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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS HUMANAS E SoCIAIS

DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA

Disciplina: Teoria Antropológica II – 2020/01

Prof. Sérgio Ivan Gil Braga

Trabalho Parcial Individual

Questões:

1. Qual é o entendimento de Émile Durkheim sobre “Representações Sociais”, considerando os


textos Representações individuais e representações coletivas (1970) e As formas
elementares de vida religiosa (1989)?
2. Com base nos textos Ensaio sobre a dádiva (1974), Uma categoria do espírito humano - a
noção de pessoa, a noção de eu (1974) e As técnicas corporais (1974), qual é o entendimento
de Marcel Mauss sobre “dádiva”, “pessoa” e “técnica corporal”?
3. De acordo com o texto Mentalidade Primitiva ([1922] 2008) de Lucien Levy-Bruhl e a
apresentação de Márcio Goldman sobre o autor, o que se pode entender por “mentalidade
primitiva”?

Atividade Assíncrona - Leitura e interpretação de textos para elaboração de trabalho


individual escrito (de três a cinco laudas), a ser entregue até o dia 27 de maio de 2021, com
base em autores das unidades do conteúdo programático trabalhados até o autor Lucién
Levy-Bruhl.

***
Qual é o entendimento de Émile Durkheim sobre “Representações Sociais”,
considerando os textos Representações individuais e representações coletivas
(1970) e As formas elementares de vida religiosa (1989)?

Para Durkheim, tanto a vida coletiva, quanto a vida mental dos indivíduos, são
feitas de representações (p. 16, 18XX). Representações essas que podem ser
individuais ou coletivas, sendo as coletivas a sintetização do que os homens pensam
de si mesmo e da realidade em seu entorno. Oliveira (XXX) aponta que elas, em
termos teóricos, mantêm semelhanças com o conceito de fato social, apresentado
em outras obras do autor.
Durkheim foi um sociólogo preocupado com a vida coletiva a partir dos
indivíduos, com os fatos sociais e a coercitividade dos mesmos. Portanto, a religião
foi um tema trabalho em várias de suas obras. Em As Formas Elementares da Vida
Religiosa Durkheim aponta a religião como uma forma de representação coletiva,
utilizando o termo representações religiosas. Neste livro, conforme aponta o título, o
autor busca o elemento primordial do fenômeno religioso e para isso recorre ao que
chama de sociedades mais simples, onde consequentemente encontraria
representações religiosas mais simples.
Criticava o animismo e o totemismo, este último chamado de “ilusão” pelo seu
sobrinho e antropólogo Marcel Mauss. Sendo assim, a religião em Durkheim é um
fenômeno constituído com base em crenças e ritos, que seriam modos de ação e
regras, a religião como um elemento coercitivo da sociedade. Na verdade, o primeiro
elemento coercitivo de ordem social. Ademais, afirma que a religião não precisa
necessariamente uma divindade sobrenatural, usando de exemplo o budismo.
Também afirma que não há vida religiosa sem igreja
p. 106 Rachel Weiss
4. Com base nos textos Ensaio sobre a dádiva (1974), Uma categoria do espírito
humano - a noção de pessoa, a noção de eu (1974) e As técnicas corporais
(1974), qual é o entendimento de Marcel Mauss sobre “dádiva”, “pessoa” e
“técnica corporal”?

Dádiva:

Sistemas de prestações gratuitos. Não retribuir a dádiva pode acarretar na perda de


mana. Sempre deve-se dar mais do que recebeu. Os toanga e todas as
propriedades rigorosamente pessoais possuem hau, ou seja, poder espiritual. As
relações desses contratos e trocas entre homens, e desses contratos e trocas entre
homens e deuses, esclarecem um aspecto da teoria do sacrifício,

As coisas vendidas ainda tem uma alma. Muito da “nossa” sociedade ainda
permanece nesse local moral de troca e dádiva onde obrigação e liberdade se
misturam. Dar é manifestar superioridade

Sistemas de prestações totais

Ex: kula de Malinowski

Pessoa: Uma categoria do espírito humano. O autor trabalha a noção de pessoa e


de eu. Buscar mostrar as diferentes formas que esse conceito assume nas
sociedades humanas com base em suas representações sociais. História social das
categorias do espírito humano.

Primeiro, a noção de personagem no lugar de pessoa. O indivíduo era peça de um


corpo social, no caso, os clãs. Os termos de parentesco eram mais indicativos de
posição do que conexão sanguínea como bem visto nos imperadores e senadores
romanos. A perpetuidade das coisas e das almas só é garantida pela perpetuidade
dos nomes dos indivíduos (p. 396). Noção de personagem, no caso, de papel
cumprido do indivíduo.

Depois, a noção de persona latina (romana a partir da máscara) e como essa foi
adotada pelas sociedades ocidentais. Não é uma palavra necessariamente latina,
mas os romanos a utilizaram no primeiro sentido que viria a ser o “nosso”. A noção
de persona está um passo antes do eu. Índia: ahamkara (fabricação do eu). Na
China a individualidade de uma pessoa estava em seu nome (ming), que seria um
coletivo, vindo de antepassados.

A pessoa como fato moral: Persona ainda com sentido de imagem sobreposta que
também significa personalidade humana ou divina. A noção de pessoa ainda não
tinha base metafísica, que surgiria com o cristianismo, e assim a pessoa cristã, uma
pessoa moral que seria uma substância una, racional, indivisível e individual

A pessoa como ser psicológico: movimentos sectários que prezavam pela liberdade
individual e o direito de comunicar-se diretamente com Deus.

A categoria do eu se formou para nós e entre nós (p. 417)

Técnica corporal: Maneira como os homens de sociedade a sociedade utilizam e se


servem do seu corpo. Ex: diferentes técnicas de nado e marcha. Hábitos que variam
conforme as sociedades e se fazem a partir do ato imitador. Ato técnico, ato físico e
ato mágico-religioso (tríplice ponto de vista). O corpo como primeiro e mais natural
instrumento do homem (p. 428)

Enumeração de diferentes técnicas

Uma das razões pelas quais essas séries podem ser montadas mais facilmente no
indivíduo é que elas são montadas pela autoridade social e para ela (p. 441) posso
citar Luis XIV sla e as técnicas de parto.

5. De acordo com o texto Mentalidade Primitiva ([1922] 2008) de Lucien Levy-


Bruhl e a apresentação de Márcio Goldman sobre o autor, o que se pode
entender por “mentalidade primitiva”?

Preocupado em entender as representações coletivas da mentalidade primitiva. Se


diferencia dos evolucionistas mas utiliza do mesmo vocabulário por estar no mesmo
contexto. Dinâmica colonial -> sociedade ocidental questionando seus pressupostos.
Percebe que nas diferentes sociedades o pensamento muda. A antropologia está
preocupada em entender as diferenças entre pensamento cientifico (ocidental) e
místico
Não pode-se analisar a mentalidade primitiva a partir das nossas formas lógicas e
conceituais. Na mentalidade primitiva não existe separação entre sujeito de um lado
e objeto do outro. Existe uma essência unica, uma força vital mística que habita
todos os seres (mana, um conceito polinésio) - borra a fronteira entre mundos que
na concepção ocidental são apartadas por ex. entre humanos e animais.

Na mentalidade primitiva não existe espaço para acidente. Sociedades pré lógicas
(participação) e lógicas (causal)

O filósofo francês Lucien Lévy-Bruhl (1857-1939) lança no ano XXXX a sua


obra Mentalidade Primitiva na qual se dispõe a buscar quais representações
coletivas fundamentam essa mentalidade. Apesar de não ser antropólogo, utiliza
muito do vocabulário antropológico dominante da época, que partia de correntes
evolucionistas. Para o autor, haveria diferentes tipos de mentalidade nas diferentes
sociedades. As sociedades ditas primitivas operariam através de uma mentalidade
pré-lógica, que por sua vez seria mística em contraponto às mentalidades lógicas
das sociedades ocidentais e “evoluídas”. Para a mentalidade primitiva, não existe
acidentes.

Introdução: A mentalidade primitiva não evita operações lógicas. A mente


humana tem capacidade de aprender tudo, porém os povos primitivos operam a
partir de objetos e contextos diferentes. Os primeiros ocidentais a terem contatos
com determinados povos constataram neles uma tremenda aversão por aquilo que
se chama de raciocínio lógico e operações discursivas de pensamento

Cap 1: A mentalidade primitiva atribui tudo o que acontece à potências místicas e


ocultas. Não existem acidentes. Séries de relatos sobre infortúnios da vida cotidiana
que eram atribuídos à feitiçaria. Muitos relatos com jacarés

Basta para o primitivo que ele sinta a participação como real, sem que se questione
se isso é possível (p. 34). Esta participação é uma das bases operantes da
mentalidade primitiva (rever vídeo)
Conclusão: Barreira da língua, as línguas primitivas são complexas em gramática e
vocabulários e apenas traduzi-las não lhes faz justiça. O autor fez análise a partir de
documentos etnográficos.

Marcio Goldman: Antropólogo brasileiro, estudioso das religiões afro-brasileiras.


Para ele, a Antropologia não faz justiça à LÉvy-Bruhl, sendo ele um intelectual
comumente esquecido nas academias.

“Lévy-Bruhl parece assim ter refeito por conta própria toda uma trajetória típica do
saber ocidental. Tudo indica que seu intelectualismo sofreu um considerável abalo
ao confrontar-se com o mundo primitivo, abalo do qual ele seguramente jamais se
recuperou por inteiro” (p. 11 ou 12)

Fala-se sobre uma crise na antropologia, pelo desaparecimento das sociedades


primitivas intocadas, uma crise em relação ao objeto. Isto porque o antropólogo
sempre se coloca na posição de outro. Estudos antropológicos mais focados na
sociedade ou grupo que os estudiosos estão inseridos.

Goldman propõe um mergulho crítico no contexto em qual o autor estava inserido


antes de descartá-lo. Lembrando que Levy-bruhl era antes de tudo filósofo, e não
antropólogo e etnógrafo

"Não se trata de opor boas e más correntes de pensamento, bons e maus autores:
trata-se de determinar, no campo antropológico, linhas de força que coexistem mais
ou menos despercebidamente em qualquer antropologia" (p. 20)

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