Este documento discute a epidemiologia da violência contra a mulher no Brasil. Apresenta dados epidemiológicos de Campina Grande, do Distrito Federal e da Bahia, mostrando a prevalência de violência psicológica e física contra mulheres adultas, pardas e de baixa escolaridade. Também destaca que a maioria dos agressores são cônjuges ou desconhecidos, e que os locais mais comuns de ocorrência são residências, limitando o monitoramento e denúncias.
Este documento discute a epidemiologia da violência contra a mulher no Brasil. Apresenta dados epidemiológicos de Campina Grande, do Distrito Federal e da Bahia, mostrando a prevalência de violência psicológica e física contra mulheres adultas, pardas e de baixa escolaridade. Também destaca que a maioria dos agressores são cônjuges ou desconhecidos, e que os locais mais comuns de ocorrência são residências, limitando o monitoramento e denúncias.
Este documento discute a epidemiologia da violência contra a mulher no Brasil. Apresenta dados epidemiológicos de Campina Grande, do Distrito Federal e da Bahia, mostrando a prevalência de violência psicológica e física contra mulheres adultas, pardas e de baixa escolaridade. Também destaca que a maioria dos agressores são cônjuges ou desconhecidos, e que os locais mais comuns de ocorrência são residências, limitando o monitoramento e denúncias.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP), em sua nota sobre referências
técnicas para atuação psicológica em programas de atenção à mulher em situação de violência discute que a dualidade histórica entre o homem e a mulher vem sendo bastante criticada e perdendo lugar para uma perspectiva mais integral de sexualidade, onde se propõe, inclusive, uma visão mais simbólica, resultante de processos sócio históricos construídos e passíveis de transformação. Em contrapartida, o homem ainda permanece em seu status de dominação, o que leva muitas mulheres a um ciclo de perpetuação e acabam por reforçar a prática da violência, uma vez que, ao lutar contra valores vigentes, pode-se comprometer a afetividade. Butler (2010) aponta que o gênero funciona como uma estratégia de reafirmação das normas que delimitam os corpos. Existe uma latente compulsão por adequar-se às normas, que funciona por uma ordem se os corpos carregassem uma essência desde o nascimento. Assim, os estudos pré-estruturalistas trazem a visão de que a violência de gênero ocorre como resultado gênero como efeito das divisões de poder entre homens e mulheres na sociedade, que servem para reforçar o regime capitalista de produção; e a importância da diferenciação sexual. Desde 1950, com o feminismo de Simone de Beauvoir, o gênero é pensado como diferenças entre o biológico e o social, passando a servir como análise para se investigar as construções sociais do feminino e masculino na sociedade. Segundo Scott (1990), o gênero é uma forma primária de relações significantes de poder. O termo “violência de gênero”, segundo o CFP, é caracterizado principalmente do homem contra a mulher – ainda que seja mais amplo – ganha espaço nos estudos atuais e é analisado sob diversas perspectivas como classe social, sexualidade, etnia e raça. A mídia se coloca também como um indutor de violência quando se tem papel formador de opinião na sociedade e se é reforçado, por exemplo, os papeis sociais do homem e da mulher, tido como tradicional, ou objetificações quanto ao corpo feminino, associada ao consumo e prazer do homem. Ao passar dos anos e das lutas travadas por mulheres e estudiosos, a ideia da mulher vítima de violência foi passada para mulher em situação de violência, o que sugere possibilidades de resolução do conflito. O que, também induz à necessidade de ressignificação dos processos de humilhação perpetuados, como agressões morais, psicológicas, patrimoniais que, muitas vezes, a mulher é submetida e, por medo, não denunciam ou buscam ajuda. Daí a importância de um profissional de psicologia atuando em redes de serviço de atenção à mulher em situação de violência; oferecendo informações e construindo, juntamente à mulher, um plano de enfrentamento. É importante destacar, pois, que a psicologia, enquanto ciência, dispõe de instrumentos avaliativos possíveis de elucidação e identificação das situações de violência que passam as mulheres. Existem alguns consensos sobre os ciclos da violência doméstica contra a mulher, cujas fases variam em intensidade e tempo para cada caso. As fases do ciclo são: situação de conflito; episódio de violência; arrependimento e promessa de mudança; e fase de lua de mel; retornando para a primeira. No entanto, se é preciso incorporar outros paradigmas e práticas acolhedoras que fujam da naturalização e do determinismo na compreensão do fenômeno da violência. A violência afeta a vida da mulher de várias maneiras e demanda uma atuação profissional múltipla e qualificada. Se fazendo necessário que o (a) psicólogo (a) amplie sua carga de conhecimento sobre gênero, sobre toda legislação, assim como sobre a rede de atendimento em saúde para possíveis encaminhamentos. Partindo desses pressupostos, escolhemos três textos de análise epidemiológica da violência contra a mulher. Um artigo sobre dados epidemiológicos do Distrito Federal, outro sobre Campina Grande, e um paper apresentado sobre o Estado da Bahia. No artigo intitulado “Distribuição espacial e perfil epidemiológico das notificações da violência contra a mulher em uma cidade do nordeste brasileiro”, realizado em Campina Grande, PB, entre os anos 2012 e 2013. A metodologia observada foi estudo transversal, de base populacional, quantitativo, descritivo. Como resultados foram analisadas 109 notificações de violência contra a mulher. Prevaleceram mulheres adultas, não gestantes, pardas, com baixa escolaridade. Houve predominância da violência psicológica e física. Percebeu-se um aumento de 22,5% das notificações a cada ano. O perfil da vítima eram mulheres adultas (faixa etária entre 20 e 39 anos) 48,6% / não gestantes 69,7% / de raça autodeclarada branca 43,1% / com nível de escolaridade inferior a oito anos 40,4% / solteiras 47,7%. Observou-se a predominância da violência psicológica (25,7%) / forma dicotomizada, as formas “Física/Psicológica” prevaleceram (31,2%). Ameaça configurou o meio mais utilizado para a perpetração da violência (35,8%), quando na forma isolada. Com a força corporal, a ameaça permeou 29,4% das notificações. Sobre o autor da violência mostraram um perfil predominante do sexo masculino (85,3%), onde em 90,8% dos casos apenas um indivíduo esteve envolvido na ação, sem uso do álcool pelo autor (48,6%). Em relação ao grau de parentesco dos prováveis autores da violência, destacaram-se os cônjuges (25,7%) e os desconhecidos (20,2%). Local de ocorrência destacou-se as residências (77%) Em relação à negligência e a violência física estão mais associadas, na maioria das vezes, às crianças menores de um ano, visto a total dependência dessas aos seus cuidadores, ocasionadas devido a episódios de irritabilidade. Em crianças maiores de um ano, a mudança do cenário aponta para maior frequência da violência física e sexual, estando o corpo da criança em posição de evidência em relação à da sexualização. A faixa etária relacionada aos adolescentes e adultos aprece como a mais atingida pela violência psicológica, seguida da física e sexual, podendo estar relacionadas aos conflitos sociais inerentes a essas faixas etárias, sobretudo relacionados à sexualidade e gênero, renda, relacionamentos amorosos e prática de atos ilícitos. Esta pesquisa relevou uma baixa prevalência da violência em gestantes, Essa baixa prevalência da violência na população gestante pode estar relacionada à quantidade de locais de coleta: por ser unidade de referência, apenas um hospital em Campina Grande notifica dados de violência em gestantes. O local da ocorrência mostra sobre a gravidade dela, sendo a maioria em residências limita o monitoramento da violência. Além disso, as pesquisas mostram que as denúncias e acompanhamentos por violência doméstica são muito fragilizados por causa do medo da vítima em denunciar. Em relação ao perfil do autor da violência a maioria é do sexo masculino, reafirmando as questões de desigualdade de gênero que fazem parte da nossa sociedade. O uso de álcool pelos autores da violência não foi a porcentagem maior, mas também foi um valor muito elevado nos levando a refletir sobre o poder que essa substância tem de mudar a personalidade do indivíduo e contribuir para a violência Em suma, os dados trouxeram mais visibilidade para essa temática, mostrando que é um problema alarmante de saúde pública e que necessita de políticas voltadas para o seu enfrentamento. No caso da pesquisa realizada no estado da Bahia, foi observado que Oocorreram notificações de 4348 casos de violência sexual contra mulheres de 10-59 anos entre 2013 e 2017, havendo predominância na faixa etária de 10-14 anos, com ensino fundamental incompleto e de raça pardas. Em relação às características da violência, houve predominância dos casos que ocorreram nas residências e utilizaram do espancamento como forma de violência da vítima, além das agressões de violência física e psicológica/moral. Segundo a natureza dos casos, houve alta incidência de estupros e assédio sexual, sendo que grande parte dos agressores possuíam algum tipo de parentesco com a vítima. Sobre o encaminhamento dos casos, os dados mostram-se pouco efetivos, visto que a grande maioria das notificações não destacaram o destino da vítima (acompanhamento ambulatorial ou internação hospitalar). Na pesquisa realizada no Distrito Federal, foram notificados 1.924 casos de violência contra a mulher; os principais agressores foram desconhecidos (25,7%) ou cônjuges (19,0%) das vítimas; predominaram vítimas da cor parda (25,0%) e agressões em ambiente doméstico (38,5%); quanto ao tipo de violência, destaca-se a forma física (46,8%) por meio da força (48,0%), sendo os órgãos genitais (15,7%) e a cabeça (12,9%) as regiões mais afetadas. Apesar dos avanços dos direitos femininos, a violência contra a mulher ainda constitui um grande problema para a construção de uma sociedade mais igualitária e acolhedora. Visando a adequada assistência à mulher, discussões sobre a desigualdade de gênero, melhorias do sistema de notificações e educação continuada sobre o amparo às vítimas da violência sexual aos profissionais de saúde devem ser constantes. Também é importante salientar que a maioria dos dados epidemiológicos é recolhidos a partir do SINAN – Sistema de Informação de Agravos de Notificações. Esse formulário abaixo anexado muitas vezes não contém todos os dados preenchidos e muitas vezes nem sequer é realizada a notificação pelo local onde a mulher foi acolhida inicialmente, até mesmo por medo de represálias, já que o formulário é assinado por algum funcionário do local de acolhimento dessa mulher. É importante salientar que a predominância de mulheres pretas, pardas e de baixa escolaridade nos mostra que a violência contra a mulher perpassa as discussões de raça e classe, evidenciando que a vulnerabilidade social e econômica pode ser considerado um fator desencadeador para a violência contra a mulher. REFERÊNCIAS BUTLER, J. Problemas de gênero. Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.
Conselho Federal de Psicologia. Referências técnicas para atuação de psicólogas (os) em Programas de Atenção à Mulher em situação de Violência. Conselho Federal de Psicologia. - Brasília: CFP, 2012.
Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e promoção da Saúde. Viva: Instrutivo. Notificação de violência interpessoal e autoprovocada. [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2016 [acesso em 23/11/2020]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/viva_instrutivo_violencia_interpesso al_autoprovocada_2ed.pdf
SCOTT, J. W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Revista
Educação e Realidade, Porto Alegre, RS: 1990.
SILVA, L.E. ; OLIVEIRA, M.L.C . Características epidemiológicas da violência
contra a mulher no Distrito Federal, 2009 a 2012.. EPIDEMIOLOGIA E SERVICOS DE SAUDE, v. 25, p. 331, 2016.
SILVA, B. M. ; LIMA, M. V. C. PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS VÍTIMAS DE
VIOLÊNCIA SEXUAL NO ESTADO DA BAHIA ENTRE 2013 E 2017. UFPR, II Congresso de Saúde Coletiva da UFPR.
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