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Eis que Merleau Ponty inicia o capítulo VI da obra já citada (O Corpo como
expressão e a fala) anunciando que para descrever o fenômeno da fala e o ato
de significação devemos ultrapassar definitivamente a dicotomia clássica entre
sujeito e o objeto.
A posse da linguagem ao ser tratada como a existência de Imagens verbais é
uma concepção da linguagem que não comporta o sujeito falante. Tanto no
caso de considerar os traços da linguagem como corporais como no caso de
serem depositadas no psiquismo inconsciente chega-se à inexistência do
sujeito falante. A fala não é uma ação. (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 237)
Ele cita o exemplo da amnésia dos nomes de cores. Os doentes são incapazes
de subsumir os dados sensíveis a uma categoria, o que os guia não é a
participação das amostras a uma ideia, é a experiência da semelhança
imediata. (quando se pede para agrupar determinadas cores fundamentais eles
cometem erros de agrupar diferentes cores mas na tonalidade pálida).
(MERLEAU-PONTY, 1999, p. 238)
Nomear um objeto é afastar-se do que ele tem de individual e único para ver
nele o representante de uma essência ou de uma categoria. Se o doente não
pode nomear não é porque perdeu a imagem verbal. É porque perdeu o poder
de geral de subsumir um dado sensível a uma categoria. (MERLEAU-PONTY,
1999, p. 239-240)
A fala não traduz, naquele que fala, um pensamento já feito, mas o consuma.
(MERLEAU-PONTY, 1999, p. 242)
A palavra é um certo lugar de meu mundo linguístico, ela faz parte do meu
equipamento, só tenho um modo de representa-la para mim, que é pronunciá-
la.
O pensamento não é nada de interior, ele não existe fora do mundo e fora das
palavras.
O sentido dos gestos não é dado, mas compreendido, quer dizer, retomado por
um ato do espectador. . (MERLEAU-PONTY, 1999, p. 250)
É por meu corpo que compreendo o outro, assim como é por meu corpo que
percebo coisas.
O gesto linguístico, como todos os outros, desenha ele mesmo o seu sentido.
A gesticulação verbal visa a uma paisagem mental que em primeiro lugar não
está dada a todos e que ela tem por função justamente comunicar. Mas aqui o
que a natureza não dá a cultura fornece. As significações disponíveis, quer
dizer, os atos de expressão anteriores, estabelecem entre os sujeitos falantes
um mundo comum ao qual a fala atual e nova se refere. (MERLEAU-PONTY,
1999, p. 253)
O signo artificial não se reduz ao signo natural porque não há signo natural no
homem.
Não basta que dois sujeitos conscientes tenham os mesmos órgãos e o mesmo
sistema nervoso para que em ambos as mesmas expressões se representem
pelos mesmos signos.
O que importa é a maneira pela qual eles fazem uso de seu corpo. .
(MERLEAU-PONTY, 1999, p. 256-257)
É nessa atitude que a fala também está fundada, de forma que não poderia se
tratar de fazer a linguagem repousar no pensamento puro. (MERLEAU-PONTY,
1999, p. 261)
A linguagem tem um interior, mas esse interior não é um pensamento fechado
sobre si e consciente de si. O que então exprime a linguagem, se ela não
exprime pensamentos? Ela apresenta, ou antes ela é tomada de posição do
sujeito no mundo de suas significações. Mundo significando que a vida mental
ou cultural toma de empréstimo à vida natural as suas estruturas e que o
sujeito pensante deve ser fundado no sujeito encarnado.