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UNIVERSIDADE POTIGUAR –

UNP CURSO DE DIREITO

DANTE PESSOA OTHON 1


INGRID MARIA SANTOS DAS NEVES DAMASCENO2

CRIMES CIBERNÉTICOS: DESAFIOS ENFRENTADOS


NO PROCESSO INVESTIGATÓRIO

NATAL/RN
2023

1
Bacharelando em Direito da Unp – Universidade Potiguar; E-mail: dantepothon@hotmail.com
2
Bacharelanda em Direito da Unp – Universidade Potiguar; E-mail: ingridmariasantos@live.com
DANTE PESSOA OTHON
INGRID MARIA SANTOS DAS NEVES DAMASCENO

CRIMES CIBERNÉTICOS: DESAFIOS ENFRENTADOS


NO PROCESSO INVESTIGATÓRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Direito da
Universidade Potiguar, como requisito parcial
para a obtenção do Título de Bacharel em
Direito.

Orientador: Prof.ª Danielle Freitas de L.


Oliveira

NATAL/RN
2023
DANTE PESSOA OTHON
INGRID MARIA SANTOS DAS NEVES DAMASCENO

CRIMES CIBERNÉTICOS: DESAFIOS ENFRENTADOS NO


PROCESSO INVESTIGATÓRIO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título de
Bacharel e aprovado em sua forma final pelo
Curso de Graduação em Direito, da
Universidade Potiguar.

Natal/RN, 14 de junho de 2023.

BANCA EXAMINADORA

Prof.ª Danielle Freitas de Lima Oliveira


Presidente

Prof.ª Samara Trigueiro Félix da Silva


Membro
DEDICATÓRIA

Dedicamos este presente artigo às vítimas que sofreram e sofrem com diversos tipos
de crimes cometidos no âmbito virtual, com a nossa solidariedade e conhecimento esperamos
de uma certa forma ter ajudado.
AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente à Deus, sem Ele nada seria possível. A dedicação que
vimos ao longo dos anos em cada um dos professores deste curso, que contribuíram de
alguma forma para o desenvolvimento deste trabalho, no qual não teríamos conseguido
concluir com êxito e aos nossos colegas de curso, pelo encorajamento, companheirismo e
incentivo, que assim como nós, encerram uma árdua etapa da vida acadêmica.
Hoje com a tecnologia e a possibilidade do anonimato as pessoas se escondem
e cometem crime contra o seu próximo, crimes de divulgação da imagem, de calúnia,
difamação, injúria, falsidade ideológica e dentre outros. Não sabendo que deixam rastros
e para crimes existe punição.

Raidalva de Castro
RESUMO

O objetivo deste artigo é destacar os problemas enfrentados pelos diferentes órgãos no


processo de investigação de crimes cibernéticos. Com o avanço tecnológico da internet, a
comunicação entre as pessoas ampliou-se enormemente, movimentando a vida positivamente
nos aspectos sociais, profissionais e pessoais. No entanto, as inovações tecnológicas também
trouxeram consigo grandes desafios, dentre os quais os crimes cometidos praticamente se
destacam. Apesar do contínuo desenvolvimento da tecnologia, as autoridades não conseguem
investigar e solucionar crimes cibernéticos por falta de leis específicas, ausência de delegacias
e especialistas. Assim, a investigação acaba sendo lenta e complicada, o que gera impunidade
porque, muitas vezes, quando o autor de um crime é identificado, a receita é verificada. Isso
torna mais fácil para alguns novos golpistas aparecer todos os dias e isso explica tudo. A
metodologia utilizada foi a hipotético-dedutivo. Talvez uma das formas mais eficaz de
contribuir efetivamente com as investigações seja a Administração Pública investir tanto em
recursos humanos quanto em treinamento, pois evidências mostram que os resultados são
bastante satisfatórios em municípios com delegacia especializada. Por último, mas não menos
importante, além da aprovação de novas leis, um primeiro passo será dado para ampliar o
procedimento de investigação de crimes virtuais, o que tornará as investigações sobre autoria
mais rápidos e eficazes, e os provedores de Internet serão obrigados apenas a fornecer
informações sobre os investigados notificar os usuários sobre os perigos que a internet pode
trazer.

Palavras-chave: Crimes virtuais; processo investigatório; insuficiência legislativa; internet.


ABSTRACT

The objective of this article is to highlight the problems faced by the different bodies in the
process of investigating cybercrime. With the technological advancement of the internet,
communication between people has expanded enormously, moving life positively in social,
professional, and personal aspects. However, technological innovations have also brought
with them great challenges, among which the crimes committed practically stand out. Despite
the continuous development of technology, the authorities are unable to investigate and solve
cybercrimes due to lack of specific laws, absence of police stations and specialists. Thus, the
investigation ends up being slow and complicated, which generates impunity because, often,
when the perpetrator of a crime is identified, the revenue is verified. This makes it easier for
some new scammers to show up every day and this explains everything. The methodology
used was the hypothetical deductive. Perhaps one of the most effective ways to contribute
effectively to the investigations is for the Public Administration to invest both in human
resources and in training, because evidence shows that the results are quite satisfactory in
municipalities with a specialized police station. Last, but not least in addition, to the approval
of new laws, a first step will be taken to expand the investigation procedure of virtual crimes,
which will make investigations into authorship faster and more effective and, Internet
providers will only be required to provide information about those investigated notify users
about the dangers that the internet can bring.

Keywords: Virtual crimes; investigative process; legislative insufficiency; internet.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................................... 9
1 CRIMES VIRTUAIS........................................................................................................... 11
1.1 AVANÇO TECNOLÓGICO............................................................................................... 13
1.2 Dificuldades no Processo Investigativo.............................................................................. 15
2 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA........................................................................................... 16
2.1 CASOS POLÊMICOS........................................................................................................ 18
2.2 Instrumentos de Coletas de Dados...................................................................................... 20
3 RESOLUÇÃO DA PROBLEMÁTICA..............................................................................21
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................. 23
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 25
ANEXOS.................................................................................................................................. 29
INTRODUÇÃO

A pesquisa tem como tema “Os crimes cibernéticos e as dificuldades no processo


investigativo” O estudo tomará como base as noções trazidas pelo Direito Penal e Direito
Processual Penal, bem como as ferramentas usadas em outros países cujo tema já se
encontram com maior desenvolvimento.
O Crime Virtual é todo e qualquer infração à legislação penal cometida no âmbito da
internet e das redes sociais. Essas práticas precisaram ser tipificadas a parti da popularização
da internet e os novos formatos de crimes que sugiram desde então. Os Crimes Cibernéticos
ou Cibercrimes no meio virtual, como também chamamos, esses tipos de ilícitos podem ser
caracterizados por roubo de dados pessoais, invasões em sistema bancários, ou qualquer
sistema privado, fato este conhecido como hacking, falsidade ideológica, e muitas outras
condutos que Direito Penal atualmente configura como crime.
Trazendo este contexto para atualidade: no auge da pandemia, fraudes cometidas no
mundo digital aumentaram 175% e não sendo um serviço tão fácil, tornando muito mais
difícil identificar o autor de um tipo de crime virtual, pois ele pode estar em qualquer parte do
mundo e usar o computador como arma de prática do ilícito. Com a evolução da globalização,
ainda, tornou muito mais fácil o acesso a computadores, atualmente quase a maioria das
pessoas possui o mesmo em casa, assim sendo mais complicado achar o autor do delito.
Na legislação, até pouco tempo atrás no Código Penal Brasileiro não existiam artigos
sobre crimes virtuais, só foram tipificados em 2012, alterando o C.P., com a lei 12.737, a qual
acrescentou ao código os artigos 154-A, 154-B, 266 e 298. Essa lei ficou conhecida como Lei
Carolina Dieckmann, uma atriz brasileira que teve o seu celular invadido e fotos pessoais
divulgadas na rede por um hacker.
É nesse contexto da pouca e recente legislação existente no direito brasileiro sobre os
possíveis crimes que podem ser cometidos no ambiente virtual que entra a importância do
presente estudo.
O crescente debate sobre a liberdade de expressão de ideias e pensamentos que tomou
conta das redes sociais, principalmente durante as épocas de candidaturas, com maior força
durante as campanhas presidenciais de 2018 e 2022, trouxeram à tona a lacuna existente no
direito digital.
Com o avanço tecnológico para a proteção dos dados dos usuários, vem também o
avanço de ferramentas para mascarar o IP, maneira mais fácil de identificar a máquina que foi
usada para tal fim, tornando o trabalho investigativo um verdadeiro calvário.
Assim esse estudo, busca analisar a dificuldade em concretizar o desfecho dos atos
ilícitos, pelo abrangente acesso no mercado, por não ter rosto exposto como a tradição dos
demais crimes tipificados no Código Penal e mecanismos para garantir o anonimato do
indivíduo que pratica o ilícito.
A problemática do presente estudo se pauta no avanço tecnológico e no
desenvolvimento de programas que ajudam a mascarar os usuários para o cometimento de
ilícitos e a dificuldade da polícia investigativa em superar tais avanços.
O avanço tecnológico cresce de maneira exponencial em uma sociedade globalizada.
O contato de países diferentes que antes demoraria meses ou anos passa a ser de minutos ou
segundos, possibilitando um grande fluxo de informação indo para outros países e vindo de
outros países. Infelizmente tal desenvolvimento não é usado apenas para fins lícitos.
Nesse sentido, o desenvolvimento de softwares que garantem o anonimato dos
usuários também evolui de maneira logarítmica, tornando cada vez mais difícil a vida dos
agentes da lei e mais fácil para aqueles que detêm o conhecimento e buscam usá-lo para
benefício próprio.
Assim, é de suma importância o esforço de acadêmicos de todas as áreas para que se
busquem soluções e se desenvolvam meios mais eficazes de identificar os executores dos
crimes cibernéticos, bem como a adequação da legislação vigente para que possa abarcar
crimes cometidos em tal jurisdição.
O objetivo geral é identificar problemas que acarretam a ineficiência da investigação
de alguns crimes cibernéticos, assim como as lacunas presentes na legislação vigente.
O objetivo específico apresenta quais áreas da investigação e qual(is) procedimento(s)
é mais afetado com o avanço tecnológico desenfreado e propor soluções legislativas para as
lacunas apresentadas no direito brasileiro sobre os crimes cometidos dentro da rede mundial
de computadores, para facilitar a atuação da polícia investigativa e demais agentes da lei na
investigação, identificação e eventual punição daqueles que se utilizam de tal ferramenta para
benefício próprio em detrimento ao bem estar de outrem
Escolhemos diante exposto acima, uma forma de pesquisa em casos gerais ocorridos
no âmbito da internet, pesquisas predominantemente quantitativas, sendo possível obter maior
conhecimento do problema, bem como análises nos principais: livros, noticiários e peper
acadêmico, que neles contém mais proximidade com o caso, relatos específicos de vítimas,
coletando o máximo de dados possíveis. Resumindo assim o método hipotético-dedutivo,
onde priorizamos um problema que nele levantamos hipóteses que servem de possíveis
soluções para ele, chegando a uma conclusão se a nossa opção escolhida ratifica ou contradiz.

1 CRIMES VIRTUAIS

É indiscutível o grande impacto que a internet tem gerado no mundo e, principalmente,


na rotina das pessoas. Conforme informações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) (anexo 1), 90% dos domicílios brasileiros passaram a ter
acesso à internet em 2021. Tal fato sugere que, em decorrência do grande fluxo de pessoas
utilizando a rede mundial, as denúncias de crimes virtuais cresceram 175% durante a
pandemia (G1, 2022). A Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos (CND)
recebeu cerca de 156.692 denúncias anônimas, envolvendo 74.011 páginas da internet, das
quais 45.229 foram removidas, conforme demonstra estatísticas da SaferNet Brasil (anexos 2
e 3). Dentre os crimes praticados virtualmente se encontram: Pornografia Infantil, Racismo,
Homofobia, Xenofobia, Apologia e incitação a crimes contra a vida, Neo Nazismo, Ameaça,
Calúnia, Difamação, Injúria e Falsa Identidade (SAFERNET, 2020). Observa-se que o
número de denúncias de crimes virtuais sobe cada vez mais no Brasil atualmente, ficando em
evidência casos emblemáticos como o de Carolina Dieckmann, que inclusive ensejou a
criação da Lei nº 12.737/12.

Esses dados demonstram o impacto do avanço tecnológico na vida das pessoas e que a
tendência quanto a utilização da internet aumente cada vez mais, tendo em vista a grande
velocidade que fluem as informações e, como consequência, a facilidade na comunicação
entre pessoas, o que não traz somente aspectos positivos, mas também aspectos negativos
devido à prática de crimes no meio virtual, cuja autoria deve ser investigada.

Contudo, é evidente que existem dificuldades no processo investigatório desses


crimes virtuais, como por exemplo, nessa esteira, é possível que a atual política de
privacidade da empresa WhatsApp seja a de não divulgar conteúdos de mensagens de
usuários para autoridades, alegando que não há possibilidade técnica de realizar
interceptações ou armazenamento em seu aplicativo. Entretanto, tecnicamente, bastaria à
empresa desenvolver em sua infraestrutura de tecnologia e no código do aplicativo a
possibilidade de desabilitar a criptografia e armazenar o conteúdo das mensagens de
determinado usuário que seja “alvo” em uma investigação, obviamente diante de ordem
judicial. Nesse sentido, Baracho, Argolo e Diniz (2017, p. 13) lecionam:

Conforme já explanado, o WhatsApp utiliza um mecanismo de segurança que


promete possibilitar o acesso do conteúdo das mensagens do aplicativo apenas aos
usuários que se comunicam, por meio de chaves privadas que apenas estes acessam.
Dessa forma, poderia se criar um argumento de que seria impossível a quebra do
sigilo das comunicações dos dados. Porém, esse argumento não deve prosperar, haja
vista a possibilidade de haver uma modificação do mecanismo de segurança do
aplicativo para que seja possível conseguir as chaves privadas dos usuários, por
determinação judicial e sob sigilo. Aliás, o que se deve enfatizar é a obrigação do
WhatsApp realizar uma modificação do seu mecanismo de segurança para que esteja
de acordo com o ordenamento jurídico.

Novamente, tais esquivos dessas empresas estão pautados mais em uma postura
comercial que em uma impossibilidade técnica, quanto menos legal propriamente dita.
Outro problema muito frequente que deve ser citado é que o provedor de aplicações de
internet não é obrigado a coletar e armazenar dados das conexões (ou as chamadas "portas
lógicas") utilizadas pelo usuário. O entendimento é do Tribunal de Justiça de São Paulo. Em
duas decisões recentes, o TJSP concluiu que não há lei que obrigue esses provedores a
armazenarem esses dados. (ROVER, 2015).
Os crimes virtuais são condutas tipificadas em lei como crimes e têm como
característica essencial o uso da internet como meio de sua prática. Exemplos de crimes
virtuais tipificados em lei incluem invasão de sistemas e ataques com vírus, como cavalos de
Tróia e bombas lógicas, com o objetivo de causar danos a grandes provedores, impedindo que
os usuários acessem seus sites.
Além disso, é correto considerar como crimes virtuais as condutas que visam proteger
um bem jurídico tutelado pelo Direito Penal, quando o sistema é utilizado apenas como um
meio para atingir um bem jurídico diferente do próprio computador, como atingir o
patrimônio (crimes de fraude e estelionato) ou a imagem, honra e intimidade (crimes de
calúnia, difamação, injúria e racismo) (ARAS, 2001).
Muito se discutia sobre a falta de dispositivos legais específicos para tratar dos crimes
virtuais. No entanto, independentemente da existência desses dispositivos, quando o
computador é utilizado como meio para a prática do crime, ele será caracterizado como tal,
mesmo que não haja uma lei específica que penalize aquela conduta cometida em ambiente
virtual. Portanto, a lei é aplicada de qualquer forma e os acusados serão devidamente
processados (ABPERITOS, 2016).

1.1 AVANÇO TECNOLÓGICO

A internet foi criada por um grupo de pesquisadores norte-americanos em meados de


1962, durante a Guerra Fria. Foi construída com objetivos militares, sendo um meio de
comunicação capaz de resistir a bombardeios e permitir o compartilhamento de dados entre
vários computadores interligados. Dessa forma, mesmo que um ou mais computadores fossem
destruídos, os equipamentos conectados ao sistema continuariam funcionando normalmente
(BRASIL, 2006).
Inicialmente, recebeu o nome de ARPAnet, derivado de Advanced Research Projects
Agency. O termo "internet" começou a ser usado décadas depois para se referir à
especificação completa do protocolo TCP/IP. No final dos anos 80, surgiram serviços de
e-mail e provedores que se conectavam à rede por meio de conexões dial-up. Na década de
90, a expressão World Wide Web foi criada, marcando o auge da internet. A partir desse
ponto, a internet continuou a evoluir (BARROS, 2013).
Posteriormente, surgiram tecnologias de banda larga, como redes cabeadas e ADSL.
Atualmente, existem diversas opções de conexão, incluindo satélite, telefonia celular e rádio
(BRASIL, 2013).
De acordo com dados do IBGE, em 2014, 54,4% da população brasileira já tinha
acesso à internet, o que corresponde a cerca de 95,4 milhões de brasileiros. O acesso à internet
pode ser feito por diferentes dispositivos, como computadores, celulares, tablets e até mesmo
televisões. Mais da metade da população brasileira utiliza a internet em sua rotina diária para
diversos fins, o que não é surpreendente que alguns indivíduos também a utilizem para
cometer crimes (BRASIL, 2006).
A Lei nº 12.965/2014, em vigor desde 23 de junho de 2014, trouxe várias disposições
que, apesar de terem um caráter "civil", também influenciam na investigação de crimes
virtuais. Essa lei trata da preservação de dados de provedores de acesso à internet, que são
obrigados a armazenar registros de conexão de usuários, como data, hora, duração e endereço
IP, por um ano, mantendo-os em sigilo (GIACCHETTA, FREITAS e MENEGUETTI, 2014).
A proteção dos dados de acesso dos internautas é justificada pelo princípio da privacidade,
que garante aos
usuários o direito de não fornecer esses dados sem consentimento prévio, exceto nos casos
previstos em lei (COSTA, 2016).
Em determinadas investigações de crimes virtuais, pode ser necessário quebrar o sigilo
desses dados, exigindo que os provedores forneçam essas informações por meio de uma
ordem judicial. No entanto, essa norma acaba tornando o processo lento, especialmente
quando o provedor não tem sede no Brasil. Conforme observado por Burg (apud ROVER,
2017), um período significativo pode transcorrer até que a autoridade policial envie o
inquérito ao tribunal e haja representação judicial.

Nos termos do que dispõem:

o art. 2º. da Lei n. 9.296/96, a Resolução CNJ n. 59/2008, o art. 22 do “Marco Civil da
Internet do Brasil” (Lei n. 12.965/14) e o art. 11 do Decreto Federal n. 8.771/2016.
Afirmou que inexiste autorização legal para a determinação de quebra de sigilo de
uma gama de pessoas não individualizadas, a partir do mero fornecimento de
coordenadas geográficas referentes ao local de ocorrência de certo crime.

O Marco Civil não impõe aos provedores de internet o dever de armazenar as


comunicações privadas dos usuários. Um exemplo disso é o WhatsApp, que utiliza
criptografia para garantir a confidencialidade dos dados dos usuários. A responsabilização dos
provedores ocorre apenas nos casos em que eles armazenam comunicações privadas sem
utilizar técnicas que impeçam o acesso ao conteúdo das conversas, mas se houver uma recusa
por parte do provedor em fornecê-las. Portanto, se for constatado que o provedor utiliza
criptografia para manter os dados dos usuários em sigilo ou não armazena as conversas, uma
sanção aplicada devido à recusa em fornecer informações estaria violando a Lei nº
12.965/2014 e a Constituição Federal (LOPES, 2016).

Para enfrentar esses desafios, o Brasil tem buscado melhorar sua capacidade de
resposta aos crimes cibernéticos. O país está fortalecendo suas estruturas de segurança
cibernética, promovendo campanhas de conscientização, implementando legislação mais
rigorosa e incentivando a cooperação entre instituições públicas e privadas para combater a
criminalidade virtual.
É importante destacar que o avanço tecnológico não é apenas uma causa dos crimes
cibernéticos, mas também pode ser uma solução. Medidas como o fortalecimento da
segurança cibernética, o uso de criptografia, o desenvolvimento de soluções de proteção de
dados e a conscientização dos usuários sobre boas práticas de segurança podem ajudar a
reduzir os riscos associados aos crimes cibernéticos.

1.2 DIFICULDADES NO PROCESSO INVESTIGATIVO

As dificuldades para punir os responsáveis pelos crimes de misoginia no ambiente


virtual são agravadas pelo fato de serem crimes cibernéticos, o que traz desafios no momento
da investigação. Os crimes cibernéticos são complexos de prevenir e difíceis de investigar,
com provas complicadas de buscar e comprovação extremamente difícil, principalmente
devido à falta de leis específicas e ao anonimato dos criminosos (Silva; Silva, 2019).

A sensação de impunidade causada pelo anonimato é um fator que motiva os


criminosos a escolherem os ambientes virtuais para propagar ameaças, insultos raciais e
praticar o cyberbullying, entre outros crimes (Abreu, 2014). O próprio inquérito policial, fase
inicial e investigativa do processo penal, ainda é incipiente no que diz respeito aos crimes
cibernéticos, pois carece de complementos que auxiliem a polícia na investigação eficaz para
identificar os autores e verificar a validade dos fatos (Silva; Marques, 2019).

Além disso, há uma carência de procedimentos mais específicos para lidar com as
peculiaridades desses crimes, incluindo a falta de compartilhamento de informações entre as
instituições, principalmente aquelas que lidam com sistemas de informação, o que
compromete a ação rápida da polícia (Silva; Silva, 2019). A ausência de registro de usuários
em lan houses e cyber cafés, assim como o uso de documentos ilegais para acessar serviços de
internet e outras práticas associadas ao crime investigado, também dificultam a investigação
(Cavalcante, 2014).

A identificação dos criminosos cibernéticos é um desafio devido à dinamicidade das


informações no mundo virtual. Frequentemente, os provedores não conseguem bloquear
efetivamente elementos violadores ou fornecer com precisão os dados pessoais dos infratores
devido a barreiras técnicas, o que ressalta a importância de uma inteligência e expertise na
polícia para tornar as investigações mais eficazes e reduzir a impunidade (Silva; Marques,
2019).
Com o avanço da tecnologia e o acesso gratuito à internet por meio de conexões sem
fio, a identificação de pessoas não identificadas que utilizam essas conexões aumenta as
oportunidades para criminosos, dificultando sua localização e facilitando a prática de crimes
(Cavalcante, 2014). A escassez de profissionais qualificados para investigações de crimes
cibernéticos é outro obstáculo, pois é necessário um conhecimento técnico especializado para
coletar e preservar as provas de forma adequada (Ramos, 2017).

Por fim, a eficácia na repressão aos crimes cibernéticos depende de uma legislação
completa e transparente, que tipifique os crimes de forma adequada. Sem isso, juntamente
com a falta de ferramentas digitais e tecnológicas disponíveis para a polícia, as investigações
e processos sobre crimes cibernéticos no Brasil geralmente não têm desfechos eficientes,
justificando a baixa punição desses crimes (Medeiros; Ugalde, 2020).

2 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Durante a década de 1960, nos Estados Unidos, surgiram os primeiros registros de


crimes relacionados à informática. Nesse período, a imprensa e a literatura científica norte-
americana passaram a relatar casos pioneiros de indivíduos que utilizavam computadores para
a prática de atos criminosos, tais como sabotagem e espionagem. Esses incidentes marcaram o
início de uma nova era de delitos cometidos por meio da tecnologia computacional,
despertando a atenção para os desafios de segurança e o surgimento da necessidade de
desenvolver estratégias para combater essas atividades ilícitas (PINHEIRO, 2022).

A legislação brasileira, no entanto, teve um desenvolvimento tardio no que se refere à


proteção dos usuários contra os crimes virtuais, tendo seu início a partir da promulgação da
Lei 12.737/2012, chamada popularmente de Lei Carolina Dieckmann, é que a legislação
brasileira passou a abranger especificamente as condutas ilícitas cometidas no ambiente
digital. Anteriormente, não havia uma regulamentação específica para crimes em ambiente
virtual, o que gerava lacunas na proteção jurídica nesse contexto. A Lei aqui referida trouxe
importantes disposições legais para impelir e punir práticas como invasão de dispositivos
eletrônicos, divulgação não autorizada de conteúdos privados e outras formas de crimes
cibernéticos, estabelecendo diretrizes e sanções penais para essas condutas no Brasil
(PINHEIRO, 2022).
Outro importante avanço da legislação, trazida a partir da promulgação da Lei nº.
14.155/2021 com relação aos crimes praticados no ambiente digital, foi a criação do art. 154-
A, que tipificou a conduta de invadir aparelhos eletrônicos com o objetivo de obter, deformar
ou destruir dados sem o pleno consentimento de quem detém o aparelho, cuja pena foi
estipulada de 1 a 4 anos de reclusão e multa.

Além disso, os parágrafos seguintes responsabilizam, também, aquele que produz,


oferece, distribui, vende ou difunde hardware ou software que tenha como finalidade a prática
descrita no caput do artigo supra.

Mais à frente, no ano de 2014, foi promulgada a Lei nº 12.965, conhecida como Marco
Civil da Internet, com grande repercussão midiática, foi o primeiro passo para a
regulamentação da Internet, antes considerada como uma “terra sem lei”.

Essa legislação teve como propósito estabelecer diretrizes e orientações para os


princípios, garantias e obrigações assegurados aos usuários da internet, os quais devem ser
seguidos por entidades governamentais, provedores de serviços de internet, empresas e outros
atores envolvidos no ambiente virtual. O Marco Civil da Internet veio com o intuito de regular
e fornecer um arcabouço jurídico que proteja os direitos e interesses dos usuários,
promovendo uma internet mais segura e transparente.

O princípio da liberdade de expressão, destacado no Marco Civil da Internet reforça o


que já estava previsto na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, inciso IV que, apesar
dessa característica de potencializar ainda mais as formas de expressão do usuários, deve ser
controlado a fim de coibir práticas delituosas que venham a ferir os direitos individuais. Além
disso, como previsto no dispositivo constitucional, a liberdade de manifestação de
pensamento é condicionada ao não anonimato, ou seja, deve ser possível identificar o usuário
que realizou a manifestação.

De forma mais recente, no ano de 2018, foi promulgada a Lei nº. 13.709/2018, mais
conhecida como Lei Geral de Proteção de Dados – ou LGPD – que dispôs sobre o tratamento
de dados pessoais dos usuários, objetivando a proteção do direito à liberdade e à privacidade,
além do livre desenvolvimento da pessoa natural.

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) desempenha um papel crucial nessa


progressão histórica da legislação. Constantemente, as informações fornecidas pelos usuários
são utilizadas para aprimorar a navegação e a experiência digital. No entanto, os provedores,
sites e outras empresas que recebem esses dados têm acesso completo à vida privada de cada
indivíduo, tornando assim essencial a existência de instrumentos legais eficazes. A LGPD
visa justamente proteger a privacidade e os direitos dos usuários, estabelecendo regras claras
sobre o tratamento e a segurança dos dados pessoais, promovendo a transparência e o
consentimento informado, e conferindo maior controle aos indivíduos sobre suas informações
na esfera digital (PINHEIRO, 2022).

Por fim, através da Lei 14.132 de 2021, foi introduzida uma das mais significativas
mudanças na legislação penal recente, ao estabelecer o crime de perseguição, popularmente
conhecido como stalking. Essa palavra de origem inglesa define a conduta persistente,
inconveniente e repetitiva de importunar alguém, seja por meio de contato constante,
vigilância, perseguição ou assédio (BRITTO e FONTAINHA, 2021). Essa nova lei visa coibir
e punir essas práticas intrusivas que causam angústia e violam a intimidade e a liberdade das
vítimas, trazendo maior proteção e amparo legal para aqueles que são alvo desse tipo de
comportamento indesejado.

2.1 CASOS POLÊMICOS

O caso pioneiro na discussão sobre os crimes cibernéticos foi o que envolveu a atriz
Carolina Dieckmann, que ganhou grande repercussão no Brasil no ano de 2012. Nele a atriz
foi vítima de ataques cibernéticos que resultaram na divulgação não autorizada de fotos
íntimas em diversos meios digitais. Esse episódio chocou o país e chamou a atenção para a
necessidade de uma legislação mais abrangente e efetiva no combate aos crimes virtuais,
impulsionando a discussão que reverbera até os dias atuais.

A violação da privacidade da atriz despertou debates sobre a segurança e proteção dos


dados pessoais na era digital. Como resposta a esse caso emblemático, foi sancionada a Lei
12.737/2012, conhecida como Lei Carolina Dieckmann, que alterou o Código Penal Brasileiro
para tipificar os crimes informáticos. Tal lei estabelece penas para condutas como invasão de
dispositivos eletrônicos, obtenção, transferência ou divulgação não autorizada de dados, e
outros atos ilícitos cometidos por meios eletrônicos, conforme descrito no tópico anterior.
Outro caso muito repercutido, de forma global, foi o escândalo que envolveu a empresa
Cambridge Analytica. Esse escândalo veio à tona em 2018 e abalou o mundo da privacidade
de dados e manipulação política. A Cambridge Analytica era uma empresa de análise de dados
que trabalhava com estratégias de marketing político. O escândalo revelou que a empresa
havia coletado ilegalmente informações pessoais de milhões de usuários do Facebook sem o
consentimento adequado, por meio de um aplicativo de quiz.

Esses dados foram utilizados para criar perfis psicográficos detalhados dos usuários,
com o objetivo de direcionar mensagens políticas personalizadas. A revelação do uso indevido
dessas informações gerou indignação global e levantou questões sobre ética, privacidade e
manipulação no contexto das redes sociais.

O escândalo da Cambridge Analytica despertou um debate importante sobre a


responsabilidade das empresas em proteger os dados dos usuários e sobre a necessidade de
regulamentação mais rigorosa para garantir a privacidade e a segurança digital. O caso
resultou em investigações, multas e mudanças significativas nas políticas de privacidade e na
conscientização do público em relação ao uso de seus dados pessoais.

Esse episódio serviu como um alerta para a importância de os usuários estarem cientes
de como suas informações são coletadas, armazenadas e utilizadas por empresas e instituições,
sendo o principal tema tratado nos artigos da LGPD. Além disso, trouxe à tona a necessidade
de regulamentações mais robustas e fiscalização adequada para proteger a privacidade dos
indivíduos em um mundo cada vez mais conectado digitalmente.

Além disso, situações que envolvem o vazamento de dados por empresas estatais é
muito comum. De acordo com uma matéria publicada no site Consultor Jurídico, no ano de
2022 a 12ª Turma Recursal do Juizado Especial da Fazenda Pública do Estado de São Paulo
condenou o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) a indenizar uma mulher que, ao dar
início do recebimento de uma pensão por morte, essa passou a receber, de forma constante,
ligações, SMS e no WhatsApp propostas de seguradoras de crédito em que algumas
mencionavam, especificamente a pensão recebida por ela.

Esses três casos mostram a necessidade do desenvolvimento da regulação do ambiente


virtual, que apresenta grande potencial para a prática das mais variadas espécies crimes,
podendo atingir todo e qualquer usuário ativo, não só pela instalação de vírus ou
compartilhamento de fotos sem o consentimento da vítima, mas com a obtenção e
manipulação
dos dados, de modo a coagir e manipular o usuário, interferindo nas mais diversas searas da
vida em sociedade.

2.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Como mencionado no tópico anterior, a coleta e o tratamento de dados podem ser


utilizados por empresas para a manipulação dos usuários nas redes sociais. Os meios de
obtenção desses são: cookies, pequenos arquivos armazenados no computador do usuário que
permitem que os sites coletem informações sobre suas atividades online, usados para rastrear
preferências, histórico de navegação e personalizar a experiência do usuário; formulários e
questionários: onde o site solicita que os usuários preencham formulários ou questionários
para coletar informações específicas, como nome, endereço, idade, interesses e preferências;
redes sociais propriamente ditas que coletam uma quantidade significativa de dados dos
usuários, como informações de perfil, conexões, interesses, comportamentos de navegação e
interações utilizados para segmentar anúncios, sugerir conteúdo relevante e melhorar a
experiência do usuário.

Além disso, uma ferramenta pouco conhecida pela maioria dos usuários, que pode ser
utilizada pela Polícia Científica no combate aos crimes virtuais, para identificação dos autores
de tais delitos é o rastreamento de IP (Internet Protocol). Essa identificação do computador é
um endereço único atribuído a cada dispositivo conectado a uma rede, seja ela a internet ou
uma rede local. É por meio do IP que os dispositivos se comunicam e trocam informações na
rede.

Cada dispositivo conectado à internet possui um endereço IP único, que pode ser rastreado
para obter informações geográficas e comportamentais do usuário. Esses dados podem ser
usados para direcionar anúncios com base na localização, por exemplo.

Por fim, muito utilizado por site de vendas de produtos e serviços são as ferramentas
de análise como o Google Analytics, que servem para coletar dados sobre o comportamento
dos usuários, como páginas visitadas, tempo de permanência, cliques e conversões. Além
disso, tais estatísticas são utilizadas pelos chamados copywriters, em que são localizadas as
palavras- chave que mais geram clicks para determinado texto ou matéria, sendo utilizadas em
conjunto com técnicas de Search Engine Optimization (SEO).
Com o advento da Lei Geral de Proteção de Dados, todos os sites agora são obrigados
a informar para o usuário a utilização de mecanismos de coleta de dados para personalização
da experiência do usuário, para que sejam exibidos anúncios nas áreas mais pesquisadas pelo
usuário, como os alertas de utilização de cookies, sendo facultado ao usuário concordar ou
não com a coletas dos seus dados.

3 RESOLUÇÃO DA PROBLEMÁTICA

Como demonstrado ao decorrer do texto, o desenvolvimento da tecnologia trouxe


diversas facilidades tanto para os usuários naturais da internet, como para as empresas, que
utilizam dessa facilidade, principalmente na coleta de dados, para impulsionar e personalizar
cada vez mais suas campanhas.

Além disso, também pode ser notada a facilidade dos criminosos em esconder sua
identidade, apagando o IP e mascarando a sua localização com o uso de VPN, trazendo grande
dificuldade na investigação e punição dos referidos crimes.

O anonimato está principalmente associado à Deep Web, que é uma parte da internet
onde as comunicações e trocas de arquivos ocorrem de forma anônima e não são indexadas
pelos mecanismos de busca convencionais. Acessar a Deep Web é possível por meio de
aplicativos da rede TOR (The Onion Router), que ajudam a preservar o anonimato do usuário,
eliminando rastros de acesso.

O avanço de tais ferramentas para mascarar o IP e a localização do usuário causam


grande entrave para a Polícia Investigativa. Não bastasse tal situação, mesmo que o
investigador tenha acesso ao IP, o dispositivo só poderá ser investigado de maneira indireta,
ainda necessitando da autorização judicial. Como bem destaca FROTA e PAIVA (2017):

Como no flagrante, onde se consegue o IP (internet protocol) do computador,


porém é necessária a autorização judicial para a obtenção das informações
disposta pelo IP, que são localização da máquina e os acessos feitos na mesma,
contudo os provedores não armazenam tais informações por um longo tempo. O
que compromete a eficácia do trabalho do agente combatente.
Com relação à situação dos crimes cibernéticos no Brasil, uma das questões
desafiadoras ainda reside na falta de legislação e tecnologia eficiente, que acompanhe o
avanço da sociedade, o que acarreta atrasos na abordagem de determinados temas. Essa
situação gera diversas dificuldades que precisam ser enfrentadas.

Outra dificuldade encontrada para o investigador dos crimes são as criptografias


utilizadas nos aplicativos de mensagens, que garantem ao usuário a sua privacidade. Ademais,
aplicativos como o Telegram, utilizam da premissa da privacidade do usuário para descumprir
ordens judiciais para liberação e acesso ao histórico de mensagens de usuários alvos de
investigação.

A relação entre evolução tecnológica e o passar do tempo é exponencial, ou seja,


quanto mais a sociedade for evoluindo, mais rápido será o desenvolvimento da tecnologia.
Nesse sentido, é preciso o estudo de avanços legislativos para a prevenção, assim como
possíveis parcerias público-privadas para o desenvolvimento de softwares para fortalecer os
agentes da lei na investigação dos crimes cometidos no ambiente virtual.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora o desenvolvimento da Internet seja muito importante para a sociedade,


também trouxe efeitos negativos, como o comportamento criminoso. As autoridades policiais
começam investigando essas práticas para determinar a magnitude e os autores do crime, pois
o processo investigativo apresenta muitos desafios que devem ser superados para identificar
os responsáveis de forma rápida e eficiente. Ao analisar a Lei 12.965/2014, também
conhecida como Marco Civil da Internet, é possível apontar algumas questões relacionadas ao
direito ao sigilo e à privacidade, que são prejudicadas pela necessidade de obter uma ordem
judicial para buscar as informações necessárias, visando identificar corretamente os usuários
responsáveis por crimes.

As dificuldades na obtenção de cooperação judicial em casos envolvendo outros países


também são perceptíveis, pois o Brasil não é signatário da Convenção de Budapeste, que trata
justamente do assunto, e ainda faltam disposições legais sobre como os profissionais devem
conduzir as investigações, restando apenas lacunas pessoal qualificado e treinado na área pode
preencher. Diante desse cenário, é indiscutível a necessidade de o poder público investir na
formação de profissionais da área criminal, por meio de políticas públicas nacionais para os
órgãos policiais e da integração entre os órgãos investigativos dos estados.

A ampla divulgação, principalmente pelos fornecedores, dos riscos e formas de


prevenção das ameaças virtuais se faz necessária com o objetivo de conscientizar e informar
sobre o assunto os internautas no Brasil e evitar que o maior número possível de pessoas saiba
como proceder quando se tornam vítimas de crimes virtuais por.

Por fim, percebe-se a importância do diálogo entre o direito e a informática, sempre


buscando pesquisas interdisciplinares, pois a criminalidade está se alastrando rapidamente no
ambiente virtual, e a legislação não tem acompanhado efetivamente o avanço da sociedade,
por isso, exige o processamento enquanto aguarda aprovação Leis mais rígidas e eficazes
sobre o assunto surgem ao mesmo tempo que outras formas de reprimir novos tipos de crimes
cibernéticos.

Para tanto, é necessário um resgate da consciência, pois diante da realidade atual do


constante surgimento de novos crimes e das dificuldades encontradas em resolvê-los, é
imprescindível a busca constante por mais conhecimento, tornando possível ações mais
efetivas e eficaz.
Os profissionais precisam analisar criticamente a realidade para identificar fatos e
possibilidades de soluções efetivas. E essa postura requer a sociedade como um todo, seja a
academia, a polícia ou a advocacia.

Fazer uma abordagem crítica significa, antes de tudo, questionar a possibilidade de


soluções para casos específicos, momento em que o profissional fará uso da
interdisciplinaridade porque está interagindo com a realidade, o direito e outras áreas do
conhecimento. Assim, a lei conseguirá se adequar às realidades sociais atuais e garantirá
proteção efetiva às vítimas de diversos crimes cometidos virtualmente.
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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/breve-analise-dos-principios-essenciais-
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm>. Acessado em: 20
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BRITTO, Cláudia Aguiar Silva; FONTAINHA, Gabriela Araujo. O novo crime de


Perseguição – Stalking. Portal Migalhas, 09 de abril de 2021. Disponível em:
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CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. São Paulo: Saraiva, 2021.

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SAFERNET. Calúnia / difamação. https://new.safernet.org.br/content/cal%C3%BAnia-


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SCHAUN, Guilherme. Uma lista com 24 crimes virtuais. Disponível em:


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competência territorial dos crimes cibernéticos. 2016. Disponível
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<https://jus.com.br/artigos/47505/conflitos-de-competencia-em-materia-processual-penal
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WENT, Emerson e JORGE, Higor Vinicius Nogueira. Crimes Cibernéticos: Ameaças e


procedimentos de investigação. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Brasport, 2013. 38
ANEXOS

Anexo 1 – Índice do uso de internet no Brasil em 2021.

Fonte: NERY, Carmen.; BRITTO, Vinícius. Internet já é acessível em 90,0% dos domicílios do país em 2021.
Publicado em 2022. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-
noticias/noticias/34954-internet-ja-e-acessivel-em-90-0-dos-domicilios-do-pais-em-2021. Acesso em 21 de maio
de 2023.
Anexo 2 – Indicadores em gráfico da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos
no Brasil em 2020.

Fonte: BRASIL. Safernet. Indicadores da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos. 2020.
Disponível em: <https://indicadores.safernet.org.br/>. Acesso em: 16 de maio de 2023.

Anexo 3 – Representação gráfica da relação entre páginas brasileiras denunciadas em 2020.

Fonte: BRASIL. Safernet. Indicadores da Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos. 2020.
Disponível em: <https://indicadores.safernet.org.br/>. Acesso em: 16 de maio de 2023.

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