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Editor(a) | Gilmaro Nogueira

Revisão | Patrícia Azevedo Gonçalves


Diagramação | Daniel Rebouças
Ilustração | Jenifer Prince

Conselho Editorial
Prof. Dr. Carlos Henrique Lucas Lima
Universidade Federal do Oeste da Bahia – UFOB Prof. Dr. Leandro Colling
Prof. Dr. Djalma Thürler Universidade Federal da Bahia – UFBA
Universidade Federal da Bahia – UFBA Profa. Dra. Luma Nogueira de Andrade
Profa. Dra. Fran Demétrio Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB Afro-Brasileira – UNILAB

Prof. Dr. Helder Thiago Maia Prof. Dr Guilherme Silva de Almeida


Universidade Federal Fluminense - UFF Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ

Prof. Dr. Hilan Bensusan Prof. Dr. Marcio Caetano


Universidade de Brasília - UNB Universidade Federal do Rio Grande – FURG

Profa. Dra. Jaqueline Gomes de Jesus Profa. Dra. Maria de Fatima Lima Santos
Instituto Federal Rio de Janeiro – IFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Profa. Dra. Joana Azevedo Lima Dr. Pablo Pérez Navarro (Universidade de Coimbra - CES/
Devry Brasil – Faculdade Ruy Barbosa Portugal e Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG/Brasil)

Prof. Dr. João Manuel de Oliveira Prof. Dr. Sergio Luiz Baptista da Silva
CIS-IUL, Instituto Universitário de Lisboa Faculdade de Educação
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Profa. Dra. Jussara Carneiro Costa
Universidade Estadual da Paraíba – UEPB

CIP BRASIL — CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO


S877r Stona. José, —
Relações de Gênero e Escutas Clínicas/José Stona.
1ª edição/Salvador - BA. Editora Devires, 2020.

260p.; 16x23 cm
ISBN 978-65-86481-26-6
1. Psicologia 2. Diversidade 3. Saúde mental I. Título
CDD 159.9 CDU 308.1-13

Qualquer parte dessa obra pode ser reproduzida, desde que


citada a fonte. Direitos para essa edição cedidos à Editora Devires.

Av. Ruy Barbosa, 239, sala 104, Centro – Simões Filho – BA


www.editoradevires.com.br
A vida é certamente mais vivível
quando nós não estamos confinados a
categorias que não funcionam para nós.

Judith Butler, Corpos Que Ainda Importam


SUMÁRIO

PREFÁCIO 9
Jaqueline Gomes de Jesus

APRESENTAÇÃO 12

GÊNERO: DA FORMAÇÃO A NÃO ESCUTA DO ANALISTA 19


José Stona
Andrea Ferrari

SOBRE MACACOS, CYBORGS E TRANSEXUAIS:


A PSICANÁLISE E OS LIMITES DO HUMANO 35
Eduardo Leal Cunha

DE ONDE ESCUTO? DE FREUD E LACAN E FOUCAULT


E DELEUZE E... 51
Patrícia Porchat

SEDIMENTAÇÕES DE UMA ODALISTA ANDROIDE:


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE
GÊNERO E CLÍNICA TRANSDISCIPLINAR 63
Céu Silva Cavalcanti

A METAFÍSICA GENERIFICADA DA ESCUTA PSICANALÍTICA 79


Daniel Kveller
Henrique Caetano Nardi

GÊNERO E RAÇA: MARCAS PERSISTENTES DE


UM FAZER-SABER DENEGADO 93
José Damico

VOZES NEGRAS FEMININAS: ECOAM POÉTICAS


E AQUILOMBAMENTOS SUBJETIVOS 119
Liziane Guedes da Silva

INDAGAÇÕES CONTRANORMATIVAS SOBRE OS USOS


DOS CONCEITOS DE “FUNÇÃO MATERNA”, “FUNÇÃO
PATERNA” E MATERNAGEM 141
Andrea Gabriela Ferrari
Milena Silva
IDENTIDADES TRANSGÊNERAS E O CAMPO DE CUIDADO COM
A SAÚDE: UMA ANÁLISE DE EXPRESSÕES COM VIÉS
PATOLOGIZANTE 159
Beatriz Bagagli

IDENTIDADE DE GÊNERO E PARENTALIDADE 175


Gerson Smiech Pinho
Analice de Lima Palombini

TRUQUES E MAIS TRUQUES: SOB O RÓTULO DA DIVERSIDADE


ESTÃO AS PRÁTICAS NORMATIVAS PEDINDO PASSAGEM 193
Sofia Favero
Emilly Mel Fernandes

RELAÇÕES ENTRE GÊNERO E SEXUALIDADE INFANTIL 205


Fernanda Isabel Dornelles Hoff

ATITUDES CORRETIVAS (OU TERAPIAS CONVERSIVAS)


DA ORIENTAÇÃO SEXUAL NA CLÍNICA PSICOLÓGICA:
UMA ANÁLISE DE CASO 219
Mozer de Miranda Ramos

A VIDA PSÍQUICA DO ARMÁRIO 235


Lucas Demingos
José Stona

SOBRE OS AUTORES 253


GÊNERO:
DA FORMAÇÃO A
NÃO ESCUTA DO ANALISTA
José Stona
Andrea Ferrari
“Nenhum psicanalista avança além do quanto permitem seus próprios
complexos e resistências internas”.
(Sigmund Freud, As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica).

As discussões dos estudos de gênero, proposições teórico-políticas que


tentam propor uma atualização nas temáticas científicas sobre corpo, sexo e
gênero (CONNEL & PEARSE, 2015), em diálogo com a psicanálise, nos últimos
anos, têm revelado diversas fragilidades e potências da teoria psicanalítica
diante da clínica com experiências gênero-dissidentes. Conforme apontam
os autores Porchat (2015), Ayouch (2017), Cunha (2016) e Gherovici (2017),
há conceitos da teoria psicanalítica que acabaram produzindo uma clínica
normativa, patologizante e estigmatizante frente a tais experiências.
Nesse contexto, além dos estudos de gênero, outros saberes também
apontam essa dimensão branco-cis-hetero-normativa e elitista da psicanálise,
como os estudos sobre interseccionalidade, de Crenshaw (1989) e Davis (2016),
e os estudos raciais, de Fanon (2008) e Mbembe (2013), que denunciam uma
certa norma não escrita na teoria psicanalítica e na formação de psicanalistas.
Essa norma tem trazido diversas consequências negativas na clínica ao longo
do tempo.
Assim, o presente artigo surge do confronto não só com a teoria, mas da
escuta clínica de experiências transidentitárias diante das possibilidades de
formação de um analista, tendo em vista que há problemáticas, para além
da teoria7, que também merecem atenção, conforme se verá a seguir. Porém,
cabe justificar que empregaremos o termo experiências transidentitárias ou
transidentidades, neste trabalho, de acordo com a noção de Ayouch (2015),
Tenório e Prado (2016) e Cunha (2016), que compreendem que essa é uma
nomenclatura fora do campo médico-jurídico-terapêutico e uma expressão
particular entre as muitas denominações possíveis relacionadas às dissidên-
cias de gênero em cada contexto cultural. Concordamos com o uso do termo,
principalmente, porque ele surge dentro do movimento trans e abrange uma
multiplicidade identitária não passível de unificação.
Gherovici (2017), Porchat (2018), Cossi (2018) e Ambra (2019) são autores
que nos mostram como o gênero, ou melhor, as discussões sobre gênero ense-
jam críticas importantes para ampliar o debate e esvaziar a lacuna normativa
produzida por diversos psicanalistas ao longo do tempo. As discussões de

7
Em psicanálise, não separamos diretamente clínica de teoria. Essa separação está sendo feito apenas
para fins didáticos.

20
gênero deixam, assim, cada vez mais nítido que é impossível, hoje, ignorarmos
os atravessamentos de marcadores sociais na produção de pesquisa, ensino
e transmissão da psicanálise (como questões geracionais, capacitistas, de
raça, classe, identidade, gênero e orientação sexual). Como apontam Iaconelli
(2018) e Zambrano (2018), um texto que não leve em conta essas contribuições
estará datado de saída. Entretanto, será que é possível, para os psicanalistas,
transitarem de um pensamento cada vez menos etiológico, essencialista e
normativo para um pensamento mais polifônico e plural, se as formações
continuam mantendo um certo regime normativo de inclusão e exclusão?
Quando se trata de aproximar as propostas dos estudos de gênero com a
psicanálise, a teoria psicanalítica, por meio dos estudos da sexualidade, nos
ofereceu cisões históricas importantes. Tanto Freud – ao separar a pulsão
do instinto, retirando qualquer determinismo biológico – quanto Lacan – ao
pensar a matemática, a lógica e a topologia para a retirada de qualquer possi-
bilidade de essencialismos de leitura em significantes já carregados de sentido
imaginário – se preocuparam em contribuir para os avanços clínicos sobre a
sexualidade. Isso, então, nos faz perceber que o problema não são somente
as particularidades teóricas da psicanálise freudo-lacaniana, mas o que fazem
dela, ou seja, o problema são os próprios psicanalistas.
Freud e Lacan produziram um movimento subversivo importante para
sua época, mas inevitavelmente sofreram o efeito de seu tempo. Contudo,
o problema central não são, de fato, esses dois autores, mas a recepção que
lhes foi dada, que não parece ter mantido o movimento subversivo de suas
propostas teóricas, as quais sempre tiveram por intenção respeitar a hiper-
singularidade do sujeito. Há, efetivamente, paradoxos que demonstram essa
dualidade na forma de utilizar a psicanálise tanto como potência quanto como
um dispositivo de normatização.
Todavia, ao longo deste texto, queremos propor reflexões que se fizeram
presentes durante o nosso percurso, a partir de uma questão principal: a forma-
ção do psicanalista pode ser uma das problemáticas que impede a subversão
de uma escuta normativa na clínica?

As problemáticas da formação do analista

A formação do psicanalista é o caminho pelo qual cada analista vai cons-


truir o seu percurso, nas psicanálises, a partir do seu desejo, apossando-se da
sua formação e autorizando-se a um ser analista por meio de princípios que
foram formalizados ao longo do tempo.

21
No entanto, ao pensarmos esses “princípios” da formação do psicanalista,
entendemos que há, pelo menos, dois principais vieses históricos. Primeira-
mente, o rigor estabelecido na instituição criada por Sigmund Freud, em 1910,
a IPA8 (Associação Psicanalítica Internacional), que sustentava a formação
baseando-se na obrigatoriedade do tripé processo pessoal de análise, estudo
teórico e supervisão. Em segundo lugar, os diversos rompimentos propostos
por Jacques Lacan até a fundação de sua escola, a EFP9 (Escola Freudiana de
Paris), que se propunha a uma nova forma de ensino estruturada na trans-
missão e instauração de um novo discurso (analítico), em conjunto com os
dispositivos do cartel10 e do passe, ou seja, “quando o analista compartilha o
ato de tornar-se analista com alguns outros” (WEILL, 2006, p. 16), devido aos
usos instrumentais, tecnicistas e adaptativos pelos psicanalistas da época.
A partir das recomendações de Sigmund Freud (1910), nós temos, em um
momento inicial, a instauração de uma tradição que, desde o princípio, tentou
normatizar um processo de formação, a exemplo da negação à formação para
pessoas fora do campo da medicina. Segundo Roudinesco (1988), Calligaris
(1990), Fingermann (2016) e Medeiros (2018), a IPA apenas reconheceria ana-
listas que se submetessem a um tratamento normatizado, onde a frequência, o
tempo, a posição do analisante e a mudez do analista eram, durante as sessões
de análise, padronizadas. Esses elementos, que “por muito tempo levaram a
psicanálise a constituir-se numa prática funcionalista de adaptação a um ideal
de normalidade, mais bem adaptado ao discurso e à ordem médica” (Medeiros,
2018, p. 249), produzem resquícios até hoje.
Posteriormente, temos um posicionamento de Freud reconhecendo que a
formação do analista, afastando-se de sua característica exclusiva a praticantes
da medicina, deveria ser mais autônoma. Já com Jacques Lacan, criticando as
formatações da IPA, nós temos um novo momento com seu retorno a Freud.
Jacques Lacan, ao concordar com a importância do tripé, vai, além de enfa-
tizar que a base para a formação é a passagem por uma análise, perceber a
necessidade de levarmos em conta mais dois fatores no processo formativo:
a transmissão e o discurso analítico.
A transmissão (saber como trabalho) não é apenas um ensino, mas a pala-
vra posta por um psicanalista que articula o seu percurso teórico, a sua análise

8
Suas recomendações aos interessados em se tornarem psicanalistas acabaram por inspirar uma regra
sustentada rigidamente pela IPA e seus grupos filiados ao redor do mundo, construída em torno da análise
didática, da supervisão e da escuta de pacientes.
9
Fundada em 21/07/1964 e dissolvida em 11/03/1980.
10
Proposição de 09/10/1967.

22
pessoal e o não-saber inerente à experiência analítica em um ensino. Sobre
o discurso, Lacan (1992, p. 11) o define como “um discurso sem palavras”, ou
seja, a instauração de atos e formas de gozo que existem em certas relações
fundamentais que não podem ser mantidas sem a linguagem. Para o autor,
dessa inevitável relação do sujeito com a linguagem surgem cinco produções
fundamentais que marcam conduta, ato e enunciação. Assim, ele nos apresenta
a sua organização dos dispositivos dos discursos (formas de enlaçamento com
o outro) em cinco lugares, para cada uma das quatro permutações: o discurso
da histeria, o discurso do mestre, o discurso universitário, o discurso capitalista
e o discurso do analista – sendo este último o objeto de nosso enfoque (apesar
de todos estarem diretamente ligados em um circuito).
O discurso do analista põe em cena a ética da psicanálise e coloca o desejo
em sua busca. O desejo, desse modo, emerge em um momento raro e preciso
para sustentar a experiência do sujeito de afirmar-se na sua pura diferença.
Diante disso, o discurso do psicanalista surge no árduo exercício de suspender
qualquer tipo de saber prévio (se é que isso é possível) que cria condições nor-
mativas de inteligibilidade, esse saber da ciência clássica e do senso comum,
para uma posição que renuncia a qualquer tentativa de ser agente de um
saber, tendo em vista que este deve ser “colocado na berlinda pela experiên-
cia psicanalítica” (LACAN, 1992, p. 31) para que o analista ocupe a posição de
objeto a – causa do desejo. Segundo a posição do discurso do analista, o único
saber que importa é aquele que se adquire escutando o analisante (diferente
da relação do discurso do mestre: daquele que sabe e ponto). A questão é do
sujeito (efeito dos significantes) e foi por ele construída. É o sujeito que sofre.
Por essa razão, o próprio analista deve representar aqui, de algum modo, “o
efeito de rechaço do discurso” (LACAN, 1992, p. 45), a queda do efeito do dis-
curso, lugar destinado no ato psicanalítico sustentado pelo não-saber.
Com Jacques Lacan, temos, ainda, uma ruptura central na forma de pensar
a formação de psicanalistas: a inserção, dada por ele, da psicanálise na univer-
sidade, em 1964, nos seus seminários na École Normale Supérieure, momento
que terá amplas consequências para a circulação cultural da psicanálise, “já
que, no contexto da inscrição universitária, os jogos de filiação (fidelidade e
submissão), serão complicados ou mesmo subvertidos, em relação ao mode-
lo hegemônico” (KUPERMANN, PERELSON, FRANCO Et al., 2019, p. 150) das
sociedades até então. Assim, a partir das premissas freudianas e lacanianas
apresentadas, contemporaneamente, ao pensarmos a formação do psicana-
lista, além de levarmos em conta que as tradições referidas ainda existem,
em menor ou maior grau, dependendo da instituição, devemos lembrar que

23
são tantas e tão variadas as instituições hoje existentes e espalhadas
pelo mundo, que muitas vezes os estudantes não têm acesso às produ-
ções teóricas e clínicas dos analistas de filiação institucional diferente da
sua própria. É o que atesta boa parte das construções bibliográficas dos
trabalhos acadêmicos (monografias, dissertações, teses etc.), que não raro
demonstram essa linha de filiação, a qual, de forma bastante determinista,
propõe uma direção unívoca, a começar em Freud, passando por Lacan e
desaguando no próprio orientador e nos psicanalistas de mesma escola.
Sendo assim, torna-se fácil constatar a pouca abertura a outros saberes,
como se os psicanalistas tendessem a se fechar no circuito das suas tra-
dições de leitura e de interpretação dos seminários lacanianos utilizando,
para tanto, o argumento das trilhas e afinidades transferenciais. (MARTINS
& POLI, 2017, p. 902).

Portanto, quando pensamos que a formação do analista pode ser um


entrave para uma escuta clínica não normativa, estamos considerando os
seguintes pontos: o primeiro deles é a institucionalização, na medida em que
nos parece existir a psicanálise freudiana e o processo de institucionalização
da psicanálise, no qual havia um Freud clínico e pesquisador e um Freud que
disputava poder, querendo a todo custo firmar a psicanálise como uma ciência.
São, certamente, momentos diferentes, mas que retomam a lembrança das
duas vozes divergentes do próprio Freud e nos mostram como, no processo
de institucionalização, não se valorizou esse duplo empreendimento. Houve,
sim, a escolha (de uma matriz cisheterossexista), e a outra (de subversão) ainda
nos parece estar silenciada (ou despertando).
Essa dualidade, que provocou diversos efeitos na história da psicanáli-
se, acaba se imbricando à patologização e reforçando as variadas formas de
deslegitimação da diversidade sexual. Ainda assim, existem psicanalistas que
conseguem fazer o exercício crítico de seu tempo e aqueles que não conseguem
e nem querem romper com pressupostos normativos, o que nos traz a seguinte
questão: independentemente de como o futuro analista irá se interessar pela
teoria, há uma leitura das obras a ser feita. Essa leitura cria a possibilidade de
escolha, daquele que lê, de fazer um exercício crítico, desmontando pressu-
postos de uma teoria da época vitoriana para um momento contemporâneo,
seja ele qual for, mas, principalmente, levando em conta as demandas da
clínica, que, por certo, não se mantêm exatamente iguais àquela época. Se
hoje, na leitura da obra freudiana, o leitor não sente nenhum desconforto,
existe, de fato, um problema do ponto de vista ético, justamente por ser uma
teoria que possibilita a sustentação de normativas e categorias dos processos
de subjetivação e do sujeito.

24
O segundo ponto é o da singularidade do leitor – quem é esse leitor, que
bagagem ele carrega, que vida teve, que experiências viveu... Tudo isso vai ser
importante para pensar que perguntas o leitor endereçará ao texto, pois a lei-
tura vai se alterando e se modificando a partir dessas premissas. A recepção do
texto nos parece trazer a pergunta de como as pessoas estão lendo e de como
é a compreensão do texto. Para além de pensar uma leitura certa ou errada, ela
nos convoca a pensar sobre a aproximação a um campo conceitual analítico
do ponto de vista ético que leve em conta a hipersingularidade do sujeito e
a ética do desejo como mais importantes que as diversas normativas que a
teoria possa oferecer. As pessoas podem estar abertas a um movimento crítico
de leitura ou podem peneirar no texto elementos normativos para justificar
suas atitudes racistas, transfóbicas, homofóbicas etc. Porém, sendo a questão
extremamente delicada, como ela seria mais colocada de forma adequada?
Seria possível, ou mesmo desejável, sustentar que há um problema de “erro
de leitura”, quando esse suposto engano é utilizado para justificar mecanismos
de violências, normatizações e patologizações, considerando que essa mesma
teoria se propõe a uma exterioridade à norma desde o princípio?
O terceiro ponto é o dos pares e da transmissão, levando em conta que
um dos principais meios de estudo em psicanálise é a troca entre os iguais, a
partir da herança metodológica na forma de cartéis, deixada por Lacan (1964),
de grupos de estudo e até mesmo da academia. O risco de uma certa pedago-
gia de transmissão infecciosa à normatização, conservando ideias patriarcais
embutidas em conceitos, é, efetivamente, inegável. Portanto, sob o horizonte
de troca entre os pares de leitura, parece-nos haver uma escolha, nem que seja
inconsciente, na medida em que muitos psicanalistas que ocupam o lugar da
mestria insistem em dizer da leitura correta a partir da intenção de Freud no
texto. Esse ato, no entanto, pode ter por consequência um ordenamento ou
um direcionamento de leitura, ou seja, uma conservação de relações de poder.
O quarto ponto é o texto psicanalítico. Diante das questões de gênero,
ele ainda oferece respostas às nossas perguntas? Ainda podemos transpor
um deslocamento, ou a diferença sexual, o complexo de Édipo freudiano e a
sexuação lacaniana estariam em declínio nesse horizonte de percepção em
relação às demandas da clínica?
O quinto ponto são os dispositivos de formação, pois não devemos es-
quecer que ainda temos instituições que estabelecem critérios de seleção para
formação de analistas, ou seja, microcosmos que tendem a reproduzir, na
contemporaneidade, o contexto social vitoriano em sua lógica, sua virtude e
seus preconceitos. Nas palavras de Zambrano (2018), um dos resultados dessa

25
reprodução é a possibilidade de colocar em foco uma compreensão teórica
específica da psicanálise, observada em dinâmicas institucionais, clínicas
e pessoais que podem levar a distorções na condução dos tratamentos e a
prejuízos para a vida pessoal e institucional dos terapeutas. Nesse processo
seletivo, o interessado (que deve passar por uma entrevista pautada por crité-
rios da instituição), além de obrigado a fazer análise (quatro vezes na semana)
e supervisão no mesmo espaço, ainda precisa dispor de recursos financeiros
suficientes ao pagamento da formação teórica, cujo custo é alto, para que
possa ser reconhecido como psicanalista.
Tais apontamentos nos remetem a pensar que, se pudéssemos aproxi-
mar essa discussão das denúncias do transfeminismo, sobre a dificuldade do
acesso a direitos básicos da população trans à vida (como saúde, assistência,
educação, trabalho etc.), bem como do movimento negro no Brasil, frente à
desigualdade salarial e de educação, poderíamos perceber que, mesmo não
diretamente, essa exclusividade seletiva na formação do analista dá origem a
uma espécie de categoria normativa e a uma ausência de representatividades
para a formação e figura desse profissional11:

são questões referentes às lutas pelo capital cultural, ao poder simbólico


das hierarquias constituídas durante a formação, à submissão ou resis-
tência dos candidatos a algumas imposições teóricas, ao machismo e a
homofobia travestidos de conhecimento científico que aparecem nos se-
minários, congressos, publicações e principalmente, suas consequências
na formação dos analistas. (ZAMBRANO, 2018, p. 17).

Por fim, mas não menos relevante, é a análise como condição essencial
para a autorização de si mesmo a analisar um outro. Aqui, poderíamos pensar
que essa seria uma chave importante para a aposta contra normatividades,
mas acreditamos que nem mesmo ela seja garantia, tendo em vista que, se
existe uma manutenção seletiva na formação, é inevitável que o interessado na
psicanálise – ou até mesmo futuro analista – possa vir a cair nas mãos de um
analista que participa do fluxo normativo acerca do qual estamos discorrendo.

11
Público facilmente observado em eventos de instituições psicanalíticas: pessoas brancas-hetero-cisgê-
neras-sem deficiência assistindo a palestrantes brancos-heteros-cisgêneros-sem deficiência etc.

26
Da exclusividade seletiva na formação a não escuta do
analista

Se pensarmos na ausência de representatividade por meio de marcadores


interseccionais na formação de psicanalistas (como identidade de gênero,
orientação sexual, classe, raça etc.), podemos perceber que todo ponto de
vista da rede significante, quando está em relação à rede enunciativa, é pos-
sível de ser utilizada e inteligível em um determinado tempo e contexto. Essa
situação nos faz lembrar como, até 1980, ou seja, há pouco tempo, era proi-
bida a formação em psicanálise para homossexuais, como explica Bulamah
(2016). O autor evidencia, ainda, como, após a queda dessa proibição, com a
inserção de homossexuais fazendo formação em psicanálise, um certo tipo de
colagem etiológica das homossexualidades à categoria clínica da perversão
pode ser colocada em questão, gerando um movimento da teoria psicanalítica
que caminha no sentido de uma escuta não normativa e não patologizante.
Assim, se a representatividade de homossexuais na formação mudou ou
colocou a teoria em questão, devemos lembrar que ela está sempre em relação
ao regime de verdades, como aponta Foucault (2008). Tanto a formação quanto
a escuta estão atadas a esse regime, o que não quer dizer que ele seja imutá-
vel, mas que é sempre tenso e dependente do jogo de relações de poder, cujo
efeito de verdade mais legítimo é sempre um acoplamento – que vai definir o
que se pode falar e escutar. Nesse sentido, a ausência de representatividades
interseccionais na formação de analistas pode colocar em cena leituras nor-
mativas frente às identidades dos sujeitos contemporâneos.
Um exemplo de leitura normativa do gênero é aquela que conduz, muitas
vezes, a maneira de organizar e compreender o sexo, o gênero, o corpo e a
identidade, segundo Butler (2016), possibilitando uma legitimação da mul-
tiplicidade das posições corporificadas ou a manutenção de normativas que
acabam por levar o tratamento a uma linearidade cis-hetero-sexista. Desse
modo, ao pensarmos a formação do psicanalista, temos, todavia, que retomar
as recomendações fundamentais sobre o exercício da psicanálise em Freud
(1912/1996). No texto, o autor é enfático ao prever os caminhos éticos a todo
interessado na psicanálise, advertindo, principalmente, sobre o cuidado que
o psicanalista deve ter para certificar-se de não estar exercendo resistências ao
caminho da escuta. Ele nos oferece proposições essenciais para o manejo da
transferência e a direção do tratamento com qualquer sujeito. Porém, como
poderíamos pensar essas resistências da escuta, hoje, se a epistemologia ofe-
recida para a clínica, muitas vezes, não faz o exercício de atualizar-se para as

27
questões do nosso tempo? Como pensar as resistências do analista, diante
das questões de gênero, se as instituições ainda são rigidamente seletivas na
forma de ingresso?
Nesse contexto, se estamos nos deparando com um certo limite da teoria
psicanalítica diante das questões de gênero, como afirma Porchat (2018), acres-
centaríamos, ainda, a ausência de representatividades nas formações, pois isso
nos parece ter como consequência algo que já era objeto de alerta por Freud
(1912/1996): um psicanalista escolhendo o que se escuta e inclinando-se nas
suas próprias expectativas – situação nos faz lembrar toda a produção teórica
violenta, patologizante e estigmatizante psicanalítica frente a experiências
não-cisgêneras, conforme aponta Butler (2003).
Assim, se a formação não der conta de pensar as questões do seu tempo,
repensando constantemente a teoria, e se o analista não estiver atento a ofe-
recer a tudo o que se ouve a mesma atenção flutuante, mantendo a influência
consciente longe de sua capacidade de observação e escuta, o efeito disso
pode ser uma escuta que se preocupa em notar alguma coisa ou encaixar
a teoria naquilo que o paciente fala. Nesse sentido, pensando no recorte a
que este escrito se destina, se o analista pensar o gênero como um elemento
central e acabar esquecendo de prestar atenção aos outros elementos caoti-
camente desordenados, sem ligação ou continuidade, ele poderá fazer uma
seleção prejudicial do que ouve, tornando o gênero o principal problema do
tratamento, em uma direção da cura centrada na busca por etiologias. Ainda
no texto, Freud destaca que

para ter as condições de escuta, além do analista ter de ser capaz de usar
de tal forma seu inconsciente como instrumento de análise, ele precisa ser
um indivíduo aproximadamente normal [...] submetido a uma purificação
psicanalítica e tenha tomado conhecimento daqueles seus complexos que
seriam capazes de perturbar a apreensão do que é oferecido pelo anali-
sando. (FREUD, 1912/1996, p. 157).

Diante disso, será que poderíamos pensar que essa “purificação psicana-
lítica” provocou uma formatação normativa do analista e, consequentemente,
da escuta, razão pela qual há profissionais que escolhem, ainda, pensar em
etiologias e diagnósticos 12frente às questões de gênero? Estariam os analistas
fazendo uma escolha inconsciente – já que gênero não se torna questão – do

12
O problema não é hipotetizar etiologias e diagnósticos, mas a antecipação prévia de psicose/perversão
antes da escuta do sujeito.

28
gênero como problema em um silenciamento e uma impossibilidade de es-
cuta para outras questões do sujeito? Poderíamos pensar, hoje, a partir das
possibilidades críticas que temos, à luz dos estudos de gênero, que existiu um
histórico de patologização das dissidências de gênero por meio de um diag-
nóstico apressado, selvagem, sem escuta do sujeito, ou seja, um diagnóstico
não psicanalítico por parte dos psicanalistas, justificado pela possibilidade
normativa de leitura, escuta e intervenção? Seria o gênero um elemento in-
consciente que os analistas ainda não levam em conta como conhecimento
necessário do que está oculto em si mesmo, conforme enfatizou Freud?
Essas questões, enfim, estão se apresentando e nos lembrando que não
parece à toa que Freud (1913) compara o tratamento psicanalítico ao jogo de
xadrez, na infinita variedade de movimentos. Por fim, se a psicanálise ressalta
a hipersingularidade enunciada em uma situação de comunicação entre pa-
ciente e analista, pelas vias de acesso ao desconhecido que habita cada um,
muito mais do que padrões de adaptação à moral e aos costumes vigentes,
conforme apontam Macedo e Falcão (2005, p. 67), por que razão existe um
histórico de patologização que coloca as experiências gênero-dissentes na
psicanálise, na maioria das vezes, alocadas a um diagnóstico de psicose e
perversão, como já referenciado por Stona (2019)?
Em nosso entendimento, acreditamos que a formação do psicanalista é
um processo essencial que contribui para essa forma de manejo clínico, na
medida em que, como método e técnica, ela deve ser (re)pensada no que diz
respeito ao efeito de sua ação terapêutica/analítica sobre o sujeito. Portanto,
apostamos que ações afirmativas poderiam ser uma forma de contrapor esse
discurso normativo estabelecido, intencionalmente ou não, nas instituições
de formação. As ações afirmativas, segundo Barroso (2004), Piovesan (2008) e
Chaves (2015), referem-se a um conjunto de políticas públicas de acesso para
determinados grupos (étnicos, raciais, religiosos, de gênero ou de casta) que
historicamente são discriminados e estão em constante desvantagem social
e econômica, no passado ou no presente.
As políticas de ação afirmativa visam a romper com essas barreiras ins-
tituídas estruturalmente, permitindo uma forma mais justa de acesso de tais
grupos a espaços de educação, saúde, emprego, bens materiais e redes de
proteção social, assim como de reconhecimento cultural e, por que não, da
formação em psicanálise.

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Considerações finais

Com o objetivo de pensar uma escuta clínica ética e afinada às questões


de seu tempo, escapando de normatizações, percorremos pontos da formação,
entre os quais as institucionalizações, o leitor, os pares e a transmissão, o texto
psicanalítico e os dispositivos de formação, que chamaram nossa atenção.
Isso foi feito a fim de que, quando tais questões surgirem, estejamos prontos
a romper com essas manutenções normativas, visto que, se assim não o fizer-
mos, elas poderão ter como efeito violências, discriminações, estigmatizações,
patologizações e normatizações contra as dissidências de gênero, operando
por meio e em nome da psicanálise.
Percebemos, enfim, o quão delicado é falar da formação do psicanalista
como um elemento que dificulta o processo de rompimentos com normati-
vas, na medida em que a psicanálise se estruturou por meio de uma ética do
desejo exterior a qualquer normatização desde a sua fundação e, também,
porque não há possibilidade de controle desses pressupostos. De qualquer
sorte, mesmo que houvesse, não teríamos a garantia de um analista “seguro”,
como apontam Santos & Polverel (2016), produzindo uma escuta sensível a
questões de gênero, por exemplo.
O que podemos pensar é que, se partirmos da ideia de que tudo já estaria
em Freud e Lacan, acabaríamos por limitar a psicanálise apenas a uma teo-
ria normativa e criadora de categorias do sujeito. A partir disso, acreditamos
cada vez mais na necessidade de pensarmos em uma clínica da potência,
em contraponto a uma clínica da patologização, tensionando os espaços de
formação para atravessarem as fronteiras entre as áreas do conhecimento,
em busca de diálogos com as questões do nosso tempo. Os argumentos apre-
sentados por uma maioria de psicanalistas, frente às questões de gênero, nos
colocam diante de certos paradoxos quando tentamos nos aproximar de um
possível fazer clínico não normatizante. Portanto, apesar deste artigo ter se
originado da experiência de escuta clínica das transidentidades e do confronto
de discussão entre a formação em psicanálise e os estudos de gênero, nosso
interesse se resumiu a problematizar a formação do analista como principal
entrave diante das possibilidades de rompimento de pressupostos normativos
na escuta clínica.
Nesse cenário, se não tivermos uma formação que nos permita escutar
as novas enunciações da clínica, hoje, a exemplo das dissidências de gêne-
ro, sem condições prévias de inteligibilidade diagnóstica, nós entenderemos
conceitos como complexo de Édipo, psicose, perversão etc. como conceitos

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prontos, prescindindo da escuta singular. Essa situação nos mostra a neces-
sidade de uma reinvenção constante e uma desacomodação da teoria, mas,
principalmente, indica o quanto é fundamental questionarmos como estão as
análises e as formações dos analistas, pois, em última observação, é como se
gênero não se tornasse questão de análise. Em vista disso, uma dúvida se faz
presente: o que se produz, enquanto teoria, mantendo uma forma exclusiva de
formação? Quais são as consequências dessa exclusividade na teoria, na escuta
e na intervenção dos psicanalistas frente às questões de gênero na clínica?
Assim, a formação do psicanalista não é a aquisição de competências
técnicas oriundas de regras burocratizadas e rígidas. Embora não exista uma
formação em psicanálise fora de uma experiência comum, atualmente, consi-
derando os diversos dispositivos (escolas, grupos de estudos, cartéis e a pes-
quisa na universidade) disponíveis, a formação do analista pode, ainda, estar
alocada em uma ética totalitária com posturas normativas, adaptativas, com
técnicas diagnósticas e de doutrinamento, ou pode estar situada em uma ética
contingente e polifônica, que leve em conta cada um como responsável por
sua formação, em sua radical singularidade de experiência com a psicanálise.
Por fim, a formação em psicanálise é algo a ser refeito, continuamente,
devido à necessidade de ocuparmos uma posição subjetiva de não saber.
Afinal, o psicanalista só se autoriza de si mesmo e por alguns outros a partir
do seu desejo, segundo Lacan (1973-1974), e a formação é, sempre, uma (de)
formação, pois não cessa de se inscrever, como explica Fingerman (2016).

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