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Afetividade
Dentre as manifestações afetivas, Wallon dará especial destaque à emoção,
cujo enfoque tem uma forte inspiração darwinista (DANTAS, 1992). A emoção
constitui uma conduta com profundas raízes na vida orgânica, especificamente na
função tônica. Para Wallon ela é simultaneamente social e biológica. Sua raiz está na
vida orgânica, mas ela faz uma função social. Quando alguém entra sorrindo e de bom
humor em uma reunião altamente tensa, de duas uma: ou o sorriso destensiona a
reunião, ou a tensão da reunião apaga o sorriso.
Sendo assim, por seu caráter simultaneamente orgânico e social ela é a
conduta que permite ao bebê, em seu primeiro ano de vida estabelecer relações sociais
imprescindíveis para sua sobrevivência. Isso porque uma das características da
emoção é seu caráter epidêmico, contagiosos. É impossível que um adulto não se
deixe afetar pelo choro, gritos ou mesmo risadas de um bebê. Dessa forma, através do
contágio dessa emoção o bebe garante seu cuidado e consequentemente sua
sobrevivência.
Bem depressa, porém, impressõ es sensoriais, resultantes de
circunstâ ncias que acompanham habitualmente a satisfaçã o ou
frustraçã o de necessidades essenciais sentidas pela criança, vã o ligar-
se à s suas manifestaçõ es e vã o constituir uma primeira série de
associaçõ es condicionantes. Destas destacar-se-ã o algumas por causa
de sua frequência e da sua regularidade: as devidas à presença de
pessoas que assistem continuamente a criança, em particular a mãe.
Assim se estabelecerã o entre as duas, segundo as disposiçõ es
recíprocas do momento, toda uma sinalizaçã o expressiva, feita de
mú sica e de atitudes. É apenas dela que a criança pode tirar no início
resultados ú teis, sendo praticamente ineficazes os seus outros gestos.
Na espécie humana sã o, com efeito, as relaçõ es afectivas com o meio
que começam por dominar o comportamento. (WALLON, Henri.
Psicologia e educação da infância: Editorial Estampa, 1975, p. 63)
A inteligência
Na concepção de desenvolvimento da pessoa a inteligência ocupa o lugar de
meio, ou seja, um instrumento colocado à disposição daquela. No começo da vida do
bebê, está latente e indiferenciada da atividade emocional e motora. Quando consegue
uma certa diferenciação aparece como inteligência prática ou das situações. Seria a
inteligência sensório motora que para Wallon começa a partir do primeiro ano de
vida. Ao final do segundo ano encontra-se com a emergência da fala. Essa função,
frágil no começo apoia-se bastante nos gestos, o que Wallon nomeia por projetiva.
Entre pensamento e linguagem existe uma relação de reciprocidade. A
linguagem exprime o pensamento ao mesmo tempo em que o estrutura. Wallon elege
o pensamento verbal como a função privilegiada da inteligência para seu estudo. O
impacto da linguagem sobre o pensamento é imenso. A aquisição da linguagem marca
uma diferenciação muito grande no comportamento da criança. O gesto vai sendo
substituído pela fala e a criança vai deixando de se utilizar de gestos para se
comunicar. Isso não quer dizer que o ato motos não faz parte do pensamento. Apenas
que ee está presente na forma de movimento tônico ou postural.
Em seu estudo, Wallon apoia-se nas manifestações verbais do pensamento.
Para isso solicitava que as crianças falassem sobre coisas presentes em seu cotidiano,
mantendo com elas um diálogo. Esse estudo está descrito em origens do pensamento
da criança de 1989.
A princípio o pensamento da criança é sincrético. Isso significa que ele
apresenta um caráter confuso e global. No sincretismo tudo pode se ligar a tudo. Não
existe contradição, nem oposição. Ë um pensamento que por vezes se aproxima da
lógica da poesia, ao invés da lógica formal. Conversando com um aluno de 5 anos,
escuto com atenção a história que ele me conta:
“Sabe Valéria, eu sei que os dragões matam as sereias dentro do mar.
É mesmo Dimitri? Como?
Com o fogo, eles queimam elas.
Mas o fogo não apaga na água?
Apaga.” E sai correndo para brincar...
“Olha Valéria, a plantinha tem leite! Uai, ela não é bicho... Planta tem leite?
Ao que o coleguinha responde: “lógico que tem né? Senão como ela ia dar de
mamar para a florzinha filhinha dela?”
Ë muito comum na educação infantil, crianças que estranham quando o
coleguinha diz o nome de sua mãe e ele é o mesmo que o da sua. Às vezes as coisas
até esquentam: Eliane é a MINHA mãe!! Como se fosse impossível duas mães terem
o mesmo nome. No pensamento sincrético é como se o colega estivesse dizendo que
era a mesma mãe e não apenas o mesmo nome. É que não acontece a separação entre
os objetos e suas qualidades.
Na verdade, essa forma de conceber o mundo é muito presente na arte. Manoel
de Barros, Picasso...
No pensamento sincrético, os critérios afetivos prevalecem sobre os critérios
lógicos e objetivos. Isso porque a inteligência, já tendo se desvinculado da
motricidade ainda está muito conectada com a afetividade.
O processo de simbolização que se dá via inserção na cultura é fundamental
para o surgimento do pensamento categórico.
Ainda no estágio personalista, a progressiva diferenciação do eu e do não eu
leva a redução do sincretismo no pensamento. A partir dai a criança torna-se capaz de
formar categorias, ou seja de organizar o real em séries, classe, apoiada em um fundo
simbólico estável. A análise categorial separa os objetos de suas qualidades, o que
permite a análise a síntese e a generalização.
A redução do sincretismo e a consolidação da função categorial são processos
em estreita dependência do meio cultural. (GALVÃO, 2010)
Emoção em relação com a motricidade: ou meu coração, não sei porque,
bate feliz quando te vê.
A emoção esculpe o corpo, imprime-lhe forma e consistência. (DANTAS,
1992, p. 89). Entre os sujeitos persiste um diálogo tônico, uma comunicação forte e
primitiva que se faz por meio da atividade tônico-postural.
A emoção é altamente orgânica, altera a respiração e os batimentos cardíacos,
e até o tônus muscular tem momentos de tensão e de distensão que acompanham os
estados emocionais do sujeito. A depressão por exemplo está associada a um estado
hipotônico assim como a ansiedade está associada a uma hipertonicidade. Mesmo no
senso comum costumamos dizer que ficamos sem ar devido a alguma forte emoção,
ou até mesmo que nosso coração dispara quando avistamos o grande amor. Já dizia
Pixinguinha: meu coração, não sei porque, bate feliz, quando te vê. E os meus olhos
ficam sorrindo e pelas ruas vão te seguindo... As emoções provocam alterações na
mímica facial, na postura, na forma como são executados os gestos e até no tom da
voz.
Ao longo do desenvolvimento a afetividade vai adquirindo relativa
independência dos fatores corporais. Quando falamos em afetividade por exemplo, o
conceito afetividade já se constitui em um diferenciador em relação ao conceito de
emoção. A afetividade está em articulação mais com o campo reflexivo, ou seja da
inteligência, do que com o corporal.
Puberdade
A partir dos 11 ou 12 anos
Função principal: definição de novos contornos da personalidade e do
esquema corporal. É preciso reinstalar-se no seu próprio corpo. Abertura de espaços
para novas definições do eu. Dimensões ideológicas, políticas, religiosas. Interesses
dos jovens longe de serem objetivos e racionais são muito mais passionais, pois trata-
se de descobrir quem é ele próprio, de que lado ele está. Objetiva manter um eu
diferenciado e ainda assim integrado. Isso requer toda a extensão da inteligência.
Crise da puberdade. Retorno ao eu corporal e ao eu psíquico (oposição). Dobra
do pensamento sobre si mesmo (preocupações teóricas, dúvida). Tomada de
consciência de si mesmo no tempo (inquietudes metafísicas, orientação de acordo
com eleições e metas definidas).
Orientação: para o interior
BIBLIOGRAFIA
DANTAS, Pedro da Silva. Para conhecer Wallon: uma psicologia dialética. Sào
Paulo: Editora Brasiliense, 1983.