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Iniciativa
Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância do ABCD (CRAMI)

Coordenação Técnica
Lígia Maria Vezzaro Caravieri

Redação
Elisandra Cristina de Oliveira Lino
Jaqueline Soares Magalhães Maio
Lígia Maria Vezzaro Caravieri

Colaboração
Mônica Aparecida Martino Maziero
Regina da Conceição Zeferino

Ilustrações
Elton Padeti - cel.: 11 9380-6188
Leonardo Asprino

Agradecimentos
Ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Bernardo do Campo que possibili-
tou a realização deste trabalho
A toda equipe de profissionais do CRAMI, pelo empenho e perseverança
A Diretoria do CRAMI, pelo apoio e incentivo
Às famílias que contribuem com nosso trabalho e crescimento.

Financiamento
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de São Bernardo do Campo/SP

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Viver sem violência : um direito meu, seu e de todas as crianças e adolescentes! / [redação Elisandra
Cristina de Oliveira Lino, Jaqueline Soares Magalhães Maio, Lígia Maria Vezzaro Caravieri; ilustrações
Elton Padeti, Leonardo Asprino]. Santo André, SP: Expressão Santo André Gráfica & Editora, 2008.

Bibliografia.

1. Adolescentes - Violência sexual 2. Crianças - Violência sexual I. Lino, Elisandra Cristina de Oliveira. II. Maio,
Jaqueline Soares Magalhães. III. Caravieri, Lígia Maria Vezzaro. IV. Padeti, Elton. V. Asprino, Leonardo.

08-2874 CDD-362.76098161

Índices para catálogo sistemático:


1. Crianças e adolescentes: Cartilha de prevenção à violência sexual: Problemas sociais 362.76098161

Projeto Gráfico: Image Color Bureau - tel.: 11 4451-7000


Fotolito e Impressão: Expressão Gráfica e Editora - tel.: 11 4452-7777

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Cartilha de Prevenção à Violência Doméstica e
Sexual Contra Crianças e Adolescentes.
Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qual-
quer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. (Art.5o do ECA)

APRESENTAÇÃO

Esta Cartilha de Prevenção à Violência Doméstica e Sexual contra Crianças e Adolescentes,


dirigida à comunidade de uma forma geral, faz parte de um projeto desenvolvido pelo Centro
Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância do ABCD – CRAMI – no município de São
Bernardo do Campo, região da Grande São Paulo, com financiamento do Fundo Municipal para
os Direitos da Criança e do Adolescente.
O CRAMI é uma organização não governamental fundada em 12 de outubro de 1988,
com a missão de propiciar atendimento psicossocial a crianças e adolescentes
vítimas de violência doméstica, além de promover ações preventivas que lhes
possibilitem defesa e proteção incondicional.
A equipe da instituição é formada por assistentes sociais e psicólogos, que prestam
atendimento gratuito à população, em casos onde ocorreu violência sexual e doméstica contra
crianças e adolescentes, além de realizar atividades que visam à prevenção destas situações.
A idéia de prevenir a ocorrência da violência doméstica contra crianças e adolescentes partiu da
experiência obtida junto às famílias por nós atendidas nesses últimos 19 anos. Essas famílias foram
encaminhadas ao CRAMI por praticarem alguma forma de violência no trato com crianças e adolescentes.
Esta Cartilha tem como objetivo tratar esta temática, abordando as diferentes formas de
violência praticadas contra crianças e adolescentes, suas principais causas e conseqüências,
além de informar sobre os direitos e deveres estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, o papel dos Conselhos Tutelares, etc. Queremos principalmente refletir junto a
pais e responsáveis, que uma educação voltada para a paz deve incluir o diálogo, o carinho e
o respeito pelas necessidades individuais de cada criança, estabelecendo limites, oferecendo
exemplos e buscando o crescimento no relacionamento familiar.
Com o intuito de auxiliar os pais nessa difícil tarefa, no final da Cartilha tentamos
responder as principais dúvidas apresentadas pelos mesmos nas palestras e atendimentos
realizados pelos profissionais do CRAMI.

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MUDAR: DIFÍCIL, MAS ESSENCIAL!!!

Até a poucos anos, pareceria estranho a nós falar em violência contra crianças e
adolescentes, em direitos de crianças e adolescentes, e tudo que daí decorre. Apesar das
transformações das duas últimas décadas em nosso país, ainda parece estranho a muita
gente, que alguém possa “se intrometer” na forma como pais relacionam-se com seus
filhos, na forma como os educam, colocam limites em suas peraltices, etc.
Muito desse estranhamento, acreditamos, ocorre porque a maioria de nós não percebe
que as mudanças aconteceram, nas leis e nas políticas públicas, porque após anos e anos
de estudo, mobilização, discussão e acontecimentos, a população, os estudiosos e alguns
políticos perceberam que a criança e o adolescente deveriam ser também, como
qualquer adulto, sujeitos de direitos. Ou seja, um ser humano, cidadão e, como tal,
possuidor de direitos humanos. O mesmo ocorreu com as mulheres, lembram-se? Antes,
elas nem mesmo tinham direito a voto. E isso não faz muito tempo...
Acontece que, além de perceber que crianças e adolescentes são sujeitos de direitos
– e então estes direitos precisaram ser escritos e legalizados – percebeu-se também que
crianças e adolescentes estão passando por uma etapa da vida em que o desenvolvimento é
especial, em que muito se aprende e muito ainda não se sabe. Uma etapa na qual não é ainda
possível realizar algumas atividades, sem prejudicar o desenvolvimento do corpo ou da mente,
em que brincar é essencial para a evolução da inteligência, da capacidade de se relacionar
com as pessoas e com o meio em geral. Em resumo, seria necessário considerar que ser
criança e ser adolescente significa estar vivendo uma fase peculiar, especial de
desenvolvimento, que precisa de atenção cuidadosa para que tudo corra bem.
Aí, vem a velha pergunta: quer dizer então que criança e adolescente podem fazer o
que quiser, pois não devem ser contrariados, etc.? Não, não quer dizer nada disso. Aliás,
limites são essenciais para o bom desenvolvimento de todos nós, desde
muito pequenos. Mas, há diferentes formas de se estabelecer limites, e é aí que está a
dificuldade...
Como estabelecer limites sem a palmada? Como não usar castigos severos?
Como não berrar quando a minha paciência acaba? Nossos pais – ou a maioria deles
– faziam assim conosco, não? E parecem ter criado bem seus filhos, e provavelmente o
fizeram. E, na maioria das vezes, uma palmada, uma chinelada, não têm a intenção de
machucar, de ser agressiva, mas sim, de educar, não é mesmo?
Acontece que essa “educação” traz outras conseqüências que não são
aquelas que os pais estão buscando: muitas vezes a criança aprende que é batendo
que se resolvem os problemas da vida (“Meu pai me bate quando eu faço algo que ele

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não gosta, então, eu bato quando o amigo ou irmão não faz o que eu quero!”). Por
exemplo, alguns de nós aprendemos que é batendo que se educam os filhos! Mas, tente
lembrar-se: como você se sentia quando apanhava? Como se sentia quando era
humilhado ou repreendido na frente de um monte de gente? Bem? Como acha
que seu filho se sente? E você, sente-se bem quando bate, ou xinga, ou faz
qualquer outra dessas coisas em nome da “educação”?
Enfim, a idéia é que possamos pensar em novas formas de nos relacionarmos com
nossos filhos e com as crianças e adolescentes de uma maneira geral. Uma forma que inclua
os limites, mas limites sem agressão, limites que permitam o desenvolvimento, limites que
lembrem que criança faz bagunça sim, gosta de brincar, não sabe limpar a casa direito,
mas vai aprender um dia. Uma relação de educação que possa considerar que cada
criança e cada adolescente é único, então, não vai adiantar ficar comparando com o
irmão, com o primo ou com o vizinho. Alguns são bons nisso, outros naquilo. Como nós,
adultos. E nessa relação não pode faltar afeto, respeito das duas partes, atenção...
Dá trabalho? Dá, com certeza dá. Mudar é difícil e se relacionar também é. Mas será
que não vale a pena tentar? Temos certeza de que sim, vale muito a pena...

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VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEXUAL: DIFERENTES FORMAS

Ao contrário do que muitas pessoas imaginam, inúmeras crianças e adolescentes


sofrem diariamente maus-tratos por parte de adultos, inclusive daqueles de que mais
se espera que lhes protejam: pais, mães, avós, tios, etc. Somente no ano de 2007,
foram encaminhadas ao CRAMI 216 famílias onde ocorreu violência contra uma ou mais
crianças e adolescentes1. No total o CRAMI atendeu 446 famílias, contemplando 10.999
pessoas atendidas no respectivo ano.
Existem vários tipos de violência
13% 13% Física que podem ocorrer com crianças e
adolescentes, sejam essas cometidas pela
Sexual
17% própria família ou por terceiros: violência
física, violência psicológica, negligência,
Psicológica
abandono, violência sexual. A violência
sexual também pode ocorrer na forma da
Negligência/
57%
Abandono exploração sexual, como veremos adiante.
Todas essas formas de violência podem
acarretar desde conseqüências leves, até conseqüências mais graves, como a morte. Neste
caso a agressão praticada é denominada de violência fatal.
É muito importante dizer que a violência doméstica e sexual contra crianças e
adolescentes ocorre em todas as classes sociais, da mais pobre a mais rica. E, em todos os
casos, significa uma violação aos direitos de crianças e adolescentes.
Para que não fiquem dúvidas quanto às diversas formas de violência, explicamos a
seguir detalhadamente cada uma delas.

O QUE É VIOLÊNCIA FÍSICA CONTRA


CRIANÇAS E ADOLESCENTES?

Quando pensamos em violência física, num primeiro momento pensamos que este
fenômeno se resume somente ao espancamento, mas não é bem assim. Podemos considerar
que ocorre este tipo de violência todas as vezes que a criança é corrigida de forma agressiva
e violenta, ou seja, através da palmada, uso do chinelo, da cinta, deixando marcas ou não.

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Considerando as famílias encaminhadas aos núcleos de Santo André, São Bernardo do Campo e Diadema, e sabemos da existência de demanda
oculta que pode até atingir números assustadores que não aparecem nas estatísticas.

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Podemos dizer também, que muitos pais acreditam
que bater nos filhos resolve todos os problemas
e a violência física se torna uma válvula de
escape diante das dificuldades diárias da família,
e na medida em que a pessoa bate, sem
resultados, sente necessidade de bater mais
e mais, chegando ao
espancamento.
Sabemos que muitas
pessoas foram educadas desta
forma, porém também podemos
perceber que este tipo de punição não
funciona, e se torna um ciclo, pois os
pais que apanharam, batem nos seus
filhos, que serão pais futuramente, e poderão reproduzir a educação que tiveram.
Portanto, devemos pensar na educação através do diálogo, do respeito, para que esta
relação entre pais e filhos possa ser construída. Mas sabemos também que esta construção
vai exigir paciência, tolerância e maior compreensão entre os membros da família.

O QUE É VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA


CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES?

A violência psicológica ocorre quando as crianças e adolescentes são tratados


com ameaças, xingamentos, gritos, rejeição, e são colocadas em situações de vexame e
constrangimento.
Podemos citar como exemplo quando a criança apresenta dificuldade na
aprendizagem e é chamada de “burra” pelos pais, professores ou por pessoas que
ela admira e gosta, ou quando é dito que ela “é feia”, “não presta para nada” e “só
atrapalha e dá trabalho”...
Todas essas situações são prejudiciais para o desenvolvimento emocional da criança,
pois se pensarmos que os pais são pessoas que deveriam elogiar e amar seus filhos – e
são as pessoas que xingam e humilham – eles realmente irão acreditar que são burros,
feios, etc. Isso acontece porque os pais têm um papel muito importante na vida dos filhos
e eles geralmente irão acreditar no que eles dizem.

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O QUE É NEGLIGÊNCIA E ABANDONO
DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES?

Quanto à Negligência e ao Abandono, podemos dizer que essa violência ocorre


quando os pais se omitem ou deixam de oferecer algo necessário para o crescimento e/ou
desenvolvimento do filho, deixando de cumprir com os direitos fundamentais relacionados
à criança e ao adolescente. Como exemplos, podemos citar quando uma criança fica
responsável por cuidar da outra; ou quando está doente e não é levada ao médico, ou
mesmo quando levada ao médico, não lhe é oferecida a medicação conforme a prescrição
médica; quando a criança apresenta muitas faltas na escola; quando não toma banho;
quando não usa roupas de acordo com o clima.

Recentemente, temos assistido na mídia – TV e jornais – casos de crianças que são


deixadas pelos pais ou responsáveis em hospitais, terrenos baldios, ou mesmo lançadas
em rios. Estas situações, que costumam chocar a população, também são exemplos de
abandono, o que consideramos abandono total, ou seja, quando os pais ou responsáveis
não mais retornarão para cuidar de seus filhos.
Enfim, a criança sempre vai necessitar ser auxiliada por um adulto para garantir a
satisfação de suas necessidades. Quando isso não ocorrer de forma adequada, ou seja, se
houver a omissão dos pais ou responsáveis, será considerada negligência.

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O QUE É VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA
CRIANÇAS E ADOLESCENTES?

A violência sexual divide-se em Abuso Sexual e Exploração Sexual Comercial.


Trata-se de uma forma de violência contra crianças e adolescentes que costuma assustar a
maioria das pessoas, mas que, infelizmente, está muito presente em nossa sociedade.
O abuso sexual ocorre quando uma criança ou um adolescente é usado para satisfazer
sexualmente um adulto, homem ou mulher. Pode ocorrer com ou sem contato físico. Por
exemplo, manter relação sexual com uma criança ou um adolescente caracteriza abuso
sexual, assim como mostrar a eles filmes e/ou fotos pornográficas também. Ou seja, não é
necessário tocar no corpo da criança ou adolescente para abusar sexualmente deles.
Esta forma de violência pode ocorrer dentro da família ou fora. Na maioria das vezes,
as pessoas que cometem o abuso sexual contra a criança e o adolescente são conhecidas
deles, são familiares ou pessoas muito próximas. Mas há casos em que o abuso é cometido
por adultos que são estranhos à criança e ao adolescente.
É importante lembrar que, em uma situação de abuso sexual, além da criança e do
adolescente que sofreram a violência, a pessoa que a cometeu também necessita de
atenção especializada (de psicólogos, assistentes sociais, médicos, etc), para que se possa
compreender o que ocorreu, o que se passa internamente com ele, compreendendo seus
desejos. Assim, busca-se também evitar novas situações
de abuso. O sofrimento nessas situações atinge várias
pessoas, como, por exemplo, a mãe, o pai, os irmãos
da criança ou adolescente, etc. E todos merecem e
necessitam atenção.
A Exploração Sexual
Comercial de Crianças e
Adolescentes – considerada

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uma das piores formas de trabalho infantil2 – acontece quando há um pagamento em
troca do “trabalho sexual” da criança. É o que muitos ainda chamam de prostituição
infantil, embora esta expressão não seja correta, pois crianças e adolescentes não se
prostituem, são explorados sexualmente. Nessa situação, eles são tratados como objeto
sexual e econômico, como mercadoria. Há uma relação econômica envolvida, diferente do
abuso sexual de que falamos antes.
A Exploração Sexual Comercial de crianças e adolescentes pode ocorrer nas ruas,
em casas de prostituição, bares, etc. Também acontece na produção de fotos e vídeos
pornográficos. Muitas dessas situações envolvem adultos que são intermediários ou
agenciadores das crianças e adolescentes. Em todos os casos, os adultos envolvidos estão
cometendo crimes, passíveis de punição, de acordo com o Código Penal Brasileiro.
Tanto no abuso sexual, quanto na exploração sexual comercial, devemos ter muito cuidado
com nossos preconceitos, pois eles podem levar-nos a julgar a criança e o adolescente, e as
demais pessoas envolvidas, sem agir para protegê-los ou interromper a violência. Dizer que
a criança ou adolescente é “safado”, “não presta”, etc, apenas expõe uma idéia equivocada
sobre a condição de vida dessas pessoas. O mesmo podemos dizer
quando consideramos a pessoa que comete a violência sexual
como um “louco” ou “doente”, sem
procurar entender o que
ocorreu de fato com ela.

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Organização Mundial do Trabalho (OIT) 11

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O QUE É VIOLÊNCIA FATAL?

Dentre as modalidades de violência doméstica já citadas, há também casos nos quais


crianças e adolescentes são expostos a situações que os levam a uma violência fatal, ou
seja, à morte.
A violência fatal contra crianças e adolescentes
pode ser compreendida como atos ou omissões
praticados por parte de pais, parentes ou
responsáveis, causando-lhes conseqüências
físicas, emocionais e sexuais, as quais podem ser
determinantes para sua morte. Ou seja, são
situações de violência de extrema gravidade
que ocorrem no ambiente familiar que
além de tirar a criança da sua condição
de sujeito, também tira a sua vida.

PASSOS PARA A PROTEÇÃO E GARANTIA DE DIREITOS

A NOTIFICAÇÃO
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – (Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990)
determina que:
Art.13. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra crianças ou
adolescentes serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
Ao contrário das leis que nascem em gabinetes de políticos, o ECA (Estatuto da Criança e
do Adolescente) é uma lei popular, pois é fruto do esforço conjunto de milhares de pessoas e
comunidades empenhadas na defesa e promoção das crianças e adolescentes no Brasil.
A partir do ECA a criança e o adolescente são vistos como sujeitos de direitos e pessoas
em condição peculiar de desenvolvimento. Ele garante ainda o direito à proteção especial a
crianças e adolescentes que se encontrem em situação de risco social e pessoal.

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O ECA alerta-nos ainda que é DEVER DE TODOS zelar pelo cumprimento dos direitos
previstos pela lei – ou seja, da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Estado.
Isto se aplica também a mim e a você.
Então, se você suspeita ou tem conhecimento de que
alguma criança ou adolescente esteja

sofrendo qualquer tipo de violência,


comunique imediatamente ao
Conselho Tutelar. É garantido o anonimato a
quem denuncia uma situação de maus-tratos,
portanto você não precisa se identificar. A
notificação pode ser feita pessoalmente, por
telefone ou por escrito.
A notificação não tem o objetivo de
prejudicar a família, mas sim de possibilitar
que a mesma receba ajuda através de encaminhamento a serviços que ofereçam orientação,
proteção e demais atendimentos necessários para o bem-estar da criança e do adolescente.

CONSELHO TUTELAR
A criação dos Conselhos Tutelares é prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
Segundo a lei, todo município brasileiro deve ter no mínimo um Conselho Tutelar (número
que varia de acordo com o contingente populacional).
Os Conselhos Tutelares são formados por cinco membros, escolhidos pela própria
comunidade para mandato de três anos, por meio de eleição3 . Mas existem critérios para
que a pessoa possa candidatar-se a Conselheiro. Alguns desses critérios são especificados
pelo próprio ECA, enquanto outros são estabelecidos pelo município.
Os Conselhos Tutelares têm a função de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança
e do adolescente definidos pelo ECA, motivo pelo qual toda situação que envolva violação de
direitos de crianças e adolescentes deva ser comunicada ao mesmo.
Os Conselhos Tutelares podem ser acionados em qualquer horário, sempre existindo
um conselheiro de plantão para ser acionado em casos de emergência. Cada município
estabelece uma maneira de acionar o Conselheiro Tutelar de plantão.
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Em alguns municípios o voto é institucionalizado, sem participação direta do cidadão. São Bernardo do Campo é um exemplo deste
tipo de eleição de Conselheiros Tutelares

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REDE DE ATENÇÃO À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E SEXUAL CONTRA
CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Quando situações de violência doméstica e sexual atingem uma criança e um adolescente,
estes, juntamente com suas famílias, podem necessitar de orientação, atendimento psicológico,
atendimento jurídico, de assistência social e até mesmo, atendimento médico.
Atualmente, há uma mobilização, uma preocupação de vários países do mundo com
a proteção e garantia de direitos de crianças e adolescentes. Como o Brasil é um desses
países, tendo se comprometido internacionalmente com o enfrentamento da violência contra
crianças e adolescentes, existem em diferentes municípios, como São Bernardo do Campo,
diversos serviços de atendimento a estas situações. Juntos, estes serviços formam uma
Rede de Atenção à Violência Doméstica e Sexual contra Crianças e Adolescentes.
Assim, dessa Rede fazem parte os Conselhos Tutelares, a Vara da Infância e Juventude,
as instituições que prestam atendimentos médicos, jurídicos, psicológicos e de serviço social
especializados no tema da violência doméstica e sexual. É um direito da criança e do adolescente
receber este atendimento sempre que necessário, buscando minimizar conseqüências negativas
causadas pela violência e permitindo seu bem-estar e desenvolvimento.

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DÚVIDAS E QUESTIONAMENTOS FREQÜENTES

NOTIFICAR (DENUNCIAR) FRENTE A UMA SUSPEITA NÃO PODE


PREJUDICAR A FAMÍLIA?
Embora num primeiro momento, a visão da família seja sempre a de estar sendo
prejudicada e invadida em sua privacidade pela notificação, esta não tem esta função. Ao
contrário, visa, primeiramente, à proteção da criança e do adolescente, à possibilidade
de que a família encontre caminhos para compreender os conflitos que vem enfrentando,
os papéis de cada um dos envolvidos, buscando equilíbrio, promovendo um ambiente
de segurança, afetividade e proteção, livre de violência. O acolhimento de cada caso, de
cada pessoa envolvida, a partir da notificação, vai permitir a orientação da família e a
transformação necessária.

NOTIFICAR (DENUNCIAR) PARA QUÊ, SE NADA É FEITO?


Muitas pessoas, inclusive profissionais que atuam junto a crianças e adolescentes,
justificam a não notificação de casos de violência contra crianças e adolescentes dizendo
que não vêem retorno, ou melhor dizendo, porque “não dá em nada”. Contudo, tal
justificativa implica, na verdade, em compactuar com a manutenção dessa violência, não
assumindo o dever que todos têm enquanto cidadãos de garantir os direitos de crianças
e adolescentes de terem uma vida livre de maus-tratos. Uma vez realizada a notificação,
caso seja observada ausência de ação dos órgãos competentes, pode-se sempre realizar
novas notificações, cobrar providências do órgão ao qual se fez a notificação, bem como
procurar instâncias superiores, como o Poder Judiciário (Vara da
Infância e Juventude).

EM CASOS DE ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL, SE


A CRIANÇA/ADOLESCENTE “ACEITA” A SITUAÇÃO POR
QUE O ADULTO É RESPONSÁVEL?
Quando pensamos na
violência sexual contra
crianças e adolescentes
devemos considerar que
estes são sujeitos de direitos
em condição peculiar de
desenvolvimento. Isto significa dizer

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que os mesmos não atingiram a maturidade física e psicológica necessárias para consentir
em uma relação ou qualquer tipo de contato sexual com um adulto ou pessoa mais velha
(entre criança e adolescente, por exemplo) de forma consciente, sem acarretar prejuízos
ao seu desenvolvimento. Desse modo, cabe ao adulto impedir essa violência, visando à
não invasão à sexualidade infanto-juvenil, ao respeito à fase de desenvolvimento em que a
criança ou adolescente se encontra. Embora seja fato a existência da sexualidade infantil,
não se trata de uma sexualidade adulta, mas sim, de uma sexualidade com características
próprias de desenvolvimento, estando relacionada ao conhecimento do próprio corpo,
de suas sensações e necessidades, e não ao prazer sexual junto à outra pessoa, como
acontece entre adultos. Assim, o adulto que não respeita esta condição, cometendo
a violência sexual, é o responsável, e deve ser responsabilizado legalmente por seus
atos, além de receber tratamento adequado, buscando entender melhor seus impulsos e
desejos, para evitar que a violência se repita, seja com a mesma ou com outras crianças e
adolescentes.

A CRIANÇA OU O ADOLESCENTE NÃO PODE ESTAR MENTINDO QUANDO


RELATA UMA SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA?
Em nossa sociedade, estamos acostumados a dar maior crédito à palavra do adulto do
que à da criança ou a do adolescente, o que, nas situações em que estes sofrem violência,
só contribui para que a situação continue a acontecer. Porém, é importante a transformação
dessa cultura, de forma que as falas da criança e do adolescente sejam consideradas com
credibilidade e respeito.
Além disso, na experiência de atendimento a esta população, percebemos que na grande
maioria dos casos a fala da criança e do adolescente corresponde à realidade vivenciada
pelos mesmos, ou seja, eles estão dizendo a verdade. E, mesmo quando uma criança ou um
adolescente “inventa” uma situação de violência,
é importante a atenção aos mesmos, pois
ainda que se trate de uma criação,
ou mentira, tal fato mostra
dificuldades na dinâmica
emocional dessa criança
ou adolescente, e até
mesmo na dinâmica
familiar destes. O que
os levou a inventar tal

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história? A criança foi orientada por algum adulto a mentir? Estas questões podem trazer
indícios de outras dificuldades de relacionamento, outros tipos de violência, etc.
No que se refere à violência sexual, é importante ressaltarmos que dificilmente uma
criança inventa uma situação em que sofreu abuso sexual. A fala, os termos utilizados, as
cenas descritas indicam que, de alguma forma, ela teve contato com uma sexualidade que
não é adequada a sua idade, o que já é uma situação abusiva. E, ainda que tenha inventado,
cabe perguntar: por que escolheu a violência sexual e não outra forma? A história
supostamente criada pela criança pode estar denunciando o fato de que a família lida com
a sexualidade de uma forma complicada entre seus membros, mesmo que ainda não tenha
chegado a ocorrer o abuso sexual de fato.

ELE(A) É PAI/MÃE DE FAMÍLIA, EDUCADO(A), TRABALHADOR(A),


HONESTO(A), BOM(A) VIZINHO(A), COMO PODERIA COMETER VIOLÊNCIA
CONTRA UMA CRIANÇA OU ADOLESCENTE?
Este questionamento freqüente é mais um relacionado aos mitos sobre como são
as pessoas que cometem violência contra crianças. È comum as pessoas imaginarem
o agressor como sendo sempre uma pessoa “desajustada” socialmente, usuária de
drogas, desempregada, agressiva, de classe sócio-econômica menos favorecida, etc.
Na verdade, a violência doméstica e a exploração sexual ocorrem em todas as classes
sociais, e não existe um perfil único da pessoa que comete violência contra crianças e
adolescentes. Esta pode ter todas as características apontadas na pergunta e, ainda
assim, cometer a violência, apresentando
algum comprometimento em seu
desenvolvimento psicológico,
relacionado à sua própria
constituição enquanto
indivíduo, sua
condição social, entre
outros fatores. O fato
de ser uma pessoa
“acima de qualquer suspeita”
apenas facilita a perpetuação da
violência, o descrédito frente à fala
da vítima, chegando a funcionar como
um “disfarce social”.

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REFERÊNCIAS

AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DOS DIREITOS DA INFÂNCIA. Ouvindo Conselhos: democracia


participativa e direitos na infância na pauta das redações brasileiras. São Paulo: Cortez,
2005. (Série mídia e mobilização social, 8).

BRASIL. MEC – Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.


Guia Escolar: métodos para identificação de sinais de abuso e exploração sexual de
crianças e adolescentes. 2a edição. Brasília, 2004.

BRASIL. Lei federal nº 8.069/90, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do


Adolescente).

CARAVIERI, L.; MAIO, J. Violência sexual contra crianças e adolescentes:


compreender para prevenir. Santo André: CRAMI, 2007.

KRUG, E.G. et.al. eds. World report on violence and health. Geneva, World Health
Organization, 2002.

SÃO PAULO. CRAMI - Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância do ABCD.
Estatísticas de Atendimentos Realizados em 2007. Diadema; Santo André; São Bernardo do
Campo, 2007.

SAYÃO, Y. (redação); IACOCCA, M. (ilustração). Refazendo Laços de Proteção:


ações de prevenção ao abuso e à exploração sexual comercial de crianças e
adolescentes – manual de orientação para educadores. São Paulo: CENPEC :
CHILDHOOD – Instituto WCF- Brasil, 2006.

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ENDEREÇOS E TELEFONES ÚTEIS

CRAMI
Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância do ABCD (Atendimento
social e psicológico à família) - S.B.CAMPO. - Av. Imperador Pedro II, 1.081 - Nova
Petrópolis - S.B.C. - SP CEP 09770-420. Tel.: (11) 4123-1751 - SANTO ANDRÉ - Rua
Humberto Olivieri, 114 - Jd. Bela Vista - Santo André - SP - CEP 09041-050. Tel.: (11) 4992-1234
DIADEMA - Rua São Jorge, 134 - Centro - Diadema SP - CEP 09911-070. Tel.: (11) 4051-1234

Conselhos Tutelares da Criança e do Adolescente de São Bernardo do Campo


(Recebimento de notificações ref. violência sofridas por crianças e adolescentes) -
Avenida Armando Ítalo Setti, nº 50 - Centro - São Bernardo do Campo - SP.
Tel.: (11) 4122-1417 / 4122-3007 / 4122-3311

Centro Integrado de Apoio e Defesa à Infância e Juventude “Dr. Emílio


Jaldin Calderon”
(Pronto atendimento; assistência jurídica; busca de desaparecidos) - Av. Imperador Pedro II,
1081 - Nova Petrópolis - São Bernardo do Campo - SP - CEP 09770-420.
Tel.: (11) 4124-7718 / 4330-4374

Delegacia de Defesa da Mulher


(Abertura de Boletins de Ocorrência) - Praça Nilo Gomes de Lima, nº 44 - Rudge Ramos
S.B.Campo - SP - Tel.: (11) 4368-2032 / 4368-9980

Guarda Civil Municipal


(Atendimento 24 horas) - Tel.: 0800-7737-888

Hospital Municipal Universitário (HMU)


(Atendimento 24 horas para casos de urgência) Avenida Bispo César D´Arcoso Filho, nº 161
Rudge Ramos - São Bernardo do Campo - SP. - Tel.: (11) 4365-1480

CMDCA
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente - (Formulação de Políticas
Públicas) - Avenida Redenção, nº 271 - Jardim do Mar - São Bernardo do Campo - SP
CEP 09725-680 - Tel.: (11) 4332-9111 / 4121-5471

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