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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL

MANUELA TONIM HOPPEN

RELAÇÕES DIGITAIS E A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL PERANTE A


VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Ijuí (RS)
2021
MANUELA TONIM HOPPEN

RELAÇÕES DIGITAIS E A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL PERANTE A


VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Monografia final do Curso de Graduação


em Direito, objetivando a aprovação no
componente curricular Monografia.
Universidade Regional do Noroeste do
Rio Grande do Sul – UNIJUÍ.

Orientadora: Dra. Janaína Machado Sturza

Ijuí (RS)
2021
MANUELA TONIM HOPPEN

RELAÇÕES DIGITAIS E A RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL PERANTE A


VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Direito, objetivando a aprovação


no componente curricular Trabalho de Curso - TC. UNIJUI - Universidade Regional
do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

A banca avaliadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão:

______________________________________________
Professora Orientadora: Dra. Janaína Machado Sturza

______________________________________________
Professor(a) Examinador(a):

______________________________________________
Professor(a) Examinador(a):

Ijuí, __/__/____
Dedico este trabalho à minha família, pelo
incentivo, apoio e confiança em mim
depositados durante toda a minha
jornada.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço à Deus, por permitir que tudo isso acontecesse, por
ter me dado saúde e força para superar as dificuldades dessa caminhada, e não
somente nestes anos como universitária, mas em todos os momentos da minha
vida.
À minha mãe, Maira, pela ternura com que dividiu as cargas da vida comigo,
pelos abraços e palavras graciosas que me edificaram com conforto e amor, por
todo apoio e incentivo nas horas difíceis de desânimo e cansaço, bem como por
toda a confiança que depositou em mim ao longo deste trabalho.
Ao meu pai, Neimar, que não mediu esforços para que eu chegasse até essa
etapa da minha vida, por acreditar que eu seria capaz de superar os obstáculos
apresentados, e principalmente pelo esteio e assistência para que tudo isso pudesse
se tornar realidade. És sinônimo de valentia, e felizmente transferiu a mim sua garra
e coragem de correr atrás dos meus objetivos.
À minha avó Neli, pelas orações em meu nome, pela fé com que recorreu à
Deus pedindo a intervenção do Divino Espírito Santo para que me concedesse
saúde – física e mental – durante toda minha vida, assim como durante o percurso
da vida acadêmica.
À minha orientadora, Professora Janaína Machado Sturza, pela dedicação do
seu tempo e paciência. Seus conhecimentos e sua sabedoria fizeram grande
diferença no resultado final deste trabalho.
A todos os colegas de estágio que tive durante esses 5 anos de vida
acadêmica, que contribuíram significativamente para o meu crescimento profissional.
A todos que, direta ou indiretamente, fizeram parte da minha formação, o meu
muito obrigado.
RESUMO

O presente trabalho versa sobre as relações digitais e a responsabilização civil


perante a violação dos direitos da personalidade. Tem como objetivo a análise da
possibilidade de responsabilizar civilmente aquele que realiza comentários maldosos
a usuários nas redes sociais, dando ênfase nos danos causados aos direitos
personalíssimos do indivíduo, iniciando com noções históricas e contemporâneas
desses direitos, observando casos concretos de vítimas que tiveram seus direitos
violados, bem como analisar o entendimento e atuação do Superior Tribunal de
Justiça e Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul nesses casos. A problemática
traz o seguinte questionamento: É possível a imputação de dano moral face a
violação de direito de personalidade em redes sociais? Quanto à metodologia
utilizada, tem-se como método empregado o hipotético-dedutivo, através de
pesquisa exploratória, que consiste na coleta de dados em fontes bibliográficas
disponíveis em meios físicos e na Internet. Por fim, ao longo da pesquisa, e com
base no entendimento dos tribunais citados acima, assim como já existem inúmeras
ações ajuizadas neste intuito, concluiu-se que é possível responsabilizar o terceiro
ou o provedor da Internet quanto aos comentários de cunho pejorativo, desde que
observado cada caso com suas particularidades.

Palavras chaves: Responsabilidade civil. Comentários. Redes sociais. Direitos da


personalidade.
ABSTRACT

The present work deals with digital relations and civil accountability in the face of the
violation of personality rights, with the general objective of analyzing the possibility of
holding civilly responsible those who made malicious comments to users on social
networks, emphasizing the damage caused to very personal rights. of the individual,
starting with historical and contemporary notions of these rights, observing concrete
cases of victims who had their rights violated, as well as analyzing the understanding
and performance of the Superior Court of Justice and Court of Justice of Rio Grande
do Sul in these cases. The problem raises the following question: Is it possible to
attribute moral damage in the face of the violation of the right to personality in social
networks? As for the methodology used, the hypothetical-deductive method used in
the research is used, through exploratory research, which consists of collecting data
from bibliographic sources available in physical media and on the Internet.
Finally, throughout the research, and based on the understanding of the courts
mentioned above, as there are already numerous lawsuits filed in this regard, it was
concluded that it is possible to hold the third party or the Internet provider responsible
for pejorative comments, provided that observed each case with its particularities.

Keywords: Civil liability. Comments. Social networks. Personality rights.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Comentários racistas – Taís Araújo ........................................................ 49


Figura 2 – Desabafo – Luísa Sonza ........................................................................ 50
Figura 3 – Comentários preconceituosos – Luísa Sonza ........................................ 50
Figura 4 – Comentários no Instagram - Natasha Villaschi ....................................... 52
Figura 5 – Comentários sobre Vitória ...................................................................... 53
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 8

1 OS DIREITOS DA PERSONALIDADE .............................................................. 10


1.1 Origem, conceito e evolução histórica dos direitos da personalidade ................ 10
1.2 Os direitos da personalidade e seus avanços com o Código Civil Brasileiro de
2002 .......................................................................................................................... 18
1.3 A natureza jurídica dos direitos da personalidade .............................................. 23

2 A UTILIZAÇÃO DAS REDES SOCIAIS E SUA RESPONSABILIDADE CIVIL


PELA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE ................................... 27
2.1 A utilização das redes sociais ............................................................................ 28
2.2 A nova responsabilidade civil à luz do Marco Civil da Internet: Lei 12.965/2014 33
2.3 Possibilidade de reparação dos danos morais por publicações indevidas nas
redes sociais ............................................................................................................ 39

3 ANÁLISE DE CASOS CONCRETOS ACERCA DA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS


DA PERSONALIDADE NAS REDES SOCIAIS ....................................................... 47
3.1 Análise dos casos concretos e atuais acerca das publicações ofensivas na
internet ..................................................................................................................... 47
3.2 Entendimento do Superior Tribunal de Justiça acerca da violação dos direitos da
personalidade ........................................................................................................... 54
3.3 Entendimento do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul acerca da violação
dos direitos da personalidade ................................................................................... 60

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 66

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 68
8

INTRODUÇÃO

O presente trabalho propõe uma análise reflexiva acerca de como as redes


sociais apresentam-se como espaços de interação entre os sujeitos, e a forma como
os sujeitos podem fazer seu uso, seja publicando ou divulgando conteúdos de seu
interesse com outras pessoas, formando assim um relacionamento entre os
mesmos, onde podem compartilhar diversas informações instantâneas e imediatas.
Busca-se com isso, ampliar as possibilidades de compreensão do
desenvolvimento da expansão da internet atualmente, bem como observar o
surgimento de um espaço virtual que é utilizado não só como ferramenta de
trabalho, busca por novas amizades e relacionamentos, como também enseja a
prática de diversos atos ilícitos, como no caso do presente trabalho, o ferimento aos
direitos da personalidade. Destaca-se dessas práticas ilícitas, o envio de mensagens
indesejadas potencialmente lesivas à honra subjetiva, que podem causar grandes
danos à vida do indivíduo que se torna vítima desses comentários maldosos.
Qualquer usuário das redes sociais tem a oportunidade de acesso hoje em
dia às redes, bem como de expressar sua opinião através do ciberespaço, no
entanto, ao mesmo tempo que se tem essa liberdade de dizer o que quer, também
surge a necessidade de responsabilização pelo que foi dito.
O ordenamento jurídico tem como finalidade proteger e disciplinar
coercitivamente as condutas humanas, a fim de buscar a harmonia em sociedade,
bem como averiguar as ilicitudes ocorrentes em diversas situações, ou seja, o direito
procura amparar a conduta com a lei, a moral e os bons costumes, tal como refuta,
concomitantemente, o comportamento daquele que a contraria.
A Internet é de extrema importância nos dias de hoje, mas também trouxe
muitos problemas, cabendo ao direito a tarefa de proteger a sociedade e os
utilizadores desse meio daqueles que a utilizam “sem freio” a fim de causar prejuízo
a terceiros, realizando postagens com conteúdo ofensivo e provocante, que causam
9

graves lesões ao direito do indivíduo, violando os direitos básicos previstos no Art. 5º


da Constituição Federal.
O objetivo geral da pesquisa consiste em verificar a possibilidade de
responsabilização civil frente à violação do direito de personalidade nas redes
sociais, ou seja, busca analisar a responsabilidade civil daquele que realizou
comentários maldosos a outros usuários, dando ênfase nos danos causados aos
direitos personalíssimos do indivíduo.
Com os objetivos específicos da pesquisa, busca estudar o direito da
personalidade e as relações digitais, observando a maneira como os usuários
interagem nas redes sociais no que diz respeito à violação dos direitos da
personalidade; verificar a atuação da Lei do Marco Civil da Internet em relação à
essa violação; bem como a possibilidade do dano moral em face da violação dos
direitos da personalidade.
Ressalta-se ainda, que a presente pesquisa baseia-se no método de
abordagem hipotético-dedutivo, bem como detém essência exploratória, que
consiste na coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e
na rede de computadores.
Nesse sentido, convém salientar que o problema central que orienta a
pesquisa pode ser sintetizado no seguinte questionamento: é possível a imputação
de dano moral face a violação de direito de personalidade em redes sociais?
Para alcançar os objetivos delineados, o trabalho encontra-se estruturado em
três capítulos. No primeiro capítulo, será analisada as características, noções
históricas e contemporâneas dos direitos da personalidade, bem como será feito
uma análise do Código Civil de 2002 e seus avanços durante o passar dos anos em
relação a proteção dos direitos da personalidade. No segundo capítulo, será
abordado como são utilizadas as redes sociais pelos usuários e a sua
responsabilização civil perante aos danos causados quando se viola o direito da
personalidade de alguém que está inserido neste meio. E por fim, no terceiro
capítulo será feita uma análise de casos concretos dos usuários de redes sociais
que sofreram ataques diretamente ligados aos seus direitos de personalidade e qual
é o entendimento do STJ e TJRS nesses casos.
10

1 OS DIREITOS DA PERSONALIDADE

O homem em sua trajetória necessita de proteção para viver sua vida pessoal
e social, primordialmente a proteção ao bem da vida e outros bens que possui como
pessoa de direito. Para tanto, este amparo deve ser garantido por quem possui
legítimo poder para exercê-lo.
Os direitos da personalidade, consagrados pela Constituição Federal de 1988
em seu art. 5º, inciso X e pelo Código Civil de 2002 nos artigos 11 a 21 tem o intuito
de proteção desses direitos. Portanto, quando desrespeitada alguma conduta
referente ao corpo, à saúde, à honra, ou qualquer outro fundamento constitucional,
está se violando os direitos da personalidade.
Nessa perspectiva, sendo violado esses bens inerentes à personalidade, a
vida, a honra, e liberdade, por exemplo, podem trazer inúmeros ferimentos à sua
dignidade e integridade física e íntima.

1.1 Origem, conceito e evolução histórica dos direitos da personalidade

A promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988


deu origem a uma das maiores inovações no que se refere à garantia dos direitos
humanos fundamentais em nossa ordem jurídica. Trata-se dos Direitos da
Personalidade:

[...] reconduzidos de sua sede civil, com fundamento no artigo 11 e


seguintes do Código Civil, para as normas mais gerais do artigo 5º, X, da
Constituição Federal de 1988, segundo o qual “são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação” [...] (CONRADO, 2013, n.p., grifo do autor).

Compreende-se que a personalidade além de ser um direito, ela é um valor, a


qual é muito discutida em doutrinas e tribunais em relação a sua violação, a qual faz
parte das normas gerais do artigo 5º da Constituição Federal (1988), além disso,
abrange diversas áreas da vida pessoal do indivíduo.
Carlos Alberto Bittar em sua obra “Os Direitos da Personalidade”, classifica e
ressalta a importante extensão destes direitos no capítulo V.
O autor distribui os direitos da personalidade em:
11

a) direitos físicos; b) direitos psíquicos; c) direitos morais; os primeiros


referentes a componentes materiais da estrutura humana (a integridade
corporal, compreendendo: o corpo, como um todo; os órgãos; os membros;
a imagem, ou efígie); os segundos, relativos a elementos intrínsecos à
personalidade (integridade psíquica, compreendendo: a liberdade; a
intimidade; o sigilo) e os últimos, respeitantes a atributos valorativos (ou
virtudes) da pessoa na sociedade (o patrimônio moral, compreendendo: a
identidade; a honra; as manifestações do intelecto). (BITTAR, 1995, p. 17).

O autor caracteriza os direitos em cada contexto, referindo que de um lado


esses direitos dizem respeito à pessoa em si, e de outro, representa o seu modo de
ser, como se posiciona frente a outros indivíduos e sua visão na coletividade.

Os direitos da personalidade distinguem-se dos demais direitos


fundamentais por serem constitutivos da própria noção plena de pessoa
humana. Essa já existia, como conceito, conforme afirmou-se,
anteriormente à própria criação do Estado Liberal Burguês. Já os direitos
fundamentais, constitucionalmente tutelados, foram concebidos para
defender o indivíduo cidadão perante o Estado. (Stancioli, 2004, n.p.).

Stancioli (2004, n.p.) afirma que Charles Taylor (1989, p.12) consegue retratar
bem a evolução e o processo de (re)fundamentação da pessoa humana. Além disso,
afirma que o autor fundamenta a personalidade em três eixos-base, que podem ser
vistos como uma generalização, sob a ótica secular, do pensamento teológico-
cristão:

O primeiro eixo de proteção da personalidade é o respeito pela autonomia


da vontade, pois “respeitar a personalidade envolve como elemento crucial
respeitar a autonomia moral da pessoa”. A pessoa humana, dotada de
liberdade, deve buscar construir, para si mesma, suas normas, de acordo
com sua concepção de bem e justo. O segundo eixo, indissociável do
primeiro, é o reconhecimento e afirmação do outro (alteridade). A
personalidade e a pessoa só ganham sentido perante o outro. Mais que
isso, a personalidade é fruto de um constante erigir da consciência de si em
face da alteridade (consciência crítica e dialógica do outro). A pessoa
constrói-se na interação social e na interação comunicativa da sociedade. O
terceiro eixo é a dignidade. No entanto, esse eixo não pode ser visto como
alheio aos dois anteriores. A dignidade é fruto de autoconstrução
(autonomia) e realização em sociedade (alteridade). Portanto, a dignidade
não é algo “dado” (pelo Estado, pela ciência, etc.), mas, sobretudo, uma
busca de auto-realização. Não se devem buscar normas que imponham,
aos indivíduos, uma dignidade pré-estatuída (TAYLOR, 1989, p. 12, apud
Stancioli, 2004, n.p.).

Consoante nos mostra o pensamento do primeiro eixo, a personalidade tem a


ver com a autonomia de vontade da pessoa, que a mesma deve respeitar seus
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limites e se impor, buscando uma construção de seus ideais e do que é melhor para
si. O segundo eixo nos revela o óbvio, e justamente por ser tão óbvio, passa
despercebido, ou seja, a personalidade e a pessoa só ganham sentido quando a
enxergamos perante outras pessoas. Por fim, o terceiro eixo nos remete a um
atributo moral essencial do ser humano e que representa o respeito que todos
devem ter uns pelos outros, que é a dignidade.
A dignidade deve ser pensada como uma conexão com os outros eixos
citados acima, pois ela é uma construção da autonomia e das diferenças da vida em
sociedade, no qual devemos respeitar e reconhecer que existem diversas culturas
distintas e que as pessoas tem visões diferentes e maneiras diferentes de ver as
coisas.
Nesse sentido, percebe-se que a personalidade é algo que se cria com o
tempo, é um autoconhecimento que é construído de acordo com as adversidades da
vida e que vai dando visão às concepções na medida em que o tempo passa e
atentando o ser humano ao discernimento do certo e do errado, da moral e imoral.
Diversos são os direitos da personalidade, conforme mencionado
anteriormente. Pode-se classificar brevemente alguns exemplos deles para melhor
compreensão e análise, a fim de entender sua importância no âmbito social, jurídico
e íntimo de cada pessoa.
Marques (2010, n.p.) remonta o Direito à honra com relação à reputação ou
consideração social, abrangendo a honra externa ou objetiva e a interna ou
subjetiva. Este direito remete ao âmbito do direito civil, já que é um direito
fundamental na Constituição Federal de 1988 (inciso X, do art. 5º, CF). Ainda, a
autora relata que a honra diz respeito a viver com honestidade e probidade,
pautando seu modo de vida nos ditames da moral.
A respeito do direito da integridade física:

[...] É ter em conta a conservação do corpo e da saúde do Ser Humano, que


podem ser atingidos de forma direta, quando a conduta lesiva for
direcionada à pessoa enquanto ser vivo, ou indireta, através de
comportamentos que afetem coletivamente a saúde e o bem-estar
(FREITAS, 2016, p. 32).

Foi com o reconhecimento desses direitos que se consagrou a cláusula


genérica da dignidade da pessoa humana em seu art. 1º, inc. III, da CF/88.
(MONTESCHIO et al., 2019, p. 458-459). A Constituição Federal (1988) vigente
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nasceu como resultado de debates da sociedade brasileira por direitos


fundamentais, por liberdade de expressão, liberdade de escolha de seus
representantes e outros direitos (FERMENTÃO, 2006, p. 244). A respeito disso, é
sabido que todos os direitos existentes hoje em nosso ordenamento jurídico são
uma construção de muita luta e discussão por condições melhores, a fim de
resguardar e garantir direitos e deveres às pessoas em situação de vulnerabilidade
frente ao Estado.
Nesse viés, com o advento da Segunda Guerra Mundial, marcada pelo
desrespeito à condição humana, a comunidade internacional começou a repudiar
qualquer tipo de conduta que desconsiderasse a dignidade e a vida da pessoa. Com
isso, iniciou-se a valorização do ser humano e o reconhecimento de direitos
inerentes a esta condição (NICODEMOS, 2013, n.p.).
A respeito da dignidade da pessoa humana, um dos maiores valores
fundamentais da Constituição Federal (1988), Fermentão (2006, p. 246) conclui que:

A pessoa humana traz em si valores que lhe são privativos, e esses valores
integram a sua personalidade e lhe potenciam desenvolver-se em
sociedade. A dignidade da pessoa humana é o centro de sua
personalidade.

A personalidade é algo individual de cada ser humano, cada pessoa tem os


seus valores e princípios, assim como a cultura e costumes. É assim que suas
características são formadas e se tem arbítrio para se manifestar em sociedade e
expressar suas próprias opiniões. O respeito às opiniões e à dignidade da pessoa
humana é essencial para o desenvolvimento e a harmonia em sociedade, posto que
todos possuem esses direitos e garantias tutelados pela Constituição Federal.
Nessa perspectiva:

A construção da teoria dos direitos da personalidade remonta ao início do


cristianismo, que deu origem à concepção de dignidade da pessoa humana,
e à Escola de Direito Natural, que consagrou a tese sobre a existência de
direitos inatos ao homem, que independem de reconhecimento pelo Estado
(NICODEMOS, 2013, n.p.).

Foi com o cristianismo que se iniciou a ideia e percepção sobre direitos que
poderiam ser da pessoa humana, que até então não eram conhecidas. Passou a ser
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novidade para aqueles grupos, bem como as pessoas se atentaram para a


existência de outros direitos que poderiam ser usados para sua proteção.
O cristianismo constituiu princípios do que tinha de ser reconhecido nos
direitos da personalidade de cada indivíduo, e “a partir daí se passou ao
reconhecimento dos direitos da personalidade baseados na fraternidade universal e
na ideia da dignidade do homem” (FERMENTÃO, 2006, p. 246). Já Stancioli (2004,
n.p.) afirma que “a leitura cristã do ser humano, atribuindo-lhe pessoalidade, também
foi fundamental para a Filosofia e o Direito Ocidental desenvolverem a proteção da
personalidade”.
Outrossim, também é oportuno destacar que a teoria dos direitos da
personalidade também foi construída graças à marcante influência do iluminismo,
movimento científico e filosófico que passou a valorizar o indivíduo em detrimento do
Estado (NICODEMOS, 2013, n.p.).
Embora hoje sejam reconhecidos os direitos da personalidade, nem sempre
foi assim. Monteschio et al. (2019, n.p.) asseveram que “apenas com a entrada em
vigor do Código Civil brasileiro, Lei nº 10.406/02, esses direitos receberam o
tratamento que não havia sido concedido no Código de 1916”.
O Direito de personalidade foi descoberto na Grécia antiga, mas quem
idealizou a Teoria jurídica da personalidade foram os romanos, sendo que os termos
concernentes à personalidade já circulavam entre os romanos e os gregos
(STANCIOLLI, 2004, n.p.). A respeito disso, Silva (2016, n.p.) constata que “desde
os primórdios da Grécia é possível encontrar questões atinentes a tutela da
personalidade, como a proteção de atos excessivos e indecorosos contra a pessoa”.
Ainda, no que se refere às evoluções transcorridas, o autor menciona:

[...] uma maior atribuição deve ser concedida as doutrinas germânica e


francesa, que se estendem em construção ao longo dos séculos XVI, XVII,
XIX e por fim o século XX. Neste interstício, nasceu a ideia do direito de
personalidade com um direito subjetivo, que não fora aceita, em razão de
que não poderia se admitir o “direito do homem sobre a própria pessoa”.
Acontece que com o passar dos tempos tal assertiva não prosperou
havendo o reconhecimento da personalidade como atributo ao homem, em
razão disso, houvera maior valorização do direito de personalidade sendo
inerente à condição humana. (SILVA, 2016, n.p.)

Embora hoje seja reconhecido o direito da personalidade, no século XX ainda


se defendia a ideia da não aceitação desse direito, de certa forma havia um
preconceito, pelo fato de que era remetido a um direito subjetivo, ou seja, o poder ou
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vontade do homem com seus próprios pensamentos, deixando o mesmo à vontade


para cumprir com suas obrigações e ter a faculdade sobre decisões de sua própria
vida.
Para o direito romano, a expressão personalidade restringia-se aos indivíduos
que reunissem os três status, a saber: o status libertatis, o status civitatis e o status
familiae (SZANIAWSKI, 2005, p. 25). No entanto, se o indivíduo não possuísse
status libertatis, não teria nenhum dos outros status, e sendo assim, não possuía, a
personalidade, por mais que fossem considerados seres humanos.

Nas palavras de VENOSA (2013, p. 130-135): Status Libertatis – entendia-


se como homem livre aquele que não pertencia a outrem. Entre os homens
livres, havia os ingenui, que eram os nascidos de livre estirpe e que jamais
foram escravos; e os liberti, que eram aqueles que nasceram ou caíram em
estado de servidão e que conseguiram a liberdade através da alforria.
Status Civitatis – somente homens livres podiam ser cidadãos (cives) ou
estrangeiros (peregrini), sendo que estes últimos somente podiam praticar
atos do ius gentium, eis que as normas do ius civile eram reservadas
apenas aos cidadãos romanos. Os libertos possuíam capacidade limitada.
Status Familiae – o estado familiar possuía grande importância na
determinação da capacidade jurídica e seu campo de atuação dentro do
direito privado. Em sentido amplo, abrangia o conjunto de pessoas que
descendiam de um parente comum e sob cujo poder estavam caso ele
estivesse vivo. Em sentido restrito, para caracterizar o próprio status
familiae: de um lado, existia o pater famílias, que não estava subordinado a
nenhum ascendente vivo masculino e, de outro, as filii famílias, que
abrangiam todas as demais pessoas que estavam sob a potetas do pater. A
pessoa que não possuía ascendentes masculinos e que estava livre do
pátrio poder entendia-se como pater famílias. Todas as pessoas sujeitas ao
poder do pater não tinham direitos nem podiam adquiri-los para si. Se o
pater viesse a falecer, sua família era dividida em tantas quantas fossem as
pessoas do sexo masculino, já que as mulheres eram consideradas alieni
iuris (pertenciam a família do marido ou do pai, enquanto não casassem) ou
sui iuris (quando viúvas).

Na visão do autor, o status libertatis relaciona-se com a liberdade que o


homem possuía em sua vida, que ele não pertencia a ninguém. Existiam os homens
que já nasceram com tal liberdade e jamais se tornariam escravos e os que nasciam
escravos, mas posteriormente, eram libertados por seus proprietários. Os civitatis
eram somente aqueles livres e que possuíam certa liberdade em relação a
sociedade, poderia exercer papel de cidadão. Já o status familiae seria a
importância da influência que a família possuía dentro da sociedade, sendo que
eram divididos em filii e parter famílias, o qual parter famílias eram os que ficavam
em desvantagem por não terem direitos e nem a condição de adquiri-los.
16

Nesse contexto, é possível perceber que antigamente as pessoas se


distinguiam por grupos, havia de certa forma uma organização, diga-se de
passagem, nada justa, sendo que alguns eram mais privilegiados que os outros, pois
esses possuíam direitos que não eram concedidos aos outros.
Segundo Bertoncello (2006, p. 36):

Bittar atribui a construção da teoria dos direitos da personalidade,


principalmente: a) ao cristianismo, em que se assentou a ideia da dignidade
do homem; b) à Escola de Direito Natural, que firmou a noção de direitos
naturais ou inatos do homem, correspondentes à natureza humana, a ela
unidos, indissoluvelmente, e preexistentes ao reconhecimento do Estado; e
c) aos filósofos e pensadores do Iluminismo, em que se passou a valorizar o
ser, o indivíduo, frente ao Estado. A partir de então, nota-se o
reconhecimento de certos direitos do homem e do cidadão frente ao poder
público, inicialmente por meio de “Declarações de Direitos” e
constitucionalização de alguns como liberdades públicas.

Os direitos da personalidade são considerados àqueles inerentes à pessoa


humana, em suas características físicas, mentais e morais. São direitos que dizem
sobre a própria pessoa, e são necessários para a realização e formação da
personalidade e para sua inserção nas relações jurídicas e sociais. Esses direitos
são irrenunciáveis, intransmissíveis, inalienáveis e subjetivos, ou seja, erga omnes
(que se aplicam para todas as pessoas) (ARAÚJO; RODRIGUES, 2017, n.p.).
Por essa razão, esse discurso se dá uma vez que seus direitos não podem
serem transmitidos à outra pessoa, não pode renunciá-los e nem os utilizar como
bem entender. Na concepção de Araújo e Rodrigues (2017, n.p.), os autores
acreditam que “Os direitos da personalidade são destinados à proteção eficaz da
pessoa humana em todos os seus atributos de forma a proteger e assegurar sua
dignidade como valor fundamental”.
Venosa (2011, p. 180-181) traz algumas considerações sobre as
características acima referidas:

Os direitos da personalidade possuem seguintes características: (a) são


inatos ou originários porque se adquirem ao nascer, independendo de
qualquer vontade; (b) são vitalícios, perenes ou perpétuos, porque
perduram por toda a vida. Alguns se refletem até mesmo após a morte da
pessoa. Pela mesma razão são imprescritíveis porque perduram enquanto
perdurar a personalidade, isto é, a vida humana. Na verdade, transcendem
a própria vida, pois são protegidos também após o falecimento; são também
imprescritíveis; (c) são inalienáveis, ou, mais propriamente, relativamente
indisponíveis, porque, em princípio, estão fora do comércio e não possuem
valor econômico imediato; (d) são absolutos, no sentido de que podem ser
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opostos erga omnes. Os direitos da personalidade são, portanto, direitos


subjetivos de natureza privada.

Verifica-se logo, que, os direitos da personalidade são adquiridos desde o


nascimento, e após o falecimento da pessoa, ou seja, o acompanha literalmente
para a vida toda, e esses direitos não podem ser transferidos ou “vendidos”, e,
portanto, se vislumbra tamanha sua importância.
Segundo Maria Helena Diniz (2011, p. 133-134):

O direito da personalidade é o direito da pessoa de defender o que é


próprio, como a vida, a identidade, a liberdade, a imagem, a privacidade, a
honra etc. É o direito subjetivo, convém repetir de exigir um comportamento
negativo de todos, protegendo um bem próprio, valendo-se de ação judicial.

Os Direitos da Personalidade são excepcionais a qualquer indivíduo. A


importância desses direitos se denota quando contemplamos na Constituição
Federal de 1988 em seu Título II, “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, que são
possibilitados a todas as pessoas para que tenham assegurada sua dignidade,
liberdade e igualdade como valores fundamentais. Para o autor Reale (2004, n.p.)
“cada civilização corresponde um quadro dos direitos da personalidade, enriquecida
esta com novas conquistas no plano da sensibilidade e do pensamento, graças ao
progresso das ciências naturais e humanas”.
Em suma, cada nova geração sofre avanços, e assim, os direitos vão sendo
aprimorados e moldados para a geração vigente, tomando maiores proporções e
tendo maior desenvolvimento a cada ciclo que passa, já que os seres humanos são
seres evoluídos e intelectos e possuem capacidade de adaptação com mais
facilidade e rapidez às mudanças ocorridas.
Foram grandes avanços ao longo do tempo para finalmente chegar a um
progresso e buscar asilo ao homem, já que nem sempre foi assim. Para Andrade
(2008, n.p.), esses direitos foram construídos recentemente, uma vez que o Código
de 1916 não protegia a personalidade, pois o foco estava na propriedade, posto que
o pensamento naquela época era de que os desenvolvimentos dos direitos da
personalidade, em uma sociedade complexa, não poderiam se sobressair mais do
que um sistema que privilegiava unicamente a propriedade privada, ou seja, sua
concepção na época em que vigorava o sistema legal pátrio, “preponderava à
18

proteção do patrimônio privado, em razão da forte influência do liberalismo que


norteou a sua elaboração” (MONTESCHIO et al., 2019, n.p.).
Portanto, deve-se ter em mente que todos esses direitos possuem propósito
legítimo e detém grande importância, sendo imprescindíveis e imperiosos a pessoa,
não podendo jamais serem menosprezados, além de que, muitas foram as lutas e
contendas para que todos esses direitos e princípios fossem respaldados por lei e
concedidos ao indivíduo.
Além disso, é necessário reconhecer que todas as pessoas são sujeitos de
direitos e deveres, e todos merecem viver uma vida digna, cabendo ao Estado
propiciar essas condições ao ser humano. Para isso, no próximo item será abordado
como o Código Civil foi se aprimorando para buscar atender aos direitos das
pessoas.

1.2 Os direitos da personalidade e seus avanços com o Código Civil Brasileiro


de 2002

O novo Código Civil de 2002 (Lei nº 10.406/2002), trouxe alguns avanços


quanto ao direito de personalidade, onde dedicou o Capítulo II, artigos 11 a 21
exclusivamente ao tema, cujo valor máximo é a proteção da pessoa humana.
Nesse sentido, Doneda (2005, p. 83) refere que o legislador dividiu os artigos,
sendo que o 11 e 12 tratam da natureza e da tutela destes direitos, enquanto os
demais artigos referem-se a específicos direitos da personalidade, como o direito à
integridade psicofísica (arts. 13 a 15), direito ao nome e ao pseudônimo (arts. 16 a
19), direito à imagem (art. 20) e o direito à privacidade (art. 21).
O Código Civil de 2002 foi um marco no que se refere aos direitos da
personalidade, já que, conforme dito anteriormente, reconhece o direito da
personalidade e regulamenta tal direito, diferentemente do anterior (Código Civil de
1916), que não protegia esses direitos, pois era baseado na propriedade privada e
não se preocupava como hoje com os direitos da pessoa humana. O Código Civil
anterior era fruto de ditadura militar, e nela os direitos personalíssimos sequer eram
vistos, muito menos recebiam proteção do Estado.
Silva (2016, p. 12) afirma que ainda no século XIX, foi formada uma nova
sociedade em que prevalecia o pensamento racional, e foram adotadas medidas por
parte do Estado no âmbito do direito civil, que resultou na criação de um código que
19

possuía princípios que visassem tutelar a vida e as relações humanas. No entanto,


essa sistematização não ocorreu conforme o esperado, havendo assim uma
excessiva fragmentação da razão individual.
Ainda, o autor complementa que após o fim das ditaduras, a sociedade
entendeu que o antigo sistema jurídico não mais atendia às necessidades do
homem, e aos poucos foi se desconstituindo o direito civil da época e dando lugar
primeiramente à Constituição (1988), que passou a estabelecer as regras e
princípios das relações sociais, e após ao Código Civil.
Sob a ótica de Fermentão (2006, p. 243-244):

Com a evolução da sociedade, os direitos da personalidade tornaram-se de


grande importância para o ser humano, levando os textos constitucionais a
disporem sobre tais direitos, os quais então, na hierarquia das normas,
conseguiram uma posição superior no ordenamento jurídico nacional. Os
direitos da personalidade são reconhecidos como direitos subjetivos,
protegidos pelo Estado, surgindo assim um encontro de grandeza jurídica
entre o direito privado, a liberdade pública e o direito constitucional,
verdadeiro paradigma que se constituiu como fruto de lutas pela tutela dos
direitos personalíssimos.

Ao passo que a sociedade ia se desenvolvendo, bem como após os cenários


desastrosos que foram resultados da segunda Guerra Mundial, os legisladores se
viram obrigados a dar maior importância aos direitos personalíssimos, tendo em
vista que era impossível tratar isto de forma diferente diante da conquista histórica
da população por seus direitos.
Na concepção de Corso e Lando (2014, p. 256):

“Enquanto o atual Código Civil não nascia, os direitos fundamentais, bem


como sua espécie, direitos da personalidade, eram aplicados no Poder
Judiciário para a resolução de conflitos pertencentes ao âmbito do direito
privado”.

Destarte, após muitas evoluções no mundo dos direitos, hoje em dia é


possível ver o quanto mudou a perspectiva da legislação com o passar dos anos,
visto que, o que antes tinha muita importância, hoje em dia já não tem tanta, uma
vez que a Constituição Federal (1988) e o Código Civil (2002) deram prioridade e
reconheceram tamanha luta dos povos por seus direitos. É possível perceber que ao
longo dos séculos seu crescimento fora estimulado à medida que a sociedade
passava a evoluir.
20

Acerca das evoluções que o Código Civil trouxe, Gomes (2010, n.p.) faz
menção ao essencial papel da Constituição (1988) desde o princípio:

Se pessoa humana voltou a ser o centro do ordenamento jurídico, não é


resultado apenas do advento do novo Código Civil. Desde a Constituição
Federal de 1988, a dignidade da pessoa humana é princípio fundamental de
nosso país, norma que deve reger todas as relações.

É necessário reconhecer que o Código Civil trouxe muitos avanços no que diz
respeito à proteção dos direitos personalíssimos, no entanto, não se pode tirar o
mérito da Constituição Federal (1988), que possui como princípio fundamental a
dignidade humana. Assim, é possível perceber que para que sejam efetivados esses
direitos, é necessário que o Código Civil e a Carta Magma andem juntos, pois os
dois são de extrema importância para garantir os direitos das pessoas.
Szaniawski (2005, p. 247-248) ensina que o código atual trabalha de duas
maneiras a proteger os direitos personalíssimos: preventiva e reparadora.

A tutela preventiva pode ocorrer de várias formas, pois toda pessoa tem o
direito de proteger-se de atentados contra sua personalidade. Assim, temos
os atos de legítima defesa, que não podem ultrapassar os limites
necessários à autotutela da personalidade. Quanto a isso, o Código Civil de
2002, em seu artigo 188, trouxe três tipos de autotutela: a) a legitima
defesa; b) o exercício regular de direito reconhecido; e c) o estado de
necessidade. Como sabemos, essas três modalidades são causas
excludentes da ilicitude, desde que não exceda o necessário para a defesa
daquele direito que é atacado. Assim, por exemplo, se Maria apreender o
filme fotográfico da máquina de João que captou indevidamente uma
imagem sua, nisso constitui-se a autotutela. [...] A segunda maneira de
proteger os direitos de personalidade é através da tutela reparadora,
naqueles casos em que já foi praticada a lesão contra a vítima. Nesses
casos, entende-se que é cabível indenização por dano moral e material.

Ainda, Szaniawski (2005, p. 252-253) refere-se que quando houver lesão à


personalidade, deve-se haver uma recomposição do equilíbrio social, que é trazida
pela responsabilidade civil, a fim de reparar as lesões patrimoniais e
extrapatrimoniais. Ademais, o autor refere que o Código Civil trouxe tanto a
responsabilidade civil subjetiva, quanto a responsabilidade civil objetiva, sendo que a
primeira se baseia na culpa do agente, e a segunda é baseada no risco,
independente de verificar sua culpa, além disso, há dispositivos no código que
tratam especificamente da reparação dos danos aos direitos de personalidade.
21

Assim sendo, cabe ao judiciário solucionar estes problemas, aplicando aos casos
concretos o que entender mais viável.
O código trabalha primeiramente prevenindo os direitos personalíssimos, para
evitar que ocorra o mínimo de problemas e violações, no entanto, já se encontra
preparado em caso de violação, ou seja, já possui previsão para tal responsabilizar a
conduta do agente infrator, assim, passa maior segurança às pessoas e não as
deixam desamparadas, visto que é dever e responsabilidade do Estado manter a
segurança e garantia aos seus.
O Código Civil, em seu art. 2º, cita que “a personalidade civil da pessoa
começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os
direitos do nascituro”. Ainda, Ferreira (2016, n.p.) afirma que “a partir do momento
que se adquire personalidade civil, conforme reza o art. 2º do Código Civil, os
direitos da personalidade são constitutivos à pessoa”.
Logo passa certa autenticidade na garantia desses direitos para os indivíduos,
mostrando que todos podem usufruir dessa personalidade civil como amparo para
sempre, uma vez que transcendem a vida, seja dizer, são protegidos antes mesmo
do nascimento, mais especificamente, desde a concepção do nascituro, durante
toda a vida e após a morte.
De acordo com Mohr (2007, p. 24), “a maior parte dos doutrinadores, entre
eles Szaniawski, defende a ideia de que tanto o nascituro quanto o concepturo são
titulares de personalidade desde a concepção”.
Como já referido, o Código Civil de 1916 não tinha preocupação com os
direitos personalíssimos se comparado ao código atual, contudo, em seu art. 449 e
seguintes e art. 666, trazia brevemente alguns princípios referentes à imagem e
referentes ao direito do nome do autor de obra. O Código antigo deu apenas
algumas pinceladas básicas quanto a esses direitos, sendo somente no código de
2002 o marco para os direitos da personalidade, que ganharam reconhecimento e
garantias às pessoas.

Por outro lado, é certo que os direitos da personalidade extinguem-se com


a morte, todavia há resquícios ou rescaldos que podem a ela se sobrepor. A
ofensa à honra dos mortos pode atingir seus familiares, ou, como assevera
Larenz (1978:163), pode ocorrer que certos familiares próximos estejam
legitimados a defender a honra pessoal da pessoa falecida atingida, por
serem "fiduciários" dessa faculdade (VENOSA, 2013, p. 183-185).
22

Nesse sentido, o artigo 12 reporta aos direitos personalíssimos da pessoa


falecida, a qual ainda que não esteja mais presente, em respeito à sua dignidade e
honra, o código oportuniza seus familiares legitimados a executarem o que
entenderem de direito para que seja cessada toda e qualquer violação, a fim de
defender a honra da pessoa morta.
Silva (2016, p. 03) revela que os direitos da personalidade presentes no
Código de 2002 são meramente exemplificativos, estando presentes outros direitos
de personalidade no Texto Maior. Como já ressaltado anteriormente, pode-se
classificar os direitos da personalidade como sendo intransmissíveis, irrenunciáveis
e indisponíveis. Contudo, Venosa (2011, p. 171) elenca mais características que o
Código Civil não vislumbra, qual seja, ilimitados, imprescritíveis, impenhoráveis e
inexpropriáveis, afirmando que os direitos personalíssimos seriam absolutos.

O Código Civil de 2002 trouxe uma inovação no âmbito do direito civil


brasileiro, no entanto, poderia ter sido mais inovador com a inclusão de
cláusulas gerais menores ao invés dos tipos de direitos de personalidades
elencados no Código. Talvez por isso, e por outros motivos que não fazem
parte de nosso estudo, já existam estudos e projetos de reforma a esse
Código recentemente promulgado (MOHR, 2007, p. 23).

Em suma, o autor critica os artigos que elencam os direitos da personalidade


por não serem tão objetivos, e demonstra certa insatisfação. No entanto, por mais
que os artigos sejam exemplificativos e não taxativos, pode-se afirmar que não há
prejuízos quanto ao objeto e a forma que é empregada em casos concretos, tendo
em vista que mesmo assim consegue-se resultados bons no sentido de cessar o
direito violado.
Por fim, Gomes (2010, n.p.) destaca que:

O Código Civil de 2002 é nítido reflexo das transformações ocorridas na


sociedade brasileira. Se o Código Civil de 1916 tinha como pilares básicos a
propriedade, o contrato, o testamento e a família, sempre com uma visão
patrimonialista desses institutos, o Código atual volta-se para a proteção do
real fundamento do direito: o homem.

Diante dessa contextualização e da análise da evolução e avanços que o


Código Civil de 2002 trouxe ordenamento jurídico, é possível perceber que o mesmo
trouxe a pessoa humana ao centro do ordenamento jurídico, priorizando todos os
23

direitos que uma pessoa merece para viver uma vida com dignidade e com proteção,
de forma ampla e irrestrita.
Após a análise do conceito, característica e evolução dos direitos da
personalidade, faz-se necessário compreender também a essência e a importância
do instituto da natureza jurídica desses direitos, que será pautado no item a seguir.

1.3 Qual é a natureza jurídica dos direitos da personalidade?

A pessoa humana apresenta majestoso valor ao ordenamento jurídico, sendo


ela o fim do direito, é aquela que move a órbita judicial com o intuito de buscar
proteção e defesa às situações que fogem do seu controle e que ocorrem sem
planejamento, cabendo ao direito ser direito o meio de proporcionar o amparo
necessário.

Os direitos da personalidade vêm definidos como direitos essenciais do ser


humano. Sua natureza jurídica é construída por determinados atributos,
qualidades físicas ou morais da pessoa, individualizadas pelo ordenamento
jurídico que não se confundem com os direitos fundamentais (BELTRÃO,
2010, n.p.).

Adentrando a análise deste conteúdo que possui extrema importância ao


conjunto normativo jurídico, na visão de Mohr (2007, p. 30):

A natureza jurídica dos direitos de personalidade é um tema de bastante


divergência na doutrina jurídica. Para muitos, eles são direitos objetivos,
numa visão privatista das relações jurídicas. Para outros, fazem parte dos
direitos subjetivos. Há autores, inclusive, que negam a existência dessa
categoria jurídica. [...] Na doutrina alemã houve uma corrente que
fortemente negava a existência dos direitos de personalidade, como
categoria dos direitos subjetivos. Eles afirmavam que sendo a pessoa
sujeito e objeto de si mesma, ela poderia dispor de seu corpo e sua vida
como bem entendesse, podendo inclusive praticar o suicídio e auto-lesões.
Por esse motivo, os direitos de personalidade não poderiam ser
enquadrados como direitos subjetivos, mas ser considerados meros reflexos
do direito objetivo, concedendo certa proteção jurídica para determinadas
emanações da personalidade.

Como se sabe, a pessoa humana é dotada de direitos e deveres. Em razão


disso, a medida em que o homem deve respeitar as normas jurídicas e se portar
dentro dela com cautela sem extrapolar limites, também tem a faculdade de deixar
de fazer certas coisas. Não obstante, a Constituição Federal (1988), inclusive, prevê
24

em seu artigo 5º, inciso II, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei”.
Nas palavras de Freitas (2012, n.p.):

Procura-se proteger os indivíduos contra os arbítrios cometidos pelo Estado


e até mesmo contra os arbítrios cometidos por outros particulares. Assim, os
indivíduos têm ampla liberdade para fazerem o que quiserem, desde que
não seja um ato, um comportamento ou uma atividade proibida por lei.

Ainda, o autor acrescenta que “somente a lei poderá criar direitos, deveres e
vedações, ficando os indivíduos vinculados aos comandos legais, disciplinadores de
suas atividades”.
Segundo Cupis (1959, p.29 apud Silvio Romero Beltrão, 2010, p. 216):

A determinação dos direitos da personalidade decorre da sua própria


função, consistente na satisfação das necessidades próprias das pessoas,
que estão a elas ligadas num nexo muito estreito, que poderia dizer
orgânico e identificam-se com os mais elevados, entre todos os bens
susceptíveis de senhorio jurídico. Assim, os bens da vida, da integridade
física, da liberdade, apresentam-se de imediato como bens máximos, sem
os quais os demais perdem todo o valor (CUPIS, 1959, p. 29).

Com isso, há muitas divergências doutrinárias em relação aos direitos


personalíssimos serem sujeitos de direito objetivos ou direitos subjetivos. O primeiro
diz respeito a norma, ao trabalho do Estado enquanto ente para regular as normas
da sociedade, e o segundo fala sobre o íntimo, particular de cada indivíduo.
No entendimento de Cupis (1959, p.40):

De um lado, sustenta-se que a essência de determinado direito é função


dos elementos de que é constituído, e que, portanto, mudando um de tais
elementos muda necessariamente também o direito; de outro, tem-se
marcado a diferença que existe entre o nascimento de um direito
completamente diferente do que foi extinto, e o nascimento de um direito
que tem alguns elementos desse direito extinto e outros novos. O problema
é quanto às modificações subjetivas, quanto a estas se tem verificado
insuperável a tentativa para objetivar os direitos subjetivos, considerando-os
na sua estrutura econômica.

Portanto, não se pode isolar apenas um desses e afirmar que os direitos da


personalidade são apenas objetivos ou subjetivos, tendo em vista que os dois são
essenciais para andarem juntos, vez que a regulamentação do Estado quanto a
25

esses direitos é de extrema necessidade, bem como a pessoa em si também deve


ser respeitada por suas escolhas.
Na visão de Fermentão (2006, p. 259), ressalta que “o Direito subjetivo é o
poder que tem o sujeito de impor sua vontade para satisfação de seu interesse.
Esse sujeito pode impor a sua vontade diante do direito material com uma revolução
dos valores axiológicos.
Da mesma forma, Holanda (2017, p. 44) afirma que “o ser, pessoa, se realiza
por meio de variadas manifestações humanas, as quais se modificam a depender
dos fatores tempo e necessidade, e tantas quantas forem essas situações, devem
elas merecer o devido amparo legal.”
A visão da autora se dá pelo fato de que na vida pessoal do indivíduo há
vários obstáculos diários, e quando algo não sai conforme deveria legalmente,
merece o devido amparo do Estado, que é soberano.
Fermentão (2006, p. 259) difere o direito subjetivo do objetivo, de forma que,
conforme já dito anteriormente, o direito subjetivo diz sobre a vontade pessoal em
relação aos acontecimentos e fatores decorrentes de uma vida em sociedade. Ao
direito objetivo, a autora refere que o mesmo deve se conduzir conforme a
sociedade evolui, uma vez que as pessoas possuem sentimentos, visões diferentes
e evolutivas à determinadas situações.

O Direito subjetivo é o poder que tem o sujeito de impor sua vontade para
satisfação de seu interesse. Esse sujeito pode impor a sua vontade diante
do direito material com uma revolução dos valores axiológicos. [...] Com os
seus sentimentos e suas ideias, o ser humano faz com que os valores
axiológicos que dinamizam o grupo social sejam alterados, e, alterando-se
tais valores, o direito também é modificado. É o direito objetivo que,
obrigatoriamente, tem que acompanhar essa evolução da sociedade,
evolução que nasceu do interior do ser humano, com a sua consciência,
sentimentos e visão espiritual da necessidade de sua sociedade, do seu
mundo material, que o levará a querer as mudanças necessárias para o seu
mundo. A primeira mudança é no interior do homem, logo, é o direito
subjetivo que o homem transmuda no seu interior.

Nesse contexto, após análise profunda aos direitos da personalidade, é


possível perceber que são eles que garantem aos indivíduos a segurança e amparo
necessário para viver em sociedade, posto que a sociedade, assim como o Estado,
é democrática, e nem todos têm a mesma visão diante de certas circunstâncias e
desta forma o direito serve para dar o devido amparo quando provocado. Assim, é
26

imperioso ressaltar que é dever do Estado garantir a proteção dos direitos da pessoa
humana e auxilia-los para que tenham a eficácia necessária.
A fim de esclarecer a atuação do Estado aos direitos da personalidade, o
próximo capítulo abordará como é utilizada as redes sociais entre a coletividade e de
que forma buscar o apoio da legislação em casos em que há a violação dos direitos
da personalidade do indivíduo.
27

2 A UTILIZAÇÃO DAS REDES SOCIAIS E SUA RESPONSABILIDADE CIVIL


PELA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

Como mencionado no capítulo precedente, os direitos da personalidade são


de extrema importância para os indivíduos, uma vez que foram conquistados com
muita luta, para que atualmente seja encontrado na legislação e dê o devido auxílio
ao indivíduo. Dessa forma, a medida em que o tempo ia passando e juntamente com
o avanço das tecnologias, a internet e as redes sociais foram se popularizando e
conectando pessoas.
No mundo contemporâneo o espaço digital vem sendo um dos mais buscados
com o intuito de não só aproximar os indivíduos, mas também criar relações, gerar
retorno financeiro para pessoas e empresas. Com o avanço da tecnologia, algumas
ferramentas puderam favorecer essa relação, ficando muito mais fácil obter
informações de qualquer indivíduo nos mais diversos locais da internet, através das
redes sociais.
O espaço virtual é um espaço que promove um fluxo de informações
instantâneas o tempo inteiro, com os mais variados tipos de assuntos. Desta forma,
as relações digitais foram se expandindo, possibilitando um contato mais próximo
entre as pessoas, ultrapassando o campo físico e tendo uma sociabilidade também
no campo virtual.
Embora a internet seja um meio que tomou conta dos espaços e da vida das
pessoas hoje em dia e tenha trazido inúmeros benefícios, como o acesso rápido às
informações e o contato próximo entre os indivíduos, ela também pode ser uma
grande armadilha no que diz respeito a privacidade das pessoas em armazenar
dados pessoais, informações particulares, bem como prejudicar de forma subjetiva
os direitos da personalidade daquele usuário. Consequentemente, é necessário
buscar amparo no ordenamento jurídico para a resolução desses conflitos e
ressarcimento dos danos.
Dessa forma, será abordado neste capítulo os prós e contras da utilização
das redes sociais e a possibilidade de responsabilização civil quando ocorre
situações que fogem do controle do ser humano, como xingamentos, críticas, e
comentários de cunho ofensivo nas redes sociais, seja pelo próprio perfil do usuário,
ou por perfil falso para proferir tais ofensas.
28

2.1 A utilização das redes sociais no Brasil

Atualmente, é através da internet e das redes sociais o meio em que mais


pessoas buscam se comunicar uns com os outros, é um espaço de interação e
relação entre os indivíduos. Assim como o proveito com a comunicação, as redes
sociais também vêm tomando proporções maiores a fim de ampliar o espaço
interativo, ou seja, o número de pessoas que fazem uso das redes sociais
atualmente aumentou de forma exorbitante, fazendo esse campo expandir-se e dar
espaço à diversos tipos de usuários, sejam eles influenciadores digitais e outros
profissionais que utilizam as redes sociais como ferramenta de trabalho, gerando
conteúdos e fazendo vendas, bem como aqueles usuários que estão ali apenas para
utilizar as redes sociais como meio de criar novas relações, passa tempo e lazer.
A fim de possibilitar melhor compreensão do assunto, se faz necessário
entender o que de fato são as redes sociais.

As redes sociais são espaços virtuais onde grupos de pessoas ou


empresas se relacionam através do envio de mensagens, da partilha de
conteúdos, entre outros. Atualmente existem diferentes redes sociais, cada
uma com um propósito e um público-alvo específico (DIANA, 2018, n.p.).

Ciribeli e Paiva (2011, p. 59) elucidam que muitas vezes se confunde a mídia
social com rede social e que apesar de estarem interligadas, há diferença entre
ambas. A mídia social é o meio em que determinada rede social possibilita a
interação social e o compartilhamento de informações.
Nesse sentido, os autores fazem menção de que cada mídia social existente
possui um público-alvo específico, com objetivos diferentes, qual seja, buscar novas
amizades, novos relacionamentos, fazer pesquisas, contatos profissionais, dentre
outros. Portanto, cada mídia social possui seus mecanismos necessários para atingir
o seu público e fazer com que se sintam atraídos por tal plataforma, de modo que os
usuários constantemente recebam notificações, postagens de mensagens
instantâneas do referido conteúdo.
Teffé e Moraes (2017, p. 116) ainda complementam que as redes sociais
possuem seus prós e contras, visto que ao passo que as redes sociais foram se
disseminando e gerando interações ao público, também afastou fisicamente os
29

seres humanos, gerando uma nova convivência e uma nova forma de se relacionar
com todos.

Ainda que apresentem especificidades próprias, as redes sociais têm em


comum as seguintes características: i) a existência de um ambiente propício
à interação entre os usuários na plataforma; ii) o pedido de dados pessoais
para a criação de perfis, que são vinculados a contas determinadas; iii) a
articulação de uma lista de outros usuários com os quais se compartilha
conexões; e iv) o oferecimento de ferramentas que permitem e estimulam
que o usuário adicione seu próprio conteúdo na rede, como fotografias,
comentários, músicas, vídeos ou links para outros sites, de modo que
ocorra a expansão da estrutura da própria rede social (TEFFÉ; MORAES,
2017, p. 117).

O acesso às redes sociais tornou-se alcançável para toda a coletividade,


posto que devido aos avanços das tecnologias, possibilitou o acesso às redes
sociais com apenas “um clique”, seja pelo celular ou tablet, consegue-se acessar
qualquer aplicativo, sendo dispensável ter um computador/notebook para se inserir
neste meio.

O uso da internet móvel representa um instrumento fundamental, tanto para


ampliar o acesso quanto para facilitar a interação do usuário com outras
pessoas, plataformas e conteúdos” (TEFFÉ; MORAES, 2017, p. 118).

É importante fazer uma comparação do número de internautas que foram se


adequando ao mundo virtual à medida que os anos foram passando e as tecnologias
foram se expandindo. De acordo com Tokarnia (2020, n.p.), os dados divulgados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que no ano de
2018 apenas uma em cada quatro pessoas no Brasil não tinham acesso à internet, o
que correspondia a 46 milhões de pessoas sem acesso às redes.
À medida que as pessoas foram tomando conhecimento de que poderiam
obter notícias instantâneas também através de suas redes sociais e não apenas em
seus televisores, o número de domicílios com acesso à internet cresceu
gradativamente. No ano de 2019, Valente (2020, n.p.) afirma que as pesquisas da
TIC Domicílios 2019 mostraram que cerca de 134 milhões de usuários já possuíam
acesso à internet.
No entanto, mesmo que estes índices tenham aumentado, vale salientar que
“ainda persistem diferenças de renda, gênero, raça e regiões” (VALENTE, 2020,
n.p.). É perceptível tais discriminações quando desmembramos o percentual do
30

acesso à internet a estas pessoas. Valente (2020, n.p.) revela que 61% do nível de
acesso são entre pessoas que ganham menos de um salário mínimo, 86% entre os
que recebem de três a cinco salários mínimos, e 94% entre usuários com
remuneração acima de 10 salários mínimos.
Ainda, Valente (2020, n.p.) esclarece quanto ao uso da internet, e percebe-se
uma distribuição proporcional entre o uso das redes sociais:

Os recursos mais utilizados são o envio de mensagens por WhatsApp,


Skype ou Facebook Messenger (92%), redes sociais como Facebook ou
Snapchat (76%), chamadas de vídeo por Skype ou WhatsApp (73%),
acesso a serviços de governo eletrônico (68%), envio de e-mails (58%),
compras por comércio eletrônico (39%) e participação de listas ou fóruns
(11%). As informações mais buscadas foram sobre produtos e serviços
(59%), serviços de saúde (47%), pagamentos ou transações financeiras
(33%) e viagens e acomodação (31%). Na área de educação e trabalho, as
práticas mais comuns foram pesquisas escolares (41%), estudo online por
conta própria (40%), atividades de trabalho (33%) e armazenamento de
dados (28%).

De acordo com as pesquisas apresentadas em 2019 pela TIC Domicílios,


verifica-se que as redes sociais mais utilizadas atualmente são as que possuem
envio de mensagens instantâneas, ou seja, o WhatsApp, Instagram e Facebook,
pois é o meio mais rápido e fácil de se comunicar com qualquer pessoa, o ser
humano busca agilidade para resolução de determinadas circunstâncias de seu dia
a dia, ou até mesmo para dar um simples “bom dia” e mandar lembranças, mesmo
que virtualmente à alguém, e neste caso, essas são as principais ferramentas para
efetuar o contato com maior celeridade possível.
Exemplo disso são as mensagens e áudios enviados via WhatsApp, que em
menos de 1 minuto consegue se comunicar com alguém, que talvez por ligação
telefônica demoraria muito mais. Nesse sentido, Leão et al (2018 n.p.) destacou que
“O uso desse aplicativo cresceu em diversos países, incluindo o Brasil. É utilizado
regularmente por meio bilhão de pessoas no mundo, gerando fluxo diário de milhões
de mensagens, vídeos e fotos”.
O WhatsApp é uma rede social que possibilita as mais diversas interações
sobre diferentes assuntos. É um local onde a mensagem é entregue rapidamente e
a comunicação se torna facilmente atendida. Nesse sentido, também é muito usado
por estabelecimentos comerciais, exemplo disso é “a inserção massiva desse app
nos materiais impressos e digitais de restaurantes e hotéis” (BARBOSA, 2016, p.
31

45), onde é possível fazer reservas de hotéis, pedidos em restaurantes, entre outros.
O WhatsApp é um aplicativo completo, pois é possível o envio de mensagens
instantâneas, compartilhamento de áudios, fotos e vídeos.
Nesse viés, outra grande plataforma utilizada também por internautas é o
Facebook, criado no ano de 2004 por alunos da Universidade de Harvard, tinha o
objetivo desde o início a promover um espaço onde as pessoas pudessem
expressar suas opiniões e fotografias. Foi em 2006 que esta rede social passou a
ser utilizada oficialmente, gerando grande sucesso na época. (SANTANA, 2011,
n.p.)
O Facebook é uma rede social que além de proporcionar interação virtual
entre as pessoas, compartilhamento de fotografias, contato instantâneo, hoje em dia
também é instrumento de imponderação em apoiar e mobilizar diversas causas
sociais, como doações àquelas pessoas carentes que necessitam de algo em
determinado momento, doações em dinheiro às instituições e à indivíduos
acometidos com patologias. Ademais, existem grupos que são feitos no Facebook
para o desapego de roupas, eletrodomésticos, eletrônicos, etc.
Atualmente, o Facebook embora ainda seja utilizado, está sendo aos poucos
substituído pelo Instagram, por exibir uma forma mais interativa e visualmente
apresentável ao público, o que faz com que chame mais atenção dos usuários. O
Instagram “possibilita um contato próximo entre marca e público, além de permitir
mostrar um lado mais descontraído da sua empresa com os seus vários formatos de
conteúdo”. (EQUIPE MARKETING NAS REDES SOCIAIS 2018, n.p.).

Neste sentido, as redes sociais estão se tornando, também, fonte de renda


para o brasileiro, com forte representatividade no comércio e na publicidade.
O Instagram, por exemplo, possui usuários que influenciam fortemente no
ramo de roupas, calçados e demais objetos de consumo (MÂNICA, 2019, p.
29).

Mânica (2019, p. 29) ainda aborda o fato de que as relações sociais que são
formadas no âmbito virtual não são apenas entre pessoas próximas, ou seja, entre
amigos e familiares, mas também grupos de trabalhos e criadores de conteúdo, mais
conhecidos como digitais inluencers, que usam suas redes sociais para
desenvolverem conteúdos sobre moda, viagens, beleza, culinária, etc.
É neste contexto que se insere o fato de os digitais influencers monetizarem
sua rede social, criando um local de trabalho, gerando conteúdos que chamem
32

atenção do seu público-alvo, realizando sorteios para aumentar o número de


seguidores, fazer publicidade de marcas e gerar engajamento para que um número
máximo de pessoas seja alcançado com seus conteúdos.
Percebe-se também a criação de sites de lojas físicas a fim de ampliar seus
clientes e realizar atendimento no Brasil todo, atendimentos via Instagram e
WhatsApp como meio de comunicação de vendas, bem como a utilização do
Instagram e Facebook para fazer lives e vender através dela o seu produto. No
momento atual em que vivemos, o exemplo bem próximo da utilização das redes
sociais foi com a pandemia do Covid-19. Todas as pessoas tiveram que se adaptar
com um novo modo de realizar suas atividades, sejam elas profissionais (home
office) ou escolares (aulas online).
Da mesma forma, é assim que os empreendedores de lojas estão ganhando
seu sustento atualmente, com vendas nas redes sociais em função do fechamento
do comércio e do distanciamento controlado. O ser humano teve que se reinventar,
e as redes sociais trouxeram esse auxílio quanto à nova forma de realizar suas
vendas.

O relatório Digital in 2019, divulgado pelas empresas We are Social e


Hootsuite, constatou que 66% da população brasileira está ativa nas redes
sociais. 89% dos entrevistados confirmam o que os especialistas já sabiam:
o uso das redes sociais no Brasil tem um viés comercial: os usuários
diariamente buscam por um serviço ou produto pela internet. (WEB
COMPANY, 2019, n.p., grifo do autor.)

Ao mesmo tempo que as redes sociais possuem diversos benefícios aos


usuários, também pode se tornar lesiva à sua vida pessoal e à segurança de dados
pessoais e particulares dos indivíduos. A partir do momento que o usuário cria um
perfil nas redes sociais e fornece informações de sua vida pessoal, torna-se, de
certa forma, vulnerável. Isso porque, essas informações estão sendo fornecidas a
um banco de dados que não se tem dimensão de quem está “por trás daquilo ali”.

Estamos diante de um problema que existe há muito tempo e que se


intensificou com a Internet e com a informatização da nossa vida cotidiana
em muitos aspectos. Isto é, nossos dados e nossas informações cada vez
mais são utilizados para tomar decisões sobre nós e fazer com que
tenhamos acesso a produtos, serviços e novidades, sem que precisemos ter
a necessidade física de ter contato com alguém ou a necessidade de
deslocamento. Então, várias das comodidades e benesses da modernidade
são facilitadas ou possibilitadas graças ao tratamento de dados (DONEDA,
2018, n.p.).
33

Sem dúvidas, o fato de fornecer informações, bem como postar fotos, emitir
suas próprias opiniões e sentimentos leva à exposição do indivíduo há milhares de
pessoas. Nessa acepção, nota-se a facilidade das redes sociais em ter acesso aos
dados pessoais de qualquer usuário instantaneamente. Frente a isso, Tardelli (2019,
n.p.) corrobora que “Este ano, por exemplo, mais de 540 milhões de pessoas com
contas no Facebook tiveram seus dados expostos em servidores na nuvem, sem
qualquer tipo de senha de acesso”. Ademais, fazendo um adendo, também é
necessário salientar um alerta às notícias falsas, chamadas de fake News.
As redes sociais criaram novos horizontes aos indivíduos, se tornando uma
ferramenta fundamental com diversos benefícios aos usuários, como na busca por
informações, divulgação e comercialização de produtos, e principalmente, criando
relações e permitindo o contato mais próximo entre as pessoas. É impossível que a
pessoa que possua redes sociais não tenha informado nenhum dado pessoal seu
quando da criação da rede social, ou durante o uso dela. No entanto, é preciso ficar
atento a quais dados que estão sendo informados à plataforma, para evitar que
venha sofrer danos posteriormente.

2.2 O Advento do Marco Civil da Internet: A Lei 12.965/2014

A utilização da internet vem tomando proporções maiores nos tempos atuais e


a sociedade e o direito tiveram de se adaptar à medida que foram ocorrendo tais
evoluções. Desse modo, foi aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado
Federal em 25 de março de 2014, a Lei nº 12.965/2014, mais conhecida como
“Marco Civil da Internet”.
É necessário observar que por muitos anos não precisou tanto que houvesse
regulamentação neste âmbito da internet, mas como mencionado anteriormente, à
medida que os anos foram passando, com o aumento do acesso à internet e às
redes sociais, os legisladores necessitaram de algo que fosse eficaz e que trouxesse
proteção e justiça àquelas pessoas que tivessem seus direitos violadas na internet.
O mundo digital não deve uma “terra sem lei”, deve haver normas para
usufruir deste meio, bem como servir de amparo para aqueles que tem seus direitos
violados, assim sendo surgiu a Lei nº 12.965/2014, o Marco Civil da Internet, para
regulamentar as relações neste mundo virtual (GRAMINHO; FERREIRA, 2020, p.
31).
34

Portanto, é necessário esclarecer de que forma a Lei 12.965/2014 é aplicada


aos usuários virtuais e suas sanções àqueles que ultrapassam seus direitos de
liberdade de expressão e ferem os direitos de outrem.

Como se sabe, o estudo do Direito e das leis a serem aplicadas em


determinado espaço-tempo não ocorre de forma hermética. Elas devem se
moldar às necessidades que surgem com a evolução da sociedade, seja no
âmbito moral, relativo aos costumes de cada época, seja em relação aos
avanços promovidos pela tecnologia, como é o caso do surgimento do
Marco Civil da Internet, que surgiu a partir da necessidade de regular as
relações intrínsecas ao uso da internet (ALENCAR, 2019, n.p.).

A referida lei prevê princípios, garantias, direitos e deveres que devem ser
observados no uso da internet no Brasil, dispondo sobre garantias, como a liberdade
de expressão, comunicação e manifestação de pensamento. Denomina-se Marco
Civil da Internet, pois “pensou-se que a Internet poderia ser vista como “terra de
ninguém” e não passível de regulação, considerando que as informações ali
circulavam de forma descentralizada [...]” (ALENCAR, 2019, n.p.). Assim sendo, foi
necessária a criação de uma nova lei que regulamentasse essas relações, uma vez
que se percebeu que as consequências de qualquer contratempo ali gerado
causariam impactos para além daquele mundo virtual.

A legislação veio reforçar as garantias individuais previstas na Constituição


Federal, no que se refere à privacidade dos usuários da rede, colocando a
inviolabilidade da privacidade como um princípio do uso da internet (art. 3°,
inciso II da lei) (LIMA, 2016, p.52).

A lei faz menção de que o uso da Internet no Brasil tem como um dos
principais fundamentos e garantia a liberdade de expressão. Dessa forma,
considerando que a palavra “liberdade” possui um sentido bem amplo, deve-se
compreender até onde a liberdade de expressão pode ir, para que não seja vista
como escudo de defesa para que usuários da internet se valham dela e saiam
impunes de crimes praticados neste ambiente. Nesse contexto, Pontieri (2018, n.p.)
afirma que “o Supremo Tribunal Federal já decidiu que é necessário o equilíbrio
entre os direitos fundamentais, não podendo a liberdade de expressão ser utilizada
para a prática de atos ilícitos”.
Aliás, Teffé e Moraes (2017, p. 113) mencionam que o legislador do Marco
Civil na Internet teve como principal preocupação a liberdade de expressão,
35

inclusive, para assegurar que a pessoa humana pudesse desenvolver sua


personalidade livremente na internet, sendo colocada a liberdade de expressão em
posição preferencial a outros princípios também importantes.
Nas palavras de Martins (2020, n.p), a liberdade do pensamento é o
desdobramento da liberdade de pensamento, que refere a:

[...] uma externalização do pensamento e envolve liberdade de religião,


expressão intelectual, comunicação, etc. Portanto, a liberdade de expressão
é a dimensão extrínseca da liberdade de pensamento.

Ademais, cada artigo da Lei nº 12.965/2014 foi pensado com a devida


atenção, para que pudesse ser aplicada de maneira eficaz. O artigo 1º da Lei
estabelece os princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no
Brasil, além de dar poder de atuação para União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios em relação à matéria.
Já o art. 2º disciplina sobre os fundamentos do respeito à liberdade de
expressão, bem como o reconhecimento da escala mundial da rede (Inciso I), os
direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania
em meios digitais (Inciso II), a pluralidade e a diversidade (Inciso III), a abertura e a
colaboração (Inciso IV), a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do
consumidor (Inciso V), e a finalidade social da rede (Inciso VI).
Seguindo tal premissa, a lei em si usa esses preceitos como base de
introdução para os artigos que virão posteriormente, a fim de respeitar as
particularidades de cada caso e ter um resultado positivo na garantia dos direitos
dos usuários da Internet.
O artigo 3º disciplina quanto a garantia dos princípios do uso da internet,
quais sejam, garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de
pensamento, nos termos da Constituição Federal (Inciso I), proteção da privacidade
(Inciso II), proteção dos dados pessoais, na forma da lei (Inciso III), preservação e
garantia da neutralidade de rede (Inciso IV), preservação da estabilidade, segurança
e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas compatíveis com os
padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas (Inciso V),
responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei
(Inciso VI), preservação da natureza participativa da rede (Inciso VII); e por fim, a
36

liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem
com os demais princípios estabelecidos nesta Lei (Inciso VIII).
Já no artigo 4º, dispõe sobre os objetivos da referida lei com o uso da internet,
priorizando, portanto, o direito de acesso à internet a todos (Inciso I), e o a do
acesso à informação, ao conhecimento e à participação na vida cultural e na
condução dos assuntos públicos (Inciso II).
Tais dispositivos citados acima dão clareza e idoneidade quando se refere à
procura dos usuários da Internet por seus direitos, principalmente quando estes
violados.
Filho (2016, n.p.) levanta certas críticas quanto ao “Novo Marco Civil da
Internet”:

[...] essa lei apresenta poucas inovações e muitas insuficiências e


deficiências de cunho jurídico. Somando-se a esse fato a impossibilidade
jurídica de regulação de uma rede mundial de computadores por meio de lei
de um único país, os problemas gerados pela internet continuarão a afetar a
privacidade, honra e imagem das pessoas, ao mesmo tempo em que
conquistas, como a da neutralidade da rede, terão pouco impacto na vida
das pessoas.

Segundo entendimento do autor, percebe-se subestimação e contrariedade


quando chamada esta lei de “Novo Marco Civil da Internet”, pois em sua visão a
referida lei não apresenta grandes inovações e eficácia quando colocada em prática,
uma vez que é válida somente em território Brasileiro e as relações digitais se dão
mundialmente, fazendo com que a lei se torne quase que inútil.
Embora o autor tenha esta visão, acredita-se que a sociedade tendo
conhecimento de tal lei faz tenha receio às punições, resultando na diminuição dos
crimes no ambiente virtual, pois o objetivo da lei é disciplinar e controlar os
comportamentos dos indivíduos que se encontram nesta plataforma. Evidente que a
existência da lei não faz com que cessem os danos praticadas neste âmbito, mas
gera a atenuação destas e garante que o usuário possua oportunidade de recorrer
aos seus direitos e garantias quando violados.
Para a compreensão das responsabilidades dos provedores no Marco Civil da
Internet trazidos em seu Capítulo III, Ceroy (2014, n.p.) salienta que “provedor de
internet é a pessoa natural ou jurídica que fornece serviços relacionados ao
funcionamento da internet, ou por meio dela”. Ademais, o autor afirma:
37

O marco civil da internet, por sua vez, não traz nenhuma definição
específica sobre os provedores. A lei brasileira trata, especificamente, de
duas espécies de provedores, os de conexão e de aplicação de internet.
[...] O marco civil da internet, em seu artigo 5°, trouxe algumas definições,
entretanto não tratou de conceituar as espécies de provedores.
[...] O Provedor de Acesso ou Provedor de Conexão à Internet é a
pessoa jurídica fornecedora de serviços que consistem em possibilitar o
acesso de seus consumidores à internet. Para sua caracterização, basta
que ele possibilite a conexão dos terminais4 de seus clientes à internet. Em
nosso país os mais conhecidos são: Net Virtua, Brasil Telecom, GVT e
operadoras de telefonia celular como TIM, Claro e Vivo, estas últimas que
fornecem o serviço 3G e 4G.
[...] Provedor de Aplicação de Internet (PAI) é um termo que descreve
qualquer empresa, organização ou pessoa natural que, de forma
profissional ou amadora, forneça um conjunto de funcionalidades que
podem ser acessadas por meio de um terminal conectado à internet, não
importando se os objetivos são econômicos.

Importante mencionar que, em que pese o Marco Civil da Internet faça


referência apenas aos dois provedores citados anteriormente, ainda assim existem
outros provedores importantes, que são o Provedor de Backbone, de Acesso, de
Correio Eletrônico, de Hospedagem e de Conteúdo, que serão analisados
posteriormente.
Por outro lado, Teffé e Moraes (2017, p. 108) possuem entendimento que
embora a Lei 12.965/2014 não seja tão eficaz como deveria no sentido de fazer jus à
sua existência, remonta maior confiança quanto à sua aplicabilidade:

[...] o Marco Civil da Internet representa uma iniciativa original para regular
os conflitos de interesses oriundos da sociedade da informação. No campo
da privacidade, considera-se terem sido positivados direitos essenciais para
o usuário da rede, em especial na perspectiva do controle e da
autodeterminação informativa. No âmbito da responsabilidade, o legislador
optou por estabelecer, como regra, depois da notificação judicial ao
provedor de aplicações de internet, o regime da responsabilidade civil
subjetiva, caso ele se omita de tornar indisponível o conteúdo apontado
como danoso. Conclui-se que a lei criou instrumentos adequados, embora
insuficientes à tutela da pessoa na internet.

Nesse segmento, mostra-se razoável esclarecer as responsabilidades que


existem entre a relação do usuário e do provedor da rede social. Atualmente, é o
próprio usuário que se torna responsável por suas ações na internet, mas vale
ressaltar que nem sempre foi assim. Antes da Lei 12.965/2014 entrar em vigor, as
chances maiores eram de os provedores de conteúdo serem responsabilizados por
estes danos causados por terceiros.
38

Os tribunais eram pacíficos em entender que caso os provedores tivessem


conhecimento dos conteúdos violados por terceiros, e mantivessem tal conteúdo e
não identificasse o autor do dano, estes seriam responsabilizados. (FRAZÃO;
MEDEIROS, 2021, n.p.).
Com a atual legislação do Marco Civil, tornou-se afunilada tais hipóteses de
responsabilizar somente os provedores, mas isso não quer dizer que ainda assim
ficam imunes às penalidades. O art. 19, caput e §1º (Lei 12.965/2014) prevê:

Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o


provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado
civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após
ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos
limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar
indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as
disposições legais em contrário.
§ 1º A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de
nulidade, identificação clara e específica do conteúdo apontado como
infringente, que permita a localização inequívoca do material.

A aplicação do requisito de clareza e especificidade expresso no §1º é de


extrema importância, vez que demonstra a preocupação com a sociedade civil em
relações as divergências adotadas nas responsabilizações na internet.
Doneda (2018, n.p.) também faz alguns apontamentos sobre a Lei do Marco
Civil na Internet:

O Marco Civil da Internet regula várias coisas, mas fora da Internet há em


alguns setores uma lacuna muito grande, o que causa uma insegurança no
cidadão em relação a quem recorrer e o que fazer quando seus dados são
utilizados. Juridicamente, em uma resposta sintética, apesar de a nossa lei
ter os direcionamentos certos na Constituição e em outras leis, não há um
tratamento organizado da matéria, que é o que falta no momento.

Anteriormente, quando ainda não existia a chamada Lei Geral de Proteção de


Dados Pessoais, Lei nº 13.709/2018, estabeleceu-se diversos direitos essenciais
para o usuário da rede. (TEFFÉ; MORAES, 2017, p. 124). Atualmente, houve uma
melhora no sistema jurídico, dando maior atenção aos danos sofridos por pessoas, e
a Lei nº 13.709/208 por ser uma lei específica nesta matéria, tirou algumas
atribuições da Lei do Marco Civil da Internet, acabando esta por não ser mais usada
em casos de violações de dados pessoais.
39

O Marco Civil da Internet proporcionou uma revolução no que diz respeito a


busca pelos direitos essenciais dos usuários na internet, a partir da perspectiva do
controle e da autodeterminação informativa. Além de que, regulou-se o debatido
tema da responsabilidade civil do provedor de aplicações de internet, que tem o
dever de retirar os conteúdos inadequados, quando estes apresentam danos a
alguém.
É perceptível que a Lei pretende fornecer melhores benefícios possíveis e
alertas as pessoas que tem seus direitos violados. Assim, o Capítulo V, em suas
Disposições finais preceitua no art. 29, parágrafo único, da Lei do Marco Civil da
Internet:

Art. 29. Parágrafo único. Cabe ao poder público, em conjunto com os


provedores de conexão e de aplicações de internet e a sociedade civil,
promover a educação e fornecer informações sobre o uso dos programas
de computador previstos no caput, bem como para a definição de boas
práticas para a inclusão digital de crianças e adolescentes (BRASIL, 2014).

Por fim, o artigo 30 da Lei prevê que “A defesa dos interesses e dos direitos
estabelecidos nesta Lei poderá ser exercida em juízo, individual ou coletivamente,
na forma da lei.” Sendo assim, cada caso deve ser analisado individualmente com
suas particularidades, para a melhor eficácia na aplicação e efetividade desta lei.

2.3 Possibilidade de reparação dos danos morais por publicações indevidas


em redes sociais

A partir do que foi dito sobre a Lei nº 12.965/2014, o Marco Civil da Internet, é
possível perceber que ao longo dos anos o ordenamento jurídico teve de se adaptar
também com os contratempos que aconteciam com as relações entre pessoas no
meio virtual, e encontrar soluções para resolvê-las. As relações digitais entre os
indivíduos têm se tornado muito corriqueira na sociedade atual, mostrando-se
necessário que haja regulamentação para garantir os direitos dos usuários que
tiverem seus direitos violados no meio digital.
Conforme salientado anteriormente, há diversos perigos que podem serem
prejudiciais aos usuários na internet. Sulz (2020, n.p.) alerta que para ter relações
positivas nas plataformas, é preciso conhecer os riscos envolvidos no uso delas, e
principalmente o “remédio”, ou seja, uma proteção, caso algo saia do controle.
40

Paralelamente ao aumento significativo e exponencial da utilização das


novas tecnologias no Brasil, emergem novas realidades, demandas e
conflitos, que demandam a tutela normativa e jurisdicional. Exemplo disso
são os provedores de Internet, sobretudo quanto às nuances que envolvem
a vinculação e a colaboração do particular diante de casos de violação do
direito à intimidade na Internet (HOCK, 2019, p.52).

Há de se questionar algumas questões pertinentes em relação aos conflitos


que ocorrem nas redes sociais. Até onde a exposição na rede passa a ofender os
direitos de personalidade? E qual a responsabilidade pelo que compartilhamos e
pelo que escrevemos nas redes? (TOALDO; CERVI, 2020, p. 13).
Atualmente, as redes socias estão em constante processo de transformação e
evolução, trazendo diariamente desafios ao direito e a sociedade, para continuar a
evolução como seres humanos, ainda mais porque as relações digitais tiveram
aumentos significativos, tornando-se uma era digital marcada por julgamentos
prematuros, diluição de valores, diluição da responsabilidade, fake news, divulgação
de dados sigilosos, etc (TOALDO; CERVI, 2020, p. 15).
As pessoas que fazem uso das redes sociais para criticar e xingar outras
pessoas são chamadas na internet de “haters”, ou na linguem literal, “odiadores”.
Jeremias (2016, n.p.) explica que os haters “São extremamente negativos e
enxergam problema em tudo”. Maccedo (2016, n.p.) também define os haters como
“pessoas que postam comentários de ódio ou crítica sem muito critério, ou, pessoa
que desagrada de alguém ou algo específico”.
Para tanto, Manuella Santos (2009, p. 126) defende a tese de que quando se
trata de expor qualquer opinião, a Internet não é um território livre e merece
responsabilização civil tal opinião que fere os direitos de um indivíduo:

Quando a pergunta é feita as pessoas querem saber se no meio virtual


pode tudo. A resposta é não. A Internet não é um faroeste norte-americano,
uma terra de ninguém. Uma evidência disso é que muitos autores usam a
expressão “direito cibernético”, que nada mais é do que o próprio direito
aplicado e adaptado às novas condições do meio digital.
Assim, há crimes digitais, há responsabilidade civil decorrente das situações
ocorridas no meio virtual, as regras do Código de Defesa do Consumidor
também se aplicam aos contratos eletrônicos e há até mesmo questões
tributárias, como incidência de ICMS e ISS aos provedores de acesso. [...].

Para a psicóloga Caroline Chiarelli Colle (2019, n.p.), os comentários


carregados de insultos e humilhações são proferidos sem qualquer justificativa. “Ou
41

seja, o espaço que deveria ser utilizado para debate de ideias e construção de
pensamentos torna-se um local de disseminação de ódio gratuito, sem fundamento.”

O ódio gratuito mascarado pela frase “mas é só minha opinião” se tornou


um dos grandes males da internet na atualidade. Parece que estamos cada
dia mais intolerantes e as nossas opiniões valem mais do que a dos outros,
e até o extremismo, antes mais presentes em questões políticas, sociais e
religiosas, está batendo na porta da cultura pop. [...] Tornou-se comum não
apenas discordar com a opinião alheia, mas a indagação de agressividade e
ódio desnecessários ao argumento que estão disfarçados e “assegurados”
por apenas uma opinião”. [...] Tenho a impressão de que, antes do advento
das mídias digitais, as opiniões eram mais restritas, entretanto, agora, com
o poder nas mãos parece que todo mundo precisa gritar e espalhar sua
opinião a qualquer custo. Os likes servem como o grande incentivo para o
ódio gratuito, já que comentários negativos geram curtidas, formando uma
legião de pessoas que concordam com a sua “opinião” (NETO, 2018, n.p.).

Em razão disso, o indivíduo que está ferindo alguém deve-se ter o mínimo de
senso e refletir que existe uma pessoa do outro lado da tela, com sentimentos,
fraquezas, problemas e fragilidades, e que seu comentário ou opinião de cunho
maldoso e infeliz podem ser o ápice e acabar gerando um dano extremamente
doloroso à quem está sendo dirigido tal comentário.
Na visão de Colle (2019, n.p.), o comportamento das pessoas que fazem
esses comentários com a intuição de ferir o outro, esconde um perfil de pessoas
frustradas e insatisfeitas com a própria vida, e para isso precisam criticar a vida dos
outros para se sentirem melhor, mas alerta que muitas dessas ofensas podem deixar
marcas piores que as físicas àquele lesionado. Já Neto (2018, n.p) pondera de forma
coerente que “se a sua fala diminui ou atinge outra pessoa, você não está apenas
opinando”.
Para isso, é necessário que o ordenamento jurídico utilize do instituto do dano
moral para acolher aquele que teve seus direitos violados. Em que pese o dano
moral não seja um dano possível de medir os “estragos” causados, pois tratam-se
de sentimentos e subjetividade, é presumido que as consequências de tais atos
deixem sequelas de dor, humilhação e sofrimento, e sendo assim, há de ser
reparado quantitativamente (SANTOS, et al 2016, n.p.).
Os referidos autores trazem o conceito de dano moral:

Trata-se de instituto que se ocupa da lesão ocasionada à esfera


extrapatrimonial do ofendido, uma vez que atinge seus direitos de
personalidade, violando sua dignidade, acarretando-lhe dor, sofrimento,
tristeza, vexame e humilhação.
42

Por ser um instituto que cuida dos danos causados aos direitos da
personalidade do indivíduo e viola seus princípios, foi preciso que o ordenamento
jurídico entendesse que é direito do cidadão ter seus direitos zelados e dever de o
Estado proporcionar isto, para que haja punição àqueles que causam danos a
outrem e tire o enraizamento de que a internet é uma terra sem lei.
Por muitos anos o dano moral foi objeto de discussão pela doutrina, uma vez
que a configuração de tal dano interfere na esfera íntima e subjetiva do ofendido,
violando sua dignidade e lesionando um direito extrapatrimonial tutelado (SANTOS
et al, 2016, n.p.). O direito a reparação dos danos morais sofridos é uma garantia
fundamental, encontrada na Constituição Federal de 1988, que em seu art. 5º,
incisos V e X preceitua:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:

[...]
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem;
[...]
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação (BRASIL, 1988).

O Código de Processo Civil (BRASIL, 2015) prevê em seu artigo 292, inciso
V, que “o valor da causa na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral,
deve ser o valor pretendido pelo autor”. Todavia, é importante esclarecer que em
que pese o autor pretenda um valor, cabe ao juiz “segundo o seu prudente arbítrio
fixar o valor da indenização” (SANTOS et al 2016, n.p.).
Além disso, o Código Civil (BRASIL, 2002) também disciplina tal instituto
em seus artigos 186, 927 e 953. Senão vejamos:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts.186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o
dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
43

quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar,


por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Art. 953. A indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá na


reparação do dano que delas resulte ao ofendido.

É importante destacar que a reparação dos danos serve para reparar


especificamente o ofendido daquele dano que lhe foi gerado, não podendo aquela
indenização servir de fonte de enriquecimento indevido.

A este despeito, há que mencionar a finalidade do instituto do dano moral,


qual seja, reparar o dano sofrido e aplicar sanção pedagógica ao agente do
dano, a fim de que tal conduta não venha a reincidir. (SANTOS et al, 2016,
n.p.).

O judiciário preocupa-se com a banalização do instituto do dano moral, uma


vez que este tipo de indenização não pode ocasionar o enriquecimento sem causa,
e por muitas vezes há quem se aproveite de má-fé deste instituto.
As redes sociais tem a possibilidade de criar contas falsas, chamados perfis
fakes para disseminar o ódio e proferir xingamentos. Embora muitas pessoas
utilizem seu próprio perfil para tal ato, a maioria dos usuários não tem coragem de
expor seu comentário negativo através do seu próprio perfil e acabam criando para
isto os perfis falsos. Isso gera um obstáculo à pessoa ofendida, pois muitas vezes
são pessoas anônimas, não sendo possível identificar quem está por trás das telas.

Ao mesmo tempo em que o anonimato protege a liberdade de expressão,


também a limita, visto que a manifestação de pensamento anônima é
vedada (art. 5º, IV, CF/88) pela mesma razão – a proteção. Nesse caso,
porém, a proteção visa a parte a que foi direcionada a expressão. O
anonimato online vem sendo um dos grandes problemas da “Era digital”,
tendo em vista que em várias redes sociais é possível que se comente
sobre o que foi postado, sem, todavia, mencionar a sua autoria (MÂNICA,
2019, p. 32).

A existência de comentários anônimos e a impossibilidade de identificação do


terceiro que fez o comentário pode levar à responsabilização do provedor da
plataforma, uma vez que este permitiu que pudesse serem feitos comentários
anônimos em tal rede social/site.
Os provedores são peças essenciais para ajudar no momento da
responsabilização dos danos causados ao direito da personalidade nas redes
sociais, e importante salientar que suas responsabilidades são diferentes. Dessa
44

maneira, se faz necessário conceituar os tipos de provedores e suas


responsabilidades.
Existem seis tipos de provedores. Os provedores de acesso e de aplicação da
internet já foram conceituados anteriormente.
O provedor backbone, significa “espinha dorsal”, é a pessoa jurídica que
representa o nível máximo de hierarquia, por possuir estruturas físicas pelas quais
trafega quase todos os dados transmitidos através da Internet (LEONARDI, 2005, p.
20).
O provedor de correio eletrônico fornece o serviço de envio de mensagens do
usuário aos seus destinatários, possibilitando que o usuário tenha nome de usuário
e senha exclusivos (LEONARDI, 2005, p. 26).
O provedor de hospedagem é aquele que presta serviços de armazenamento
de dados por meio remoto (PINTO, 2018, n.p.).
Os provedores de conteúdo e de informações se diferenciam pois o primeiro
é a pessoa natural ou jurídica que disponibiliza as informações criadas pelos
provedores de informações, e o segundo, também pessoa natural ou jurídica, é
quem cria as informações divulgadas pelos primeiros. (LEONARDI, 2005, p. 30).
E por fim, fazem parte desta gama da internet, os internautas, ou usuários
como mencionados anteriormente, que são aquelas pessoas que utilizam a Internet
para criar relações, fazer uso das redes sociais, etc. Importante salientar que
“Quando os usuários participam da produção de conteúdo, junto com os
responsáveis pelos sites, eles agem na qualidade de terceiros” (ZAGO, 2010, p. 5).
Ademais, a autora ainda complementa:

A interação entre os diferentes elementos integrantes da Internet abre


possibilidade para o surgimento de uma ampla gama de relações jurídicas.
Atos ilícitos podem vir a ser cometidos, o que gera a necessidade de avaliar
cada situação para identificar em quem costuma recair a responsabilização
por determinado ato. Sendo assim, identificar a função desempenhada pelo
provedor é fundamental para poder se determinar sua responsabilização.

Além disso, a autora mencionou também sobre os outros tipos de provedores


e suas responsabilidades:

Da mesma forma que o provedor de e-mail ou o provedor de acesso, o


provedor de hospedagem, em geral, desconhece o conteúdo dos sites que
hospeda, razão pela qual, em termos gerais, esses tipos de provedores não
45

podem ser responsabilizados pelo serviço que prestam (LOURENÇO, 2007,


apud ZAGO 2005, p.6).

Nessa perspectiva, Pinto (2018, n.p.) traz em sua obra, de forma clara e
objetiva a responsabilização dos provedores de internet:

A Responsabilidade Civil dos provedores é verificada por meio da presença


do liame entre a conduta do agente causador do dano e o dano suportado
pela vítima. Para que fique caracterizada a Responsabilidade Civil cometida
por algum dos provedores de internet, é preciso analisar qual a atividade
desempenha e os deveres a que estão submetidos. Dessa maneira,
partindo do conhecimento das funções executadas por cada tipo de
provedor, será possível mensurar a responsabilidade deste com relação a
um dano. Assim, caso haja falha na prestação de seus serviços e geração
de dano, poderá ser aplicada a responsabilidade civil ou não. Para prevenir
eventuais transtornos, tanto por ações quanto omissões ou até
mesmo por atos de terceiros, recomenda-se que provedores de internet
façam investimentos em pessoal e no uso de tecnologias adequadas.
Assim, todos os dados e informações ficam preservados.

Em que pese por vezes não seja possível a identificação do usuário


responsável pelo ato ilícito, tendo em vista que existem sites que permitem a
inclusão de conteúdos e comentários anônimos, bem como usuários que criam
perfis falsos com o objetivo de causar dano à outrem, as possibilidades de
responsabilização são grandes, uma vez que, ainda que seja limitada a
responsabilização de provedor por ato de terceiro, é possível responsabilizá-lo em
casos que este não contribuir para a identificação do usuário responsável ou
terceiro que tenha realizado o ato (ZAGO, 2005, p. 09).
Evidentemente que as redes sociais além de serem um meio que
proporciona o contato simultâneo entre pessoas, também gera trocas, informações,
entretenimento, e principalmente lazer. Ou seja, quando alguém está triste, se
sentindo pra baixo, procura meios para tentar se sentir melhor, seja fazendo
exercícios físicos, lendo livros, ou entrando em suas redes sociais para se
comunicar com os amigos e buscar perfis de influenciadores digitais que tragam
conteúdos que proporcionem leveza, tranquilidade, melhor qualidade de vida e que
por um momento lhe faça esquecer os problemas.
Há dificuldades em todos os aspectos, entre elas a dificuldade de colher
provas e achar os agentes do crime, portanto, o que precisa ser estimulado é a
mudança de comportamento educacional na sociedade (PENA, 2017, p. 70).
46

À vista disso, o ambiente virtual deve ser um ambiente de boa convivência,


e, portanto, não se pode deixar que passem impunes aqueles que estão ali para
fazer prejudicar aos outros apenas por estar escondido atrás de uma conta falsa,
mais conhecida como “perfil fake” para causar mágoa, tristeza, sofrimento ou
qualquer tipo de constrangimento por um comentário tão danoso.
Portanto, é de extrema importância a existência de normas superiores para
regulamentar essas relações no mundo digital, como a Constituição Federal de
1988, o Código Civil, o Código de Processo Civil, e principalmente, o Marco Civil
da Internet, que revolucionou a esfera digital, impondo ordem e amparo aos
usuários. Nesse sentido, é preciso que os internautas tenham maiores
conhecimentos de seus direitos na internet, para que não deixem passar impune
aqueles que publicam comentários com intuito de prejudicar os usuários da
internet.
Após as elucidações expostas, faz-se imperioso apresentar a análise de
casos concretos, isto é, exemplos práticos dos comentários pejorativos nas redes
sociais, de que forma a pessoa atingida enfrenta isso, bem como qual é o
entendimento dos tribunais quanto à essas contendas.
47

3 ANÁLISE DE CASOS CONCRETOS E O ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS


ACERCA DA VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE NAS REDES
SOCIAIS

Com base em tudo que foi dito anteriormente, é possível perceber que todas
as pessoas que estão inseridas na internet e nas redes sociais estão sujeitas a
receberem algum tipo de crítica ou comentários inconvenientes. É preciso saber lidar
com essas adversidades que infelizmente acontecem atualmente, para que não
afete sua vida. Algumas pessoas sofrem muito com críticas, pois apenas um
comentário maldoso basta para que se torne um gatilho e desencadeie diversos
problemas psicológicos.
Por muitas vezes, não se tratam apenas de críticas pequenas, e sim de
comentários extremamente maldosos e ofensivos sobre a pessoa ou sobre sua
aparência, seja querendo ferir sua personalidade ou sua esfera profissional, mas
com o principal objetivo de deixar o destinatário abalado. Alguns perfis já se
direcionam ao perfil da outra pessoa com o intuito de causar constrangimento,
palavras cruéis, para realmente injuriar e difamar o outro.
Dessa forma, após as elucidações, se faz imperioso apresentar casos reais
do que acontece nas redes sociais, bem como apresentar decisões de tribunais
superiores e seus entendimentos quanto à essas questões envolvendo os direitos da
personalidade e sua violação nas redes sociais.

3.1 Análise de casos concretos e atuais acerca de comentários ofensivos nas


redes sociais contra os usuários

Os comentários e ofensas se tornaram algo corriqueiro nas redes sociais,


principalmente direcionado às pessoas públicas, e famosas, que são pessoas mais
visadas e que atingem um público com tamanha diversidade de cultura e diferente
faixa etária. Se pararmos para pesquisar sobre uma pessoa pública/famosa que
sofreu ataques nas redes sociais, aparecem inúmeras matérias comentando sobre
diversos ataques sofridos com a mesma. Além disso, ao acessar o Instagram,
também há notícias todos os dias de alguém sendo atacado virtualmente.
Para Brito e Gomes (2019, p. 06), a fama e a privacidade na vida dos
famosos tem seus ônus e bônus, “o bônus da máxima exposição também acaba
48

sendo vinculado ao ônus da mínima privacidade”. As pessoas públicas/influencers


digitais e os famosos são os indivíduos de maior alvo na internet quanto à
comentários maldosos e ofensas. Pessoas públicas não são somente àquelas que
se dedicam profissionalmente com subsídios públicos, como os políticos, mas
também aqueles que trabalham com alguma atividade capaz de levar
entretenimento ou exposição pública sobre um tema específico, como por exemplo
os influenciadores (AUFER, 2020, n.p.).
A circulação das notícias sobre fatos da vida privada envolvendo as
celebridades acabam sendo objeto de discussões judiciais “[...] sob alegações de
conteúdo invasivo perante os direitos de personalidade, privacidade e intimidade das
personalidades públicas (BRITO; GOMES, 2019, p.11).
As redes sociais constituem um espaço favorável aos usuários para se
envolverem em brigas, conflitos, “[...] especialmente porque permite que uma
quantidade expressiva de pessoas, com perfis diversos, debata temas polêmicos”
(CABRAL; LIMA, 2018, p. 45). O autor mostra a visão ampla sobre o uso das redes
sociais, e que por ter uma quantidade grande de pessoas com pensamentos
divergentes, acaba se tornando um espaço para diversas pautas polêmicas.

A capacidade de difusão daquilo que se compartilha nas redes sociais é


ampla; um mesmo post é visto por centenas ou até milhares de pessoas,
que, além de apertar o botão curtir, têm a possibilidade de manifestar suas
opiniões, favoráveis ou contrárias a ele (CABRAL; LIMA, 2016, p. 95).

Ademais, as autoras contribuem o que antes já fora mencionado, que essas


ações de compartilhamento ou curtidas, dão vasta movimentação à
opinião/comentário proferido, e sendo assim são espalhadas facilmente em razão da
grande quantidade de usuários alcançados.
Conforme se observa na Figura 01 a seguir, em novembro de 2015, a atriz e
apresentadora Taís Araújo foi alvo de diversos comentários racistas na página de
seu Facebook. Os comentários mostram mensagens pejorativas em relação a cor da
sua pele e quanto ao seu cabelo.
Na época, a atriz fez boletim de ocorrência, prestou depoimento sobre o caso
e foi instaurado inquérito para investigar o ocorrido e identificar os autores do fato.
Além disso, Taís forneceu diversos dados com relação à postagem para colaborar
com as investigações. O delegado do caso informou que mesmo que os autores
49

tenham apagado os perfis das redes sociais, ainda assim é possível serem
encontrados (UOL, 2015, n.p.).

Figura 1: Comentários racistas - Taís Araújo1

Fonte: UOL (2015)

Assim como o caso da atriz Taís Araújo quanto à comentários


preconceituosos, outras pessoas públicas também sofrem constantemente ataques
racistas, como a apresentadora do Jornal Hoje, Maju Trindade. Tanto no caso de
Taís Araújo, como de Maju Trindade, o Twitter foi utilizado como manifesto contra o
racismo, e os usuários levantaram a hashtag #SomosTodosTaisAraujo e
#SomosTodosMajuTrindade.
Outra celebridade muito visada e que vem sendo atacada constantemente
com diversas críticas e ofensas em suas redes sociais é a cantora Luísa Sonza.
Quando anunciou o fim do casamento com humorista Whindersson Nunes no início
de 2020, foi alvo de diversos comentários misóginos, alegando que Luísa só se
relacionou com ele para se aproveitar da fama e se promover. Luísa relata que foi
colocado “um peso” sobre seu relacionamento com o humorista, tendo em vista que
os ataques que vinha sofrendo começaram desde o início do relacionamento, e que

1 Disponível em: https://tvefamosos.uol.com.br/noticias/redacao/2015/11/04/apos-ofensas-racistas-


tais-araujo-presta-depoimento-a-policia-nesta-quarta.htm. Acesso em: 20 abril 2021
50

no início, por ser uma menina do interior e com apenas 17 anos não sabia mexer
com a internet e lidar com essas críticas direito (REVISTA FÓRUM, 2020).
Diante de tantos ataques que já sofreu e vem sofrendo diariamente, a cantora
atualmente utiliza suas redes sociais para fazer diversos desabafos, como este da
imagem a seguir:

Figura 2: Desabafo - Luísa Sonza

Fonte: Kogut (2021)2

A cantora também recebe muitas críticas em relação a sua aparência. Os


internautas estão o tempo todo proferindo ofensas e verbalizando que Luísa está
artificial e que mudou muito seu rosto, alegando que a mesma já fez diversas
cirurgias plásticas. No entanto, Luísa afirma que apenas realizou um procedimento
nos lábios, conhecido como preenchimento labial. Ademais, ela disse que
internautas estão comparando suas fotos atuais com fotos em que era mais nova, e
estão alegando que ela sofre de distúrbio de imagem.
Recentemente, Luísa postou uma foto em seu Instagram e mais uma vez foi
alvo de comentários ofensivos e preconceituosos. A cantora foi chamada de travesti
por estar usando uma peruca e estar com uma maquiagem diferente.

Figura 3: Comentários preconceituosos – Luísa Sonza

2 Disponível em: https://kogut.oglobo.globo.com/noticias-da-tv/noticia/2021/02/luisa-sonza-reclama-


de-ataques-nas-redes-mentira-contada-muitas-vezes-se-torna-verdade.html. Acesso em: 20 abril
2021
51

Fonte: E+ Estadão (2021)3

Após a repercussão da foto postada, Luísa usou os Stories do Instagram para


desabafar sobre os últimos ataques que vem sofrendo e confessa que esses tipos
de comentários estão lhe afetando muito.

“Eu não suporto mais gente infeliz disfarçada de preocupação. Esse ano eu
tomei uma decisão de me posicionar mais sobre o que falam sobre mim. Vi
muita mentira na minha vida se tornando ‘verdade’ por eu não me
posicionar”, desabafou. (DIAS, 2021, n.p.).

[...]

[...] o nível dos ataques está muito pesado, eu não vou mostrar aqui porque
vocês iriam vomitar, eles levam para um lado como se eu tivesse algum
distúrbio de imagem. Isso está me afetando, me deixa até com medo de
usar filtros do Instagram, tento sempre me mostrar o mais natural possível”,
completou. (DIAS, 2021, n.p.)

Ao mesmo tempo que se torna humano àquele que foi atingido com as
críticas e comentários maldosos expor o que está acontecendo e como está se
sentindo diante de tantas opiniões negativas e insensíveis, também é muito
preocupante, pois mostra o quanto o indivíduo chegou ao seu limite para desabafar
suas vulnerabilidades, e além disso, em uma das próprias redes sociais que
contribuiu para a disseminação de tais comentários, como foi o caso acima
retratado.

3Disponível em: Acesso em: https://emais.estadao.com.br/noticias/gente,luisa-sonza-expoe-criticas-


que-recebe-na-internet-sobre-sua-aparencia-desumano,70003678751. 20 abril 2021
52

Na figura 4 abaixo, retrata alguns dos comentários sofridos à Natasha


Villaschi, que também foi alvo de haters em seu Instagram. A digital influencer
atualmente conta com 562 mil seguidores, e produz conteúdos diariamente em seu
Instagram, postando nos Stories sobre sua vida, sua rotina, alimentação, treinos,
etc.
As imagens abaixo foram retiradas de um vídeo que a mesma fez para o seu
Instagram, mostrando algumas das mensagens recebidas de pessoas criticando seu
estilo de vida e principalmente seu corpo. O conteúdo das mensagens são de injúria
e extremamente insultuosos e ofensivos, perceptíveis que foram proferidos com o
intuito de deixar a influenciadora aborrecida e triste.

Figura 4: Comentários no Instagram - Natasha Villaschi

Fonte: Instagram de Natasha Villaschi4

E por fim, a figura 5 retrata outro caso que gerou grande repercussão nos
últimos dias, que foram os comentários extremamente cruéis, racistas e
preconceituosos à filha da cantora Pocah (Viviane de Queiroz Pereira), que
atualmente está participando do reality show Big Brother Brasil. A filha da cantora

4 Disponível em: https://www.instagram.com/nat.villaschi/. Acesso em: 20 abril 2021


53

tem apenas 4 anos e foi alvo de ofensas cruéis feitas por fãs da outra participante
Juliette, em razão de que a cantora teria votado em Juliette. Entre os xingamentos, a
criança foi chamada de macaca, cabelo duro e neguinha fedida.
A figura abaixo com os comentários foram alguns dos comentários expostos
pelo perfil de Pocah contra sua filha, bem como a matéria da Bola Vip (2021, n.p.)
informou que o noivo de Pocah já está tomando as devidas providências judiciais e
que fará Boletim de Ocorrência contra crime cibernético e de injúria racial.

Figura 5 – Comentários sobre Vitória

Fonte: Twitter (2021)5

Importante destacar que tanto a figura 1 que é de 2015 como nas outras
figuras (figura 2, 3, 4 e 5) que são recentes do ano de 2021, observa-se que os
usuários das redes sociais desde há muitos anos já vem proferindo ofensas e
comentários maldosos nas redes sociais, e atualmente este número só aumenta.
No ambiente virtual existem aqueles que praticam essas manifestações nas
redes sociais e acreditam que estão apenas manifestando sua liberdade de
expressão, muitos em tons de brincadeiras pejorativas, acreditando que não estão
fazendo “nada demais”, mas também existem os haters, como já mencionados no
capítulo anterior, que são os anônimos que adentram na plataforma virtual com o

5 Disponível em: https://twitter.com/Pocah/status/1384283740025749509. Acesso em 20 abril 2021.


54

único propósito de ofenderem e incitarem esses discursos de cunho ofensivos


(PENA, 2017, p. 71).
Além disso, a autora afirma que quanto mais as redes sociais permitem esses
indivíduos de se manifestarem desta forma, dá ainda mais visibilidade e propagação
a esses tipos de termos pejorativos.
As análises dos casos reais acima trazidos a este trabalho permitiram mostrar
o quanto a sociedade está acostumada a proferir qualquer comentário nas redes
sociais sem pensar duas vezes, e sem perceber que aquela não é apenas sua
opinião, existe alguém que será atingido com este comentário negativo e isso pode
trazer consequências imensuráveis àquela pessoa.
A seguir, veremos no próximo item os entendimentos do STJ e do TJRS
quanto a responsabilização civil pelos danos morais sofridos por essas pessoas nas
redes sociais, e quais as medidas adotadas por cada um desses tribunais.

3.2 Entendimento do Superior Tribunal de Justiça acerca da violação dos


direitos da personalidade nas redes sociais

No presente item é apresentada uma análise de casos jurisprudenciais, a qual


se encontra pautada em decisões do Superior Tribunal de Justiça, a partir de casos
que envolvam a responsabilização civil perante aos danos morais causados por
comentários ofensivos nas redes sociais. Busca-se conhecer quais as
fundamentações jurídicas em que as decisões do Superior Tribunal de Justiça se
baseiam, salientando a aplicação da Lei do Marco Civil da Internet.
A presente busca foi baseada em julgamentos realizados no STJ, sendo a
pesquisa realizada no site do JUS BRASIL, através da procura por expressões como
responsabilidade civil, redes sociais, danos morais, comentários pejorativos e
ofensas.
O caso julgado a ser analisado, trata-se do Recurso Especial 1.642.560 - SP
(2016/0242777-4), oriundo da terceira turma, no qual participaram do julgamento o
Presidente Marco Aurélio Bellizze, os Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Moura
Ribeiro, Ricardo Villas Bôas Cueva e a Ministra Nancy Andrighi.
Trata-se de um recurso especial no qual foi dado provimento ao recorrente
Google Brasil Internet LTDA. Segue ementa do acórdão:
55

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. REDE SOCIAL. RESPONSABILIDADE


CIVIL DO PROVEDOR DE APLICAÇÃO. REDE SOCIAL. FACEBOOK.
OBRIGAÇÃO DE FAZER. REMOÇÃO DE CONTEÚDO. FORNECIMENTO
DE LOCALIZADOR URL DA PÁGINA OU RECURSO DA INTERNET.
COMANDO JUDICIAL ESPECÍFICO. NECESSIDADE. OBRIGAÇÃO DO
REQUERENTE. MULTA DIÁRIA. OBRIGAÇÃO IMPOSSÍVEL.
DESCABIMENTO. 1. Esta Corte fixou entendimento de que "(i) não
respondem objetivamente pela inserção no site, por terceiros, de
informações ilegais; (ii) não podem ser obrigados a exercer um controle
prévio do conteúdo das informações postadas no site por seus usuários; (iii)
devem, assim que tiverem conhecimento inequívoco da existência de dados
ilegais no site, removê-los imediatamente, sob pena de responderem pelos
danos respectivos; (iv) devem manter um sistema minimamente eficaz de
identificação de seus usuários, cuja efetividade será avaliada caso a caso".
Precedentes. 2. Aos provedores de aplicação, aplica-se a tese da
responsabilidade subjetiva, segundo a qual o provedor de aplicação torna-
se responsável solidariamente com aquele que gerou o conteúdo ofensivo
se, ao tomar conhecimento da lesão que determinada informação causa,
não tomar as providências necessárias para a sua remoção. Precedentes.
3. Necessidade de indicação clara e específica do localizador URL do
conteúdo infringente para a validade de comando judicial que ordene sua
remoção da internet. O fornecimento do URL é obrigação do requerente.
Precedentes deste STJ. 4. A necessidade de indicação do localizador URL
não é apenas uma garantia aos provedores de aplicação, como forma de
reduzir eventuais questões relacionadas à liberdade de expressão, mas
também é um critério seguro para verificar o cumprimento das decisões
judiciais que determinar a remoção de conteúdo na internet. 5. Em
hipóteses com ordens vagas e imprecisas, as discussões sobre o
cumprimento de decisão judicial e quanto à aplicação de multa diária serão
arrastadas sem necessidade até os Tribunais superiores. 6. O Marco Civil
da Internet elenca, entre os requisitos de validade da ordem judicial para a
retirada de conteúdo infringente, a "identificação clara e específica do
conteúdo", sob pena de nulidade, sendo necessário, portanto, a indicação
do localizador URL. 7. Recurso especial provido. (STJ - REsp: 1642560 SP
2016/0242777-4, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Data de
Julgamento: 12/09/2017, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe
29/11/2017).6

O presente acórdão trata-se de um recurso especial, o qual foi interposto pela


ré, ora recorrente (Google Brasil Internet Ltda). A ação havia sido interposta a fim de
que a recorrente fosse condenada a retirada dos comentários atentatórios a sua
honra no site Youtube, o monitoramento e filtragem de futuras postagens ofensivas
ao autor, a exclusão da conta de e-mail gncteste@gmail.com, bem como a
condenação da recorrente ao fornecimento dos dados de identificação pessoal dos
ofensores e o pagamento de indenização por danos materiais e morais.
A Magistrada de primeiro grau julgou parcialmente procedentes os pedidos
para excluir do portal a conta gncteste@gmail.com. Interposta apelação pelo autor,
foi dado parcial provimento à insurgência a fim de determinar a exclusão do material

6Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/526809659/recurso-especial-resp-1642560-


sp-2016-0242777-4. Acesso em: 30 abril 2021.
56

ofensivo à honra do autor e o fornecimento dos dados cadastrais dos responsáveis


pelas inserções.
A recorrente Google Brasil Internet Ltda. interpôs recurso especial,
sustentando, em síntese, ser aplicável o Marco Civil da Internet ao caso, o qual
determina que, para a responsabilidade do provedor de internet, é necessária à sua
notificação judicial. Aduziu, ainda, a ausência de sua responsabilidade ante a
inexistência de nexo causal que justifique a condenação em danos morais.
O recorrente alegou a existência de dissídio jurisprudencial, uma vez que já
estariam consolidadas as teses da necessidade da indicação do URL específico
para impor obrigação de retirada de conteúdo da internet; a responsabilidade civil
dos provedores de hospedagem depende de um ato qualificado de culpa: o
descumprimento de decisão judicial específica; e aplicação do Marco Civil da
Internet, mesmo em demandas anteriores à vigência da nova lei.
O Ministro Relator Marco Aurélio negou provimento ao recurso, alegando que
a necessidade de indicação do localizador URL para a remoção de conteúdo
infringente é dispensável quando houver, nos autos, elementos suficientes para a
identificação precisa do conteúdo malicioso ou do usuário por ele responsável.
O Relator pediu vista à Ministra Nancy Andrighi, que deu provimento ao
recurso especial da recorrente, fundamentando que embora a Corte exige que o
provedor tenha o cuidado de propiciar meios para que se possa identificar cada um
desses usuários, no presente caso, apenas foram apresentadas cópias das capturas
de tela (print screen) das ofensas, e sendo assim não há como se descobrir qual é
exatamente o localizador URL do usuário autor do texto ofensivo pois essas ofensas
foram feitas no campo dos comentários aos vídeos publicados.
Além disso, aduziu não se mostrar viável exigir do recorrente dados de seus
usuários que ele próprio não exige para a prestação de serviços por meio de suas
aplicações de internet. Dessa forma, conclui-se pela impossibilidade de condenação
do recorrente por ofensas presentes em conteúdos gerados por terceiros em sua
aplicação de compartilhamento de vídeos, pois estão ausentes nos autos os
elementos que permitiriam a responsabilização solidária do GOOGLE, em razão da
impossibilidade de cumprir ordens que não contenham o conteúdo exato, indicado
por localizador URL, a ser removido.
Após o voto-vista de Nancy Andrighi, o Ministro Relator Ricardo Villas Bôas
pediu vista dos autos, considerando as divergências entre os relatores acima
57

citados. A fundamentação do Ministro Ricardo deu-se no sentido de que, o


posicionamento dominante nesta Corte Superior, mesmo antes do advento do
chamado Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014), sempre foi no sentido de que
a indicação do localizador URL é imprescindível para a ordem de remoção de
conteúdo ilícito da rede mundial de computadores, resultando de sua ausência
própria impossibilidade de responsabilização subjetiva dos provedores de aplicação
(provedores de conteúdo) por eventuais excessos materializados em publicações de
autoria de terceiros usuários de seus serviços
Além disso, afirmou que não há como determinar que o recorrente forneça
dados pessoais de seus usuários, pois seria o mesmo que lhe impor obrigação de
impossível cumprimento: a de prestar informações de que não dispõe. Nesse
sentido, o Relator Ricardo Villas Boas seguiu na mesma direção da Ministra Nancy.
O Ministro Relator Paulo de Tarso, em votação para desempate, por sua vez,
deu provimento ao recurso especial da recorrente, nos termos do voto da eminente
Ministra Nancy Andrighi, fundamentando que a discussão acerca da necessidade ou
não de notificação judicial para responsabilizar o provedor de aplicação por atos de
seus usuários antes da entrada em vigor do Marco Civil da Internet se mostra
irrelevante no caso, uma vez que não houve indicação dos localizadores URL dos
comentários apontados como ofensivos.
Ademais, mencionou que para que haja omissão do provedor, é
imprescindível que a notificação feita pela vítima do dano indique precisamente a
localização do conteúdo ofensivo, de modo que se possa proceder à sua retirada,
pois sem a indicação precisa da localização do conteúdo, não há como se exigir do
provedor o cumprimento da notificação. Referida exigência legal, porém, apenas
confirma o entendimento já anteriormente manifestado por esta Corte Superior de
que é imprescindível a indicação do URL, para que, havendo omissão na retirada do
conteúdo, fique caracterizada a responsabilidade do provedor por ato de seu
usuário.
Além de tudo, o Ministro informou que, consoante apontado pela Ministra
Nancy Andrighi, não se pode exigir do provedor de aplicação o fornecimento de mais
informações de seus usuários do que aquelas que lhe são exigidas para
cadastramento, que é unicamente o endereço IP, devendo o acórdão recorrido ser
reformado também neste ponto. Por fim, deu provimento ao recurso especial, nos
termos do voto da Ministra Nancy Andrighi.
58

Antes da entrada em vigor do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), o


colegiado aplicava jurisprudência no sentido de que a responsabilidade cairia
sempre aos provedores por conteúdo gerado por terceiro. Após a entrada em vigor
da referida lei, este entendimento mudou. O artigo 19 traz em sua redação:

Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o


provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado
civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após
ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos
limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar
indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as
disposições legais em contrário.

Teffé e Moraes (2017, p. 131) colaboram com a tese da Ministra Nancy,


afirmando que a aplicação do artigo 19 da Lei 12.965/2014 resta clara a
responsabilidade subjetiva por omissão do provedor que não retira conteúdo
ofensivo após a notificação judicial, e que a mera notificação extrajudicial não enseja
responsabilidade jurídica, pois dessa forma a responsabilidade busca assegurar a
liberdade de expressão e evitar a censura privada.
Ainda, o autor explica que a escolha dessa forma de regime adotado no artigo
19 ensejaria “o monitoramento privado e a exclusão de conteúdos potencialmente
controvertidos, o que representaria uma indevida restrição à liberdade de
expressão”, bem como colocaria muito limite aos conteúdos postados, pois o
provedor seria obrigado a realizar o monitoramento das informações e conteúdos
que trafegam e são publicadas em suas plataformas.
Por outro lado, na contramão do entendimento de Teffé e Moraes, Salto
(2019, p. 155) sustenta que “aquilo que é disseminado sem nenhum controle
preventivo de conteúdo ocasiona sérios problemas no que tange a responsabilidade
civil”. O referido autor aponta críticas nesse sentido, ensejando que o não
monitoramento dos conteúdos que vão para a internet são grandes problemas na
responsabilidade civil caso ocorra adversidades como comentários pejorativos e
ofensas aos usuários das redes sociais.
Em relação às ressalvas das disposições legais em contrário trazidas pelo
caput do artigo 19, Pimentel e Cardoso (2015, p. 57) mencionam que:

Nesse caso, a lei laborou na adoção de uma cláusula legal aberta, cujo
conteúdo será preenchido pelo juiz diante das especificidades do caso
concreto. Mas, para não serem responsabilizados por esse motivo, os
59

provedores de aplicações de Internet têm o ônus de provar ao juiz que não


puderam atender à ordem judicial em razão de impossibilidade técnica
comprovada ou porque a determinação relaciona-se com alguma
providência que se revela fora do âmbito do seu serviço.

Nesse sentido, os autores potencializam o acórdão mencionado neste item,


afirmando ser imprescindível a indicação do URL pelo autor, visto que essa
indicação, no caso de omissão de retirada do conteúdo, responsabilize o provedor
por ato de seu usuário.
Dessa forma, resta claro o entendimento adotado pelo o Superior Tribunal de
Justiça em suas decisões, em que após a vigência da legislação do Marco Civil da
Internet, entende que, se o provedor, ao tomar ciência da ofensa, não retirar de
circulação o conteúdo, há responsabilização subjetiva deste, e então passa a ser
responsável solidário juntamente com o usuário que introduziu tal conteúdo abusivo.
(LOTTENBERG E VAINZOF, 2018, n.p. 2018).
Via de regra, a responsabilidade será exclusiva do terceiro causador do dano,
no entanto, com base no artigo 19 da Lei do Marco Civil da Internet, o provedor de
aplicações de Internet responderá solidariamente com o terceiro causador do dano
se não atender à ordem judicial que determina a retirada do conteúdo ofensivo
especificado. Nesse caso, se o provedor cumprir a decisão, a responsabilidade
apenas permanecerá ao terceiro causador do dano (PIMENTEL; CARDOSO, 2015,
p. 59).
Os autores perseveram também, que ocorrerá a responsabilidade solidária do
provedor de aplicações quando, nos termos do artigo 21 da Lei do Marco Civil da
Internet, este não atender à notificação extrajudicial, independentemente de prévia
ordem judicial.
Portanto, pode-se concluir que o entendimento do Superior Tribunal de
Justiça é no sentido de que, como regra o terceiro será responsabilizado por seu ato
ilícito, ou seja, seus comentários ofensivos proferidos, e o provedor de aplicações da
Internet responderá solidariamente com o terceiro, se não cumprir a ordem, seja ela
judicial ou extrajudicial, de proceder a retirada do conteúdo ofensivo dos veículos de
comunicação.
No próximo item, será feita a análise de casos jurisprudenciais pautados no
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, a fim de conhecer também quais são os
entendimentos e as fundamentações jurídicas utilizadas para as decisões tomadas.
60

3.3 Entendimento do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul


acerca da violação dos direitos da personalidade nas redes sociais

Neste item, será apresentada uma análise de casos jurisprudenciais, a qual


se encontra pautada em decisões do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande
do Sul, sobre a responsabilidade civil e as consequências nas redes sociais,
buscando conhecer quais as fundamentações jurídicas em que as decisões do TJRS
se baseiam e qual é o seu entendimento sobre este assunto.
A presente busca foi baseada em julgamentos realizados no Tribunal de
Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, no período compreendido entre os anos
01/01/2019 até 01/01/2020, sendo a pesquisa realizada no site do Jusbrasil, através
da procura por expressões como danos morais, redes sociais ofensa e direito da
personalidade. Durante o período pesquisado foram encontrados 822 casos, dos
quais 2 casos foram escolhidos e analisados por terem relação direta e intrínseca
com a proposta da pesquisa.
O primeiro julgado a ser analisado, trata-se do acordão número 70076627322,
oriundo da segunda câmara cível, no qual participaram do julgamento a Presidente
Lúcia de Fátima Cerveira e os Desembargadores Laura Louzada Jaccottet e Ricardo
Torres Hermann.
Trata-se de um recurso de apelação no qual foi dado desprovimento ao
recurso. Segue ementa do acórdão:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. OFENSA À HONRA


PROFERIDA EM REDE SOCIAL. CALÚNIA E DIFAMAÇÃO. AFRONTA
AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. DEVER DE INDENIZAR
CONFIGURADO. DANO MORAL IN RE IPSA. Ocorrendo aparente conflito
entre dois princípios constitucionais (liberdade de expressão e direito à
imagem/honra), utiliza-se do método de ponderação para a resolução da
controvérsia. Na situação em exame, revela-se abusiva e potencialmente
ofensiva a manifestação de cunho difamatório e caluniosa feita pela
demandada na rede social Facebook, em postagem que ataca a atividade
religiosa exercida pela autora como ministra da Igreja na pequena
comunidade de Picada Café, afirmando ter conduta social contrária aos
seus preceitos religiosos, além de lhe imputar o crime de maltrato aos
animais.Danos morais configurados in re ipsa, diante da ofensa à honra da
parte autora. Ausência de insurgência recursal quanto ao valor da
indenização, arbitrado pela sentença em R$ 4.000,00 (quatro mil reais).NA
FORMA DO ART. 942 DO CPC, POR MAIORIA, DESPROVERAM A
APELAÇÃO. (Apelação Cível Nº 70081394876, Nona Câmara Cível,
61

Tribunal de Justiça do RS, Relator: Tasso Caubi Soares Delabary, Julgado


em 16/10/2019).7

O presente acórdão trata-se de um recurso de apelação, o qual foi interposto


pela ré, ora, apelante Kely Schuh. A ação havia sido interposta por Casparina Schuh
a fim de condenar a apelante ao pagamento de indenização por danos morais em
razão de postagem realizada na rede social Facebook, em que alegadamente,
ofendeu seus atributos da personalidade.
Após o regular processamento do feito, sobreveio sentença que julgou
procedente o pedido da autora.
A ré apelou sustentando que tal a prova testemunhal comprova que a
publicação referida pela autora não foi citado o nome de qualquer pessoa capaz de
vincular alguém à publicação, tampouco a autora. Defende ter agido no exercício de
seu direito à livre manifestação do pensamento e de liberdade de expressão, sem ter
incorrido em qualquer ato ilícito. Sustenta que a situação retratada nos autos não
configura os danos morais reclamados pela parte autora. Por fim requereu o
provimento e a reforma da sentença de primeiro grau fosse julgada improcedente.
Durante o julgamento, o relator afirmou que a responsabilidade civil de
indenizar é oriunda do ato ilícito resultante da violação da ordem jurídica, com
ofensa ao direito alheio, exigindo-se, necessariamente, a presença dos seguintes
pressupostos legais, quais sejam: a ação do agente, o resultado lesivo e o nexo
causal entre o ato danoso e o resultado. A culpa, também deve estar presente,
caracterizando um elemento nuclear da responsabilidade civil subjetiva.
Sobre a culpa como pressuposto do dever de indenizar, Filho (2008, p. 29)
ensina que:

Não basta a imputabilidade do agente para que o ato lhe possa ser
imputado. A responsabilidade subjetiva é assim chamada porque exige,
ainda, o elemento culpa. A conduta culposa do agente erige-se, como
assinalado, em pressuposto principal da obrigação de indenizar. Importa
dizer que nem todo comportamento do agente será apto a gerar o dever de
indenizar, mas somente aquele que estiver revestido de certas
características previstas na ordem jurídica. A vítima de um dano só poderá
pleitear ressarcimento de alguém se conseguir provar que esse alguém agiu
com culpa; caso contrário, terá que conformar-se com a sua má sorte e
sozinha suportar o prejuízo.

7 Disponível em: https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/935945940/apelacao-civel-ac-


70081394876-rs. Acesso em: 01 maio 2021
62

Depreende-se da citação acima que, apenas responsabilizar o agente pelo


ato ilícito não o faz arcar com a indenização. A culpa é uma das principais
obrigações para o agente ser responsabilizado, desde que esta seja comprovada.
Se isto não for comprovado, não há como responsabilizar o agente por tal ato. Assim
como a culpa deve ser comprovada, as decisões do TJRS exigem também que o
dano alegado seja suficientemente comprovado.
O dano moral diz respeito a dor física e emocional, são os sentimentos
subjetivos do indivíduo, e por ser algo imaterial, não há como ser provar. “O que se
prova são os fatos que dão ensejo ao ato lesivo decorrente da conduta irregular do
ofensor” (MELO, 2018, n.p.). Neste caso, o dano moral é originário de tal conduta
ofensiva, que ficada comprovada, deve responsabilizar o agente que cometeu o ato
ilícito.
Já no entendimento de Santos (2012, n.p.), “[...] a obrigação de reparar é
consequência da verificação do evento danoso, sendo, portanto, dispensável a
prova do prejuízo.” O autor entende que havendo o dano, consequentemente não há
que se provar o prejuízo, uma vez que presumido.
O direito à livre manifestação de pensamento e a liberdade de expressão
também foram pautadas no julgamento do relator. No caso em tela, o relator afirmou
que a apelante, ora ré, usou de maneira destemperada o seu direito à livre
manifestação de pensamento, causando violação e abusos aos atributos da
personalidade da autora e restando evidenciada a conduta ilícita, considerando que
sua postagem atacou a atividade religiosa exercida pela autora, na condição de
“ministra da Igreja”, e neste caso, o dano moral configura-se in re ipsa, ou seja, para
caracterização do dano é necessária somente a prova do fato ilícito e do nexo
causal entre o ilícito e a lesão a direito de personalidade.
Ao mesmo tempo que há a liberdade de dizer o que se quer, também surge a
necessidade do indivíduo se responsabilizar por suas palavras (ZAGO, 2010, n.p.).
O direito deve agir justamente nesse contexto, para que a liberdade de expressão e
a livre manifestação não sejam censurados, nem sirvam de escudo para atos ilícitos.
Os direitos da personalidade devem impor limites à liberdade de expressão e
de pensamentos na internet para evitar abusos nesse sentido, pois é um local onde
inúmeras pessoas fazem exposição de seus pensamentos divergentes e opiniões
contrárias (SALTO, 2019, p. 158).
63

O segundo julgamento a ser analisado, trata de um recurso de apelação nº


70080498587, no qual foi dado provimento ao recurso do réu e julgado prejudicado o
recurso da autora. O acórdão é oriundo da nona câmara cível, sendo que
participaram do julgamento o presidente desembargador Tasso Caubi Soares e os
desembargadores Eduardo Kraemer (relator) e Eugênio Facchini Neto. Segue
ementa do acórdão:

APELAÇÕES. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO DE


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ALEGAÇÃO DE OFENSAS
EM REDE SOCIAL (FACEBOOK). DEVER DE INDENIZAR
INOCORRENTE. DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA REFORMADA. AÇÃO JULGADA
IMPROCEDENTE. A manifestação do demandado, dentro do
contexto de discussão e críticas que estavam ocorrendo em razão da
postagem realizada pela autora, não se afiguram capazes de causar
ofensa aos atributos da personalidade da demandante. Não há
dúvidas que a discussão envolvendo a postagem da autora tomou
proporção maior do que se esperava. Contudo, esta é uma
consequência da exposição nas redes sociais. As manifestações e a
repercussão destas são consequências do conteúdo publicado pelo
usuário das redes sociais. Tal fato é previsível e é necessário que a
pessoa que publica um conteúdo esteja preparada para isso.
Hipótese em que a publicação na rede social e o respectivo
comentário não extrapolou o direito à liberdade de expressão, não se
mostrando possível que meros dissabores sejam rotulados como
agressão a atributos da personalidade, circunstância que afasta o
dever de indenizar. Sentença de procedência reformada para julgar
improcedente a ação. Apelação do réu provida. Recurso da autora
julgado prejudicado. (Apelação cível nº 70080498587, Nona Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do Estado do RS, Relator: Eduardo
Kraemer, julgado em 12/06/2019).8

A presente ementa se refere aos recursos de apelação, interpostos pela


autora e pela parte ré, inconformados com a sentença que julgou procedente a ação
de indenização por danos morais. A parte autora postula a parcial reforma da
sentença a fim de majorar o quantum indenizatório fixado a título de danos morais.
Argumentando que, por sua cidade ser de poucos habitantes onde todos se
conhecem e as notícias espalham-se rápido, houve grande repercussão do caso, o
que ajudou para macular ainda mais a imagem profissional da apelante. Já a parte
ré alegou que não há responsabilidade de indenizar, visto que sua manifestação foi
apenas uma resposta ao comentário provocativo da autora que criticou e ofendeu a

8 Disponível em: https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/721874871/apelacao-civel-ac-


70080498587-rs. Acesso em: 01 maio 2021
64

Corporação do Corpo de Bombeiros de Vacaria. Subsidiariamente, pede a redução


do valor da condenação.
Durante o julgamento, o relator afirmou que para se configurar o dever de
indenizar, é necessário que se encontrem presentes os seguintes requisitos: ação
ou omissão; dolo ou culpa; nexo de causalidade; e o dano, e no caso concreto, não
foi verificada a imputação de expressão vexatória por parte do demandado na
referida postagem capaz de ensejar a reparação moral.
No presente caso, por se tratar de um debate no Facebook onde diversas
pessoas discutiram, responderam, opinaram, a manifestação do réu dentro do
contexto de discussão e críticas que estavam ocorrendo em razão da postagem da
autora, não se afiguram capazes de causar ofensa aos atributos da personalidade
da demandante.
Sobre a configuração do Dano Moral, Filho (2012, p. 92) ensina:

“O que configura e o que não configura o dano moral? Na falta de critérios


objetivos, essa questão vem-se tornando tormentosa na doutrina e na
jurisprudência, levando o julgador a situação de perplexidade.
Ultrapassadas as fases da irreparabilidade do dano moral e da sua
imaculabilidade com o dano material, corremos, agora, o risco de ingressar
na fase da sua industrialização, onde o aborrecimento banal ou mera
sensibilidade são apresentados como dano moral, em busca de
indenizações milionárias. Este é um dos domínios onde mais necessárias
se tornam as regras da boa prudência, do bom-senso prático, da justa
medida das coisas, da criteriosa ponderação das realidades da vida. Tenho
entendido que, na solução dessa questão, cumpre ao juiz seguir a trilha da
lógica do razoável, em busca da concepção ético-jurídica dominante na
sociedade.

O entendimento do TJRS no presente caso afirma que o respectivo


comentário não extrapolou o direito à liberdade de expressão, não se mostrando
possível, que meros dissabores sejam rotulados como agressão a atributos da
personalidade. O conteúdo das palavras do réu é meramente opinativo e incapazes
de causar dano à honra e à imagem da autora. Ao contrário do que a autora alega,
por ser um debate no Facebook e diversas pessoas estarem omitindo opiniões,
demonstra que o réu agiu dentro do seu direito de liberdade de expressão.

[...] “A gravidade do dano – pondera Antunes Varela – há de medir-se por


um padrão objetivo (conquanto a apreciação deva ter em linha de conta as
circunstâncias de cada caso), e não à luz de fatores subjetivos (de uma
sensibilidade particularmente embotada ou especialmente requintada). Por
outro lado, a gravidade apreciar-se-á em função da tutela do direito: o dano
deve ser de tal modo grave que justifique a concessão de uma satisfação de
65

ordem pecuniária ao lesado” (Das obrigações em geral, 8ª Ed., Almedina, p.


617). [...] Se dano moral é agressão à dignidade humana, não basta
configurá-lo para qualquer contrariedade. Nessa linha de princípio, só deve
ser reputado como dano moral a dor, vexame, sofrimento ou humilhação
que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no comportamento
psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústia e desequilíbrio em
seu bem-estar. Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou
sensibilidade exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto,
além de fazerem parte da normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no
trânsito, entre amigos e até no ambiente familiar, tais situações não são
intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio psicológico do
indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por banalizar o dano
moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais
triviais aborrecimentos.” (FILHO, 2012, p. 93).

Por fim o relator tornou prejudicada a análise do recurso da parte autora que
buscava a majoração do quantum indenizatório, uma vez que fundamentada razões
de direito e de fato acima explícitos.
Deste modo, é possível perceber que o TJRS, tem o entendimento de que o
dano à vítima deve estar comprovado, não bastado que mero aborrecimento ou a
sensibilidade exacerbada seja causa de indenização por danos morais, uma vez que
se todos os desentendimentos ocorridos nas redes sociais ensejarem ações judiciais
na busca de indenizações, o judiciário ficará sobrecarregado e não dará a devida
atenção para aquelas ações necessárias que buscam amparo para aos que
realmente causaram lesões aos direitos da personalidade do indivíduo.
66

CONCLUSÃO

Os direitos da personalidade, consagrados pela Constituição Federal, são


direitos necessários à vida humana e à vida em sociedade, tendo em vista que se
caracterizam por serem direitos subjetivos, que dizem respeito à personalidade
humana, ao íntimo de cada um. É importante salientar que esses direitos não são
para o titular usufruir ou dispor em si, mas sim para dar o devido amparo em casos
de lesões inerentes a estes direitos.
Através do presente trabalho, foi possível compreender que os direitos da
personalidade foram conquistados a muito custo pelos povos antigos, uma vez que
estes direitos nasceram após muita luta e discussão por condições melhores de
vida. Na busca pela proteção dos direitos humanos, valor universal e mais
importante do ordenamento jurídico, juntamente com o avanço da Internet nos
últimos tempos, a escolha do tema se fez necessário para compreender como o
ordenamento jurídico trabalha em prol da proteção das pessoas que fazem uso da
Internet nos dias atuais, especialmente aquelas que recebem
comentários/mensagens ofensivas nas redes sociais.
A nova lei 12.965/2014, do Marco Civil da Internet trouxe inovações no que
diz respeito aos princípios, garantias, direitos e deveres do uso da Internet no Brasil.
Além disso, a referida lei, juntamente com o Código Civil e a Constituição Federal se
mostraram de extrema importância para o presente trabalho, dando base e
direcionamento para que fosse possível entender de que forma atuam na proteção
dos direitos violados neste âmbito.
Além disso, para corroborar com o que já foi demonstrado em todo o
desenvolvimento deste trabalho, no último capítulo foi realizada a análise de alguns
casos concretos envolvendo pessoas que tiveram seus direitos de personalidade
violados em redes sociais, assim como também foi analisada as decisões julgadas
pelo Superior Tribunal de Justiça e pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio
67

Grande do Sul, sendo que se pode concluir que, o Superior Tribunal de Justiça
entende que primeiramente, a responsabilidade será exclusiva do terceiro causador
do dano, no entanto, se não houver a possibilidade de identificar este terceiro, o
provedor após tomar ciência da ofensa deve imediatamente retirar o conteúdo de
circulação, sob pena de responsabilização. Já o Tribunal de Justiça tem o
entendimento de que o dano moral deve ser devidamente comprovado, não
bastando que qualquer comentário, ainda que ofensivo, dê ensejo a uma demanda
por danos morais.
Nesse contexto, foi possível compreender, embora aos olhos de algumas
pessoas as redes sociais seja uma terra sem lei, é possível que aquele usuário que
infringiu o direito de personalidade de outro usuário nas redes sociais sofra as
consequências de seu ato e seja responsabilizado, havendo, é claro, exceções, e
que cada caso deve ser analisado individualmente com suas particularidades.
68

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