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1 - JURISDIÇÃO

Conceito: é função atribuído à terceiro imparcial para mediante um processo,


reconhecer, efetivar ou proteger situações jurídicas concretamente deduzidas de
modo imperativo e criativo em decisão insuscetível de controle externo, com aptidão
para a coisa julgada.

A jurisdição sempre atua diante de um caso, um problema. Alguém leva ao juiz um


caso (situação jurídica concretamente deduzida), problema para ser resolvido. O
julgador não decide abstrações. Diferentemente do legislador que atua mais
abstratamente. Tradicionalmente os legisladores identificavam que esse caso era um
litígio (conflito de interesses, lide). O caso que se leva ao judiciário para ser resolvido,
nem sempre é uma lide, embora isso costuma acontecer (ex. pleitear-se o
reconhecimento de nacionalidade, troca de nome - não configura conflito). Toda
jurisdição atua sobre um problema, um caso. Processo de conhecimento na
jurisdição para reconhecer direitos. Processo cautelar a jurisdição para proteger
direitos. Processo de execução na jurisdição para efetivar direitos.
O juiz faz isso de modo imperativo e criativa, jurisdição é poder- pois ao reconhecer,
efetivar ou proteger o faz de modo imperativo, exercendo um poder. Juiz não sugere
ou aconselha. O juiz ao julgar cria, porque reconstrói o sistema jurídico a partir do
caso concreto, criando solução para o caso. Não é atividade automática, mecânica, é
ato de inteligência ato de criação. Mas frise-se, não o cria do nada, há parâmetros
legislativos. É revelada em dois aspectos:
1° Aspecto – o juiz cria a norma jurídica do caso concreto, define qual será a norma
jurídica a ser aplicada no caso concreto;
2° Aspecto – o juiz também cria norma jurídica geral que serve como padrão para
a solução de casos futuros, semelhantes aquele. Daí vem as súmulas.
Decisão insuscetível de controle externo: uma decisão jurisdicional não pode ser
revista por lei ou ato administrativo (não pode mudar coisa julgada). Não sofre,
portanto, controle dos demais poderes.
Aptidão para a coisa julgada: é por meio da jurídica que se opera a coisa julgada. A
coisa julgada é uma estabilidade exclusiva da atividade jurisdicional. A coisa julgada
administrativa é uma metáfora, não se trata de coisa julgada propriamente dita.

2 - EQUIVALENTES JURISDICIONAIS
Conceito: Equivalente jurisdicional é um método de solução de conflito que não seja
jurisdicional. Serve para resolver conflito, mas não é jurisdição. Estudaremos quatro
equivalentes:
1° - Autotutela: um dos conflitantes impe ao outro a solução do conflito. Em regra é
proibida, por se entender que se trata de modo bárbaro de solução de conflito, pois
estaria se resolvendo por meio de violência. Exercício arbitrário das próprias razões é
uma autotutela proibida. Existem, no entanto, algumas hipóteses de autotutela que são
permitidas: greve, desforço incontinenti, legitima defesa, guerra (por se entender que é
licita em certas ocasiões). Os atos administrativos podem ser realizados pela própria
administração;
2° - Autocomposição: a solução do conflito é construída pelos conflitantes de modo
negocial, a autocomposição é estimulada (exemplo se faz divórcio consensual em
cartório). ADR sigla em inglês, que significa Alternative Dispute Resolution (forma não
convencional para solução do conflito – designa tudo o que foi construída para sair do
modelo base da jurisdição). A autocomposição pode se dar em juízo, ou fora dele. A
transação é uma forma de composição – as partes cedem reciprocamente. A
submissão é outra espécie – se uma parte se submete a outra, voluntariamente
também é entendido como composição (exemplo confissão de divida, perdão de
divida). Essa submissão quando feita em juízo chama-se renúncia ou reconhecimento.
Se em juízo o autor se submeter ao réu, fala-se que houve renúncia. Se o réu se
submeter ao autor fala-se que houve reconhecimento.
3° - Mediação: um terceiro, normalmente escolhido pelas partes se coloca entre as
partes para ajudá-las a resolver o problema por autocomposição. O mediador é
alguém treinado para facilitar a composição. Há casos em que ambos querem fazer
acordo, mas os conflitantes não conseguem se entender. Assim a racionalidade
impera. As câmaras de composição trabalhista são um bom exemplo.
3° - Decisão de Tribunal Administrativo: na organização administrativa brasileira há
diversos tribunais administrativos a exemplo o Tribunal de Contas, Tribunal Marítimo,
Tribunal de Contribuintes, Tribunal de Ética da OAB; o CADE (Conselho Administrativo
de Defesa Econômica) Trata-se de exemplo de heterocomposição. Apesar de parecer,
não se trata de jurisdição porque é decisão que pode ser submetida a controle
jurisdicional e não faz coisa julgada.
*O CNJ , não é órgão jurisdicional, é órgão administrativo, que tem poder normativo.

3 - ARBITRAGEM:
A arbitragem não é equivalente jurisdicional, pois é jurisdição. A arbitragem é uma
jurisdição consensual. As partes escolhem o juiz da sua causa. O arbitro é um juiz não
estatal. É um processo fruto de um consenso, tanto que as regras processuais no
processo de arbitragem é conferido pelas partes. A fonte da arbitragem é a autonomia
privada, o poder de autorregrar-se. Qualquer um pode fazer arbitragem? Apenas
pessoa capazes podem optar pela arbitragem. Entes públicos podem? Sim, e há
muitas arbitragens envolvendo entes públicos (ex. lei de parceria público/privada). O
que pode ser objeto da arbitragem? Só pode dizer respeito a direitos disponíveis – não
é qualquer problema. Não há violação ao juiz natural porque o arbitro é investido
nesse caso para isso, se considera juiz de fato ou de direito. Quem pode ser arbitro?
Qualquer pessoa capas pode ser arbitro basta que as partes a escolham.
Normalmente, é mais de um arbitro, sendo três.
A relação entre o arbitro e o juiz estatal:
A decisão do arbitro é chamada de sentença arbitral – que é titulo executivo judicial,
como se fosse sentença Estatal; O arbitro pode decidir, mas não executar – que cabe
apenas ao juiz estatal. Nessa execução pode o juiz estatal rever a decisão arbitral?
Não, não pode a decisão arbitral ser revista pelo juiz arbitral. Não cabe nem
recurso, pois a arbitragem é voluntaria. A decisão arbitral, portanto, é definitiva. O
único recurso previsto em lei para a arbitragem são os embargos de declaração. O juiz
não tem que homologar decisão arbitral (há 16 anos). Existe apenas um instrumento
para controle das decisões arbitrais: ação anulatória da sentença arbitral – pretende a
anulação, no prazo de 90 dias (que é prazo legal, decadência, e não Poe ser
prorrogado por vontade das partes), NÃO É REVISÃO, busca-se a anulação da
sentença para que outra seja proferida pelo arbitro. FRISE-SE QUE SE TRATA DE
ANULAÇAO POR MATÉRIA DE VALIDADE – NÃO POR MATÉRIA DE DIREITO – o
juiz não decide, não entra no mérito da questão. Não configura controle externo, mas é
controle da própria jurisdição. É uma decisão para invalidar. Então, se pode falar em
coisa julgada na arbitragem.
O árbitro pode se negar a decidir?
Pode. Pois é o senhor de sua competência, a base para ele decidir se pode ou não
julgar a matéria esta na convenção de arbitragem- que é o negocio jurídico onde as
partes decidem a levar o caso à arbitragem. Ë possível anular a convenção de
arbitragem (ex. incapaz o fazendo, objeto ilícito). Há duas espécies: 1- Cláusula
Compromissória e o Compromisso Arbitral.
Cláusula compromissória: cláusula que existe no contrato determinando que
qualquer litígio que decorra daquele contrato será resolvido por arbitragem, sendo
genérica e para o futuro – frise-se que a cláusula compromissória em contrato de
adesão é abusiva, pois elimina a voluntariedade. Cláusula compromissória cheia:
está pronta, permitindo sua instauração apenas extraindo o conteúdo daquele
ato.
Compromisso arbitral: é uma convenção arbitral em um conflito já existente. É por
meio dele que se convenciona qual será o prazo, quem serão os árbitros, ou seja,
quais são os objetivos e regras gerais.
Pode acontecer de se levar questão fora do âmbito arbitral, podendo a parte, levar ao
judiciário. O arbitro ainda pode determinar medidas cautelares, mas quem as executa
é o juiz estatal. Em regra, é sigilosa. Carta Arbitral é o nome do procedimento de
pedido de colaboração entre árbitro e juiz.
Durante o processo no meio de jurisdição estatal e as partes quiserem passar para a
arbitragem é possível.
A responsabilidade civil do árbitro é contratual.

4 - PRINCÍPIOS JURISDICIONAIS
Princípio da investidura: A jurisdição deve ser exercida por quem tenha sido
investido na função jurisdicional

Princípio da inevitabilidade: A jurisdição é inevitável, pois não se pode fugir dela. O


que o juiz decide inevitavelmente submete a parte.

Princípio da indelegabilidadde da jurisdição: não pode ser transferida para outro


órgão, o juiz não pode delegar ao estagiário a prolação da sentença.
O juiz pode exercer quatro tipos de poderes:

Ordinatório – pôr o processo para andar – esse poder pode ser delegado – pode
delegar ao escrivão, por exemplo, de mandar citar o réu, de ouvir parte, a pratica de
atos de andamento do processo (art. 93, inc. XIV CF – autoriza expressamente que o
juiz delegue poderes ao servidor, e art. 162, §4° do CPC) podem ser delegados;

Instrutório – o poder que o juiz tem para determinar produção e a colheita de provas.
Poderes relacionados à instrução. Pode ser delegado, pois os Tribunais admitem
poderes instrutórios para os juízes a eles vinculados. Ex. caso do “mensalão”, que
tramitava no Supremo, com mais de 400 testemunhas que foram ouvidas por juízes
federais;
Decisório – o juiz não pode delegar o poder de julgar a causa para outro. Esse poder é
indelegável.

Executivo – é o poder de executar as decisões. Admite-se que seja delegado, por


meio do Tribunal que delegue ao juiz o poder de executar. Isso é amplamente aceito,
não é polêmico.

Princípio da territorialidade: a jurisdição sempre se exerce sobre um dado território,


há sempre uma limitação territorial para o exercício da jurisdição. O nome técnico da
delimitação jurisdicional é foro. Na Justiça Estadual o foro é chamado de Comarca
(pode abranger uma cidade ou grupo de cidades) ou Distrito (que é subdivisão da
Comarca – é sempre uma cidade (que é uma cidade menor que esta dentro da
Comarca), um bairro ou grupo de bairros). A Justiça Federal é dividida em seção
judiciária ou subseção judiciária, Seção Judiciária é sempre um Estado, Subseção
Judiciária vai ser sempre uma cidade ou grupo de cidades.

Imagine o seguinte caso:


Comarca A e B. Imóvel situado em ambas as comarcas. Ação que tramite na justiça
em relação ao imóvel na Comarca A, a decisão sobre o caso é efetivo sobre todo o
imóvel (art. 107 CPC) – extraterritorialidade.
Os atos de comunicação processual, citação e intimação eles podem ser realizados
pelo oficial de justiça nas comarcas da mesma região metropolitana ou em Comarcas
contiguas (fronteiriça). A jurisdição esta indo além da sua Comarca. Ressalte-se a
penhora não é ato de comunicação, mas de constituição, portanto, não possível
(art. 230 CPC).

PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL


O princípio do juiz natural decorre de dois enunciados constitucionais, os incisos
XXXVII e LIII, do art. 5° da CF. Ele é um corolário do devido processo legal. Tem uma
dimensão formal e uma dimensão material.
Dimensão Formal: garante a todos o direito de ser processado e julgado por juiz
competente; não é qualquer juiz competente tem que ser competente de acordo com a
lei. É garantia de ser julgado por um juiz que tenha competência definida em lei, que
seja para todos. Não se pode criar um juízo para julgar uma causa, de modo que
qualquer pessoa que se encaixe naquele padrão seja por ele submetido. Veda o
tribunal de exceção – que é criado excepcionalmente – para o julgamento de um
problema. Cria-se um juiz “ad hoc”- para isso. Feriria os critérios geral, abstrato.
Proíbe que o juiz se atribui competente, pois quem atribui a competência é o
legislador.
dimensão material: o juiz natural além de garantir um juiz competente, mas também
deve ser imparcial. Por isso existe a regra da distribuição, para não haver escolha do
juiz, de modo a preservar sua imparcialidade. (ver Reclamação 417 STF).

PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE
Esta no inc. XXXV do art. 5° da CF. A CF fala em lesão ou ameaça – pode-se ir ao
judiciário para impedir a lesão e para obter tutela preventiva (limitória). Pela primeira
vez na historia há menção a tutela limitória na CF. Direito – qualquer direito pode ser
levado a apreciação pelo poder judiciário. Não existe no Brasil direito que tenha sido
afastado pelo poder judiciário. Incluindo-se pelo verbo direito tanto direitos individuais
ou coletivos.
Quando a CF fala em poder judiciário leia-se jurisdição, pois há questões em que a
competência é do Senado (ex. julgamento de crime de responsabilidade cometido pelo
presidente da república – não se configura, portanto, exceção ao princípio da
inafastabilidade).
Em relação aos atos políticos – dizem que este não pode ser controlado pelo judiciário
– o ato político em si não pode ser controlado, mas se esse ato jurídico causar dano a
alguém ele estará causando lesão a direito, ai sim permitido. Para o professor, os atos
administrativos discricionários podem ser questionados na justiça – não tendo
problema – mas para se questionar esse ato administrativo discricionário é necessário
demonstrar a desnecessidade da escolha, foi uma escolha desproporcional, irrazoavel,
injusta.
Outro ponto a ser abordado é o tema da justiça desportiva, a CF no art. 217, §1°, diz
que só pode-se ir ao judiciário se esgotar-se o tema na justiça desportiva. Essa regra
excepcional é dada pela própria CF. Pode uma lei infraconstitucional criar outros casos
em que só se possa ir ao judiciário depois que esgotada administrativo da
controversa? 1 – A CF anterior, autorizava expressamente isso. 2- Na CF de 88 o
assunto não foi tratado. Muitas leis foram editadas a época de vigência da CF antiga, a
exemplo da relação de trabalho e do mandado de segurança. Hoje a lei de habeas
data e a lei que cuida da reclamação por desrespeito à súmula vinculante são no
mesmo sentido. As leis podem fazer isso, por significar uma limitação a um direito
fundamental. Essa limitação, contudo, deve ser razoável. Se no caso concreto, o autor
demonstrar que não pode esperar o âmbito administrativo, por se caracterizar uma
situação de urgência, o juiz deve aceitar a causa, mesmo se a lei condicionar.
A indeclinabilidade é a impossibilidade do juiz deixar de julgar.
Registre-se que o princípio da inafastabilidade garante o direito de ação, o direito de
acesso a justiça.

JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA
(exemplos: interdição, mudança de nome, adoção, retificação de registro, opção
de nacionalidade, divorcio consensual, naturalização)

CARACTERÍSTICAS GERAIS E INDISCUTÍVEIS DA JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

1 - É atividade de integração de direitos: o juiz integra a vontade da parte para


torná-la apta à produção de um determinado efeito jurídico.

2 - É uma atividade de fiscalização: o juiz fiscaliza a pratica de atos jurídicos para


verificar se eles estão regulares.

3- Costuma ser necessária: significa no mais das vezes, a jurisdição voluntaria cabe
em situações em que o sujeito só pode exercer indo a juízo. Aqui fica a critica ao nome
do instituto, pois não se pode chamar de voluntário o que normalmente é necessário.
4 – É essencialmente uma jurisdição constitutiva: cria,altera ou extingue situações
jurídicas.
5 - Se estrutura em um processo que segue o modelo inquisitivo: exemplos disso
os procedimentos que o juiz pode instaurar de oficio, art. 1129, 1160, 1171 todos do
CPC.

6- Contraditório: há contraditório na jurisdição voluntária, todos os interessados no


assunto devem ser citados na jurisdição voluntária – art. 1105 CPC. O MP não tem de
intervir em todo o procedimento de jurisdição voluntária – intervirá se for caso de sua
intervenção (art. 82 CPC).

7 – Se decide por sentença apelável: é texto expresso no código, art. 1110 CPC.

O artigo 1109 – surge uma clausula geral, abrindo para uma justiça de equidade –
permite ao juiz não observar a legalidade estrita, pois permite que se utilize da
interpretação que achar mais conveniente, se aplica tanto no processo como na hora
de decidir. Permite flexibilizar o processo e a sentença.
Exemplos:
1- interdição – diz o CPC que o juiz tem que ouvir o interditando, mas se ele estiver em
coma, ele pode usar dessa flexibilidade processual a partir do artigo 1109.
2- guarda compartilhada – antes, não havia previsão legal sobre esse instituto, mas
com a concordância de ambas as partes foi permitido a guarda compartilhada,
flexibilizando assim a sentença, a disposto no artigo 1109.

NATUREZA JURIDICA
A quem entenda que jurisdição voluntária não é jurisdição, é administração de
interesses privados exercida pelo juiz – que seria um ente com função administrativa
(VISÃO TRADICIONAL do tema, ainda majoritária). Partem da premissa de que não
se configura jurisdição porque não há lide. Suas conseqüências lógicas da não
existência de lide, por conseguinte não havendo ação (o certo seria falar em
requerimento). Não se poderia falar tampouco, em processo de jurisdição voluntária
(aqui o certo seria falar em procedimento da jurisdição voluntária. Não se poderia falar
ainda em partes, mas apenas em interessados. Dizem ainda que não se pode falar em
coisa julgada na jurisdição voluntária, mas apenas em preclusão;

Há quem entenda também que a jurisdição voluntária é jurisdição: Em contraposição a


visão tradicional diz-se que o juiz não decide apena lide, mas um problema, mesmo se
for dito que só há jurisdição se houver lide, na jurisdição voluntária também tem lide. O
que acontece aqui é que não precisa haver lide, não sendo pressuposto para sua
configuração, mas é possível. Tanto se pode dizer isso porque uma das características
da jurisdição voluntária é o contraditório que se consubstancia pela citação dos demais
interessados. Entenda-se, portanto, que na jurisdição voluntária não precisa haver lide
para sua constituição. Um exemplo disso é na interdição quando o interditando pode
vir a juízo dizer “que ele não é louco”.
Fala-se ainda de ação, que em regra é necessária. Fala-se ainda que é inadmissível
dizer que não existe processo em jurisdição voluntaria, pois há processo com todas as
garantias erigidas pelo princípio do devido processo legal. Ë claro, por obvio, que há
partes. Também se pode dizer que há coisa julgada para quem defende a natureza
jurisdicional da jurisdição voluntária. Há coisa julgada com base no mesmo artigo
usado para defender a visão tradicional onde prega a inexistência desse instituto (art.
1111 do CPC). Para quem é administrativistas a sentença que pode ser modificada
não representa coisa julgada. Mas para os jurisdicionistas, a sentença não pode ser
modificada, salvo por fato superveniente. A crítica a primeira corrente é que caso o juiz
negue o pedido da parte em alterar seu nome, a parte pode ingressar varias e varias
vezes com a mesma ação. Por isso o fato da sentença poder ser modificada apenas
por fato superveniente, precisa da mudança do fato.

COMPETÊNCIA

Conceito de competência: parcela de poder, quantidade de poder atribuída a algum


órgão, a um ente. Fala-se em competência legislativa, administrativa e jurisdicional.
Estudaremos portanto, parcela de jurisdição atribuída a um órgão jurisdicional.
Sempre que o legislador distribui a jurisdição aos diversos órgãos esta dando a cada
um deles competência.
Princípios que regem a competência:
1- Princípio do juiz natural: já estudado;
2- Princípio da indisponibilidade da competência: significa dizer que o juiz não pode
abdicar se sua competência (atribuída pelo legislador), só a lei regula os casos de
modificação de competência, por isso seu caráter indisponível.
3- Princípio da tipicidade das competências: significa que a competência é aquela
tipicamente prevista em lei. É preciso respeitar as hipóteses típicas de distribuição de
competência para evitar que os órgãos decidam fora de seus limites. # há casos em
que não há previsão expressa da competência, mas alguém deve ser competente.
Não pode existir uma situação em que não haja juízo competente. “Não há vácuo de
competência” Surge a chamada competência implícita que é a competência que
decorre de alguma previsão expressa, mas esta implícita. (ex. art. 102 da CF – não
encontra uma regra que diz que cabe ao STF julgar embargos de declaração, mas é
implícito que havendo embargos de declaração no Supremo é ele quem terá que
julgar).

Kumpetenzkϋmpetenz
(Regra básica sobre competência) Todo juiz pode decidir sobre sua competência.
Por mais incompetente que seja o juiz, sempre terá ao menos a competência de se
dizer incompetente.

DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA:
A primeira distribuição da competência é feita pela Constituição da Republica ao criar
cinco justiças. Que são a Justiça Federal, Justiça do Trabalho, Justiça Militar, Justiça
Eleitoral e Justiça Estadual (competência residual).

# O juiz que pega uma causa de outra justiça (juiz do trabalho que julga causa militar).
O juiz que julga causa fora da sua justiça (competência constitucional) é um juiz
incompetente ou é um não juiz? Ada Pelegrini Grinover defende que seria um não juiz,
diferente da posição majoritária que é causa de incompetência constitucional.
Ainda, distribuindo-se as competência a tarefa agora será das leis (constituição dos
Estados). Os regimentos internos dos tribunais também distribuem competência, só
que com a diferença de que o regimento interno pega a competência que coube ao
Tribunal advinda da CF e das lei e as distribui internamente.
O regimento não cria competência, mas sim a distribui. O STF já julgou
inconstitucional normas regimentais que atribuíam competência a um Tribunal sem lei.
A fixação ou determinação da competência esta regulado no artigo 87. No momento
em que a ação é proposta (aqui se considera proposta: na data da distribuição, ou se
não haver necessidade de distribuição na data do despacho inicial) se irá saber qual é
o juiz competente. Identificado que o juízo da causa é aquele, é irrelevante o que vai
acontecer depois, vai ficar portanto, naquele juízo, não importando o que aconteça
depois (regra da perpetuação da jurisdição – uma vez identificado o juízo competente
da causa lá ficará, pouco importando o que aconteça depois, se consubstancia em
regra de estabilidade do processo, para evitar que o processo fique “pulando”de vara
em vara). Ë claro que lá ficará é caso competente, o pressuposto é que o juízo é
competente. Há duas exceções a regra de perpetuação:
* supressão do órgão judiciário; se o juízo ou vara deixou de existir é necessário
redistribuir a causa;
* alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia: onde se lê
competência em razão da matéria ou da hierarquia, leia-se competência absoluta.
Sempre que durante o processo houver mudança de competência absoluta a causa
deve ser redistribuída. Não é qualquer mudança superveniente. Ex: Emenda
Constitucional 45 transferiu competência da Justiça Estadual para a Justiça do
Trabalho. # o juiz estadual estava coma causa em mãos, ele julgou a causa antes da
emenda constitucional, a parte apelou foi para o TJ. Vai apelação para a justiça do
Trabalho. Não porque não houve mudança da competência para processar o recurso.
Se já houve decisão não há que se falar mudança da competência. Processos já
julgados não são redistribuídos. Só se quebra a perpetuação se o processo estiver
para ser julgado.
A súmula 367 do STJ – ler.

Classificação da competência
Divide a competência em originária e competência derivada.
Competência originária: é a competência para conhecer e julgar a causa pela
primeira vez. A regra é de que a competência originaria é do juízo singular (juiz),
embora haja casos de competência originária de um Tribunal, a exemplo a
competência originária para uma ação rescisória de sentença
Competência derivada: é a competência para julgar a causa em grau de recurso, a
regra é de que essa competência seja exercida por Tribunal (instância recursal),
excepcionalmente, há casos em que um juízo singular tenha competência recursal a
exemplo os embargos de declaração.

Competência absoluta e relativa


Uma regra de competência absoluta é uma regra criada para atender interesse
público, por causa disso, não pode ser alterada pela vontade das partes, por conta
disso, o desrespeito a uma regra de competência absoluta gera uma incompetência
absoluta que pode ser conhecida de oficio pelo juiz. Pode ser alegada por qualquer
das partes por qualquer modo enquanto durar o processo.
Uma regra de competência relativa é uma regra criada para a proteção da parte, por
causa disso trata-se de regra que pode ser alterada pela vontade das partes, por conta
disso a incompetência relativa não pode ser conhecida de oficio pelo juiz, daí decorre
que apenas o réu pode alegar incompetência relativa, e no primeiro momento que lhe
couber falar nos autos, sob pena de preclusão. Existe um modo previsto em lei para a
alegação de competência relativa, que se chama de exceção de competência relativa,
que é uma peça processual avulsa, distinta da contestação.
Obs:
* Se o réu for incapaz o MP pode ingressar com a exceção de incompetência a favor
do mesmo.
* A jurisprudência tem tolerado a alegação de incompetência relativa dentro da
contestação e não por exceção. A incompetência pode ser alegada na contestação
qualquer que seja ela.

Quais são as conseqüências do reconhecimento da incompetência?


A incompetência absoluta gera nulidade dos atos decisórios, reconhecida a
incompetência relativa não causa problema algum com os atos já praticados. Qualquer
que seja a incompetência a causa será remetida ao juízo competente.
Obs. Há duas hipóteses em que a incompetência gera extinção do processo e não
remessa dos autos: a incompetência dos juizados gera extinção do processo, é por
isso que se entende nos juizados o juiz pode extinguir o feito de oficio – pois o
regramento nos juizados é distinto; é o caso de incompetência internacional (sendo
que a causa deveria ser ajuizada em outro país), não tem sentido o juiz reconhecer a
incompetência e remeter os autos a outro pais.

A modificação da competência relativa, além da forma tácita (aceite do réu, ao não se


pronunciar), há uma forma expressa da competência relativa que é o foro de eleição
ou foro contratual, é uma cláusula aposta em alguns negócios jurídicos em que as
partes definem o território onde as causas serão julgadas.
Nos contratos de adesão não se considera a eleição de foro como abusiva, mas pode
ser considerada na analise do caso concreto. “Reconhecida a abusividade do foro de
eleição o juiz pode remeter os autos de ofício ao domicilio do réu.” Art. 112, § único do
CPC combinado com o art. 114.

CRITÉRIOS PARA DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA


A doutrina identifica três critérios para a distribuição da competência, que combinam
entre si.
1 – Critério objetivo: é o critério de distribuição da competência a partir dos
elementos da demanda. É o tipo da demanda que vai fazer com que a causa seja
distribuída nesse ou naquele juízo. Possui três elementos:
a) a parte (competência em razão da pessoa, ex. se a União fizer parte do processo
fala- se em Justiça Federal, outro exemplo é as varas da fazenda pública – súmula
206);
b) o pedido competência em razão do valor da causa (ex. juizados). Ressalte-se que
os juizados da fazenda pública combinam o elemento a e b (parte e pedido);
c) causa de pedir Competência em razão da matéria (pela natureza da relação
jurídica discutida. Ex. trabalho, família, penal – vara do trabalho, vara de família vara
penal). Pode haver combinação dos três elementos. A competência em razão da
matéria é uma competência absoluta).

2 – Critério funcional: há diversas funções para o juiz desempenhar durante o


processo, desde receber a petição inicial, mandar citar o réu, instruir. O legislador
reparte essas funções em diversos órgãos. Essa repartição das funções a serem
exercidas em um processo entre diversos órgão se chama competência funcional.
Competência para o exercício de uma função dentro do processo. A competência
funcional é absoluta. Que pode ser visualizada em duas dimensões:
a) dimensão horizontal que é a distribuição das funções na mesma instancia;
b) dimensão vertical que é a distribuição entre instancias – é o caso da distribuição
da competência originária e derivada;

3 – Critério territorial:

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