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CRIMES CIBERNÉTICOS
OS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO AMBIENTE VIRTUAL
CABO FRIO
2021.2
ISABELLA MELO SOUSA
CRIMES CIBERNÉTICOS
OS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO AMBIENTE VIRTUAL
CABO FRIO
2021.2
CRIMES CIBERNÉTICOS
OS LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO NO AMBIENTE VIRTUAL
Isabella Melo Sousa1
RESUMO
O presente artigo tem por objetivo abordar os aspectos históricos e conceituais a
respeito da cibercriminalidade, assim como realizar uma breve apresentação de leis
brasileiras que atualmente tratam do tema. A pesquisa tem por enfoque um estudo
mais aprofundado sobre a liberdade de expressão, bem como o exercício do direito à
tal liberdade, a fim de que se determine os seus limites no ambiente virtual e as
consequências que a repercussão dos ataques à honra e à imagem de um indivíduo
através da internet podem gerar. A relevância do tema abordado será tratada no
decorrer dos capítulos deste artigo, onde serão apresentadas opiniões de autores e
doutrinadores a respeito do tema, tal qual possíveis resoluções para o questionamento
principal desta pesquisa, sobre os meios possíveis de se deter o exercício opressor
da liberdade de expressão.
SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO; 2.CRIMES CIBERNÉTICOS E SEUS ASPECTOS HISTÓRICOS;
2.1.FUNDAMENTAÇÃO GERAL SOBRE CIBERCRIMINALIDADE; 2.2.LIBERDADE
DE EXPRESSÃO E A CIBERCRIMINALIDADE; 2.2.1.OS JOVENS E OS
CIBERCRIMES CONTRA A HONRA; 2.2.2.O RACISMO NO AMBIENTE VIRTUAL;
2.3.DIREITO AO ESQUECIMENTO; 2.4. LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO
VIRTUAL; 3.CONCLUSÃO; REFERÊNCIAS.
1
Graduanda em Direito pela Universidade Estácio de Sá. Campus Cabo Frio
1 INTRODUÇÃO
2
O termo “era moderna” é apropriado aqui, uma vez que pode-se nomear como tecnólogo tudo que é
considerado novo em matéria de conhecimento técnico e científico.
transmitir as informações de maneira secreta, de forma que apenas o destinatário da
mensagem seria capar de entendê-la.
Com os avanços tecnológicos a criptografia foi evoluindo e assim, se propagando
longo dos séculos, fazendo com que fosse despertado o interesse de especialistas
em diversas áreas a respeito do assunto. Uma vez sendo a criptografia a ciência de
ocultar informações, as noções iniciais e principais sobre cibercriminalidade foram
originadas do propósito de se obter tais informações, fazendo, assim, com que
surgissem os mais notáveis especialistas em quebra de códigos da história.
Alan Turin foi o mais popular dentre eles, durante a Segunda Guerra Mundial era
conhecido como o “pai da computação”, matemático, cientista e criptoanalista
britânico, como era conhecido, tornou-se o responsável pela criação de diversas
técnicas capazes de quebrar os códigos alemães. É possível afirmar que Turing, ao
expor a fragilidade dos sistemas da época e os aprimorando, se tornou o maior
responsável pelo avanço da criptografia como ciência. (SCHECHTER, 2016)
Considerando o período histórico, torna-se óbvio que a intenção na criação de um
sistema como esse era de caráter bélico. Foi no auge da Guerra Fria que toda a ideia
por trás da criação desse sistema começou a surgir. O maior contexto histórico da
internet teve sua relevância durante a década de 1950, foi nesse período em que a
ocorrência de crimes informáticos chegou em seu ápice, antes mesmo que existisse
a percepção de cibercriminalidade.
Tal percepção só foi possível com a criação do projeto militar ARPANET, da Agência
de Projetos de Pesquisa Avançada dos Estados Unidos. Projeto esse que foi o
precursor da internet, sendo a primeira rede operacional de computadores interativa
à base de comunicação de dados.
O Mestre das Ciências Marcelo de Carvalho, explica, em sua dissertação de mestrado,
que a corrida armamentista e a tensão da Guerra Fria entre Estados Unidos e União
Soviética tiveram grande influência no desenvolvimento de tal invenção, uma vez que
serviu de estímulo para que se otimizasse esse sistema, o tornando mais sofisticado
e preventivo. (2006, p.28)
A partir de então, uma nova concepção de internet, mais próxima da atual, começou
a surgir, fazendo com que os crimes informáticos alcançassem patamares mais
elevados. Com o fim da guerra e das tensões entre os Estados Unidos e a União
Soviética, ocorreu uma abertura das redes para os interesses comerciais, quando a
internet passou a ser “comercializada” pelos Estados Unidos.
Iniciou-se assim, uma verdadeira revolução tecnológica, gerando um ciclo de
mudanças em toda a estrutura da internet, que deixou de ser um sistema
incompreensível, de acesso restrito às minorias, para se tornar o meio de
comunicação mais utilizado do mundo. Uma vez que a criptografia, utilizada para
proteger dados digitais de todo o mundo corporativo, se tornou objeto de atenção dos
ciber criminosos, iniciou-se também uma nova fase para a cibercriminalidade.
Pode-se observar que a internet se tornou uma necessidade na vida das pessoas,
seja para trabalho ou entretenimento, a era digital tem substituído a forma
convencional de trabalho, até mesmo em órgãos governamentais, como por exemplo
o processo digital, que está inovando a maneira de peticionar ao judiciário brasileiro.
A frequência com que as pessoas se mantém conectadas hoje em dia aumenta cada
vez mais, os aparelhos eletrônicos, em especial os celulares, tornaram-se essenciais
na vida das pessoas. A dependência digital a nível global está cada vez mais próxima
de ser uma realidade.
De acordo com Pedro Lenza (2012, p.2159), a vedação do inciso IV se fez necessária,
uma vez que:
Logo, para que um direito não anule o outro, sabiamente o legislador ressalvou o
anonimato.
Qualquer informação de cunho calunioso, difamatório e pejorativo associado a um
indivíduo estará para sempre no ambiente virtual, o que afeta não somente a honra e
a moral do próprio indivíduo, como também se estende aos seus familiares.
Contudo, a própria Carta Magna faz exceção à expressa vedação constitucional ao
anonimato como limite ao exercício da liberdade de expressão, quanto institui o
resguardo ao sigilo da fonte. O artigo 5º, da Constituição Federal, em seu inciso XIV
dispõe:
“Art. 5º
(...)
XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício
profissional;”.
Se faz então necessário estabelecer a diferença entre o sigilo da fonte da informação
e o anonimato, uma vez que um é direito garantido pela Constituição e o outro não
tem amparo legal. Enquanto o sigilo da fonte é o direito pelo qual se valem os
jornalistas, a fim de preservar as suas fontes, o anonimato é expressamente vedado
pela Constituição, exceto em casos específicos, como uma denúncia anônima por
exemplo.
É evidente que a lei não impede uma pessoa de manifestar suas opiniões livremente,
porém tem suas ressalvas, de maneira que estará passível de punição quem exercer
o seu direito de forma arbitrária ou se exceder no exercício do mesmo, violando direito
alheio.
É entendimento de alguns doutrinadores que os direitos à intimidade e à privacidade
são autônomos, reconhecidos e protegidos inclusive internacionalmente, nos pactos
e tratados de direitos humanos, e devido a isso, a ofensa a esse direito pode ser
constituída crime, como também é passível de indenização.
O direito à intimidade é referente aos pensamentos e sentimentos externados ou não
pelo indivíduo, já o direito à privacidade se refere aos hábitos que o indivíduo possui,
como por exemplo a maneira como ele se comporta, com quem e como esse indivíduo
se relaciona, como ele vive de maneira geral.
A necessidade de tornar públicas as informações no ambiente virtual, não se dá
somente com opiniões dos indivíduos, como também com os seus dados pessoais,
como endereço ou telefone. Sentimentos, modo de vida, aquisições, tudo é filmado,
documentado e postado nas redes.
Há muita divergência no meio jurídico sobre o papel da internet nessas situações de
delito, principalmente sobre a sua classificação. O que levanta questionamentos sobre
a obrigatoriedade da criação de leis específicas para a tipificação de crimes virtuais.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) declarou através de seu informativo eletrônico:
No Brasil adota-se o sistema de reserva legal, ou seja, não há crime sem lei anterior
que o preveja, por isso tais condutas não podem ser consideradas delituosas. Crimes
como o assédio e os ataques à honra do indivíduo devem ser melhor observados
quando praticados online, uma vez que não possuem previsão legal específica.
Pode ser observado que, ao empregar o termo genérico “meios de comunicação social
ou publicação de qualquer natureza”, o legislador abrangeu todos os meios de
comunicação existentes e, portanto, compreendendo a internet, a televisão, os jornais,
rádios etc.
Apesar de causar confusão em muitos indivíduos, o racismo e injúria racial são dois
tipos penais diferentes. Enquanto o racismo está previsto na lei e tem como alvo a
dignidade de toda uma comunidade e indivíduos indeterminados, em razão de sua
raça, a injúria racial é dirigida a um determinado indivíduo em específico. O próprio
texto legal traz essas definições, como pode ser visto no artigo 140º, do Código Penal,
em seu parágrafo 3º:
“Art. 140 – Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o
decoro:
(...)
§3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes
a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa
idosa ou portadora de deficiência:
Pena – reclusão de um a três anos e multa.”
Esse artigo teve sua redação alterada em 1997 para que pudesse ser incluída a
qualificadora do parágrafo terceiro acima descrito. Pode-se observar que o sujeito,
objeto da infração é dito no singular, “alguém”. Diferindo do primeiro parágrafo da Lei
de Racismo, que generaliza, não especificando o sujeito alvo da ação delituosa, como
pode ser visto a seguir:
Fonte: https://new.safernet.org.br/denuncie
ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação penal especial. 12ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 16ª ed. São Paulo: Saraiva,
2012.
STJ. Globo Terá de Pagar R$50 Mil Por Violar Direito ao Esquecimento. Publicado
em 2013. Disponível em:
https://stj.jusbrasil.com.br/noticias/100547749/globo-tera-de-pagar-r-50-milpor-
violar-direito-ao-esquecimento
Acessado em 03 de Setembro de 2021.