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A Criança

Concreta,
Completa e
Contextualizada:
a Psicologia de
Henri Wallon
É considerada complexa. Tomando a dialética
como fundamento epistemológico, Wallon
buscou compreender o desenvolvimento infantil
por meio das relações estabelecidas entre a
criança e seu ambiente, privilegiando a pessoa em
sua totalidade, nas suas expressões singulares e na
relação com os outros.
Não propôs um sistema linear e organizado de
etapas de evolução psíquica, mas desenvolveu sua
teoria buscando compreender os objetivos da
criança e os meios que ela utiliza para realizá-
los, estudando cada uma de suas manifestações
no conjunto de suas possibilidades. Sua teoria
expõe a evolução psíquica passando de um
campo a outro da atividade infantil, em textos
entremeados por termos médicos e
Seu profundo interesse pela educação permitiu-lhe
compreender a Psicologia e a Pedagogia como
ciências complementares, sem que houvesse
superioridade de uma sobre a outra, ou seja, via a
prática educativa como campo para a pesquisa
psicológica e, em paralelo, a investigação
psicológica como base para uma possível
renovação da prática educativa, numa relação de
reciprocidade.
Contemporâneo de Sigmund Freud (1856-1939),
de Jean Piaget (1896-1980) e de Lev Vygotsky
(1896-1934), viveu, como eles, sob a influência
do evolucionismo, embora, para Wallon, a
realidade psicológica tivesse história e
condições materiais de existência, ou seja, o
desenvolvimento infantil inseria-se num
contexto em que as relações interpessoais,
históricas e culturais eram privilegiadas.
Wallon define o ser humano como geneticamente
social:

Jamais pude dissociar o biológico do social, não porque


os creia redutíveis entre si, mas porque, no homem, eles
me parecem tão estreitamente complementares, desde o
nascimento, que a vida psíquica só pode ser encarada
tendo em vista suas relações recíprocas.
Por relações recíprocas entre o desenvolvimento biológico e
o desenvolvimento social pode-se entender que um é
condição do outro, pois, ao nascer, a criança tem
movimentos impulsivos ou reflexos, descargas musculares
provocadas principalmente por sensações internas de
desconforto. Em função da própria inaptidão, a criança passa
por períodos de espera ou de privação e depende de alguém
que satisfaça suas necessidades. Suas reações impulsivas,
orgânicas e desordenadas precisam ser completadas,
compensadas e interpretadas pelo meio envolvente.
A resposta do meio vai favorecer o
estabelecimento de conexões, pela criança, entre
as ações do adulto próximo e as manifestações
impulsivas, e, em pouco tempo, essas associações
fisiológicas transformam-se em manifestações
expressivas, ou seja, vão constituir uma troca
emocional entre criança e adulto próximo.
Diz Wallon que,
“incapaz de efetuar algo por si próprio, ele [o recém-nascido] é
manipulado pelo ‘outro’ e é nos movimentos desse ‘outro’ que
suas primeiras atitudes tomarão forma”.
As atitudes, vinculadas aos estados de desconforto, de
necessidade, imprimem, na relação, aspectos culturais
distintos, configurando a singularidade e a historicidade de
cada criança. Nesse sentido, o adulto é um mediador entre a
criança e ela mesma, entre ela e os elementos do mundo
cultural onde nasceu.
A indiferenciação entre a criança e o meio
envolvente, a comunhão afetiva estabelecida,
constitui uma primeira relação psicológica: a
emoção , revela a originalidade da
contribuição de Wallon aos estudos sobre o
desenvolvimento infantil.
Constituição da Subjetividade
e
Construção do Conhecimento
Ao contrário de Piaget, cuja epistemologia genética é mais
conhecida entre nós, para Wallon o desenvolvimento não
começa cognitivamente: a atividade da criança está
primeiramente voltada para a sensibilidade interna
(visceral e afetiva), que abrange o primeiro ano de vida.
A afetividade, na teoria, vai designar os processos psíquicos
que acompanham as manifestações orgânicas da emoção. A
essa sensibilidade, posteriormente, vai se acrescentar a
sensibilidade externa (elementos do mundo exterior),
caracterizando, então, o aspecto cognitivo do
desenvolvimento.
As condutas cognitivas surgem das afetivas;
estas se subordinarão àquelas, alternando-se
em fases centrípetas, voltadas para si mesmas,
e centrífugas, de interesse pelo mundo
humano ou pelo mundo físico. A elaboração
do subjetivo se faz sobre o objetivo e vice-
versa.
Vale dizer que,
tomando o princípio dialético da teoria, quanto
mais elaborada a emoção, melhor fluirá a
razão. Pode- -se pensar que um “eu” bem
constituído terá mais possibilidades de se colocar
no lugar do “outro”, de maneira a discutir ou
compreender diferentes pontos de vista.
A Consciência de Si: Integração e Conflitos Eu
- Outro
A afetividade, o movimento e a inteligência
constituem campos funcionais entre os quais se
distribui a atividade da criança. Quase que
indiferenciados no princípio do desenvolvimento
vão, aos poucos, diferenciando-se. O mesmo
processo - da indiferenciação para a diferenciação
- acontece na constituição da pessoa.
A origem da evolução psíquica está ligada ao
desenvolvimento dos diferentes sistemas de sensibilidade
interoceptiva (visceral), proprioceptiva (sensações ligadas
ao equilíbrio, às atitudes e aos movimentos) e
exteroceptiva (voltada para as excitações de origem
exterior), que vão se completando ao longo do primeiro ano
de vida e que atuarão conjuntamente (associações
intersensoriais), unificando o campo da percepção, já no
terceiro mês de vida, do mesmo modo que a consciência
corporal, primeira forma do “eu”, é o resultado das
diferenciações e das ligações dessas sensibilidades.
Na perspectiva walloniana, a constituição do “eu” é
ao mesmo tempo a construção do “não eu”, a percepção
do que é próprio e do que é exterior a si mesmo.
Diferentemente de Piaget, que proclama que a criança,
de um “eu” egocêntrico e autocentrado, acaba por
socializar-se, Wallon a concebe como um ser
geneticamente social, que nasce num meio envolvente
do qual depende inteiramente para a satisfação de seus
desconfortos e necessidades alimentares e posturais.
A participação do outro na formação da consciência de si é
consequência da simbiose inicial entre a criança e o meio
envolvente. A confusão entre a criança e o outro, que
interpreta e responde aos seus movimentos impulsivos,
tornará o “eu” e o “não eu” indistinguíveis. Essa comunhão
afetiva torna-se uma consciência orgânica, subjetiva, que,
pela troca afetiva com o outro, c a ele devolvida, ou seja,
subjetividade da consciência transforma-se em sociabilidade
por intermédio da expressão emotiva”. Nesse momento,
sociabilidade significa, enquanto sujeito, dependência do
outro para “ser”.
A construção da pessoa acontece na medida em que a
criança, opondo-se ao outro, distancia-se do meio
onde está envolvida.
A sucessão de elementos de ordem afetiva e cognitiva
se alternam no processo de desenvolvimento,
sublinhando os aspectos subjetivos e objetivos na
construção do “eu” e do mundo. O recorte corporal
permite uma objetivação da imagem e, portanto, a
consciência de um “eu” subjetivo, que o espelho reflete

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