UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – CAMPUS DE PINHEIRO
Discente: Rickarth Barbosa Coelho
Docente: Maria José Lobato Texto trabalhado: O lugar da afetividade e do desejo na relação ensinar-aprender – Sandra Francesca Conte de Almeida
RESUMO
O ato de ensinar é geralmente definido como transmitir conhecimento. Essa transmissão
ocorre com a presença de um professor, responsável por ensinar a um aluno. O conhecimento, por sua vez, é o resultado da história e da cultura, considerando seus aspectos materiais e simbólicos. Pode ser entendido como a organização operacional de um código, ou seja, as regras que possibilitam a atribuição de significado. Dessa forma, o conhecimento não pode ser transmitido de uma única vez e sua transmissão não ocorre no vazio, ou seja, sem a presença do outro. Não há autoaprendizagem, pois as estruturas mentais não agem no vazio. Mesmo nos casos de autodidatismo, em que o aprendiz se torna seu próprio mestre, há um processo de identificação com outro indivíduo, que se torna um modelo contínuo para trocas cognitivas e ao qual o sujeito se refere para legitimar as aprendizagens adquiridas dessa maneira. O conhecimento, portanto, engloba os diversos conteúdos concretos que são transmitidos na relação de ensino-aprendizagem. Nessa relação, o aprendiz, utilizando suas estruturas cognitivas e suas emoções e desejos, assimila o conteúdo ensinado, transformando-o e sendo capaz de reproduzi-lo como um conhecimento elaborado. Conhecimento é o conhecimento do outro, porque o outro o possui, mas também porque é necessário conhecer o outro, ou seja, colocá-lo no lugar do professor e conhecê-lo como tal. Não aprendemos de qualquer pessoa, aprendemos daquele em quem confiamos e a quem concedemos o direito de ensinar. A aprendizagem, dessa forma, é um processo de transmissão de conhecimento, onde existem dois polos entre os quais ocorre a transferência do saber. Um dos polos é formado pelo detentor do conhecimento, ou seja, o outro que possui o conhecimento, e o segundo polo é representado pelo sujeito que aprende, que se torna sujeito justamente por causa da transmissão, ou seja, pela sua submissão a uma cultura. Outro aspecto importante na relação ensinar-aprender é a dimensão afetiva. Em Freud, o conceito de afeto está relacionado ao de pulsão. A pulsão é uma construção teórica de Freud que se situa entre o mental e o somático, representando os estímulos que surgem no organismo e alcançam a mente, como uma demanda para que a mente atue de acordo com a ligação com o corpo. A partir dessa definição da pulsão, entendemos que ela representa o corpo no psiquismo e só se faz presente neste último por meio dos seus representantes psíquicos. Esses representantes são as representações ou elementos ideativos e o afeto. Nos escritos metapsicológicos, Freud descreve o afeto como a tradução subjetiva da quantidade de energia pulsional. Ele utiliza o termo "quantum de afeto" para se referir a esse outro elemento do representante psíquico da pulsão e define-o como correspondente à pulsão, na medida em que se manifesta de forma proporcional à sua quantidade em processos que são percebidos como afetos. Para ele, apenas os representantes ideativos da pulsão podem ser reprimidos, enquanto os afetos, como expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional, sofrem outros destinos. A oposição entre consciente e inconsciente na teoria freudiana não se aplica às pulsões. Segundo Freud, uma pulsão nunca pode se tornar objeto da consciência. Não podemos conhecer nada sobre ela se ela não estiver ligada a uma ideia ou não se manifestar como um estado afetivo. Podemos apenas nos referir a um impulso pulsional cuja representação ideativa é inconsciente. É parte da natureza de uma emoção que sejamos conscientes dela, ou seja, que ela seja reconhecida pela consciência. Portanto, a possibilidade do atributo da inconsciência está completamente excluída em relação às emoções, sentimentos e afetos. Trazendo Piaget para a questão, segundo ele, a inteligência e a afetividade estão intrinsecamente ligadas e podem ter dois significados diferentes: a) no primeiro sentido, isso significa que a afetividade afeta as operações da inteligência, estimulando-as ou perturbando-as, acelerando ou atrasando o desenvolvimento intelectual, mas não alterando as estruturas da inteligência em si; b) no segundo sentido, isso significa que a afetividade influencia as estruturas da inteligência, sendo uma fonte de conhecimento e operações cognitivas originais. Piaget (1954) defende a primeira interpretação, afirmando que a afetividade desempenha um papel energético no funcionamento da inteligência, mas não cria nem modifica suas estruturas. Distinção se funções cognitivas e funções afetivas, Piaget afirma que essas funções têm uma natureza diferente, embora sejam indissociáveis na conduta concreta do indivíduo. As funções cognitivas vão desde a percepção e as habilidades sensório motoras até a inteligência abstrata, com as operações formais, enquanto as funções afetivas incluem sentimentos de satisfação-insatisfação, sentimentos estéticos, vontade e interesse. Piaget enfatiza que, embora a afetividade seja essencial para o funcionamento do pensamento, ela não cria novas estruturas cognitivas nem altera as estruturas existentes. A afetividade e a inteligência são indissociáveis na conduta concreta do indivíduo, mas são de naturezas diferentes. Wallon, por outro lado, tem uma perspectiva diferente e acredita que as emoções podem ser uma fonte de progresso no desenvolvimento das crianças, pois são expressões do sujeito que precedem, acompanham e orientam as atividades de relação. Wallon argumenta que as emoções são a base da linguagem e da comunicação da criança com seu ambiente. Ele também acredita que as emoções contribuem para o desenvolvimento intelectual, tornando possível a representação. Para Wallon, as emoções são impregnadas do ambiente afetivo e motor de onde emergem e se desenvolvem para formas de pensamento cada vez mais abstratas. Para ele, a afetividade precede a formação de pensamentos sensório-motores e mentais e todas as formas de pensamento são influenciadas pelas experiências afetivas do sujeito. A afetividade é vista por Wallon como fundamental para a linguagem, a representação e o desenvolvimento do pensamento. Em resumo, tanto para Freud, Piaget quanto Wallon, a afetividade desempenha um papel crucial no desenvolvimento psíquico e intelectual da criança. Embora as perspectivas sejam diferentes, todos concordam que a afetividade está intrinsecamente ligada à inteligência e que ela desempenha um papel fundamental nas relações interpessoais e no processo de aprendizagem. REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Sandra Francesca Conte de. O lugar da afetividade e do desejo na relação
ensinar-aprender. Temas em psicologia, Ribeirão Preto, v.1, n.1, abr.1993
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