. Paulo fala da
morte como uma recompensa ou uma consequência do pecado (Rm 6,23).

4.4.2. A RESSURREIÇÃO

A ressurreição é literalmente a ação de trazer novamente à vida física. No


que se refere àqueles que estão ou estarão no estado intermediário e com
base em João 5.29, há duas situações a serem consideradas: i) a
ressurreição para a vida eterna, também chamada de a primeira
ressurreição; ii) a ressurreição para a morte eterna, chamada de a segunda
ressurreição.

O termo ressurreição vem do grego “anastasis” e significa “volta


miraculosa à vida”. A Bíblia classifica os que não creem na ressurreição dos
mortos como os mais miseráveis de todos os homens (I Co 15.19), afirma
também que sem a ressurreição, a fé cristã é vã (I Co 15.16-17) e que os
mortos que dormiram em Cristo estariam perdidos (I Co 15.18). Mas, afinal,
qual a ordem das ressurreições apresentadas na Bíblia?

A primeira ressurreição ocorrerá por ocasião do arrebatamento da Igreja (I


5. BERKHOF, L. Teologia Ts 4.13-18) e se destina aos chamados de bem-aventurados e santos, contra
Sistemática. São Paulo: Luz
para o Caminho Publicações, os quais a segunda morte não tem poder (Ap 204-6,14; cf. Lc 14.14). Paulo
2007, p. 617 amplia o pensamento sobre o assunto ao indicar que não se trata de um
acontecimento único, pois Jesus como a primícia dos que dormem, faz

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ESCATOLOGIA 8
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MÓDULO

parte deste acontecimento (I Co 15.20-23), assim como os salvos que


morreram em Cristo que serão ressuscitados por ocasião do arrebatamento
da Igreja (1 Ts 4.13-18), as duas testemunhas (Ap 11.11-12), o grupo dos
“mártires”, os que permaneceram fieis a Cristo na Grande Tribulação” (Ap
7.9-17), e juntos reinarão com Cristo durante mil anos (Ap 20.4). Quanto
aos demais mortos (Ap 20.5), eles reviverão somente após o milênio (Ap
20.5,6) e serão jugados e lançados no lago de fogo (Ap 20.15), sendo esta a
segunda ressurreição.

4.5. ACONTECIMENTOS POR OCASIÃO DO ARREBATAMENTO

Uma vez que, conforme visto anteriormente, o arrebatamento da Igreja se


trata da subida dos crentes salvos para se encontrar com o Senhor nos ares
(1Co 15.51-52; 1Ts 4.14-17), tratando-se de um grande mistério (I Co
15.51), é preciso atentar para as características inerentes a este
acontecimento previsto nas Escrituras.

A primeira característica do arrebatamento é a velocidade com que está


previsto de acontecer, isto é, será como a de um abrir e fechar de olhos (I
Co 15.52). A palavra utilizada aqui no original grego é atomõ e indica uma
unidade temporal extremamente breve, momento, instante, quer dizer
que o arrebatamento se dará em uma menor fração de tempo possível.

Há ainda expressões que apontam para como será este momento de


alarido, que conforme o pastor Abraão de Almeida explicita, com base em
termos paulinos como “a última trombeta”, a trombeta soará” (I Co
15.52), “grande Brado”, “à voz do arcanjo”, ao “som da trombeta de Deus”
(ITs 4.16), e a este respeito ele comenta:

O grande brado será o grito de guerra de Cristo contra a


morte, que haverá de entregar os seus mortos. A voz do
arcanjo indica que será um sinal para Israel, pois a
Bíblia sempre menciona esse ser angelical sempre em
conexão com os israelitas. A partir do momento do
rapto, Deus volta a tratar com o povo judeu da mesma
maneira, como o fazia antes do dia da graça. Terá início
a última semana de anos para Israel. O som da trombeta
de Deus, por sua vez, relaciona-se com a reunião final e
eterna do povo de Deus. A trombeta relacionada com o
arrebatamento da Igreja nada tem a ver com as
trombetas de juízo descritas em Apocalipse. O contexto
das cartas de Paulo é de reunião dos salvos com o seu
Salvador. No Antigo Testamento, as trombetas soavam

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OITAVO
ESCATOLOGIA

MÓDULO

para convocar o povo de Deus para o culto ou para a


defesa militar. Neemias 4:20 é um bom exemplo: “No
lugar onde ouvirdes o som da trombeta, ali vos
ajuntareis conosco, e o nosso Deus pelejará por nós”. A
última trombeta, portanto, significa a nossa reunião
com Cristo para sempre.⁶
Evidentemente que este acontecimento será marcado por ações
miraculosas da parte de Deus, tais como a ressurreição de todos os que
morreram em Cristo (I Ts 4.16) e que ressurgirão incorruptíveis (I Co 15.52)

4.5.1. O TRIBUNAL DE CRISTO

A Bíblia Sagrada fala de cinco julgamentos, sendo eles: i) dos crentes


salvos, o Tribunal de Cristo (II Co 5.10); ii) de Israel para entrarem no
vínculo da aliança (Ez 20.34-38; Dn 12.1); iii) das Nações (Mt 25.31-40;
13.40-46; Jl 3.1,2,12-14; Sl 9.8); iv) dos Anjos (I Co 6.3; Ap 20.10; Rm 16.20;
II Pedro 2.4 Jd 6); v) Julgamento Final (Mt 7.23; At 17.31; Rm 2.12-16; Ap
20.5-11).

O Tribunal de Cristo é um acontecimento previsto na Bíblia e que


acontecerá logo após o arrebatamento da Igreja, vindo a cumprir o que
Paulo vaticinou de que os crentes verão o que nunca viram, ouvirão o que
nunca ouviram e experimentarão o que nunca experimentaram (I Co 2.9).
Diante do Senhor, os crentes o verão como Ele é (I Co 13.12), e ali
receberão a sua recompensa (Lc 6.23; 14.14; Rm 14.10; I Co 3.14; Cl 3.24;
Hb 10.35; Ap 22.12).

O termo usado por Paulo é “bema” que sinaliza para “plataforma do


orador, uma plataforma elevada ao ar livre, com acesso por meio de
degraus”, com uma relação direta com os jogos olímpicos da época com os
quais os leitores de sua carta estavam familiarizados. Nessa plataforma o
juiz recebia os vencedores que haviam disputado alguma prova atlética
para premiá-los com a coroa de louros (I Co 5.10; 9.24; II Tm 4.8).

Este tribunal não terá caráter condenatório (Rm 8.1), pois será única e
exclusivamente para avaliar as obras realizadas pelos crentes por meio do
corpo, e como se sabe, a justificação dos crentes é pela fé (Rm 5.1), razão
pela qual não carecem de um julgamento nesses termos (Jo 5.24), restando
apenas a apresentação de suas obras que passarão pelo fogo que provará a
6. ALMEIDA, Abraão de.
Manual da profecia Bíblica. qualidade de cada uma delas (I Co 3.11-13,15). Ao contrário do
Rio de Janeiro: Editora CPAD, Arrebatamento da Igreja que será coletivo, o Tribunal de Cristo terá um
2018, p. 120 caráter individual, no qual cada um dará conta de si mesmo a Deus (Rm
14.12; I Co 3.13; 4.5, II Co 5.10).

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ESCATOLOGIA 8
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MÓDULO

Com base em I Coríntios 3.14-15, é possível identificar seis tipos de


materiais que Paulo usa como representatividade da qualidade das obras
que serão reveladas no Tribunal de Cristo, sendo eles: i) ouro; ii) prata; iii)
pedras preciosas; iv) madeira; v) feno; vi) palha.

Quanto ao que será a recompensa que os crentes receberão, não se pode


afirmar, todavia, em vários relatos bíblicos o termo grego usado para se
referir a isso é “stephanos” que traduzido significa “coroa” trazendo a
ideia de uma coroação a um vencedor. E, nesse sentido, a Bíblia fala de
pelo menos cinco qualidades de coroas, a ideia nestes textos, é de uma
coroa de vencedor: i) coroa Incorruptível (I Co 9.25-27); ii) coroa da Justiça
(II Tm 4.7-8); iii) coroa da vida (Tg 1.12; Ap 2.10); iv) coroa da glória (II Tm
4.8; I Pe 5.4); v) coroa de alegria (Fl 4.1; I Ts 2.19-20).

4.5.2. AS BODAS DO CORDEIRO

O entendimento das Bodas do Cordeiro passa pela compreensão de que


este acontecimento previsto nas Escrituras possui a natureza de um
casamento. Além disso, é preciso considerar que isso se dará logo após o
julgamento da Igreja (Ap 19.7) que estará em seu último e definitivo
estágio de santidade (Ef. 5.27), vestida de pureza e justiça (Ap 19.8), vindo
a ser apresentada a Cristo (II Co 11.2). O lugar onde se dará este evento
está preparado desde a fundação do mundo (Mt 25.34), afinal de contas,
Jesus informou que tudo já está pronto (Jo 14.1-2), ou seja, a casa do Pai é
o lugar deste encontro (Jo 14.3). Esse acontecimento será tão marcante
que Jesus desejou este momento (Mt 26.29), o Espírito e a Igreja almejam
por este dia (Ap 22.17,20).

5. A SEPTUAGÉSIMA SEMANA DE DANIEL – A GRANDE TRIBULAÇÃO

A Igreja de Cristo está vivendo a dispensação da graça, isto é, trata-se do


período da Igreja que pode ser compreendido como o interlúdio entre o
final da sexagésima e o início da septuagésima semana de Daniel, que
começa no derramamento do Espírito Santo no Pentecostes até o
arrebatamento da Igreja quando começará a se cumprir o sermão profético
do nosso Mestre (Mc 13.14-23).

A septuagésima semana de Daniel também recebe o nome de Grande


Tribulação, expressão oriunda do grego Thlipsis megále, aplicado aos
textos de Mateus 24.21 e de Apocalipse 7.14 ( cf. Mc 13.14-24; Lc 21.24,36;
I Ts 1.10; 5.9-11; II Pd 2.9). Há outras terminologias, tais como: i) Dia do
Senhor (Jl 3.14); ii) Dia da Ira (Sf 2.3); iii) Dia de trevas (Jl 2.2; Am 5.18,20);
iv) Dia da vingança (Is 34.8); v) O Grande dia (Jr 30.7); vi) Tempo de
angústia de Jacó; vii) Ira vindoura (Lc 3.7); viii) Ira futura (I Ts 1.10); ix)
Tempo de eclipse (Is 24.20-23; Am 5.18); x) Tempo de castigo (Ez 20.37-38);
xi) Tempo de aflição (Mt 24.21). Neste tempo, a Igreja não estará na terra,
mas estará com o Senhor.

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OITAVO
ESCATOLOGIA

MÓDULO

5.1. O PODER DE SATANÁS: O DRAGÃO DO APOCALIPSE

A partir de uma leitura do texto de Apocalipse 12.3 se percebe o caminho


percorrido por Satanás desde que se rebelou contra o Senhor (Is 14.14),
podendo definir a sua trajetória da seguinte forma: “Do céu para a terra,
da terra para o abismo, e do abismo para o lago de fogo e enxofre.”

Na Grande Tribulação, o poder do Anticristo tem a sua origem em Satanás,


conforme a explicação de David Jeremiah:

A atividade de Satanás corresponde à sua natureza: ele


engana as pessoas por meio da ocultação da natureza
hedionda do pecado por trás de uma bela fachada. Ele é
malévolo, vil e feroz. A sua cor é vermelha, pois o seu
caminho sempre foi manchado pelo sangue e pela
morte. Ao chamar Satanás de serpente, esta passagem
faz com que nos lembremos de sua astúcia e do seu
engano no Jardim do Éden. Desde o princípio, Satanás
tem se oposto a Deus e tem planejado a morte para a
humanidade. Nosso Senhor disse: 'ele foi homicida desde
o princípio' (Jo 8.44).⁷
A palavra anticristo vem do grego antichristos, que no conceito do apóstolo
João é de alguém que virá para imitar a Cristo, se opor a Ele e tentar
usurpar o Seu lugar (Dn 8.23-25; 9.26,27; 12.8I Jo 2.18,22; 4.3; II Jo 7). Já o
apóstolo Paulo o classifica como “o homem do pecado, o filho da perdição e
o iníquo (II Ts 2.3,8). Por certo ele será um importante líder político com
capacidades elevadíssimas (Dn 8.25; 9.27; II Ts 2.9; Ap 13.4,5).

5.2. O FALSO PROFETA: A BESTA QUE SOBE DA TERRA

Enquanto a primeira besta sobe do mar, que tipifica as nações (Lc 21.25), a
outra besta vista por João sobe da terra, que por sua vez tipifica os reinos
da terra (Lc 4.6; Ap 13.11). Enquanto a primeira besta será um grande líder
mundial e atuará na política chefiando os poderes globais, a segunda
atuará na esfera religiosa, vindo a ser um grande articulista, promovendo o
ecumenismo, visando estabelecer uma religião padrão, trata-se do “Falso
profeta” (Ap 16.13; 19.20; 20.10).

7. JEREMIAH, David. Agentes 5.3. A MARCA DA BESTA


do Apocalipse. Rio de
Janeiro: CPAD, 2016, p. 125 Como parte de projeto de controle mundial, a besta exigirá que toda a
população seja devidamente identificada com a sua marca (Ap 13.16,17),
com vistas a classificar aqueles que a receberem como propriedades do

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ESCATOLOGIA 8
OITAVO
MÓDULO

Anticristo, além de controlar o sistema de negócios em todo o mundo.


João, o apóstolo, deixa claro que se trata de um código e para decifrá-lo
será necessário entendimento e cálculo (Ap 13.18). O número 666 é
representativo, pois o homem foi criado no sexto dia (Gn 1.27,31), por esta
causa esta marca representa o ser humano, e a sua repetição indica a força
dessa operação e aponta para a trindade satânica.

Nota-se que há um sincronismo entre as ações econômicas (globalização) e


religiosas (ecumenismo) cerceando todo e qualquer direito de ir e vir ou
até mesmo de se alimentar, já que a união entre o estado e a religião não
deixará brecha para que haja subterfúgios, qualquer um que não aceitar ou
buscar se rebelar, cairá nas mãos do Anticristo. Evidentemente que muitos
não se submeterão a este sistema como resultado do conhecimento já
adquirido da palavra de Deus, aceitando a morte, vindo a ser os mártires da
Grande Tribulação; além destes, haverá também o seleto grupo de 144.000
que serão assinalados por Deus e que serão poupados neste período,
composto de 12.000 judeus de cada uma das tribos de Israel. Conclui-se
que: i) para Israel haverá escape, enquanto que para os demais restará
apenas o martírio (Ap 7.4,9); ii) os que receberem a marca da besta cairão
nas mãos de Deus e sofrerão os frutos de sua ira e não terão descanso nem
de dia e nem de noite (Ap 14.9-11).

5.4. JUIZOS NA GRANDE TRIBULAÇÃO

Dentro de uma perspectiva exposta em Apocalipse é possível identificar


uma série de eventos que ocorrerão em 7 anos (Ap 6-19). Enquanto o
capítulo 5 de Apocalipse mostra o ambiente celestial (5.12-14), o capítulo
6 abre uma sequência de previsões acerca do juízo divino que está por vir
sobre a terra, dividido em três partes de sete: i) sete selos (Ap 6.1 – 8.5); ii)
sete trombetas (Ap 8.6 – 11.15); iii) sete taças (Ap 16.1-21).

5.4.1. OS SETE SELOS (Ap 6.1 – 8.5)

Os primeiros quatro selos abertos informam sobre a chegada dos quatro


cavaleiros que abre a série de julgamentos, que de acordo com Stanley
Horton:

Alguns acreditam que, com o quebrar de cada um destes


selos, o Cordeiro libera um tipo do juízo da ira de Deus,
que há de persistir através de todo o período de sete
anos da Grande Tribulação. Outros creem que os sete
selos conduzirão às sete trombetas, e estas aos sete
vasos, ou taças. Ainda há outro grupo que sustenta
serem os selos, as trombetas e as taças acontecimentos

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8
OITAVO
ESCATOLOGIA

MÓDULO

paralelos que se darão neste período. E há os que


colocam todos estes itens nos últimos três anos e meio
da Tribulação, afirmando que a ira e Deus concentrar-se-
á na última metade da septuagésima semana
profetizada por Daniel.⁸
Esta posição se encaixa com a compreensão correta de Daniel 9.27 e a sua
compreensão pode ser ampliada com o ensino de Paulo em 1 Ts 5.3,
conforme representado pelo primeiro cavaleiro branco (Ap 6.1,2). Este
cavaleiro é o Anticristo, “o príncipe que virá” (Dn 9.26), cuja cor branca
representa a falsa paz que se instalará na primeira semana da Grande
Tribulação. A expressão “e foi lhe dado” (Ap 9.1,3,5) indica a permissão
para o uso dos poderes malignos até que o verdadeiro cavaleiro branco
apareça com a sua glória e o seu poder (Ap 19.11), quando então Cristo
vencerá a besta e o falso profeta.

A abertura do segundo selo marca o final da primeira metade da Grande


Tribulação, e tem a ver com a profecia de Daniel 9.27, quebrando a aliança
resultando na morte de muitos, pois o cavaleiro vermelho representa as
guerras que caracterizarão este período, junto de suas muitas e terríveis
consequências.

O último cavaleiro desta comitiva é visto assentado sobre um cavalo


amarelo, sendo o único a receber o nome “Morte”, e junto dele vem o
inferno, como clara demonstração de como serão aqueles dias nos quais a
quarta parte da terra será dizimada, pela espada (guerras), pela fome,
pela peste, e pelos animais que consumirão os seres humanos. Percebe-se
que todo este processo representado pelos cavaleiros do Apocalipse
começa brandamente e a sua intensidade aumenta à medida que o tempo
passa, indicando assim a passagem da primeira para a segunda metade da
Grande Tribulação, conforme se lê nas palavras de Horton:

A Bíblia não especifica claramente quando esta


destruição há de acontecer. Entretanto, este é o
último cavaleiro. E a severidade do julgamento
indica que tais acontecimentos dar-se-ão quando
8. HORTON, S.M. Apocalipse o mundo estiver no auge da tribulação. Alguns
(Série Comentário Bíblico).
Rio de Janeiro: CPAD, 2016, colocam estes fatos no início da segunda metade
p. 125
da Grande Tribulação, quando o julgamento tiver
9. Ibid. p. 128 atingido um ponto tão severo que poucas pessoas
hão de lhe sobreviver.⁹

22
ESCATOLOGIA 8
OITAVO
MÓDULO

Com a abertura do quinto selo a visão de João se dirige ao céu, mui


especialmente debaixo do altar onde almas estão clamando, e sobre isso é
preciso considerar: i) estão conscientes, pois reconhecem o Soberano e
buscam por Sua justiça; ii) são os mártires da Grande Tribulação, que foram
mortos por causa da palavra de Deus (Ap 6.3-11). Com base nisso é possível
perceber que a Grande Tribulação ainda está em curso, especificamente no
início da sua segunda metade, em que os novos mártires ainda serão
ceifados até que complete o número dos que permanecerão fiéis.

O penúltimo selo a ser aberto traz o cumprimento de profecias do Antigo


Testamento (Is 34.4; Jl 2.31; Mc 13.24,25), e traz consigo a ira do Cordeiro
representada pelos sinais catastróficos que evidenciarão a realidade do dia
do julgamento (Ap 6.12-17). Todas as esferas serão afetadas, desde os reis
(chefes de estados) até os chefes militares, passando pelos ricos até os
escravos.

Entre o sexto e o sétimo selo ocorre a visão de dois grupos distintos, e nela
também há uma alternância, já que na terra o evangelista vê os 144.000
judeus que serão preservados pelo Cordeiro (Ap 7.1-8), enquanto no céu
ele avista os que foram mortos, sendo uma quantidade mais completa dos
mártires da Grande Tribulação (Ap 7.14).

É então que o sétimo selo é aberto, cuja marca principal é o silêncio no céu
por quase meia hora (Ap 8.1). No primeiro interlúdio visto no parágrafo
anterior, o céu estava em festa, havia música, cânticos e vozes de louvores
e júbilos. Mas, de repente, tudo se cala e a atenção se volta para o trono de
Deus, e sete anjos se apresentam diante do Todo-Poderoso que lhes
entrega sete trombetas (Ap 8.2) que marcam uma nova fase.

5.4.2. AS SETE TROMBETAS (Ap 8.6 – 11.15)

Essa fase é introduzida com o registro das orações dos santos em toda a
história e que foram preservadas por Deus em Seu memorial (Ap 8.3,4; Ml
3.16). Em contrapartida, há o anúncio de que a ira de Deus virá sobre a
terra em resposta às crueldades, às injustiças e a todas as perversidades
humanas. Esses acontecimentos ocorrerão ao toque de cada uma das sete
trombetas.

A Primeira trombeta – Uma tempestade horrenda cairá sobre a terra,


chuva de saraiva (pedrisco, granizo) com fogo misturado com sangue (Ap
8.7).

A menção do sangue tem relação com a profecia de Joel 2.31 utilizada por
Pedro em At 2.19, o resultado deste temporal foi avassalador: i) a terça
parte da terra pegou fogo; ii) a terça parte das árvores foram queimadas;
iii) e toda erva verde se destruiu.

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8 ESCATOLOGIA
OITAVO
MÓDULO

A Sexta trombeta – Os quatro anjos presos junto ao rio Eufrates são soltos
(Ap 9.13,14). Há pelo menos duas interpretações sobre estes quatro anjos
presos junto ao rio Eufrates: i) pode ser tratar de quatro anjos caídos que
chefiarão duzentos milhões ou duas miríades de miríades de demônios; ii) o
rio Eufrates é chamado de o grande rio, e tem mais de 2500 quilômetros de
extensão, e servia de uma barreira natural nos dias do A.T., e fazia
fronteira entre o ocidente e o oriente, inimigos como a Babilônia e Assíria
vinham dalém do Eufrates, isto pode indicar, que os quatros anjos, sejam
quatro potencias mundiais e seus exércitos.

A primeira opção parece se encaixar melhor com o desdobramento dos


acontecimentos, e o resultado da atuação destas frentes destruidoras: i)
estavam montados em cavalos com cabeças de leões, saindo de suas bocas
fogo, fumaça e enxofre; ii) por estas três pragas a terça parte dos homens
foi morta; iii) suas bocas tinham poder assim como suas caldas, pois suas
caudas eram como serpentes que tinham cabeças e com elas causavam o
dano. (Ap 9.19); iv) ainda assim os que sobreviveram, não se arrependeram
de sua rebeldia contra o Senhor Deus (Ap 9.20,21).

Ocorrerá um segundo interlúdio entre a sexta e a sétima trombeta,


incluindo o capítulo 10 e os quinze primeiros versículos do capítulo 11, nos
quais se encontram os sete trovões (Ap 10.3,4), já que os sete selos e as
sete trombetas, assim como as sete taças, envolvem uma sequência de
eventos, razão pela qual se conclui que estes trovões indicam uma nova
série de julgamentos, mas João, ele recebe ordens para não as relatar.

O capítulo 11 apresenta as duas testemunhas que profetizarão por 42


meses, isto é, 1260 dias, ou ainda, 3 anos e meio. Há muita discussão sobre
a quem a Bíblia está se referindo ao falar dessas testemunhas, cuja
representatividade se apresenta na figura de dois ramos de oliveira e dois
castiçais que remetem a Zacarias 4, na ocasião em que Zorobabel, que era
da linhagem de Davi e Josué, o Sumo Sacerdote, que juntos apontam para
dois líderes ungidos para um fim específico. Sendo assim, estes dois judeus
fieis a Deus como os santos profetas do Antigo Testamento, serão eficazes
nas seguintes funções: i) profetizarão (Ap 11.3,4); ii) terão poderes
semelhantes aos de Moisés e Elias (Ap 11.5,6); iii) serão vencidos e mortos
pela besta que subiu do abismo (Ap 11.7,8); iv) seus corpos ficarão por três
dias e meio jazendo na praça da grande cidade e os infiéis jubilarão tal
acontecimento, pois perturbaram os habitantes da terra (Ap 11.9,10); v).
Após os três dias e meio, Deus ressuscitará os seus corpos e ascenderão
diante dos olhos de seus inimigos (Ap 11.11,12); vi) um terremoto faz cair a
décima parte da cidade e mata sete mil homens, deixando todos
atemorizados, resultando em glorificarem ao Deus do céu (Ap 11.13). Em
Apocalipse 11.14 é registrado o segundo “ai”.

A Sétima trombeta – Após esta última trombeta vem as sete taças da ira de
Deus e em seguida o triunfo de Cristo, por meio do qual os reinos do mundo
virão a ser de nosso Senhor (Ap 11.15-17).
24
ESCATOLOGIA 8
OITAVO
MÓDULO

5.4.3. AS SETE TAÇAS (Ap 16.1-21)

Após os julgamentos supracitados ocorrerá o derramar das sete taças da ira


de Deus, cuja descrição deixa claro que a intensidade e a velocidade dos
eventos serão ainda maiores como evidência de que a Grande Tribulação se
findará. Segundo Horton (2016), a sucessão rápida dos eventos indica que o
tempo para arrependimento e salvação já acabou:

Os julgamentos das trombetas foram parciais e


limitados em seus efeitos (Ap 8.7-12). Mas os
julgamentos das taças “são mais severos e globais em
seus efeitos, e sem os limites dos anteriores. Os
“julgamentos das taças” são tão devastadores que não
poupam ninguém, nem mesmo os que se acham
escondidos nas cavernas mais fundas, nem nos vales
mais remotos. Tais pragas mostram que o dia de
salvação já terminou, e a oportunidade para o
arrependimento já é passada. ⁰
Os anjos recebem a ordem para que derramem as taças da ira de Deus sobre
a terra (Ap 16.1).

A Primeira taça – é identificada como a que provoca feridas malignas em


todos os que possuíam o sinal da besta e adoravam a sua imagem (Ap 16.2).
A Segunda taça - este juízo afetará mais uma vez as águas do mar, mas
desta vez em sua totalidade, assim como toda alma vivente (Ap 16.3).

A Terceira taça – como as águas estarão contaminadas, restará apenas o


sangue dos mortos para os seres humanos beberem, como clara punição
por terem derramado o sangue dos santos e dos profetas (Ap 16.4-7).

A Quarta taça – o sol se intensificará e abrasará os seres humanos, e mesmo


assim ainda não haverá arrependimento e nem o reconhecimento do
senhorio de Deus (Ap 16.8,9).

A Quinta taça – a sentença final contra o Anticristo estará próxima, a taça


será derramada sobre a sede do governo mundial que será dominada por
trevas, causando desespero nas pessoas que morderão suas próprias
línguas, que ainda serão afetadas com chagas, mas ainda não se
arrependerão, antes, blasfemarão contra Deus (Ap 16.10,11).

A Sexta taça – este penúltimo juízo preparará a terra para o Armagedom


(Zc 14.2; Ap 16.12-16). 10. Ibid. p 132

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8
OITAVO
ESCATOLOGIA

MÓDULO

A Sétima taça – esta sétima e última taça derramada decretará o final dos
juízos dentro da Grande Tribulação, representado pela expressão “Está
feito!”, concluindo assim a septuagésima semana de Daniel. O juízo que
marca essa fase é representado pela taça que foi derramada no ar e houve
vozes, trovões, relâmpagos e a terra se estremeceu como nunca antes
havia acontecido, toda a topografia da terra foi alterada, e novamente
uma grande chuva de granizo veio sobre os homens, que ainda assim,
persistirão em blasfemar contra Deus (Ap 16.17-21).

5.4.4. A BATALHA DO ARMAGEDOM

Com a proximidade da vinda gloriosa e visível do Senhor, a trindade


satânica reunirá os seus exércitos e os reis da terra para a guerra que é
chamada de Batalha do Armagedom, cujo termo origina-se do hebraico
“har megido” e significa “a colina de Megido”, ou o monte do Megido ou
Esdrelon. Trata-se de uma planície de Israel que fica em Samaria, na
Palestina, também chamada de “vale de decisão” ou “vale de Josafá” (Jl
3.2,14).

A palavra Armagedom aparece na Bíblia apenas uma vez (Ap 16:16),


embora seja possível que Jeremias 46:10 seja uma referência ao local
desta batalha.

Segundo o pastor Severino Pedro:

Geograficamente, o campo de batalha que será ocupado


por Cristo e seus exércitos “naquele grande dia do Deus
Todo-poderoso” terá o “formato de uma cruz”. Ele não
somente se refere à famosa planície de Armagedom,
mas compreenderá toda a parte sul da Terra Santa,
atingindo as antigas fronteiras de Edom e se estendendo
até o monte Siriom no extremo norte.
Esta será a última batalha entre o povo de Deus e as forças do mal, que
também marcará o grande livramento que o Senhor dará a Israel (Jl 3.2,14)
e Jerusalém se tornará um fardo pesado para as nações, que procurarão
destruí-la, porém serão vencidas e despedaçadas (Zc 12.3). Os
acontecimentos no Armagedom podem ser descritos na seguinte ordem: i)
o Anticristo e seus exércitos tomarão a cidade de Jerusalém (Zc 14.2); ii)
haverá muitas mortes (Zc 23.8); iii) as mulheres serão violentadas (Zc
11. PEDRO, Severino.
14.2); iv) a batalha durará somente uma tarde (Zc 14.7); v) os judeus
Armagedom. Rio de Janeiro: pelejarão formidavelmente em Jerusalém (Zc 14.14); vi) Jesus descerá (a
CPAD, 2013, p. 10 parousia) do céu para livrar o seu povo com milhares de seus santos (Jd
14,15; Ap 1.7); vii) os céus se abrirão e o Rei dos reis e Senhor dos senhores
descerá (Ap 19.11-16); viii) a glória será tão imensa que somente com o

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ESCATOLOGIA 8
OITAVO
MÓDULO

sopro da boca de Jesus e a manifestação da sua vinda aniquilará o


Anticristo (II Ts 2.8); ix) o Senhor pisará sobre o Monte das Oliveiras que
fenderá em dois, criando um caminho de escape para o seu povo (Zc 14. 3-
5); x) uma espada aguda sairá de sua boca (Ap 19.15); xi) será uma arma tão
poderosa que estando o exército em pé, seus olhos apodrecerão nas órbitas
e as suas línguas na boca (Zc 14.12); xii) haverá tanto sangue derramado
que subirá até aos freios dos cavalos (Ap 14.20); xiii) o Anticristo e o falso
profeta serão lançados vivos no lago de fogo (Ap 19.20); xiv) as aves do céu
se fartarão da carne dos mortos naquele dia (Ap 19.21); xv) Satanás será
preso e ficará amarrado por mil anos (Ap 20.1-3).

5.4.5. O JULGAMENTO DAS NAÇÕES

Por ocasião da segunda vinda de Jesus (parousia), logo após o Armagedom,


ocorrerá o julgamento das nações (Mt 25.31-46), incluindo Israel (Ez
20.37,38) que será a base desse julgamento (Jl 3.1,2) e haverá a separação
das ovelhas e dos bodes (Mt 25.31,32), assim como a separação do joio e do
trigo (Mt 13.30), dos bons e dos ruins (Mt 13.47-50) e todas as palavras
insolentes proferidas contra Deus serão julgadas (Jd 1.14,15). Quanto ao
resultado, as nações consideradas como ovelhas serão colocadas à direita,
enquanto as consideradas como bodes ficarão à esquerda (Mt 25.33), e
enquanto as primeiras ouvirão o convite real para possuírem o Reino de
Cristo (Mt 25.34), as segundas terão o mesmo destino do diabo e de seus
anjos, o fogo eterno (Mt 25.41).

6. O MILÊNIO DE CRISTO

A palavra milênio não está registrada na Bíblia, há apenas menção desse


período (Ap 20.1-7). O Milênio (latim Millennium, mile e annus) aponta
para um período de mil anos nos quais o mundo terá paz e prosperidade sob
o governo de Cristo que liderará o mundo a partir de Jerusalém. Há
diferentes correntes interpretativas no que se refere ao período milenar
descrito nas Escrituras, tais como: i) amilenista; ii) pós-milenista; iii) pré-
milenista.

Em primeiro lugar, destaca-se a Escola Amilenista, termo que indica para a


negação de que haverá um período literal de mil anos, após a parousia de
Cristo. Os adeptos dessa escola interpretam o texto escatológico
simbolicamente. Para eles, a prisão de Satanás não foi literal, mas ele teve
a sua ação e influência enfraquecidas, e quanto aos que reinam com Cristo
são os mártires e que agora desfrutam da presença do Senhor nos céus.
Entendem que os mil anos não se referem à condição temporal, terrena,
mas sim à questão espiritual, mística, pois Jesus já está reinando com os
seus que, quando morrem passam direto dessa vida para entrar no milênio
de Cristo. Sendo assim, quando Cristo vier a esta terra, os que estiverem
vivos e forem salvos, serão preparados para entrar na eternidade com
Deus, ao passo que os ímpios serão transformados para estarem

27
8 ESCATOLOGIA
OITAVO
MÓDULO

eternamente distantes de Deus e sofrendo no Inferno. Nesse momento se


dará o Juízo Final que se destinará aos ímpios que serão condenados
eternamente.

Em segundo lugar, ressalta-se a Escola Pós-Milenista, cujo nome indica que


Cristo voltará a essa terra depois do período milenar. Os defensores desta
linha interpretativa enfatizam que não haverá uma vinda invisível de Cristo
nos ares para arrebatar a Igreja. Afirmam também que o Milênio é
simbólico e que a responsável pela paz e justiça nesta terra é a Igreja, que
já está reinando há mais de dois mil anos e que com a pregação do
Evangelho o mundo terá mais paz, justiça, amor, bondade e conhecimento
de Deus, atingindo assim um estado majestoso. Eles defendem ainda que,
depois desse período, Cristo virá e iniciará o julgamento final, no qual
crentes e incrédulos ressuscitarão para entrarem num estado eterno, isto
é, uns para a vida e outros para a morte.

De acordo com esta escola, a Igreja - pelo seu trabalho missionário -


implantará um novo Éden no planeta, e por causa da prosperidade que
caracterizará este tempo os crentes terão a fé enfraquecida e Satanás
enganará novamente a humanidade e Jesus virá para dar fim a isso.

Finalmente, a Escola Pré-Milenista ensina que Jesus virá outra vez a esta
terra de maneira visível, antes da implantação do Milênio. Enquanto o
Amilenismo e o Pós-Milenismo interpretam os acontecimentos
apocalípticos de forma simbólica e espiritualmente, o Pré-Milenismo opta
por fazê-lo de forma literal, admitindo que, embora haja figuras e
simbologias a maior parte é realidade concreta. Ressalta-se que existe o
Pré-Milenismo Histórico e o Dispensacionalista. Quanto à diferença entre
essas duas correntes, destaca-se que, enquanto o histórico não vê
distinção entre a Igreja e Israel, o dispensacionalista estabelece uma linha
que separa Israel e a Igreja como que cada um tendo um papel dentro do
plano divino.

Quanto às características do Reino Milenar, seguem algumas informações:


i) será estabelecido literalmente na terra (Sl 2.8,9; Is 65.21; Jl 3.17-20; Ap
5.10; 11.15); ii) será o cumprimento de parte da visão que Daniel teve (Dn
2.35,44,45); iii) a terra será restaurada e o reino implantado (Is 11.6-9;
30.23-26; Jl 3.18); iv) Cristo reinará a partir de Jerusalém (Is 2.1-5; 33.20;
Sl 72); v) o mundo desfrutará de paz (ICo 15.24-28, Ap 20.1-3); vi) será a
última e definitiva dispensação (Ef 1.10); vii) será o cumprimento de todas
as profecias acerca da restauração de todas as coisas (At 3.20,21; Is 12.1-
6); viii) a alegria será uma das principais marcas deste reino (Is 25.8,9;
52.9; 60.15; 61.7; Zc 8.19); xix) a longevidade e a saúde plena serão
marcas distintivas desse reino (Is 33.24; 65.20); x) o templo de Jerusalém
será restaurado e a terra se encherá do conhecimento do Senhor (Ez 49.8-
12; Is 11.9); xi) será um tempo de salvação (Is 33.6; Zc 8.6-13).

28
ESCATOLOGIA 8
OITAVO
MÓDULO

Conforme já visto, o texto bíblico informa que Satanás será preso por mil
anos (Ap 20.1-3), mas quando o período milenar estiver se findando, ele
será solto de sua prisão (Ap 20.7) e enganará a muitos, induzindo-os a uma
nova – e a última – rebelião. Note que mesmo depois de as nações da terra
provarem de um reino de paz, justiça e prosperidade, muitos ainda serão
enganados (Ap 20.8).

A cidade de Jerusalém novamente será cercada por inimigos, e então


ocorrerá a batalha de Gogue e Magogue, termos que compõem as profecias
sobre o final dos tempos (Ez 38 e Ap 20.8). Essa guerra se dará contra o povo
escolhido, e quanto à localização de Gogue e Magogue, muito se tem dito,
sendo preferível não entrar em detalhes com vistas a não incorrer na
escatologia especulativa. O que se pode afirmar – com base bíblica – é que
esta batalha envolverá muitas nações e será liderada diretamente por
Satanás e contra-atacado pelo próprio Senhor (Ap 20.10,11).

7. O JUÍZO FINAL E O ESTADO ETERNO

Este acontecimento previsto nas Escrituras aponta para o grande tribunal


final, cujas profecias bíblicas indicam que nele Deus julgará todos os seres
viventes desde a sua criação até o final (Dn 7.9,10). A compreensão deste
importante momento da história da humanidade prevista nas profecias
bíblicas, passa pela identificação e entendimento de alguns elementos e
partes que o compõem, como o Trono Branco, os Mortos, a Abertura dos
Livros, a Segunda Morte, o Julgamento Final, a Eternidade e a Nova
Jerusalém.

7.1. O TRONO BRANCO (Ap 20.11)

Em Apocalipse 20.11 há referência sobre um Grande Trono, cuja natureza


pode ser identificada pela justiça, pela paz, pela majestade e pela glória
de Deus. Portanto, esse julgamento será justo, no qual todos receberão o
que efetivamente merecem. Neste dia de Juízo, os mortos sem Cristo
estarão ali para serem julgados por aquele que vive e reina par a todo o
sempre.

7.2. OS MORTOS

Em Apocalipse 20.12 e 13 é dito sobre quem há de comparecer diante deste


Grande Trono, que são identificados como “os mortos, grandes ou
pequenos”, dos que morreram sem Jesus, e assim receberão a merecida
condenação.

7.3. ABERTURA DOS LIVROS (Ap 20.12)

O texto de Apocalipse 20.12 informa sobre a existência de livros nos quais

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8 ESCATOLOGIA
OITAVO
MÓDULO

constam as obras de cada um, meio pelo qual as pessoas serão julgadas, o
que aponta para o aspecto de revelação que marcará este acontecimento.
Ninguém conseguirá se justificar, pelo contrário, todos ouvirão do justo
juiz a sua condenação e a voz que dará ordem para que seja executada a
sentença.

Outro livro existente e identificado no texto em questão é o que recebe o


nome de “O Livro da Vida” no qual constam os nomes de todos os salvos em
Cristo, e que também será aberto. Há outros textos bíblicos que confirmam
a existência deste Livro da Vida (Ex 32.32-33; Ap 3.5; 21.27).

O texto sagrado fala de livros e não de livro, o que sugere que haverá mais
de uma prova servindo para o julgamento, Almeida, (2018, p.222-223)
menciona sete livros como possíveis de serem utilizados, sendo: i) o livro
da consciência (Rm 9.1); ii) o livro da natureza (Jó 12.7-9; Sl 19.1-5); iii) o
livro da lei (Rm 2.12; 3.20); iv) o livro do evangelho (Jo 12.48); v) o livro da
memória (Lc 16.25 “lembra-te”); vi) o livro dos atos humanos (Ap 20.12);
vii) o livro da vida (Sl 69.28).

7. 4. SEGUNDA MORTE (Ap 2.11, 20.6,14)

A primeira morte tem relação com a separação entre corpo e alma,


enquanto a segunda morte se refere à separação entre o ser humano e
Deus. Evidentemente que é impossível mensurar no que consiste de fato
essa ruptura eterna entre o homem e Deus. No entanto, com base na Bíblia
é possível notar que ela será a perdição dos homens ímpios (II Pe 3.7) e
serão lançados no Lago de Fogo, onde estarão o Anticristo, o Falso Profeta e
Satanás, de onde jamais sairão (Ap 19.20; 20.1014,15; 21.8).

7. 5. JULGAMENTO FINAL

Há três grandes julgamentos previstos na Bíblia, sendo eles: i) dos crentes


(Tribunal de Cristo); ii) das Nações (Armagedon); iii) dos ímpios (Trono
Branco). Especificamente, o julgamento final se dará depois do Milênio, no
exato momento em que os exércitos inimigos serão derrotados e Satanás
lançado no Lago de Fogo. Cumprida essa etapa na história humana, dar-se-
á início a um momento sem igual.

Ao final desse julgamento individual, Deus ordenará que a própria morte e


o inferno sejam lançados lá no lago de fogo, quando então se cumprirá o
que está prometido e previsto nas Escrituras (ICo 15.26; Ap 20.11-15).

7. 6. A ETERNIDADE

Com os inimigos aniquilados, o plano eterno de Deus se cumprirá


cabalmente através de Cristo (I Co 15.24), e um novo tempo será
inaugurado, promovendo a paz e a harmonia entre Deus e os homens. Tudo

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ESCATOLOGIA 8
OITAVO
MÓDULO

se fará novo, não haverá mais conflitos, nem tribulação, nem tentação e
nem pecado. Sendo assim, haverá uma era doce e de eterna paz.

A informação bíblica de que “céus e terra passarão” não quer dizer o fim da


existência, já que o termo “passarão” no grego é “parerchomai”, o mesmo
que “passagem de um estado para o outro, ou ainda, transformação”, e
não aniquilação. Diante disso, se crê que o Criador renovará toda a Criação
que atualmente anseia pela “manifestação dos filhos de Deus” (Rm 8.19).
Acerca disso, o apóstolo Pedro prevê essa restauração, e ao tratar a este
respeito, ele utiliza termos como “se desfarão” e “se fundirão”, o que se
subentende que haverá tanto uma desestruturação como uma fusão, e
finalmente uma reestruturação (II Pe 3.10-13), vindo a se cumprir
cabalmente o texto no qual se afirma de que o Senhor fará “novas todas as
coisas” (Ap 21.4,5).

Finalmente, é digno de nota o fato de que essa restauração deixará


algumas coisas para trás, ou seja, coisas que deixarão de existir, tais como:
i) o mar; ii) o sofrimento; iii) o pecado.

7.7. A NOVA JERUSALÉM

A visão final do apóstolo é maravilhosa e gloriosa, pois ele vê a cidade


santa, o lar dos remidos, a Jerusalém celestial que, de acordo com o seu
testemunho, desceu do céu. João descreve essa cidade nos seguintes
termos:

7.7.1. Natureza

O texto retrata uma cidade literal e não simbólica, pois ela tem
fundamentos, portas, muralhas e ruas. Seria aqui uma clara indicação de
que Deus estaria no meio dela, habitando com os seus (Ap 21.3).

7.7.2. Estrutura

Ela é cercada por um muro grande e alto, adornada com pedras preciosas e
irradia a glória do Senhor. O anjo mediu a cidade, cuja largura e altura
eram de 12.000 estádios, ou seja, 2.414 quilômetros; ela possui 12 portas
com o nome das tribos de Israel e 12 fundamentos com o nome dos
apóstolos.

7.7.3. Estrutura

Embora se diga que ela é a Noiva do Cordeiro, evidentemente pessoas


moram nela (Ap 21.9,10). Essa cidade não tem necessidade de um templo,
pois o próprio Deus e o Cordeiro constituem o seu templo, o que quer dizer
que o Trino Deus habitará ali.

31
8 ESCATOLOGIA
OITAVO
MÓDULO

7. 5. Bem-aventurança

É dito que as nações andarão à sua luz, e com isso se subentende que a
cidade ficará suspensa sobre a Nova Terra e que os reis da terra trarão para
ela a sua glória e honra como tributo sagrado e louvor. João diz que as
nações estarão debaixo de sua glória e os poderosos virão até ela prestar
homenagens a Deus (Ap 21.24-26). Nela não haverá e nem entrará
impureza alguma, pois os que assim procediam foram banidos para fora da
presença do Senhor (Ap 21.3).

Findam-se as visões de João, nada mais é dito ou visto. O que virá depois
disso, só o Senhor Deus sabe, mas os crentes devem estar seguros de que
estarão por toda a eternidade cumprindo a vontade do Senhor e
aprendendo na sua presença.

Assim como João encerrou os seus escritos, assim também este livro se
conclui com a expressão: “Ora, vem, Senhor Jesus”!

32
ESCATOLOGIA 8
OITAVO
MÓDULO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SILVA, Esequias Soares. Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de


Janeiro: CPAD, 2017

PENTECOST, J. Dwight. Manual de Escatologia. São Paulo: Editora Vida,


2006

PEARLMAN, Mayer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. São Paulo: Editora


Vida, 1970

BERKHOF, L. Teologia Sistemática. São Paulo: Luz para o Caminho


Publicações, 2007

ALMEIDA, Abraão de. Manual da profecia Bíblica. Rio de Janeiro: Editora


CPAD, 2018

JEREMIAH, David. Agentes do Apocalipse. Rio de Janeiro: CPAD, 2016

HORTON, S.M. Apocalipse (Série Comentário Bíblico). Rio de Janeiro: CPAD,


2016

PEDRO, Severino. Armagedom. Rio de Janeiro: CPAD, 2013

WALVOORD,

33
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