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FACULDADE DE DIREITO
LICENCIATURA EM DIREITO
O Candidato O Supervisor
_________________________ __________________________
Assinatura:__________________________________________________
III
RESUMO
O abuso sexual de menores é um dos crimes mais complexos e de elevada prevalência em Moçambique e no
mundo. Este acarreta consequências nefastas e duradouras para as suas vítimas, assim como danos ao nível do
desenvolvimento físico e psicológico. O trabalho exposto tem como objectivo geral, compreender os contornos
do abuso sexual de menores no sentido de prevenir, alertar e preparar os menores para eventuais situações de
abusos sexuais. As crianças são em regra geral, alvos especialmente mais vulneráveis pelo facto de serem
pequenas, dependentes e indefesas. Devido ao factor idade, as crianças dispõem de menos recursos para escapar
e resistir ao ataque dos agressores e às múltiplas formas de violência a elas perpetrada para além de ser uma
testemunha silenciosa em tantas situações de violência, a própria criança é um alvo preferido dos agressores
no seio familiar. Para a realização do presente estudo recorreu-se ao método qualitativo, o qual permitiu analisar
e compreender o tema em estudo, e por sua vez, para facilitar a interpretação e discussão dos resultados, os
dados foram agrupados em classes bem como as respectivas respostas e a percentagem, isto é, numa
representação gráfica. Contudo, o crime de abusos sexuais é uma problemática que prejudica a vida de muitas
crianças, assim como se torna mais evidente a necessidade da existência de mais pessoas, profissionais, entre
outros, focados na prevenção e combate deste tipo de criminalidade.
Palavras-Chave: Abuso Sexual, Menores, Família, Prevenção.
IV
ABSTRAT
The sexual abuse of minors is one of the most complex and highly prevalent crimes in Mozambique and in the
world. This entails harmful and lasting consequences for its victims, as well as damage to physical and
psychological development. The work exposed has the general objective of understanding the contours of sexual
abuse of minors in order to prevent, alert and prepare minors for possible situations of sexual abuse. Children
are, as a rule, particularly vulnerable targets because they are small, dependent and helpless. Due to the age
factor, children have fewer resources to escape and resist the attack of aggressors and the multiple forms of
violence perpetrated on them. Within the family. To carry out the present study, the qualitative method was used,
which allowed the analysis and understanding of the topic under study, and in turn, to facilitate the interpretation
and discussion of the results, the data were grouped into classes as well as the respective answers and the
percentage, that is, in a graphical representation. However, the crime of sexual abuse is a problem that harms the
lives of many children, as well as the need for more people, professionals, among others, focused on preventing
and combating this type of crime.
Keywords: Sexual Abuse, Minors, Family, Prevention.
V
AGRADECIMENTOS
Com a finalização deste trabalho de graduação não posso deixar de agradecer a algumas
pessoas que, directa ou indirectamente, me ajudaram nesta caminhada tão importante da
minha vida pessoal e profissional. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Deus, por tudo
que tenho e por tudo que sou, por cada instante da minha vida, muito obrigado Senhor.
A minha mãe Fátima António, por ter sido uma grande mulher nesta caminhada de tantos
anos, colaborando com a minha formação.
A minha companheira Evelina Sinoia, que sempre acreditou no meu potencial e sempre está
ao meu lado, em todos os instantes.
Aos meus irmãos Patrício Raimundo e Jorge Raimundo, por terem sido fonte inspiradora
desta realização, pelo apoio incondicional e por todos os momentos em que passamos juntos,
pelas conquistas compartilhadas.
A minha tia Domingas Manuel, que sempre me incentivou e muito colaborou para que eu
chegasse a essa ocasião tão especial em minha vida.
Ao meu Orientador Msc. Nito Agostinho Cebola, pela colaboração e orientação durante esta
pesquisa, o meu caloroso agradecimento. A todos, muito obrigado!
VI
DEDICATÓRIA
Dedico essa conquista ao meu pai Raimundo Basílio (in memoriam), pois tenho certeza de
que ele sempre me acompanhou durante essa caminhada e sonhou com esse momento, e de
que hoje, junto de Deus, está muito feliz com a realização deste trabalho.
Às minhas filhas Erlin e Radija, que são anjos enviados por Deus para me trazer uma vida de
alegria, esperança e magia, eu dedico muito mais do que este trabalho: a todas as crianças e
adolescentes que ao longo da história da humanidade sofreram com a violência.
VII
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico1: Referente às respostas da pergunta 2.1 da pesquisa (Tem algum conhecimento sobre
a ocorrência da violação de menores na tua localidade?) …..................…………………......33
Gráfico 2: Referente às respostas da pergunta 2.2 da pesquisa (Sabe dizer o que é uma
violação sexual de menores? ....................................................................................................34
Gráfico 3: Referente as respostas da pergunta 2.3 da pesquisa (Em que instituições públicas
ou privadas ocorrem casos de violação sexual de menores ao nível da sua
localidade?................................................................................................................................35
Gráfico 4: Referente as respostas da pergunta 2.4 da pesquisa (Na sua opinião, quais são as
causas que propiciam a violação de menores em sua
localidade?)...............................................................................................................................36
Índice
VIII
DECLARAÇÃO DE HONRA..................................................................................................III
RESUMO..................................................................................................................................IV
ABSTRAT.................................................................................................................................V
AGRADECIMENTOS.............................................................................................................VI
DEDICATÓRIA......................................................................................................................VII
LISTA DE GRÁFICOS.........................................................................................................VIII
CAPITULO I: INTRODUÇÃO..............................................................................................1
1.1. Contextualização..............................................................................................................1
1.2. Problematização...............................................................................................................1
1.3. Hipóteses..........................................................................................................................2
1.4. Objectivos.........................................................................................................................2
1.5.1. Justificativa...................................................................................................................3
2.1.5. Criança........................................................................................................................12
2.1.8. Violência.....................................................................................................................15
IX
2.1.9. Tipos de Abuso Sexual................................................................................................16
2.1.9.6. Denúncia...................................................................................................................24
3. Metodologia......................................................................................................................29
3.1. Métodos..........................................................................................................................29
3.6.2.1. Entrevista..................................................................................................................31
3.6.2.2. Questionário.............................................................................................................31
X
4.1. Interpretação gráfica das respostas resultantes da entrevista a cerca “Abuso sexual de
menores”................................................................................................................................33
5.1. Conclusões.....................................................................................................................38
5.2. Recomendações..............................................................................................................40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................42
ANEXOS...............................................................................................................................49
XI
CAPITULO I: INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização
O presente trabalho surge como forma de analisar os contornos do “Abuso sexual de
menores”, na localidade de Chidzolomondo distrito de Macanga Província de Tete. E através
de estudos e experiências técnicos científicas, pretende-se esboçar políticas públicas claras,
estruturantes, reformadoras e estratégias profiláticas - preventivas de reduzir os abusos
sexuais contra menores, com o fim de contornar variáveis que influência este mal
principalmente no desrespeito pelos direitos das crianças. Neste contexto, a questão da
violação sexual contra crianças em Moçambique tem sido visto sob várias vertentes desde o
particular até o judicial, isto é, desde ao facto de que a violação ocorre em ambiente familiar,
escolar, de acolhimento até ao momento em que o caso é levado aos tribunais. Poucas são as
famílias que têm denunciado essa prática; quer seja para manter a honra da família, preservar
a dignidade da menor violada e por vezes calam-se por receio, de que venha- lhes acontecer
uma retaliação em consequência da denúncia. É nesta perspectiva que neste projecto propõe-
se a debruçar sobre este fenómeno social como acima se referiu, com o tema “Abuso sexual
de menores” enfocando-se na problemática da violação dos Direitos da criança, superiormente
estatuídos na Constituição da Republica de Moçambique (CRM). O projecto é constituído
por 05 capítulos, sendo o primeiro a Introdução, Seguido pela Fundamentação Teórica, a
Metodologia a usar, Análise e discussão de resultados, Conclusões (Resultados esperados),
Recomendações e finalmente as Referências bibliográficas.
1.2. Problematização
Para Amendola (2009) “a violência sexual contra crianças, também designada: abuso sexual,
agressão sexual, vitimização sexual, maus tratos, sevícia sexual, crime sexual, e outros tantos
termos utilizados, indiscriminadamente, na literatura, como sinônimos, reflecte, não apenas
uma questão de terminologia, mas principalmente uma questão epistemológica, segundo a
qual a complexidade e a diversidade das manifestações da igreja violência sexual, seja
tratado conforme opiniões e ideologias individuais e/ ou compartilhadas pela cultura na
qual o indivíduo está inserido” (p.200).
O abuso sexual é o contacto físico com crianças para fins sexuais com ou sem uso de força,
até mesmo com o seu consentimento. Seja qual for o caso, o abuso sexual nunca é culpa da
criança. São também formas de abuso sexual as carícias sem consenso, beijo forçado,
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insinuações, tentativa de beijar com uso da força, propostas indecentes e tentativa de fazer
relação sexual.
O abuso sexual pode afectar o estado de saúde físico e mental da criança, além de prejudicar o
seu desenvolvimento, a sua habilidade para aprender e estudar, a sua socialização e até em
alguns casos causar a morte. Sobretudo, a maior parte das crianças que são abusadas
sexualmente conhecem os seus agressores. São, na maioria das vezes, parentes, professores,
vizinhos ou conhecidos da criança. Cada criança tem uma forma de reagir ao abuso sexual.
Algumas crianças podem ser expostas a situações que ponham a sua vida em risco, como a
infecção com o HIV e a gravidez muito precoce. Perante os aspectos acima expostos,
colocasse a seguinte questão: Que medidas podem ser tomadas para proteger e prevenir
situações do abuso sexual de menores na localidade de Chidzolomondo?
1.3. Hipóteses
1.3.1. Hipótese Primária
Políticas públicas penais ou processuais de sensibilização a ser levadas a cabo por
diversas entidades administrativas e da Justiça, podem evitar a Violação dos Direitos
Fundamentais dos Cidadãos e das crianças;
1.4. Objectivos
São objectivos deste projecto os seguintes:
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CAPITULO II: REVISÃO DA LITERATURA
A maior parte das crianças que são abusadas sexualmente conhece os seus agressores. São, na
maioria das vezes, parentes, professores, vizinhos ou conhecidos da criança. Cada criança tem
uma forma de reagir ao abuso sexual. Algumas crianças podem ser expostas a situações que
ponham a sua vida em risco, como a infecção com o HIV e a gravidez muito precoce.
Caim matou Abel, enquanto zeus sequestrou o jovem Ganimedes para lhe
servir de copeiro e amante. O livro A Vida dos Doze Césares, de Suetônio,
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registrou as inclinações sexuais do imperador romano Tibério com
crianças: ele se retirou para a ilha de Capri com várias crianças
pequenas, as quais forçavam a cometerem atos sexuais vulgares e a
atenderam a seus desejos pornográficos.
No Oriente Antigo, em meio a um período de declínio, surge o rei Hamurabi de Babel (1728-
1686 a. C) que criou o mais antigo código do mundo, o Código de Hamurabi, o qual tinha
como introdução “disciplinar o mal e os maus-intencionados e impedir que o forte oprima o
fraco”. Esse grande legislador tinha como objetivo primordial a aplicação do direito de forma
mais humana. As leis em seu código disponibilizavam especial atenção às viúvas, aos órfãos,
aos filhos expostos às sevícias de um pai tirano e às mulheres indefesas. Para uma época em
que não havia proteção para a criança exposta a sevícias de seus cuidadores, esse código foi
um grande passo em prol da proteção da infância no oriente.
Na civilização hebraica, condenava-se, através da lei mosaica, escrita pelo patriarca Moisés, o
casamento de um homem ou uma mulher com neto (a), irmão (ã), com mãe e filha, sobrinha,
tais uniões eram tidas como abomináveis à sociedade hebréia. Dentro dessa visão, no âmbito
familiar, constata-se que a criança, nessa questão, estava preservada de casamentos precoces
com adultos. Em certo ponto a infância estava preservada dos casamentos arranjados com
adultos, contudo esses atos mantiveram-se patentes por muito tempo no Egipto e pelo povo
cananeu, pois esses povos faziam os casamentos, justamente, para não passar a herança para
outras famílias ou não misturar a linhagem nobre e, com isso, mantinham suas herdades.
Entretanto, a crianças estavam expostas a uniões desiguais, tanto física como
psicologicamente.
Cáceres (1996, p. 68) fala que a sociedade espartana tinha o homem como um guerreiro, este
por sua vez era tirado do seio de sua mãe desde a infância, a partir dos 6 anos de idade, para
ser treinado para a guerra, após completar trinta anos de idade voltava para o seu lar, visando
constituir uma família. Diante da literatura encontrada sobre essa sociedade, presume-se que
os espartanos não distinguiam a infância da fase adulta, desde cedo a criança era tratada
como adulto. Contudo o pior era quando esta apresentasse algum defeito físico ou pelo
mesmo aparentasse, logo era preparada para a morte precoce. Azambuja, citando Malet (p. 24
e 24), narra que em Esparta “a criança ao nascer era examinada pelos anciãos da tribo. No
caso de apresentar alguma imperfeição, era lançado nos rochedos de Taigeto.”
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No período da Idade Média, no Ocidente, a noção de criança, simplesmente, não existia,
todavia esta concepção não significava que ela fosse negligenciada ou até mesmo
abandonada, uma vez que o sentimento da infância não significava o mesmo que afeição. Não
havendo esta noção, a criança, logo que estivesse sem a necessidade dos cuidados maternos
básicos, era vista como um adulto e desta forma crescia. Havia, também, uma alta taxa de
mortalidade nesta faixa etária e, devido a esta situação, ela simplesmente não era contada
quando muito pequena, pois a morte estava iminente e o pensamento de perda era visto como
algo comum e corriqueiro.
Assim, em relação a vida cotidiana, logo que fosse passado o risco de morte, ela estava
misturada com os adultos, seja em reuniões de trabalho, passeio ou em jogos. Em qualquer
lugar, mesmo nas tavernas mal-afamadas, lá estava a criança junta com os adultos. Assim ela
“aprendia a viver” para mais tarde se tornar adulta. E um dos fatores mantenedores deste
sentimento correspondia ao fato que desde cedo ela ficava separada dos pais, entregue a
famílias estranhas, para que estas lhe ensinassem como se tornar um homem digno, portanto,
os pais estavam impossibilitados de nutrir um sentimento existencial profundo com os seus
próprios filhos (Ariés, 1981, p. 158).
Na criação cultural, a criança era vista como um adulto em miniatura, pois os artistas
retratavam a concepção da época, vendo-a como um homem em pequenas proporções.
Pode-se perceber esta afirmativa pelo relato de Ariés (1981, p. 15) sobre uma miniatura
otoniana do século XI.
O tema é a cena do Evangelho em que Jesus pede que se deixe vir a ele as
criancinhas...Ora, o miniaturista agrupou em torno de Jesus oito
verdadeiros homens, sem nenhuma das características da infância: eles
foram simplesmente reproduzidos numa escala menor.
No que se refere à aprendizagem, os colégios eram depósitos para estudantes pobres, não
havia ensino nestas instituições, elas eram fundadas por doadores, bolsistas, e todos que as
freqüentavam viviam em comunidade, seguindo estatutos, que davam tratamento indistinto
às crianças e aos adultos. Esta situação repete o que acontecia fora da escola, misturando-se
crianças, adultos e velhos em um mesmo local. Referente ao tema, Ariés (p. 109) explana
sobre esse episódio:
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Essa mistura de idade continuava fora da escola. A escola não cercava o
aluno...A maior parte dos alunos moravam onde podiam, com o habitante
local, vários em cada quarto. E é preciso admitir que aí também os velhos se
misturavam com os jovens... Assim que ingressava na escola, a criança
entrava imediatamente no mundo dos adultos.
Percebe-se, nesse momento da história, que a criança, ser tão frágil, o qual requer cuidados e
atenção, necessitando nessa fase de alguém que a proteja, ensine com carinho e, ao mesmo
tempo, com autoridade, ficava em uma situação exposta, alvo fácil de maus-tratos
psicológicos, físicos e até mesmo, demasiadamente, vulnerável a investidas sexuais por parte
dos adultos que a cercavam, uma vez que a noção do sentimento de infância era neutra, não
tinha validade.
A sociedade da época pensava que a criança fosse indiferente a sexualidade, ao prazer e, por
esta razão, se podia brincar com ela dessa maneira. O pensamento era que “os gestos e as
alusões não tinham conseqüência sobre a criança, tornavam-se gratuitos e perdiam sua
especificidade sexual – neutralizavam-se...mesmo que despojadas na prática de segundas
intenções equivocadas” (Ariés, 1981, p. 80). Percebe-se então que tudo estava permitido na
frente das crianças, uma vez que elas não tinham a malícia da sexualidade, esta era a visão.
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No decorrer do tempo, aos poucos floresceu a idéia de separa o adulto da criança, justamente,
para se evitar certas situações que proporcionassem a vulnerabilidade e a exposição desta
perante o adulto. Essa visão foi rebatida pelos moralistas e educadores do final da idade
média, sendo que Gerson foi precursor desse movimento. “Gerson estudou o comportamento
sexual das crianças com o objetivo de ajudar os confessores, para que despertasse em seus
pequenos penitentes – de 10 a 12 anos de idade – um sentimento de culpa” (Aires, 1981, p.
80). Sem dúvidas, esse educador tinha uma visão além de seus contemporâneos. Aos poucos
vai se fortalecendo esse pensamento e, no século XVII, surgiu manuais de etiquetas,
destinados as crianças e literatura pedagógica para os pais e os educadores.
No século XV, houve uma transformação, as comunidades formadas por estudantes (crianças,
adultos e velhos) transformou-se em institutos de ensino, passando todo o ensino de arte a ser
ministrado nos colégios, este, por sua vez, também, foi submetido a uma hierarquia
autoritária, que passou a ser ensinada no local. A partir de então, a população estudantil
aumentou, não somente sendo destinada aos pobres, mas também aos filhos dos ricos, pois
havia conquistado a confiança perante a sociedade.
Os pais já confiavam a aprendizagem de seus filhos aos colégios, em vez de uma família
estranha (Ariés, 1981, p. 110). Apesar dos avanços, a mistura de idades persistiu por muito
tempo, somente no final da idade medieval que começou uma mudança gradativa neste
sentido. O colégio torna-se então uma instituição fundamental para a sociedade, tendo em
vista que ele se tornou o elemento formador do adulto.
Precisamente, nesse período de transição, surge com mais intensidade o poder disciplinador,
primeiramente ele aparece nos colégios e dissemina para o Estado, antes ele já estava patente
no clero dominante da época, esta forma de poder mostrar-se muito mais eficaz e abrangente,
uma vez que é a força do mais fraco, o dominado, contra o mais forte, o dominador, aquele
que bate, explora e domina. (Foucault, 1975-1976, citado por Santos, 1999, p. 124).
Observa-se, então, que a noção da sexualidade da criança, na Idade Média, passa a ser
modificada na Idade Moderna, na primeira, a criança era tida como um pequeno ser sem
desejos, podia-se fazer livremente brincadeiras com cunhos sexuais, que elas não seriam
afetadas, enquanto que, na era moderna, surge uma nova visão da infância, esta deveria ser
agora cuidada e resguardada de toda e qualquer exposição imoral e sem pudor, a que antes
era submetida. O sentimento da inocência infantil aparece com a finalidade de preservar a
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criança das exposições que até então estava sujeita. A partir desse ponto aparece “uma noção
que impôs: a inocência infantil.” (Ariés, 1981, p. 84). Havia regulamento que dizia: “É
preciso vigiar as crianças com cuidado e jamais deixá-las sozinhas em nenhum lugar”
(Ariés, p. 88).
Foucault (1998) expõe que diante dessa nova direção na ordem social, em que o autoritarismo
do senhor feudal sai de cena para entrar o poder do Estado, a sexualidade começa a ser
discutida, primeiramente, nos colégios, em seguida passa a ser uma preocupação do Estado.
O homem passa a perceber o seu valor e a questionar o que ele faz, a sua própria conduta
diante da família, do social.
No próprio século XVIII, a literatura passa a dar ênfase a discussões sobre o sexo, o que antes
era encoberto passa a ser debatido dentro da sociedade, como uma preocupação a ser
resguardada, nasce, então, o sentimento de guarda a sexualidade, reduzindo as conversas
sobre sexo, ao derredor do sexo reino o silêncio. Dentro dessa problemática, a liberdade
antiga de discutir sobre sexo, fazer brincadeiras referentes à sexualidade da criança, começa a
ser dizimadas no meio social, na família.
Segundo Gabel (1997, p.12), “a abordagem que uma sociedade faz dos abusos sexuais está
necessariamente ligada às mudanças nas relações entre os interesses do Estado, da família e
da criança em particular, ao papel atribuído à criança numa sociedade determinada. Tal
situação foi observada, paulatinamente, na passagem da sociedade medieval à moderna, nesta
há uma percepção diferente da criança, surgindo o dever de cuidar e protegê-la contra os
abusos antes cometidos com naturalidade e, com esta nova visão, houve, consequentemente,
uma transformação na legislação do Estado para assegurar este novo pensamento.
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A criança era considerada um rebento do tronco comunitário, uma parte
do grande corpo coletivo que, pelo engaste das gerações, transcendia o
tempo... sendo a sua aprendizagem uma forma de fortalecer o corpo,
aguçar os sentidos, habilitar o indivíduo a supera os revezes da sorte e
principalmente a transmitir também vida, a fim de assegurar a
continuidade da família.
Assim o desejo de dar continuidade a vida torna-se uma preocupação, pois esta é passageira,
fazendo dessa forma com que os adultos olhassem com mais cuidado para a preservação e
manutenção da linhagem. Ariés (1995, p. 316) fala que o homem ficou “empenhado em
manter a linhagem, estabelecendo o elo entre o passado e futuro...assim, os comportamentos
familiares começam a mudar”. A partir de então o homem passa a ter noção da brevidade da
vida. E que era necessário ele preservar os bens familiares através de seus filhos, este por sua
vez é tido somente como o futuro da linhagem, aquele que irá ajudar a perpetuar o nome e o
patrimônio da família.
Contudo esse modo de perceber a criança não perdura por muito tempo, pois com o
fortalecimento do comércio, emerge o capitalismo, juntamente com a Renascença, trazendo
uma nova visão mais racional sobre o homem, sobre sua importância e, conseqüentemente,
sua valorização. Agora o cuidado com o corpo e o sentimento de pertencimento são patentes
ao homem, que, então, busca perpetuar sua existência através de seu filho. “A criança passa
a ocupar um lugar tão importante entre as preocupações dos pais: é uma criança que amam
por ela mesma e que constitui sua alegria de cada dia” (Aríes, 1995). O filho passa a ser
objeto de investimento existencial. É nessa situação que a criança ocupa um lugar central no
seio da família, a qual, por sua vez, apresenta-se neste momento como um “lugar de
afetividade, onde se estabelecem relações de sentimento entre o casal e os filhos, lugar de
atenção à infância (bom ou mau)” (Ariés, 1995, p.15).
Inserida nessa situação, a Igreja Católica, apesar de ter perdido uma parcela da grande
influência exercida na Idade Média, continuava a desempenhar um papel importante na
formação de opinião dentro da sociedade, controlando e ditando aquilo que era certo ou
errado, inclusive no controle e repressão da sexualidade. No século XVIII, deu início a
abertura de asilo religioso para que as mães solteiras, moças difamadas, estupradas fossem
redimidas nesses locais, os mais famosos eram o asilo Madalena e a escola industrial, na
Irlanda. As moças entravam ainda jovem nessas instituições, sem nenhuma perspectiva de
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saída, quando conseguiam tal feito, já tinham alcançado a meia idade e, como não tinham
família construída, a única forma de sobrevivência era voltar para o asilo e esperar a morte,
estavam condenadas para sempre a clausura.
Dessa forma, viviam as jovens que cometiam atos tidos libidinosos. Os meninos também
sofriam com esta situação, quando os pais eram tidos como incapazes para criar seus filhos,
que eram enviados a “escola industrial”, ligada aos asilos para moças, todos dirigidos pela
Igreja. Essas instituições foram fundadas no século XIX, no entanto, no século XX ocorre
uma descoberta estarrecedora para a história, essas instituições que eram destinadas a
proteger as mulheres, adolescentes e crianças, na verdade serviam de prisões e, também,
propiciavam a prática do abuso sexual contra seus internos, eram um inferno para quem
necessitava e um paraíso as sevícias sexuais de alguns religiosos que deturpavam os
preceitos cristãos (Landini, 2005, p. 157 e 158). O mesmo autor citando Inglis, (1998, p. 171)
expõe que,
(...) por trás dos discursos católicos a respeito do celibato, pureza, inocência, virgindade,
humildade e pena existiam práticas como o abuso de crianças, incesto, pedofilia, estupros,
aborto e infanticídios. Passamos das confissões extraídas pelos padres para a exposição dos
pecados dos bispos, padres e irmãos.
O abandono também era comum nessa época no Brasil, também chamado exposto. Essa
prática tornou-se tão corriqueira que alguns seguimentos da sociedade, entre eles a Igreja
Católica, eram mais empenhados, mobilizando-se para ajudar essas crianças e adolescentes
que não tinham nenhuma perspectiva de vida, encontrando-se em situação calamitosa, sendo
maltratadas e até mesmo abusadas sexualmente. Essa situação dava-se pelo fato de que,
durante este período, muitas mães viram-se obrigadas a abandonarem seus próprio filhos,
colocando-os na roda dos expostos. E um dos fatores propulsores para tal ato era o
nascimento da criança fora da legitimidade do casamento. “Não é de exagero afirmar que a
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história do abandono é a história secreta da dor feminina”, uma vez que a mulher estava
obrigada pela sociedade a não ser mãe solteira. (Venâncio, 1997, p.189).
Cabe ainda frisar a situação da criança no Brasil colonial, a qual, quando escrava, era tratada
das piores maneiras possíveis, como aquelas que viam em navios acompanhadas de seus
pais, novos colonizadores, pouquíssimas conseguiam chegar ao país com vida, pois as
condições pelas quais eram submetidas e aos abusos sexuais contribuíam para que ela não
chegasse viva ao seu destino, dessa forma a criança era submetida a situações pelas as quais
ela estava impossibilidade de lutar para sobreviver (Ramos, 2000, p. 49).
Dessa forma, percebe-se que apesar dos avanços obtidos nesse período sobre a importância de
reconhecer a criança como um ser que necessita de atenção, carinho, cuidado e educação,
ocorreram grandes falhas no sistema criado para proteger e educa-la. No entanto, não se pode
negar que os avanços aconteceram e foram uma mola propulsora para que o século seguinte
olhasse com mais ternura para este ser.
2.1.5. Criança
Nos termos da lei 7/2008 de 9 de Julho, Lei de Protecção e Promoção dos direitos da Criança,
considera-se criança toda a pessoa menor de dezoito anos de idade. Este aspecto é
corroborado pela Convenção dos Direitos da Criança Adoptada pela Assembleia Geral nas
Nações Unidas em 20 de Novembro de 1989, ao referir que “criança é todo o ser humano
menor de 18 anos, salvo se, nos termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais
cedo”. Como se pode notar do preceituado acima, o conceito de criança é atribuído à pessoa
que seja menor de dezoito anos, exceptuando-se os que, por força da lei do seu país, o atribua
a maioridade com idade inferior a dezoito anos. Entretanto, Moçambique enquadra-se nos
países que consideram crianças os menores de dezoito anos, sendo-lhe assim aplicável o
previsto na Convenção dos Direitos da criança acima mencionado.
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entretenimento dos adultos (especialmente da elite). A morte também passa a ser
recebida com dor e abatimento. Já no século XVII, as perspectivas transitam para o
campo da moral, sob forte influência de um movimento promovido por Igrejas, leis e
pelo Estado, onde a educação ganha terreno: trata-se de um instrumento que surge para
colocar a criança "em seu devido lugar”, assim como se fez com os loucos, as
prostitutas e os pobres. Embora com uma função disciplinadora, a escola não nasce
com uma definição de idade específica para a criança ingressá-la. Isto porque os
referenciais não eram o envelhecimento (ou amadurecimento) do corpo.
A ciência moderna ainda não havia triunfado e educação nascia, portanto, com uma
função prática, ora de disciplinar, ora de proporcionar conhecimentos técnicos, que
posteriormente configuram uma escola para a elite e outra para o povo. Estudos
históricos mostram que até o início dos tempos modernos, a criança não era vista
como sendo diferente do adulto, sempre calada, não merecendo ser ouvida, mas
vivenciando e assistindo o mundo no qual ela não era considerada protagonista.
Curiosamente se verifica que essa concepção está relacionada com o significado
etimológico da palavra. “O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição
pelas crianças corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade
que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem”.(Ariès, 1981, p. 156).
Ela era tratada sem distinção do mundo adulto, sendo representada em obras de arte
como um homem ou mulher em miniatura.
Segundo Ariès (1981), após os sete anos de idade a criança passava a usar roupas
iguais à dos adultos e a ser tratada como tal. Conforme ressalta Ariés (1981 p.56):
“Dessas duas idéias, uma nos parece arcaica: temos hoje, assim como no fim do
século XIX, uma tendência a separar o mundo das crianças do mundo dos adultos. A
outra idéia, ao contrário, anuncia o sentimento moderno da infância”. O tratamento
dado às crianças e as concepções relacionadas a elas estão intimamente ligados às
práticas e hábitos culturais da sociedade ao longo da história. Por volta do século
XIII, a criança era pública e considerada como a parte da família que garantia sua
continuidade. No momento do nascimento, apesar de o parto acontecer em casa, este
era assistido por várias mulheres das proximidades, o que o tornava um ato público.
Quando a criança começava a caminhar, devia dar seus primeiros passos em um local
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público, para que fosse assistido por outros, pois era a forma de garantir a
continuidade da família.
Segundo Ariès (1981), existiram duas posições distintas em relação à infância: uma
concebe a criança como ser ingênuo, que necessita de mimos, e outra que alega que
a criança necessita moralização e educação. Os mimos, recebidos em casa, eram vistos
como causadores de muitas fraquezas. Para combater essa educação privada, a Igreja e o
Estado resolveram tomar o encargo educativo. Ou seja, o poder político e religioso,
como poderes públicos, passaram a interferir diretamente na vida privada das famílias,
que aceitou a intromissão, por acreditar não serem capazes de dar a formação
adequada aos seus filhos.
A escola substituiu a aprendizagem como meio de educação. Isso quer dizer que a
criança deixou de ser misturada aos adultos e de aprender a vida diretamente, através do
contato com eles. A despeito das muitas reticências e retardamentos, a criança foi
separada dos adultos e mantida à distância numa espécie de quarentena, antes de ser
solta no mundo. Essa quarentena foi a escola, o colégio. Começou então um longo
processo de enclausuramento das crianças (como dos loucos, dos pobres e das
prostitutas) que se estenderam até nossos dias, ao qual se dá o nome de escolarização
(Ariès, 1981, p.11).
14
2.1.8. Violência
Existem várias abordagens teóricas e metodológicas que definem violência de forma geral e a
violência contra menores, de forma particular. Esta diversidade resulta da multiplicidade de
actores distintos que por sua vez fomentam uma variedade de conceitos que se focalizam em
realidades distintas buscando as especificidades de cada uma delas. A violência contra a
criança é assim uma categoria específica que desperta atenção particular, sobretudo por ser
praticada contra aqueles que não se podem defender dela.
A violência é vulgarmente percebida como a acção física com recursos ou não de
instrumentos para causar danos a uma pessoa ou grupos. As perspectivas restritas de definição
da violência dependem de cada disciplina que a estuda. Por exemplo, as ciências penais e
jurídicas a estudam de modo a punir o agressor, dando importância por isso à agressão directa
visível.
Estabelece o artigo 218.º do Código Penal, que “Aquele que tiver coito com qualquer pessoa,
contra sua vontade, por meio de violência física, de veemente intimidação, ou de qualquer
fraude, que não constitua sedução, ou achando-se a vítima privada do uso da razão, ou dos
sentidos, comete o crime de violação, e será punido com a pena de prisão maior de dois a oito
anos.” Como se pode ver, o excerto acima apresentado engloba a violação no geral, isto é, que
ocorre tanto com os menores como com os adultos ou idosos, sendo a questão da violação
contra menores de doze anos vem expressa no artigo 219.º do diploma legal acima referido.
Uma parte não menos significativa da violência contra as crianças resulta em morte, mas a
maior parte dela nem sequer deixa marca visíveis. Entretanto, a Convenção Sobre os Direitos
da Criança, definiu a violência contra criança no seu artigo 19.º, “como todas as formas de
violência física ou mental, dano ou sevicia, abandono ou tratamento negligente, maus tratos
ou exploração, inclusive violência sexual, violência contra crianças e o uso intencional da
forca”. Como se pode ver, a violência sexual contra crianças também é protegida pela
convenção acima mencionada, demonstrando-se assim a tamanha relevância que esta tem.
15
A Violação Sexual abarca um conjunto diferenciado de manifestações de violência contra as
crianças, permitindo uma interpretação que suaviza o carácter violento do abuso, e mais do
que isso, que oculta a estrutura das relações sociais que têm o poder como núcleo. A violação
sexual de menores é principalmente um dos fenómenos que preocupa cada vez mais as
autoridades moçambicanas. O reconhecimento (embora político e não efectivo) da questão e a
sua inclusão na agenda governativa é evidência desta preocupação. A violação sexual de
menores revela-se um fenómeno complexo na medida em que muitas vezes crianças que
sofrem tais violações não têm noção da situação de abuso ou encontram-se numa posição de
dependência em relação aos perpetradores a partir da qual as vitimas têm dificuldade para
expor os casos.
O bem jurídico protegido neste tipo de crime é a autodeterminação sexual, associada ao livre
desenvolvimento da personalidade do menor na esfera sexual.
16
O agressor poderá escolher a criança como vítima por ser um alvo fácil, fraco, disponível ou
vulnerável e devido ao facto de não ter capacidades de interagir facilmente com os adultos
(Lanning,1994). De acordo com a literatura em geral, surge que a prevalência deste crime é
cuperior no género feminino (entre 18% e 20%) relativamente ao género masculino (8%)
(Stoltenborgh, Jzendoorn, Euser & Bakermans-Kranenburg, 2011). No artigo publicado por
Finkelhor (1994), em que se procurou apresentar dados internacionais sobre a prevalência e
características dos abusos sexuais de crianças, verificou-se também essa tendência, que a
média de casos denunciados, neste caso cometidos por familiares das crianças, era de 34%
contra crianças do sexo feminino e 18% contra crianças do sexo masculino.
Wellman (1993) conclui que as taxas de prevalência mais elevadas nas mulheres prendem-se
com facto da associação de determinadas crenças a cada género impostas pela sociedade, à
forma como esta associa algumas atitudes a um determinado género no que diz respeito ao
modo como se deve comportar, e que influencia também as suas formas de sentir e de pensar.
Neste sentido, e partindo do princípio que o papel da mulher é encarado como uma figura
cuidadora, dependente e frágil, estas características conferem-lhes maior vulnerabilidade face
ao abuso sexual, comparativamente com os homens.
Ainda, num estudo realizado por Price et al. (2001) sobre as perceções do público sobre os
abusos sexuais de crianças, verificou-se que os participantes consideram que as meninas
correm mais riscos de abuso que os rapazes. Noutra investigação conduzida por TTan & Yan
(2004), 40% dos participantes consideram pouco provável que os rapazes sejam vítimas de
abusos sexuais. Contudo, acredita-se que a taxa de abuso sexual no sexo masculino tende a
ser superior ao exposto nas pesquisas.
Finkelhor, Hotaling, Lewis e Smith (1990) e Saunders et al., (1999) defendem que o
intervalo de idades entre os 7 e os 12 anos é o período mais vulnerável para ocorrer o abuso
sexual. Segundo Goldman e Padayachi (1997), tal por ser justificado pelo simples facto das
crianças neste intervalo de idade se encontrar numa fase de desenvolvimento especialmente
suscitável à autoridade dos adultos, sendo por isso mais fácil ameaçá-las, coagi-las ou
manipulá-las.
De acordo com Hewitt (1998) a alta prevalência nesse período de idades pode ainda dever-se
ao facto das crianças não terem a capacidade de revelar os abusos, e identifica-los com tal,
dada a sua imaturidade para reconhecer e expor a situação sexualmente abusiva.
No estudo realizado por Finkelhor (1980) com estudantes, 75% das participantes relataram
terem sido abusadas por pessoas que elas conheciam, sendo que 44% eram membros da
família (tios, avós, cunhados, pais e irmãos). Estas crianças foram abusadas não por estranhos,
como são habitualmente estereotipados, mas sim por pessoas que fazem parte das suas redes
18
sociais próximas (Finkelhor, 1980). Ainda no que diz respeito à relação da criança com o
abusador, vários autores (Finkelhor, Ormrod, e Turner, 2009) defendem igualmente, que
embora a taxa de abusos sexuais de crianças perpetrada por membros da família seja elevada,
a maioria dos abusos é cometido por sujeitos conhecidos da criança, mas não familiares.
Finkelhor (1994) verificou que, na maioria dos casos, o agressor é conhecido da vítima. No
mesmo sentido, Conte e Berliner (1993) referem que apenas uma minoria dos abusadores são
desconhecidos das crianças, sendo que cerca de metade são pessoas conhecidas, embora não
sejam membros da família. Pinto da Costa (1990) constatou que, na esmagadora maioria dos
casos, o agressor era conhecido das vítimas. De uma forma mais específica verificou que uma
minoria dos abusos foram perpetuados pela figura paterna e que cerca de um quarto dos casos
analisados o agressor era membro da família (excluindo o pai).
19
Idade e género da criança
A idade da criança pode afectar o julgamento dos profissionais, na medida em que crianças
mais pequenas tendem a ser consideradas mais rapidamente vítimas de abuso (Finkelhor,
1984; Groeneveld & Giovannoni, 1982; Hampton & Newberger, 1985 in Herzberger &
Tennen, 1985). Por sua vez, quanto à influência do género da criança nos julgamentos
clínicos, Finkelhor (1984) constatou que o abuso sexual de crianças era julgado mais
seriamente pelos profissionais quando envolviam vítimas do sexo feminino do que quando
envolvia vítimas do sexo masculino. Como vimos anteriormente, estes resultados são
análogos aos verificados para a população em geral (Herzberger & Tennen, 1985).
De acordo com Halpérin et al (1996),a esmagadora maioria dos agressores são do sexo
masculino. Contudo, Gannon e Rose (2008) e Turton (2010) defendem que o número de
abusadores femininos é subestimado, sobretudo pelo facto do abuso sexual ocorrer no
contexto das rotinas de “cuidar da criança”, não sendo assim revelado. Nos casos em que esse
abuso é percebido, pode ainda acontecer que os profissionais menosprezem esse
comportamento e o considere uma forma de afeto inadequado.
Existem vários tipos de agressores, cada qual com características específicas que os
distinguem, nomeadamente, perfis psicológicos diferentes. Apesar de diversificadas
características, estes indivíduos podem presentar em comum transtornos de sexualidade ou da
personalidade (Ballint, 1997; Duque, 2012). Assim, como traços comuns do abusador tipo,
que descrevem como sendo maioritariamente homens, iniciam o abuso na adolescência e é
usada a força física.
20
Há uma elevada taxa de reincidência deste tipo de agressores, ou seja, mais de metade dos
condenados por abusos sexuais, voltam a cometer de novo o crime. Além destas
características constata-se ainda a presença de um quadro de consumo de álcool e de
estupefacientes, perturbações físicas e mentais, antecedentes de comportamentos socialmente
incorretos, insegurança, baixa autoestima, fraca capacidade de lidar com a frustração, maus-
tratos na infância (físicos, psicológicos ou sexuais), baixo autocontrolo, baixo nível
económico e cultural, são indicadores que se encontram presentes nos indivíduos que
cometeram crimes de abuso sexual.
a) Carente passivo dependente: má relação com a mãe durante a infância e por isso
apresenta sentimentos de abandono. É visto como uma pessoa desagradável e instável,
abusando de crianças porque a sua sexualidade ficou presa na infância e acreditando
que é mais fácil relacionar-se a este nível.
d) Estrutura perversa: evidencia sadismo para com a mãe, pelo que a sua sexualidade é
precoce, perversa e centrada em si. Tem uma imagem de si próprio desmedida, e quando
abusa acredita que é agradável para a criança fazendo dele um sedutor e um individuo
persistente.
g) Neurótico: não chega a cometer o crime por falta de coragem, mas refugia-se na
pornografia para satisfação sexual.
22
antecedentes criminais). Terá também de se mencionar que os abusadores sexuais poderão
usar estratégias específicas para se aproximarem da vítima para não levantarem suspeitas
dos seus atos e para que a vítima não conte o sucedido.
Género do abusador
No que diz respeito às variáveis da vítima e do agressor, os estudos referem que também os
psicólogos tendem a considerar o abuso perpetrado por uma mulher como menos grave do
que o cometido por um homem (Hetherton & Beardsall, 1988).
Existem estudos que constataram que os profissionais consideram o abuso sexual perpetrado
pelas mães como sendo menos severo e menos frequente do que o abuso perpetrado pelos
pais (Finkelhor, 1984; Hampton & Newberger, 1985; Herzberger & Tennen, 1985a cit. in
Howe, Herzberger & Tennen, 1988). E tal como os leigos, os profissionais tendem a
considerar o maltrato físico e emocional menos sério quando estão as mães envolvidas
(Herzberger & Tennen, 1985).
De facto, as vozes e perspectivas dos que foram vitimizados sexualmente por mulheres têm
sido raramente ouvidas. Existe uma limitada compreensão acerca de como as vítimas
percebem as respostas profissionais às suas revelações e mais importante ainda, de quais são
as consequências dessas respostas dos profissionais.
23
Desta forma, as mulheres abusadoras, em virtude do seu género, não são, frequentemente,
responsabilizadas pelas suas ofensas e as denúncias de ofensores masculinos são consideradas
mais importantes pelos profissionais (Hetherton & Beardsall, 1998).
2.1.9.6. Denúncia
De acordo com Chassan-Taber e Tabachnick (1999), na sua maioria, as vítimas não revelam o
abuso. São várias as razões que condicionam a vítima a revelar o abuso sexual,
nomeadamente o facto de ser recorrente o uso de ameaças e coação por parte do agressor,
fazendo uso da autoridade e da sua posição dominante face à criança. Vários estudos apontam
nesse sentido. O estudo realizado por Bruck, Ceci & Shuman (2005) indica que 47% das
vítimas levaram mais de 5 anos a contar a alguém que tinham sido abusadas e 28%
afirmaram nunca terem relatado a alguém que tinham sido abusadas até à participação
no estudo. Resultados semelhantes foram encontrados no estudo realizado por Finkelhor,
Hotaling, Lewis & Smith (1990) onde 38% das/os sobreviventes nunca revelaram a situação
de abusos sexuais de crianças vividas.
O secretismo associado aos abusos sexuais de crianças é reforçado, segundo Tower (2002),
da obediência a que as crianças são ensinadas a manter em relação aos adultos e, por outro
lado, pelo facto de anossa sociedade ver as questões relacionadas com o sexo como privadas,
o que dá ao abusador uma “boa desculpa” para justificar à criança porque é que ela não deve
contar nada a ninguém. A realidade de nem as/os sobreviventes de abusos sexuais de
crianças fazerem a denúncia, nem aqueles que as/os rodeiam conseguirem aperceber-se que
24
as crianças estão a ser abusadas, faz com que este se mantenha como um crime silencioso, o
que exige que a comunidade esteja bastante alerta, que desenvolva mecanismos mais eficazes
de deteção e que prepare as crianças para a possível denúncia ou reação às tentativas de
abusos sexuais de crianças. Também se dá o facto de por vezes serem os próprios adultos a
ocultar o abuso, ao contrário do que se possa pensar, as mães (e/ou outros familiares)
silenciam o abuso.
25
iniciação, muitos deles já não vão a escola, porque são considerados adultos pelas normas da
comunidade, procurando por isso exercer outras tarefas.
26
Para Eldring (2000), devido à limitada oportunidade económica muitas famílias em
Moçambique trabalham no sector agrícola que tem baixos salários. Em tais circunstâncias as
crianças são usadas como força de trabalho para ajudar a completar a renda familiar que não é
adequada para sobreviver. Em áreas rurais, crianças trabalham às vezes ao lado dos pais ou
independentemente em colheitas sazonais em plantações comerciais. O mesmo autor frisa que
os menores normalmente não são pagos em salários, mas ao invés, os empregadores lhes
compram livros e pagam outras necessidades escolares. O mesmo autor salienta que em
alguns casos as famílias fazem trabalhar as crianças para resolverem dívidas. Crianças
regularmente trabalham em machambas familiares ou no sector informal urbano onde
executam tarefas como vigiar carros, coleccionar sucata, ou vendendo quinquilharias e
comida nas ruas. As Crianças também são empregadas como Domesticas.
Defende Azambuja (2006), que “com a diversidade, a intensidade e a variação temporal das
sequelas os sintomas podem variar desde ligeiros a distúrbios psiquiátricos, transtornos de
humor e transtornos psicóticos”. As reações não são similares em todos os casos porque a
oscilação de factores determinantes como a duração da violência usada, a proximidade entre
vítima e o ofensor têm relação directamente proporcional entre estes e a severidade dos
efeitos.
28
CAPITULO III: METODOLOGIA
3. Metodologia
A metodologia é o estudo dos métodos e dos instrumentos necessários para a elaboração de
um trabalho científico que determina se o estudo feito vai ser concretizado com sucesso ou
não. Portanto, é o conjunto de técnicas e processos empregados para a pesquisa e a
formulação de uma produção científica, a parte determinante para se chegar aos objectivos
tracados.
3.1. Métodos
Para a realização do presente estudo recorreu-se ao método qualitativo, o qual permitiu
analisar e compreender o tema em estudo. Este método foi auxiliado pelo método quantitativo
para permitir o tratamento e análise dos dados em forma de gráficos de modo a dar maior
precisão. Além disso, optou-se também por uma metodologia do estudo de campo de modo a
obter os dados e os procedimentos técnicos adoptados na área em estudo.
A população alvo do presente estudo foi composta por autoridades administrativas, policiais,
penitenciárias, de Saúde, centro de acolhimento escolar, e cidadãos no geral.
29
A amostra deste trabalho foi constituída por 01 chefe da localidade, 01 chefe do posto
administrativo, 03 líderes comunitários, 05 Agentes da polícia, 03 directores especificamente
(01 dos Serviços Penitenciários, 01 do Centro de Saúde, 01 da Escola Secundária local)
respectivamente, 20 educandos e 06 reclusos.
30
3.6.2.1. Entrevista
A entrevista é uma conversa entre duas ou mais pessoas (o entrevistador e o entrevistado)
onde perguntas são feitas pelo entrevistador de modo a obter informação necessária por parte
do entrevistado. Os entrevistadores questionam as suas fontes para obter destas declarações
que validem as informações apuradas ou que relatem situações vividas por personagens.
Antes de ir para o campo, o entrevistador recebe uma pauta que contém informações que o
ajudarão a construir a matéria. Além das informações, a pauta sugere o enfoque a ser
trabalhado assim como as fontes a serem entrevistadas. Antes da entrevista o entrevistador
precisa reunir o máximo de informações disponíveis sobre o assunto a ser abordado e sobre a
pessoa que será entrevistada, (Gil, 2002, p. 21).
Na presente pesquisa, foram entrevistadas um total de 36 personagens, de acordo com o grupo
alvo pré-definido. A entrevista foi guiada por um roteiro de entrevista (o questionário)
previamente elaborado, que consta do trabalho.
3.6.2.2. Questionário
Segundo Gil (2002) “o questionário é um conjunto de questões pré-elaborados, sistemática e
sequencialmente dispostas em itens que constituem o tema da pesquisa, com o objectivo de
suscitar dos informantes respostas por escrito ou verbalmente sobre o assunto que os
informantes saibam informar e opinar”. O questionário foi importante na medida em que foi
aplicado o inquérito por questionário à população alvo na Localidade de Chidzolomondo. Esta
técnica foi útil para complementar os dados colhidos por meio de inquérito aplicado a
população alvo. A conjugação destas duas técnicas ajudaram para as possíveis ilações tiradas
nesta pesquisa.
31
3.7. Técnicas de Análise de Dados
Para se analisar os dados usou-se o pacote estatístico EXCEL 2007, para a construção de
tabelas e gráficos na interpretação dos dados estatísticos obtidos na pesquisa.
32
CAPITULO IV: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo, foram elaboradas questões, segundo o guião de entrevista para a recolha de
dados aos entrevistados, tendo em conta a amostra estabelecida de 39 participantes,
constituidos por 1 chefe da localidade; 1 chefe do posto administrativo; 3 líderes
comunitários; 5 agentes da PRM; 3 directores de instituições sendo, um dos serviços
penitenciários, um do centro de saúde e um da Escola Secundária local; 20 educandos e 6
reclusos.
Para facilitar a interpretação e discussão dos resultados, os dados foram agrupados em classes
bem como as respectivas respostas e a percentagem, isto é, numa representação gráfica.
4.1. Interpretação gráfica das respostas resultantes da entrevista a cerca “Abuso sexual de
menores”.
28%
SIM
NÃO
72%
33
Gráfico 2: Referente às respostas da pergunta 2.2 da pesquisa (Sabe
dizer o que é uma violação sexual de menores?
10%
SIM
5%
A- É o cantacto físico com crianças para fins sexuais com ou sem
5%
uso de força.
34
Gráfico 3: Referente as respostas da pergunta 2.3 da pesquisa (Em
que instituições públicas ou privadas ocorrem casos de violação
sexual de menores ao nivel da sua localidade?
28%
Escolas
Creches
51%
C. Internatos
Comunidade
21%
Os dados mostram que a Classe A correspondente a 51% afirmou que as escolas constituem
as instituições onde ocorrem casos de violação sexual de menores ao nível da localidade,
enquanto a Classe B correspondente a 28% afirmou dizendo que é na comunidade onde
ocorrem casos de violação sexual de menores, já a Classe C que corresponde a 21% dos
entrevistados respondeu apontando os centros internatos como sendo as instituições onde
ocorrem casos de violação sexual de menores.
Como pode se ver no gráfico acima ilustrado, na Classe D (em creches) nunca ocorreram
casos de violação sexual de menores no período de estudo do caso, o que representa 0% dos
casos.
35
Gráfico 4: Referente as respostas da pergunta 2.4 da pesquisa (Na
sua opinião, quais são as causas que propiciam a violação de
menores em sua localidade?)
23%
Assédio
A tabela acima indicada representa as opiniões dos entrevistados quando perguntados sobre as
causas que propiciam a violação sexual de menores na localidade de Chidzolomondo no
período em estudo. Nas suas respostas, a Classe A que representa 64% afirmou que o assédio
é a causa que propicia a violação sexual de menores naquela localidade.
A Classe B representando 23% dos entrevistados, nas suas opiniões afirmou que a ganância
dos violadores é a causa que propicia a violação sexual de menores naquela localidade.
Já a Classe C que representa 13% dos entrevistados, divergindo nas suas opiniões apontou a
falta de protecção pelos adultos, como a causa que propicia a violação sexual de menores na
localidade de Chidzolomondo no período de estudo do caso.
36
Gráfico 5: Refrente as respostas da pergunta 2.5 da pesquisa
(Frequentemente, quem são os maiores violadores sexuais de
menores nesta localidade?)
36%
Pessoas com algum grau de parentesco
Outros
13%
37
CAPITULO V: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
5.1. Conclusões
Os resultados apresentados neste trabalho nos permitiu concluir que o abuso sexual é um
problema da sociedade actual, que em diferentes períodos históricos do antigo regime não foi
considerada como crime. As transformações históricas sofridas pela sociedade em sua
transição do antigo regime para a modernidade influenciaram na constituição de novas formas
de pensar e tratar a criança. Com os discursos que permearam estas mudanças, surgiu o
conceito de família e infância, sendo que neste contexto, a criança passa a ser considerada
enquanto sujeito que necessita de cuidado e proteção dos adultos.
A partir de então, relações sexuais entre adultos e crianças, vistas como naturais, uma vez que,
a criança era considerada um brinquedo do adulto e não apresentava o que hoje entendemos
como particularidades infantis, se tornou um crime, que comove quem presencia e condena
quem o pratica.
Por meio desta pesquisa, compreendemos a pertinência da relação entre o tema violência
sexual e as práticas que permeiam a escola. Alguns aspectos nos fazem compreender este
vínculo, como: ser um tema que tem recebido atenção de diferentes áreas das ciências
humanas, incluindo a educação; por se tratar de crianças, que na maioria das vezes
frequentam esta instituição, podem manifestar sintomas e indicadores de que está sendo
vítima de violência sexual no contexto escolar, e pela Legislação que compreende o professor
como profissional responsável por proteger a criança deste crime.
O olhar que lançamos para a constituição da infância e para o abuso sexual, neste trabalho,
nos permite compreendê-las como construídas historicamente, na tensão entre os discursos e
as práticas que se organizaram em torno das crianças ao longo dos anos. Isso nos fez perceber
a necessidade de problematizarmos o tema de forma crítica e cuidadosa, uma vez que, o
discurso disseminado acerca dela influenciará diretamente na forma como compreendemos e
nas práticas de intervenção que criamos.
Acreditamos que este trabalho poderá contribuir com aproximações entre o abuso sexual e a
educação e ainda provocar reflexões entre professores sobre discursos produzidos em relação
às situações que envolvam casos de abuso sexual em sala de aula. Importa ainda, salientar
que, ao longo da construção deste trabalho foi possível, através da revisão da literatura e dos
38
resultados obtidos durante a pesquisa, chegar-se a conclusão de que, o abuso sexual de
menores é um tema bastante abrangente e com muita complexidade.
Entretanto, esta situação pode ser explicada pelo facto de a maioria da população deste distrito
ser pobre “vivendo da agricultura de subsistência” e o professor deterem um estatuto social
associado aos benefícios da sua profissão, contribuindo para que sejam considerados bons
candidatos ao casamento tanto pelos pais ou encarregados de educação, como pelas raparigas.
A falta de distinção entre o que se considera de sorte com o abuso sexual pode levar a que as
raparigas sejam aconselhadas a aceitar o comportamento desapropriado do professor.
No contexto comunitário no que se refere ao abuso sexual, este estudo revela que ocorre tanto
no contexto urbano e rural e está associado à factores políticos, sócio económicos, culturais,
educacionais e mágico-religiosos. O elevado número de crianças órfãs leva a que muitas delas
não vivam com os seus progenitores directos, facto que as torna vulneráveis ao assédio e
abuso sexual.
39
Ao finalizar este trabalho, ressalta-se mais uma vez que o crime de abusos sexuais é uma
problemática que prejudica a vida de muitas crianças, assim como se torna mais evidente a
necessidade da existência de mais pessoas, profissionais, entre outros, focados na prevenção e
combate deste tipo de criminalidade. É importante referir que a forma como podemos
transmitir informações às crianças sobre os abusos sexuais de crianças pode ser um factor
decisivo para a sua proteção relativamente aos mesmos.
5.2. Recomendações
Algumas recomendações podem ser desenvolvidas a curto e médio prazos:
Devem ser realizadas mais pesquisas com uma abordagem de género que estudem as
antigas e as novas formas de violência sexual, os contextos e os perfis das vítimas e
dos agressores;
A Lei de Promoção e Protecção dos Direitos da Criança (Lei no 7/2008) deve ser
regulamentada.
Devem ser desenvolvidos mecanismos de divulgação, avaliação e monitoria da
legislação de defesa dos direitos humanos das crianças.
O Código Penal deve ser revisto adoptando os princípios normalizados pela legislação
internacional e ratificados por Moçambique.
Deveria ser criada uma ficha única para a violação sexual de menores, que integrasse
os sectores da saúde, polícia e acção social. Através dela poder-se-ia criar um
Banco de Dados que permitisse visualizar o ciclo de atendimento e a
responsabilização da violação sexual.
O acompanhamento psicológico das vítimas deve ser activado, normalizado e
considerado como componente central no tratamento.
Deve ser integrada uma perspectiva de género nas acções de capacitação dirigidas aos
agentes que fazem o atendimento às vítimas de violência sexual.
Devem ser programadas acções estratégicas articuladas entre os sectores da saúde e da
polícia, acção social e sociedade civil, de modo a estabelecer-se uma agenda de defesa
dos direitos da criança, particularmente contra a violação sexual.
A organização de campanhas nas escolas e nas associações juvenis que apoiem a
prevenção, a identificação e a denúncia da violação sexual deve constituir uma
componente central para o combate à violação sexual de menores.
As redes da sociedade civil para concertação de estratégias comuns na defesa dos
direitos das crianças devem ser dinamizadas.
40
Nos mídia, devem ser sistematicamente planificadas campanhas que promovam os
direitos das crianças, divulgando os deveres das famílias, comunidades e instituições
na protecção das crianças. Devem, também, ser largamente publicitados os casos de
violação sexual de menores e feito o acompanhamento mediático, até à
responsabilização dos agressores pelos tribunais.
41
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no Rio de Janeiro e em Salvador – séculos XVIII e XIX. Campinhas: Papirus.
44
Legislação Nacional
45
APÊNDICES
QUESTIONÁRIO
Este questionário visa recolher informações relevantes com o objectivo de avaliar o nível de
conhecimento sobre a violação de menores, no âmbito da pesquisa para a monografia de
Licenciatura em Direito, no Instituto Superior de Ciências de Educação a Distância -
Extensão de Tete.
Os dados recolhidos na entrevista destinam-se ao uso exclusivo desta pesquisa. Assim,
agradece-se pela sua participação e colaboração com maior sinceridade. Sua identidade será
mantida confidencial. Por favor, preencha ou assinale com X nos espaços apropriados.
1. Dados Gerais
1.1. Sexo: Feminino Masculino
1.2. Nível de sua Escolaridade: Básico Médio Superior