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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

INDIANÁRA LEONEL SCHULZ

O CYBERBULLYING E A RESPONSABILIDADE CIVIL

Braço do Norte
2021
INDIANÁRA LEONEL SCHULZ

O CYBERBULLYING E A RESPONSABILIDADE CIVIL

Monografia apresentada ao Curso de Direito


da Universidade do Sul de Santa Catarina
como requisito parcial à obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Direito Civil.

Orientador: Rafael Giordani Sabino, Esp

Braço do Norte
2021
INDIANÁRA LEONEL SCHULZ

O CYBERBULLYING E A RESPONSABILIDADE CIVIL

Esta Monografia foi julgada adequada à


obtenção do título de Bacharel em Direito e
aprovada em sua forma final pelo Curso de
Direito da Universidade do Sul de Santa
Catarina.

Braço do Norte, 08 de novembro de 2021.


Assinado de forma digital por
RAFAEL GIORDANI RAFAEL GIORDANI SABINO
SABINO Dados: 2021.12.09 10:37:37
______________________________________________________
-03'00'

Professor e orientador Rafael Giordani Sabino Esp.


Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Ricardo Willemann, Esp.
Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________
Prof. Tatiana Firmino Damas, MSc.
Universidade do Sul de Santa Catarina
Pelo carinho, afeto, dedicação e cuidado que
meus pais e meus irmãos me deram durante
toda a minha existência, dedico esta
monografia a eles. Com muita gratidão.
AGRADECIMENTOS

Em um momento tão perturbador como o vivido em toda a sociedade é inevitável


não agradecer em primeiro lugar a Deus, pelo dom da vida e possibilidade de continuarmos
firmes nessa jornada.
Quero agradecer aos meus pais, por serem pessoas incrivelmente maravilhosas,
que me deram todos os ensinamentos da vida a sua maneira, me incentivando e mostrando
que a vida é cheia de obstáculos, mas que podemos vencê-los.
Agradeço ao corpo docente da instituição, que durante todo ano acadêmico,
transmitiram incansáveis conhecimentos que foram significativos para minha formação, em
especial ao meu orientador que pôde dedicar seu tempo mais específico em auxílio a esta
pesquisa.
Agradeço também aos meus colegas de faculdade, que sempre foram parceiros em
todos os momentos, ajudando uns aos outros durante toda caminhada acadêmica, em especial
a minha amiga Paula Warmling Tenfen, que sempre esteve ao meu lado compartilhando seus
conhecimentos.
Agradeço de uma forma geral a todas as pessoas que contribuíram para essa
realização, me auxiliaram de alguma forma, direta e indiretamente, a todos, meu muito
obrigada.
A justiça não consiste em ser neutro entre o certo e o errado, mas em descobrir o
certo e sustentá-lo, onde quer que ele se encontre, contra o errado (Theodore
Roosevelt).
RESUMO

É necessário que a sociedade evolua e na mesma proporção o Direito, a fim de acompanhar o


processo necessário para assegurar as garantias e direitos a todos os cidadãos sem distinção.
Em meio a essa evolução não se pode deixar de mencionar que a tecnologia é um aspecto
facilitador dessa promoção, no entanto ao mesmo tempo em que ela favoreceu o
desenvolvimento social também contribuiu para ocorrências indesejáveis, atos ilícitos,
facilitação de crimes e outros. Nesse âmbito retrata-se aqui a ocorrência do bulliyng, que se
refere à ofensa de caráter moral a um indivíduo, podendo ocorrer de diversas formas, mas
primordialmente em ambientes escolares. Ocorre que este, também sofreu avanço com a
chegada da tecnologia passando a ser conhecido como cyberbullying, ato que desfere as
mesmas ofensas, mas contando com a internet para atingir suas vítimas e disseminar
conteúdos com maior intensidade. Diante desse contexto, teve-se como objetivo desta
pesquisa analisar a responsabilização civil dos agressores praticantes do cyberbullying. Para
isso, realizou-se um levantamento bibliográfico e documental para coleta de dados desta, que
pôde analisar doutrinas e jurisprudências acerca do tema. Em relação aos objetivos, os
mesmos foram classificados em descritivos alinhados a uma abordagem qualitativa do
problema. Com o término do estudo, viu-se que o indivíduo praticante de cyberbullying deve
reparar o dano sofrido a sua vítima, uma vez que tal fato incorre responsabilidade civil e
possibilita o pagamento de danos morais.

Palavras-chave: Bullying. Cyberbullying. Responsabilidade Civil. Dano Moral.


ABSTRACT

Society must evolve and to the same extent the law in order to accompany the process
necessary to ensure the guarantees and rights of all citizens without distinction. In the midst of
this evolution, it cannot be mentioned that technology is a facilitating aspect of this
promotion, however, at the same time that this technology favored social development also
contributed to undesirable occurrence, illegal acts, facilitation of crimes and others. In this
context, the occurrence of bulliyng is portrayed here, which refers to the offense of a moral
character to an individual, which can occur in several ways, but primarily in school
environments. It happens that this act also underwent progress with the arrival of technology
to be known as cyberbullying., an act that defers the same offenses, but recounting the
internet to reach its victims and disseminate content with greater intensity. In this context, the
objective of this research was to analyze the civil accountability of aggressors practicing
cyberbullying. For this, a bibliographic and documentary survey was carried out to collect
data from this, which could analyze doctrines and jurisprudence on the subject. Regarding the
objectives, they were classified as descriptive aligned with a qualitative approach to the
problem. At the end of the study, it was seen that the individual practicing cyberbullying
should repair the damage suffered to his victim, since this fact incurs civil liability and allows
the payment of moral damages.

Keywords: Bullying. Cyberbullying. Liability. Reparation. Moral Damage.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 9
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO .............................................................................................. 10
1.2 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS ................................................... 11
1.3 OBJETIVOS................................................................................................................ 12
1.3.1 Objetivo geral .......................................................................................................... 12
1.3.2 Objetivos específicos ............................................................................................... 12
1.4 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 12
1.5 HIPÓTESE .................................................................................................................. 13
1.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................................. 13
1.7 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS ............................................................................... 14
2 BULLYING ................................................................................................................... 15
2.1 IDENTIFICAÇÃO DOS ENVOLVIDOS COM O BULLYING ................................... 17
2.2 A PROTEÇÃO À VÍTIMA DE BULLYING ................................................................ 19
3 CYBERBULLYING ....................................................................................................... 21
3.1 AS MODALIDADES DE CYBERBULLYING ............................................................. 22
3.2 O MEIO VIRTUAL ..................................................................................................... 23
3.3 VIOLAÇÃO DE DIREITOS ....................................................................................... 25
4 DA RESPONASBILIDADE CIVIL............................................................................. 27
4.1 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO ......................... 29
4.2 BULLYING E A RESPONSABILIDADE CIVIL ......................................................... 36
4.2.1 Responsabilidade Civil da Instituição Escolar ....................................................... 36
4.2.2 Da Responsabilidade Civil do Agressor Menor aos Pais ....................................... 39
4.3 CYBERBULLYING E A RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................. 40
5. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 45
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 46
9

1 INTRODUÇÃO

A transformação social é um acontecimento oportuno, unida às crescentes


evoluções tecnológicas, associadas ao desenvolvimento individual e coletivo, atribuídas as
essas oportunidades de melhorias. Antes de tudo, para melhor elucidar o tema que será
exposto, importa ressaltar um pouco sobre a internet e sua evolução.
Quando tratado de conhecer sobre a evolução da internet, observa-se que seu
surgimento ocorreu entre os grupos militares como uma alternativa de se comunicarem caso
os ataques, durante a ocorrência da Guerra Fria, destruíssem os meios de comunicação. Ainda,
durante esse período, o Governo se viu o maior detentor desse poder, não sendo verificada
participação da sociedade nesse meio (DUMAS, 2013).
Foi somente no ano de 1990 que a internet expandiu para outros meios na
sociedade, podendo dispor de seu acesso a outras pessoas além do Governo. Em pouco tempo,
o poder manifestado por esta rede ganhou proporção mundial, introduzindo um novo espaço
de comunicação. Gradativamente, as empresas inseriram a troca de comunicação entre seu
público por meio de e-mails, ferramenta conhecida como o correio eletrônico, que veio a
facilitar as suas transações (DUMAS, 2013).
Uma outra inovação atrativa foi a criação de salas de bate papo em tempo real
com pessoas de todo o mundo. Conforme retrata Alves (2012) o crescente uso dessa rede
mundial de computadores teve uma proporção de usuários em um ritmo imensurável, uma vez
que de alguma forma, todos buscavam aperfeiçoar suas atividades.
O uso de máquinas pessoais para atender a demanda desses usuários continuou
crescendo até os dias atuais, cada vez mais se sofisticando. De acordo com Diniz (2019), o
uso doméstico cresceu em um número exorbitante, que vai desde a pesquisa escolar, à busca
de notícias até o entretenimento. Contudo, esse meio de comunicação vai ainda mais além. Os
centros acadêmicos também apresentaram um grande domínio desta ferramenta, tanto para
pesquisas quanto para divulgação da instituição, contando com portais para interação dos
alunos e outras atividades.
O meio econômico também teve seus reflexos, pois é comum verificar que todo
tipo de comércio possui uma página na internet para divulgação de seus produtos e serviços,
seja em meio a um perfil ou uma rede social. Essas foram algumas das opções obtidas por
esse vasto meio quando uma empresa não possui muito para investir em outros meios de
comunicação como rádio e televisão, por exemplo (DINIZ, 2019).
10

Algumas ofertas ainda puderam ser otimizadas, como a facilitação de prestação de


serviços, nos casos de bancos e suas atividades que passaram a disponibilizar de pagamentos
online para evitar deslocamento do cliente, ganhando tempo, evitando filas e facilitando o dia
a dia de muitas pessoas. Muitas atividades foram agilizadas por meio dessa rede, como o
atendimento de empresas telefônicas, serviço de entregas e muitos outros, podendo fazer
apenas uma breve explanação, pois listar todos seria de grande demora (DINIZ, 2019).
O fato é que sua proporção transformou o canal de comunicação em um
verdadeiro mix de mídias, disponibilizando de várias versões, com os mais diversos modos de
operação e uso a que lhes são conferidos. Diante disso, houve avanço significativo nos meios
de transporte desta tecnologia, o que inicialmente, era permitido apenas por um computador
de mesa conectado um fio de internet, hoje pode ser distribuído em dispositivos móveis, como
notebooks, celulares e afins, com a utilização de conexão por rede wi-fi (SANTANELLA,
2018).
Diante de toda expansão, as redes sociais também apresentaram uma evolução
tendenciosa, sendo conteúdos criados em páginas de comunicação, que permitem a inserção
de perfis para a interação com pessoas de todo mundo. Ainda, essas redes permitem o
compartilhamento de fotos, vídeos e informações de cada um de seus usuários, podendo
apresentar diferentes metodologias dependendo da rede social cadastrada (SANTANELLA,
2018).

1.1 PROBLEMATIZAÇÃO

Percebe-se, diante ao exposto, que a tecnologia veio com a necessidade de suprir


as exigências da população e com isso, a internet desempenha um papel fundamental, não se
tratando apenas da facilidade de comunicação, assim como à informação, mas também ao
lazer. Contudo, este meio também foi um facilitador de violência e agressividade entre seus
usuários, diante das mais diversas formas desse comportamento, geram transtornos que
prejudicam o indivíduo afetando em sua saúde física e emocional.
A violência no país tem um índice de aumento diário, além das inúmeras
violências estudadas e previstas na legislação existe aquela surgida em razão da modernidade,
o bullying. Para Felizardo (2019), o bullying se caracteriza por atos de violência física ou
psicológica, intencionais e repetitivos de uma pessoa ou de um grupo para com outro,
causando dor, sofrimento, humilhação, angústia, intimidação, ameaça, exclusão, perseguição.
11

Contudo, dada a evolução social atrelada à chegada da internet, outras formas de


violência virtual se fizeram presente nesse meio podendo ser verificada a ocorrência do
cyberbullying que se utiliza de tecnologias de informação e comunicação, com
comportamentos deliberados, repetidos e hostis praticados com a intenção de prejudicar
outrem, intimidando, causando angústia e dor, assim como no bullying, porém de uma forma
mais abrangente com auxílio do meio virtual.
Diante desse contexto, pode-se observar que o cyberbullying como violência
praticada merece reparação civil à vítima. É um problema crescente devido a evolução da
tecnologia informática e da criação dos meios de comunicação. Ante isso, a questão que guiou
esta pesquisa foi: qual é a sanção civil aplicada ao agressor que pratica o cyberbullying?

1.2 DEFINIÇÃO DOS CONCEITOS OPERACIONAIS

Cyberbullying: Segundo Silva (2017, p. 54), pode-se considerar cyberbullying


como:

O cyberbullying é o bullying virtual que, assim como o bullying cometido nas


escoas, envolve desequilíbrio de poder, agressões e ações negativas. O cyberbullying
se utiliza de tecnologias de informação e comunicação para apoiar “comportamentos
deliberados, repetidos e hostis praticados por um indivíduo ou grupo com a intenção
de prejudicar outrem”. Nesse tipo de violência, textos e imagens são
disponibilizados por meio da internet, telefones celulares, smartphones, entre outros
dispositivos semelhantes, com a intenção de intimidar outra pessoa, causando-lhe
angustia e dor, assim como no bullying. (SILVA, 2017, p.54).

Bullying: Para Felizardo (2019, p. 36), bullying “é o termo inglês utilizado para
descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, cometidos por um
ou mais alunos contra outro, executados dentro de uma relação desigual de poder”.
Responsabilidade Civil: Sobre o conceito de responsabilidade civil, tem-se:

(...) a noção jurídica de responsabilidade pressupõe a atividade danosa de alguém


que, atuando a priori ilicitamente, viola uma norma jurídica preexistente (legal ou
contratual), subordinando-se, dessa forma, às consequências do seu ato (obrigação
de reparar) (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2009, p. 09).

No mesmo sentido, é o entendimento de Gonçalves (2009):

Toda atividade que acarreta prejuízo traz em seu bojo, como fato social, o problema
de responsabilidade. Destina-se ela a restaurar o equilíbrio moral e patrimonial
provocado pelo autor do dano. Exatamente o interesse em restabelecer a harmonia e
o equilíbrio violados pelo dano constitui fonte geradora da responsabilidade civil.
(GONÇALVES, 2009, p. 1).
12

Dano Moral: Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 379) traz o conceito de dano
moral, na forma do seguinte trecho: “é o que atinge o ofendido como pessoa, não lesando seu
patrimônio. É lesão de bem que integra os direitos da personalidade, como a honra, a
dignidade, a intimidade, a imagem, o bom nome etc. [...]”. Tal conceituação corrobora os
artigos 1º, II, e 5º, V e X, da Constituição Federal, uma vez que o ato acarreta ao lesado dor,
sofrimento, tristeza, vexame e humilhação.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo geral

Analisar a responsabilização civil dos agressores praticantes do Cyberbullying.

1.3.2 Objetivos específicos

- Abordar o contexto envolto ao bullying;


- Identificar as implicações entorno do cyberbullying e;
- Verificar se há na jurisprudência conteúdo acerca da responsabilidade civil
àquele que pratica violência cibernética, o cyberbullying.

1.4 JUSTIFICATIVA

A responsabilidade civil é a obrigação de reparar o dano que uma pessoa causa a


outra, ou seja, deriva da prática de um ato ilícito, visando determinar em que condições uma
pessoa pode ser considerada responsável pelo dano sofrido por outra pessoa e em que medida
está obrigada a repará-lo.
No dia a dia as pessoas são constantemente vítimas de agressões. Todo ato de
violência física ou psicológica, intencional e repetitiva, que ocorra sem motivação evidente,
seja praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de
intimidá-la ou agredi-la, causando dor e angústia à vítima, é definido como bullying. Quando
tais atos são praticados por meio de comunicação como a internet, ou de outras tecnologias
relacionadas, no intuito de depreciar, incitar a violência, criando meios de constrangimento
psicossocial, se está diante do cyberbullying.
13

O assédio virtual, quando se fala em cyberbullying, pode trazer sérios transtornos


psicológicos ao ofendido e exige a adoção de medidas jurídicas, visando cessar tais atos de
violência ou constrangimento de maneira imediata, possibilitando pleitear indenizações ou até
mesmo a persecução penal dos agressores.
Portanto, esta pesquisa tem como justificativa principal, os perigos que a
sociedade virtual pode encontrar em meio a redes sociais e o consequente impacto na
sociedade, bem como a importância da responsabilização civil daquele que pratica a violência
cibernética, ao passo que o assédio virtual constitui dano moral e este é indenizável, na forma
da lei ordinária de Direito Civil.

1.5 HIPÓTESE

A Constituição Federal assegura a todos o direito à proteção dos direitos


fundamentais, dentre eles da dignidade da pessoa humana e da liberdade de expressão,
garantindo inclusive o Texto Constitucional em seu artigo 5º, inciso X, a inviolabilidade da
intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, assegurando o direito de
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. E, ao tratar do
cyberbullying, direciona-se ao abuso da liberdade e proteção obtidas através da internet para a
prática de ato violento contra pessoa de forma injusta, mediante uma conduta dolosa,
objetivando a intimidação e a lesão moral.

1.6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O enquadramento metodológico, em que se desenvolveu esta pesquisa, foi por


meio de um levantamento bibliográfico e documental, segundo Cervo e Bervian (1983 apud
GARCIA, 2016, p. 293) a pesquisa bibliográfica "explica um problema a partir de referenciais
teóricos publicados em documentos".
Já a pesquisa documental, se difere daquela por verificar nos documentos
analisados, que nestes “não houve um filtro analítico e os materiais podem sofrer reelaboração
de acordo com os objetivos da pesquisa” (LOPES, 2016, p. 83). Quanto aos objetivos, estes
foram classificados como descritivos e exploratórios e a abordagem do problema ocorreu pela
natureza qualitativa.
14

1.7 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS

Esta monografia se dividiu em três capítulos, em que o primeiro abordou os


assuntos relacionados ao bullying, importantes para assegurar como sua ocorrência pode ser
empregada para o ambiente virtual. O segundo capítulo retratou sobre o cyberbullying,
expondo o que trouxe a literatura, quando possível, a doutrina, e seus reflexos na sociedade e
ao indivíduo como vítima.
O terceiro capítulo, retratou acerca da responsabilidade civil, apontando alguns
entendimentos jurisprudenciais acerca do tema proposto, verificando as possíveis sanções
aplicadas aos praticantes desses crimes cibernéticos.
A responsabilidade civil é a obrigação de reparar o dano que uma pessoa causa a
outra, ou seja, deriva da prática de um ato ilícito, visando determinar em que condições uma
pessoa pode ser considerada responsável pelo dano sofrido por outra pessoa e em que medida
está obrigada a repará-lo.
15

2 BULLYING

O bullying é um termo da língua inglesa, que não possui tradução no Brasil, mas
que se utiliza para caracterizar comportamentos agressivos no ambiente escolar, praticados
entre os colegas de classe. Contudo, essa violência é feita intencionalmente por estes alunos,
contra um ou mais de um outro colega, que não se vê possibilitado de reagir a tal intento. Não
é um comportamento justificado, observado ocorrência entre os mais fortes sobre os mais
frágeis, como um objeto de divertimento, demonstração de poder e intimidação (SILVA,
2010).
Segundo Fante (2005), a prática do bullying foi inicialmente observada em
meados da década de 1970, na Suécia, quando uma escola local percebeu que alguns alunos
estavam sendo vitimados por estudantes agressores que demonstravam sérias implicações de
poder. Logo em seguida, viu-se um alastramento deste a outros países. Contudo, ressalta o
autor, que essa prática sempre existiu, mas não era um fenômeno comumente ressalvado pelo
meio social.
Uma investigação mais profunda desses casos de bullying, teve maior relevância
no ano de 1982, quando três crianças americanas, em idade de 10 e 14 anos, cometeram
suicídio e o fato de terem possivelmente, sido motivadas por maus-tratos sofridos por colegas
do meio escolar, as instituições de ensino reforçaram essa condição, momento em que o caso
grave se caracterizou como o bullying (CALHAU, 2010).
Em 1993, Olweus escreveu um livro, intitulado “Bullying at School”, que
apresentava uma discussão sobre resultados de inúmeras pesquisas escolares que
correspondiam à ocorrência dessa prática e as consequências às vítimas e seus familiares,
apontando uma possível relação para identificar agressores e puni-los.
No Brasil, uma das primeiras pesquisas sobre o assunto foi feita no ano de 1997,
por Marta Ganfield, no estado de Rio Grande do Sul, onde também foram evidenciadas as
práticas desta ocorrência, estendendo o fenômeno em nível global. Contudo, infelizmente,
viu-se que mesmo sendo ocorrência mundial, o Brasil apresenta maior índice dessas atitudes
em relação aos demais países (SILVA, 2010).
Como visto, sua tradução ao termo, para o português, é inexistente, entretanto, sua
prática, compreende todas as formas de agressividade, conforme explica Teixeira (2006, p.
56):

O termo bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e


repetidas, adotadas por um ou mais estudantes contra outro (s), causando dor e
16

angústia, ocorrendo dentro de uma relação desigual de poder. Significa usar o poder
ou força repetidamente para intimidar, perseguir ou chantagear pessoas que, sem
defesas, abatem-se, causando um enorme prejuízo à formação psicológica,
emocional e sócio educacional da vítima.

A ocorrência do bullying é de abrangência social, estando associada a diversos


contextos, trabalho, asilos, escolas, orfanatos, clubes, famílias, áreas de lazer, meio de
comunicação, enfim, qualquer ambiente que expressa uma rotina social. Este, atinge as
relações interpessoais de crianças, jovens e adultos, que se veem à mercê de uma situação
indesejável em seu íntimo (FANTE, 2005).
Ainda, no entendimento de Fante (2005), a prática do bullying é uma forma de
estimular a delinquência, introduzindo outras formas de violência explícita, uma vez que
condiciona o indivíduo afetado a uma auto aceitação daquilo que lhe é imposto. Contudo, a
prática é considerada extremamente perigosa, podendo proporcionar doenças psicossomáticas,
transtornos mentais e psicopatologias graves.
Complementa Teixeira (2006) que a vítima pode apresentar alguns transtornos
comportamentais, como fobia social, depressão, transtornos como déficit de atenção,
hiperatividade, fobia escolar e outros, dependendo de cada caso e cada perfil de indivíduo
afetado.
Não há uma característica específica destas vítimas de bullying, mas
normalmente, são crianças que sofrem de obesidade, baixa estatura, deficiência física,
transtornos intelectuais, étnicos, religioso, sexuais, financeiros, entre outros. Estando
indefesos diante dos ataques sofridos, em razão dessa exposição, talvez por vergonha, medo
ou represália, seus agressores os fazem reféns dessas emoções traumáticas, que levam a uma
destruição silenciosa das emoções destas vítimas (BEAUDOIN; TAYLOR, 2006).
Entre os agressores, verificam-se características de indivíduos sem limites familiar
e social, que aludem à sensação de poder e superioridade, geralmente apresentam dificuldades
de relacionamento social, carentes de afeto, inseguros e que, podem ter sido vítimas de outros
abusos antes de disso (ABRAPIA, 2005).
Normalmente, a prática de bullying é cometida em meio a outras testemunhas que
são pessoas do mesmo círculo de convivência, como por exemplo, na escola, mas que se
calam diante das ocorrências. Isso, porque também sentem temor em serem as próximas
vítimas. É visto que o agressor impõe seu comportamento ao grupo como um todo, atraindo
outros seguidores para perpetuar com as mesmas ações. Alguns destes seguidores, se sentem
atraídos pelo ato e acabam ampliando o problema (CURY, 2003).
17

Consagrando o exposto até então, traz-se o entendimento de Silva (2010, p. 21),


sobre a ocorrência dessa prática:

[...] de forma quase “natural”, os mais fortes utilizam os mais frágeis como meros
objetos de diversão, prazer e poder, com o intuito de maltratar, intimidar, humilhar e
amedrontar suas vítimas. E isso, invariavelmente, sempre produz, alimenta e até
perpetua muita dor e sofrimento nos vitimados.

De acordo com Leão (2010), infelizmente o bullying é uma ocorrência vista em


todas as escolas, seja em âmbito público ou privado, tratando-se de um problema vasta, vendo
uma expansão a cada ano, demonstrando-se um sério problema. Em suma, sua ocorrência se
estimula pela imposição do poder sobre o mais vulnerável por se tratar de uma satisfação
pessoal.
Trata-se, portanto, de um assédio moral, com vistas a denegrir, desprezar,
violentar, agredir, utilizando as mais variadas formas de destruir o psicológico de uma pessoa,
aparentemente sem nenhum motivo e com atos repetitivos. Calhau (2010, p. 06) afirma que:
“[...] o bullying é um cerco, tal qual o realizado em uma guerra, onde o inimigo vai sendo
atacado continuamente até se render ou morrer”.
A distinção do bullying entre outras brincadeiras, deve ser realizada com bom
senso, observada cada situação, até mesmo para não identificar toda e qualquer situação de
conflito como tal. Algumas sugestões para essa distinção são: ações repetitivas, atos
intencionais, posicionamento de poder e observada influência em uma única vítima
(CHALITA, 2008).
A ocorrência dessa prática, ainda pode ser vista de forma direta e indireta, a
primeira se refere às atitudes marcantes de humilhação e dominação de poder, vista de forma
mais comum por agressores do sexo masculino. A forma indireta, é vista quando há
isolamento social, comentários maldosos, imposição sobre a maneira de se vestir,
caracterizando como agressores, comumente as meninas (SILVA, 2010).
O bullying vem se destacando com cada vez mais frequência, hoje em dia é
comum ouvir que nas escolas algum aluno é vítima desta prática e que esses locais deveriam
impor atitudes punitivas. No entanto, nem sempre é uma atitude fácil, uma vez que para haver
punição se deve ter certeza de quem são os responsáveis.

2.1 IDENTIFICAÇÃO DOS ENVOLVIDOS COM O BULLYING


18

As medidas preventivas e consequente estratégias para coibir a prática de bullying


estão associadas à identificação desses agressores, mas para que isso seja possível é
importante que pais, professores, alunos, vítimas e outros membros da sociedade, saibam
identificar esses comportamentos agressivos e seus agressores (CHALITA, 2008).
É possível que a prática não seja percebida logo de início, uma vez que a vítima se
sente envergonhada de admitir tal agressão, ainda como as testemunhas, que se sentem
ameaçadas ao fato de denunciar estes agressores. Contudo, destaca Silva (2010) que a vítima
pode ser identificada como aquele indivíduo isolado que não demonstra maior aproximação
ao redor de adultos, apresenta insegurança e ansiedade, é mais quieto, demonstra maior
tristeza e desinteresse na realização das atividades escolares, por exemplo.
No ambiente doméstico, os pais podem verificar que seus filhos se demonstram
mais vitimados, apresentam sintomas frequentes de dor de cabeça, enjoo, pouco apetite,
insônia, tontura, além de outros. Normalmente, estes sintomas aparecem em horários que
antecedem o período escolar, verificando ainda, mudanças de humor, falta de amizades e não
se observa interação com demais colegas (NETO, 2005).
Já quanto a identificar os agressores, é possível que seus comportamentos mais
rotineiros na escola envolvam: a realização de brincadeiras de mau gosto, risos provocativos,
apelidam os demais colegas, ameaçam, difamam, ridicularizam, dão ordens e apresentam
constantes episódios de superioridade (BRITO, 2009).
Estando em casa, os pais podem observar atitudes hostis destes filhos agressores,
desafiando a autoridade dos pais e sendo agressivos com os irmãos e outros familiares, a
hierarquia em casa não é respeitada por eles. Ainda, apresentam características de
manipulação e tendem a ser superiores também nesse meio (MOREIRA, 2010).
Em relação aos espectadores, as testemunhas, estes não apresentam sinais muito
evidentes, como demonstram as vítimas e os agressores, ficando, geralmente, calados, tanto
em casa quanto no ambiente escolar. Aos mais sensíveis, até especificam alguns casos de
bullying, mas não admitem que vivenciam tais fatos, isso quando indagados, mencionando
filmes, seriados ou alguns comentários (SILVA, 2010).
Indispensável mencionar que em situações como esta a base familiar é o principal
pilar, proporcionando condições de respeito e sensibilização em face a atitudes grosseiras e
agressivas, ensinando os limites entre o agredir e a defesa. A escola, também possui
primordial referência, sendo um local de construção crítica, inferindo posicionamentos
pacíficos para inibir a prática (BRITO, 2009).
19

Para existir proteção é necessário que a vítima se manifeste, devendo verificar os


indícios dessas ocorrências e buscar soluções que possam coibir essa prática que acarreta
tanto malefício.

2.2 A PROTEÇÃO À VÍTIMA DE BULLYING

Hoje em dia não se verifica, no ordenamento jurídico brasileiro, legislação


específica para a prática de bullying, ao passo que a vítima deve recorrer aos demais
dispositivos para adequá-los ao caso concreto. Ainda mais, por saber que a prática revela
problemas sérios à vítima, como já mencionados anteriormente (CALHAU, 2010).
Diante dos preceitos trazidos pela Constituição Federal, a prática de bullying, fere
um dos princípios basilares, o da dignidade da pessoa humana, uma vez que o artigo 5° afirma
que todos são iguais perante as leis, destacando a inviolabilidade da intimidade, imagem,
honra e da vida privada, em seu inciso X (BRASIL, 1988).
É garantido a todos os cidadãos a inviolabilidade de seus direitos, conforme
aponta a Carta Maior, devendo as vítimas recorrerem ao dano moral e material, sendo
indenizadas em decorrência desse afronto. Outro dispositivo que pode ser citado em seus
artigos esparsos é o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), podendo invocá-lo em
defesa de ações contra o bullying (BRASIL, 1990).
Contudo, mesmo sabendo que a legislação não é específica acerca desse caso, é
possível verificar proteção a essas vítimas quando analisado seu artigo 5°, à qual dispõe o
seguinte: “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer
atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” (BRASIL, 1990).
Por conseguinte, o artigo 17, do mesmo dispositivo, também alude uma dessas
proteções, quando se observa: “o direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade
física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”
(BRASIL, 1990).
Ainda, em seu artigo 18, afirma que é dever de todos zelar pela dignidade da
criança e do adolescente, salvando-o de qualquer tratamento desumano, como no caso da
ocorrência do bullying, por exemplo (BRASIL, 1990). Outrora, verifica-se nessas legislações
20

que existe proibição em dadas condutas, entretanto, não se observa previsão punitiva nos
casos de violação dessas condutas.
Outros dispositivos mencionam sobre a proteção em comento, mas também
importa considerar melhor especificação acerca dessas violações, como no caso da
Declaração Universal dos Direitos das Crianças, que alude o seguinte:

Princípio 10°: A criança gozará proteção contra atos que possam suscitar
discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra natureza. Criar-se-á num
ambiente de compreensão, de tolerância, de amizade entre os povos, de paz e de
fraternidade universal e em plena consciência que seu esforço e aptidão devem ser
postos a serviço de seus semelhantes (BRASIL, 2010).

Tem-se, nesse aspecto, mais uma lacuna acerca da proteção para a criança e ao
adolescente, em relação ao seu direito violado. No entanto, é visto que a prática de bullying
deve ser punida, devendo o legislador impor melhores métodos para que haja coibição de tais
fatos.
21

3 CYBERBULLYING

O termo cyberbullying é formado a partir da junção das palavras “cyber”, de


origem inglesa e que é associada a todo o tipo de comunicação virtual usando meios digitais,
como a internet, e “bullying” que é o ato de intimidar ou humilhar uma pessoa. Entretanto, o
cyberbullying se utiliza de tecnologias de informação e comunicação com comportamento
deliberados, repetidos e hostis praticados com a intenção de prejudicar outrem, intimidando,
causando angústia e dor, assim como no bullying (CIBERBULLYNG, 2021).
Segundo Silva (2017, p. 54), pode-se considerar cyberbullying como:

O cyberbullying é o bullying virtual que, assim como o bullying cometido nas


escoas, envolve desequilíbrio de poder, agressões e ações negativas. O cyberbullying
se utiliza de tecnologias de informação e comunicação para apoiar “comportamentos
deliberados, repetidos e hostis praticados por um indivíduo ou grupo com a intenção
de prejudicar outrem”. Nesse tipo de violência, textos e imagens são
disponibilizados por meio da internet, telefones celulares, smartphones, entre outros
dispositivos semelhantes, com a intenção de intimidar outra pessoa, causando-lhe
angustia e dor, assim como no bullying.

Em relação ao cyberbullying, a doutrina de Duarte (2017) associa sua prática com


a tecnologia eletrônica, proporcionada pelo ciberespaço, ambiente caracterizado em
decorrência da evolução da internet e suas possibilidades midiáticas de comunicação. É a
mesma constituição do bullying, porém com a diferença do local em que são proferidas tais
conjecturas, ou seja, no ambiente virtual.
Continua a doutrinadora, que alguns casos dessa ocorrência, acabam gerando
consequências muito severas, como o fato de as vítimas cometerem suicídio em razão da
grande exposição, pois alguns indivíduos publicam fotos, vídeos e imagens, por vezes, em
momentos íntimos, causando grande repercussão. Tais fatos se dão em razão de vingança ou
apenas maldade, mas com o mesmo fim, a humilhação alheia (DUARTE, 2017).
Já expuseram Beran e Li (2007) que a evolução tecnológica, ao passo que trouxe a
ocorrência da prática de cyberbullying, abrangeu uma crescente exposição de crueldade
social. Percebe-se que, em razão da colocação dos autores, dada a sua data, já era vista uma
realidade crescente, hoje então, só conciliou a consolidação de tal fato.
Corrobora tal intento, Duarte (2017) quando afirma que os agressores do bullying
evoluíram ao passo de utilizar o cyberbullying, agora, para realizar seus atos mal-
intencionados. Mais uma vez ressalvando que este se trata de prática similar ao bullying, mas
com utilização de ferramentas tecnológicas e modernas que fazem seu alcance ser
imensurável.
22

Uma pesquisa realizada na Itália afirmou que 11% das vítimas de cyberbullying já
tentaram suicídio, ao passo que das 11 escolas italianas participantes da pesquisa, verificou-se
que 20% dos estudantes revelaram terem sido vítimas dessa prática e metade dessas vítimas
consideraram acabar com a própria vida em decorrência do fato (ANSA, 2016).
Essa prática também é comum no ambiente escolar, podendo ser verificada em
comentários de blogs, ferramentas de chats, fóruns de discussão, além de outras ferramentas
de relacionamentos sociais, como o Facebook e afins. Reforça Jorge (2011) que as vítimas de
cyberbullying, não devem responder às provocações, pois é esse o intuito dos agressores.
Logo, as evidências obtidas e todo conteúdo deve ser encaminhado ao órgão competente para
realização de denúncia e possíveis medidas.
O cyberbullying reflete sequelas imensuráveis a suas vítimas, que ficam sujeitas à
depressão, com baixa autoestima, ainda mais por atingir um número ilimitado de
espectadores. Todavia, a falta de conhecimento em relação a essas tecnologias é um
facilitador dessa prática, uma vez que não se consegue mensurar as consequências expostas
no ciberespaço (AMADO et al., 2009).

3.1 AS MODALIDADES DE CYBERBULLYING

Segundo afirmam Conte e Rossini (2010) o cyberbulying é um gênero de ato


ilícito, em que suas condutas são subdivididas em espécies, podendo citar algumas como:
cyberstalking, exclusão, flaming e sexting.
Em relação à primeira, caracterizada como cyberstalking, essa é uma modalidade
do cyberbullying que se dá quando o agressor persegue a sua vítima de maneira obcecada, a
assedia, ataca e intimida a pessoa no ambiente virtual. É comum, nesse tipo de ocorrência, que
os agressores sejam homens e as vítimas mulheres, mas não descarta a possibilidade de ser o
contrário ou então, com pessoas do mesmo sexo (PRADO, 2013).
O anonimato, decorrente do ambiente virtual, encoraja o agressor que atinge a
vítima emocionalmente, gerando desconforto, abalos psicológicos e outros, causados em
decorrência dessa perseguição virtual. Gera na vítima, um sentimento de angústia, não
sabendo, em maioria dos casos, que medidas tomar (LIMA, 2014).
Outra espécie desse gênero é a exclusão, explicada por Dimario e Souza (2011)
como um menosprezo da participação de um indivíduo, ou um grupo destes, em algum
23

ambiente online. Essa exclusão normalmente ocorre por algumas características e


peculiaridades deste indivíduo.
O flaming, por sua vez, também conhecido como provocação online, decorre do
envio de mensagens de conteúdo vulgar, demonstrando hostilidade em relação a uma pessoa.
Esse conteúdo é viralizado e enviado a outras pessoas, atingindo alguém, provocando esta
vítima que se sente desagradável aos fatos (CONTE; ROSSINI, 2010).
O sexting é uma outra modalidade do cyberbullying em que se apelam assuntos
relacionados ao sexo, sendo uma prática muito comum entre àqueles que enviam fotos ou
mensagens eróticas com a facilidade dos meios tecnológicos (MACHADO, 2014).
Diante dos fatos, é inegável verificar que cyberbullying afeta diretamente as suas
vítimas, ocasionando danos principalmente em sua personalidade, violando sua intimidade e
expondo-o a uma realidade social que atinge danos severos. Contudo, há que mencionar que a
punição para a prática do cyberbullying só seria possível se este fosse considerado um crime,
o que no Brasil, ainda não o é, dificultando a punição destes agressores (CONTE; ROSSINI,
2010).
Em meio ao comento lembra-se que o ex-senador, Clésio Andrade, chegou a
propor um projeto de lei no Congresso Nacional com vistas a tipificar o cyberbullying como
crime, entretanto, o mesmo não chegou a ser aprovado. O assunto acabou sendo de
repercussão social, por não conter legislação própria que deveria ser atribuída ao fato, dada a
relevância da crescente tecnologia e facilitação destes atos (SILVA, 2013).

3.2 O MEIO VIRTUAL

De acordo com Barcellos e Rossi (2014) a evolução da internet, com os novos


meios de comunicação propensos, acabou redefinindo a socialização, é cada vez mais comum
verificar que os jovens se concentram incansáveis horas em ambientes como este. Dessa
forma, não se pode deixar de lado o fato de que essa interação irá, em algum momento,
resultar em um ato conflitante e troca de ofensas.
Retratam Neves e Pinheiro (2009) que o espaço virtual, facilitador dessas
desavenças, traz o anonimato como uma ferramenta a favor desses agressores, o que gera
repercussão mais grave, em razão do conteúdo disseminado, dificultando punições, por não
conseguir identificar esses agressores.
Nesse sentido, complementa Silva (2010, p. 127):
24

Os agressores normalmente criam um perfil falso (em sites de relacionamentos ou e-


mails), fazendo-se passar por outra pessoa ao adotar apelidos diversos para
disseminar fofocas e intrigas. [...] Comentários racistas, preconceituosos, sexistas
são feitos de forma totalmente desrespeitosa e, muitas vezes, vêm acompanhados de
fotografias alteradas das vítimas em montagens constrangedoras e bizarras.

A repercussão dessas agressões virtuais, acabam ensejando a prática de outros


crimes, em decorrência de sua natureza facilitadora na divulgação de conteúdos, como a
pedofilia, em que se evidencia alguns casos tendo seu início em decorrência da divulgação de
fotos pela internet (SILVA, 2010).
A internet motiva uma sensação de poder, em que os praticantes deste ato não
percebem o grande distúrbio que essas consequências podem levar, dadas as mensagens de
depreciação. O fato é que, por vezes se motiva uma satisfação pessoal sem pensamentos ao
outro, retratando uma ausência de responsabilidade e solidariedade que prolifera a
disseminação desenfreada da prática de cyberbullying (RODEGHIERO, 2012).
Continua Rodeghiero (2012), que em decorrência da abrangência virtual e
repercussão veloz da disseminação de dados, essa prática é ainda mais cruel, fazendo com que
as vítimas acabem sendo agredidas por novos repercutores, versando ainda que:

Diferentemente do bullying em ambientes tradicionais, como na escola, em que ao ir


para a casa a vítima fica longe da violência, no cyberbullying ela fica à mercê das
ofensas mesmo quando está, por exemplo, trancada no quarto, já que pode receber
mensagens de texto, e-mails ou recados em sites de relacionamento que a agridem
moralmente (RODEGHIERO, 2012, p. 78).

Mesmo sabendo da possibilidade de recorrer à ajuda profissional para se livrar dos


conflitos, auxiliando na recuperação das vítimas em decorrência dessa prática, ainda é
possível que o trauma seja visto em sua vida adulta, atribuindo condições de insegurança e
ansiedade (SILVA, 2010).
Um caso de grande repercussão, causado em decorrência do cyberbullying, se viu
no ano de 2013 nos estados do Piauí e Rio Grande do Sul, quando duas adolescentes
cometeram suicídio em decorrência da exposição taxativa nas redes sociais. Tal fato foi
considerado associado à prática de cyberbullying, após as meninas de 16 e 17 anos terem
divulgadas suas fotos íntimas em várias redes sociais (PORTELA, 2014).
25

3.3 VIOLAÇÃO DE DIREITOS

A relação da ocorrência da prática de cyberbullying se verifica diante da justiça


como uma violação da privacidade, tendo em pauta com divulgação de momentos íntimos,
como fotos e imagens, montagens depreciativas ou comentários vexatórios que ferem esse
direito consagrado pela Constituição. Aduz-se aqui, mais uma vez o que leciona o artigo 5°,
inciso X da Carta Magna: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação” (BRASIL, 1988).
Nesse viés, destacam Rossato et al. (2012) em relação ao ECA, que como já
mencionado, aborda o direito de respeitar a intimidade da criança e do adolescente, contudo
alguns agressores, por assimilar a menor idade, acreditam que não serão punidos, até mesmo
em razão da proteção pelo ECA, que reflete a todos. De fato, se verificar tal questão é visto
uma lacuna, como também já tido antes, vez que a atitude não tem punição específica.
Outrora, quando a violência é praticada por indivíduos maiores de 18 anos há
configuração de crime, verificado este no Código Penal, podendo exemplificar os artigos
1381, 1392 e 1403, que tratam da calúnia, difamação e injúria, crimes contra a honra e imagem
(BRASIL, 1940).
No entanto, menciona Silva (2010) que a responsabilidade ao menor agressor,
deve ficar a cargo do Ministério Público, por meio da Vara da Infância e da Juventude, sendo

1
Calúnia.
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses
a dois anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º -
É punível a calúnia contra os mortos. Exceção da verdade § 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: I - se,
constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II -
se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III - se do crime imputado, embora de
ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível (BRASIL, 1940).
2
Difamação
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um
ano, e multa. Exceção da verdade Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é
funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções (BRASIL, 1940).
3
Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena - detenção, de um a seis meses, ou
multa. § 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou
diretamente a injúria; II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. § 2º - Se a injúria consiste
em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena -
detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência. § 3o Se a injúria consiste na
utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora
de deficiência: Pena - reclusão de um a três anos e multa (BRASIL, 1940).
26

solicitado ao juiz que apure tais fatos. Assim, quando verificadas, os infratores podem sim
sofrerem as medidas socioeducativas previstas pelo ECA, obtendo os registros de mensagens
pelas páginas ofensivas expostas no ambiente virtual.
27

4 DA RESPONASBILIDADE CIVIL

O reconhecimento da reponsabilidade civil, atualmente, ocorre pelo fato de


reparar o dano que uma pessoa sofreu em decorrência do ato ilícito cometido por outra
pessoa. A finalidade de ensejar a responsabilidade civil é em fazer com que a pessoa
prejudicada volte ao estado anterior à agressão, ao passo que quando não for possível reparar
esse dano, deve ser realizada indenização na proporção do que lhe foi causado (VENOSA,
2012).
Em razão de reestabelecer o estado anterior à lesão, complementa Venosa (2012,
p. 02) que “os princípios da responsabilidade civil buscam restaurar um equilíbrio patrimonial
ou moral violado. Um prejuízo ou dano não reparado é um fator de inquietação social”.
Menciona o doutrinador que será cada vez mais comum que o ordenamento busque ampliar o
dever de indenizar para que novos horizontes sejam atingidos, tendo a finalidade de existir
cada vez menos danos irressarcíveis.
Assim, tem-se o dever de indenizar, pautado pela responsabilidade civil, quando
alguém sofrer um dano. Deste modo, percebe-se que há uma ação que é a promoção do dano e
uma reação, que se trata da reparação deste, tendo então, a fonte que gera a responsabilidade
civil. Nesse viés aduz Tartuce (2006, p. 260) que “a responsabilidade civil surge em face do
descumprimento obrigacional, pela desobediência de uma regra estabelecida em um contrato,
ou por deixar determinada pessoa de observar um preceito normativo que regula a vida”.
De uma forma geral, a responsabilidade civil se trata de não prejudicar uma outra
pessoa, contudo, se isso ocorre, deve-se responsabilidade civil à vítima, devendo ser reparado
seu dano. “O termo responsabilidade é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa,
natural ou jurídica, deva arcar com as consequências de um ato, fato ou negócio danoso”
(VENOSA, 2012 p. 03).
Em relação a seus pressupostos, explica Gonçalves (2017, p. 24) que estes se
tratam da violação do dever jurídico e o dano. “Há um dever jurídico originário, cuja violação
gera um dever jurídico sucessivo ou secundário, que é o de indenizar o prejuízo”. Desta feita,
entende-se que tudo que cause desequilíbrio harmônico na sociedade é passível de reparação.
Nessa linha de entendimento infere Diniz (2012) que a responsabilidade civil se
trata da aplicabilidade de medidas que faz com que alguém repare um dano, que pode ser
patrimonial ou moral.
Complementa Tartuce (2014), que se exige culpa, deste modo, para que o
indivíduo responda pela indenização cível, é necessário verificar o dolo, que se trata da
28

intenção de causar o ato, ou então, a culpa, ocorrência dada pela negligência, imprudência ou
imperícia.
Neste modo, menciona-se o artigo 186 do Código Civil, que afirma o seguinte:
“aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Ainda, o artigo
subsequente, 187, retrata que: “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao
exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela
boa-fé ou pelos bons costumes” (BRASIL, 2002).
Em suma, quando um indivíduo contraria o ordenamento jurídico realizando um
ato ilícito acaba lesando alguém em seu direito objetivo. Deste modo, nasce a obrigação de
reparar o dano, visto tal possiblidade pelo próprio ordenamento jurídico. Com análise do
artigo 186 mencionado, identificam-se os elementos caracterizadores da responsabilidade
civil: a conduta culposa do agente, nexo causal, dano e culpa.
Em relação às excludentes da responsabilidade civil, menciona Venosa (2012),
que são: nexo causal, lapso temporal entre a conduta e o resultado; culpa exclusiva da vítima;
o fato de terceiro; caso fortuito, fato alheio à vontade da parte e; força maior, ação
imprevisível que causa efeitos inevitáveis.
Diante dos artigos supra, tem-se a ocorrência da adoção pela responsabilidade
civil subjetiva. Já, em relação à responsabilidade objetiva, trata-se de uma exceção, explanada
através do artigo 927 do Código Civil, ao qual versa em seu parágrafo único:

Art. 927 – Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente


de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem (BRASIL, 2002).

Deste modo, conforme ainda reforça Ferreira (2018), a obrigação e o direito,


ressalvados pelo poder da indenização, deve ser proposto quando há comprovada culpa ou
dolo de quem causou o dano. Logo, a vítima deve comprovar que houve dolo ou culpa, para
que receba sua indenização.
Por outro lado, a responsabilidade objetiva, não necessita que sejam apresentadas
essas comprovações, apenas o nexo causal, ou seja, a conduta de quem realiza o ato e o dano
causado. Assim, mesmo que o indivíduo não tenha agido com dolo ou culpa, há o dever de
indenizar (PIACENTI, 2014).
29

Da mesma forma explica Gonçalves (2009, p. 30) que “nos casos de


responsabilidade objetiva, não se exige prova de culpa do agente para que seja obrigado a
reparar o dano. Em alguns casos, ela é presumida pela lei. Em outros, é de todo prescindível”.
Menciona Sampaio (2003) que o ônus da prova veio facilitar o posicionamento da
vítima, uma vez que com a presunção da culpa a vítima se exime de provar esta em juízo,
devendo o suposto agressor comprovar que não agiu com culpa, tendo aqui, a ocorrência da
presunção relativa.
Nesse aspecto, explica Gonçalves (2010) que a responsabilidade civil objetiva
repassa o entendimento de que todo ato ilícito causa dano e deve ser reparado, não levando
em consideração se houve culpa ou não, sendo que se trata de questão irrelevante para ensejar
o dever de indenizar. Entretanto, a relação de causalidade é relevante, sendo que mesmo nos
casos de responsabilidade civil objetiva não é possível atribuir responsabilidade a alguém que
não tenha causado o evento.
Já em relação à responsabilidade civil subjetiva se dá quando ocorre o nexo causal
com o dano por meio de prática com culpa ou dolo. Reforça Cavalieri Filho (2012, p. 17) que
a culpa está relacionada com a responsabilidade, “daí ser a culpa, de acordo com a teoria
clássica, o principal pressuposto da responsabilidade”. Nesse caso, só se configura
responsabilidade civil nos casos em que o indivíduo cometeu ato com dolo ou culpa.

4.1 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Observa-se que em relação aos meios de comunicação, a responsabilidade civil


acontece mediante a necessidade de indenizar alguém que teve seu nome ou sua imagem
indevidamente divulgada. No entanto, Mendes e Branco (2017) asseguram que na prática não
se aplicam valores altos para essas questões indenizatórias, haja visa que o enriquecimento
ilícito é proibido. No entanto, o juiz deve sempre verificar cada caso, analisando o dano
causado por esses provedores.
Contudo, antes do Marco Civil da Internet, não havia determinação específica
para essas relações, o que fazia com que a liberdade de expressão fosse cada vez maior.
Assim, a partir de 2014 com a Lei 12.695 é que se estabeleceram algumas regras para
utilização das redes sociais (LEMOS, 2014).
A lei do Marco Civil da Internet trouxe em seu bojo diferença entre provedores de
conexão e aplicação, para fins de responsabilidade. A primeira classificação se refere aos
30

provedores backbone, que possibilitam o acesso; já a segunda abarca os provedores de


hospedagem, de correio eletrônico, de conteúdo, enfim todos os websites de busca, jornais
eletrônicos, redes sociais, blogs, até aplicativos (PAESANI, 2014).
Cabe aqui trazer o artigo 19 da referida lei, que dispõe sobre a liberdade de
expressão e a responsabilização civil:

Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor


de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos
decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não
tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro
do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente,
ressalvadas as disposições legais em contrário (BRASIL, 2014).

Ainda, a lei supracitada, em seu artigo 3°, inciso VI, disciplina sobre a
responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, quanto aos termos estabelecidos
em lei. No entanto, o artigo não difere essa responsabilidade entre civil ou penal, sendo que
toda conduta que possa acabar com alguma responsabilidade criminal está sob viés da
legislação genérica. Tem-se, portanto, que a lei n° 12.965/14, concentra a responsabilidade
civil, nos provedores (BRASIL, 2014).
Por outro lado, o artigo 18 da lei em comento especifica que os provedores de
conexão não deverão ser responsabilizados pelos danos que causarem os conteúdos
veiculados pelas redes de usuários. Isso porque o provedor apenas oferece a estrutura para que
essa rede seja acessada, não podendo interferir no modo com que os usuários interagem nela,
ou em relação as postagens que fazem (BRASIL, 2014).
Seu artigo subsequente faz jus à responsabilidade civil dos provedores de
aplicação, pelo conteúdo que terceiro publicar, podendo verificar em sua cópia fiel que:

Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o


provedor de aplicações de Internet somente poderá ser responsabilizado civilmente
por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial
específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu
serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como
infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário (BRASIL, 2014).

Nos parágrafos4 que continuam a especificação imposta pelo artigo 19, dispõe
sobre as condições em que esse pagamento indenizatório deverá ocorrer, sendo que devem ser

4
§ 1º A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade, identificação clara e específica
do conteúdo apontado como infringente, que permita a localização inequívoca do material. § 2º A aplicação do
disposto neste artigo para infrações a direitos de autor ou a direitos conexos depende de previsão legal
específica, que deverá respeitar a liberdade de expressão e demais garantias previstas no art. 5º da Constituição
Federal. § 3º As causas que versem sobre ressarcimento por danos decorrentes de conteúdos disponibilizados na
Internet relacionados à honra, à reputação ou a direitos de personalidade, bem como sobre a indisponibilização
31

observados para aplicação da responsabilidade em questão. O que se entende é que o


legislador especificou de forma clara que a responsabilidade civil do provedor, quando se
tratar de conteúdo publicado por terceiros, não ocorre de forma automática, mas sim em
decorrência do não cumprimento da ordem judicial para o que o conteúdo danoso seja
removido (SCHREIBER, 2015).
Outro respaldo legal, em relação à responsabilidade civil, é visto através da lei n°
5.250/1967, a Lei de Imprensa, que regulamenta além da manifestação de pensamento,
informações e outros, sobre a responsabilidade civil dos meios de comunicação e as
divulgações que acabam em danos a terceiros (BARREIROS, 2009).
Em seu artigo 1° logo se vê que aquele que gerar dano irá responder por ele, visto
que “é livre a manifestação do pensamento e a procura, o recebimento e a difusão de
informações ou ideias, por qualquer meio, e sem dependência de censura, respondendo cada
um, nos termos da lei, pelos abusos que cometer (BRASIL, 1967).
Continuando, em seu artigo 12 a lei supramencionada também manifesta
entendimento acerca da obrigação de reparar àquele a quem causar dano por meios de
comunicação, trazendo em sua redação, explicação quanto a esse fato, a saber: “aqueles que,
através dos meios de informação e divulgação, praticarem abusos no exercício da liberdade de
manifestação do pensamento e informação ficarão sujeitos às penas desta Lei e responderão
pelos prejuízos que causarem” (BRASIL, 1967).
Em relação aos provedores de internet, estes são os responsáveis pelas
plataformas que vinculam o material fornecido. Contudo, não existe uma maneira de filtrar o
material que será postado, deixando a responsabilidade do conteúdo explícito, ao seu
divulgador. Como pode ser mencionado, por exemplo, as imagens divulgadas pelo aplicativo
WhatsApp são veiculadas no mesmo instante em que são postadas a outras pessoas, não
podendo o criador do programa, intervir em tal situação.
Nesse sentido, uma decisão interessante a ser comentada, é a do Tribunal do
Estado do Rio Grande do Sul, nos autos do Processo nº 70009993692. Nela, o Tribunal firma
reconhecimento de que o provedor de internet não possui responsabilidade pelo conteúdo
ilícito colocado no “ar” por terceiros. Conforme a Ementa abaixo:

desses conteúdos por provedores de aplicação de Internet, poderão ser apresentadas perante os juizados
especiais. § 4º O juiz, inclusive no procedimento previsto no § 3º, poderá antecipar, total ou parcialmente, os
efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, existindo prova inequívoca do fato e considerando o interesse da
coletividade na disponibilização do conteúdo na Internet, desde que presentes os requisitos de verossimilhança
da alegação do autor e de fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação (BRASIL, 2014).
32

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. CAUTELAR DE EXIBIÇÃO.


RESPONSABILIDADE DO PROVEDOR DE INTERNET PARA RESPONDER
AO PROCESSO QUANDO FOR IMPOSSÍVEL DETERMINAR O AUTOR DE
MATÉRIA OFENSIVA. NO CASO EM TELA DEIXOU O APELANTE DE
OFERECER DENUNCIAÇÃO À LIDE, FATO QUE LHE COMPETIA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. TENDO A DEMANDADA DADO CAUSA À
PROPOSITURA DA DEMANDA, ESTABELECENDO-SE ASSIM, O LITÍGIO,
IMPÕE-SE A CONDENAÇÃO DA PARTE QUE PROVOCOU O
AJUIZAMENTO DA AÇÃO AO PAGAMENTO DAS DESPESAS
PROCESSUAIS E VERBA HONORÁRIA. OS HONORÁRIOS, EM FACE DO
PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE, SOBRE O QUAL REPOUSA O PRINCÍPIO
DA SUCUMBÊNCIA, SÃO DEVIDOS PORQUE HOUVE PRETENSÃO
RESISTIDA (RESP Nº 146.390/SP, STJ, 2ª TURMA, REL. MIN. ADHEMAR
MACIEL, J. 06/10/97, DJ 27/10/97, PG: 54.780; RESP 282674/SP, STJ, 3ª
TURMA, REL. MIN. NANCY ANDRIGHI, J. 03/04/2001, DJ DATA:07/05/2001
PG:00140). DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO PRIMEIRO APELO E
NEGARAM PROVIMENTO AO SEGUNDO APELO. UNÂNIME. (Apelação
Cível Nº 70009993692, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Luís Augusto Coelho Braga, Julgado em 27/04/2005).

Em um sentido semelhante, o Superior Tribunal Federal, também favoreceu o


provedor, como pode ser visto na seguinte jurisprudência:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSAO ESPECIAL. TERRA NTWOR


FOTOLOG. AÇÃO DE REPAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTEÚDO
REPUTADO OFENSIVO. MONITORAMENTO. AUSÊNCIA.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA AFASTADA. O propósito recursal reside na
possibilidade de existência de responsabilidade solidária da recorrente – uma
provedora de aplicações de internet – por conteúdos gerados por terceiros que
utilizam suas aplicações. Esta corte fixou entendimento de que ‘(i) não respondem
objetivamente pela inserção no site, por terceiros, de informações ilegais; (ii) não
podem ser obrigados a exercer controle prévio do conteúdo das informações
postadas no site por seus usuários; (iii) devem, assim que tiverem conhecimento
inequívoco dos conteúdos ilegais, removê-los [...] O dano moral decorrente de
mensagens com conteúdo ofensivo inseridas no site pelo usuário não constitui risco
inerente à atividade dos provedores de compartilhamento de vídeos, de modo que
não se lhes aplica a responsabilidade objetiva prevista no art. 927, parágrafo único,
do CC/02. [...] (STJ – Resp: 1531653 RS 2015/0108398-4, Relator: Ministra Nancy
Andrighi, data do julgamento: 13/06/2017, T3 – Terceira Turma, data da publicação:
DJe 01/08/2017).

Entretanto, em razão da impossibilidade de se determinar quem foi o autor da


matéria ofensiva, seria dever do provedor, no caso, responder por ela. Podendo mencionar
uma das adições advindas por meio da lei n° 12.965/2014, que foi a possibilidade de
responsabilidade civil do provedor de conexão de internet em consonância aos danos
decorrentes de conteúdo que foi gerado por outro. Porém, a responsabilidade se limita para
casos onde o provedor de conexão recebe ordem judicial para tornar o conteúdo registrado
como infringente indisponível e este não o faz.
Em suma, o Marco Civil não exige ordem judicial para que possa remover
qualquer conteúdo da internet. Ou seja, em uma atitude simples, o próprio provedor poderá
33

remover ou indisponibilizar aquele conteúdo considerado ofensivo de acordo com os termos


de uso e políticas da plataforma. De acordo com o Marco Civil, a responsabilidade civil dos
provedores está condicionada ao não cumprimento de uma ordem judicial específica. Porém,
não há nada que possa impedir que os provedores realizem suas políticas e decidam o que
pode ser considerado ou não ilícito, o que acaba gerando mais oportunidades de publicação de
conteúdo sem autorização.
No entendimento de Souza e Tiffe (2017), sobre esta questão, pode-se verificar o
que os autores explicam:

A responsabilidade não deriva, portanto, do descumprimento de uma notificação


privada. As exceções à essa regra são pontuais e encontram-se previstas no texto da
lei, quais sejam: para os conteúdos protegidos por direitos autorais (§2º do artigo 19)
e para os casos de divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de
vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter
privado (artigo 21), o que engloba a chamada pornografia de vingança (SOUZA;
TIFFE 2017 p. 03).

Acerca do contexto, Gonçalves (2019, p. 06) faz uma ressalva, ao dizer que a
responsabilidade do provedor “está vinculada a deixar de promover, de forma diligente, no
âmbito e nos limites técnicos de seu serviço, a indisponibilização do conteúdo”. Nesse
sentido, para o autor, significa dizer que o Marco Civil da Internet buscou consolidar um
verdadeiro espaço de liberdade na rede mundial de computadores, fortalecendo a tutela da
liberdade de expressão, impedindo como regra a censura privada e valorizando as
potencialidades de negócios que são desenvolvidos.
Ainda, em conformidade à temática da pesquisa e a responsabilização dos
provedores de informação, estes são retratados como os administradores das páginas de
relacionamento, em razão da própria atividade que exercem. Viu-se anteriormente, que pode o
provedor não ser responsável pela ação do indivíduo que postou o conteúdo indevido.
Todavia, há uma corrente que entende, que a atividade dos provedores
conglomera o risco da ocorrência de ilícitos em seus sites, em especial os ilícitos geradores de
dano moral. Assim, ressalta-se que em se tratando da responsabilidade pelo ato de um
terceiro, o provedor do site de relacionamento será sim responsabilizado pela conduta deste
usuário infrator, mesmo que não tenha realizado qualquer ato ilícito. Significa tratar da
responsabilidade indireta.
Nesta linha, colaciona-se, a exemplo, a decisão proferida pela Décima Segunda
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro:
34

Ação de Obrigação de Fazer cumulada com pedido de indenização por danos


morais. Site de relacionamento Orkut. Comunidade ilustrada com foto da autora e
referindo-se à indústria pornográfica. Prestação de serviços mediante remuneração
indireta. Relação de consumo configurada. Responsabilidade objetiva com base na
teoria do risco. Aplicabilidade da legislação consumerista. Conduta negligente e
omissiva da empresa ré. Dano moral configurado. Sentença que condenou a Ré
condenada ao pagamento de indenização por danos morais em R$ 10.000,00.
A prova dos autos mostra-se suficiente para comprovação dos danos sofridos pela
demandante. A responsabilidade da Ré encontra-se não pela criação do perfil, mas
pela sua manutenção na rede. Incumbia à ré a implantação de sistemas de segurança,
máxime diante da utilização de palavras altamente ofensivas e de baixo calão,
facilmente identificadas na rede. A responsabilidade civil objetiva com base na
Teoria do Risco do Empreendimento leva o empreendedor a ter de suportar os danos
morais sofridos pelo consumidor, isto porque o nexo causal encontra-se
inegavelmente vinculado à má prestação de serviço da empresa. Montante
indenizatório fixado de acordo com os princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, devendo ser mantido. RECURSOS CONHECIDOS
EIMPROVIDOS. (Apelação cível n.º 2009.001.42715. Relator: JDS DES. Antônio
Iloízio Barros Bastos, julgada em 22 de setembro de 2009).

Em que incida a responsabilidade objetiva buscada por essa corrente, há de se


mencionar que, uma vez identificado o usuário infrator, que cometeu o ilícito, gerando o
dano, o provedor terá o pleno direito, de mover em face deste, uma ação regressiva buscando
reaver o que despendeu. Contudo, enquanto isso não ocorre, o provedor deverá ser
responsável pelo pagamento da indenização proposta.
No que se refere à responsabilidade do provedor, pode-se considerar dois
aspectos, nos quais o provedor será responsabilizado. O primeiro, trata-se da prática de
condutas pelo provedor, que contribua para a ocorrência do dano, ou seja, as ações cometidas
pelo provedor convergem com as ações realizadas por um usuário infrator, e estas juntas
causam danos a um terceiro.
O segundo aspecto a ser considerado ocorre quando o provedor toma
conhecimento do ilícito praticado e permanece de mãos atadas, sem interferir na propagação
do fato, mantendo-se inerte, consentindo que o dano persista a se alastrar. Ainda, essa
situação pode ocorrer por dois desdobramentos, o primeiro, quando o provedor reconhece o
ilícito e a segunda quando o usuário vítima comunica ao provedor a ocorrência do fato. Sendo
que em ambas as circunstâncias fáticas o provedor se manteve alheio.
Nesse diapasão, pode-se afirmar que atualmente, talvez por inúmeros
acontecimentos semelhantes ao que foi aludido, as redes sociais dispõem de ferramentas que
fornecem oportunidade de denúncias para os usuários. Uma das formas de tentar conter os
atos ilícitos realizados em seus domínios, no entanto, o ato mais gravoso é quando a denúncia
é realizada e o não há manifestação do provedor em favor da vítima.
Em se tratando da fiscalização do conteúdo publicado, a Terceira Turma do
Superior Tribunal de Justiça faz menção ao entendimento de que não é possível exigir que o
35

provedor de Internet realize o controle do teor do material divulgado, conforme ementa a


seguir:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO ELETRÔNICO


ERESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS MORAIS. PROVEDOR DE BUSCA
NA INTERNET SEM CONTROLE PRÉVIO DE CONTEÚDO. ORKUT.
MENSAGEM OFENSIVA. NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. INÉRCIA DO PROVEDOR
DE BUSCA. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA CARACTERIZADA.
AGRAVO DESPROVIDO. Este Tribunal Superior, por seus precedentes, já se
manifestou no sentido de que: I) o dano moral decorrente de mensagens com
conteúdo ofensivo inseridas no site por usuário não constitui risco inerente à
atividade desenvolvida pelo provedor da internet, porquanto não se lhe é exigido que
proceda a controle prévio de conteúdo disponibilizado por usuários, pelo que não se
lhe aplica a responsabilidade objetiva, prevista no art. 927, parágrafo único, do
CC/2002; II) a fiscalização prévia dos conteúdos postados não é atividade intrínseca
ao serviço prestado pelo provedor no Orkut. A responsabilidade subjetiva do
agravante se configura quando: I) ao ser comunicado de que determinado texto ou
imagem tem conteúdo ilícito, por ser ofensivo, não atua de forma ágil, retirando o
material do ar imediatamente, passando a responder solidariamente com o autor
direto do dano, em virtude da omissão em que incide; II) não mantiver um sistema
ou não adotar providências, que estiverem tecnicamente ao seu alcance, de modo a
possibilitar a identificação do usuário responsável pela divulgação ou a individuação
dele, a fim de coibir o anonimato. Na hipótese, a decisão recorrida dispõe
expressamente que o provedor de busca foi notificado extrajudicialmente quanto à
criação de perfil falso difamatório do suposto titular, não tendo tomado as
providências cabíveis, optando por manter-se inerte, motivo pelo qual
responsabilizou-se solidariamente pelos danos morais infligidos à promovente,
configurando a responsabilidade subjetiva do réu. Agravo regimental não provido
(Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Recurso Especial
2012/0154715-6. AgRg no REsp 1402104. Relator: Ministro Raul Araújo.
Recorrente: Google Brasil Internet Ltda. Recorrido: Juliana Knust Sampaio. Terceira
Turma. Julgado em 27 mai 2014).

Porém, vê-se que a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, adotou, em


junho de 2012, posicionamento mais prejudicial ao provedor, pois entendeu ser admissível a
realização da fiscalização prévia. No entanto, essa decisão favorável permaneceu por pouco
tempo, sendo que em outra decisão pelo mesmo Tribunal, no ano de 2014, passou a
fundamentar seus julgados seguindo a orientação da Terceira Turma, ou seja, considerar que
não é plausível impor ao provedor a atuação de fiscalizar previamente o conteúdo publicado
na internet.
Nesse viés, entende-se que há uma harmonia entres os Tribunais, conferindo a
responsabilidade subjetiva aos provedores de internet quando notificados, ainda que de forma
extrajudicial, da existência de conteúdo ofensivo não toma providências no sentido tornar o
conteúdo indisponível para acesso.
Tem-se, até o momento, que as obrigações de reparar o dano ensejam
interpretação sobre a responsabilidade civil no Código Civil, Marco Civil da Internet
36

Contudo, cabe ressaltar que não afasta o entendimento e observação em outras leis que nutrem
o ordenamento jurídico.

4.2 BULLYING E A RESPONSABILIDADE CIVIL

Viu-se que diante da prática de bullying muitos danos psicológicos podem ser
ocasionados, contudo, outros danos de cunho moral e material também podem estar
associados. Proibir essa prática resguarda os direitos de personalidade, que são, inclusive
assegurados pela Constituição de modo que, se violados, cabe o dever de indenizar,
pleiteando este, pelo poder Judiciário (PELUSO, 2007).

4.2.1 Responsabilidade Civil da Instituição Escolar

Não há, na legislação, entendimento firmado sobre a responsabilidade civil


atribuída às instituições escolares, quando da prática de bullying, contudo, quando visto a
ocorrência desta prática, nesses locais, alguns Tribunais asseguram seu posicionamento,
demonstrando que cabe à instituição tal responsabilidade. É o que se verifica em um
julgamento realizado no Distrito Federal de Justiça, conforme ementa a seguir:

ABALOS PSICOLÓGICOS DECORRENTES DE VIOLÊNCIA ESCOLAR -


BULLYING - OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA.
SENTENÇA REFORMADA. CONDENAÇÃO DO COLÉGIO. VALOR MÓDICO
ATENDENDO-SE ÀS PECULIARIDADES DO CASO. Na espécie, restou
demonstrado nos autos que o recorrente sofreu agressões físicas e verbais de alguns
colegas de turma que iam muito além de pequenos atritos entre crianças daquela
idade, no interior do estabelecimento do réu, durante todo o ano letivo de 2005. É
certo que tais agressões, por si só, configuram dano moral cuja responsabilidade de
indenização seria do Colégio em razão de sua responsabilidade objetiva. Com efeito,
o Colégio réu tomou algumas medidas na tentativa de contornar a situação, contudo,
tais providências foram inócuas para solucionar o problema, tendo em vista que as
agressões se perpetuaram pelo ano letivo. Talvez porque o estabelecimento de
ensino apelado não atentou para o papel da escola como instrumento de inclusão
social, sobretudo no caso de crianças tidas como “diferentes”. Nesse ponto, vale
registrar que o ingresso no mundo adulto requer a apropriação de conhecimentos
socialmente produzidos. A interiorização de tais conhecimentos e experiências
vividas se processa, primeiro, no interior da família e do grupo em que este
indivíduo se insere, e, depois, em instituições como a escola. No dizer de Helder
Baruffi, “Neste processo de socialização ou de inserção do indivíduo na sociedade, a
educação tem papel estratégico, principalmente na construção da cidadania”.
(TJDFT - 20060310083312APC, Relator WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR, 2ª
Turma Cível, julgado em 09/07/2008, DJ 25/08/2008 p. 70).
37

Conforme ementa exposta acima, o Tribunal reconheceu o dano moral à vítima,


ressaltando responsabilidade objetiva da instituição de ensino, em razão desta não ter estado
atenta ao seu papel na construção da cidadania em relação aos aspectos de inclusão social.
Chama atenção para reflexo do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor (CDC), em que
aponta defeitos na prestação de serviços, nesse caso a escola, que deve amparar aos danos
causados a seus consumidores, por assim dizer o aluno, que foi vítima de bullying. Ainda
mais, por ser a própria instituição a maior responsável por proibir ou impedir que essas
práticas ocorram no ambiente e afetem seus alunos.
Desta feita, ressalva Júnior (2009), que após a vigência do CDC, os
estabelecimentos de ensino respondem objetivamente em relação à responsabilidade do
educando. Isso, porque, em relação ao seu artigo 145, o colégio possui o dever de prestar
serviços seguros aa seus consumidores, outrossim, ao sofrer com a prática de bullying, esse
serviço não é considerado seguro.
De outra forma, como possiblidade de demonstrar que a instituição de ensino não
possui responsabilidades sobre o fato, seria demonstrando que o serviço foi realizado de
forma adequada, sem a manifestada prestação indevida, conforme respalda o mesmo artigo
14, em seu parágrafo 3°, incisos I e II, que afirmam o seguinte: “Art. 14, [...] §3º. "O
fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o
serviço, o defeito inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros” (BRASIL,
1990).
Deste modo, se a instituição demonstrar que inexiste o bullying, que seria a
caracterização do defeito pelo serviço oferecido, então a instituição se beneficia da excludente
em questão. Em segunda hipótese, deve a instituição, demonstrar que à época dos fatos foi
oferecida a segurança necessária, tanto que pode ser visto tal fato em um julgamento pelo
estado do Rio de Janeiro, vê-se:

5
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos
danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a
segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as
quais: I - o modo de seu fornecimento; II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a
época em que foi fornecido. § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas. § 3° O
fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar: I - que, tendo prestado o serviço, o defeito
inexiste; II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros. § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais
liberais será apurada mediante a verificação de culpa (BRASIL, 1990).
38

RELAÇÃO DE CONSUMO. Estabelecimento de ensino. Prestação de serviço de


tutela de menor. Alegação de abalos psicológicos decorrentes de violência escolar.
Prática de bullying. Ausência de comprovação do cometimento de agressões no
interior do estabelecimento escolar. Adoção das providências adequadas por parte do
fornecedor. Observância do dever de guarda. Falha na prestação do serviço não
configurada. Fatos constitutivos do direito da autora indemonstrados. Manutenção
da sentença. Recurso desprovido. (TJRJ – 00152397120078190203 – apelação, Des.
Carlos E. Passos - Julgamento: 28/07/2010 - Segunda Câmara Cível).

Até o momento, percebe-se que o estabelecimento de ensino deve comprovar


adequada prestação de serviços, ou seja, caso não sejam tomadas todas as medidas necessárias
para que o aluno receba um ensino de qualidade, o que reflete no tratamento dado a ele, a
escola incorre em responsabilidade civil, se comprovados fatos contrários aos que devem ser
oferecidos em suas dependências.
Se verificadas ainda, questões mais severas, a jurisprudência apresenta casos em
que os próprios professores são responsabilizados pela prática de bullying quando os alunos
estão sob seus cuidados. Esta é uma das possibilidades demonstradas pelo Tribunal do Rio
Grande do Sul, julgamento realizado pela 10ª Câmara Cível, conforme pode ser visto ementa
colacionada abaixo:

Apelação civil. Responsabilidade civil. Responsabilidade do estabelecimento do


ensino. Agressão entre menores. Falta de cuidado da educadora e da escola. Agravo
retido. Denunciação da lide. Tratando de responsabilidade fundada no artigo 932,
inciso IV, do código civil, não procede a denunciação da lide, haja vista a
inexistência de direito de regresso do estabelecimento de ensino contra os pais do
causador do dano. Ilegitimidade passiva da professora. Sendo a educadora
responsável pela vigilância aos menores que se envolveram na agressão, tem
legitimidade para responder por danos decorrentes do evento. Tendo a educadora e a
escola faltada com o cuidado necessário na guarda dos alunos da turma maternal,
cujos antecedentes indicavam a presença de um aluno com histórico de brigas,
devem responder pelos danos causados pela agressão (e não agressividade)
verificada. Dano moral puro. [...] Apelações providas, em parte. Agravo retido
desprovido. Decisão unânime. (TJRS. 10ª Câmara Cível. AC 70024551392. Rel.
Jorge Alberto Schreiner Pestana. Julgamento: 28.05.2009. Diário da Justiça:
23.07.2009).

É nítida a preocupação dos julgadores em demonstrar que a escola, assim como


seu quadro de colaboradores, como visto, os professores, são os intermediadores de uma
situação que merece atenção. A escola é um local de formação de indivíduos, que além de
formar em conhecimento também os formam para a sociedade, fato que pode ser atribuído a
relevância aos cuidados decorrentes da prática de bullying.
39

4.2.2 Da Responsabilidade Civil do Agressor Menor aos Pais

Como já vislumbrado, a responsabilidade civil incorre àquele que realiza ato


ilícito e causa dano a alguém, devendo reparar a este. Conforme tal, é mister dizer que o
agressor que remete à prática de bullying, possui também, o dever de indenizar sua vítima.
Ainda, é sabido que em maioria dos casos, o praticante deste ato é menor, fato que leva a
responsabilidade recair sobre seus responsáveis legais, como explica o Código Civil, em seu
artigo 932: “São também responsáveis pela reparação civil: I - os pais, pelos filhos menores
que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o tutor e o curador, pelos pupilos e
curatelados, que se acharem nas mesmas condições” (BRASIL, 2002).
Elencado isso, as atitudes do menor refletem responsabilidade nos mencionados
pelo artigo supra, mesmo que não tenham parte em culpa. A partir daí, observa-se o que se
chama de culpa in vigilando, decorrente da falta de vigilância ou fiscalização do responsável.
No que se refere ao bullying, os pais não podem alegar que seus filhos incorreram nessa
prática, ocasionaram danos a outro e não possuíam conhecimento, pois é dever destes,
supervisionar seus filhos (TARTUCE, 2012).
Reforça Stoco (2009), que os pais devem ser responsabilizados quando o filho
menor praticar atos ilícitos, pois é estabelecido pelo poder familiar que eles sejam
orientadores e disciplinadores das atitudes desse filho, evitando tais comportamentos.
Outrora, ainda se verifica que o artigo 928 do Código Civil, que traz: “O incapaz
responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação
de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes”. Assim, de forma subsidiária, os pais
passam a ser responsabilizados pelo ato do incapaz (BRASIL, 2002).
Contudo, se observado o artigo 942 do mesmo dispositivo, que alude a seguinte
redação: “os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos
à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão
solidariamente pela reparação” (BRASIL, 2002), interpreta-se que o menor é responsabilizado
juntamente com os pais de forma solidária.
Outrossim, a regra mantém a responsabilidade pelos pais do menor
salvaguardando em casos que o juiz determinar que a responsabilidade seja solidária. Por
conseguinte, verificada a possibilidade de responsabilização dos pais, pelos atos dos filhos,
em se tratando do bullying, os Tribunais já demonstraram entendimento de que aos pais cabe
tal fato, quando a prática dos seus filhos for em estabelecimento fora do ambiente escolar,
configurando ainda, o cyberbullying, realizado com auxílio da internet, conforme se verifica:
40

Apelação. Responsabilidade civil. Internet. Uso de imagem para fim depreciativo.


Criação de flog. Página pessoal para fotos na rede mundial de computadores.
Responsabilidade dos genitores. Pátrio poder. Bullying. Ato ilícito. Dano moral in re
ipsa. Ofensas aos chamados direitos de personalidade. Manutenção da indenização.
[...] PC do ofensor. [...] A prática de bullying é ato ilícito, haja vista compreender a
intenção de desestabilizar psicologicamente o ofendido, o qual resulta em abalo
acima do razoável, respondendo o ofensor pela prática ilegal. Aos pais incumbe o
dever de guarda, orientação e zelo pelos filhos menores de idade, respondendo
civilmente pelos ilícitos praticados, uma vez ser inerente ao pátrio poder, conforme
inteligência do art. 932, do Código Civil. Hipótese em que o filho menor criou
página na internet com a finalidade de ofender colega de classe, atrelando fatos e
imagens de caráter exclusivamente pejorativo. Incontroversa ofensa aos chamados
direitos de personalidade do autor, como à imagem e à honra, restando, ao
responsável, o dever de indenizar o ofendido pelo dano moral causado, o qual, no
caso, tem natureza in re ipsa. [...] Apelos desprovidos. (TJRS. 6ª Câmara Cível. AC
70031750094. Rel. Liege Puricelli Pires. J 30.06.2010. DJ 12.07.2010).

Diante dos casos expostos, verifica a responsabilidade civil atribuída à instituição


de ensino, quando da prática de bullying, ao passo que, fora desse ambiente, se caracteriza o
cyberbullying, em razão da utilização de meios tecnológicos, responsabilizando então, aos
pais, quando o agressor for menor.

4.3 CYBERBULLYING E A RESPONSABILIDADE CIVIL

Como mencionado anteriormente, o Marco Civil da Internet (MCI) dispõe de


alguns dispositivos que demonstram a responsabilidade do provedor quando há prática de um
ato ilícito. O Supremo Tribunal de Justiça (STJ), já apresentou posicionamento no caso do
cyberbullying, em que ao provedor gera responsabilização por possíveis danos. Nesse intento,
passa o provedor a responder solidariamente com o autor do ato ilícito (FIDALGO, 2015).
Da ocorrência do cyberbullying ser atribuída a conteúdos de nudez, atos sexuais
privados, tendo publicação sem consentimento, deve o provedor remover o conteúdo
imediatamente, por meio de notificação extrajudicial. Caso contrário, decorre de pena, como
impõe o artigo 21 do MCI, verificando que:

Art. 21: O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por
terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade
decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de
vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter
privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu
representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites
técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo (BRASIL, 2014).
41

Em razão da licitude, em manter privada a vida de cada um, resguardando seu


sigilo, a justiça brasileira oferece proteção àqueles que veem veiculados seus conteúdos sem
permissão. É possível verificar a concessão de liminares e quando necessário, multas diárias
aos sites que armazenam esses conteúdos de forma ilícita (FIDALGO, 2015).
Uma das formas de enfrentamento ao cyberbullying é utilizando justamente o
MCI, quando noticiada a responsabilidade civil para punir os responsáveis, como se pode ver
em algumas jurisprudências, podendo exemplificar a seguir:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO


POR DANOS MORAIS. A INTERPOSIÇÃO DE RECURSO SEM PREPARO
NÃO IMPORTA EM DESERÇÃO QUANDO O PLEITO DE CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO DA AJG FORMULADO NA RESPOSTA NÃO FOI APRECIADO
PELO JUÍZO SINGULAR. A falta de recolhimento do preparo não autoriza o
decreto de deserção do apelo, sem que antes o Tribunal aprecie o requerimento de
concessão da gratuidade judiciária, sobretudo quando a questão é suscitada no
próprio apelo, como no caso. Aplicação da regra inscrita no § 1º do artigo 515 do
CPC. BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. LEI Nº.
1.060/50. PRESUNÇÃO DE NECESSIDADE. Legítimo a parte requerer o
benefício da gratuidade na contestação, com esteio no art. 4º da Lei nº. 1.060/50, que
se harmoniza com o art. 5º, inciso LXXIV, da Constituição Federal. Condição social
e financeira dos réus, ora apelantes, compatível com o benefício da AJG.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DOS PAIS PELOS DANOS CAUSADOS
PELOS FILHOS MENORES. ART. 932, INC. I, C/C 933, AMBOS DO CÓDIGO
CIVIL. CYBERBULLYING. CRIAÇÃO DE COMUNIDADE NO "ORKUT".
CONTEÚDO OFENSIVO À HONRA E À IMAGEM DA AUTORA. VIOLAÇÃO
A DIREITOS DA PERSONALIDADE. ILÍCITO CONFIGURADO. DEVER DE
INDENIZAR CARACTERIZADO. DANOS MORAIS IN RE IPSA. Criação de
comunidade no "Orkut" pela ré, menor impúbere, na qual passou a veicular
comentários depreciativos e ofensivos a colega de turma de colégio. Conteúdo
ofensivo à honra e imagem da autora. Situação... concreta em que verificados o ato
ilícito praticado pela menor corré (divulgação de conteúdo ofensivo à imagem-
atributo da autora na internet), o dano (violação a direitos da personalidade) e o nexo
causal entre a conduta e o dano (pois admitida pela ré a confecção e propagação na
internet do material depreciativo), presentes estão os elementos que tornam certo o
dever de indenizar (art. 927, CC). Os genitores respondem de forma objetiva, na
seara cível, pelos atos ilícitos praticados pelos filhos menores. Responsabilidade que
deriva da conjugação da menoridade do filho e da circunstância fática desse se achar
sob o pátrio poder dos pais, a quem incumbe zelar pela boa educação da prole. Dano
"in re ipsa", dispensando a prova do efetivo prejuízo. ARBITRAMENTO DO
"QUANTUM" INDENIZATÓRIO. VALOR REDUZIDO. Montante da indenização
pelo dano moral reduzido em atenção aos critérios de proporcionalidade e
razoabilidade, bem assim às peculiaridades do caso concreto e parâmetro adotado
por Órgãos Fracionários deste Tribunal em situações similares. APELO PROVIDO
EM PARTE. (Apelação Cível Nº 70042636613, Nona Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Miguel Ângelo da Silva, Julgado em 27/05/2015). (TJ-RS -
AC: 70042636613 RS, Relator: Miguel Ângelo da Silva, Data de Julgamento:
27/05/2015, Nona Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
01/06/2015).

Diante da ementa supramencionada, viu-se atribuída responsabilidade civil


atribuída ao cyberbullying. Sobre o caso exposto, em decorrência de erro conferido por
cartório, terceiros puderam vislumbrar processo que corria em segredo de justiça, o que, dado
42

conhecimento revelado, levou a vítima a sofrer violência eletrônica. Tal fato acabou
ensejando a condenação do cartório ao pagamento por danos morais em razão do sofrimento
causado à vítima.
Outra situação vista pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, foi em razão de
uma das modalidades o cyberbullying, decorrente do stalking, caracterizando a conduta de
cyberstalking, vislumbra-se ementa abaixo:

APELAÇÃO. INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE CIVIL. VIOLÊNCIA


PSIGOLÓGICA. STALKING. RÉU QUE ALEGA SER PORTADOR DE
SÍNDROME DEASPERGER. INCAPACIDADE CIVIL. NÃO COMPROVAÇÃO.
DANOS MORAIS.OCORRÊNCIA. VALOR. REDUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE.1.
A intimidade e a vida privada dos indivíduos possuem proteção constitucional (CF,
art. 5º, X). Atenta contra esses direitos, a violência psicológica, a perseguição
obsessiva, conhecida como Stalking tipificada como infração penal. [...] 4. Diante
das circunstâncias do caso concreto, das condições pessoais e econômicas das partes
e da extensão do dano, a quantia fixada na sentença é razoável e proporcional e deve
ser mantida 5. Recurso conhecido e não provido. (TJDF 07141579820198070001
DF - (0714157-98.2019.8.07.0001) Relator: DIAULAS COSTAS RIBEIRAO, Data
de Julgamento: 08/10/2020 Órgão Julgador: 8ª Turma Cível, Data da Publicação:
23/10/2020) (DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS, 2020).

De acordo com o caso supra, a autora sofreu por cinco anos, durante o período de
2014 a 2019, perseguição pelo réu, caso ainda, que resultou no registro de seis boletins de
ocorrência. Tipificou-se violência psicológica em razão do transtorno de tal perseguição, visto
ainda, confissão do ato pelo homem acusado, sendo mantida decisão e determinado
pagamento de danos morais.
Ainda, pode-se verificar outra decisão dada pelo Tribunal do estado de São Paulo,
diante do mesmo fato supra, ocorrido com outra vítima conforme se vê ementa:

PERSEGUIÇÃO VIRTUAL – CYBERSTALKING – CONDUTA ILÍCITA


CONFIGURADA – INDENIZAÇÃO DEVIDA – UTILIZAÇÃO INDEVIDA DE
IMAGEM PARA MONTAGEM DE PERFIL FALSO – DANO MORAL
CONFIGURADO – RECURSO NÃO PROVIDO – A conduta do requerido
configura o que na atualidade se denomina de stalking. Considera-se stalker aquele
que, utilizando-se dos meios virtuais, promove perseguição à sua vítima,
importunando-a de fora insistente e obsessiva, atacando-a e agredindo-a. A atuação
do stalker consiste em invadir a esfera de privacidade de sua vítima, pelas mais
variadas maneiras, promovendo a intranquilidade, fomentando o medo, difundindo
infâmias e mentiras de modo a afetar a autoestima e a honra do perseguido. (TJSP;
Apelação Cível 1002596-16.2018.8.26.0484; Relator (a): Ronnie Herbert Barros
Soares; Órgão Julgador: 10ª Câmara de Direito Privado; Foro de Promissão - 2ª Vara
Judicial; Data do Julgamento: 27/03/2020; Data de Registro: 27/03/2020) (SÃO
PAULO, 2020).

Tais fatos se revelaram ferir a imagem da autora, assim como a de seu filho,
verificadas ameaças perturbadoras, além de as imagens terem sido utilizadas para criar perfis
falsos, oferecendo serviços de prostituição, inferindo nome e contato.
43

Verifica-se mais um acórdão, agora proferido pelo Tribunal de Minas Gerais,


conforme:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS -


ASSÉDIO MORAL - STALKING - PERITO - CONFIANÇA DO JUIZ - LAUDO -
ERRO NÃO DEMONSTRADO - DANO MORAL - CONFIGURADO -
REDUÇÃO - NÃO CABIMENTO - LUCROS CESSANTES - NÃO
COMPROVADOS. - Demonstrada a perseguição sofrida pela parte autora e a
conduta extremamente grave da parte ré, que leve àquela a desestabilização
emocional e psicológica, fragilizando-a e desnorteando-a, inclusive forçando-a,
pelas situações incômodas e humilhantes, a pedir exoneração do seu cargo, resta
configurado o assédio moral, na modalidade "stalking", passível de indenização por
dano moral. [...] (TJMG - Apelação Cível. 1.0106.14.002673-8/001, Relator(a):
Des.(a) Evandro Lopes da Costa Teixeira, 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
05/04/2018, publicação da súmula em 17/04/2018) (MINAS GERAIS, 2018).

No caso acima, duas mulheres concorriam a uma vaga em cargo público, ao passo
que a autora, que passou no processo seletivo e conseguiu a vaga, passou a ser perseguida
pela sua concorrente, que não se conformou em perder o posto. As mensagens proferidas
foram constatadas como ocorrência de cyberstalking, ensejando a exoneração do cargo.
Diante dos fatos, elucida-se o que mencionou o desembargador Evandro Teixeira,
em seu voto: “verifica-se que a conduta da ré levou a autora à desestabilização emocional e
psicológica, fragilizando-a e desnorteando-a, inclusive forçando-a, pelas situações incômodas
e humilhantes, a pedir exoneração de seu cargo” (MINAS GERAIS, 2018). Dada a
consequência psicológica, revelada pela autora, foi assegurado o pagamento de danos morais
pela ré, causadora de todo transtorno em razão da prática exposta.
Em um outro caso, expõe-se um julgamento realizado pelo Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul que também reconheceu condenação devida pelos danos morais à vítima,
vendo-se ementa colacionada:

RESPONSABILIDADE CIVIL.STALKING. DANO MORAL. 1. A conduta da


parte ré permite a caracterização de STALKING. Intromissão indevida na vida
íntima da autora. 2. Dano moral passível de caracterização e a na sua fixação se deva
observar além de outros elementos a extensão da perda de privacidade por parte da
autora e a condição econômica do réu. Recurso de apelação provido. (Apelação
Cível, Nº 70074154501, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Eduardo Kraemer, Julgado em: 30-08-2017) (Grifo nosso) (RIO GRANDE DO
SUL, 2017).

Sobre o caso, o relator reconheceu a prática de cyberstalking, trazendo o voto do


desembargador, que expôs: “na fixação da indenização, necessário o exame do conteúdo das
agressões, a necessidade para repelir e afastar novas lesões, bem como a condição econômicas
da parte que deva suportar a indenização” (RIO GRANDE DO SUL, 2017). Visto que se
encaminhou decisão de condenar ao pagamento indenizatório, no valor de R$ 3.000,00.
44

Em meio aos casos observados, foi clara a participação das mulheres no polo
ativo, atraindo precisamente a ocorrência do cyberstalking, ressaltando o pagamento de
indenização em decorrência das atitudes verificadas. Em relação ao entendimento das
jurisprudências expostas, compreenderam os magistrados a caracterização do fato mediante o
uso da tecnologia virtual.
45

5. CONCLUSÃO

Com o término desta pesquisa foi possível verificar que a ocorrência do


cyberbullying se deu mediante toda uma conduta evolutiva, trazendo uma ruptura no âmbito
social, causada pelo avanço tecnológico. O mesmo ambiente que deveria ser utilizado para
fins de conhecimento e repercussão sadia de conteúdo é visto, em maioria, como um ambiente
hostil, em que indivíduos mal-intencionados se aproveitam da proteção por trás das telas para
disparar ofensas e atingir qualquer um que se sinta vulnerável no ambiente.
Não se pode deixar de mencionar que dada a situação de ocorrência do bullying,
fato que assimilou inicialmente o conteúdo aqui exposto, é uma realidade infeliz, mas
recorrente em escolas do todo o mundo. Quando abordada sua consequência, viu-se situações
desastrosas que estimularam adolescentes a tirarem suas próprias vidas. Quanto atribuída à
responsabilidade civil, com o fator indenizatório, viu-se que os maiores responsáveis por tais
práticas são os responsáveis pela instituição escolar, que devem ser mediadores em tais
situações, inibindo a prática e oferecendo um serviço com segurança.
Contudo, quando visto essa prática fora desse ambiente, essa responsabilidade
recai aos pais ou responsáveis destes agressores, quando menores. Ainda, em razão de ocorrer
tal ato fora de uma instituição escolar, viu-se que há nova caracterização, o cyberbullying.
Também, sobre este, observou-se que não apenas os menores realizam tais práticas, mas
pessoas maiores de idade que também se veem inseridas nessa situação.
No tocante aos julgamentos analisados pelos Tribunais, teve-se maior recorrência
de casos apontando uma das modalidades do cyberbullying, o cyberstalking, caracterizado
pela perseguição no ambiente virtual. Este, por sua vez, é passível de pagamento por danos
morais, como corroborou entendimento de todos os Tribunais expostos.
Atribuída a estas considerações, viu-se que se pôde responder ao problema
inicialmente elencado, que buscou saber qual é a sanção civil aplicada ao agressor que pratica
o cyberbullying, visto que é o pagamento de valor fixado em razão do dano moral. Outrora, é
mister destacar que a legislação brasileira é escassa em relação às punições atribuídas aos
agressores do cyberbullying, fato que provoca discussão, uma vez que esta ocorrência, assim
como o bullying, estão cada vez mais recorrentes no cenário brasileiro.
46

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