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CURSO DE DIREITO
São Paulo
2022
BEATRIZ DE SENA SANTOS
São
Paulo
2022
BEATRIZ DE SENA SANTOS
São Paulo, de de .
Agradeço à Deus pela força e oportunidades que me foram dadas no decorrer da vida, e
por me permitir chegar até aqui.
Aos meus pais e ao meu irmão por todo o apoio e amor durante minha jornada acadêmica.
RESUMO
2. LIBERDADE DE EXPRESSÃO...............................................................................................9
CONCLUSÃO...............................................................................................................................43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................................46
8
1. INTRODUÇÃO
Junto ao crescente acesso à internet, os crimes praticados neste âmbito vêm ganhando
grande espaço. Este meio digital é extremamente democrático, com a coexistência de
pensamentos e pontos de vista relacionados a uma pluralidade de assuntos, sendo de fato
exercida a liberdade de expressão.
Essas divergências geram conflitos, dando grande vazão ao abuso da liberdade de
expressão, usada como fundamento para condutas tipificadas no código penal, usando de graves
ofensas, ameaças, linchamento virtual, Fake News e discursos de ódio. A maioria dos praticantes
desses atos ilícitos raramente são responsabilizados e são de todas as faixas etárias possíveis.
A dificuldade do ordenamento jurídico para julgar esse tipo de crime é visível, tendo em
vista os obstáculos de identificar o ofensor e a ocorrência do crime cometido, pois ainda há
brechas para a punibilidade e nem sempre é denunciado, tornado difícil a resolução da justiça e a
aplicação das penas existentes. Essa problemática quase que incontrolável, questiona a segurança
na internet, que é vista, ainda, como uma terra sem lei.
Por isso, é importante compreender que a internet não é terra sem lei, necessitando de
eficácia na aplicação das normas jurídicas, trazendo a luz e responsabilizando quem comete os
crimes, fazendo uma relação de leis já vigentes que possam ser usadas com devida eficiência em
meios digitais, pois o art.7º da Lei Federal nº 12.965/2014 prevê garantias fundamentais ao
usuário de internet, a fim de assegurar os direitos humanos de cada indivíduo, estabelecidos pela
Constituição Federal de 1988.
Neste sentido, nota-se ser imprescindível estudar um pouco mais a fundo as
consequências pela inclusão e difusão de conteúdos ilícitos na rede, quando configurado o dano a
outro, bem como o desempenho da responsabilidade civil e criminal. Dessarte, compreende-se
também ser necessária a análise das normas mais adequadas e os principais princípios deste tema
e seus conflitos.
9
2. LIBERDADE DE EXPRESSÃO
John Locke, criara sua tese a respeito dos direitos naturais do homem, reforçando que
todos nascem em berço de garantia à liberdade, que deve ser assegurada pelo Governo. O art. 19
da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), da Organização das Nações Unidas
(ONU)
– documento que prevê a garantia de direitos e liberdades fundamentais para todos, garante:
Art. 19. Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que
implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e
difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de
expressão.
Sob este aspecto, o Brasil prevê na Constituição Federal de 1988 diversos direitos e
garantias, em seu art. 5º, que prevê o “direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade”, logo após o fim da ditadura militar, que durou de 1964 a 1985, que não só censurou
a liberdade de expressão, mas também torturou e matou pessoas que contrariavam o regime. O
direito fundamental à liberdade de expressão só foi resgatado com a Constituição Federal de
1988. A partir do ano de 1824, todas as Constituições garantiam o direito à liberdade de
expressão,
no entanto, muito diferente da letra da lei, na prática, essa liberdade sofreu diversas ofensas por
parte do Estado. Em consequência, a atual Constituição, foi categórica na proteção desse direito.
Considerada um dos direitos fundamentais, a liberdade de expressão é a base da
democracia do país, de forma que sem a ela, os cidadãos de um país, não se pode conceber um
Estado Democrático de Direito.
Para que uma efetiva sociedade democrática, é fundamental a garantida da liberdade de
expressão e informação. A Constituição da República garante essas liberdades em seu art. 5º,
inciso IX, estabelecendo que é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença. Há também, disposições sobre a matéria
no art. 220 e demais parágrafos:
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob
qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o
disposto nesta Constituição.
§ 1º Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de
informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o
disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV.
§ 2º É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.
1
1
STF - ADI 4451 DF. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Alexandre de Moraes. Data de Julgamento:
21/06/2018. Data da Publicação: 06/03/2019.
2
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Comentários à Constituição do Brasil. Saraiva: São Paulo, 2014, p. 254.
1
as barreiras: a chave ou a única via de ter acesso, ou detê-lo de forma plena e efetiva, à
educação e a tudo que deriva dela.3
3
SANCHO, Juana María; HERNÁNDEZ. Fernando e col., Tecnologias para transformar a educação. Tradução por
Valério Campos. Porto Alegre: Artmed, 2007, p. 125
1
No entanto, muitas questões também se tornaram mais “acessíveis”, fazendo com que a
cautela do mundo real deva aumentar no virtual. Segundo Carlos Frederic (93), a internet permite
uma distribuição igualitária de juízos de valor que às vezes podem não ser tão favoráveis a
algumas pessoas, de notícias invasivas quanto a privacidade de alguém, do uso indevido da
imagem alheia e muitas outras problemáticas.
A garantia à liberdade de expressão não deve ser licença para sua prática absoluta,
principalmente no que cerne a violação de outros direitos. Não há o que se debater sobre a livre
manifestação a partir do momento em que ela carrega em seu discurso um caráter violento e
intolerante, estimulando a agressão, interferindo negativamente na liberdade do outro.
De forma cabal, a Constituição Federal de 1988 não dá margem para possível censura
prévia, o que significa a liberdade de expressão não ser absoluta e ter, sim, limites frente aos
demais direitos fundamentais, tendo em vista ser cabível a responsabilização do autor, com
possível condenação ao pagamento de danos materiais e/ou morais por conteúdos difamatórias,
mentirosos e injuriosos. Um Estado democrático não pode limitar informações e a manifestação
de opinião,
4
BENTIVEGNA, Carlos Frederico B. Liberdade de expressão, honra, imagem e privacidade: os limites entre o lícito
e o ilícito. São Paulo: Editora Manole, 2019, p. 93.
1
mas sim, trazer responsabilidades àquele que fere o direito do outro. Carlos Frederico (2019, p.
105) traz esse entendimento:
Assim, o âmbito potencialmente conflitivo dos direitos da personalidade imbricados com
o exercício da Liberdade de Expressão e de Manifestação do Pensamento foi delimitado
pela própria Constituição Federal, com a previsão do temperamento dessa liberdade com
a necessária proteção (inviolabilidade) da honra, imagem, intimidade e privacidade das
pessoas.5
5
Ibid., p. 105.
6
STF - HC: 82424 RS. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relator: Moreira Alves. Data de Julgamento: 17/09/2003.
Data da Publicação: 19/03/2004.
1
O art. 20 do Código Civil de 2002 contribui para a garantia deste direito, estabelecendo:
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à
manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a
publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas,
a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
3.2.1. Calúnia
O direito à honra é tão importante que possui repercussões penais, tendo em vista o
Código Penal tipificar condutas para os crimes de calúnia, difamação e injúria.
Atribuir a prática de um crime a alguém que sabe não ter sido ele o autor, pratica crime
contra honra, respondendo por calúnia, conforme art. 138 do CP, podendo ser condenado,
inicialmente, a uma pena de detenção de seis (06) meses a dois (02) anos, e multa. Ainda, aquele
que sabe as imputações serem falsas e, mesmo assim a divulga, como por exemplo nas redes
sociais, será processado e incorrerá nas mesmas penas daquele que deu início da calúnia.
É importante diferenciar o crime de calúnia ( art. 138, CP), da denunciação caluniosa
(art. 339, CP). Na calúnia, o autor a imputa crime a alguém, falsamente perante terceira pessoa.
Já na denunciação caluniosa, o indivíduo, leva ao conhecimento da autoridade competente, a
falsa imputação, movimentando a máquina estatal, dando início a instauração de inquérito
policial numa delegacia.
7
BENTIVEGNA, Carlos Frederico B. Liberdade de expressão, honra, imagem e privacidade: os limites entre o lícito
e o ilícito. São Paulo: Editora Manole, 2019, p. 127
1
A fim de proteger a honra objetiva, que é aquela que revela a perspectiva que outras
pessoas têm caluniado, aquilo que deve ser resguardado é o atributo físico, intelectivo, moral e
dentre outras qualidades que alguém venha ter.
A configuração da calúnia depende de uma falsa imputação de algo tipificado, ou seja,
crime, de modo definido e específico, tomando o outro, conhecimento. A mera qualificação por
meio de adjetivos, como por exemplo chamar alguém de ladrão, não é suficiente para a
configuração do crime, não bastando a simples afirmação genérica sem nenhuma descrição de
algum fato criminoso. Sobre este aspecto, Fernando Galvão (2013, p. 113) disserta: “É necessário
que a imputação especifique, ainda que minimamente, o fato criminoso que é atribuído à vítima.
Não é necessária uma descrição minuciosa do fato, mas uma indicação que permita definir um
contexto fático determinado.”8
É necessário que exista a narrativa do fato que fora falsamente imputado, com coesão
entre os fatos, que indica começo, meio e fim, ainda que superficial. Em um caso concreto, isso
se daria quando uma pessoa imputar falsamente a outra, o roubo de um objeto em um lugar e data
determinados.
A calúnia diz respeito à honra objetiva da pessoa, isto é, o que terceiros pensam sobre
você. Dentre os crimes contra a honra, a calúnia é a mais grave, já que pessoa está sendo
falsamente acusada por um crime que não cometeu.
Importante é pontuar, que no crime de calúnia, sendo provada a veracidade pelo agente,
por meio do instituto da exceção da verdade, não configura-se mais calúnia, porém, sendo
necessário observar, quanto à possibilidade jurídica, as exceções constantes no art. 138, nos
incisos do § 3º Código Penal.
No mundo virtual, o crime pode ocorrer quando o usuário publicar algo por meio de suas
redes sociais, atribuindo a alguém a prática algum crime, sendo que esta não o cometeu, recairá
na prática do crime de calúnia, que pode ser cometido por palavra escrita.
3.2.2. Difamação
8
ROCHA, Fernando A. N. Galvão da Direito penal: crimes contra a pessoa. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 113.
1
Agora, proferir palavras ofensivas que deprecia a reputação de certa pessoa, muito comum
nas redes sociais, não tendo juízo de valor sobre a veracidade das ofensas, mas importando a
afetação do prestígio (conceito no grupo, na sociedade), comete crime de difamação, art. 139 do
CP, com penas de detenção de três (03) meses e um (01) ano, e multa. Bem como no crime de
Calúnia, pretende-se a proteção da honra objetiva.
A imputação não precisa ser falsa, o crime ocorre a partir do momento em que é levado ao
conhecimento de terceiros os fatos destrutivos de um determinado indivíduo, que se torna um
sujeito passivo. Em suma, a difamação é o apontamento de um fato ofensivo direto à reputação.
Para configuração da ofensiva, é preciso que outras pessoas venham a saber, tendo em vista
reputação do ofendido ser objeto de tutelada.
Enfim, o fato deve ser factual e definido, dispensando o detalhamento dos fatos, todavia,
uma imputação inexata pode enquadrar-se como Injúria.
Fernando Galvão (2013) entende que a difamação tem um formato livre, que pode ser
executado por diversos meios. Então, o crime pode ser praticado com palavras, orais ou escritas,
inclusive por meio eletrônico, gestos, desenhos caricatos, músicas ou outras formas de
representação de ideias. Ainda, não é imprescindível que a imputação seja feita na presença da
vítima, mas que chegue ao conhecimento de terceiros integrantes de seu círculo social.9
Diferente da calúnia, não é admitida a exceção da verdade na difamação, de forma
excepcional, na hipótese de a vítima ser funcionário público e o fato tenha a ver com o exercício
de sua função, o crime de difamação poderá ser afastado se provada a veracidade do que fora
alegado pelo agente, conforme estabelece o art. 139, parágrafo único do Código penal.
A difamação é um dos crimes de maior incidência no âmbito digital, ainda mais quando
envolver redes sociais. São aquelas publicações quem ferem diretamente a reputação e o prestígio
social da vítima, por meio de fotos, vídeos, e muitos outros conteúdos, que causam prejuízos à
imagem e à honra do ofendido, podendo ser verdade ou não.
3.2.3. Injúria
9
ROCHA, Fernando A. N. Galvão da Direito penal: crimes contra a pessoa. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 119.
1
A injúria, art. 140 do CP, é um dos crimes mais comuns, tanto nas redes sociais, como no
dia a dia. A ofensa a dignidade, princípio da Constituição Federal, disposto no art. 1º, inciso III,
que envolve qualidades morais, decoro, quando se ataca qualidades físicas de uma pessoa,
inicialmente, pode acarretar uma pena de detenção, de um (01) a seis (06) meses, ou multa. Insta
diferenciar a Injúria Qualificada, art. 140, § 3º, cuja pena é de reclusão de um (01) a três (03)
anos e multa.
De maneira oposta a Calúnia e Difamação, aqui, o objeto jurídico a ser protegido é a
honra subjetiva, que abrange aspectos físicos, intelectuais, sociais e morais.
Não há de se falar em imputação de crime de fatos definidos, mas sim, sobre questões
genéricas, que trazem certa desonra ou atributos depreciativos para o sujeito passivo. Desse
modo, qualquer insulto, xingamento, até mesmo opinião pessoal, de um indivíduo para o outro,
configura- se o crime de Injúria.
A Injuria coloca a vítima em uma ideia de inferioridade mediante perspectiva própria,
visto que o ataque atinge de forma objetiva suas características pessoais. Importante destacar que,
na injuria, também é possível afetar a honra objetiva.
Neste crime a ciência de terceiros sobre os ataques, não é importante, bastando que a
vítima a tenha, não importando se ela se sente atingido ou mão em sua honra subjetiva. Tendo o
ato caráter ofensivo, resta consumado o crime.
O crime de injúria é qualificado, quando o sujeito ativo do ato se utiliza de ataques de que
contenha “raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência”. Na injúria qualificada, a pena mínima será 1 (um) ano, sendo possível chegar a 3
(três) anos, conforme prevê o art. 140, § 3º, do CP.
Ainda, existe a injúria real, que ocorre quando, o ofensor utiliza violência ou vias de fato,
a fim de ofender ou desrespeitar o outrem. Como por exemplo o ofensor desferir um tapa no rosto
do ofendido, para injuriar o ofendido, prevista no art. 140, § 2º. Nesses casos, a pena para o crime
é a detenção, de 03 (três) meses a (01) um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
Sobre este instituto, Fernando Galvão (2013, p. 125) elucida:
Para a caracterização do crime de injúria real não é necessário que da violência resulte
lesões corporais. Caso venha a resultar lesão corporal ou a morte da vítima, deve•-se
aplicar a cumulação de penas previstas na cominação legal. A injúria real que é praticada
por meio de violência ou vias de fato contra a pessoa da vítima pode se caracterizar com
o tapa desferido contra o seu rosto, o arremesso de ovos contra o seu corpo, o chute em
2
suas nádegas, a sua retirada forçada de um determinado local, o corte de seus cabelos e o
puxão que rasga partes da roupa que esteja vestindo.10
Tal qual a difamação, na injúria não é admitida exceção da verdade, pois não descreve
fato determinado. Ou seja, o querelado está sendo processado por ofender ou apontar alguma
qualidade negativa diretamente a alguém, o que é mera perspectiva do agente, seja a impressão
externalizada verdadeira ou não.
O crime de injúria na internet também é muito comum, haja vista os usuários terem livre
formação do próprio juízo de valor quanto a qualquer tipo de assunto, incluindo opiniões pessoais
em relação a qualquer pessoa, levando os usuários a ofenderem a outrem, que independente de
conhecimento de terceiros ou de repercussão, resta configurado, bastando a vítima sentir-se
pessoalmente atingida com o conteúdo publicado.
Crimes virtuais ou cibernéticos são aqueles praticados por meio de computadores, redes
de computadores ou dispositivos eletrônicos, com ações delituosas, que trazem consequências a
indivíduos, como por exemplo dano patrimonial, por meio de extorsão de recursos financeiros,
danos emocionais ou danos à reputação de vítimas expostas na Internet.
A compreensão dessas ações é muito vasta, podendo ser ataques à honra e a dignidade
pessoal, bullying digital e crimes que se aproveitam de uma vulnerabilidade técnica, provocando
danos patrimoniais e financeiros.
Hoje, todo e qualquer um é passível de se tornar pode um sujeito ativo nesses crimes
cometidos no âmbito digital, não necessitando de um profundo conhecimento para isso, sendo
suficiente o acesso à internet para sua realização. Da mesma forma, qualquer um pode vir a ser
sujeito passivo, ou seja, vítima desses atos ilícito, ainda que esteja conectado ou não à rede.
O crime virtual é uma conduta ilícita, se realizada por meio acessórios que garantam o
acesso a internet, podendo ser realizado por pessoa física, com potencial ofensivo direto ou
indiretamente a dignidade moral e psicológica de outrem.
10
ROCHA, Fernando A. N. Galvão da Direito penal: crimes contra a pessoa. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 125.
2
Para Augusto Rossini (2004)11, o crime virtual pode ser compreendido como gênero, onde
o delito telemático é a espécie, tendo em vista a particularidade de o ato acontecer no meio
virtual, por meio das relações efetuadas, em computadores utilizados para a prática delitiva.
Segundo Marcelo Xavier de Freitas Crespo (2011), a rede é um campo para a prática de
delitos que já são tipificados em ordenamentos jurídicos, mas também, condutas que ainda não
são incriminadas no Brasil, mas que são extremamente danosas, por conta do alto acesso de
usuários com liberdade para enviar, transferir, difundir e acessar informações, de modo que
muitas pessoas passam a ser potenciais vítimas, mas também potenciais sujeitos ativos de
delitos.12
A ascensão tecnológica coloca uma inquietação sobre a proteção de dados pessoais, bem
como sobre o direito à honra. Ao observar a velocidade atual da coleta, armazenamento, difusão
de dados e conteúdos, entende-se que é inevitável que informações incorretas, caluniosas e
difamatórias não sejam difundidas indiscriminadamente.
A comum ocorrência da conduta criminosa na internet acontece pela disponibilidade de
informações, bem como a prevalência do anonimato na rede, o que torna fácil e corriqueiro o
cometimento de atos ilícitos por pessoas comuns, que maculam a imagem de alguém, não
importando a intenção. Neste sentido, Christiany Pegorari e Celso Fiorillo (2016, p. 81),
argumentam:
O anonimato propiciado pelas tecnologias, especialmente a Internet, também é fator que
contribui para que o agressor tenha coragem de fazer ou dizer o que não o faria
presencialmente (seja por não ter coragem, seja por não ter condições físicas superiores).
Assim, o agressor ignora as consequências de suas ações, até porque não recebe uma
resposta imediata de seus atos e isso tudo leva ao estímulo da prática, potencializando as
condutas do agressor e aumentando a vulnerabilidade da vítima;13
Importante pontuar, que hoje é muito frequente a ocorrência dos crimes de calúnia,
difamação e injúria no meio digital, principalmente nas redes sociais. Com a publicação em
plataformas com grande incidência de acesso, havendo uma visibilidade enorme do que se
publica, tomando proporções inimagináveis por conta da facilidade e rapidez de difusão que a
internet detém, tornando o crime muito mais grave.
11
ROSSINI, Augusto Eduardo de Souza. Informática, telemática e direito penal. São Paulo: Memória Jurídica, 2004.
12
CRESPO, Marcelo Xavier de F. Crimes digitais. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 20.
13
FIORILLO, Celso Antônio, P. e Christiany Pegorari Conte. Crimes no meio ambiente digital. 2 ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2016, p. 81.
2
Os principais sujeitos ativos desses atos ilícitos, podem ser conhecidos como haters. Os
“haters”, em português “odiadores”. são indivíduos que fazem comentários, interações e ações
críticas de forma ofensiva, a fim atingir outro usuário. Eles ridicularizaram alguém ou algum tipo
de conteúdo, por meio de comentários, direct messages e dentre outros recursos para tal fim.
São usuários como quaisquer outros, no entanto se distinguem apenas pelo característico
discurso ódio. São pessoas que usam da liberdade e, geralmente, da capacidade de permanecer
anônimo, sem dimensionar ou dar importância para o impacto dos ataques na vida do ofendido.
Os principais alvos dos haters são pessoas que têm certo destaque na mídia, isto é, atores,
cantores, influenciadores digitais ou qualquer um que tenha relevância no meio digital, que, para
além da crítica construtiva, recebem ataques massivos quanto ao trabalho, aspectos físicos e
pessoais.
De forma indiscriminada, esses indivíduos são capazes de cometer qualquer ato
reprovável, seja calúnia, difamação, injúria, injúria racial, racismo, LGBTfobia, misoginia,
xenofobia, capacitismo, intolerância religiosa, body shaming (ridicularização do corpo alheio) e
até mesmo o crime de ameaça.
Esses crimes de ódio, que são direcionados a um determinado grupo social, atentam
contra a dignidade humana e aferta toda a sociedade, produzindo graves efeitos não somente as
vítimas, mas a todo o grupo que pertencem a este grupo social.
Esses ataques, normalmente e lamentavelmente geram inúmeras consequências àquele
que o sofreu, em contrapartida, o agente do ato ilícito se mantém impune, seja pelo fato de as
pessoas não levarem isso adiante ou pensarem que não há como descobrir e punir o agente.
É preciso compreender o que é o exercício da liberdade de manifestação e opinião, ainda
mais se tratando de conteúdo publicado na internet que sejam evidentemete ilícitos. Isto se dá
pelo livre exercício de expor seu pensamento que cada um tem, no entanto, exercendo-o de
maneira preconceituosa ou conflituosas com o ordenamento jurídico, estes devem assumir os
resultados de seus atos. O tribunal de Justiça do Amapá, compreende que esses ataques ensejam
em condenações penais:
PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES CONTRA
A HONRA. INJÚRIA. DELITO CARACTERIZADO. OFENSAS PROFERIDAS
PELAS REDES SOCIAIS. CONDENAÇÃO MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E
NÃO PROVIDO. 1) Das provas existentes nos autos, especificamente, os prints de
conversas via Whatsapp, comprovam que a querelante ofendeu a honra da querelada,
mediante a utilização de palavras negativas, imorais e de cunho depreciativo à honra e
dignidade, caracterizando-se assim o animus injuriandi a configurar a prática do tipo
penal
2
3.3.1. Racismo
Um dos crimes mais comuns praticados na internet é o racismo, criminalizado pela Lei nº
7.716/89, art. 20 e no § 1º, que prevê:
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou procedência nacional.
Pena: reclusão de um a três anos e multa.
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos,
distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de
divulgação do nazismo.
Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
TJ AP APELAÇÃO: APL 0022175-34.2017.8.03.0001 AP. Órgão Julgador: Turma Recursal. Relator: Mário
14
Não obstante, as ofensas proferidas por meio da Internet, meio que facilita a divulgação, a
pena será aumentada de um terço, conforme dispõe a agravante do artigo 141, inciso III, do CP.
Então, a partir do momento que se diz algo ou se faz uma publicação na internet, o
conteúdo pode atingir diretamente alguém ou inúmeras pessoas, onde os resultados não
dependem da intenção do usuário das redes. Neste mesmo sentido, este é o entendimento do
Supremo Tribunal Federal:
Crimes contra a honra praticados pela internet são formais, consumando-se no momento
da disponibilização do conteúdo ofensivo no espaço virtual, por força da imediata
potencialidade de visualização por terceiros' (CC 173.458/SC, Rel. Ministro João Otávio
de Noronha, Terceira Seção, DJe 27/11/2020).15
A internet possibilita que informações e notícias se espalhem com muita rapidez, ainda, as
redes sociais aceleraram ainda mais esse processo e dão proporções enormes para esse tipo de
conteúdo. Em contrapartida, esse ambiente tornou-se favorável para a também rápida divulgação
das notícias falsas. Em decorrência disso, as pessoas já não verificam as fontes e veracidade das
informações disponíveis na internet. Assim que publicado, um conteúdo é instantaneamente
compartilhamentos por inúmeras pessoas, sem nem a origem daquela notícia.
O termo fake news ganhou muito destaque nas páginas dos jornais e em toda a internet
nos últimos anos. A expressão vem do inglês, fake (falsa/falso) e news (notícias), ou seja, notícias
falsas. Fake News são as informações falsas que repercutem como se fosse uma grande verdade.
Uma fake news eficaz transforma seu conteúdo em fato social, isto é, toda forma de ação,
reação, os fundamentos dos valores morais e sociais se transformam a partir daquela mentira que
se tornou a nova realidade daquele indivíduo. Quando um indivíduo é influenciado e compartilha
tais notícias, pode estar praticando algum delito, a título de exemplo, aquela notícia falsa e
difamatória que é compartilhada pelo sujeito, este poderá incorrer em sanções penais.
No ordenamento jurídico brasileiro ainda não existe tipo penal específico, no entanto,
o Código Penal prevê em a partir de seu art. 138 os crimes contra a honra, que podem ser
aplicados conforme a circunstância.
15
STF - HC: 591.218/SC. Órgão Julgador: Quinta Turma. Relator: Joel Ilan Paciornik. Data de Julgamento:
09/02/2021. Data da Publicação: 12/02/2021.
2
Existem alguns Projetos de Lei que tramitam no Congresso Nacional, dentre eles o PL Nº
473/2017, que tem o intuito de acrescentar ao Código Penal, o art. 287-A, que é a tipificação de
divulgação de notícia que sabe ser falsa e que possa distorcer, alterar ou corromper a verdade
sobre informações relacionadas à saúde, à segurança pública, à economia nacional, ao processo
eleitoral ou que afetem interesse público. Pena de detenção de 01 (um) a 03 (três) anos e multa.
Outrossim, a Lei nº 13.834 de 04 de junho de 2019, introduziu o artigo 326-A no Código
Eleitoral, que versa sobre a tipificação da denunciação criminosa na esfera, que da causa à
instauração de investigação policial, de processo judicial, de investigação administrativa, de
inquérito civil ou ação de improbidade administrativa, ao atribuir a alguém a prática de crime ou
ato infracional de que o sabe inocente, com finalidade eleitoral, tendo como consequência pena
de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.
Crimes virtuais são rotineiros nas redes sociais, como por exemplo no Instagram, Twitter
e dentre outros. Ao passo que, o ambiente digital é um aliado para muitas áreas, as pessoas
prenderam-se a ele.
A partir daí, as redes sociais criaram raízes sólidas no dia a dia de todos, vindo a ser um
meio de trabalho, entretenimento, distração nas horas vagas e conexão com pessoas que
anteriormente seria impossível interagir instantaneamente.
FIORILLO, Celso Antônio, P. e Christiany Pegorari Conte. Crimes no meio ambiente digital. 2 ed. São Paulo:
16
Por conseguinte, há uma onda de agressões, abusos e violências muito maior no âmbito
digital, com comentários propositais e desnecessários, a fim de expor pensamentos e sentimentos.
Toda esta onda gera consequências psicossociais aos usuários, ainda que não haja o contato
físico. Os usuários entendem este âmbito como um lugar de direito, mas é necessário entender
que intimidar, ofender, apontar o dedo, está longe de ser uma posição de direito amparado
legalmente.
Pessoas se tornaram vítimas desses ataques, disfarçados de liberdade expressão, por terem seus
perfis públicos ou serem pessoas que têm influência e visibilidade no meio digital.
Essas pessoas públicas com mais visibilidade, também conhecidas como digitais
influencers, podem entrar na onda da cultura do cancelamento, que é uma prática atualmente
muito usada, que proporciona debates sobre racismo, preconceitos com determinadas classes
sociais, xenofobia, homofobia, falas e atitudes controversas, a fim de trazer uma reflexão sobre os
erros que envolvem essas questões supracitadas, mas mora na linha tênue entre a reflexão e a
prática de crimes virtuais, relacionados a honra.
No que cerne as Fake News, percebe-se que é um grande e preocupante sintoma de um
cenário educacional que é repleto de falhas. O déficit no entendimento básico relacionado a
política, economia, e todo sistema social, fazerem com que milhares de cidadãos deem
credibilidade a notícias inverossímeis.
À face do exposto, há a construção de uma sociedade sem o mínimo de senso crítico,
inclinada a acreditar fielmente em figuras de autoridade religiosas e políticas, que ostentam um
alto nível de influência. Ademais, a falta de estímulo ao questionamento, incapacita a análise de
uma notícia falsa.
Destarte, compreende-se ser um problema estrutural e duradouro. Por conseguinte,
as consequências das Fake News e sua disseminação é espantoso, pois tem grande influência no
âmbito social, político, econômico, pessoal, psicológicos e muitas outras áreas que envolvem a
sociedade como um todo.
Uma coletividade que é refém das mentiras que não consegue discernir acaba fazendo
escolhas controversas, tanto para sua vida pessoal ou escolhas políticas que envolvam toda uma
sociedade. Ainda, existe o grave risco de incorrer em injustiça, replicando difamações, injúrias e
principalmente e mais preocupante, reproduzir calúnias, que podem gerar repercussões na vida
pessoal, profissional e social das vítimas da informação falsa.
2
Na internet, os atos têm um rápido e abrangente alcance, fazendo com que se potencialize,
publicize, ou pior, normalize o crime, atingindo ainda mais a vítima, que terá sua vida exposta ou
ultrajada pelo autor do delito. Sobre este aspecto, Tarcisio Teixeira (2020, p. 216) disserta:
Crimes contra a honra, quando são praticados em ambiente virtual, como é a internet,
podem provocar às vítimas danos em extensão bem maior do que se praticados nas vias
ordinárias da vida real. Isso porque uma informação circulando na rede e/ou colocada em
comunidades virtuais (redes sociais) alcança um número ilimitado de pessoas, uma vez
que houve uma ampliação do espaço “público” por onde os efeitos do crime poderiam
percorrer.17
Esses ataques massivos podem geram transtornos mentais, como por exemplo ansiedade,
depressão, dentre outros, o que pode levar alguém cometer suicídio, em casos mais graves. A
agressividade é colossal, levando as pessoas a viverem com medo e supercautelosas, ao
expressarem qualquer opinião que gere ataques ou cancelamentos.
É importante destacar que a discussão gira em torno de ataques gratuitos ou de reações
escalonadas sobre uma circunstância branda e reparável, ainda que controversa. No entanto, no
tange temas importantes como misoginia, LGBTfobia, racismo, xenofobia e muitas outras pautas
sociais, é quase que inevitável uma reação popular comedida e leve, quando se faz uma
publicação neste sentido, tendo sim, que haver responsabilidades na medida do ato, mas sendo
sempre importante pontuar que há diferença entre erro e crime.
É necessário entender o que é a luta em prol de causas importantes, que tem por objetivo
denunciar a impunidade e normalização de atitudes preconceituosas, bem como o visar o
progresso social, no entanto, é preciso distinguir do que é o uso arbitrário e banal desses temas,
que geram ataques e ofensas de forma inoportuna.
Sendo assim, o abuso do direito de se manifestar geram os ataques gratuitos, propagação
da intolerância e discurso de ódio contra minorias, linchamento virtual, que abalam a vida
profissional, o prestígio social, a saúde mental e até mesmo a perspectiva que cada um tem si.
Assim como a notícia falsa, que carrega consigo resultados inofensivos, ou mais “leves” que
produzem engajamento e compartilhamento nas redes, mas também resultados severos como
agressões físicas e psicológicas contra pessoas inocentes.
17
TEIXEIRA, Tarcisio. Direito Digital e Processo Eletrônico. 5 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2020, p. 216.
2
Todo e qualquer ato que afeta e traga prejuízos a outro ocasiona certo infortúnio. Esse ato
lesivo pode prejudicar de forma material e moral, desse modo, o autor do ato que causa dano
deve reparar o mal causado, tendo em vista o retorno da harmonia social. Esse dever de reparação
nos remete ao sentido de responsabilidade, assim dizendo, o dever de assumir e tomar a se
responsabilidade para si.
Com a concepção do que é a coexistência de costumes e condutas sociais, foram
estabelecidas normas que trazem consigo direitos e deveres. Na violação do direito alheio, por
meio de uma conduta ilícita, que acarretam danos materiais ou morais, cabe ao autor do dano
lidar com os deveres que agora vigoram neste Estado de Direito, que dá origem e conceito a
Responsabilidade Civil.
2
Flávio Tartuce (2021, p. 69) trazem o entendimento de Álvaro Villaça Azevedo, que
defende que a responsabilidade civil é o quando o devedor deixa de cumprir um princípio
estabelecido em contrato, ou deixa de considerar o ordenamento jurídico que regulamenta a vida,
assim dizendo, é o dever de reparar ou indenizar o dano decorrente do descumprimento de algo
estabelecido em sociedade.18
O código civil estabelece em seu art. 186 que: “aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imperícia, violar direito ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o
dano.”
O ato ilícito é a violação à lei ou contrato, ato ou omissão material, logo, delito civil ou
criminal. Deste ato antijurídico, dá-se a responsabilidade ao agente que o praticou, então, a
responsabilidade é uma consequência da realização do ato antijurídico. A responsabilização pode
ser imposta em decorrência de violação da lei, ou contratual, quando surge da celebração entre as
partes.
Basicamente, a responsabilidade consiste na obrigação de dar, fazer ou deixar de fazer,
ressarcir, reparar as eventuais lesões, suportar sanções penais, ou seja, é sempre a obrigação de
responder por algo que fez ou deixou de fazer.
Quando a responsabilidade sucede de ato próprio, pode ser chamada de responsabilidade
direta, já quando sucede de ato alheio a sua vontade, porém, de alguma forma é sobre algo que
está sob sua proteção, esta é a responsabilidade indireta. Então, é possível dizer que
responsabilidade civil é a obrigação de reparar dano, originado por ato do próprio agente (direta)
ou ato sob sua tutela (indireta).
A responsabilidade pode ser subjetiva, que é a soma da conduta, dano, nexo causal e culpa
do agente. Dessa forma, o agente do dano só terá o dever de indenizar a vítima se a culpa restar
configurada.
A regra é o uso da responsabilidade subjetiva, com comprovação de culpa. O código civil
adota esta responsabilidade como regra, sendo esta definida nos artigos 186 e 187:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes.
18
TARTUCE, Flávio. Responsabilidade Civil. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 69.
3
4.2.1. Conduta
19
TARTUCE, Flávio. Responsabilidade Civil. 3 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021, p. 259.
3
4.2.2. Culpa
A culpa está diretamente ligada a conduta do lesante, ponderada como um valor social
reprovável. Neste elemento, a culpa é fundamental para que ocorra a responsabilização, que é
conhecida como subjetiva, que depende do sujeito e de suas ações para a configuração do dano.
Divergente ao Direito Penal, onde a culpa é considerada para a fixação da sanção, no
Direito Civil, a sanção não está ligada a culpa, mas sim à extensão do dano. Então, para fins de
indenização, não é necessária a aferição do grau de culpa, havendo culpa a reparação do dano é
obrigatória.
No geral, a responsabilidade civil subjetiva é a regra no Direito Civil. Sendo assim, o ato
passível de reprovação, é requisito para configuração do ato ilícito, tendo então, a classificação
da culpa em lato sensu e stricto sensu.
A culpa lato sensu se desenvolve em dolo e culpa. Nessa perspectiva, dolo é a intenção de
cometer o ato, ou seja, é a quebra intencional do dever jurídico imposto pelo ordenamento, que
pode ser dividida em dolo direto, necessário e eventual, não sendo oportuno conceituá-los neste
trabalho.
A culpa stricto sensu é a modalidade de culpa, quando falta a vontade da prática do ilícito.
Ela nasce na falta de cuidado, zelo, que, não intencionalmente, ocasiona um ato ilícito. Ela pode
ser dividida em negligência, imprudência e imperícia, podendo também, consistir em uma ação
ou omissão.
4.2.3. Dano
3
20
VENOSA, Sílvio de S. Direito Civil - Obrigações e Responsabilidade Civil - Vol. 2. 22. ed. – Barueri: Atlas,
2022, p. 401.
3
para atribuir o resultado danoso, a extensão do dano causado e o quanto se deve indenizar, a
determinado indivíduo.
No tocante ao tema, é importante analisar o nexo de causalidade entre o usuário que
divulga o conteúdo ilícito na Internet e comete o ato ilícito e, consequentemente, a vítima que se
depara com um dano causado por essa difusão.
Nessa perspectiva, é inquestionável que esse usuário que publicou o conteúdo ilícito, deve
ser responsabilizado pelos eventuais danos que sobrevém desse ato
Fato é que, tendo ou não grande repercussão do conteúdo, se o agente não tivesse
divulgado tais informações, imagens, vídeos, entre outros, na internet, toda a situação não teria
ocorrido e, dessa forma, a vítima não teria se deparado com danos indesejáveis.
Necessário é observar, que aquele ato que é culpa exclusiva da vítima, de terceiro, bem
como os casos fortuitos ou de força maior, as cláusulas de não indenizar e as excludentes de
ilicitude, afastam o nexo causal.
Não existem dúvidas de que as redes sociais devem ser vistas como extensões das
relações sociais físicas, assim dizendo, este universo cibernético não deve ser tido como algo
paralelo, mas sim como um lugar de conexão interpessoal real, que é usufruído a fim de
trabalhar, ter lazer, comprar e se comunicar, de fato, uma extensão da vida.
O Art. 7º, inciso I, do Marco Civil da Internet garante que o acesso à internet é essencial
ao exercício da cidadania, e ao usuário é assegurada a inviolabilidade da intimidade e da vida
privada, sua proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
As violações aos direitos da personalidade neste âmbito, é a divulgação de fotos, imagens
e sons sem autorização, bem como ataque diretos a honra com publicações de cunho ofensivo,
injurioso, calunioso ou difamatório.
Desafortunadamente, esta situação tem sido normalizada, tornando-se cada vez mais
comum. A internet tem se tornando uma vitrine de exposição, onde as pessoas expelem suas
insatisfações, mágoas, espalhando ódio, pré-conceitos e discriminações, não havendo qualquer
reflexão quanto a extensão dos ataques àqueles que serão atingidos ou os possíveis danos que
serão desencadeados.
3
Fato é, que o dano moral pode se dar tanto no mundo físico, quando no mundo virtual.
Embora exista a ilusão de que não existem consequências e que não há limite à liberdade, as
implicações são bem reais e até mais graves, tendo em vista, um delito praticado numa rede
social ter muito mais visibilidade e de rápida repercussão, que podem chegar a pessoas de todo e
qualquer lugar possível. Neste sentido, insta trazer o entendimento do Tribunal de Justiça de São
Paulo:
ACÓRDÃO RECURSO INOMINADO - INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS –
OFENSAS IRROGADAS POR MEIO DE REDE SOCIAL (FACEBOOK) - EXCESSO
VERBAL QUE EXTRAPOLA DIREITO A LIBERDADE DE EXPRESSA - OFENSA
A HONRA CONFIGURADA - Comentários ofensivos inseridos pelo recorrente junto à
rede social denominada "Facebook", ocasionando abalo à imagem e honra dos
recorridos. Excesso verificado. Fatos incontroversos. Conduta que extrapolaram os
limites da liberdade de expressão, violando o direito à honra e à intimidade do indivíduo
- Dano moral configurado. Indenização devida - Arbitramento que atendeu aos
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, bem como as peculiaridades do caso
(R$4.000,00. Sentença mantida pelos próprios fundamentos. Recurso improvido.21
21
TJ SP Recurso Inominado Cível: RI XXXXX-82.2020.8.26.0032 SP XXXXX- 82.2020.8.26.0032. Órgão Julgador
1ª Câmara Cível. Relator: José Daniel Dinis Gonçalves. Julgamento: 20/08/2020. Publicação: 20/08/2020.
22
VENOSA, Silvio de Salvo, Direito Civil: Responsabilidade Civil. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2015, p. 54.
3
O dano deve ser avaliado em sua proporção. Dessarte, a reparação deve ser equivalente ao
dano. É o que diz o art. 944 e parágrafo único, do Código Civil:
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano,
poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.
O Marco Civil da Internet é uma lei que tem por objetivo a regulamentação do acesso à
Internet no Brasil, como também suas consequências. Ela colocou o país no acerca dos direitos na
área virtual, elaborada a fim de assegurar a liberdade de expressão, bem como e a neutralidade da
rede.
As relações obrigacionais definidas na Internet englobam três sujeitos fundamentais: a
vítima, o ofensor e os provedores de internet, que disponibilizam os meios necessários para a
prática dos ilícitos
3
O Marco Civil da Internet dispõe sobre princípios, garantias, direitos e deveres para o
funcionamento da internet no Brasil, isto é, veio para normatizar não só a atuação do Estado, mas
também utilização da internet no país.
Nos artigos 18 e 19 desta lei, prevê a sobre a responsabilidade dos provedores de conexão
e de aplicação de internet em relação aos prejuízos gerados em consequência dos conteúdos
ilícitos difundidos por terceiros. Os artigos estabelecem:
Art. 18. O provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por
danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros.
Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o
provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por
danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica,
não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro
do prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente,
ressalvadas as disposições legais em contrário.
§ 1º A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade,
identificação clara e específica do conteúdo apontado como infringente, que permita a
localização inequívoca do material.
§ 2º A aplicação do disposto neste artigo para infrações a direitos de autor ou a direitos
conexos depende de previsão legal específica, que deverá respeitar a liberdade de
expressão e demais garantias previstas no art. 5º da Constituição Federal.
3
Com base no entendimento dos artigos transcritos, percebe-se que o Marco Civil da
Internet prevê que os provedores de conexão estão plenamente alheios à responsabilidade a
respeito do conteúdo publicado por terceiros. Então, a retirada deste conteúdo só acontece se
causado algum um dano, como por exemplo a ofensa à honra, reputação ou aos direitos de
personalidade. A este respeito, Tarcisio Teixeira (2020, p. 45) explana:
Como visto, a retirada de conteúdo somente deve se dar por determinação judicial, até
porque, se isso coubesse ao provedor, discricionariamente, ele poderia ser acusado de
censura quanto à liberdade de expressão alheia. Assim, somente a Justiça, mediante
provocação do interessado, é quem poderá avaliar se certo conteúdo (produzido em
razão
do exercício da liberdade de expressão) é prejudicial ou não a outrem.23
Sobre este tema, Carlos Afonso e Ronaldo Lemos (2016), trazem alguns entendimentos,
como por exemplo a não responsabilização dos provedores pelas condutas de seus usuários, a
responsabilidade objetiva do provedor, com base na teoria do risco, adotada pelo Código Civil a
responsabilidade subjetiva, sendo a responsabilização por conta da não retirada do conteúdo
23
TEIXEIRA, Tarcisio. Direito Digital e Processo Eletrônico. 5 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2020, p. 45.
3
apontado como danoso após o provedor tomar ciência deste, ou seja, o descumprimento de ordem
judicial.24
Sobre esse aspecto, na Apelação feita no processo nº XXXX-45.2020.8.19.006725, o
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu que o provedor de aplicações da internet somente
será responsabilizado por conteúdo publicado por terceiros mediante descumprimento de ordem
judicial específica, sendo assim, não é possível pleitear indenização por danos morais das
plataformas por conteúdo publicado, sem que haja determinação judicial prévia para a remoção
do conteúdo.
No entanto, ainda existe uma discordância entre os ministros do STJ. Nos casos que
envolvem publicações ofensivas nas redes sociais, há magistrados que entendem que não existe a
responsabilidade do provedor pela ofensa ali publicada, como por exemplo no Recurso Especial
REsp 1.306.06626. Na contramão, outros entendem existe, sim, a responsabilidade, pois a rede
social não forneceu mecanismos eficazes para controlar abusos (AREsp 121.496)27.
Em tese, o Marco Civil da Internet considera a responsabilidade subjetiva, configurando-
se o ato ilícito mediante descumprimento de ordem judicial que determine a remoção do
conteúdo.
Portanto, não será o provedor responsabilizado solidariamente por danos causados. Pois,
não cabe a este o juízo de valor a respeito da ilicitude do conteúdo publicado, que tem por fim
não censurar previamente conteúdo disponibilizado na rede.
O ordenamento jurídico tem por fim regulamentar as relações humanas, assegurando uma
organização da sociedade, para que as pessoas consigam conviver pacificamente. Com o passar
24
SOUZA, Carlos Afonso; LEMOS, Ronaldo. Marco Civil da Internet: construção e aplicação. Juiz de Fora. Editar.
2016, p 69-70.
25
TJ RJ APELAÇÃO: XXXXX-45.2020.8.19.0067. Órgão Julgador 20ª Câmara Cível. Relator: Ricardo Alberto
Pereira. Julgamento: 21/08/2021. Publicação: 27/10/2021
26
STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp 1306066 MT 2011/0127121-0. Órgão Julgador: Terceira Turma. Relator:
Sidnei Beneti. Data de Julgamento: 17/04/2012. Data da Publicação: 02/05/2012.
27
STJ - DESIS no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL: DESIS no AREsp 121496 GO 2011/0282524-5. Relator:
Marco Buzzi. Data da Publicação: 25/05/2015.
3
dos anos, esta regulamentação se desenvolve e ganha forma conforme o tempo. Antigamente, as
pessoas se baseavam em costumes e tradições, que passavam de geração em geração. A evolução
foi e é gradativa, até chegarmos na legislação atual, que é aprofundada, complexa e específica.
A Constituição Federal de 1988, estabelece garantias fundamentais aos cidadãos. Esses
direitos devem ser respeitados em todas as esferas, assim como no âmbito digital. Desta forma, o
Art. 5º, prevê o direito à igualdade, direito à livre manifestação de pensamento, liberdade de
consciência e de crença e o direito à privacidade, intimidade e honra. Daí, urge o questionamento
da conciliação entre direito à liberdade de expressão e o direito à intimidade.
É a partir deste questionamento o direito digital se desenvolve, observando a relação entre
as pessoas a tecnologia e criando normas este equilíbrio. O Direito Digital é uma área nova para o
ordenamento jurídico, sendo apenas algumas as leis que já são aplicadas no Brasil, vindo suprir a
necessidade de regulamentação das ações neste meio, sobretudo, com o exponencial crescimento
do crime na internet, como por exemplo os discursos de ódio, crimes contra a honra, pornografia
infantil, roubo de dados, dentre outras problemáticas.
A Lei Carolina Dieckmann (Lei nº 12.737/12), foi uma das que encabeçou a normatização
da internet no Brasil. A atriz Carolina Dieckmann teve fotos e conversas íntimas vazadas e
compartilhadas na internet após o retorno de seu celular do conserto técnico, dando origem ao
nome desta lei.
A partir de então, o Código Penal reconheceu como crimes os ilícitos informáticos, como
por exemplo, a invasão de aparelhos eletrônicos, roubo de dados, interrupção de serviços digitais,
e muitos outros atos.
O Marco Civil da Internet, Lei nº 12.965/14, foi uma fundamental decisão, para a
normatização do uso de todo âmbito digital. Também foi imprescindível para a introdução de
regras para a atuação do Estado.
Esta lei pretende proteger direitos como a liberdade de expressão, privacidade e
neutralidade no meio digital, além de regulamentar o uso da internet no Brasil. Foca em direitos e
deveres imprescindíveis a todos os usuários que têm acesso a este meio digital e assegurar o
efetivo cumprimento das leis.
A Lei Geral de Proteção de Dados, Lei nº 13.709/18, é uma das mais importantes no que
tange este universo. A LGPD visa a proteção de dados pessoais. A lei vale para os dados tratados
4
no Brasil, bem como para os que foram colhidos no país, não importando onde de fato serão
tratados.
Hoje, com esta lei, as empresas têm o dever de se adaptarem a esta regulamentação, com
disposições sobre o colhimento e tratamento de dados, digitais ou não, de outro modo, são
passíveis de multas com valores altos.
Enfim, a Lei nº 14.132, de 2021, sancionada pelo Presidente da República, estabelece
sobre o crime de stalking, que é a perseguição contínua, por qualquer meio, como por exemplo a
internet, pondo em risco a integridade física e psicológica da vítima, intervindo na liberdade e
principalmente na privacidade desta.
O ordenamento jurídico tem por fim regulamentar as relações humanas, assegurando uma
organização da sociedade, para que as pessoas consigam conviver pacificamente. Com o passar
dos anos, esta regulamentação se desenvolve e ganha forma conforme o tempo. Antigamente, as
pessoas se baseavam em costumes e tradições, que eram de geração em geração. A evolução foi e
é gradativa, até chegarmos na legislação atual, que é aprofundada, complexa e específica.
É evidente que é impossível que o ordenamento jurídico esteja a par de toda e qualquer
situação, haja vista a sociedade ser multifacetada e ter muitas peculiaridades, bem como ser
dinâmica, com constantes mudanças, sendo difícil acompanhar esta evolução. Mas, de fato, se
existissem leis regulamentando cada detalhe de um ilícito, não seria possível conhecer todas elas.
Todavia, determinadas evoluções precisam ser regulamentadas, tendo em vista sua
relevância social. Como parâmetro, é possível citar a internet, dada conjuntura de sua evolução
histórica e do grande poder influencia que tem.
A comunicação digital não obedece a limites geográficos, tradições regionais e tantas
outras características do relacionamento entre nacionalidade, que estão fortemente presentes na
comunidade internacional. Superar isso será extremamente trabalhoso, inclusive para os países
que encabeçaram essa revolução tecnológica. Desse modo, o crescimento desta comunicação e
interação de informações, podem acarretar violações de direitos que comumente acontecem nas
relações sociais e comerciais das comunidades. Isso revela a necessidade de descobrir um
4
Sendo assim, entende-se que existe a necessidade de melhorias na atual legislação, que
não abarca tais situações com a devida profundidade, valendo-se de elementos esparsos de forma
subsidiária, que acarretam decisões não uniformes.
Não havendo uma iminente preocupação dos legisladores, que podem materializar esta
problemática na formulação de leis que qualifique, discrimine e tipifique todo e qualquer ato
ilícito, os delitos praticados na internet continuarão em progressão tal qual o avanço da
tecnologia.
28
MICHAEL, Lothar, e Martin Morlok. Direitos fundamentais. São Paulo: Editora Saraiva, 2016, p. 207.
4
29
CRESPO, Marcelo Xavier de F. Crimes digitais. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 34.
4
CONCLUSÃO
Diante desta controvérsia, há uma evidente violação aos direitos de personalidade, como a
honra e imagem, também constitucionalmente garantidos, com a disseminação de conteúdos
ilícitos, de caráter calunioso, difamatório e injurioso, que são penalmente tipificados.
A prática do crime se estendeu ao âmbito virtual, tornando-se muito mais comum e
frequente do que no universo não conectado. Com o disfarce do exercício da liberdade de
expressão os atos ilícitos são normalizados e publicizados, haja vista a amplitude e alcance desse
ambiente digital.
Em consequência, os ataques geram diversos prejuízos a vítima, como a repercussão,
danos psicológicos, danos ao prestígio social, distorção na perspectiva pessoal e muitas outras
questões, que podem ser irreparáveis dada a extensão do dano.
Muitos foram os exemplos de lei, diretrizes e regulamentos dadas que evidenciam a uma
tendência em estabelecer critérios para que os conteúdos propagados na rede, em especial,
tenham maior controle e evitem, dessa forma, situações danosas a terceiros. Uma vez que tudo é
facilmente exposto a um público impossível de mensurar, esse entendimento é deveras relevante,
mostrando que cada vez mais a análise moral se faz indispensável para essa controvérsia.
Adiante, o instituto da responsabilidade civil virou foco, analisando em como ela
proporciona a responsabilização do indivíduo que dissemina o conteúdo ilícito na rede, assim
como verificar como se daria a satisfação da vítima em ver seus danos ressarcidos, de alguma
forma, entendendo que se trata de casos, que, geralmente, violam direitos absolutos por meio atos
ilícitos que geram danos a outrem.
A análise deste instituto ensejou por tratar, individualmente, dos principais requisitos da
responsabilidade civil, sendo eles: conduta, culpa, dano e o nexo de causalidade entre a conduta e
o dano.
Ainda neste tema, importante foi abordar a responsabilidade dos provedores de conexão e
de aplicação de internet, que, de modo geral, não responsabilizados pelos conteúdos ilícitos, a fim
de ver assegurado o direito a liberdade de expressão, conforme artigos 18 e 19 do Marco Civil da
Internet.
No entanto, se mediante ordem judicial para a retirada do conteúdo, o provedor não o
fizer, será responsabilizado pelos danos gerados. Ou seja, responsabilização somente ocorrerá
mediante descumprimento de ordem judicial que determina a remoção do conteúdo. Mas, urge
apontar que
4
o conteúdo que tenha cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado, dispensa a apreciação
do poder judiciário.
Enfim, importante foi a análise da dificuldade do ordenamento jurídico brasileiro quanto a
regulamentação da internet, que já está evoluindo com a aplicação da Lei Carolina Dieckmann,
Marco Civil da Internet e LGPD.
No entanto, não existem leis específicas para regulamentar e gerenciar os conflitos de
direitos fundamentais, utilizando-se subsidiariamente de leis já existentes, em um ambiente onde
são exercidos direitos, mas poucos deveres. Posto isso, compreende-se a necessidade de
melhorias na atual legislação, para que possa abordar tais situações com a devida profundidade.
A Internet é dinâmica, então as ferramentas jurídicas também devem ser, para que o avanço
tecnológico seja acompanhado pelo Direito.
O presente estudo, tencionou proporcionar uma ótica crítica dos problemas gerados por
essa nova realidade em que se vive, visando uma evolução e propondo resoluções que talvez
sejam pertinentes para o futuro, no que tange à comunicação, liberdade e mundo virtual.
4
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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