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FACULDADE DOCTUM DE VITÓRIA – DOCTUM

CURSO DE DIREITO

KAMILA AZEVEDO PEREIRA


RAYANI ARAÚJO LOPES

OS LIMITES DA LICITUDE DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO


AMBIENTE VIRTUAL

VITÓRIA
2020
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FACULDADE DOCTUM DE VITÓRIA – DOCTUM


CURSO DE DIREITO

KAMILA AZEVEDO PEREIRA


RAYANI ARAÚJO LOPES

OS LIMITES DA LICITUDE DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO


AMBIENTE VIRTUAL

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado


ao Curso de Direito a Faculdade Doctum de Vitória-
DOCTUM como requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Direito.
Área de concentração: Direito Constitucional e Direito
Civil.
Orientador: Prof. Me. Alexandro Camargo Silvares
Mestre em Direito Público e Segurança Pública pela
Universidade de Vila Velha.

VITÓRIA
2020
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KAMILA AZEVEDO PEREIRA


RAYANI ARAÚJO LOPES

OS LIMITES DA LICITUDE DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO


AMBIENTE VIRTUAL

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado ao Curso de Direito a Faculdade
Doctum de Vitória- DOCTUM como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel em
Direito.

Aprovado em:_____/_____/ 2020.

COMISSÃO EXAMINADORA

________________________________________
Prof. Me. Alexandro Camargo Silvares
Faculdade Doctum de Vitória -DOCTUM
Orientador

________________________________________
Prof.
Faculdade Doctum de Vitória -DOCTUM

________________________________________
Prof.
Faculdade Doctum de Vitória -DOCTUM

VITÓRIA
2020
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AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaríamos de agradecer a Deus por nos permitir chegar até aqui.

Agradecemos ao nosso orientador por aceitar conduzir o nosso trabalho de


pesquisa.

A todos os nossos professores do curso de Direito da Rede Doctum de Ensino pela


excelência da qualidade técnica de cada um.

Aos nossos pais que sempre estiveram ao nosso lado nos apoiando ao longo de
toda a nossa trajetória.

Aos nossos companheiros pela compreensão e paciência demonstrada durante


todos os 10 períodos.
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OS LIMITES DA LICITUDE DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO


AMBIENTE VIRTUAL

Kamila Azevedo Pereira

Rayani Araújo Lopes

Resumo: O presente artigo busca explanar sobre a licitude da liberdade de


expressão no ambiente virtual, tendo em vista a atual repercussão, despertando
interesse acerca dos limites, direitos e deveres dos usuários da internet no Brasil.
Em que medida a ofensa ou disseminação de informações falsas no ambiente virtual
extrapola a liberdade de expressão.
No que tange aos possíveis limites relativos ao uso do direito de livre expressão,
surge à necessidade de, em primeiro momento, tentar definir o que se enquadra
como ofensa, discurso de ódio e informações inverídicas, bem como a problemática
em saber se os infratores estão protegidos pelo manto da liberdade de expressão.
Vamos abordar a necessidade de adequação da legislação, para que se garanta
uma punição que traga segurança para a população. Pois a internet acaba por
facilitar a impunidade, uma vez que a investigação se torna menos eficaz, muitas
vezes, quando é identificado o autor, já ocorreu a prescrição. Além disso, temos a
questão da fronteira, pois o crime pode ser cometido por alguém que está em outro
país, com leis completamente diferentes das nossas.

Palavras-chave: Discurso de ódio; redes sociais; dignidade da pessoa humana;


direito a personalidade; comunicação; Política.

Sumário: 1. Introdução – 2. Liberdade – conceito e sua concepção – 2.1 Liberdade


de expressão – conceito – 2.2 Limites ao exercício da liberdade de expressão 2.3.
Discurso de ódio – conceito – 3. Evolução da legislação como forma de proteção e
equilíbrio – 3.1 A lei de processamento de dados – 3.2 Direito da personalidade –
direito civil – 3.3 Lei Carolina Dieckmann – 3.4. Direitos fundamentais e seu limite-
CF – 4. As várias faces do discurso de ódio no ambiente virtual – 4.1 O discurso de
ódio no ambiente virtual (WHATSAPP, INSTAGRAM, FACEBOOK E TWITTER) –
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4.2 O DISCURSO DE ÓDIO NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO (TELEVISÃO) – 4.3


O DISCURSO DE ÓDIO NA POLÍTICA – 5. Considerações finais – 6. Referências.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem o objetivo de tratar dos limites da liberdade de expressão


como direito fundamental do homem, em face ao discurso do ódio em redes sociais.

A pesquisa dispõe sobre um assunto de extrema relevância para a área do direito


privado, direito da personalidade, observância no Direito Penal, bem como aos
direitos fundamentais da Constituição Federal de 1988. Buscamos realizar a
pesquisa por meio de compilação bibliográfica, doutrinas, bem como jurisprudências
e normas do sistema jurídico brasileiro.

Dividido em três fragmentos, no primeiro capítulo abordamos a conceituação de


liberdade e sua concepção na convivência em sociedade, a fim de desvendarmos
os limites ao exercício da liberdade de expressão quando se fere o direito alheio em
discurso de ódio.

O segundo capitulo trata-se da evolução da legislação brasileira, como forma de


proteção e equilíbrio nas relações de uma sociedade democrática, buscando
amparo em posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais, com o objetivo de
apontar em qual direção está a justiça brasileira no enfrentamento desta
problemática.

Não menos importante, o terceiro capítulo é dedicado a expor as diversas faces do


discurso de ódio no ambiente virtual, tal como a maneira negativa que ele afeta as
pessoas envolvidas.

O assunto tratado nesta pesquisa, busca ajudar na explanação e reflexão das


dificuldades apresentadas em uma sociedade moderna, democratizada, interligada
ao exercício de liberdade de expressão nas mídias sociais. Assim, ao manifestar-
se suas ideologias e opiniões, o ambiente virtual também passa a servir de meio
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para espargimento de conflitos sociais e discursos de ódio, fazendo surgir a


necessidade de limitações jurídicas em prol da manutenção e respeito ao estado
democrático e das garantias fundamentais dispostas na Constituição Cidadã.

2 - LIBERDADE – CONCEITO E SUA CONCEPÇÃO

Ter liberdade significa que todo tem direito de agir levando em conta o nosso livre
arbítrio, consiste nas escolhas da forma com pensamos e agimos, considerando as
vontades e desejos, sem precisar levar em consideração a opinião alheia. Para a
Filosofia, ser livre significa ter independência e autonomia sobre os próprios atos e
opiniões, e, para Constituição Brasileira é um direito e garantia individual.

A liberdade nasce juntamente com o indivíduo, porém, são estabelecidas algumas


restrições a essa liberdade, pois vivemos em uma sociedade complexa e é preciso
estabelecer regras de convivência para auxiliar nas resoluções de conflitos.

A liberdade é reconhecida e resguardada como fundamental no Estado Social e


Democrático de Direito. A Constituição de 1988, garante a liberdade de expressão.
Sendo que o artigo 5° é um dos mais abrangentes e importantes da nossa
Constituição. Esse artigo protege direitos fundamentais que asseguram a todos
cidadãos mais dignidade e igualdade.

A liberdade de pensamento tem relação direta com os direitos fundamentais


previstos na Constituição, vedando o anonimato previsto no inciso IV, do artigo 5º,
estando ligado ao princípio da legalidade, com previsão no inciso II, artigo 5º da
referida Constituição. O indivíduo tem a liberdade de fazer escolhas, no entanto, o
direito de liberdade não é um direito absoluto, pois todos devem levar em conta o
que é proibido e permitido por Lei.

Com isso, o inciso IV, artigo 5º, veda o anonimato, mas a liberdade de pensamento
e expressão são asseguradas, porém, caso essa liberdade de manifestação de
pensamento cause danos e sofrimento a outrem, o infrator poderá sofrer sanções
correspondentes ao dano causado.
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Na Constituição também encontramos no artigo 220 outro dispositivo que protege a


liberdade, nele dispõe que “A manifestação do pensamento, a criação, a expressão
e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer
restrição, observado o disposto nessa Constituição”.
Podemos concluir que, no Brasil, todos têm o direito garantido por Lei de expressar
suas crenças e opiniões, levando em conta seus sentimentos e diferenças das mais
variadas formas, sem que essa expressão seja submetida a um controle prévio,
por censura ou exigindo licença ou autorização.

2.1 LIBERDADE DE EXPRESSÃO

A liberdade de expressão é um o direito básico que todo indivíduo tem de se


manifestar livremente, expressar seus sentimentos, dar opiniões sobre todos
assuntos de seu interesse e crenças de todos os tipos, abrangendo o meio artístico,
meios de comunicação, independentemente de autorização ou censura. Como foi
abordado no capítulo anterior o direito de liberdade de expressão é uma garantia
dada pelo artigo 5º, inciso IV, da Constituição Federal Brasileira, que dispõe que “é
livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.

Já o inciso IX, desse mesmo artigo, cita que: “é livre a expressão da atividade
intelectual, artística, científica, independente de censura ou licença”. A declaração
do direito de liberdade prevista no artigo 5º da Constituição Federal Brasileira não é
absoluta, pois está limitada a observação prevista no inciso IV, que veda o
anonimato de forma clara. Como também, aduz em seu inciso X sobre as
responsabilidades do indivíduo que violar a intimidade, a honra ou a imagem do
outro. Essas limitações se fazem necessárias para que a liberdade de expressão
não seja extrapolada, vindo a ferir o direito dos demais.

O conceito de liberdade de expressão é extremamente abrangente e engloba vários


direitos filiados a liberdade de se comunicar. É necessário que o Estado proteja o
direito de se segregar e receber informações, notícias, críticas e opiniões,
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garantindo o acesso à informação a partir de diferentes e variadas fontes, prezando


pela democracia, que garanta as liberdades de expressão e de imprensa.

A nova realidade em que vivemos, onde as tecnologias imperam, tudo gira em torno
das novas tecnologias e das redes sociais. As pessoas utilizam esses novos meios
de interação para expressar suas opiniões e posicionamentos, tanto políticos,
religiosos e referentes ao meio artístico, acreditando que estão imunes atrás de
seus computadores, tablets e smartphones.

Tornou-se comum vermos discursos de ódio e ofensas nas redes, sendo justificados
como poder de liberdade de expressão. Talvez o fato de estar atrás de uma tela,
passe a impressão que seus atos não terão repercussão e que seja lícito discriminar
e ofender o próximo. Infelizmente no Brasil, a responsabilização por esses atos não
é eficaz e célere, aumentando assim a sensação de impunidade e disseminando a
prática desses delitos, motivo que nos levou a escolher esse tema.

2.2 LIMITES AO EXERCÍCIO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO

O filosofo Aristóteles, em uma de suas reflexões, afirma que o homem é um ser


social porque é um animal no qual precisa dos outros membros da espécie para
sobreviver. Para ele, o homem necessita de estar em grupo, junto de outras pessoas
porque é um ser carente e assim passa a se sentir pleno e feliz.

Já Thomas Hobbes possui um pensamento distinto deste, em sua reflexão, o


mesmo afirma que não é verdade que o homem é um ser social e que todo ser
humano é naturalmente mau.

Para Hobbes, o fato de que o homem é mau é um subterfugio para discipliná-lo em


um Estado ditador de regras. Assim, tendo em vista que o homem não é social, não
sabendo conviver em sociedade, precisaria de correção, ficando a cabo de o Estado
ditar normas de convivência a que todos devem obedecer a fim de manter a paz
social. Hobbes afirma que só é possível ser social a partir de um pacto entre homens
mediado pelo Estado. Portanto, transgredir as leis é transgredir o pacto.
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Seguindo esse contexto, temos a percepção que o ser humano tem pensamentos
e condutas diferentes umas das outras, por natureza, propenso a inclinações boas
e más. Por isso, as limitações impostas pelo Estado são de extrema relevância para
regulamentar a liberdade de expressão, bem como prevê a possibilidade de exigir
responsabilidades pelo exercício abusivo deste direito, inclusive sendo necessária
para assegurar que nenhum indivíduo faça mal-uso deste.

Uma vez que os homens tendem naturalmente a ter opiniões divergentes, o


exercício da liberdade de expressão por parte destes não é absoluto. Devendo
existir a devida limitação e punição nos casos em que a manifestação do
pensamento começa a ferir direito constitucionalmente consagrado de outrem,
como por exemplo, o direito à honra, imagem, intimidade (STROPPA, 2015).

A liberdade de expressão poderá haver interferências legislativas, algumas


previstas no artigo 5° da Constituição Federal de 1988, quais sejam, proibir o
anonimato; impor o direito a indenização por danos morais, patrimoniais e à
imagem; preservar a intimidade, a vida privada, a honra e a intimidade das pessoas;
exigir a qualificação profissional dos que se dedicam aos meios de comunicação;
assegurar a todos o direito de acesso a informação; (art. 5º, incisos IV, V, X, XIII e
XIV).

É importante enfatizar que o direito à liberdade de expressão não é um direito


absoluto. A própria Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São
José da Costa Rica), cujo art. 13, inciso 2º e 3º, depois de vedar a censura prévia e
proibir a restrição indireta desta, prescreve na alínea a e b do inciso 2º, assegurar o
respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas e a proteção da segurança
nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral públicas. Bem como em seu
inciso 4º e 5º, impõe restrições necessárias senão vejamos:

4º - A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia, com


o objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da
infância e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2º.
5º - A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como
toda apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua
incitação à discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência.
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Assim, por mais abrangente que seja a proteção a liberdade de expressão, não é
tolerado de forma alguma em nossa sociedade o discurso de ódio, constitui crime e
não conduta amparada pela liberdade de expressão, pois nesta situação o que
prevalece é o princípio da dignidade da pessoa humana e da igualdade jurídica.

Nesse mesmo sentido, acerca dos limites da liberdade de expressão, o rel. min.
Celso de Mello, assim dispõe:

O direito à livre manifestação do pensamento, embora reconhecido e


assegurado em sede constitucional, não se reveste de caráter absoluto
nem ilimitado, expondo-se, por isso mesmo, às restrições que emergem
do próprio texto da Constituição, destacando-se, entre essas, aquela
que consagra a intangibilidade do patrimônio moral de terceiros, que
compreende a preservação do direito à honra e o respeito à integridade
da reputação pessoal.
A Constituição da República não protege nem ampara opiniões,
escritos ou palavras cuja exteriorização ou divulgação configure
hipótese de ilicitude penal, tal como sucede nas situações que
caracterizem crimes contra a honra (calúnia, difamação e/ou injúria),
pois a liberdade de expressão não traduz franquia constitucional que
autorize o exercício abusivo desse direito fundamental. Doutrina.
Precedentes. (STF. ARE 891.647 ED, 2ª T, j. 15-9-2015, DJE de 21-9-
2015).

Diante do exposto, consuma-se que as garantias legislativas da liberdade de


expressão não são absolutas, pois o direito à livre expressão não pode englobar,
em sua proteção, exteriorizações revestidas de caráter delituoso. Qualquer forma
de manifestação poderá ser afastada quando ultrapassar seus limites morais e
jurídicos, em nome dos princípios da dignidade da pessoa humana e da igualdade
jurídica.

2.3 DISCURSO DE ÓDIO – CONCEITO

Discurso de ódio é qualquer expressão que menospreze ou promova contra uma


pessoa ou grupo características como raça, gênero, etnia, nacionalidade, religião,
orientação sexual ou outro aspecto passível de discriminação, racismo e
preconceito. Tem-se por base o ódio em si, sendo necessário haver a discriminação
e a exteriorização do pensamento para configurar-se crime no Brasil, bem como um
atentado aos Direitos Humanos.
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Genericamente, esse discurso se caracteriza por incitar a discriminação contra


pessoas que partilham de uma característica identitária comum, como a cor da pele,
o gênero, a opção sexual, a nacionalidade, a religião, entre outros atributos. A
escolha desse tipo de conteúdo se deve ao amplo alcance desta espécie de
discurso, que não se limita a atingir apenas os direitos fundamentais de indivíduos,
mas de todo um grupo social, estando esse alcance agora potencializado pelo poder
difusor da rede, em especial de redes de relacionamento [...] (SILVA et al, 2011, p
446).

Este tipo de discurso vem ganhando surgimento em nossa sociedade e se


apresenta de forma a exaltar as diferenças sociais contra determinadas pessoas e
grupos. Tal exteriorização de pensamento tende a hierarquizar as pessoas, de
forma que considera algumas pessoas melhores que as outras. Tal pensamento é
construído baseado em discriminações e preconceitos étnico-raciais, de gênero, de
culturas, com relação a deficiências, diferenças sociais e outros. Este tipo de
pensamento não deve ser considerado uma opinião tão pouco ter a tutela da
liberdade de expressão, pois ele incita e leva a violência e tal atitude é considerada
crime no Brasil.

Essa prática na maioria das vezes está sendo camuflada, os infratores têm
alegando a imunidade sob a ótica do direito à liberdade de expressão, que em
decorrência disso, vem se tornando cada dia mais difícil sua identificação e
consequente punição.

A nossa Carta Magna em seu artigo 5º, legisla sobre preconceitos e defende a
igualdade de todos, bem como os direitos e deveres do cidadão brasileiro,
condizentes com os Direitos Humanos. Nesse mesmo sentido, a lei brasileira que
criminaliza os diferentes tipos de preconceitos na nossa sociedade é a Lei Nº 7.716,
de 5 de janeiro de 1989. O discurso de ódio é compreendido por esta lei como crime,
pois se baseia em preconceitos e incitações a violência contra diferentes grupos
sociais e parcelas inferiorizadas da sociedade. Além de promover o ódio contra uma
pessoa em específico, o discurso de ódio, procura atacar todo um grupo social, fere
os direitos difusos, aqueles que se relacionam ao um grupo, isto é, quando um
negro, por exemplo, é ofendido pelo simples motivo de ser negro, assim, todos os
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negros também são ofendidos automaticamente. Ferindo o princípio a dignidade da


pessoa humana,
Direito fundamental, no qual sustenta o Estado democrático de direito.

3 EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO COMO FORMA DE PROTEÇÃO E EQUILÍBRIO

A evolução tecnológica dominou o mundo e se tornou uma realidade no dia a dia da


grande maioria da população, a internet se tornou mais acessível e praticamente
todos os celulares possuem acesso as redes sociais.

A internet e as redes sociais são o maior sistema de comunicabilidade que existe


atualmente. Pessoas de todas as idades e classes sociais utilizam esse meio para
obter informações e repassa-las a diante, como também utilizam para
entretenimento, trabalho, compras e busca por relacionamentos. O meio acadêmico
e escolares, precisaram se atualizar e disponibilizar ensino através da internet para
propagação de informação e atingir a nova categoria de consumidores. Com isso,
o uso das mídias está cada vez mais enraizado e se tornou indispensável nessa
nova realidade que vivemos.

Mas como é sabido, nem sempre as redes são utilizadas de forma correta e com
sabedoria. Alguns usuários acreditando na proteção de estar por de trás de uma
tela, operam de forma ilícita e prejudicial ao conjunto da sociedade, cometendo
crimes virtuais que promovem o ódio e o preconceito.

No Brasil atualmente não há uma legislação específica que garanta uma


punibilidade exemplar sobre o tema, criou-se alguns dispositivos que ainda não
contemplam e não respaldam como deveriam as pessoas que sofrem esse tipo de
crime. Infelizmente, as leis existentes no Brasil permanecem frágeis e passam a
ideia de que o ambiente virtual é livre, como muitos falam, terra “sem lei e sem
punição”. A ausência de legislação sobre matérias virtuais, provavelmente é um dos
fatores que mais contribuem para disseminação desse tipo de crime, o ideal para
esse momento é uma legislação atual e compatível com a nova realidade que
vivemos um mundo completamente ligado ao meio virtual.
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Nesse capítulo vamos abordar alguns dispositivos que surgiram diante de reais
necessidades e que servem para dar respaldo as vítimas de crimes praticados pela
internet. O que demonstra uma certa evolução diante dessa nova realidade, mas
que ainda se encontra distante de ser o ideal e de garantir segurança e inibir que
os usuários pratiquem esses crimes.

3.1 A LEI GERAL DE PROCESSAMENTO DE DADOS – Nº 13.709/18

A Lei 13.709/18, denominada Lei Geral de Processamento de Dados (LGPD), foi


sancionada com objetivo de garantir o sigilo e privacidade de dados pessoais
cedidos a pessoa natural ou as empresas públicas e privadas, gerando
compromisso e responsabilidades para quem lida diretamente com dados pessoais
alheios. Com essa lei os responsáveis pelos danos de qualquer espécie, tanto
patrimonial, moral ou coletivos são passiveis de punições, garantindo também a
responsabilização solidária.

A ideia de implantação desta lei surgiu diante das novas necessidades e da nova
realidade do mundo virtual e da existência de uma rede interligada de dados que
acabam levando insegurança para os usuários, que podem ter seus dados
compartilhados e usados de forma diversa da acordada. Gerando
responsabilidades para empresas e pessoas que armazenam, processam,
comercializam operações e dados pessoais de milhares de pessoas.

A Lei Geral de Processamento de Dados foi sancionada no Brasil no ano de 2018,


porém está prevista para entrar em vigor somente em agosto de 2020. Com essa
nova lei as empresas, organizações brasileiras e órgãos públicos terão que adotar
outra postura, modificando suas condutas diante do manuseio dos dados pessoais.
Mudanças positivas e necessárias para garantir privacidade, transparência e
proteção, levando a padronização do tratamento desses dados, sem que haja
conflitos de informações e interpretações diversas.

No Brasil, não obstante os dados pessoais são utilizados como moeda no mercado
consumerista, ao conceder essas informações muitas empresas recebem em troca
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vários tipos de benefícios e serviços digitais, tudo em prol do crescimento


econômico. Grande parte da população não tem ciência e entendimento do quanto
é grave esse tipo de compartilhamento, que é através deles que muitas empresas
identificam e rastreiam consumidores em quase todas atividades realizadas e os
malefícios que essa conduta pode trazer as suas vidas.

Analisando as leis brasileiras é possível identificar algumas falhas, como na falta de


transparência em relação as penalidades impostas aos infratores, além da omissão
quanto a cumulatividade das penas. Outrossim, em se tratando de uma legislação
tão abrangente e de grande complexidade é imprescindível a atuação de um órgão
regulador que possa atuar de forma independente, fiscalizando tanto o setor privado
quanto o setor público. A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), é a
autarquia que seria responsável por essa fiscalização, no qual foi desfavorecida,
sofrendo vários vetos por parte do Executivo, o que acarretará na fragilidade da
fiscalização, gerando falhas graves no acompanhamento da execução da nova lei
e correndo risco de nunca ser efetivado na prática, além de comprometer a
fiscalização em relação aos órgãos públicos, pois estará subordinada a Presidência
da República.

Outra falha grave é o fato da Lei não se aplicar em casos de tratamento de dados
pessoais executados para fins de defesa nacional, segurança pública em geral,
atividades de investigação e em casos de infrações penais. O que torna a lei ainda
mais frágil, pois autoridades policiais não terão suas atividades fiscalizadas e
sujeitas as regras da lei de proteção de dados. Seria interessante que a lei também
abrangesse a proteção da privacidade nessas esferas, comprometendo a eficácia
abrangência da nova lei.

É possível observar pelo exposto, que a LGPD veio para tentar garantir proteção à
privacidade, liberdade e acima de tudo trazer mais segurança nas relações que
envolvem fornecimento de dados pessoais. Essa proteção abrange também dados
coletados através de formulários em papel, cupons de sorteios fornecidos pelas
lojas físicas e todo tipo de ficha de cadastramento.
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3.2 DIREITO DA PERSONALIDADE – DIREITO CIVIL

Todo ser humano possui os direitos da personalidade como razão de sua própria
existência, isto é, o simples fato de sermos humano, não necessariamente ter
nascido com vida (nascituro) e independentemente da idade, cor, sexo, religião, a
pessoa tem direito de defender os seus direitos de existência, bem como o direito à
vida, à integridade física, à integridade moral, à dignidade e etc.

Não só a pessoa natural possui tais direitos, as pessoas jurídicas também são
providas de personalidade, regra expressa do art. 52 do novo Código Civil, que
confirmou o entendimento jurisprudencial anterior ao artigo, qual seja, súmula 226
do STJ, pelo qual a pessoa jurídica investida de personalidade, poderia sofrer um
dano moral, em casos de lesão à sua honra objetiva, com repercussão social.

Os direitos da personalidade são irrenunciáveis e intransmissíveis, previsto


expressamente no art. 11 do Código Civil de 2002. Como também, existe outros
atributos, quais sejam, absolutos, extrapatrimoniais, impenhoráveis, indisponíveis,
imprescritíveis, vitalícios.

O operador do direito ao legislar esta matéria, foi bem especifico no sentido de


garantir a segurança jurídica ao ofendido advinda de uma violação do direito da
personalidade. O artigo 12 e 20 do C.C, prevê que cesse a ameaça, ou a lesão, a
direito da personalidade, bem como prevê que poderão ser proibidas e indenizadas
a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou
a utilização da imagem se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade,
ou se se destinarem a fins comerciais.

Com o avanço da tecnologia e a facilidade que as pessoas têm acesso a dados e


conteúdos íntimos de terceiros, há uma grande incidência à violação dos direitos à
privacidade, à honra, ao nome e a imagem da pessoa humana. Tais lesões vêm
crescendo de forma desacerbada no ambiente virtual. Foi a partir dessa proteção
previstas nos artigos 12 e 20 do C.C, que a violação do direito a personalidade
começou a sofrer sanções tanto no âmbito civil, quanto no penal e administrativo.
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Os direitos da personalidade são consagrados de forma tão árdua, em nosso


ordenamento jurídico, tanto no Código civil quanto em nossa Constituição Federal,
resumidos no princípio da dignidade da pessoa humana disposto no art. 1º, III, CF.
Como também resguardados no Art. 5º da CF., a fim de proteger, resguardar e punir
todo aquele indivíduo que vem a violar o direito alheio.

3.3 LEI CAROLINA DIECKMANN – N° 12.737/12

No que diz respeito à área da informática, o mundo moderno exige do direito um


acompanhamento atento das mudanças ocorridas na sociedade. A grande evolução
da sociedade no ambiente virtual abre caminho para a prática de novos ilícitos. E é
nessa vertente que o direito entra com o objetivo de construir barreiras sólidas
contra a criminalidade virtual. A Lei 12.737/12 ganhou o nome de lei Carolina
Dieckmann porque, na época em que o projeto tramitava na Câmara de Deputados,
a atriz Carolina Dieckmann teve suas fotos pessoais em que aparecia nua,
divulgadas na internet.

Sancionada em dezembro de 2012, a Lei 12.737, fez alteração do Código Penal ao


criar o artigo 154-A, que, entre outras coisas, visa punir com pena de detenção de
três meses a um ano e multa aquele que invadir computador alheio.
Essa lei também estabeleceu que se houver divulgação, comercialização ou envio
das informações intimas obtidas na invasão, como comunicações privadas,
segredos industriais e dados sigilosos, a pena pode ser elevada de um a dois terços,
e se o crime for cometido contra o presidente da República, do Supremo Tribunal
Federal (STF), governadores, prefeitos, entre outros, a pena será aumentada de um
terço à metade.

Ao analisar a letra da lei, concluímos que esta visa apenas incriminar a conduta do
agente que apenas invade, driblando os mecanismos de segurança, e obtém,
adultera ou destrói a privacidade digital alheia, isto é, a lei condiciona a ocorrência
do crime com a violação indevida deste. Assim, a invasão do dispositivo informático
que se der sem a violação do mecanismo de segurança pela inexistência deste será
18

conduta atípica. Por isso, o texto redigido pelo legislador possuiu falhas que não
garantam 100% a sua eficácia.

Ressalta-se que embora algumas condutas sejam tipificadas nos dispositivos


existentes no Código Penal, outras condutas não previstas ainda ocorrem
frequentemente, tornando os criminosos impunes por falta de legislação específica
para determinados casos.

3.4 DIREITOS FUNDAMENTAIS E SEUS LIMITES

Os direitos fundamentais são direitos inerentes a todos os brasileiros e os


respaldam juridicamente em situações essenciais ao ser humano, garantindo itens
básicos como a dignidade, sobrevivência e convivência em sociedade. São Direitos
primordiais, quais sejam o direito à vida, igualdade, liberdade, dignidade, educação,
saúde, direito de se expressar, dentre outros.

Esses direitos estão diretamente ligados aos direitos humanos que protegem a
igualdade e abominam a discriminação no mundo como um todo, prezando sempre
pela dignidade humana. O dever do Estado é proteger esses direitos fundamentais,
que foram conquistados através de muita luta. Direitos esses que são invioláveis e
nunca prescrevem.
Em nosso ordenamento os direitos fundamentais estão assentados na Constituição
Federal de 1988. A maioria desses direitos estão previstos no artigo 5º, como o
direito à liberdade, tema abordado nesse trabalho acadêmico.

Outros direitos de suma importância presentes na Constituição Federal são os


direitos à vida, direito a igualdade, direito a segurança, logo esses direitos estão
diretamente ligados ao direito à liberdade de expressão.

A liberdade de expressão é um direito fundamental que permite que o indivíduo


possa manifestar suas ideologias, pensamentos, garantindo que suas opiniões e
seus sentimentos sejam livres de qualquer censura. Além disso, como vivemos em
um país repleto de diferenças e com diversas religiões, essa liberdade se expande
19

e garante que cada indivíduo possa cultivar suas crenças e ter posicionamentos
diversos em relação à política, religião e cultura, sendo respeitado e tendo seu
espaço de manifestação garantido.

A proteção da liberdade de expressão é essencial para garantir a democracia, pois


somente quando exercemos a nossa liberdade para nos expressar, é que
conseguimos participar efetivamente das relações políticas do nosso país. Nesse
sentido, também se torna fundamental que tenhamos acesso a todo tipo de
informação.

O direito à liberdade engloba o direito de ir e vir, liberdade de crença e liberdade de


expressão. Entretanto, a nossa carta magna no Art 5 º. X, além de garantir esses
direitos, também limita-os no sentido de não torná-los absolutos. A liberdade de um
indivíduo não pode ferir outros direitos garantidos do outro, sob o argumento de
liberdade de expressão.

Além de limitar a liberdade de expressão por meio da proteção de outros direitos


fundamentais previsto na CF/88, o Estado em alguns casos por meio de leis
específicas também pode limitar e até mesmo proibir a divulgação e propagação de
algum conteúdo específico. Autonomia esta prevista no princípio da legalidade,
descrito no inciso II do artigo 5º da Constituição, prevê que somos livres em nossas
ações desde que respeitemos as leis existentes.

Sendo assim, a liberdade de expressão tornou-se um tema de grande debate e


controvérsia. Atualmente, com o crescimento da internet e redes sociais e a
influência da mídia, as notícias e opiniões acabam entrando em conflito e se
tornando na verdade um campo de batalha, disfarçada de democracia.

Conclui-se, que se expressar não é uma obrigação e sim um direito, o que não gera
obrigatoriedade de externas convicções, posicionamentos políticos e religiosos. As
pessoas podem optar por se abster de professar qualquer religião ou participar de
grupos políticos. Pois, muitas vezes a liberdade de expressão acaba sendo
confundida e ferindo o direito do próximo, através de ofensas e discursos de ódio,
que abordaremos de forma mais ampla no próximo capítulo.
20

4 AS VÁRIAS FACES DO DISCURSO DE ÓDIO NO AMBIENTE VIRTUAL

O direito à liberdade de expressão além de ser fundamental para a democracia, se


torna um papel importantíssimo para o livre desenvolvimento da personalidade e da
dignidade das pessoas. A possibilidade que o indivíduo tem de interagir e de
compartilhar ideias e sentimentos é vital para a existência humana. No entanto, a
liberdade de expressão tornou-se um tema de grande debate e controvérsia.
Atualmente, com o crescimento da internet e redes sociais e a influência da mídia,
as notícias e opiniões acabam entrando em conflito e se tornando na verdade um
campo de batalha, disfarçada de democracia.

O século XXI será lembrado como a era da tecnologia digital e da facilidade do


acesso de qualquer pessoa a adentrar neste meio. No entanto, em decorrência
desta facilidade, usuários racistas, fascistas, preconceituosos e com aversão ao
diferente, se sentem seguros atrás da tela do computador ou smartphones, e dão
início à uma série de condutas nas redes à propagarem seu ódio, utilizando de má
forma o avanço dos recursos na internet.

A facilidade da criação de um cadastro na plataforma das redes sociais por exemplo,


permitiu a propagação de usuários fakes, isso é, contas ou perfis usados na Internet
para ocultar a identidade real de um usuário. Isso se deu em decorrência do
cadastro nessas redes não exigir muito, nome e data de nascimento já é o suficiente
para a criação de um perfil anônimo, no qual muitas vezes o intuito é proferir ataques
a adversidade. Usuários usufruem desse meio para publicar mensagens
preconceituosas a determinados grupos, tendo como exemplo, mulheres, negros,
políticos etc.

O meio virtual possui várias plataformas que permitem uma comunicação rápida e
efetiva, como e-mails e mensageiros. No entanto, o ódio, pode se manifestar sob
diversas faces, e em vários meios diversificados. As vezes de forma encoberta,
outras mais descarada.
21

4.1 O DISCURSO DE ÓDIO NO AMBIENTE VIRTUAL (WHATSAPP, INSTAGRAM,


FACEBOOK E TWITTER)

A internet veio para modificar a vida da população, está à disposição de todos, como
nos shoppings, praças públicas e supermercados aproximar-se daquele parente
distante, por exemplo, ou até mesmo aumentar a renda ao divulgar o seu trabalho.
Dentre tantas coisas boas, a popularização da internet gerou uma outra realidade,
aquela em que os usuários estão mais ativos e propensos a expor suas opiniões e
ideias sem qualquer filtro, se encaixando perfeitamente em discursos de ódio.

As redes sociais como Whatsapp, Instagram, Facebook e Twitter, assim como


outras, são constituídas a partir de perfis criados por cada usuário, possibilitando a
participação de várias pessoas em uma mesma plataforma. Logo, as redes sociais
são formadas por uma população que têm como finalidade, promover informação,
entretenimento, gerar debates, realizar novos relacionamentos e até gerar negócios
e, assim, constrói uma grande teia social virtual, com milhões de utilidades.

Essa plataforma possui ferramentas que permitem compartilhar conteúdos privados


ou públicos, possibilita aos usuários promoverem publicações, trocar mensagens,
curtir publicações, criar grupos de interesses pessoais, revelando a livre
manifestação de pensamento.

Contudo, a partir da exteriorização do pensamento, as redes sociais, têm se tornado


um meio de formadores de opiniões odiosas e, mostrando-se condutas
preconceituosas que cada indivíduo carrega consigo mesmo. Dificilmente alguém
encontrará por acaso uma pessoa na rua disseminando seu ódio em relação ao
diverso, ela estará ali sozinha, sem força, e até mesmo poderá sair presa dali pela
prática por exemplo de racismo, injúria, calúnia, difamação e incitação a práticas
violentas, como estupro, homicídio, lesão corporal e feminicídio. A Lei 7.716/89,
classifica o racismo como crime inafiançável, punível com prisão de até cinco anos
e multa, bem como no artigo 140 do Código Penal (Decreto-Lei 2.848/40), classifica
o crime de injúria, que prevê punição de um a seis meses de prisão e multa. Já no
ambiente virtual, pessoas com pensamentos racistas, homofônicos, machistas, se
22

encontra com facilidade, criando-se grupos e tomando força para disseminar o ódio,
sem medo de quaisquer consequências, não medem esforços ao ferir a dignidade
do outro, sabendo que tem usuários que os apoiam e com a certeza da impunidade
da sua conduta criminosa.

As redes sociais hoje em dia nada mais fazem que amplificar esse ódio, reafirmando
os preconceitos que as pessoas carregam camufladas consigo mesmas. Com a
certeza da impunidade, se mostrando serem os donos da verdade, as pessoas que
praticam o discurso de ódio não se importem com incitações ao crime, violência e
possíveis danos morais e materiais à vítima. Tal conduta comprova que a nossa
sociedade é extremamente intolerante a determinadas ideologias, gênero, raça,
condição sexual, dentre outros fatores que sejam distintas ao seu modo de pensar.

O grande problema disso é que após um discurso de ódio, se for denunciado por
algum usuário na própria plataforma da rede social do infrator, o máximo que a rede
social faz como punição é excluir a publicação, se é que pode se chamar de tal
medida de punição.

A falta de uma legislação mais ampla para regulamentação e consequente proteção


dos usuários no ambiente virtual, como por exemplo, aumentar a exigências no
cadastro do perfil do usuário nessas redes, pois, a não exigência de CPF, RG,
endereço e etc, acarreta a dificuldade da identificação e localização do infrator,
levando muitas vezes a impunidade.

4.2 O DISCURSO DE ÓDIO NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO TELEVISIVO

A televisão, além de servir como entretenimento e meio de informação, utiliza-se de


uma linguagem simples e de fácil entendimento. Porém, seu conteúdo é pensado e
programado para atingir cada público e com intuito de propagar informações que
são de interesse das empresas.
23

A televisão além de ser um simples meio veiculador de mensagens, tem o poder de


influenciar diretamente na formação de hábitos e na construção da cultura do país.
Na medida em que a televisão foi crescendo e se desenvolvendo, seu poder sobre
a população se consolidou, sendo responsável por mudar hábitos, instigar o
consumo de certos produtos e também de disseminar ideias, influenciando até
mesmo em posicionamentos políticos.

O telespectador é um alvo frágil e que se deixa levar pelo que a mídia quer mostrar.
No Brasil muitos desses telespectadores acabam formando suas opiniões através
da mídia, que nem sempre se posiciona de acordo com a verdade, mas sim
conforme interesse financeiro.

Teoricamente nos regimes democráticos os cidadãos possuem a liberdade de


expressão e à mídia a liberdade de imprensa. No Brasil nenhum jornalista sofre
restrições por conta de matérias contrárias ao governo, porém a questão econômica
com o poder público pode influenciar e ser tendencioso em apoiar ou não o governo
atuante no momento.

Infelizmente, o que vemos muitas vezes nas transmissões das emissoras vai além
da liberdade de expressão. É possível observar que as matérias são tendenciosas
e que estimulam o discurso de ódio, principalmente no âmbito político e religioso.

É fato que a liberdade da imprensa é primordial para que a população tenha acesso
as notícias e fatos ocorridos em seu terrível e mundialmente. Porém, essa liberdade
pode ser muito nociva para sociedade, quando não há uma imparcialidade e a
empresa responsável está vinculada com o governo ou empresas privadas que
possuem interesse naquelas informações divulgadas. O fato é que liberdade em
excesso pode ser prejudicial e a sociedade que arca com esses malefícios, pois
esse mercado é uns dos poucos que não possui órgãos públicos para fiscalizar suas
atividades.

É lamentável que a televisão brasileira influencie comportamentos e discursos de


ódio, levando a população a se dividir e causando sérios conflitos, quando na
verdade deveriam se unir em prol do bem comum. A venda do discurso de ódio
24

como liberdade de expressão é passada com a ideia de democracia e a população


compra a essa ideia e passa a defende-la com ardor.

É grave o fato de alguns programas televisivos conquistarem sua audiência através


de violações aos direitos humanos e expondo pessoas de forma indevida,
disseminando o ódio, preconceito e incitando outros tipos criminológicos. Falta ética
das empresas de comunicação que se aproveitam de certas notícias e deixam de
noticiar outras que não são benéficas aos seus interesses.

Atualmente, muitos programas se utilizam do humor para promover seus próprios


interesses e estimular o discurso de ódio e incentivar conflitos sociais e ao serem
questionados, simplesmente alegam serem vítimas de censura, acreditando que
estão imunes as críticas e questionamentos.

Mesmo que muitas pessoas ainda sejam influenciadas pelas redes de televisão, a
verdade é que internet reduziu essa abrangência, limitando a influência e poder
dessas mídias. A internet se mostrou uma mais dinâmica e que contempla maior
número de pessoa, sendo um meio de comunicação excelente para se obter todos
os tipos de notícias, onde as pessoas encontram matérias relacionadas a tudo e
não somente o que é interessante para aquela emissora específica.

Concluímos, que a postura correta e apropriada a ser tomada pelas emissoras de


televisão é de informar de forma imparcial e levando informação de forma clara e
responsável, observando princípios éticos, respeitando as diferenças e permitindo
que a população seja capaz de formular suas próprias convicções.

4.3 DISCURSO DE ÓDIO NA POLÍTICA

O direito à liberdade de expressão está diretamente ligado aos direitos políticos.


Afinal, qual a fronteira entre se expressar ou fazer um discurso de ódio e a influência
das redes sociais nas eleições são questões que abordaremos e que atualmente
tem sido pauta mundial tanto em jornais, quanto nas redes sociais.
25

Segundo entendimento de Venício A. de Lima (2015), a forma com a mídia atua em


relação à política e aos políticos tem sido marcada por perspicaz desqualificação.
Para ele essa desqualificação dá-se pela necessidade que os meios de
comunicação têm de se legitimarem como mediadores entre a população e o
espaço público, além disso, se julgam o único meio de comunicação com
legitimidade para exercer tal papel. “É no contexto dessa cultura política que as
gerações pós-ditadura têm sido socializadas e formadas, mesmo não sendo
usuárias diretas da velha mídia” (LIMA, 2015, p.99-100).

Mesmo sendo o Brasil um país “democrático”, os processos eleitorais que


teoricamente são livres e emanam do povo estão sofrendo forte influência das redes
sociais e fake news que são estrategicamente jogados na rede, isto é, notícias
falsas que consiste na distribuição deliberada de desinformação ou boatos via jornal
impresso, televisão, rádio, ou ainda online, como nas mídias sociais, como forma
de influenciar os eleitores. Muitas notícias falsas e discursos extremistas despertam
o fanatismo e geram uma concorrência sem bons argumentos.

O brasileiro vê o seu próximo, não como um adversário político que tem


pensamentos contrários aos seus, mas sim como um inimigo que deve ser ofendido
e busca pontos que agridem o outro para ganhar a batalha. Esse comportamento
se tornou habitual nas redes sociais atualmente, o que gera mais raiva, discussões
e inimizades entre as pessoas.

A obsessão com o controle da imagem na política se tornou primordial e mudou a


forma de fazer campanhas eleitorais. O alcance da internet se tornou mais eficaz
do que as propagandas dos meios televisivos, o que interferiu drasticamente nas
eleições atuais, tornando as redes sociais muito mais atrativas para os cidadãos.
Sendo por esse meio que grande parte do eleitorado toma suas decisões e acaba
influenciando seus próximos.

Antigamente era comum ver políticos assassinados em função do cargo que


exerciam. E atualmente temos o caso da vereadora Marielle Franco, que causou
grande repercussão mundial. A vereadora Marielle foi vítima de um crime, cuja a
investigação apura se houve crime político, já que uma das conclusões do Ministério
26

Público do Rio de Janeiro na denúncia apresentada foi motivado em razão de sua


atuação política. Até o presente momento não teve solução e os fatos não foram
esclarecidos. Mesmo diante de um caso trágico como esse, vemos nas redes
sociais posicionamentos a favor da brutalidade e que tentam de certa forma justificar
a conduta dos criminosos.

A solução para frear essa evolução do discurso de ódio é que a legislação brasileira
se adeque, sendo mais específica a essa categoria e trate como crime em termos
jurídicos e aplique punições severas que limitem esse crescimento que pode atingir
gravemente e modificar o rumo de eleições no país.

A ausência de punição para esse tema faz com que muitas pessoas não sintam
medo das consequências de seus atos, praticando cada vez mais condutas
criminosas, e quem é ofendido fica desacreditado com tanta impunidade, que acaba
não buscando a justiça quando seus direitos são feridos por outrem, deixando de
ter seus direitos resguardados e devidamente reparados.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Proteger a dignidade da pessoa humana é garantir a liberdade de expressão como


forma de atuação do Estado democrático de Direito. Podendo assim, o homem
exteriorizar seus pensamentos e crenças, sem que haja qualquer censura.
Entretanto, quando falamos em liberdade, devemos lembrar que tal direito não é
absoluto, não está acima dos direitos fundamentais inerentes ao homem, sendo
sujeito a limitações a partir do momento em que ferir o direito de outrem.

No caso ora em estudo, sobreleva destacar que o discurso de ódio é basicamente


uma forma de comunicação que objetiva promover o ódio, usando do direito à livre
manifestação como um meio para discriminar, ofender, diminuir, agredir outras
pessoas devido a suas condições sociais ou características étnicas, raciais,
religiosas, culturais, de gênero e orientação sexual e etc. Consumando-se através
27

do ambiente virtual, cuja ferramentas são as redes sociais e meios de comunicação


televisivo.

Discorrendo sobre a pesquisa ressalto que os limites entre a liberdade de expressão


e o discurso de ódio ainda são de difíceis delimitações, surgindo cada dia mais
problemáticas pela falta de amparo legal. Demonstramos a necessidade do poder
legislativo ao criar leis mais especificas que regulamentem o uso da internet no
Brasil, bem como tipifique como crime o discurso de ódio, a fim de proteger a
liberdade de expressão, dignidade da pessoa humana, como também outros
direitos do homem.

Concluímos que por estarmos diante de dois princípios constitucionais, quais sejam
a liberdade de expressão, em poder manifestar livremente os pensamentos, e, a
dignidade da pessoa humana, no qual não pode ser ferido pelo discurso de ódio,
alegando estar em exercício da liberdade de expressão. Frisa-se que um direito
deve servir de limitação ao outro, devendo haver um ponto de equilíbrio entre eles.
Tendo como base o princípio da unidade constitucional, a Constituição Federal não
pode estar em conflito consigo mesma.
28

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