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RAL - Apontamentos das aulas

Aula 1 -01/03/2021

SLIDES DO PROFESSOR:

Introdução aos Meios de resolução alternativa de litígios: noção, conceitos e critérios

Os diversos Governos em Portugal, desde os anos 90, em particular desde o início do séc.
XXI*, têm investido na criação de centros de arbitragem institucionalizada (na área do direito do
consumo, do direito administrativo, propriedade industrial e na ação executiva), na instalação
de Julgados de Paz e na implementação de serviços de mediação (laboral, familiar e penal).

*Vide Resolução do Conselho de Ministros n.º 175/2001, de 5 de dezembro.

Os juristas são treinados para, perante um caso, encontrarem a solução que melhor se adapte
aos conceitos apreendidos num determinado ramo do Direito (ou em vários), de acordo com as
regras próprias da metodologia do Direito.

O raciocínio é fundamentado em critérios exclusivamente jurídicos, num exercício


argumentativo que permita alcançar a melhor solução de acordo com o espírito da lei e com o
sistema jurídico

Os MRAL questionam a hegemonia do Direito material legislado, pretendendo encontrar


soluções diversificadas para os problemas.

O que é alternativo é a abordagem ao litígio, a perceção das suas características não jurídicas -
sociais, psicológicas, etc. – sendo estes métodos transversais a todas as áreas do Direito e da
sociedade, tendo aplicação desde o conflito de vizinhança até a um conflito internacional.

O conhecimento dos diferentes modos de tratamento do litígio é tão importante quanto a


tradicional aprendizagem do direito adjetivo.

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Não só porque o investimento e incentivo público tem sido constante e gradualmente maior,
mas porque se trata de um instrumento de melhoria da qualidade do nosso sistema público de
Justiça.

Conhecendo os MRAL poderão os juristas aconselhá-los e utilizá-los. Só assim se criará a


convicção de que o tribunal é (somente) um dos vários recursos disponíveis para a solução de
um litígio.

Noção

Os MRAL, tradução da designação inglesa alternative dispute resolution, podem definir-se


como o conjunto de procedimentos de resolução de conflitos alternativos aos meios judiciais.

Atendendo que não existe uma tipologia conceptual fechada a inserção de um método nos
MRAL faz-se pela negativa (não é judicial)

Paula Costa e Silva, em A Nova Face da Justiça (2009), propôs a sua substituição para meios
extrajudiciais de resolução de controvérsias

Esta distinção não é, porém, suficiente para enquadrar como MRAL a conciliação judicial, tal
como estava prevista no artigo 509.º CPC*.

A tentativa de conciliação aí prevista é conduzida por um juiz no âmbito de um processo


judicial. Não se trata portanto de um meio de resolução de litígios não judicial, embora se funda
no consenso.

*Revogado pela Lei n.º 41/2013, de 26 de junho, artigo 4.º - norma revogatória do CPC.

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A definição de RAL deve, assim, ser alargada a todos os meios de resolução de conflitos que
sejam diferentes da decisão por julgamento em tribunal judicial.

Distinção entre os MRAL segundo 3 critérios:

- voluntário ou obrigatório;

- adjudicatório ou consensual;

- centrado nos interesses ou nos direitos.

Os MRAL são, em regra, ​voluntários – depende unicamente da vontade das partes aderir ou
não a um mecanismo alternativo. No entanto, ainda dentro dos MRAL podemos encontrar
meios obrigatórios. Desde logo a arbitragem necessária, imposta por lei.

Em segundo lugar, os Julgados de Paz, se entendermos que a sua jurisdição não está na
disponibilidade do autor.

O STJ decidiu, em acórdão de uniformização de jurisprudência de 24.05.2007, que a


competência dos Julgados de Paz é alternativa, estando na disponibilidade do autor a opção
entre estes tribunais ou os tribunais judiciais.

Se se optar por este entendimento, os Julgados de Paz serão um meio voluntário de resolução
de litígios. Noutros países têm sido experimentados sistemas de mediação obrigatória, não
sendo portanto impossível teoricamente a sua existência.

São, assim, voluntários a negociação, a mediação, a conciliação e a arbitragem voluntária.

É obrigatória a arbitragem necessária.

Os Julgados de Paz serão voluntários ou obrigatórios conforme a posição que se tome sobre a
sua competência.

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Os MRAL podem ainda ser ​adjudicatórios​ ou ​consensuais​.

Os ​mecanismos adjudicatórios (v.g. a arbitragem) são aqueles que atribuem o poder de


decisão a um terceiro.

Os ​consensuais aqueles que visam a solução através da obtenção de um acordo,


permanecendo nas partes a capacidade de decisão do litígio.

Por fim, ​os MRAL podem ter outras duas perspetivas: - a dos direitos - dos interesses

A ​perspetiva dos direitos é a tradicional, a dos tribunais judiciais. É a que surge na arbitragem
e em regra na conciliação. Baseia-se na discussão dos argumentos legais de cada parte
(incluindo a prova).

A outra ótica tem como ponto de vista os interesses das partes​, desconsiderando o que o
Direito determina sobre o seu caso. Tenta conciliar interesses e não direitos, procurando a
pacificação do conflito em detrimento da solução juridicamente correta. A mediação é um
MRAL baseado nesta perspetiva.

Foram referidos alguns MRAL como a ​negociação​, a ​mediação​, a ​conciliação e a


arbitragem​.

Há, porém, muitos mais, indicados pela doutrina e conhecidos em outras ordens jurídicas.

Por exemplo:

- o ​mini-julgamento​ (minitrial e o summary jury trial)

- a ​avaliação neutral​ prévia (early neutral evaluation)

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O ​mini-julgamento foi um procedimento criado em 1976 num litígio complexo de patentes e


marcas.

Implica um painel neutral que ouve as alegações de cada uma das partes e lhes coloca as
questões que julga importantes.

Após as alegações, as partes reúnem-se para tentar chegar a um acordo. Se tal não acontecer,
então o terceiro neutral dá a sua opinião sobre o que será a decisão judicial do caso.

Em função dessa opinião as partes reiniciam a negociação com vista à obtenção de um acordo.

A ​avaliação neutral prévia foi desenvolvida nos tribunais federais da Califórnia, como forma
pré-judicial de resolução de litígios.

Numa sessão confidencial, as partes e os seus advogados apresentam o caso perante um


terceiro.

Esse terceiro, que por regra é um advogado, informa-as dos pontos fortes e fracos das suas
posições, iniciando-se de seguida a negociação do caso.

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