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RELATÓRIO SOBRE O ECA (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE)

ALUNA: ALCILENE APARECIDA DOMINGOS DA SILVA DOS SANTOS

ALUNA: MARIA DOLORES BERNARDES DE SOUZA

Maria Júlia Ferreira

PROFESSOR: LUCIANO ALVES COSTA

O ECA veio para garantir que as crianças sejam "sujeitos de


direitos". O que isso significa?

Trata-se de um conceito de infância e adolescência que sai dessa


ideia de objeto. Antigamente, as crianças e os adolescentes eram
objeto do poder da família. Havia aquele conceito da inviolabilidade do
lar, ou seja, o que acontece no âmbito da família não interessa a mais
ninguém. Isso foi superado pelo ECA com o conceito de sujeito de
direitos, ou seja, alguém com uma história, conhecimento, desejos,
interesses e capacidades. Esse sujeito vive uma condição especial de
desenvolvimento e de formação de valores, hábitos e atitudes. A
mudança de conceito, saindo dessa ideia de incapacidade para a ideia
de sujeito, foi muito importante e ajudou a construir todos os
programas na área de assistência social, educação e saúde, mas
ainda precisa ser consolidado na sociedade.

Quais são os principais direitos associados à infância e


adolescência que ainda precisam ser consolidados no Brasil?

A participação na vida social protegida da violência e somada ao


direito à saúde, à educação, à profissionalização, ao esporte, à
cultura, às artes e ao lazer formam um conjunto indissociável. Então,
um grande princípio do ECA, que vem da Convenção sobre os Direitos
da Criança, é a ideia da indivisibilidade dos direitos que asseguram o
desenvolvimento pleno da criança e precisam ser assegurados
conjuntamente.

Um exemplo de como esse conceito mudou algumas práticas sociais:


antes do estatuto, se uma criança sofresse violência em casa era
muito comum o Estado colocar a criança numa instituição. Hoje, a
criança que sofre violência não deve se afastar da família, quem deve
se afastar é o agressor. Se uma criança tem dificuldade de se adaptar
numa escola ou apresenta problemas disciplinares, a escola não pode
expulsá-la simplesmente, porque ela tem o direito à educação.

Quando o estatuto foi aprovado, trouxe essa responsabilidade da


família e do Estado. Então, quando alguém denuncia uma situação de
maus-tratos na infância, essa pessoa está cumprindo o seu dever
social de preservar os direitos da criança. Depois de 30 anos, o
grande desafio é consolidar essa visão da infância como o sujeito que
deve ser protegido pela família, pela sociedade e pelo Estado a
precisa ser consolidado na sociedade.

Como você avalia as políticas para a infância do governo atual?

O Brasil se funda num pacto federativo, então, os estados e municípios têm muitas
responsabilidades na implementação de políticas para a infância. O Brasil consolidou
um conjunto de políticas municipais e estaduais pelos direitos da infância que garantem
uma rede ampla de programas. No âmbito federal, não existem programas
correspondentes a essa estrutura, então a gente observa muita tensão entre estados,
municípios e a União, com os municípios e os estados reivindicando mais recursos.

Vivemos um momento muito complexo na situação dos direitos da infância. Precisamos


de mais investimentos ou corremos o risco de perder todos os investimentos feitos nos
últimos 30 anos. É preciso recuperar o pacto federativo para um maior investimento do
governo federal no apoio aos estados e municípios para o cumprimento dos seus
diferentes papéis.

É claro que esse momento de pandemia é um momento fundamental para retomar esse
diálogo muito importante. O grande impacto da pandemia será sobre as crianças,
especialmente das famílias mais vulneráveis. Vemos crianças sem acesso à internet que
não estão recebendo os conteúdos escolares, o que é uma situação grave. Há crianças
em casa sujeitas a uma série de abusos e maus-tratos. Muitos adolescentes e jovens
perderam o emprego.

No âmbito do governo federal e dos governos estaduais, é muito urgente se abrir um


diálogo para reposicionar as políticas da infância como políticas prioritárias. Trata-se de
alocar recursos para investimentos em educação, saúde e assistência social. O melhor
critério para avaliarmos se a criança é uma prioridade é o orçamento público. Esse é um
grande desafio que o Brasil precisa enfrentar: investir mais nos direitos da infância.

É necessária maior empatia da sociedade com a infância e a adolescência. O que o


Unicef tem feito no sentido de ensejar um melhor entendimento?

O Unicef faz, há muitos anos, um trabalho para criar empatia pela infância, na tentativa
de provocar os adultos para que se coloquem no lugar da criança. Para que entendam o
que é ser uma criança no Cerrado brasileiro, na Amazônia, numa favela, e para entender
que, sem um investimento grande do Estado e da sociedade, o desenvolvimento da
criança não acontece. A criança tem um potencial enorme que precisa ser apoiado por
ações do Estado e da sociedade.

Há dois anos, fizemos um experimento. Instalamos uma sala em um shopping onde os


jovens de classe média alta de Brasília tinham 20 minutos para decifrar alguns enigmas.
Essa sala, na verdade, era um cenário que representava uma favela. Os jovens tinham
que resolver problemas de química e de matemática e encontrar algumas coisas
escondidas dentro da sala com uma sirene tocando, com a polícia batendo na porta, com
gritos, com tiros. Depois que esses jovens saíam dessa sala, nós fazíamos entrevistas.
Todos eles, sem exceção, diziam como era difícil tentar estudar para o Enem numa
favela ou falar com um amigo pelo Whatsapp dentro de um barraco. Todos ficaram
muito tocados com essa experiência, porque conseguiram, por 20 minutos, se colocar no
lugar de um jovem de uma comunidade. Todos reconheceram que tinham preconceito
contra esses jovens, achando que eles não querem trabalhar, que estão ligados ao tráfico,
que querem as coisas na vida facilmente sem ter que lutar por elas.

O que vai resolver o problema do país é investimento em educação. Temos tentado


trabalhar muito essa empatia para que as pessoas entendam que a vida dessas pessoas é
marcada por trajetórias pessoais, e quanto mais presentes a sociedade e o Estado se
fizerem nessas trajetórias, dando condições para cada um realizar o seu potencial, mais
o país vai se desenvolver. A falta de investimento na infância é uma tragédia.

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