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PORNOGRAFIA DE VINGANÇA CONTRA A MULHER EM MEIO

DIGITAL

Projeto de pesquisa apresentado


como requisito de avaliação do
componente curricular "Trabalho
de Conclusão de Curso II" do
curso de graduação em Direito.

Salvador
2022
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1 APRESENTAÇÃO

1.1 AUTOR
xxx

1.2. TÍTULO
Pornografia de vingança contra a mulher em meio digital.

1.3. ÁREA(S) DE CONHECIMENTO


Direito Penal; Direito Constitucional.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

A pornografia de vingança, neste trabalho, é caracterizada como uma conduta ilícita


praticada por um agente com intuito de retaliação por conta, principalmente, do fim de um
relacionamento amoroso. Onde, mediante ameaças, o autor, via rede social, se compromete a
compartilhar fotos, vídeos ou conversas íntimas do antigo relacionamento, com objetivo de
consagrar sua manutenção ou restituição, ao passo que tenta esconder sua autoria.
Neste contexto, o projeto adota como eixo temático a discussão sobre a viabilidade da
Lei Maria da Penha e o Estatuto da Criança e do Adolescente, onde este, consagra suas
atualizações técnicas no combate ao crime digital, em que tange a resolução de conflitos na
busca pela autoria do tipo penal, juntamente com aparato disponível do Estado, a fim de
garantir o bem jurídico tutelado pela Carta Magna, também de forma infraconstitucional, pelo
Código Penal pátrio.
Para esse contexto há necessidade de tratar sobre a sociedade de risco, contextualizada
em ambiente tecnológico, que abrange uma série de delitos já conhecidos pela Secretaria de
Segurança Pública, tais como crimes cometidos contra a honra. Em relação ao acometimento
desse tipo penal, é notória existência de casos com retaliação do parceiro que após não
aceitação do fim de um relacionamento ameaça compartilhar, via rede social, fotos ou
mensagens íntimas do período de relacionamento, com intuito de forçar a manutenção do
mesmo.

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Neste século, não devemos ignorar que o mundo está cada vez mais tecnológico, onde
abarca novas ferramentas, ou modus operandi distintos dos convencionais, facilitando a
atuação desses autores. Resultando, consequentemente, em necessidades inovadoras de
respostas do Estado frente aos acontecimentos, a fim de viabilizar e salvaguardar os bens
jurídicos tutelados pela sociedade, os quais são de direito da população, garantidos na
Constituição Federal e no próprio Código Penal pátrio.
Discute-se a atualização técnica do Estatuto da Criannça e do Adolescente, no
combate da pornografia de vingança contra a honra da mulher, momento em que, há
permissão da figura do agente infiltrado no meio digital com objetivo de alcançar meios de
autoria e materialidade do suposto crime. Sendo esta atualização suficiente para chegar ao
resultado esperado, ou diante desta atualização encontra-se o obstáculo do aparelhamento
estatal frente a equipamentos obsoletos e mão de obra não qualificada.

3 HIPÓTESE

Para o levantamento da discussão, fora analisado se a inclusão da figura do agente


infiltrado em meio tecnológico, como forma de procedimento investigativo, tem se tornado
relevante no combate ao crime de pornografia de vingança, levando em consideração a Lei
Maria da Penha e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Bem como o estudo dos recursos
tecnológicos e a capacitação da Polícia Civil da Bahia para desempenhar essa função
investigativa.

4 JUSTIFICATIVA

A sociedade busca, de forma eficaz, uma resposta do Estado frente aos problemas que
vêm surgindo ao longo dos anos. Formas de efetivar delitos são constantemente renovadas
com o meio tecnológico, onde para isso, não se faz presente os obstáculos de distanciamento
físico ou qualquer outro tipo de barreira, seja política, cultural ou econômica.
Os meios que o Estado apresenta para recepcionar novas demandas sociais de proteção
ao bem jurídico solicitado podem carecer de modernização, as quais precisam acompanhar as

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mudanças tecnológicas. Os novos delitos cibernéticos, como forma de vingança contra a


mulher, requerem perícia por parte do criminoso, assim como a tutela do Estado, frente o
agente que recepciona a situação, também carece de perícia para acompanhar e efetivar a
salvaguarda de bens jurídicos demandados.
Esse trabalho representa grande importância para sociedade, onde se espera resposta
efetiva do Estado frente a demanda de mulheres vítimas de pornografia de vingança, as quais,
amparadas pelos direitos fundamentais de viver sem nenhum tipo de violência se sustentam
em garantias constitucionais, como proteção do bem jurídico, além de normas
infraconstitucionais, como a Lei Maria da Penha.

5 OBJETIVOS

5.1 OBJETIVO GERAL

● Analisar o tipo penal proposto no tema, bem como relacionar às dificuldades


enfrentadas pelo Estado para salvaguardar o bem jurídico tutelado.

5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

● Analisar as dificuldades, inclusive estruturais, de localização de autoria e


materialidade dessa modalidade de crime digital, de acordo com o modelo de investigação na
Bahia.

● Refletir sobre meios que propõem redução de impactos causados pelo delito.

● Estudar sobre a formação e atualização técnica dos servidores atuantes no rol


da investigação como forma de localização de autoria, bem como formalização de relatório
investigativo especializado.

6 METODOLOGIA E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A exposição da postura metodológica referente a este trabalho pressupõe a leitura de


diversos autores da área dogmática penal, além de constitucionalistas e especialistas em
ambientes tecnológicos digitais.

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O jurista Misael França1, dialoga com Beck2, em sua tese de mestrado, sobre o
contexto de sociedade de risco, a qual abrange consequências, para o direito, acarretadas por
essa sociedade em constante mutação.
O Direito Penal, neste trabalho é visto como garantidor de direitos, frente a uma
sociedade de risco, bem como última ratio em que tange às garantias constitucionais de tutela
ao bem jurídico que fora violado. Outras visões e formas do direito penal serão expostas como
forma de ética e de esclarecimento da existência de outras perspectivas e ações por parte do
Estado, que são defendidas por correntes deslegitimadoras, no intuito de descaracterizar a
impressão de existência de uma forma única de resolução de conflitos. A tese trabalhada
baseia-se na carta magna, sendo defendida por diversos professores, em corrente majoritária,
como: Nilo Batista3 e Juarez Tavares4, quando se faz alusão a função do direito penal clássico.
Juntamente com a visão de Claus Roxin5, em que tange a exclusiva proteção de bens, como
atribuição do direito penal clássico.
Em meio a essa sociedade de risco, é importante apresentar a flexibilização da
positivação da norma penal, diferente do que ocorre com demais ramos do direito, aspecto
esse defendido por Mello6, que implica de forma significativa na centralidade da idéia de
expansão do direito penal como relevante consequência da globalização, defendida pelo autor
Jesus Maria Sanches7.
Contextualizando esta corrente ideológica com as ações da polícia judiciária baiana
frente aos acontecimentos dessa forma delituosa que ocorre em meios digitais, demonstrando
como, de fato, ocorrem as investigações para esse tipo penal, bem como observar a forma
tradicional do modelo de investigação estaria adequada, como resposta, nesta expansão do
meio tecnológico, que prescinde de limites territoriais para sua efetivação.

1
FRANÇA, Misael Neto Bispo da. Imputação individual de crimes ambientais societários: um estudo sob o
prisma do garantismo penal. 2012
2
BECK, Ulrich. La sociedad del riesgo – Hacia una nueva modernidad. Barcelona: Paidós Iberica, 1998.
3
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. Rio de Janeiro: Revan, 1990.
4
TAVARES, Juarez. Fundamentos da teoria do delito.
5
ROXIN, Claus. Estudos de direito penal. Tradução de Luís Greco. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.
6
MELLO, Sebástian Borges de Albuquerque. Direito penal – Sistemas, códigos e microssistemas jurídicos.
Curitiba: Juruá, 2004.
7
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. Expansão do direito penal. Aspectos da política criminal nas sociedades
pós-industriais, v. 2. Tradução de Luiz Otávio de Oliveira Rocha. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

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7 SUMÁRIO PROVISÓRIO

1-Introdução

2-Direito penal e constituição - a exclusiva proteção de bens jurídicos fundamentais

2.1-contraponto (correntes deslegitimadoras)

3-Pornografia de vingança (do que se trata?)

4-Avanços legislativos de combate

5-A investigação na Bahia (dificuldades/facilidades)

6-Considerações finais

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2-Direito penal e constituição - a exclusiva proteção de bens jurídicos fundamentais

O direito penal, na ótica da nossa sociedade, visa salvaguardar os bens jurídicos tidos como
relevantes, bem como garantir, ou ao menos, passar uma sensação de maior segurança para
sociedade que em busca de uma última ratio acredita numa resposta adequada do Estado
frente aos problemas decorrentes da sociedade atual.

Dessa forma, Nilo Batista8, conceitua, em sentido objetivo, o conceito de Direito Penal.
Conforme segue a risca: 

“Direito penal, em sentido objetivo, é o conjunto de normas jurídicas


que prevêem os crimes e lhes cominam sanções, bem como
disciplinam a incidência e validade de tais normas, a estrutura geral do
crime, e a aplicação e execução das sanções cominadas”.

Em outras palavras, proposta pelo professor, o direito penal é finalístico, seu surgimento está
atrelado a cumprimento de um determinado papel, diferente do que muitos pensam, não vem
com um intuito de positivar diversos aspectos valorativos e morais de uma sociedade. O que
vai dar um caráter criminoso a um ilícito será apenas a vontade política, por meio de funções
típicas do legislativo.

Como, também ensina: “afirmamos, portanto, que o direito penal é disposto pelo estado para a
concreta realização de fins”.

Permeando esse diálogo, de garantias do bem jurídico para fins de salvaguardar os interesses
coletivos ao bem estar social, o professor Prado 9 apresenta a importância da existência desse
instituto em frente a carência de objetos metodológicos e base empírica para o estudo nesse
ramo do direito. Conforme visto:

“A idéia de bem jurídico é de extrema relevância, já que a moderna


ciência penal não pode prescindir de uma base empírica nem de um
vínculo com a realidade que lhe propicia a referida noção. Também
não pode renunciar a um dos poucos conceitos que lhe permitem a
crítica do direito positivo.”

ref 8 e 9

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3- Pornografia de vingança (do que se trata?)

O termo apesar de ser pouco usual, tem como ocorrência amplamente divulgado e conhecido
pela sociedade tecnológica. Inicia-se a pornografia de vingança quando uma das partes, de um
antigo relacionamento já findado, não aceita a separação, podendo ser mais comum do que se
imagina em atribuir ao outro certas ameaças de compartilhamento de relações íntimas do
casal, no momento em que encontravam-se juntos. Essas ameaças podem ser atribuídas
apenas como forma de vingança pelo término ou em muitos casos uma forma ilícita de tentar
restituir o relacionamento já destruído.

Para Viegas e Pamplona Filho10, a tutela dos direitos da personalidade é atribuída a qualquer
uma das partes, independente do gênero em questão. Muito embora, nesta análise em questão,
a abordagem baseia-se na figura da mulher como vítima e detentora do direito à tutela desse
delito contra a dignidade sexual.

Breginski11 acredita que muito embora seja um crime que alcance qualquer pessoa, há fortes
indicativos de predominância contra o sexo feminino, desta forma defende a ideia de uma
nova modalidade de violência de gênero.

A modalidade deste delito, em ambiente tecnológico, favorece a disseminação dos arquivos


lançados na plataforma digital, bem como dificulta a localização de autoria, uma vez que a
existência de diversas redes sociais com seus inúmeros usuários ativos, garantem a percepção
dos arquivos em questão de segundos, após upload.

Em consonância a este evento em cascata a honra da vítima é prejudicada de forma


avassaladora, levando em consideração que uma vez disseminado, raramente o material será
perdido ou excluído de forma integral. Mesmo após interferência dos canais de propagação
realizando exclusão de contas ou dificultando as formas de propagação, muitos arquivos já
compartilhados podem continuar sua transmissão ao redor do mundo em arquivos torrent, via
p2p, dark web, entre outros.

10 Pornografia de vingança: uma violência de gênero que gera responsabilidade civil e penal
Cláudia Mara de Almeida Rabelo Viegas e Rodolfo Pamplona Filho. Disponível em:
https://claudiamaraviegas.jusbrasil.com.br/artigos/859759057/pornografia-de-vinganca-uma-violencia-de-
genero-que-gera-responsabilidade-civil-e-penal

11 Pornografia de vingança: o que é isso? Por Katrin Abdalla Breginski. Disponivel em:
https://direitofamiliar.jusbrasil.com.br/artigos/597009198/pornografia-de-vinganca-o-que-e-isso

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