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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

CURSO DE DIREITO

BEATRIZ DE SENA SANTOS

OS ABUSOS DO DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO:


RESPONSABILIDADE CIVIL E CRIMINAL PELOS CONTEÚDOS ILÍCITOS
DISSEMINADOS NA INTERNET.

São Paulo
2022
BEATRIZ DE SENA SANTOS

OS ABUSOS DO DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO:


RESPONSABILIDADE CIVIL E CRIMINAL PELOS CONTEÚDOS ILÍCITOS
DISSEMINADOS NA INTERNET

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de graduação em
Direito, da Universidade São Judas
Tadeu (USJT) da Ânima Educação,
como requisito parcial para obtenção
do título de Bacharel.

PROF. ORIENTADOR: DR. ÂNGELO RIGON FILHO

São
Paulo
2022
BEATRIZ DE SENA SANTOS

OS ABUSOS DO DIREITO À LIBERDADE DE EXPRESSÃO: RESPONSABILIDADE


CIVIL E CRIMINAL PELOS CONTEÚDOS ILÍCITOS DISSEMINADOS NA
INTERNET

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi


julgado adequado à obtenção do título
de... Bacharel em Direito e aprovado em
sua forma final pelo Curso de Direito,
Universidade São Judas Tadeu (USJT) da
Ânima Educação.

São Paulo, de de .

Prof. e orientador Dr. Ângelo Rigon Filho


Universidade São Judas Tadeu

Prof. Dr. Rogério Cellino


AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus pela força e oportunidades que me foram dadas no decorrer da vida, e
por me permitir chegar até aqui.
Aos meus pais e ao meu irmão por todo o apoio e amor durante minha jornada acadêmica.
RESUMO

Apesar do evidente progresso tecnológico e um avanço significativo nas relações sociais e


culturais por meio da internet, ele é também responsável pela potencialização dos abusos
praticados por usuários, que se valem do anonimato para a prática de crimes e atos prejudiciais a
outrem. Nesse sentido, traz-se à tona a colisão de direitos entre a liberdade de expressão e a
intimidade da vida privada, dois preceitos previstos pela Constituição Federal de 1988. Desse
modo, o presente estudo pretende analisar os pontos que ensejam referido conflito, como também
explorara eventual responsabilidade civil e criminal do agente que publica e compartilha
conteúdo ilícito na interne. Ainda, busca-se mostrar a necessidade de normas específicas para
uma efetiva contribuição na regulamentação neste novo âmbito e frear as lesões originadas.

Palavras chaves: Liberdade de expressão. Internet. Conteúdo ilícito. Responsabilidade


civil e criminal
ABSTRAC
Despite the evident technological progress and a significant advance in social and cultural
relations through the Internet, it is also responsible for the potentialization of abuses committed
by users, who take advantage of anonymity to practice crimes and harmful acts to others. In this
sense, it brings to light the collision of rights between freedom of expression and privacy, two
precepts provided by the Federal Constitution of 1988. Thus, this study intends to analyze the
points that give rise to this conflict, as well as to explore the possible civil and criminal liability
of the agent who publishes and shares illicit content on the internet. Furthermore, it seeks to show
the need for specific norms for an effective contribution to the regulation of this new sphere and
to curb the originated injuries.

Keywords: Freedom of expression. Internet. Illicit content. Civil liability.


SUMÁRI
1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................................8

2. LIBERDADE DE EXPRESSÃO...............................................................................................9

2.1. Noções gerais da liberdade de expressão...............................................................................9

2.2 Liberdade de expressão na internet.......................................................................................11

2.3. Os abusos da liberdade de expressão na internet.................................................................13

3. DIREITO À HONRA E IMAGEM.........................................................................................15

3.1. Noções gerais do direito à honra e imagem.........................................................................15

3.2. Dos crimes contra a honra...................................................................................................16


3.2.1. Calúnia..........................................................................................................................16
3.2.2. Difamação.....................................................................................................................17
3.2.3. Injúria............................................................................................................................18
3.3. Dos crimes contra a honra no ambiente virtual...................................................................20
3.3.1. Racismo.........................................................................................................................23
3.3.2. Fake News.....................................................................................................................24
3.4. Efeitos dos crimes contra a honra........................................................................................25

4. RESPONSABILIDADE CIVIL NA INTERNET..................................................................28

4.1 Noções de Responsabilidade Civil.......................................................................................28

4.2. Elementos constitutivos da Responsabilidade Civil............................................................30


4.2.1. Conduta.........................................................................................................................30
4.2.2. Culpa.............................................................................................................................31
4.2.3. Dano..............................................................................................................................31
4.2.4. Nexo de causalidade......................................................................................................32
4.3. Danos morais na internet..................................................................................................33
5. PROVEDORES DE CONEXÃO E DE APLICAÇÃO DE INTERNET............................35

5.1. Breves noções......................................................................................................................35

5.2. A responsabilidade civil dos provedores de conexão e de aplicação de internet................36

6. A REGULAMENTAÇÃO DA INTERNET NO BRASIL....................................................38

6.1. Direito Digital no Brasil.....................................................................................................38


SUMÁRI
6.2 A carência de regulamentação da internet............................................................................40

CONCLUSÃO...............................................................................................................................43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................46
8

1. INTRODUÇÃO

Junto ao crescente acesso à internet, os crimes praticados neste âmbito vêm ganhando
grande espaço. Este meio digital é extremamente democrático, com a coexistência de
pensamentos e pontos de vista relacionados a uma pluralidade de assuntos, sendo de fato
exercida a liberdade de expressão.
Essas divergências geram conflitos, dando grande vazão ao abuso da liberdade de
expressão, usada como fundamento para condutas tipificadas no código penal, usando de graves
ofensas, ameaças, linchamento virtual, Fake News e discursos de ódio. A maioria dos praticantes
desses atos ilícitos raramente são responsabilizados e são de todas as faixas etárias possíveis.
A dificuldade do ordenamento jurídico para julgar esse tipo de crime é visível, tendo em
vista os obstáculos de identificar o ofensor e a ocorrência do crime cometido, pois ainda há
brechas para a punibilidade e nem sempre é denunciado, tornado difícil a resolução da justiça e a
aplicação das penas existentes. Essa problemática quase que incontrolável, questiona a segurança
na internet, que é vista, ainda, como uma terra sem lei.
Por isso, é importante compreender que a internet não é terra sem lei, necessitando de
eficácia na aplicação das normas jurídicas, trazendo a luz e responsabilizando quem comete os
crimes, fazendo uma relação de leis já vigentes que possam ser usadas com devida eficiência em
meios digitais, pois o art.7º da Lei Federal nº 12.965/2014 prevê garantias fundamentais ao
usuário de internet, a fim de assegurar os direitos humanos de cada indivíduo, estabelecidos pela
Constituição Federal de 1988.
Neste sentido, nota-se ser imprescindível estudar um pouco mais a fundo as
consequências pela inclusão e difusão de conteúdos ilícitos na rede, quando configurado o dano a
outro, bem como o desempenho da responsabilidade civil e criminal. Dessarte, compreende-se
também ser necessária a análise das normas mais adequadas e os principais princípios deste tema
e seus conflitos.
9

2. LIBERDADE DE EXPRESSÃO

2.1. Noções gerais da liberdade de expressão

John Locke, criara sua tese a respeito dos direitos naturais do homem, reforçando que
todos nascem em berço de garantia à liberdade, que deve ser assegurada pelo Governo. O art. 19
da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), da Organização das Nações Unidas
(ONU)
– documento que prevê a garantia de direitos e liberdades fundamentais para todos, garante:
Art. 19. Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que
implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e
difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de
expressão.

Sob este aspecto, o Brasil prevê na Constituição Federal de 1988 diversos direitos e
garantias, em seu art. 5º, que prevê o “direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade”, logo após o fim da ditadura militar, que durou de 1964 a 1985, que não só censurou
a liberdade de expressão, mas também torturou e matou pessoas que contrariavam o regime. O
direito fundamental à liberdade de expressão só foi resgatado com a Constituição Federal de
1988. A partir do ano de 1824, todas as Constituições garantiam o direito à liberdade de
expressão,
no entanto, muito diferente da letra da lei, na prática, essa liberdade sofreu diversas ofensas por
parte do Estado. Em consequência, a atual Constituição, foi categórica na proteção desse direito.
Considerada um dos direitos fundamentais, a liberdade de expressão é a base da
democracia do país, de forma que sem a ela, os cidadãos de um país, não se pode conceber um
Estado Democrático de Direito.
Para que uma efetiva sociedade democrática, é fundamental a garantida da liberdade de
expressão e informação. A Constituição da República garante essas liberdades em seu art. 5º,
inciso IX, estabelecendo que é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença. Há também, disposições sobre a matéria
no art. 220 e demais parágrafos:
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob
qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o
disposto nesta Constituição.
§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de
informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o
disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
1

Em consonância, no ADI 4451/DF, o Supremo Tribunal Federal entende que a liberdade


de expressão: “constitui condição essencial ao pluralismo de ideias, que, por sua vez é um valor
estruturante para o salutar funcionamento do sistema democrático.”1
A liberdade de expressão é a materialização do poder de o indivíduo externar sensações,
sentimentos ou sua criatividade sem censuras. No entanto, não se trata somente a isto, tendo
maior amplitude, atingindo a própria liberdade de pensamento e as diferentes maneiras de
expressar isso. Ainda que haja divergência de opiniões em toda a sociedade democrática, não
deve haver brechas para medidas arbitrarias contra a liberdade de expressão, que deve ser
garantida e praticada em consonância com os demais direitos fundamentais, como por exemplo a
os direitos à imagem,
à honra, bem como outros.
A expansão da manifestação de pensamento no ordenamento jurídico acontece de forma
que todos os indivíduos portadores deste direito podem ser pessoas físicas ou jurídicas, partindo
do ponto que a opinião expressada seja constituída no direito fundamento ao ser humano.
Então, objetivando a garantia uma vida digna às pessoas, é constante a luta contra a
censura e outros meios que tendem a privar esse direito. Todo esse afinco em torno dessa garantia
é necessário para que governos antidemocráticos não tenham voz e práticas violentas não sejam
cultivadas.
Sendo assim, a CF/88 afasta o medo de retaliações por conta de opiniões pessoais ou as
expressas em grupo. Entretanto, a liberdade de expressão funciona como um dos pilares
da democracia atual, dando condições para que o povo tenha voz ativa.
A manutenção da liberdade de expressão e da democracia, garantem que os governantes
sejam democraticamente eleitos e fiscalizados pelas instituições e pelo próprio povo que os
elegeram nas urnas, durante as eleições. Sobre isso, José Canotilho (2014, p 256), dispõe que:
[...] ela acolhe um valor extremamente importante para o funcionamento das
sociedades democráticas, que deve ser devidamente protegido e promovido. Este
valor deve irradiar-se por todo o ordenamento jurídico, guinado os processos de
interpretação e aplicação das normas jurídicas em geral. Ademais, da dimensão
objetiva decorre também o dever do Estado de criar organizações e procedimentos
que deem amparo ao livre exercício de tal direito fundamental.2

1
STF - ADI 4451 DF. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Alexandre de Moraes. Data de Julgamento:
21/06/2018. Data da Publicação: 06/03/2019.
2
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Comentários à Constituição do Brasil. Saraiva: São Paulo, 2014, p. 254.
1

A liberdade de expressão é um direito inerente ao indivíduo, e a preservação do livre


direito de manifestação deve ser assegurada para todos, e em qualquer meio de comunicação,
incluindo a Internet.

2.2 Liberdade de expressão na internet

A liberdade de expressão abrange diversos aspectos do desenvolvimento humano e, em


específico, o desenvolvimento tecnológico, que forneceu uma nova perspectiva para o avanço
dessa liberdade. Ou seja, com o passar do tempo, o acesso à internet vem se tornando cada vez
mais democrático, apesar de ainda ser alarmante a quantidade de pessoas que ainda não tiveram
contato ou acesso. Nela, é possível estar conectado a todo e qualquer tipo de conteúdo, seja
jornalístico, esportivo, jogos, músicas, filmes etc., facilitando os meios de comunicação nas redes
sociais, que contribuem para um lugar plural e diverso quanto às informações disponíveis.
O acesso à informação nunca foi tão vasto e instantâneo como hoje. Um dos grandes
benefícios da internet é possibilitar que as informações estejam disponíveis em diversos veículos
de comunicação. Além de facilitar atividades que até pouco tempo atrás, não seria possível fazer
de forma remota.
Hoje, o acesso à tecnologia é o caminho para a inclusão e democratização da informação,
contribuindo para que todos sejam introduzidos numa sociedade informada. A Constituição
Federal, garante o direito fundamental da liberdade de informação dispondo no inciso XIV, art.
5º, que é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando
necessário ao exercício profissional.
Como já dito, a internet é um muito importante para o acesso à informação, pois há uma
grande extensão de conhecimento de diferentes espécies, métodos e fontes, tornando-se um
instrumento fundamental para a educação. A educação permite uma progressão eficiente para os
cidadãos, que cada vez mais criam consciência de seu papel como sujeito de direitos e deveres,
além de fortalecer o desenvolvimento da sociedade. A este aspecto, Carmen Alba (2007, p. 125)
disserta:
As tecnologias podem contribuir para tornar efetivo o direito de participar nos contextos
sociais e culturais, escolares e profissionais, especialmente quando são utilizados para
dar resposta à diversidade. É preciso entender que, para muitas pessoas, são a solução
contra
1

as barreiras: a chave ou a única via de ter acesso, ou detê-lo de forma plena e efetiva, à
educação e a tudo que deriva dela.3

A Lei Federal nº 12.965, de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da Internet), dispõe


princípios, direitos e deveres para a utilização da internet no Brasil, prevendo em seus art. 3º,
inciso I, a garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento
conforme a Constituição Federal.
Nessa mesma Lei, o art. 8º reforça esse princípio Constitucional: “Art. 8. A garantia do
direito à privacidade e à liberdade de expressão nas comunicações é condição para o pleno
exercício do direito de acesso à internet.”
Ainda nesta lei, o art. 20 estipula uma norma que garante a segurança da livre
manifestação de ideias determinando que cabe ao provedor de aplicações de internet comunicar
ao usuário os motivos e informações que implicam na indisponibilização do conteúdo pretendido,
com informações que permitam o contraditório e a ampla defesa em juízo, salvo expressa
previsão legal ou expressa determinação judicial fundamentada em contrário.
A internet logo se se mostra eficiência na comunicação, e-mails, fóruns e mídias sociais
se popularizaram ao longo dessa trajetória, além de sua e comercialização que permite, que
diversas vozes se expressem de forma rápida, ampla e com expressivo poder de influência. É sob
esta perspectiva que prevalece o argumento de um ambiente digital seguro para a livre expressão.
Junto à internet, o exercício ao direito à liberdade de expressão teve considerável
crescimento, o que facilita essa difusão de ideias e opiniões, contribuindo para que, no meio
virtual, sejam realizadas as declarações de vontade. Este direito fundamental, é, notavelmente,
exercido com eficiência, tal qual garante a Constituição.
No meio digital, essa garantia é de suma importância para as manifestações intelectuais,
artísticas, religiosas e políticas evoluam sem receio de censura, intimidação ou ameaça, incluindo
também, críticas direcionadas a autoridades públicas.
A Lei do Marco Civil da Internet não estabelece qualquer premissa que suscite o controle
da internet pelo Estado ou qualquer indivíduo. Na verdade, a lei assegura um lugar democrático
plural e autônomo, sendo revelado um ambiente de criação, empreendedorismo e de
conhecimento.

3
SANCHO, Juana María; HERNÁNDEZ. Fernando e col., Tecnologias para transformar a educação. Tradução por
Valério Campos. Porto Alegre: Artmed, 2007, p. 125
1

No entanto, muitas questões também se tornaram mais “acessíveis”, fazendo com que a
cautela do mundo real deva aumentar no virtual. Segundo Carlos Frederic (93), a internet permite
uma distribuição igualitária de juízos de valor que às vezes podem não ser tão favoráveis a
algumas pessoas, de notícias invasivas quanto a privacidade de alguém, do uso indevido da
imagem alheia e muitas outras problemáticas.

2.3. Os abusos da liberdade de expressão na internet

Ao mesmo passo do crescimento da liberdade de expressão, a extrapolação deste direito


também ganhou espaço, com a propagação de perfis e notícias falsas, bem como a prática de
crimes cibernéticos. Com diversas formas de interação e comunicação social, os usuários têm em
suas mãos ferramentas que podem compartilhar sua opinião a respeito de qualquer tema. Dessa
forma, as redes sociais democratizaram a exposição de opiniões, em contrapartida, permitiram
que o usuário se escondesse atrás de uma tela junto a sua má intenção no exercício desse
“direito”. Nesse sentido, Carlos Frederico (2019, p. 93) disserta:
Nos dias atuais, após o advento da internet, principalmente, pôde-se notar significativo
incremento no exercício da liberdade de expressão, visto que o acesso à difusão de ideias
quedou-se facilitado e democratizado. Tal facilitação propiciou igualmente a ocorrência
dos conflitos entre tal exercício e a preservação dos outros direitos da personalidade
como a honra, a imagem e a privacidade.4

A garantia à liberdade de expressão não deve ser licença para sua prática absoluta,
principalmente no que cerne a violação de outros direitos. Não há o que se debater sobre a livre
manifestação a partir do momento em que ela carrega em seu discurso um caráter violento e
intolerante, estimulando a agressão, interferindo negativamente na liberdade do outro.
De forma cabal, a Constituição Federal de 1988 não dá margem para possível censura
prévia, o que significa a liberdade de expressão não ser absoluta e ter, sim, limites frente aos
demais direitos fundamentais, tendo em vista ser cabível a responsabilização do autor, com
possível condenação ao pagamento de danos materiais e/ou morais por conteúdos difamatórias,
mentirosos e injuriosos. Um Estado democrático não pode limitar informações e a manifestação
de opinião,

4
BENTIVEGNA, Carlos Frederico B. Liberdade de expressão, honra, imagem e privacidade: os limites entre o lícito
e o ilícito. São Paulo: Editora Manole, 2019, p. 93.
1

mas sim, trazer responsabilidades àquele que fere o direito do outro. Carlos Frederico (2019, p.
105) traz esse entendimento:
Assim, o âmbito potencialmente conflitivo dos direitos da personalidade imbricados com
o exercício da Liberdade de Expressão e de Manifestação do Pensamento foi delimitado
pela própria Constituição Federal, com a previsão do temperamento dessa liberdade com
a necessária proteção (inviolabilidade) da honra, imagem, intimidade e privacidade das
pessoas.5

Sendo assim, a liberdade de expressão está limitada ao princípio, também constitucional,


de proteção à honra e à imagem, que se violado, acarretará a reparação por meio de danos morais
e materiais. O direito à honra e à imagem está garantido no inciso X do artigo 5º da CF/88.
Vivemos em um Estado, que garante direitos, mas que precisa intervir e regular os
conflitos entre os mesmos. Ou seja, para viver em sociedade é necessário ter a plena consciência
do que é o convívio em grupo.
No HC 82.424/RS6, o Supremo Tribunal Federal concluiu que ninguém poderá usar da
liberdade de expressão para legitimar, por exemplo, discursos racistas, homofóbicos ou de
intolerância religiosa. Logo, a liberdade de expressão não é salvo conduto para atingir a
dignidade de qualquer indivíduo.
Cada um carrega sobre si o direito de proteção da honra, que objetiva trazer segurança ao
sentimento do individuo sobre o seu próprio físico, valor moral e intelectual, bem como o
resguardo ante a sociedade, ou seja, a reputação do sujeito no seio social. As ofensas maculam a
honra de qualquer indivíduo, seja sobre seu físico, qualidades, enquanto pessoa humana,
profissional e dentre outros.

5
Ibid., p. 105.
6
STF - HC: 82424 RS. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Moreira Alves. Data de Julgamento: 17/09/2003.
Data da Publicação: 19/03/2004.
1

3. DIREITO À HONRA E IMAGEM

3.1. Noções gerais do direito à honra e imagem

A honra e a imagem são direitos, invioláveis, da personalidade, que foram acrescentados a


Constituição Federal de 1988 como um direito individual previsto no artigo 5º, inciso X, que
dispõe: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.”
A honra, em seu puro significado, é o que leva alguém a ter uma conduta correta, virtuosa,
corajosa, permitindo o individuo fruir de bom conceito junto à sociedade. Podendo ser também
um conjunto de atributos físicos, morais e intelectuais que lhe garantem respeito no âmbito
social. Garante uma estima social, ligada à sua aceitação por outrem.
Sem a honra, o homem é incapaz de alçar qualquer perspectiva de crescimento social,
talvez, nem mesmo uma satisfação pessoal. Sendo um relevante elemento para personalidade, a
proteção da honra é fortemente amparada para uma manutenção da dignidade e prestígio do
indivíduo diante do âmbito social.
A ofensa à honra geralmente abala o estado anímico do indivíduo. Esse fato atinge,
também, a integridade psíquica do ofendido. Os atos ilícitos são capazes de atingir, de forma
paralela, muitos direitos, que correspondem a honra, o psicológico, a privacidade, o que pode
gerar indenização por dano moral.
O direito a imagem, tal qual a honra, é um direito da personalidade, que permite que todo
e qualquer homem de direito dispor e desfrutar por meio do controle do uso de sua imagem, por
meio de fotografia, retratos, vídeos, entre outros, sendo fiéis as características físicas, assim como
a representação de sua aparência individual. Então, este direito é assegurado a todo individuo, a
fim de ter sua imagem preservada.
Sobre o tema, Carlos Bentivegna (2019, p. 127) compreende: [...] entendemos que a
imagem seja esta expressão identificativa exterior da personalidade, quer através do rosto, quer
de
1

outros atributos do biótipo, de forma a contribuir para a fixação da individualidade da


personalidade.7

O art. 20 do Código Civil de 2002 contribui para a garantia deste direito, estabelecendo:
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à
manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a
publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas,
a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.

Os direitos da personalidade são personalíssimos e ninguém pode abrir mão, pertencendo


somente ao indivíduo o controle de uso do lhe é seu, como por exemplo o corpo, aparência, nome
e todos outros aspectos que definam sua identidade.

3.2. Dos crimes contra a honra

3.2.1. Calúnia

O direito à honra é tão importante que possui repercussões penais, tendo em vista o
Código Penal tipificar condutas para os crimes de calúnia, difamação e injúria.
Atribuir a prática de um crime a alguém que sabe não ter sido ele o autor, pratica crime
contra honra, respondendo por calúnia, conforme art. 138 do CP, podendo ser condenado,
inicialmente, a uma pena de detenção de seis (06) meses a dois (02) anos, e multa. Ainda, aquele
que sabe as imputações serem falsas e, mesmo assim a divulga, como por exemplo nas redes
sociais, será processado e incorrerá nas mesmas penas daquele que deu início da calúnia.
É importante diferenciar o crime de calúnia ( art. 138, CP), da denunciação caluniosa
(art. 339, CP). Na calúnia, o autor a imputa crime a alguém, falsamente perante terceira pessoa.
Já na denunciação caluniosa, o indivíduo, leva ao conhecimento da autoridade competente, a
falsa imputação, movimentando a máquina estatal, dando início a instauração de inquérito
policial numa delegacia.

7
BENTIVEGNA, Carlos Frederico B. Liberdade de expressão, honra, imagem e privacidade: os limites entre o lícito
e o ilícito. São Paulo: Editora Manole, 2019, p. 127
1

A fim de proteger a honra objetiva, que é aquela que revela a perspectiva que outras
pessoas têm caluniado, aquilo que deve ser resguardado é o atributo físico, intelectivo, moral e
dentre outras qualidades que alguém venha ter.
A configuração da calúnia depende de uma falsa imputação de algo tipificado, ou seja,
crime, de modo definido e específico, tomando o outro, conhecimento. A mera qualificação por
meio de adjetivos, como por exemplo chamar alguém de ladrão, não é suficiente para a
configuração do crime, não bastando a simples afirmação genérica sem nenhuma descrição de
algum fato criminoso. Sobre este aspecto, Fernando Galvão (2013, p. 113) disserta: “É necessário
que a imputação especifique, ainda que minimamente, o fato criminoso que é atribuído à vítima.
Não é necessária uma descrição minuciosa do fato, mas uma indicação que permita definir um
contexto fático determinado.”8
É necessário que exista a narrativa do fato que fora falsamente imputado, com coesão
entre os fatos, que indica começo, meio e fim, ainda que superficial. Em um caso concreto, isso
se daria quando uma pessoa imputar falsamente a outra, o roubo de um objeto em um lugar e data
determinados.
A calúnia diz respeito à honra objetiva da pessoa, isto é, o que terceiros pensam sobre
você. Dentre os crimes contra a honra, a calúnia é a mais grave, já que pessoa está sendo
falsamente acusada por um crime que não cometeu.
Importante é pontuar, que no crime de calúnia, sendo provada a veracidade pelo agente,
por meio do instituto da exceção da verdade, não configura-se mais calúnia, porém, sendo
necessário observar, quanto à possibilidade jurídica, as exceções constantes no art. 138, nos
incisos do § 3º Código Penal.
No mundo virtual, o crime pode ocorrer quando o usuário publicar algo por meio de suas
redes sociais, atribuindo a alguém a prática algum crime, sendo que esta não o cometeu, recairá
na prática do crime de calúnia, que pode ser cometido por palavra escrita.

3.2.2. Difamação

8
ROCHA, Fernando A. N. Galvão da Direito penal: crimes contra a pessoa. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 113.
1

Agora, proferir palavras ofensivas que deprecia a reputação de certa pessoa, muito comum
nas redes sociais, não tendo juízo de valor sobre a veracidade das ofensas, mas importando a
afetação do prestígio (conceito no grupo, na sociedade), comete crime de difamação, art. 139 do
CP, com penas de detenção de três (03) meses e um (01) ano, e multa. Bem como no crime de
Calúnia, pretende-se a proteção da honra objetiva.
A imputação não precisa ser falsa, o crime ocorre a partir do momento em que é levado ao
conhecimento de terceiros os fatos destrutivos de um determinado indivíduo, que se torna um
sujeito passivo. Em suma, a difamação é o apontamento de um fato ofensivo direto à reputação.
Para configuração da ofensiva, é preciso que outras pessoas venham a saber, tendo em vista
reputação do ofendido ser objeto de tutelada.
Enfim, o fato deve ser factual e definido, dispensando o detalhamento dos fatos, todavia,
uma imputação inexata pode enquadrar-se como Injúria.
Fernando Galvão (2013) entende que a difamação tem um formato livre, que pode ser
executado por diversos meios. Então, o crime pode ser praticado com palavras, orais ou escritas,
inclusive por meio eletrônico, gestos, desenhos caricatos, músicas ou outras formas de
representação de ideias. Ainda, não é imprescindível que a imputação seja feita na presença da
vítima, mas que chegue ao conhecimento de terceiros integrantes de seu círculo social.9
Diferente da calúnia, não é admitida a exceção da verdade na difamação, de forma
excepcional, na hipótese de a vítima ser funcionário público e o fato tenha a ver com o exercício
de sua função, o crime de difamação poderá ser afastado se provada a veracidade do que fora
alegado pelo agente, conforme estabelece o art. 139, parágrafo único do Código penal.
A difamação é um dos crimes de maior incidência no âmbito digital, ainda mais quando
envolver redes sociais. São aquelas publicações quem ferem diretamente a reputação e o prestígio
social da vítima, por meio de fotos, vídeos, e muitos outros conteúdos, que causam prejuízos à
imagem e à honra do ofendido, podendo ser verdade ou não.

3.2.3. Injúria

9
ROCHA, Fernando A. N. Galvão da Direito penal: crimes contra a pessoa. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 119.
1

A injúria, art. 140 do CP, é um dos crimes mais comuns, tanto nas redes sociais, como no
dia a dia. A ofensa a dignidade, princípio da Constituição Federal, disposto no art. 1º, inciso III,
que envolve qualidades morais, decoro, quando se ataca qualidades físicas de uma pessoa,
inicialmente, pode acarretar uma pena de detenção, de um (01) a seis (06) meses, ou multa. Insta
diferenciar a Injúria Qualificada, art. 140, § 3º, cuja pena é de reclusão de um (01) a três (03)
anos e multa.
De maneira oposta a Calúnia e Difamação, aqui, o objeto jurídico a ser protegido é a
honra subjetiva, que abrange aspectos físicos, intelectuais, sociais e morais.
Não há de se falar em imputação de crime de fatos definidos, mas sim, sobre questões
genéricas, que trazem certa desonra ou atributos depreciativos para o sujeito passivo. Desse
modo, qualquer insulto, xingamento, até mesmo opinião pessoal, de um indivíduo para o outro,
configura- se o crime de Injúria.
A Injuria coloca a vítima em uma ideia de inferioridade mediante perspectiva própria,
visto que o ataque atinge de forma objetiva suas características pessoais. Importante destacar que,
na injuria, também é possível afetar a honra objetiva.
Neste crime a ciência de terceiros sobre os ataques, não é importante, bastando que a
vítima a tenha, não importando se ela se sente atingido ou mão em sua honra subjetiva. Tendo o
ato caráter ofensivo, resta consumado o crime.
O crime de injúria é qualificado, quando o sujeito ativo do ato se utiliza de ataques de que
contenha “raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência”. Na injúria qualificada, a pena mínima será 1 (um) ano, sendo possível chegar a 3
(três) anos, conforme prevê o art. 140, § 3º, do CP.
Ainda, existe a injúria real, que ocorre quando, o ofensor utiliza violência ou vias de fato,
a fim de ofender ou desrespeitar o outrem. Como por exemplo o ofensor desferir um tapa no rosto
do ofendido, para injuriar o ofendido, prevista no art. 140, § 2º. Nesses casos, a pena para o crime
é a detenção, de 03 (três) meses a (01) um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
Sobre este instituto, Fernando Galvão (2013, p. 125) elucida:
Para a caracterização do crime de injúria real não é necessário que da violência resulte
lesões corporais. Caso venha a resultar lesão corporal ou a morte da vítima, deve•-se
aplicar a cumulação de penas previstas na cominação legal. A injúria real que é praticada
por meio de violência ou vias de fato contra a pessoa da vítima pode se caracterizar com
o tapa desferido contra o seu rosto, o arremesso de ovos contra o seu corpo, o chute em
2

suas nádegas, a sua retirada forçada de um determinado local, o corte de seus cabelos e o
puxão que rasga partes da roupa que esteja vestindo.10

Tal qual a difamação, na injúria não é admitida exceção da verdade, pois não descreve
fato determinado. Ou seja, o querelado está sendo processado por ofender ou apontar alguma
qualidade negativa diretamente a alguém, o que é mera perspectiva do agente, seja a impressão
externalizada verdadeira ou não.
O crime de injúria na internet também é muito comum, haja vista os usuários terem livre
formação do próprio juízo de valor quanto a qualquer tipo de assunto, incluindo opiniões pessoais
em relação a qualquer pessoa, levando os usuários a ofenderem a outrem, que independente de
conhecimento de terceiros ou de repercussão, resta configurado, bastando a vítima sentir-se
pessoalmente atingida com o conteúdo publicado.

3.3. Dos crimes contra a honra no ambiente virtual

Crimes virtuais ou cibernéticos são aqueles praticados por meio de computadores, redes
de computadores ou dispositivos eletrônicos, com ações delituosas, que trazem consequências a
indivíduos, como por exemplo dano patrimonial, por meio de extorsão de recursos financeiros,
danos emocionais ou danos à reputação de vítimas expostas na Internet.
A compreensão dessas ações é muito vasta, podendo ser ataques à honra e a dignidade
pessoal, bullying digital e crimes que se aproveitam de uma vulnerabilidade técnica, provocando
danos patrimoniais e financeiros.
Hoje, todo e qualquer um é passível de se tornar pode um sujeito ativo nesses crimes
cometidos no âmbito digital, não necessitando de um profundo conhecimento para isso, sendo
suficiente o acesso à internet para sua realização. Da mesma forma, qualquer um pode vir a ser
sujeito passivo, ou seja, vítima desses atos ilícito, ainda que esteja conectado ou não à rede.
O crime virtual é uma conduta ilícita, se realizada por meio acessórios que garantam o
acesso a internet, podendo ser realizado por pessoa física, com potencial ofensivo direto ou
indiretamente a dignidade moral e psicológica de outrem.

10
ROCHA, Fernando A. N. Galvão da Direito penal: crimes contra a pessoa. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 125.
2

Para Augusto Rossini (2004)11, o crime virtual pode ser compreendido como gênero, onde
o delito telemático é a espécie, tendo em vista a particularidade de o ato acontecer no meio
virtual, por meio das relações efetuadas, em computadores utilizados para a prática delitiva.
Segundo Marcelo Xavier de Freitas Crespo (2011), a rede é um campo para a prática de
delitos que já são tipificados em ordenamentos jurídicos, mas também, condutas que ainda não
são incriminadas no Brasil, mas que são extremamente danosas, por conta do alto acesso de
usuários com liberdade para enviar, transferir, difundir e acessar informações, de modo que
muitas pessoas passam a ser potenciais vítimas, mas também potenciais sujeitos ativos de
delitos.12
A ascensão tecnológica coloca uma inquietação sobre a proteção de dados pessoais, bem
como sobre o direito à honra. Ao observar a velocidade atual da coleta, armazenamento, difusão
de dados e conteúdos, entende-se que é inevitável que informações incorretas, caluniosas e
difamatórias não sejam difundidas indiscriminadamente.
A comum ocorrência da conduta criminosa na internet acontece pela disponibilidade de
informações, bem como a prevalência do anonimato na rede, o que torna fácil e corriqueiro o
cometimento de atos ilícitos por pessoas comuns, que maculam a imagem de alguém, não
importando a intenção. Neste sentido, Christiany Pegorari e Celso Fiorillo (2016, p. 81),
argumentam:
O anonimato propiciado pelas tecnologias, especialmente a Internet, também é fator que
contribui para que o agressor tenha coragem de fazer ou dizer o que não o faria
presencialmente (seja por não ter coragem, seja por não ter condições físicas superiores).
Assim, o agressor ignora as consequências de suas ações, até porque não recebe uma
resposta imediata de seus atos e isso tudo leva ao estímulo da prática, potencializando as
condutas do agressor e aumentando a vulnerabilidade da vítima;13

Importante pontuar, que hoje é muito frequente a ocorrência dos crimes de calúnia,
difamação e injúria no meio digital, principalmente nas redes sociais. Com a publicação em
plataformas com grande incidência de acesso, havendo uma visibilidade enorme do que se
publica, tomando proporções inimagináveis por conta da facilidade e rapidez de difusão que a
internet detém, tornando o crime muito mais grave.

11
ROSSINI, Augusto Eduardo de Souza. Informática, telemática e direito penal. São Paulo: Memória Jurídica, 2004.
12
CRESPO, Marcelo Xavier de F. Crimes digitais. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 20.
13
FIORILLO, Celso Antônio, P. e Christiany Pegorari Conte. Crimes no meio ambiente digital. 2 ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2016, p. 81.
2

Os principais sujeitos ativos desses atos ilícitos, podem ser conhecidos como haters. Os
“haters”, em português “odiadores”. são indivíduos que fazem comentários, interações e ações
críticas de forma ofensiva, a fim atingir outro usuário. Eles ridicularizaram alguém ou algum tipo
de conteúdo, por meio de comentários, direct messages e dentre outros recursos para tal fim.
São usuários como quaisquer outros, no entanto se distinguem apenas pelo característico
discurso ódio. São pessoas que usam da liberdade e, geralmente, da capacidade de permanecer
anônimo, sem dimensionar ou dar importância para o impacto dos ataques na vida do ofendido.
Os principais alvos dos haters são pessoas que têm certo destaque na mídia, isto é, atores,
cantores, influenciadores digitais ou qualquer um que tenha relevância no meio digital, que, para
além da crítica construtiva, recebem ataques massivos quanto ao trabalho, aspectos físicos e
pessoais.
De forma indiscriminada, esses indivíduos são capazes de cometer qualquer ato
reprovável, seja calúnia, difamação, injúria, injúria racial, racismo, LGBTfobia, misoginia,
xenofobia, capacitismo, intolerância religiosa, body shaming (ridicularização do corpo alheio) e
até mesmo o crime de ameaça.
Esses crimes de ódio, que são direcionados a um determinado grupo social, atentam
contra a dignidade humana e aferta toda a sociedade, produzindo graves efeitos não somente as
vítimas, mas a todo o grupo que pertencem a este grupo social.
Esses ataques, normalmente e lamentavelmente geram inúmeras consequências àquele
que o sofreu, em contrapartida, o agente do ato ilícito se mantém impune, seja pelo fato de as
pessoas não levarem isso adiante ou pensarem que não há como descobrir e punir o agente.
É preciso compreender o que é o exercício da liberdade de manifestação e opinião, ainda
mais se tratando de conteúdo publicado na internet que sejam evidentemete ilícitos. Isto se dá
pelo livre exercício de expor seu pensamento que cada um tem, no entanto, exercendo-o de
maneira preconceituosa ou conflituosas com o ordenamento jurídico, estes devem assumir os
resultados de seus atos. O tribunal de Justiça do Amapá, compreende que esses ataques ensejam
em condenações penais:
PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES CONTRA
A HONRA. INJÚRIA. DELITO CARACTERIZADO. OFENSAS PROFERIDAS
PELAS REDES SOCIAIS. CONDENAÇÃO MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E
NÃO PROVIDO. 1) Das provas existentes nos autos, especificamente, os prints de
conversas via Whatsapp, comprovam que a querelante ofendeu a honra da querelada,
mediante a utilização de palavras negativas, imorais e de cunho depreciativo à honra e
dignidade, caracterizando-se assim o animus injuriandi a configurar a prática do tipo
penal
2

do art. 140, do CP. 2) Não comprovando-se nos autos a ocorrência de provocação do


ofendido e retorsão imediata, deve ser mantida a sentença condenatória. 3) Apelo
improvido.14

3.3.1. Racismo

Um dos crimes mais comuns praticados na internet é o racismo, criminalizado pela Lei nº
7.716/89, art. 20 e no § 1º, que prevê:
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou procedência nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos,
distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de
divulgação do nazismo.
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

O crime de racismo é dirigido a um grupo e deve carregar consigo ataques de cunho


racial, étnica e religiosa, é um crime inafiançável. Quando aspectos raciais, étnicos, religiosos, ou
contra idosos ou portadores de deficiência são utilizados, é uma lesão preconceituosa, podendo a
pena se equiparar a do homicídio culposo.
A injúria é um de dano racial que se caracteriza no ataque da honra de certa pessoa.
Quando acontece o crime contra raça, cor, etnia, religião ou origem, percebe-se o dano racial, que
é punível com reclusão de um a três (3) anos.
O Código Penal tipifica tal conduta no artigo 140, §3°. A honra pode ser objetiva ou
subjetiva. A honra subjetiva é nada mais que a perspectiva individual que alguém tem de si. Já a
objetiva, é a visão que o meio social tem sobre certa pessoa. Além da exteriorização da injuria, é
imprescindível a presença do dolo. Ela é um delito formal, que prescinde consumação para ser
enquedar-se em fato típico e ilícito.
Sendo assim, o crime de dano racial ou vinculado a algum tipo de discriminação é
tipificado no artigo 140 do Código Penal, e carrega uma qualificadora, conforme, parágrafo
terceiro do artigo:
§3º: Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião,
origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada pela
Lei nº 10.741, de 2003).
Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei nº 9.459/97).

TJ AP APELAÇÃO: APL 0022175-34.2017.8.03.0001 AP. Órgão Julgador: Turma Recursal. Relator: Mário
14

Mazurek. Julgamento: 25/04/2019.


2

Não obstante, as ofensas proferidas por meio da Internet, meio que facilita a divulgação, a
pena será aumentada de um terço, conforme dispõe a agravante do artigo 141, inciso III, do CP.
Então, a partir do momento que se diz algo ou se faz uma publicação na internet, o
conteúdo pode atingir diretamente alguém ou inúmeras pessoas, onde os resultados não
dependem da intenção do usuário das redes. Neste mesmo sentido, este é o entendimento do
Supremo Tribunal Federal:
Crimes contra a honra praticados pela internet são formais, consumando-se no momento
da disponibilização do conteúdo ofensivo no espaço virtual, por força da imediata
potencialidade de visualização por terceiros' (CC 173.458/SC, Rel. Ministro João Otávio
de Noronha, Terceira Seção, DJe 27/11/2020).15

3.3.2. Fake News

A internet possibilita que informações e notícias se espalhem com muita rapidez, ainda, as
redes sociais aceleraram ainda mais esse processo e dão proporções enormes para esse tipo de
conteúdo. Em contrapartida, esse ambiente tornou-se favorável para a também rápida divulgação
das notícias falsas. Em decorrência disso, as pessoas já não verificam as fontes e veracidade das
informações disponíveis na internet. Assim que publicado, um conteúdo é instantaneamente
compartilhamentos por inúmeras pessoas, sem nem a origem daquela notícia.
O termo fake news ganhou muito destaque nas páginas dos jornais e em toda a internet
nos últimos anos. A expressão vem do inglês, fake (falsa/falso) e news (notícias), ou seja, notícias
falsas. Fake News são as informações falsas que repercutem como se fosse uma grande verdade.
Uma fake news eficaz transforma seu conteúdo em fato social, isto é, toda forma de ação,
reação, os fundamentos dos valores morais e sociais se transformam a partir daquela mentira que
se tornou a nova realidade daquele indivíduo. Quando um indivíduo é influenciado e compartilha
tais notícias, pode estar praticando algum delito, a título de exemplo, aquela notícia falsa e
difamatória que é compartilhada pelo sujeito, este poderá incorrer em sanções penais.
No ordenamento jurídico brasileiro ainda não existe tipo penal específico, no entanto,
o Código Penal prevê em a partir de seu art. 138 os crimes contra a honra, que podem ser
aplicados conforme a circunstância.

15
STF - HC: 591.218/SC. Órgão Julgador: Quinta Turma. Relator: Joel Ilan Paciornik. Data de Julgamento:
09/02/2021. Data da Publicação: 12/02/2021.
2

Existem alguns Projetos de Lei que tramitam no Congresso Nacional, dentre eles o PL Nº
473/2017, que tem o intuito de acrescentar ao Código Penal, o art. 287-A, que é a tipificação de
divulgação de notícia que sabe ser falsa e que possa distorcer, alterar ou corromper a verdade
sobre informações relacionadas à saúde, à segurança pública, à economia nacional, ao processo
eleitoral ou que afetem interesse público. Pena de detenção de 01 (um) a 03 (três) anos e multa.
Outrossim, a Lei nº 13.834 de 04 de junho de 2019, introduziu o artigo 326-A no Código
Eleitoral, que versa sobre a tipificação da denunciação criminosa na esfera, que da causa à
instauração de investigação policial, de processo judicial, de investigação administrativa, de
inquérito civil ou ação de improbidade administrativa, ao atribuir a alguém a prática de crime ou
ato infracional de que o sabe inocente, com finalidade eleitoral, tendo como consequência pena
de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.

3.4. Efeitos dos crimes contra a honra

As consequências dos crimes cibernéticos são consideráveis, pois geram danos


imensuráveis para a vítima, bem como infortúnios para a segurança dos sistemas de informações
e banco de dados como um todo. Sobre isso, Christiany Pegorari e Celso Fiorillo (2016, p. 81)
argumentam:
[...] devido às características de persistência ou permanência das informações na rede e
de replicabilidade dos conteúdos, ocasionando, muitas vezes, danos irreparáveis ou de
difícil superação pelo ofendido. Dessa forma, os recursos tecnológicos potencializam a
prática dessas condutas e tornam a vítima ainda mais vulnerável e desprotegida,
interferindo nas suas relações pessoais, familiares e profissionais.16

Crimes virtuais são rotineiros nas redes sociais, como por exemplo no Instagram, Twitter
e dentre outros. Ao passo que, o ambiente digital é um aliado para muitas áreas, as pessoas
prenderam-se a ele.
A partir daí, as redes sociais criaram raízes sólidas no dia a dia de todos, vindo a ser um
meio de trabalho, entretenimento, distração nas horas vagas e conexão com pessoas que
anteriormente seria impossível interagir instantaneamente.

FIORILLO, Celso Antônio, P. e Christiany Pegorari Conte. Crimes no meio ambiente digital. 2 ed. São Paulo:
16

Editora Saraiva, 2016, p. 81.


2

Por conseguinte, há uma onda de agressões, abusos e violências muito maior no âmbito
digital, com comentários propositais e desnecessários, a fim de expor pensamentos e sentimentos.
Toda esta onda gera consequências psicossociais aos usuários, ainda que não haja o contato
físico. Os usuários entendem este âmbito como um lugar de direito, mas é necessário entender
que intimidar, ofender, apontar o dedo, está longe de ser uma posição de direito amparado
legalmente.
Pessoas se tornaram vítimas desses ataques, disfarçados de liberdade expressão, por terem seus
perfis públicos ou serem pessoas que têm influência e visibilidade no meio digital.
Essas pessoas públicas com mais visibilidade, também conhecidas como digitais
influencers, podem entrar na onda da cultura do cancelamento, que é uma prática atualmente
muito usada, que proporciona debates sobre racismo, preconceitos com determinadas classes
sociais, xenofobia, homofobia, falas e atitudes controversas, a fim de trazer uma reflexão sobre os
erros que envolvem essas questões supracitadas, mas mora na linha tênue entre a reflexão e a
prática de crimes virtuais, relacionados a honra.
No que cerne as Fake News, percebe-se que é um grande e preocupante sintoma de um
cenário educacional que é repleto de falhas. O déficit no entendimento básico relacionado a
política, economia, e todo sistema social, fazerem com que milhares de cidadãos deem
credibilidade a notícias inverossímeis.
À face do exposto, há a construção de uma sociedade sem o mínimo de senso crítico,
inclinada a acreditar fielmente em figuras de autoridade religiosas e políticas, que ostentam um
alto nível de influência. Ademais, a falta de estímulo ao questionamento, incapacita a análise de
uma notícia falsa.
Destarte, compreende-se ser um problema estrutural e duradouro. Por conseguinte,
as consequências das Fake News e sua disseminação é espantoso, pois tem grande influência no
âmbito social, político, econômico, pessoal, psicológicos e muitas outras áreas que envolvem a
sociedade como um todo.
Uma coletividade que é refém das mentiras que não consegue discernir acaba fazendo
escolhas controversas, tanto para sua vida pessoal ou escolhas políticas que envolvam toda uma
sociedade. Ainda, existe o grave risco de incorrer em injustiça, replicando difamações, injúrias e
principalmente e mais preocupante, reproduzir calúnias, que podem gerar repercussões na vida
pessoal, profissional e social das vítimas da informação falsa.
2

Na internet, os atos têm um rápido e abrangente alcance, fazendo com que se potencialize,
publicize, ou pior, normalize o crime, atingindo ainda mais a vítima, que terá sua vida exposta ou
ultrajada pelo autor do delito. Sobre este aspecto, Tarcisio Teixeira (2020, p. 216) disserta:
Crimes contra a honra, quando são praticados em ambiente virtual, como é a internet,
podem provocar às vítimas danos em extensão bem maior do que se praticados nas vias
ordinárias da vida real. Isso porque uma informação circulando na rede e/ou colocada em
comunidades virtuais (redes sociais) alcança um número ilimitado de pessoas, uma vez
que houve uma ampliação do espaço “público” por onde os efeitos do crime poderiam
percorrer.17

Esses ataques massivos podem geram transtornos mentais, como por exemplo ansiedade,
depressão, dentre outros, o que pode levar alguém cometer suicídio, em casos mais graves. A
agressividade é colossal, levando as pessoas a viverem com medo e supercautelosas, ao
expressarem qualquer opinião que gere ataques ou cancelamentos.
É importante destacar que a discussão gira em torno de ataques gratuitos ou de reações
escalonadas sobre uma circunstância branda e reparável, ainda que controversa. No entanto, no
tange temas importantes como misoginia, LGBTfobia, racismo, xenofobia e muitas outras pautas
sociais, é quase que inevitável uma reação popular comedida e leve, quando se faz uma
publicação neste sentido, tendo sim, que haver responsabilidades na medida do ato, mas sendo
sempre importante pontuar que há diferença entre erro e crime.
É necessário entender o que é a luta em prol de causas importantes, que tem por objetivo
denunciar a impunidade e normalização de atitudes preconceituosas, bem como o visar o
progresso social, no entanto, é preciso distinguir do que é o uso arbitrário e banal desses temas,
que geram ataques e ofensas de forma inoportuna.
Sendo assim, o abuso do direito de se manifestar geram os ataques gratuitos, propagação
da intolerância e discurso de ódio contra minorias, linchamento virtual, que abalam a vida
profissional, o prestígio social, a saúde mental e até mesmo a perspectiva que cada um tem si.
Assim como a notícia falsa, que carrega consigo resultados inofensivos, ou mais “leves” que
produzem engajamento e compartilhamento nas redes, mas também resultados severos como
agressões físicas e psicológicas contra pessoas inocentes.

17
TEIXEIRA, Tarcisio. Direito Digital e Processo Eletrônico. 5 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2020, p. 216.
2

4. RESPONSABILIDADE CIVIL NA INTERNET

4.1 Noções de Responsabilidade Civil

Todo e qualquer ato que afeta e traga prejuízos a outro ocasiona certo infortúnio. Esse ato
lesivo pode prejudicar de forma material e moral, desse modo, o autor do ato que causa dano
deve reparar o mal causado, tendo em vista o retorno da harmonia social. Esse dever de reparação
nos remete ao sentido de responsabilidade, assim dizendo, o dever de assumir e tomar a se
responsabilidade para si.
Com a concepção do que é a coexistência de costumes e condutas sociais, foram
estabelecidas normas que trazem consigo direitos e deveres. Na violação do direito alheio, por
meio de uma conduta ilícita, que acarretam danos materiais ou morais, cabe ao autor do dano
lidar com os deveres que agora vigoram neste Estado de Direito, que dá origem e conceito a
Responsabilidade Civil.
2

Flávio Tartuce (2021, p. 69) trazem o entendimento de Álvaro Villaça Azevedo, que
defende que a responsabilidade civil é o quando o devedor deixa de cumprir um princípio
estabelecido em contrato, ou deixa de considerar o ordenamento jurídico que regulamenta a vida,
assim dizendo, é o dever de reparar ou indenizar o dano decorrente do descumprimento de algo
estabelecido em sociedade.18
O código civil estabelece em seu art. 186 que: “aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imperícia, violar direito ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o
dano.”
O ato ilícito é a violação à lei ou contrato, ato ou omissão material, logo, delito civil ou
criminal. Deste ato antijurídico, dá-se a responsabilidade ao agente que o praticou, então, a
responsabilidade é uma consequência da realização do ato antijurídico. A responsabilização pode
ser imposta em decorrência de violação da lei, ou contratual, quando surge da celebração entre as
partes.
Basicamente, a responsabilidade consiste na obrigação de dar, fazer ou deixar de fazer,
ressarcir, reparar as eventuais lesões, suportar sanções penais, ou seja, é sempre a obrigação de
responder por algo que fez ou deixou de fazer.
Quando a responsabilidade sucede de ato próprio, pode ser chamada de responsabilidade
direta, já quando sucede de ato alheio a sua vontade, porém, de alguma forma é sobre algo que
está sob sua proteção, esta é a responsabilidade indireta. Então, é possível dizer que
responsabilidade civil é a obrigação de reparar dano, originado por ato do próprio agente (direta)
ou ato sob sua tutela (indireta).
A responsabilidade pode ser subjetiva, que é a soma da conduta, dano, nexo causal e culpa
do agente. Dessa forma, o agente do dano só terá o dever de indenizar a vítima se a culpa restar
configurada.
A regra é o uso da responsabilidade subjetiva, com comprovação de culpa. O código civil
adota esta responsabilidade como regra, sendo esta definida nos artigos 186 e 187:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.

18
TARTUCE, Flávio. Responsabilidade Civil. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 69.
3

Existe também, a responsabilidade objetiva, que independentemente da comprovação de


dolo ou culpa, configura-se o dever de indenizar, importando, apenas, que haja o nexo causal
daquela atividade com o objetivo atingido. Esta responsabilidade é mais vigente nas relações do
Código de Defesa do Consumidor.
A responsabilidade objetiva é adotada como exceção no Código Civil, como pode ser
visto no art. 927, Parágrafo único: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”
Ainda, Tartuce (2021) compreende que existem quatro elementos da responsabilidade
civil extracontratual ou do dever de indenização, sendo eles a conduta humana, culpa genérica em
sentido amplo ou lato sensu, nexo de causalidade e dano ou prejuízo. A conduta humana e a culpa
lato sensu são os seus elementos subjetivos. O nexo é o elemento imaterial. O dano é o elemento
objetivo da responsabilidade civil.19
Sendo assim, entende-se que os elementos constitutivos da responsabilidade civil devem
de estar presentes para a configuração do que é o dever de indenizar.

4.2. Elementos constitutivos da Responsabilidade Civil

4.2.1. Conduta

Para caracterizar-se responsabilidade civil, é imprescindível que haja uma conduta,


podendo ser um comportamento humano, comissivo, que é aquela que envolto um ato, uma ação
do agente, que acaba por violar algum de ver jurídico, ou omissivo, que deixa de agir diante do
dever de ação imposto pela norma.
A conduta também se caracteriza pela forma, voluntária ou imputável, excluindo-se todo e
qualquer evento natural. A conduta é voluntária, quando praticada com consciência e por
espontânea vontade, livre de coação absoluta. É imputável, a ato pode ser atribuído ao agente,
que precisa ter o discernimento e vontade para a prática.

19
TARTUCE, Flávio. Responsabilidade Civil. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 259.
3

Ainda, no que tange a conduta, é conveniente ressaltar que o ordenamento jurídico


disciplina a responsabilidade civil como ato próprio, ou seja, direta, bem como reconhece a
responsabilidade civil indireta, que se dá por ato de terceiro ou por animal. A responsabilidade
indireta está disciplinada do artigo 932 ao 938 do Código Civil.
No contexto do tema, na prática, a conduta seria a publicação do conteúdo na internet ou
até mesmo a falta de cautela na hora de divulgação deste, bem como o compartilhamento do
conteúdo ilícito, que geram danos ao ofendido, além de uma possível repercussão.

4.2.2. Culpa

A culpa está diretamente ligada a conduta do lesante, ponderada como um valor social
reprovável. Neste elemento, a culpa é fundamental para que ocorra a responsabilização, que é
conhecida como subjetiva, que depende do sujeito e de suas ações para a configuração do dano.
Divergente ao Direito Penal, onde a culpa é considerada para a fixação da sanção, no
Direito Civil, a sanção não está ligada a culpa, mas sim à extensão do dano. Então, para fins de
indenização, não é necessária a aferição do grau de culpa, havendo culpa a reparação do dano é
obrigatória.
No geral, a responsabilidade civil subjetiva é a regra no Direito Civil. Sendo assim, o ato
passível de reprovação, é requisito para configuração do ato ilícito, tendo então, a classificação
da culpa em lato sensu e stricto sensu.
A culpa lato sensu se desenvolve em dolo e culpa. Nessa perspectiva, dolo é a intenção de
cometer o ato, ou seja, é a quebra intencional do dever jurídico imposto pelo ordenamento, que
pode ser dividida em dolo direto, necessário e eventual, não sendo oportuno conceituá-los neste
trabalho.
A culpa stricto sensu é a modalidade de culpa, quando falta a vontade da prática do ilícito.
Ela nasce na falta de cuidado, zelo, que, não intencionalmente, ocasiona um ato ilícito. Ela pode
ser dividida em negligência, imprudência e imperícia, podendo também, consistir em uma ação
ou omissão.

4.2.3. Dano
3

O dano é uma condição fundamental da responsabilidade civil, devendo haver lesão


moral, física, aos bens ou direitos deste. Especifica-se que não é qualquer dano que justifica a
responsabilidade, mas sim o dano injusto, não incluindo os danos legalmente aceitáveis.
Alguns requisitos devem existir para considerar o dano, a saber: atualidade que é são
danos que já ocorreram. Certeza, que são direitos baseados em fatos, não em suposições.
subsistência é dizer que o dano que foi reparado não será compensado.
O dano patrimonial afeta diretamente o patrimônio do ofendido, que sofre perdas ou
danos em seus bens. O dano moral afeta os direitos de personalidade de alguém, isto é, a honra e
a imagem.
Quanto ao tema, deve-se analisar que o dano decorrente da divulgação de um conteúdo
ilícito na Internet, está ligado ao grau de difusão que a publicação venha a ter. É um universo em
que a troca de informações entre os usuários é muito grande, seja por meio de imagens, vídeos e
conteúdos diversos, que podem resultar em fatos típicos a serem analisados, para mensurar os
danos efetivamente causados.

4.2.4. Nexo de causalidade

Silvio Venosa (2022, p. 401) conceitua o nexo de causalidade:


É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal
que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. A
responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a
vítima, que experimentou um dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso
ao responsável, não há como ser ressarcida.20

O nexo de causalidade é o vínculo entre a causa e resultado no tocante à conduta do


indivíduo e a lesão sofrida. É possível o acontecimento de causas supervenientes, chamadas
concausas. Ainda, o art. 942 do CC explica a solidariedade entre todos os que concorram para o
resultado danoso.
Então, somente haverá obrigação de reparar o dano, se da conduta omissiva ou comissiva,
se restar comprovado que existiu o resultado de dano, pois o nexo de causal é elemento
fundamental

20
VENOSA, Sílvio de S. Direito Civil - Obrigações e Responsabilidade Civil - Vol. 2. 22. ed. – Barueri: Atlas,
2022, p. 401.
3

para atribuir o resultado danoso, a extensão do dano causado e o quanto se deve indenizar, a
determinado indivíduo.
No tocante ao tema, é importante analisar o nexo de causalidade entre o usuário que
divulga o conteúdo ilícito na Internet e comete o ato ilícito e, consequentemente, a vítima que se
depara com um dano causado por essa difusão.
Nessa perspectiva, é inquestionável que esse usuário que publicou o conteúdo ilícito, deve
ser responsabilizado pelos eventuais danos que sobrevém desse ato
Fato é que, tendo ou não grande repercussão do conteúdo, se o agente não tivesse
divulgado tais informações, imagens, vídeos, entre outros, na internet, toda a situação não teria
ocorrido e, dessa forma, a vítima não teria se deparado com danos indesejáveis.
Necessário é observar, que aquele ato que é culpa exclusiva da vítima, de terceiro, bem
como os casos fortuitos ou de força maior, as cláusulas de não indenizar e as excludentes de
ilicitude, afastam o nexo causal.

4.3. Danos morais na internet

Não existem dúvidas de que as redes sociais devem ser vistas como extensões das
relações sociais físicas, assim dizendo, este universo cibernético não deve ser tido como algo
paralelo, mas sim como um lugar de conexão interpessoal real, que é usufruído a fim de
trabalhar, ter lazer, comprar e se comunicar, de fato, uma extensão da vida.
O Art. 7º, inciso I, do Marco Civil da Internet garante que o acesso à internet é essencial
ao exercício da cidadania, e ao usuário é assegurada a inviolabilidade da intimidade e da vida
privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
As violações aos direitos da personalidade neste âmbito, é a divulgação de fotos, imagens
e sons sem autorização, bem como ataque diretos a honra com publicações de cunho ofensivo,
injurioso, calunioso ou difamatório.
Desafortunadamente, esta situação tem sido normalizada, tornando-se cada vez mais
comum. A internet tem se tornando uma vitrine de exposição, onde as pessoas expelem suas
insatisfações, mágoas, espalhando ódio, pré-conceitos e discriminações, não havendo qualquer
reflexão quanto a extensão dos ataques àqueles que serão atingidos ou os possíveis danos que
serão desencadeados.
3

Fato é, que o dano moral pode se dar tanto no mundo físico, quando no mundo virtual.
Embora exista a ilusão de que não existem consequências e que não há limite à liberdade, as
implicações são bem reais e até mais graves, tendo em vista, um delito praticado numa rede
social ter muito mais visibilidade e de rápida repercussão, que podem chegar a pessoas de todo e
qualquer lugar possível. Neste sentido, insta trazer o entendimento do Tribunal de Justiça de São
Paulo:
ACÓRDÃO RECURSO INOMINADO - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS –
OFENSAS IRROGADAS POR MEIO DE REDE SOCIAL (FACEBOOK) - EXCESSO
VERBAL QUE EXTRAPOLA DIREITO A LIBERDADE DE EXPRESSA - OFENSA
A HONRA CONFIGURADA - Comentários ofensivos inseridos pelo recorrente junto à
rede social denominada "Facebook", ocasionando abalo à imagem e honra dos
recorridos. Excesso verificado. Fatos incontroversos. Conduta que extrapolaram os
limites da liberdade de expressão, violando o direito à honra e à intimidade do indivíduo
- Dano moral configurado. Indenização devida - Arbitramento que atendeu aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, bem como as peculiaridades do caso
(R$4.000,00. Sentença mantida pelos próprios fundamentos. Recurso improvido.21

É possível compreender, que o principal meio de reparação do dano é por meio da


responsabilização civil. Sendo a indenização pecuniária como a solução mais eficiente pelo dano
acarretado. Este é um modo de punir o agente do delito, atingindo-o patrimonialmente,
objetivando punir e educar, para que não incorra novamente à transgressão. Sobre este tema,
Venosa (2015, p. 54) traz o entendimento:
Acrescentamos que o dano psíquico é modalidade inserida na categoria de danos morais,
para efeitos de indenização. O dano psicológico pressupõe modificação da
personalidade, com sintomas palpáveis, inibições, depressões, síndromes, bloqueios etc.
Evidente que esses danos podem decorrer de conduta praticada por terceiro, por dolo ou
culpa.22

A garantia da reparação por danos morais é pacífica no entendimento doutrinário e


jurisprudencial. Sua importância é evidente, haja vista estar no rol do art. 5 da CF, inciso X, que
assegura o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
A responsabilidade civil determinada ao dano moral que se dá no ambiente virtual, conta
também com os elementos constitutivos, que correspondem a conduta de um agente, isto é, o ato
ilícito, que provoca o dano, existindo aí a ligação da conduta ao resultado danoso. Há então, o
enquadramento da teoria da responsabilidade civil ao instituto do dano moral mesmo que
praticado no âmbito digital, sendo então, absolutamente aplicável.

21
TJ SP Recurso Inominado Cível: RI XXXXX-82.2020.8.26.0032 SP XXXXX- 82.2020.8.26.0032. Órgão Julgador
1ª Câmara Cível. Relator: José Daniel Dinis Gonçalves. Julgamento: 20/08/2020. Publicação: 20/08/2020.
22
VENOSA, Silvio de Salvo, Direito Civil: Responsabilidade Civil. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 54.
3

O dano deve ser avaliado em sua proporção. Dessarte, a reparação deve ser equivalente ao
dano. É o que diz o art. 944 e parágrafo único, do Código Civil:
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano,
poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

Deve ser levada em consideração para o arbitramento do valor indenizatório, a


repercussão do conteúdo ilícito na Internet, mas não deve ser um critério absoluto. É importante
considerar os meios usados para a divulgação do conteúdo, a linguagem e até mesmo a
popularidade da página ou site em que o conteúdo foi publicado.
No entanto, o agente dever ser responsabilizado pelos atos praticados na internet
independente da forma de utilização, podendo ser por meio das redes sociais, em troca de e-mails
ou de arquivos, transações comerciais, inclusive curtidas ou compartilhamento.
Vale ressaltar que a divulgação de conteúdo ilícito em rede de comunicação que são
acessados por grupos sociais próximos da vítima, pode causar danos maiores do que se tivesse
sido publicado em algum site de maior alcance, no entanto, acessado por pessoas desconhecidas.
O ordenamento jurídico valida que a indenização deve ser medida pela abrangência de seu
dano. Assim dizendo, a indenização determinada não pode ser feita em quantia inferior ao dano
sofrido, tendo em vista o perigo de não ter reparação que é devida a vítima, mas neste sentido, o
valor da reparação não pode exceder ao direito pretendido, na iminência de tornar-se um
enriquecimento sem causa.

5. PROVEDORES DE CONEXÃO E DE APLICAÇÃO DE INTERNET

5.1. Breves noções

O Marco Civil da Internet é uma lei que tem por objetivo a regulamentação do acesso à
Internet no Brasil, como também suas consequências. Ela colocou o país no acerca dos direitos na
área virtual, elaborada a fim de assegurar a liberdade de expressão, bem como e a neutralidade da
rede.
As relações obrigacionais definidas na Internet englobam três sujeitos fundamentais: a
vítima, o ofensor e os provedores de internet, que disponibilizam os meios necessários para a
prática dos ilícitos
3

A responsabilidade pertencente a Lei do Marco Civil da Internet choca com um dos


principais direitos por ela garantida, a garantia da liberdade de expressão, que é garantida pelos
mecanismos do âmbito digital.
A partir daí, é possível conceituar o provedor de serviços de Internet como a pessoa
jurídica que fornece serviços relacionados ao funcionamento da Internet, ou por meio dela.
Diante disso, sabe-se que o provedor de Internet pode ser todo aquele que proporciona direta ou
indiretamente, mecanismos para manter os usuários conectados à rede mundial de computadores.
São os provedores de serviço que instauram a conexão entre os internautas e o meio digital.
Os usuários da internet precisam observar seus deveres de boa convivência na rede, neste
sentido, os provedores também possuem deveres imprescindíveis às suas atividades, como por
exemplo o uso das tecnologias apropriadas a fim de resolver possíveis conflitos, armazenamento
e manutenção de dados por tempo determinado, manter em sigilo os dados dos usuários.

5.2. A responsabilidade civil dos provedores de conexão e de aplicação de internet

O Marco Civil da Internet dispõe sobre princípios, garantias, direitos e deveres para o
funcionamento da internet no Brasil, isto é, veio para normatizar não só a atuação do Estado, mas
também utilização da internet no país.

Nos artigos 18 e 19 desta lei, prevê a sobre a responsabilidade dos provedores de conexão
e de aplicação de internet em relação aos prejuízos gerados em consequência dos conteúdos
ilícitos difundidos por terceiros. Os artigos estabelecem:
Art. 18. O provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por
danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros.
Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o
provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por
danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica,
não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro
do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente,
ressalvadas as disposições legais em contrário.
§ 1º A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade,
identificação clara e específica do conteúdo apontado como infringente, que permita a
localização inequívoca do material.
§ 2º A aplicação do disposto neste artigo para infrações a direitos de autor ou a direitos
conexos depende de previsão legal específica, que deverá respeitar a liberdade de
expressão e demais garantias previstas no art. 5º da Constituição Federal.
3

§ 3º As causas que versem sobre ressarcimento por danos decorrentes de conteúdos


disponibilizados na internet relacionados à honra, à reputação ou a direitos de
personalidade, bem como sobre a indisponibilização desses conteúdos por provedores de
aplicações de internet, poderão ser apresentadas perante os juizados especiais.
§ 4º O juiz, inclusive no procedimento previsto no § 3º, poderá antecipar, total ou
parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, existindo prova
inequívoca do fato e considerado o interesse da coletividade na disponibilização do
conteúdo na internet, desde que presentes os requisitos de verossimilhança da alegação
do autor e de fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação

Com base no entendimento dos artigos transcritos, percebe-se que o Marco Civil da
Internet prevê que os provedores de conexão estão plenamente alheios à responsabilidade a
respeito do conteúdo publicado por terceiros. Então, a retirada deste conteúdo só acontece se
causado algum um dano, como por exemplo a ofensa à honra, reputação ou aos direitos de
personalidade. A este respeito, Tarcisio Teixeira (2020, p. 45) explana:
Como visto, a retirada de conteúdo somente deve se dar por determinação judicial, até
porque, se isso coubesse ao provedor, discricionariamente, ele poderia ser acusado de
censura quanto à liberdade de expressão alheia. Assim, somente a Justiça, mediante
provocação do interessado, é quem poderá avaliar se certo conteúdo (produzido em
razão
do exercício da liberdade de expressão) é prejudicial ou não a outrem.23

A responsabilidade do provedor só há de ser configurada em decorrência da


desobediência de ordem judicial que ordena a remoção do conteúdo indicado. Importante
destacar que, os conteúdos que contêm cenas de atos sexuais ou nudez, são exceção, que dispensa
a análise do poder judiciário, conforme prevê o art. 21 da lei:
Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por
terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente
da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros
materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado quando, após o
recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal, deixar de
promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a
indisponibilização desse conteúdo.

Sobre este tema, Carlos Afonso e Ronaldo Lemos (2016), trazem alguns entendimentos,
como por exemplo a não responsabilização dos provedores pelas condutas de seus usuários, a
responsabilidade objetiva do provedor, com base na teoria do risco, adotada pelo Código Civil a
responsabilidade subjetiva, sendo a responsabilização por conta da não retirada do conteúdo

23
TEIXEIRA, Tarcisio. Direito Digital e Processo Eletrônico. 5 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2020, p. 45.
3

apontado como danoso após o provedor tomar ciência deste, ou seja, o descumprimento de ordem
judicial.24
Sobre esse aspecto, na Apelação feita no processo nº XXXX-45.2020.8.19.006725, o
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu que o provedor de aplicações da internet somente
será responsabilizado por conteúdo publicado por terceiros mediante descumprimento de ordem
judicial específica, sendo assim, não é possível pleitear indenização por danos morais das
plataformas por conteúdo publicado, sem que haja determinação judicial prévia para a remoção
do conteúdo.
No entanto, ainda existe uma discordância entre os ministros do STJ. Nos casos que
envolvem publicações ofensivas nas redes sociais, há magistrados que entendem que não existe a
responsabilidade do provedor pela ofensa ali publicada, como por exemplo no Recurso Especial
REsp 1.306.06626. Na contramão, outros entendem existe, sim, a responsabilidade, pois a rede
social não forneceu mecanismos eficazes para controlar abusos (AREsp 121.496)27.
Em tese, o Marco Civil da Internet considera a responsabilidade subjetiva, configurando-
se o ato ilícito mediante descumprimento de ordem judicial que determine a remoção do
conteúdo.
Portanto, não será o provedor responsabilizado solidariamente por danos causados. Pois,
não cabe a este o juízo de valor a respeito da ilicitude do conteúdo publicado, que tem por fim
não censurar previamente conteúdo disponibilizado na rede.

6. A REGULAMENTAÇÃO DA INTERNET NO BRASIL

6.1. Direito Digital no Brasil

O ordenamento jurídico tem por fim regulamentar as relações humanas, assegurando uma
organização da sociedade, para que as pessoas consigam conviver pacificamente. Com o passar

24
SOUZA, Carlos Afonso; LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet: construção e aplicação. Juiz de Fora. Editar.
2016, p 69-70.
25
TJ RJ APELAÇÃO: XXXXX-45.2020.8.19.0067. Órgão Julgador 20ª Câmara Cível. Relator: Ricardo Alberto
Pereira. Julgamento: 21/08/2021. Publicação: 27/10/2021
26
STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp 1306066 MT 2011/0127121-0. Órgão Julgador: Terceira Turma. Relator:
Sidnei Beneti. Data de Julgamento: 17/04/2012. Data da Publicação: 02/05/2012.
27
STJ - DESIS no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL: DESIS no AREsp 121496 GO 2011/0282524-5. Relator:
Marco Buzzi. Data da Publicação: 25/05/2015.
3

dos anos, esta regulamentação se desenvolve e ganha forma conforme o tempo. Antigamente, as
pessoas se baseavam em costumes e tradições, que passavam de geração em geração. A evolução
foi e é gradativa, até chegarmos na legislação atual, que é aprofundada, complexa e específica.
A Constituição Federal de 1988, estabelece garantias fundamentais aos cidadãos. Esses
direitos devem ser respeitados em todas as esferas, assim como no âmbito digital. Desta forma, o
Art. 5º, prevê o direito à igualdade, direito à livre manifestação de pensamento, liberdade de
consciência e de crença e o direito à privacidade, intimidade e honra. Daí, urge o questionamento
da conciliação entre direito à liberdade de expressão e o direito à intimidade.
É a partir deste questionamento o direito digital se desenvolve, observando a relação entre
as pessoas a tecnologia e criando normas este equilíbrio. O Direito Digital é uma área nova para o
ordenamento jurídico, sendo apenas algumas as leis que já são aplicadas no Brasil, vindo suprir a
necessidade de regulamentação das ações neste meio, sobretudo, com o exponencial crescimento
do crime na internet, como por exemplo os discursos de ódio, crimes contra a honra, pornografia
infantil, roubo de dados, dentre outras problemáticas.
A Lei Carolina Dieckmann (Lei nº 12.737/12), foi uma das que encabeçou a normatização
da internet no Brasil. A atriz Carolina Dieckmann teve fotos e conversas íntimas vazadas e
compartilhadas na internet após o retorno de seu celular do conserto técnico, dando origem ao
nome desta lei.
A partir de então, o Código Penal reconheceu como crimes os ilícitos informáticos, como
por exemplo, a invasão de aparelhos eletrônicos, roubo de dados, interrupção de serviços digitais,
e muitos outros atos.
O Marco Civil da Internet, Lei nº 12.965/14, foi uma fundamental decisão, para a
normatização do uso de todo âmbito digital. Também foi imprescindível para a introdução de
regras para a atuação do Estado.
Esta lei pretende proteger direitos como a liberdade de expressão, privacidade e
neutralidade no meio digital, além de regulamentar o uso da internet no Brasil. Foca em direitos e
deveres imprescindíveis a todos os usuários que têm acesso a este meio digital e assegurar o
efetivo cumprimento das leis.
A Lei Geral de Proteção de Dados, Lei nº 13.709/18, é uma das mais importantes no que
tange este universo. A LGPD visa a proteção de dados pessoais. A lei vale para os dados tratados
4

no Brasil, bem como para os que foram colhidos no país, não importando onde de fato serão
tratados.
Hoje, com esta lei, as empresas têm o dever de se adaptarem a esta regulamentação, com
disposições sobre o colhimento e tratamento de dados, digitais ou não, de outro modo, são
passíveis de multas com valores altos.
Enfim, a Lei nº 14.132, de 2021, sancionada pelo Presidente da República, estabelece
sobre o crime de stalking, que é a perseguição contínua, por qualquer meio, como por exemplo a
internet, pondo em risco a integridade física e psicológica da vítima, intervindo na liberdade e
principalmente na privacidade desta.

6.2 A carência de regulamentação da internet

O ordenamento jurídico tem por fim regulamentar as relações humanas, assegurando uma
organização da sociedade, para que as pessoas consigam conviver pacificamente. Com o passar
dos anos, esta regulamentação se desenvolve e ganha forma conforme o tempo. Antigamente, as
pessoas se baseavam em costumes e tradições, que eram de geração em geração. A evolução foi e
é gradativa, até chegarmos na legislação atual, que é aprofundada, complexa e específica.
É evidente que é impossível que o ordenamento jurídico esteja a par de toda e qualquer
situação, haja vista a sociedade ser multifacetada e ter muitas peculiaridades, bem como ser
dinâmica, com constantes mudanças, sendo difícil acompanhar esta evolução. Mas, de fato, se
existissem leis regulamentando cada detalhe de um ilícito, não seria possível conhecer todas elas.
Todavia, determinadas evoluções precisam ser regulamentadas, tendo em vista sua
relevância social. Como parâmetro, é possível citar a internet, dada conjuntura de sua evolução
histórica e do grande poder influencia que tem.
A comunicação digital não obedece a limites geográficos, tradições regionais e tantas
outras características do relacionamento entre nacionalidade, que estão fortemente presentes na
comunidade internacional. Superar isso será extremamente trabalhoso, inclusive para os países
que encabeçaram essa revolução tecnológica. Desse modo, o crescimento desta comunicação e
interação de informações, podem acarretar violações de direitos que comumente acontecem nas
relações sociais e comerciais das comunidades. Isso revela a necessidade de descobrir um
4

mecanismo jurídico, capaz de atender, administrar e solucionar questões originárias da rede


eletrônica
Não há nenhuma regulamentação específica para tratar dos ilícitos, que são praticados na
rede, sejam civis ou penais, salvo o que diz respeito a direitos autorais, marcas e patentes. Esta é
uma circunstância alarmante, haja vistas o artigo 5°, II, da Constituição assegurar que ninguém
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Essa premissa dá
margem a interpretação de que tudo que não esteja proibido está permitido.
Lothar Michaels e Morlok Martin (2016) entendem que o desenvolvimento tecnológico
coloca o Direito diante de desafios, que trazendo questionamentos quanto a capacidade de
orientação do ordenamento jurídico quanto ao tema.28
Possivelmente, a falta de regulamentação mais específica é aliada à sensação plena do
exercício de liberdade e impunidade que moram nas práticas reprováveis dentro das redes sociais.
Sem a existência de leis, existe o pressuposto de impunidade.
O ordenamento jurídico deve acompanhar esse avanço social, para não ficar obsoleto e
falho. As novidades que a internet trouxe, como por exemplo as redes sociais, necessitam um
mínimo legal para uma efetiva proteção, bem como assegurar as garantias fundamentais inerentes
aos indivíduos, tendo ou não acesso a rede. Sob este aspecto, Marcelo Crespo (2011, p. 34)
disserta:
Apesar de vivermos em tempos de verdadeira intumescência legislativo-
penal, não podemos simplesmente ignorar a nova realidade vivenciada
por uma sociedade que está cada vez mais informatizada e dependente
dos computadores. A Sociedade da Informação é uma realidade
extraordinária, com novos paradigmas relacionados à tecnologia, à ética e
ao Direito.29

Sendo assim, entende-se que existe a necessidade de melhorias na atual legislação, que
não abarca tais situações com a devida profundidade, valendo-se de elementos esparsos de forma
subsidiária, que acarretam decisões não uniformes.
Não havendo uma iminente preocupação dos legisladores, que podem materializar esta
problemática na formulação de leis que qualifique, discrimine e tipifique todo e qualquer ato
ilícito, os delitos praticados na internet continuarão em progressão tal qual o avanço da
tecnologia.

28
MICHAEL, Lothar, e Martin Morlok. Direitos fundamentais. São Paulo: Editora Saraiva, 2016, p. 207.
4
29
CRESPO, Marcelo Xavier de F. Crimes digitais. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 34.
4

Muitos projetos de lei já tentaram regulamentar as relações do ambiente digital em nosso


ordenamento jurídico, muitos tentaram enquadrar práticas ilícitas e atípicas que frequentemente
ocorrem e, por falta de uma legislação especifica, acabam sofrendo sanções.
Tendo em vista a efetivação do jus puniende do Estado, algumas ideias sobre como atuar
diante desses fatos inovadores por meio de muitos projetos de lei, nenhum foi verdadeiramente
desenvolvido e aplicado. A título de exemplo, insta trazer alguns dos projetos que foram
propostos:
O PL 3.493/1997 amplia artigos ao código penal, integrando ao capítulo dos crimes contra
a privacidade a violação da intimidade, por meio de procedimento tecnológico, e abuso da
informática, com a divulgação de dados pessoais alheios, fichário automatizado ou banco de
dados.
Já PL 3.258/1998 ordena sobre atos por meio de redes de informação, caracterizando-se
como crime a divulgação pela internet e demais redes de computadores, materiais pornográficos,
instruções para fabricação de bombas caseiras e textos que instigam e viabilizam o acesso a
drogas ilegais.
No PL 137/00, apresentado pelo senador Leomar Quintanilha, determina nova pena aos
crimes praticados com o proveito de meios de tecnologia de informação e telecomunicações.
Por fim, o PL 5460/01, modifica os artigos 240 e 241 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, incluindo como crime a produção de atividade fotográfica ou de qualquer outro
meio visual, colocando adolescente em cena de sexo explicito ou simulado, sendo a vítima
criança, a pena é agravada.
Então, variados projetos de lei são criados, todavia, somente haverá uma completa
efetivação da prevenção aos crimes e punição deles, se os projetos forem de fato transformados
em lei, construindo um meio de combater essas práticas que se refugiam na defasagem do
ordenamento jurídico.
A internet traz muito impasse por conta da falta de personalização, pois não é coisa
material, gira em torno de sua própria rede, desta forma, é difícil regulamentar e punir indivíduos
criminosos que atuam dentro desse âmbito.
Enfim, a internet é dinâmica, é um contexto de todos que está em formação, sendo assim,
imprescinde regulamentação, tanto nacional bem como no âmbito internacional, os países devem
pensar sobre essa problemática com mais eficiência, a fim de precaver a perda do controle e para
que a internet, de fato, não ser torne “terra de ninguém”.
4

CONCLUSÃO

Feitas considerações sobre o princípio fundamental da liberdade de expressão, e o


possível conflito com os direitos de personalidade, o modo de funcionamento na Internet e sua
influência nesse embate, e como a se dá responsabilidade criminal e civil dos usuários que
divulgam conteúdos ilícitos na rede, e por fim, a carência do ordenamento jurídico para
regulamentação mias específica da internet, necessário se torna concluir.
Desse modo, a priori, verificou-se que a sociedade brasileira tem o direito de dispor da
Liberdade de Expressão, garantida pela Constituição Federal de 1988, por meio do art. 5º, inciso
IX, logo após um longo histórico de supressão dessa liberdade, que não só violou este direito
como muitos outros direitos fundamentais.
Também foi possível perceber a crescente deste direito de manifestação junto ao
desenvolvimento tecnológico, e hoje, sociedade, como um todo, encontra-se na sua fase mais
comunicativa e conectada. Tudo gira em torno desse progresso tecnológico, que promoveu e
promove relevantes mudanças nas estruturas culturais, econômicas e sociais.
Nesse sentido, Internet tornou-se uma ferramenta acessível e de rápida comunicação entre
os indivíduos. Barreiras foram diminuídas, as fronteiras se aproximaram e o homem adquiriu
potente fonte de conhecimentos e poder.
A Internet tornou-se fundamental para o crescimento humano, pois proporciona
conhecimentos e conexões que já não é possível viver sem, afinal é uma grande de fonte de
ensino, trabalho e entretenimento. Ela veio para ratificar direitos fundamentais, principalmente o
direito a liberdade de expressão, onde, neste ambiente, as declarações de vontade, a opinião e o
senso crítico são efetivamente exercícios.
A partir daí, é possível perceber que ao mesmo tempo que a rede online proporciona um
avanço em diferentes pontos de toda uma sociedade, contribuindo para a vida de milhares de
pessoas, seu uso indevido acarreta problemas e danos a tantas outras, que acabam por se tornar
vítimas fáceis na realidade virtual.
Desse modo, urge estudar essa dualidade na Internet, isto é, a discussão da liberdade de
expressão ante os danos causados por essa prerrogativa, bem como a responsabilização do sujeito
que excede o limite desse direito.
4

Diante desta controvérsia, há uma evidente violação aos direitos de personalidade, como a
honra e imagem, também constitucionalmente garantidos, com a disseminação de conteúdos
ilícitos, de caráter calunioso, difamatório e injurioso, que são penalmente tipificados.
A prática do crime se estendeu ao âmbito virtual, tornando-se muito mais comum e
frequente do que no universo não conectado. Com o disfarce do exercício da liberdade de
expressão os atos ilícitos são normalizados e publicizados, haja vista a amplitude e alcance desse
ambiente digital.
Em consequência, os ataques geram diversos prejuízos a vítima, como a repercussão,
danos psicológicos, danos ao prestígio social, distorção na perspectiva pessoal e muitas outras
questões, que podem ser irreparáveis dada a extensão do dano.
Muitos foram os exemplos de lei, diretrizes e regulamentos dadas que evidenciam a uma
tendência em estabelecer critérios para que os conteúdos propagados na rede, em especial,
tenham maior controle e evitem, dessa forma, situações danosas a terceiros. Uma vez que tudo é
facilmente exposto a um público impossível de mensurar, esse entendimento é deveras relevante,
mostrando que cada vez mais a análise moral se faz indispensável para essa controvérsia.
Adiante, o instituto da responsabilidade civil virou foco, analisando em como ela
proporciona a responsabilização do indivíduo que dissemina o conteúdo ilícito na rede, assim
como verificar como se daria a satisfação da vítima em ver seus danos ressarcidos, de alguma
forma, entendendo que se trata de casos, que, geralmente, violam direitos absolutos por meio atos
ilícitos que geram danos a outrem.
A análise deste instituto ensejou por tratar, individualmente, dos principais requisitos da
responsabilidade civil, sendo eles: conduta, culpa, dano e o nexo de causalidade entre a conduta e
o dano.
Ainda neste tema, importante foi abordar a responsabilidade dos provedores de conexão e
de aplicação de internet, que, de modo geral, não responsabilizados pelos conteúdos ilícitos, a fim
de ver assegurado o direito a liberdade de expressão, conforme artigos 18 e 19 do Marco Civil da
Internet.
No entanto, se mediante ordem judicial para a retirada do conteúdo, o provedor não o
fizer, será responsabilizado pelos danos gerados. Ou seja, responsabilização somente ocorrerá
mediante descumprimento de ordem judicial que determina a remoção do conteúdo. Mas, urge
apontar que
4

o conteúdo que tenha cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado, dispensa a apreciação
do poder judiciário.
Enfim, importante foi a análise da dificuldade do ordenamento jurídico brasileiro quanto a
regulamentação da internet, que já está evoluindo com a aplicação da Lei Carolina Dieckmann,
Marco Civil da Internet e LGPD.
No entanto, não existem leis específicas para regulamentar e gerenciar os conflitos de
direitos fundamentais, utilizando-se subsidiariamente de leis já existentes, em um ambiente onde
são exercidos direitos, mas poucos deveres. Posto isso, compreende-se a necessidade de
melhorias na atual legislação, para que possa abordar tais situações com a devida profundidade.
A Internet é dinâmica, então as ferramentas jurídicas também devem ser, para que o avanço
tecnológico seja acompanhado pelo Direito.
O presente estudo, tencionou proporcionar uma ótica crítica dos problemas gerados por
essa nova realidade em que se vive, visando uma evolução e propondo resoluções que talvez
sejam pertinentes para o futuro, no que tange à comunicação, liberdade e mundo virtual.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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