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Profª Wanda Maria Lima
1. OS ATOS JURISDICIONAIS
Os atos jurisdicionais são classificados em:
• Despacho
• Decisão interlocutória
• Sentença
Atentem para a origem etimológica da palavra “jurisdicionais”. Assim,
estão excluídas as atividades administrativas, ou seja, o que o juiz faz
administrativamente.
1.1. Despacho
b.1) Decisão Interlocutória Mista Não Terminativa (ou com força de definitiva)
São aquelas que encerram uma etapa procedimental, tangenciando o
mérito, porém sem causar a extinção do processo. Exemplo: pronúncia. Ela é não
terminativa. Se é não terminativa, claro que não terminou o processo. Uma pronúncia
não encerra o processo. Ao contrário, se tem pronúncia significa que a fase do júri foi
definida. A pronúncia é fundamento para a segunda fase. O que a pronúncia faz é
encerrar o que chamamos de iuditium accusationis, que é a primeira fase do júri.
2. CONCEITO DE SENTENÇA
É a decisão que julga o mérito principal, ou seja, a decisão que condena
ou absolve o acusado.
Acaba com o processo, com ou sem julgamento de mérito. As sentenças são
classificadas em 5 espécies de sentença:
4. Sentença que julga uma ação autônoma – Isso dentro do processo penal.
E o que é uma sentença que julga uma ação autônoma? Você liga ação
autônoma com mandado de segurança, habeas corpus, revisão criminal. São
ações autônomas. Não são recursos. Claro que cumprem a função de
recurso, mas não são recursos. Quando o juiz sentencia um HC, ele está
sentenciando uma ação autônoma. Não é absolutória, não é condenatória.
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Toda essa classificação e divisão tem pouca importância teórica, mas tem
importância prática no estudo dos recursos. Qual é o recurso, em regra, cabível de uma
decisão no processo penal? É o RESE. Pela regra geral é o RESE. Se da
decisão interlocutória não cabe o RESE, porque ele é numerus clausus, se a decisão
não entra no art. 581, o recurso é a apelação.
4.1. Requisitos
4.1.1. Relatório
Consiste no resumo das principais etapas do procedimento e dos incidentes
que, eventualmente, tenham sido suscitados ou resolvidos no curso do processo.
Ressalvada a hipótese do art. 81, § 3º, da Lei 9.099/95, que dispensa o relatório nas
sentenças do Juizado Especial Criminal, a ausência dessa formalidade é causa de
nulidade absoluta da sentença, já que se trata de formalidade essencial do ato (art.
564, IV, do CPP).
4.1.2 Fundamentação
É requisito geral das decisões judiciais, decorrente de previsão inserida na
CF/88 (art. 93, IX). Consiste no raciocínio lógico realizado pelo juiz a partir do contexto
probatório inserido ao processo. A motivação deverá abranger tanto as matérias de fato
relativas à autoria e à materialidade como as matérias jurídicas que constituem as
teses de acusação e defesa.
4.1.3 Dispositivo
Trata-se da conclusão da sentença, ou seja, é o momento em que, levando em
consideração o raciocínio lógico realizado pela etapa anterior, o julgador condena ou
absolve o réu, indicando os respectivos dispositivos legais.
Desde que uma sentença transitou em julgado, ninguém mais vai poder
modificar. Nem o juiz dentro do processo e nem outro juiz ou tribunal em outro
processo. Essa é a garantia da coisa julgada.
Não existe coisa julgada material sem a formal porque primeiro se dá a coisa
julgada no processo. Depois se impede que outro processo reexamine aquela causa.
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Qual é a função cativa da coisa julgada? Ela impede novo processo sobre o
mesmo fato. E o detalhe: este é o famoso princípio do ne bis in idem. Ou seja, não
pode repetir. A coisa julgada impede a rediscussão do caso.
A hipótese que se pode rediscutir a coisa julgada por meio de instrumento
colocado à disposição do réu é a Revisão criminal. É a única hipótese no processo
penal para rediscussão da coisa julgada. A revisão criminal é o instrumento que desfaz
a coisa julgada. A Revisão no Brasil somente pro reo, ou seja, não existe, no direito
brasileiro, revisão pro acusação, chamada revisão pro societate.
A coisa julgada no Brasil, portanto, é absoluta ou relativa? Resposta: em
regra, a coisa julgada no processo penal é relativa. No processo penal, diferentemente
do processo civil, a coisa julgada sempre foi relativa porque se admite a revisão
criminal. E quando ela é absoluta, que não tem exceções? Ela é soberana quando a
sentença for absolutória.
Algumas questões:
Um réu foi absolvido por falta de prova. Trânsito em julgado. No mês seguinte,a
polícia encontrou um caminhão de prova. O que você pode fazer? Quando ele foi
julgado, não havia prova, não havia testemunha e transitou em julgado. No mês
seguinte, a vítima e as testemunhas compareceram perante o MP. O que o MP pode
fazer? Nada porque não existe revisão criminal para o MP.
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Qual é a hipótese em que o réu pode ser processado e condenado duas vezes
validamente? Quando alguém pergunta: pode o réu ser processado e condenando
duas vezes? A resposta é: não, em geral isso é ne bis in idem. Mas há uma exceção:
extraterritorialidade da lei penal brasileira. Neste caso, dois processos, duas
condenações, ambas válidas. Uma no estrangeiro e outra no Brasil. O crime ocorrendo
no estrangeiro, normalmente não aplica a lei brasileira. Mas nas hipóteses de
extraterritorialidade aplica-se a lei brasileira.
Obs: é comum o juiz, ao fim da sentença, escrever a expressão “P. R. I.”, que quer
dizer “Publique-se. Registre-se. Intime-se.”, que são as ordens de praxe para dar
eficácia à sentença proferida.
Outra inovação trazida pela referida lei e contida no art. 387, §1º, do CPP é
a que estabelece que o juiz, ao proferir sentença condenatória, deve decidir, de forma
fundamentada, sobre a manutenção ou decretação da prisão preventiva, ou seja, o juiz
sempre que condenar alguém deverá verificar se estão ou não presentes os requisitos
da prisão preventiva.
SENTENÇA ABSOLUTÓRIA
O art. 386 do CPP enumera as hipóteses em que o réu deve ser absolvido. É
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importante compreender tais incisos para utilizá-los nas alegações finais, no momento
em que é feito o pedido.
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que
reconheça:
I - estar provada a inexistência do fato;
Ex: a vítima do homicídio aparece viva, a vítima do furto diz ter perdido os objetos que
haveriam sido furtados pelo réu.
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal; (redação nova)
Ex: há prova da existência do crime e também há prova de que foram outras pessoas
que o cometeram ou que o réu não o cometeu (por exemplo, o réu comprova que
estava em outro local no momento do crime). Aqui fica cabalmente rompido o nexo
entre o réu e o crime.
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal; (redação nova)
Ex: há o crime, mas não há prova para condenar o réu.
responsabilidade pelo início das agressões e as provas não esclarecem o fato. A única
solução é absolver ambos. Este inciso é criticado por Pacelli, pois “chove no molhado”,
afinal poder-se-ia utilizar os incisos II ou V, caso a prova não fosse “suficiente”.
PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO
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Significa que a sentença deve guardar plena consonância com o fato descrito na
denúncia ou queixa. O juiz só pode julgar aquilo que está sendo submetido à sua
apreciação. Este princípio se submete a algumas regras de suma importância
presentes nos artigos 383 e 384 do CPP.
Emendatio libelli (art. 383, CPP) – “O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na
denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em
conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave”.
Ex: MP tipificou por furto mediante fraude (pena mínima de 2 anos), juiz condenou por
estelionato (pena mínima de 1 ano). Após o MP manifestar o desejo de não recorrer o
juiz remeterá novamente o processo para o MP para que este ofereça a suspensão.
Ex: Juiz altera o artigo de lesão corporal seguida de morte para homicídio doloso. Terá
que remeter para o Tribunal do Júri.
Mutatio libelli (art. 384, CPP) – “Encerrada a instrução probatória, se entender cabível
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Este instituto pressupõe que, a peça inicial acusatória descreva um fato, mas as provas
carreadas ao processo demonstrem fato típico diverso. Neste caso o promotor deverá
aditar a denúncia ou a queixa (na ação penal privada subsidiária da pública) para que
seja efetuada a correção.
Obs: elementar altera a estrutura do crime, ou seja, faz com que desapareça ou surja
outro. Já a circunstância aumenta ou diminui a pena, porém o tipo fundamental
continua o mesmo.
Ex: a denúncia descreve uma subtração praticada sem violência ou grave ameaça, ou
seja, um furto e, na colheita de provas, demonstra-se ter ocorrido a violência. Deverá o
MP aditar para descrever o crime de roubo na inicial. Neste caso a pena é mais grave.
Grave ameaça e violência são elementares do roubo. O mesmo ocorreria caso fosse
descrito um crime simples e na instrução ficasse demonstrado ser um crime qualificado
ou com causa de aumento. Ou seja, circunstâncias do crime.
É o Ministério Público quem deve ter a iniciativa para fazer o aditamento para
que não haja ofensa ao sistema acusatório. Porém o legislador, que ia bem na reforma,
pecou ao prever que, caso o promotor não o faça, o juiz deverá utilizar o artigo 28 do
CPP, remetendo os autos ao Procurador Geral de Justiça. Isso é criticável segundo
Rangel, pois se o juiz entender que o réu não praticou o fato descrito na exordial, mas
outro fato qualquer, deveria absolvê-lo pela ausência de materialidade do fato descrito
na inicial. Do jeito que ficou continuou o juiz, de forma inquisitória, imiscuindo-se na
titularidade da ação penal pública ao provocar o incidente do artigo 28, CPP.
Obs: caso seja ação penal privada exclusiva, caberá ao querelante o aditamento, não
havendo aplicação do artigo 28, CPP.
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5. QUESTÕES CONTROVERTIDAS
Limite objetivo da coisa julgada - A sentença tem 4 partes. Que parte transita
em julgado? É a parte decisória, que está no dispositivo. Leia-se, então, não é o
dispositivo que transita em julgado, mas a parte decisória que está dentro do
dispositivo. O que transita em julgado é: “isso posto, condeno; isso posto absolvo.” O
julgamento é imutável. Os fundamentos da sentença não fazem coisa julgada. O limite
objetivo da coisa julgada é a parte decisória. Os fundamentos não transitam em julgado
e mais: a coisa julgada se refere a um fato. Não existe coisa julgada sobre uma ideia,
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uma opinião. Coisa julgada versa sobre fato e aí, quando há um fato, você conclui: fato
julgado jamais pode ser repassado. O fato fica delimitado na narrativa do MP e depois
na sentença. Mas cuidado.
Fato e realidade histórica –Se parte do fato foi julgada, não pode haver novo
processo, ainda que se discuta toda realidade histórica. Ex.:Vamos julgar só uma parte
da realidade histórica. Réu condenado por furto. Transita em julgado o furto. Dez anos
depois, a vítima vem narrar que, na verdade, o condenado apontou uma arma para a
cabeça dela. Isso é descoberto depois da coisa julgada. O fato julgado compõe uma
realidade histórica e toda a realidade histórica deste fato se torna imutável. Morreu,
acabou. Vai ser sempre morto. O que está julgado é toda realidade histórica. Acabou,
ninguém mais mexe naquele caso. Diante disso, alguns probleminhas básicos:
autônomos. Só foi julgado um, logo, cabe processo quanto ao segundo fato.
Crimes de conteúdo múltiplo – A exemplo das drogas e tráfico – Art. 33, da Lei
de Drogas. O art. 33 contempla muitos verbos, é crime de conteúdo múltiplo ou
variado. O princípio que rege os crimes de conteúdo múltiplo é o Princípio da
alternatividade. Vários verbos praticados no mesmo contexto fático é crime único.
Conclusão: quem foi julgado por um fato, por exemplo, 1 kg de cocaína. Aquele quilo
de cocaína é um fato. Posso praticar 500 verbos em cima desse quilo de cocaína
(emprestar, dar, vender, guardar...). O crime é único. Não se discute mais esse quilo de
cocaína. A surpresa é que o réu fez tudo isso (guardou, vendeu, emprestou) e foi
condenado a 5 anos de reclusão. A polícia foi na casa dele ontem e havia 100g
daquele quilo debaixo do colchão. Logo, é fato já julgado. Acabou.
FIM
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