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INSTITUTO SUPERIOR DE GESTÃO E EMPREENDEDORISMO GWAZA

MUTHINI

CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO

Teresa Salomão Cuco

ANÁLISE DA OBSERVȂNCIA DO PRINCÍPIO DE PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA


DA PARTE DOS ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL: CASO DE ESTUDO
PROCURADORIA DISTRITAL DE MARRACUENE 2017-2019

MARRACUENE, AGOSTO DE 2022


TERESA SALOMÃO CUCO

ANÁLISE DA OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DE PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA


DA PÁRTE DOS ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL: CASO DE ESTUDO
PROCURADORIA DISTRITAL DE MARRACUENE 2017-2019

Trabalho de pesquisa apresentado ao


Instituto Superior de Gestão e
Empreendedorismo Gwaza Muthini-
ISGEGM. Como requisito Parcial para a
obtenção do grau de Licenciatura em Direito
sob orientação de dr. Abreu Mungoi

Supervisor: dr Abreu Mungoi

MARRACUENE, AGOSTO DE 2022


Declaração de Honra

Eu, Teresa Salomão Cuco, declaro que este trabalho é da minha autoria e nunca foi
apresentado parcial ou integral em nenhuma instituição de ensino.

Marracuene, Agosto de 2022


__________________________________________
(Teresa Salomão Cuco)

Epígrafe
ʺDeixar ˗se ajudar pressupõe um nível espiritual muito superior ao do simples ajudar.
Porque, se ajudar os outros é bom, melhor é ser ocasião para que os outros nos
ajudem.
Sim, o mais difícil deste mundo é aprender a ser necessitado.ʺ
África Sendino

ii
Dedicatória

Dedico este trabalho a minha Heroína Mãe Adelaide Alberto Cuco, ao meu Pai Salomão
Zacarias Cuco (em memória) e de modo geral aos meus irmãos, várias são as vezes que
enfrentei dificuldades no caminho académico e eles serviram-me de farol para iluminar o
mesmo, para que se orgulhassem de mim como Jurista da Família, em quem um dia se
possam espelhar, inspirar, aprender de mim. Namu Rhandza.

iii
Agradecimentos

O presente trabalho representa o resultado de um processo de caminhada de quatro anos


que se tornou possível graças ao Soberano Deus pelo dom de vida, aos meus pais pela
razão da minha existência.
Ao meu Supervisor Dr Mungoi pela sua incansável orientação para atingir o resultado
último deste trabalho.
Ao Instituto Superior de Gestão e Empreendedorismo Gwaza Muthini através do elenco
dos Docentes que nos instruíram desde a base do saber ser e fazer.
Aos meus irmãos, por todo apoio espiritual, financeiro e moral prestado ao longo do
percurso académico.
Ao meu Chefe de turma Aires Mbeve pelo seu nível de liderança durante os quatro anos,
por várias vezes em que se absteve dele mesmo para carregar a nossa cruz.
Aos meus colegas amigos Lina, Alegre, Délio, Jacinto, Toneto, Jéssica, Benilde, Maria,
Rute, Olivia, Danilo e o Agilson pelo apoio incondicionalmente prestado ao longo do
percurso académico.
Os meus agradecimentos estendem ˗se a todos que de forma directa ou indirecta
contribuíram para o meu ser.

iv
Lista de Siglas e abreviaturas

ONU˗ Organização das Nações Unidas

CRM˗ Constituição da República de Moçambique

CPP ˗Código de processo penal

CC˗ Código Civil

MP˗ Ministério Público

ART˗ artigo

v
Resumo

Este trabalho tem como objectivo analisar o princípio da presunção de inocência por parte
dos órgãos de comunicação social no qual se propõe em apresentar os pontos relevantes
sobre o assunto dentro de uma interpretação sistemática do ordenamento jurídico
moçambicano o que se pretende com este trabalho, em sentido amplo, é avaliar os
fundamentos jurídicos para coibir a exposição da imagem dos suspeitos nos órgãos de
comunicação social e demonstrar que essa exposição não pode ser entendida,
simplesmente, como o direito constitucional à informação, e analisar o direito à
preservação da imagem como factor social e jurídico, confrontando-o com o direito à
informação, pretende-se analisar as consequências da veiculação da imagem, causadas
aos suspeitos, explanando a dura realidade existente, na qual o suspeito tem a sua imagem
violada, sua dignidade ultrajada, Finalmente, demonstrar como tais factos expõem os
suspeitos a situações vergonhosas e humilhantes, sobretudo, prejudiciais a sua
ressocialização, cujas causas devem ser combatidas. Diante desse tema, entende-se que
encontrar um equilíbrio entre a garantia de livre informação e a inviolabilidade dos
direitos individuais, mormente o direito de imagem, harmonizando o exercício de ambos
os direitos, é uma das soluções a ser implementada para eliminar as constantes violações
ao direito de imagem.

Palavras-chaves: Direitos fundamentais, imagem, presunção de inocência, suspeito.

vi
Abstract
This work aims to analyze the principle of presumption of innocence by the media in
which it proposes to present the relevant points on the subject within a systematic
interpretation of the Mozambican legal system. In a broad sense, it is to evaluate the legal
grounds to curb the exposure of the image of prisoners in the media and demonstrate that
this exposure cannot be understood simply as the constitutional right to information, and
to analyze the right to image preservation as a social and legal factor, confronting him
with the right to information, it is intended to analyze the consequences of the
dissemination of the image, caused to the suspects, explaining the harsh reality that exists,
in which the suspect has his image violated, his dignity outraged. Demonstrate how such
facts expose suspects in shameful and humiliating situations, above all, to their
resocialization, whose causes must be fought. Given this situation, it is understood that
finding a balance between the guarantee of free information and the inviolability of
individual rights, especially the right to image, harmonizing the exercise of both rights,
is one of the solutions to be implemented to eliminate the constant violations to the image
right.

Keywords: Fundamental rights, image, presumption of innocence, suspect.

vii
Índice

CAPÍTULO I .................................................................................................................... 1
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
1.1. Contextualização ....................................................................................................... 2
1.2. Delimitação do estudo (Temporal e espacial) ....................................................... 3
1.3. Identificação do Problema e Justificativa .............................................................. 3
1.3.1. Identificação do Problema ................................................................................. 3
1.3.2. Justificativa ........................................................................................................ 4
1.4. Objectivos do Estudo ................................................................................................. 5
1.4.1. Objectivo Geral....................................................................................................... 5
1.4.2. Objectivos Específicos ........................................................................................... 5
1.4.3. Questões de Pesquisa .............................................................................................. 5
CAPÍTULO II ................................................................................................................... 6
2. REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................... 6
2.1. Direitos fundamentais ................................................................................................ 6
2.1.1 Princípio da presunção de inocência ....................................................................... 7
2.1.2. Princípio da proporcionalidade ............................................................................... 9
2.1.3. Proibição do excesso .............................................................................................. 9
2.1.4. Suspeito ................................................................................................................ 10
2.1.5. Órgãos de comunicação social ............................................................................. 10
CAPITULO III ............................................................................................................... 13
3. METODOLOGIA ....................................................................................................... 13
3.1. Conceito de Método ................................................................................................ 13
3.2 População e amostra ................................................................................................. 13
3.2.1. População ............................................................................................................. 13
3.2.2 Amostra ................................................................................................................. 13
3.3. Sujeitos de pesquisa ................................................................................................. 14
3.4. Tipo de estudo ......................................................................................................... 14
3.5. Instrumentos e técnicas para a recolha de dados ..................................................... 14
3.5.1. Análise Documental ............................................................................................. 14
3.5.2 Pesquisa Bibliográfica ........................................................................................... 15
3.6. Instrumentos Para recolha de dados ........................................................................ 15
3.6.1. Guião de Entrevista .............................................................................................. 15
3.6.2. Grelha de observação............................................................................................ 16
3.6. As variáveis ......................................................................................................... 16
3.7. Análise e tratamento de dados ............................................................................. 17
3.8. Considerações éticas ............................................................................................ 17
3.9. Limitações do trabalho ........................................................................................ 17
CAPITULO IV ............................................................................................................... 19
5. Apresentação Análise e discussão dos resultados ...................................................... 19
5.1 Analisar as causas que corroboram na violação do princípio da presunção de
inocência por parte dos órgãos de comunicação social .................................................. 19
5.2. Dos Direitos fundamentais violados quando ocorre a exibição dos suspeitos pelos
órgãos de comunicação social ........................................................................................ 20
5.2.1. Princípio da Presunção de inocência .................................................................... 20
5.2.2. Das garantias penais ............................................................................................. 20
5.2.3. Direito a Imagem .................................................................................................. 21
5.2.3.1. Imagem Retrato ................................................................................................. 21
5.2.3.2. Imagem Autoral ................................................................................................. 21
5.2.3.3. Imagem Social ................................................................................................... 21
5.2.3.4. Honra ................................................................................................................. 22
5.2.3.5. Dignidade da pessoa humana ............................................................................ 22
5.3. As actividades desenvolvidas pelos órgãos judiciários na divulgação de ferramentas
jurídicas para salvaguardarem os direitos fundamentais. ............................................... 22
5.3.1. Liberdade de expressão e informação. ................................................................. 22
5.4. Tratamento dado por MP como forma a desencorajar a violação do princípio da
presunção de inocência ................................................................................................... 25
6.1. Da exposição dos suspeitos como factor violador do princípio da presunção de
inocência ......................................................................................................................... 25
6.2. Dificuldade de reinserção dos suspeitos cujas imagens foram expostas pelos órgãos
de comunicação social na sociedade após a absolvição. ................................................ 26
6.3. O Direito do suspeito à reparação de danos decorrentes da exposição da sua
imagem ........................................................................................................................... 27
7.1. Recomendações ....................................................................................................... 29
8. Referências Bibliográficas .......................................................................................... 30
8.1 legislação Codigo civil ....................................................................................... 30
Lei nº34̸2014 de 31 de dezembro (Direito a informação) .............................................. 30
Lei n°, 25̸2019 de 25 de Dezembro (código de processo penal) .................................... 30
Lei nº, 1̸2018 de 12 de Junho (constituição da república) .............................................. 30
Anexo. I .......................................................................................................................... 33
CAPÍTULO I

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho de fim de curso pretende analisar o princípio da presunção de


inocência dos cidadãos que tenham sido arrolados como suspeitos na prática de algum
ilícito criminal, tem sido recorrente determinados órgãos em especial os orgãos de
comunicação social que ao nosso ver este último tem a obrigação quer social bem como
legal de salvaguardar e proteger os direitos mais elementares dos cidadãos, (o direito a
informação, o direito imagem, o direito ao bom nome entre tantos comuns) mas o que se
tem assistido na prática é que no lugar de garantir os direitos supra citados, conforme
estatuído na lei fundamental e nas demais legislações avulsas infra constitucionais, os
órgãos de comunicação social tem ocupado lugar de destaque no concernente a violação
recorrente deste direito fundamental (presunção de inocência) quando estes exibem
imagens nítidas dos suspeitos bem como a produção sonoro desprovidas de técnicas que
visam alterar as vozes dos mesmos. Sendo estes órgãos primordiais na difusão do direito
a informação esta inobservância legal (violação do principio da presunção de inocência)
corrobora para os julgamentos e condenações extrajudiciais (julgamentos populares)
distorcendo de forma inequívoca a finalidade das penas, pois intendemos que as penas
tem como finalidade a prevalência da paz jurídica por um lado (ponto objectivista), e por
outro a ressocialização do agente (ponto subjectivista). Pois do contrário estaríamos ainda
no sistema inquisitório que para além da falta da transparência na materialização do
direito substantivo, as penas tinham como finalidade a retribuição do acto ilícito praticado
o que muitas vezes colocava o Estado e o infractor no mesmo pé de igualdade, do ponto
de vista dos modus operandi, desvirtuando desta feita a característica basilar do Direitito
(justiça) ou da norma jurídica que é em última análise a materialização do próprio Direito.

A presente monografia irá gravitar em torno da violação do princípio subjudice bem como
dos direitos violados pelos órgãos de comunicação social, somos de opinião que apesar
deste comportamento ser antigo o mesmo continua violando os direitos fundamentais dos
cidadãos, criando lhes problemas de vária ordem.

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1.1. Contextualização

Moçambique é um Estado de Direito, portanto não se pode falar do princípio da presunção


de inocência e direitos fundamentais sem falar do previsto na lei constitucional
Moçambicana, pois, enaltece o respeito e garantia dos direitos e liberdades fundamentais
do homem em concreto falo dos arguidos que gozam da presunção de inocência até
decisão judicial definitiva, direito este que é brutalmente violado pelos órgãos de
comunicação social na sua actuação de divulgação de informação.

A lógica constitucional adoptada em Moçambique é clara na instituição de um Estado de


Direito democrático, baseado no respeito e garantia dos direitos fundamentais do homem,
nos termos do artigo 3 da lei nº1̸2018,de 12 de Junho, neste âmbito dentre vários direitos
fundamentais do homem figuram as garantias penais, o nosso ordenamento jurídico
adoptou a forma de processo acusatório onde um dos direitos privilegiados é a presunção
de inocência, este aparece como forma de condicionar a aplicação da pena a um processo
com direito a defesa, onde se considerará inocente o cidadão suspeito até que o processo
esteja concluído e não restem duvidas sobre a sua culpabilidade.

Nos dias actuais nota-se uma grave violação deste principio pelos órgãos de comunicação
social, porque divulga as imagens dos suspeitos sem antes se observar os trâmites legais
do processo consequentemente há violação de um direito fundamental do suspeito a
imagem, nesse sentido há um absoluto descompasso entre o que a lei dispõe e o que os
órgãos de comunicação social divulga no sentido de que o facto de alguém ser
mencionado como suspeito leva o a ser considerado pelos órgãos de comunicação como
se houvesse uma sentença condenatória transitada em julgado contra si. A violação de sua
imagem, honra, estado de inocência, sua estigmatização estão patentes nesse acto de
divulgação de sua imagem.

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1.2.Delimitação do estudo (Temporal e espacial)

O Distrito de Marracuene está situado na província de Maputo, em Moçambique. A


sua vila sede é Marracuene. Tem limite a norte com o Distrito de Manhiça, a oeste
com o Distrito de Moamba e com o Município da Matola, a Sul com o Município de
Maputo e a leste com o oceano indico. O Distrito de Marracuene tem um a superfície
de 666 km2 e uma população recenseada em 2017 de 218 788 habitantes

O trabalho incide concretamente nos anos 2017 até 2019, o estudo realizou˗se nestes
anos por conta do nível elevado de exposições dos suspeitos e pela não valorização
dos direitos fundamentais dos suspeitos pelos órgãos de comunicação destarte, vamos
fazer um estudo sobre o princípio da presunção de inocência por parte dos órgãos de
comunicação social nos anos supracitados.

1.3.Identificação do Problema e Justificativa

1.3.1. Identificação do Problema

A violação do princípio da presunção de inocência dos suspeitos, perpetuado pelos órgãos


de comunicação social em Moçambique. Vários são os cenários que são vivenciados de
indivíduos suspeitos de determinados actos criminais nos canais de comunicação social,
reportagens estas que exibem de forma nítida as imagens dos suspeitos, temos o exemplo
da reportagem de uma anciã exposta e acusada de actos supersticiosas, o jovem beltrano
exposto pela imprensa como violador sexual de uma menor sem nenhum acto de sensura
de voz bem como das suas imagens, as imagens dos suspeitos são exibidas e aos olhos da
sociedade são culpados como se de uma sentença existisse que declara a culpabilidade
destes.

Diversas são as vezes que se acompanham reportagens, fotografias que expõem os


suspeitos quer seja no momento em que se encontram numa determinada esquadra
algemados ou mesmo dentro da viatura da polícia e facilmente estes são tidos como
culpados por conta da exibição das imagens, quando por vezes pode não ter sido o sujeito
activo do acto delituoso e neste caso, como fica a imagem dos suspeitos,
consequentemente estaria a se atropelar gravosamente as normas constitucionais violando
deste modo o princípio da dignidade humana.

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As notícias que são veiculadas pelos órgãos de cominuição social ocasionam
incalculáveis prejuízos aos suspeitos que, mesmo depois do devido processo legal gera
dificuldades na reinserção dentro da sociedade em virtude desta mácula a sua imagem.

Baseado no tema proposto, a questão de partida de estudo será a seguinte: ʺo aumento


da exibição das imagens dos suspeitos pelos órgãos de comunicação social, como são
tratados os casos de violação do princípio da presunção de inocência ao nível da
Procuradoria Distrital de Marracuene ʺ

1.3.2. Justificativa

A principal motivação para sustentar o presente trabalho, reside na importância que o


tema possui para a sociedade actual, posso afirmar que estudar este tema da violação do
princípio da presunção de inocência e os por parte dos órgãos de comunicação ao exibir
as imagens dos suspeitos aprofunda a compreensão e o valor que esse tema possui.

Resgatar o estudo deste tema desperta nos suspeitos a capacidade de relativizar os


conhecimentos a respeito dos seus direitos que devem ser salvaguardados, perante o acto
da actuação dos canais televisivos poderão os suspeitos recusarem, pois, alguns senão a
maioria desconhecem os seus direitos porque é considerado inocente todo cidadão antes
do trânsito em julgado.

O tema promove o desenvolvimento de pensamento crítico em relação aos órgãos de


comunicação. Conduz assim o suspeito a questionar o por quê da violação do seu direito

Verificando-se o aumento de actos atentatórios aos direitos fundamentais pela não


observância do princípio em alusão, que dia-a-dia se vem verificando nas televisões e nos
demais meios de comunicação, ao inserir este tema pode funcionar como um catalisador
para mudanças, garantindo assim uma sociedade mais consciente no que diz respeito a
observância da lei na sua actuação.

Este tema pode servir de um meio para que as autoridades efectivem o cumprimento desse
direito violado, através de criação de políticas sérias que vão nortear o funcionamento
legal dos órgãos de comunicação, caso não se respeite serão sancionados de forma
significativa.

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1.4. Objectivos do Estudo

1.4.1. Objectivo Geral

Analisar a observância do princípio da presunção de inocência por parte dos órgãos de


comunicação social.

1.4.2. Objectivos Específicos

● Identificar as causas que corroboram na violação do princípio da presunção de


inocência, da parte dos órgãos de comunicação social.

● Descrever as actividades desenvolvidas pelos órgãos judiciários na divulgação de


ferramentas jurídicas para a salvaguarda dos direitos fundamentais.

● Identificar o tratamento dado pelos órgãos judiciários por forma a desencorajar a


violação do princípio da presunção da inocência.

1.4.3. Questões de Pesquisa

1. Quais são as causas que corroboram na violação do princípio da presunção de


inocência, por parte dos órgãos de comunicação social?

2. Quais são as actividades desenvolvidas pelos órgãos judiciários na divulgação de


ferramentas jurídicas para a salvaguarda dos direitos fundamentais?

3. Que tratamento é dado pelos órgãos judiciários por forma a desencorajar a violação do
princípio da presunção da inocência?

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CAPÍTULO II

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Direitos fundamentais

A história dos direitos fundamentais está intrinsecamente ligada a história do


constitucionalismo, os direitos fundamentais, são, portanto, aquelas garantias positivadas
e previstas na constituição.

Segundo Canotilho (1998) direito dos homens são direitos válidos para todos os povos e
em todos os tempos (dimensão jusnaturalista-universalista) direitos fundamentais são os
direitos do homem, jurídico-institucionalmente garantidos e limitados espácio-
temporalmente. Os direitos do homem arrancariam da própria natureza e daí o seu
carácter inviolável, intemporal e universal, os direitos fundamentais seriam os direitos
objectivamente vigentes numa ordem jurídica concreta.

Segundo Romita (2009) Direitos fundamentais são um conjunto de elementos que


asseguram a cada homem garantias essências, além de se assegurar também o respeito
pelo Estado e de terceiros e tais garantias e da possibilidade de o homem reivindicar do
Estado a efectivação dessas garantias em caso de ofensa.

Na expressão fundamentais acha-se a indicação de que se trata de situações jurídicas sem


as quais a pessoa humana não realiza, não convive e, as vezes nem mesmo sobrevive para
esse autor, são situações jurídicas fundamentais ao homem no sentido de a todos,
igualmente, devem ser formalmente reconhecidos e concreta e materialmente efectivados
(SILVA, 2005).

Conforme Machado (1962) define direitos fundamentais como o resultado de um


processo de constitucionalização

Conforme Miranda (1999) considera que que os direitos fundamentais são entendidos
como os direitos ou posições jurídicas subjectivas das pessoas enquanto tais, individual
ou institucionalmente consideradas, assentes na constituição.

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2.1.1 Princípio da presunção de inocência

O princípio da presunção de inocência tem como marco inicial a Magna Charta, datada
de 1215, na Inglaterra, que surgiu como uma primeira declaração de direitos, ainda
rudimentar, mas, que inaugurou uma sucessão de novas ideias desenvolvidas nos séculos
seguintes (FERRAJOLI, 2003).

Presunção de inocência foi constante na Declaração de Direitos da Virgínia, na declaração


universal dos direitos de 1948 em seu artigo XI,1 dispõe "toda pessoa acusada de um acto
delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido
provada de acordo com a lei"

A Declaração Francesa de 1789, na Quinta Emenda da Constituição dos Estados Unidos


da América, de 1791 e, mais tarde, na Declaração da ONU de 1948, além da Convenção
Interamericana de Direitos Humanos, firmada em 1969. Estas declarações, especialmente
a primeira e a segunda foram o reflexo de sensíveis modificações nas estruturas penais
dos países. Encerrava-se o período inquisitorial da Idade Média dando lugar a um sistema
de garantias, que posteriormente se assume como sistema acusatório.
Conforme Moura (1990) embora considere que o princípio da presunção de inocência tem
reflexos em matéria probatória na regra do in dubio pro reo refere também que, sendo a
absolvição sempre e até à decisão final transitada em julgado uma consequência possível
do processo impõe-se que até esse momento e para evitar sofrimento imerecido e
irreparável, que o suspeito seja tratado como inocente, ou seja, necessariamente o
princípio deve ter reflexos sobre o tratamento do arguido no processo penal, embora os
direitos deste também possam ser limitados pelo direito dos demais cidadãos à segurança,
pelas necessidades cautelares que por vezes impõem a prisão preventiva.
Salienta ainda este autor que o princípio da presunção de inocência tem reflexos extra-
processuais, impondo que o arguido seja tratado como se não fosse suspeito de um crime
e não pode ser desfavorecido face aos demais cidadãos, possuindo a presunção de
inocência deste modo reflexos noutras áreas do Direito diversas do processo penal, em
concreto no direito do suspeito e arguido ao trabalho, ao bom nome e à imagem.

Presumido inocente até́ ser provado culpado é um princípio cardinal da maioria dos
sistemas legais em todo o mundo. Entrelaçado com o conceito de inocência presumida
está o conceito de ónus da prova. Em casos criminais, a acusação deve provar, além de

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qualquer dúvida razoável, que o acusado é culpado da acusação; se houver alguma dúvida
sobre a culpa de uma pessoa, ela deve ser libertada (Batisti,2009).

No entendimento de Caleffi (2018) a administração do sistema de justiça criminal tenta


encontrar um equilíbrio entre a busca da verdade e a justiça do processo. Para este fim, a
lei deve proteger os direitos individuais e impor vários encargos legais ao Estado. Uma
dessas ferramentas é o princípio da presunção de inocência até́ que se prove a culpa. Este
é um principio constitucional e exige que se prove que cada elemento constitui o crime
está além de qualquer dúvida razoável.

A presunção de inocência está no coração do sistema de justiça criminal e, como uma


pedra angular dos princípios do direito penal, garante um julgamento justo para todos. Ao
garantir que apenas os indivíduos considerados culpados serão punidos, protege o
individuo vulnerável dos impressionantes poderes do Estado. É de facto um princípio
fundamental, constitucionalmente estabelecido em nossa Carta e parte integrante de nosso
estado de direito (Bahury,2016).

Moraes (2007) lecciona que o principio da presunção de inocência é um dos principio


basilares do Estado de Direito. E como garantia processual penal, visa à tutela da
liberdade pessoal, salientando a necessidade de o Estado comprovar a culpabilidade do
indivíduo, que é de forma constitucional presumido inocente, sob pena de retrocedermos
ao estado de total arbítrio estatal.

No entendimento de Almeida e Gomes (2013), o princípio de inocência está intimamente


ligada à garantia da inviolabilidade da defesa do julgamento, e ambos têm valor
constitucional. É necessário que se maximize o zelo da técnica legislativa, para que cada
norma e cada instituição processual sejam meios eficazes para a protecção de seu
exercício

"A espada da lei nunca deve cair, excepto aquelas cuja culpa é tão evidente que pode ser
proclamada tanto por seus inimigos como por seus próprios amigos". Dessa forma, o
progresso progressivo do processo está directamente condicionado à eficácia do material
probatório obtido, a partir do qual o juiz elabora as razões para superar os diferentes graus
de conhecimento em relação à finalidade do caso, e, assim, a suspeita, a probabilidade e
a certeza serão estados do intelecto que produzirão um avanço da sequência processual
(Oliveira, 2014).

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A convencção Americana sobre os direitos humanos, conhecida como pacto de San José
da Costa Rica, em seu artigo 8 n° 2, diz toda pessoa acusada de delito tem direito a que
se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente a sua culpa.
O n°2 do artigo 59º da CRM estabelece que os arguidos gozam da presunção de inocência
até decisão judicial definitiva.
O princípio da presunção de inocência consiste no direito de não ser declarado culpado
senão mediante sentença transitada em julgado.

2.1.2. Princípio da proporcionalidade

A Declaração Universal dos Direitos Humanos no art. 29º dispõe que no “exercício de
seus direitos e liberdade todo homem está sujeito apenas às limitações determinadas por
lei, exclusivamente com os fins de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos
direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem
pública e do bem-estar da sociedade democrática”. Diante disso, o princípio da
proporcionalidade, responsável por proteger a condição de legalidade, deve estabelecer a
melhor medida a ser aplicada para proteger direitos fundamentais tais como os Direitos
Humanos, uma vez que se for desproporcional se tornará inconstitucional. O conceito de
proporcionalidade nada mais é que uma regra de interpretação e aplicação de um direito
com o objectivo de fazer com que nenhuma restrição ocorra a direitos fundamentais e que
muito menos, cause dimensões não proporcionais. Para alcançar esse objectivo, o acto
estatal deve passar por exames de adequação, da necessidade da proporcionalidade em
sentido estrito, por isso são considerados como sub-regras da proporcionalidade.

2.1.3. Proibição do excesso

A proibição de excesso representa para Canotilho uma série de restrição de direitos onde
as providências adoptadas pelo indivíduo ou pelo Estado com relação aos interesses das
demais pessoas ou os administrados ocorrerão de acordo com a adequação desses mesmos
interesses, portanto, tem a finalidade proibir medidas excessivas, denominando-se como
princípio da reserva legal proporcional. Portanto, pode o legislador, dentro de suas amplas
margens de avaliação e de decisão, definir quais as medidas mais adequadas e necessárias
para a efectiva protecção de determinado bem jurídico, o que lhe permite escolher
espécies de tipificação próprias de um direito penal preventivo. Apenas a actividade
legislativa que, nessa hipótese, transborde os limites da proporcionalidade, poderá ser

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tachada de inconstitucional (CANOTILHO, 2002). Desse modo, o agir do legislador deve
estar pautado pela proporcionalidade, sob pena de se colocar em risco as conquistas
históricas que culminaram na vitória da democracia. Por óbvio que o Estado não pode
fazer-se invisível, devendo o ordenamento jurídico limitar sim as liberdades estatais, sob
pena de fazer com que a justiça se esvazie de conteúdo e a lei do mais forte prevaleça.
Entretanto, ditas limitações devem gozar de legitimidade democrática, ou seja, devem ser
aceitas por todos com base em um diálogo aberto e racional segundo os trâmites
institucionais preestabelecidos e, principalmente, não podem ser desprovidas de razão
nem de um substrato moral, seja na sua existência, seja na sua extensão. Ao estabelecer
leis que determinem restrições exageradas à liberdade individual, desrespeita-se as
conquistas liberais, levando a uma proximidade perigosa do autoritarismo arbitrário.
Destarte, as limitações legais da liberdade individual devem ser proporcionais segundo
seu aspecto de proibição de excesso. Verifica-se, então, que o Estado-Legislador tem a
difícil tarefa de encontrar o “meio-termo” entre intervenção e abstenção, sendo que o
critério de que deve lançar mão para encontrar esse ponto de equilíbrio é justamente a
proporcionalidade, assim considerada em seus dois aspectos: a proibição do excesso e a
proibição da protecção deficiente (CANOTILHO,2002).

2.1.4. Suspeito

Conforme Abreu (2002) Suspeito é uma pessoa relativamente a qual existam indícios,
não muito fortes que revelem sua proximidade com um crime que cometeu ou participou.

Aquele que infunde suspeita, duvidoso, que dá cuidados de cuja existência ou verdade se
duvida, que parece ter defeitos, que inspira desconfiança (dicionário jurídico)

Nos termos do nr 1 do artigo 65 do C.P.P, suspeito é aquele relativamente ao qual exista


indício de que cometeu ou se prepara para cometer um crime, ou que nele participou ou
se prepara para participar.

2.1.5. Órgãos de comunicação social

Órgão de comunicação social é a designação colectiva dos veículos de comunicação que


exercem o Jornalismo e outras funções de comunicação informativa - em contraste com
a comunicação puramente propagandística ou de entretenimento (ABREU, 2002).

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O termo imprensa deriva da prensa móvel, processo gráfico aperfeiçoado por Johannes
Gutenberg no século XV e que, a partir do século XVIII, foi usado para imprimir jornais,
então os únicos veículos jornalísticos existentes. De meados do século XX em diante, os
jornais passaram a ser também radiodifundidos e teledifundidos (radiojornal e telejornal)
e, com o advento da World Wide Web, vieram também os jornais online, ou ciberjornais,
ou webjornais. O termo "imprensa", contudo, foi mantido. Deve-se evitar as impróprias
expressões imprensa electrónica, imprensa falada e imprensa televisionada (Balzaac,
1999).

No entanto, para Oliveira (2014), essa questão aparentemente académica da


jurisprudência criminal pode tornar-se irrelevante para o leigo nesse mundo impulsionado
pela comunicação, especialmente quando um julgamento de mídia acontece sobre um
assunto sensacional. Os objectivos da mídia no âmbito do sistema de justiça podem ser
vistos como derivado de várias fontes. O abrangente quer informar, educar e entreter;
porém como pode ser repetidamente visto a função educacional da imprensa acaba sendo
prejudicada por seu papel de entretenimento.

A mídia é considerada um dos pilares da democracia e tem papéis amplos e vitais na


moldagem da opinião da sociedade e é capaz de mudar todo o ponto de vista através do
qual as pessoas percebem vários eventos. Liberdade de mídia é a liberdade das pessoas,
pois devem ser informadas sobre assuntos públicos. É, portanto, desnecessário enfatizar
que uma imprensa livre e saudável é indispensável para o funcionamento da democracia.
Em uma configuração democrática, tem que haver participação activa das pessoas em
todos os assuntos de sua comunidade e do estado Almeida (2013).

Mascarenhas (2010) observa que é direito dos cidadãos serem mantidos informados sobre
a actual vida política, social, económica e cultural, bem como os temas candentes e
questões importantes do dia, a fim de capacitá-los a considerar a formação de uma opinião
ampla. Para alcançar este objectivo, as pessoas precisam de um relato claro e verdadeiro
dos eventos, a fim de formar sua própria opinião e oferecer seus próprios comentários e
pontos de vista sobre tais assuntos e questões e seleccionar seu futuro curso de acção.

De acordo com Mascarenhas (2010) a imprensa chama para si o papel de vigilância dos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário ocorre que os meios de comunicação não
estão preocupados com interesse público e sim com o interesse do público. Destarte, o
que é professado para ser informativo, significativo e educativo, acaba por ter um final

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totalmente diferente, onde relatam uma história ou conjunto de factos dentro da noção de
livre imprensa ou liberdade de expressão e, no caso de processo penal, o arguido tem
direito a um julgamento justo.

Na concepção de Moyses (2010), o princípio jurídico da liberdade de expressão foi


capturado pelos proprietários dos meios de comunicação, que impõem uma interpretação
deturpada de seu significado original, ressignificando este direito humano fundamental
de forma a esvaziá-lo e tentando estabelecer como hegemónica a visão de que sua
efectivação só́ se dará́ com a ausência absoluta de instrumentos que regulem a actividade
midiática e imponham restrições a seus interesses económicos.

As pessoas estão expostas as informações sobre o mundo pelos meios de comunicação, e


essas informações moldam as opiniões sobre o mundo. A mídia - televisão, imprensa e
on-line - desempenha um papel central na comunicação ao público do que acontece no
mundo. Nos casos em que os indivíduos não possuem conhecimento directo ou
experiência do que está acontecendo, elas se tornam particularmente dependentes da
mídia para informá-las Mattelart (2011).

2.4. Estudos anteriores ao tema

O estudo anterior tinha como tema “Presunção de Inocência e a prisão após condenação
em segunda instância”, tinha como objectivo analisar a constitucionalidade da execução
provisória da pena após sentença penal condenatória proferida por órgão judicial
colegiado. Sendo assim, levantou-se o problema acerca do conflito entre dois direitos
fundamentais, a presunção de inocência e a eficiência da jurisdição. Buscou-se lapidar o
conhecimento científico sobre o tema da Presunção de Inocência e a prisão após
condenação em segunda instância. Inclui-se a pesquisa qualitativa, já que as informações
levantadas foram de natureza descritiva; e de método indutivo, após o trabalho de campo
a pesquisa trouxe como conclusão a certeza de que a Presunção de Inocência e a prisão
após condenação em segunda instância estar fortemente ligado aos debates relacionados
à possibilidade de se executar antecipadamente a pena, vez que sua função é evitar
injustiças e arbitrariedades pelo Estado. Como se pode ver o objectivo é totalmente
diferente o que não põe em causa o princípio da novidade que é ao nosso ver um princípio
fundamental de qualquer monografia (UNINOVAFAPI, 2016)

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CAPITULO III

3. METODOLOGIA

3.1. Conceito de Método

Lakatos e Marconi (1992), advogam que método é “o conjunto das actividades


sistemáticas e racionais, que com maior segurança e economia, permitem alcançar
objectivos (conhecimentos válidos e verdadeiros), traçando o caminho a ser guiado,
detectando os erros e auxiliando as decisões do cientista”. Nesta senda, no presente estudo
será aplicado um (1) método: método qualitativo, pois, entende-se que é o melhor método
a empregar para compreender e identificar as fragilidades existentes na actuação da
imprensa quanto a disponibilização das imagens dos suspeitos que consequentemente fere
o princípio da presunção de inocência, permitindo deste modo o conhecimento profundo
do tema, assim sendo o método qualitativo vai facilitar a descrever a complexidade do
problema através da análise da dinâmica da sociedade.

3.2 População e amostra

3.2.1. População

Segundo Gil (2008), a população ou universo entende-se com sendo o conjunto de


elementos que possuem determinadas características comuns que se pretendem estudar.
Essa população congrega todas as observações que sejam relevantes para o estudo ou
mais características dos indivíduos” a presente pesquisa considera como a Universalidade
Procurador, os suspeitos que outrora foram expostos pelos órgãos de comunicação social.

3.2.2 Amostra

Segundo Gil (2008) a amostra é o subconjunto do universo ou da população, por meio do


qual se estabelecem ou se estimam as características desse universo ou população. Na
pesquisa a amostra do estudo foi seleccionada tendo em conta a técnica de amostragem
não probabilística por conveniência, sendo que a amostra foi no total de 4 pessoas.

Constituem amostra do presente trabalho

 Um Magistrado Público

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 Um suspeito que outrora foi violado o seu estado de inocência
 Duas pessoas da comunidade

3.3. Sujeitos de pesquisa

Os sujeitos alvos serão constituídos pelos suspeitos outrora privados de liberdade,


algumas entidades judiciárias, ambos do sexo masculino e residentes em Maputo e
pessoas da comunidade.

3.4. Tipo de estudo

A presente monografia basear-se-á ao estudo qualitativo, a pesquisa qualitativa é a melhor


para a realização deste trabalho, visto que o objectivo é de recolher informações
detalhadas da investigação.

3.5. Instrumentos e técnicas para a recolha de dados

3.5.1. Análise Documental

Richardson (1999), defende que a análise documental consiste em uma série de operações
que visam estudar e analisar um ou vários documentos para descobrir as circunstâncias
sociais e económicos com as quais podem estar relacionados. Nesta senda, para Gil
(1998), a pesquisa documental é um conjunto de matérias que recebem qualquer
tratamento analítico palmítico ou ainda relacionados de acordo com objectivos da
pesquisa.

Assim, a pesquisa baseia-se principalmente na análise documental de várias obras de


autores que debruçam sobre estas matérias do saber académico. A informação recolhida
serve de base para afinação do problema, elaboração dos instrumentos de recolha de
dados bem como o suporte teórico.

Para a técnica em apreço, suponho que vai ser uma técnica documental que vai auxiliar
ao candidato, na dada altura de documentos que foram escritos na outrora no
fornecimento de conhecimentos que poderão ser comparados no presente, numa
perspectiva de melhor recomendações a seguir no futuro.

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Para este trabalho foram consultados os relatórios, legislações e documentos oficiais que
abordam este tema.

3.5.2 Pesquisa Bibliográfica

De acordo com Gil (1998), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir do material já


elaborado, constituído principalmente de livros, artigos científicos. A pesquisa utiliza
fundamentalmente as contribuições dos diversos autores sobre um determinado assunto.

A vantagem da revisão bibliográfica reside no facto de permitir ao investigador a


cobertura de vários fenómenos na sua amplitude do que poderá pesquisar directamente.

Segundo Servo e Berviam citados pelo Gil (1999), a pesquisa bibliográfica procura
explicar um problema a partir de referências teóricas em documentos. Assim sendo, a
pesquisa bibliográfica procura explicar o problema a partir da revisão bibliográfica
descrita.

Este método ajudará o candidato a seleccionar o material necessário, para dar as melhores
respostas através de obras científicas, que fornecerão um conhecimento sólido para que,
aquilo que for encontrado no terreno seja reconciliado com a ciência no sentido específico
conforme o que tema pretende.

Para este trabalho foram consultados obras literárias, bem como os documentos legais.

3.6. Instrumentos Para recolha de dados

Para o efeito, o estudo baseou-se em:

3.6.1. Guião de Entrevista

Gil (2008), define a entrevista como uma técnica em que o investigador se apresenta em
frente ao investigado e lhe formula perguntas com objectivo de obter dados que
interessam a investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interacção social. O
mesmo autor, ainda sustenta que a entrevista é, portanto, uma forma de interacção das
técnicas de colecta utilizada mais no âmbito de ciências sociais.

Para Lakatos e Marconi (2007), a entrevista é o encontro entre duas pessoas, onde o que
se pretende é orientar uma conversa com o objectivo de obter informações a respeito de

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um determinado assunto e reunir os factos. Para tal foram elaborados guiões de entrevista
com questões que permitiram a recolha de dados sobre a matéria aqui tratada.

A entrevista é um instrumento que auxiliará o estudante através das suas perguntas pré
elaboradas que indicaram o cerne do que o estudante pretende conforme vem no apêndice.

A entrevista irá ajudar bastante pois, vai permitir que consiga mais informações do tema
em pesquisa pois haverá uma conversa onde as perguntas feitas vão permitir colher os
dados necessários para elaboração do mesmo trabalho.

3.6.2. Grelha de observação

Para Artur (2010, p. 45) a observação, pode ser simples, isto é, feita a olho nu ou pode
exigir a utilização de instrumentos apropriados. Nas hipóteses precisam ser validadas as
observações

Feitas no passado, no presente e no futuro. E por via desta é necessário que haja uma
explicação das causas, como a identificação das causas, correlação dos eventos.

A observação ajuda o pesquisador a identificar e obter provas a respeito de objectivos


sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento.

Desempenha papel importante nos processos observacionais, no contexto da descoberta,


e obriga o investigador a um contacto mais directo com a realidade.

E para este trabalho, foram observadas reportagens, bem como vídeos amadores
relacionados ao tema.

3.6. As variáveis

Conforme Marconi e Lakatos (2003, p.137) uma variável pode ser considerada como uma
classificação ou medida, ou uma quantidade que varia, um conceito operacional, que
contém ou apresenta valores, aspecto, propriedade ou factor, discernível em um objecto
de estudo e passível de mensuração.

Para o tema em análise, constitui variável dependente analisar o princípio da presunção


de inocência, e como variável independente temos a procuradoria distrital de Marracuene.

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3.7. Análise e tratamento de dados

Para efeitos de análise de dados na presente pesquisa, recorrer-se-á a análise de conteúdo


o qual segundo Silva e Fossá (2015, p.3) se refere a, uma “técnica de análise das
comunicações, que irá analisar o que foi dito nas entrevistas ou observado pelo
pesquisador”.

Se pode ainda entender a análise de conteúdo como:

“Um conjunto de instrumentos metodológicos, em aperfeiçoamento que se presta a


analisar diferentes fontes de conteúdos (verbais ou não verbais). Quanto a interpretação,
a análise de conteúdo transita entre dois polos: o rigor da objectividade e a fecundidade
da subjectividade. É uma técnica refinada que exige do pesquisador, disciplina,
dedicação, paciência e tempo. Faz-se necessário também certo grau de intuição,
imaginação e criatividade, sobretudo na definição de categorias de análise. Jamais,
esquecendo, do rigor e da ética, que são factores essenciais”. (Freitas, Cunha &
Moscarola, 1997 como citado em Silva & Fossá, 2015)

Assim sendo justifica-se a escolha da análise de conteúdo para efeitos de pesquisa de


dados considerando o recurso a entrevista como instrumento de pesquisa que pela sua
razão de ser e como referenciado anteriormente, aos casos em que se recorra a este
instrumento haverá sempre a necessidade de fazer a análise de conteúdo, apresentando e
discutindo os dados obtidos no decurso da entrevista referentes ao tema de pesquisa
estudado.

3.8. Considerações éticas

Segundo Aurélio Ferreira (2005),a ética pode ser definida como o estudo dos juízos de
apreciação referentes a conduta humana, do ponto de vista do bem e do mal.

Na perspectiva deste estudo, serão observados os seguintes aspectos éticos: a obtenção


do consentimento informado, a garantia da preservação da privacidade, a integridade,
imparcialidade, anonimato, confidencialidade.

3.9. Limitações do trabalho

Durante a realização do trabalho enfrentamos dificuldades tais como:

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Financeiras˗ para a recolha de dados tivemos que despender acima do previsto, visto que
não se cumpriram os dias marcados para realização das entrevistas e tivemos que nos
fazer a instituição várias vezes.

Disponibilização de informações ˗houve fraca disponibilização de dados ligados ao tema,


visto que é uma matéria não muito debruçada, mas, reservou-se informações pertinentes
que ditaram o avanço do estudo.

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CAPITULO IV

5. Apresentação Análise e discussão dos resultados

5.1 Analisar as causas que corroboram na violação do princípio da presunção de


inocência por parte dos órgãos de comunicação social

Segundo Lugan (2017) Na época greco-romana os criminosos eram punidos em frente a


toda população, castigado e torturado, os mesmos eram obrigados a reconhecer a sua
culpa em voz alta concordando e assumindo a pena e nesta altura os órgãos de
comunicação Social publicavam os relatos do crime e entregavam à população. Neste tipo
de divulgação Eles tinham como objectivo conscientizar as pessoas a não cometerem os
crimes e deste modo inibiam a sociedade a vir praticar crimes, com o evoluir do tempo
esta prática foi caindo em desuso dando origem ao suspense e a punição não era mais
dolorosa e os órgãos de comunicação social não detinham o poder máximo de publicar as
imagens dos detidos e as pessoas se reuniam para verem os detidos passarem em fila
acorrentados uns aos outros e tempo depois a transferência para a prisão passou a ser
efectuada dentro de carruagens, no intuito de evitar tanta exposição dos detidos.

A exposição de imagem dos suspeitos pelos órgãos de comunicação social é uma forma
de afrontar os direitos fundamentais dos mesmos, pois, são detentores de vida privada
logo é a obrigação do Estado cuidar da integridade física e moral dos suspeitos e não
deixar com que os órgãos de comunicação social despoletem a imagem destes.

De acordo com Farias (2011) a imagem carrega consigo não só um factor de identificação,
mas também de comunicação, de tal sorte que a representação do aspecto físico pode
evocar uma série de sentimentos e associações, bem como é capaz de por si transmitir
uma mensagem.

Quando o suspeito é exposto pela imprensa como criminoso logicamente fica guardado
na mente das pessoas que ele é realmente um delinquente mesmo que no final do processo
seja absolvido.

De quem realmente é a culpa, de outro lado temos a polícia que muita das vezes tem
chamado a imprensa para exibir as imagens dos suspeitos presos algemados mostrando
os seus rostos como forma de mostrar ao publico que eles têm trabalhado, como se fosse
uma forma de querer mostrar o serviço, por outo lado temos o MP que é o órgão que tem

Pág. 19
legitimidade para garantir e fiscalizar a legalidade e não se verifica este acto por parte
deles.

Sem contar que os órgãos de comunicação social estão mais preocupados em


comercializar do que informar, fazem tudo por audiência, estão mais inclinados em
vender a suas marcas. Exemplo disso é que, em muitos casos, os meios de comunicação
com suas matérias dão a impressão de que o acusado cometeu o crime ou a mídia por
meio de sua ala de investigação independente encontrou um fato específico. A liberdade
de imprensa é a razão mais citada para justificar a publicidade generalizada de casos de
alto perfil envolvendo figuras públicas. Porém, a imparcialidade do julgamento é de suma
importância, pois sem essa protecção, a mídia poderia julgar e condenar, e isso nenhuma
sociedade civilizada poderia tolerar. As funções do tribunal na sociedade civilizada não
podem ser usurpadas por nenhuma outra autoridade (Gomes, 2013).

5.2. Dos Direitos fundamentais violados quando ocorre a exibição dos suspeitos pelos
órgãos de comunicação social

Dos direitos fundamentais violados figuram o princípio da presunção de inocência, as


garantias penais, a imagem, a honra e dignidade da pessoa humana.

5.2.1. Princípio da Presunção de inocência

Nos termos da (nº 2 artigo 59 da CRM) reza que os arguidos gozam de presunção de
inocência até decisão judicial definitiva, logo ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado da sentença penal condenatória

5.2.2. Das garantias penais

Dentre os vários direitos fundamentais figuram as garantias penais, e no ordenamento


jurídico moçambicano configura o sistema acusatório onde se consagram os direitos de
defesa, contraditório e presunção de inocência e a presunção de inocência aparece, assim
como forma de condicionar a aplicação da pena a um processo com direito a defesa, onde
se considera inocente o cidadão suspeito até que o processo esteja concluído e não restem
dúvidas sobre a sua culpabilidade.

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5.2.3. Direito a Imagem

A doutrina consagra três tipos de imagens que merecem exclusiva protecção que são:

 Imagem retrato
 Imagem autoral
 Imagem social

5.2.3.1. Imagem Retrato

Segundo Lamego (2014) imagem retrato é a imagem física do individuo, sua fisionomia,
corpo, gestos, forma de se expressar, atitudes, sorrisos, que podem ser captadas pela
fotografia, filmagem, pintura, gravura e desenho, apenas o ser humano lhe é titular.

5.2.3.2. Imagem Autoral

Segundo Lamego (2014) imagem autoral pertence ao autor que colabora de modo directo
em obras colectivas, com sua maior participação activa. Não é, no entanto, tutelada a
participação secundária ou directa do sujeito, exemplo de uma sessão de fotografias
publicitarias que retrata alguém, veiculando sua imagem de cidadão comum, porém sem
compromisso dele com a devida actividade. Caso contrário se o sujeito houver participado
integralmente na sessão de fotos publicitarias, há então a protecção de sua imagem
autoral.

5.2.3.3. Imagem Social

Segundo Lamego (2014) imagem social esta configura-se como as qualidades exteriores
da pessoa, baseada no que ela própria demonstra na vida em sociedade é considerada uma
quase publicidade, submetida a alterações em qualquer tempo e os prejuízos à imagem
social podem ser indemnizados, em geral os agentes que causam danos contra a imagem
social são os meios de comunicação.

Para este estudo nos importa com maior enfâse a imagem social, pois, a forma que um
cidadão se apresenta na sociedade, a sua imagem social reflecte-se também na percepção
que os terceiros

Pág. 21
Podem ter da sua individualidade, assim definida como o todo do individuo ou o todo ser.
A imagem social que outros percebem deste cidadão, de forma reflexa, afecta sua
dignidade e sua auto-estima.

A protecção que goza o cidadão da sua imagem frente as possíveis violações da sua
intimidade por meio de exposição não autorizada, tem o seu abrigo no (artigo 41 da CRM)
todo o cidadão tem direito a honra, ao bom nome, a reputação, a defesa da sua imagem
pública e a reserva da sua vida privada.

5.2.3.4. Honra

Segundo Silva (2005) honra é um conjunto de qualidades que caracterizam a dignidade


das pessoas, o respeito dos concidadãos, o bom nome, a reputação.

5.2.3.5. Dignidade da pessoa humana

Segundo Moraes (2017) conceitua dignidade como um valor espiritual e moral inerente a
pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da
própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas,
constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar de
modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos
direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem
todas as pessoas enquanto seres humanos.

Sobre o princípio da dignidade humana a declaração dos direitos do Homem e do cidadão,


proclamada pela (Organização das Nações Unidas de 1948 no abrigo do artigo 1) que
todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos.

5.3. As actividades desenvolvidas pelos órgãos judiciários na divulgação de


ferramentas jurídicas para salvaguardarem os direitos fundamentais.

5.3.1. Liberdade de expressão e informação.

A liberdade de expressão não pode estar sujeita a censura prévia, é verdade. No entanto,
seu exercício encontra limites na violação de outros direitos constitucionais. O princípio
da inocência é um objectivo constitucionalmente protegido. Como tal, possui várias
dimensões e formas de aplicação Almeida (2013).

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Estamos num ordenamento jurídico democrático em que a liberdade de expressão e
informação é garantida nos termos do (artigo 48 da CRM) na qual dispõe que todos os
cidadãos têm direito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, bem como o
direito a informação.

A liberdade de imprensa compreende, nomeadamente, a liberdade de expressão e de


criação dos jornalistas, o acesso as fontes de informação, a protecção da independência e
do sigilo profissional e o direito de criar jornais, publicações e outros meios de difusão.

O exercício do direito a informação deve salvaguardar outros direitos constitucionalmente


protegidos, nomeadamente o direito a honra, ao bom nome, a reputação, a defesa da
imagem e a reserva da vida privada.

Conforme o (a alínea k) do artigo 20 da lei n 34̸2014 de 31 de Dezembro) o direito a


informação pode ser restringido nos casos relativos a um processo-crime, disciplinar ou
de outra natureza, quando a sua divulgação possa prejudicar a investigação em curso e
outros princípios constitucionais).

A liberdade de imprensa exerce um papel fundamental na sociedade, pois, tem como


objectivo principal informar, esclarecer os acontecimentos que surgem dentro da
sociedade, por isso é considerada indispensável.

Conforme Oliveira et al (2015) uma das características dos direitos fundamentais é a sua
limitabilidade, uma vez que ocorram conflitos de interesses num caso concreto. Assim
ocorre quando um direito fundamental em mesma situação se confronta com outro direito
fundamental.

Importa salientar que não há hierarquia entre esses direitos. E se há uma colisão entre
eles, dependendo das circunstâncias dos factos, um prevalecerá sobre o outro.

Todavia, no caso em exposição é notório que a imprensa, cada vez mais desconsidera os
suspeitos, ferindo deste modo os direitos fundamentais pela lei salvaguardados quando
divulga as imagens destes.

Neste âmbito do outro lado temos o direito da informação e de outro lado a presunção de
inocência, ambos são fundamentais e em caso de colisão um deve prevalecer em relação
ao outro, no caso em concreto prevalecerá a norma que beneficia o suspeito, pois, se trata
de um bem maior, o seu estado de inocência.

Pág. 23
Ao longo do nosso trabalho para o caso do Distrito de Marracuene constatamos que têm
havido cenários que violam o estado de inocência dos suspeitos através dos órgãos de
comunicação social, verificamos que há excesso de exposição de imagens dos suspeitos,
entretanto não foi tão fácil obter resultados percentuais quanto a esta prática, visto que
quando ocorre um facto criminal os órgãos de comunicação social são os primeiros a
chegarem no local fazendo reportagens.

Mas, através da observação feita constatamos que são vários casos reportados deste
Distrito, onde se pode concluir que em cada 3 factos criminais 1 foi transmitido pelos
órgãos de comunicação social.

Quando assim ocorre violam ˗se os direitos fundamentais dos mesmos estabelecidos na
CRM.

Diz ainda o MP que a exibição das imagens dos suspeitos só pode ocorrer quando assim
se justifique, deste modo a exibição da informação ligada a um facto criminal não pode
ser exibida enquanto o processo ainda não foi concluso, caso contrário perde-se assim o
conceito da presunção de inocência colocando em causa a imagem dos suspeitos na
sociedade.

No entanto, os órgãos de comunicação social são muitas das vezes chamados pelos
polícias para dar cobertura aos factos criminais, desobedecendo deste modo os
dispositivos legais através da exposição das imagens dos suspeitos colocando em causa a
sua integridade física, assistimos reportagens de momentos humilhantes de suspeitos
algemados.

O MP vê esta exposição como uma violação a lei matri legis, sendo passível de
responsabilidade civil. A CRM bem como o C.P, deixam expressamente consignados que
o suspeito ainda que preso, não perde nenhum outro direito se não o da liberdade, todos
os direitos devem ser salvaguardados inclusive do seu estado de inocência.

Assim o MP diz ser fundamental que os órgãos de comunicação social se comportem


perante os limites da liberdade de expressão, bem como analisar as questões relativas à
repercussão, para a vida do suspeito, do uso indevido de sua imagem além das
consequências que isso pode acarretar sob diversas perspectivas da vida do mesmo.

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5.4. Tratamento dado por MP como forma a desencorajar a violação do princípio
da presunção de inocência

O que precede deve significar a necessidade de fornecer à sociedade informações


completas, justificadas e devidamente apoiadas em factos para evitar conjecturas e
especulações pelos receptores, que entregam sua confiança e dão credibilidade a
comunicadores, participando e opinando nas notícias apresentadas repetidamente e
mostrando seu desacordo com o processo judicial, muitas vezes por não ter orientação
adequada sobre a informação, fazendo com que, as vezes, os operadores judiciais tomem
decisões com base no sentimento da sociedade e não na aplicação de uma Justiça
“humana.

O MP reconhece a importância dos órgãos de comunicação social na divulgação da


informação, mas o mesmo diz não ser fácil lidar concretamente com esta entidade devido
a rapidez que a informação é disseminada, mas como forma de desencorajar esta atitude
o MP têm esclarecido sempre que puder, a divulgação de factos criminais devem pautar
em consonância aos direitos fundamentais dentre os quais figura o princípio da presunção
de inocência do suspeito. Assim diz o MP que tem imposto limites tais como, os órgãos
de comunicação social devem actuar de modo a não prejudicar a apuração dos factos, o
que leva com que eles actuem com a devida atenção, devem ter o cuidado de manter o
sigilo das informações, vezes há que os órgãos de comunicação social são portadores de
informações relevantes no processo enquanto as autoridades incumbidas para apuração
do mesmo as desconhecem, nestes casos encorajamos aos mesmos a informar a quem é
de direito e não a população e deste modo aguardarem pelo desfecho do caso para
procederem com a divulgação.

Diz ainda o MP que desencoraja as posturas que violam o respeito dos suspeitos, e têm
dito sempre que devem tratar a estes como presumíveis suspeitos até que haja uma
sentença que os condena.

6.1. Da exposição dos suspeitos como factor violador do princípio da presunção de


inocência

A presunção de inocência goza de alicerce constitucional e fora destacada como um


princípio fundamental que deva ser considerado, até que a sentença esteja transitada em

Pág. 25
julgado, para que depois de proferida a sentença seja declarado culpado, o suspeito goza
do direito de ter o seu estado de inocência salvaguardado.

Nas situações onde encontramos os órgãos de comunicação social exibindo as imagens


dos suspeitos estão a violar gravemente os ditames constitucionais e desta maneira a
exposição dos suspeitos influência negativamente o próprio processo penal e a vida
privada destes.

Na actualidade os órgãos de comunicação social estão mais preocupados na audiência do


que informar com clareza e precisão as notícias, os órgãos de comunicação social quando
expõem os suspeitos é como se estivessem a proferir a sentença condenatória do mesmo
enquanto os órgãos competentes na matéria ainda estão no processo de investigação sobre
a culpabilidade destes para posteriormente sabermos se são culpados ou inocentes.

Quando temos a exposição dos suspeitos pelos órgãos de comunicação social, a imagem
é fixada pela população como se tratasse de criminosos mesmo que depois do processo
seja declarado inocente.

6.2. Dificuldade de reinserção dos suspeitos cujas imagens foram expostas pelos
órgãos de comunicação social na sociedade após a absolvição.

Vários são os casos encontrados ao longo da investigação na qual os suspeitos que outrora
foram expostos pelos órgãos de comunicação social encontram-se em uma situação de
abandono, estigmatizados e excluídos dentro da sociedade porque com a sua imagem
exposta e ligada a um facto criminal descredibiliza a sua idoneidade. A sociedade não os
aceita e não está preparado para receber alguém que foi exposto como se de criminoso se
tratasse pelos órgãos de comunicação social, alguns perderam a sua família, o seu
trabalho, alguns sofreram agressões físicas por conta da sua imagem estar associada ao
crime.

As consequências negativas advindas da exposição jamais serão revertidas e dificulta a


devida ressocialização, porque a sociedade não irá se preocupar se foi o suspeito
inocentado ou não da acusação que sobre ele pesava.

Ademais a sociedade quendo assiste este tipo de informação tem na como se de algo
absoluto se tratasse e incontestável e isso fia marcado para toda sociedade.

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Deste modo, a exposição da imagem dos suspeitos pelos órgãos de comunicação social,
tem ocasionado graves problemas na área pessoal, cultural, social bem como económico.

6.3. O Direito do suspeito à reparação de danos decorrentes da exposição da sua


imagem

O (artigo 483º do CC) estabelece que aquele que com dolo ou mera culpa, violar
ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger
interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação.

Estabelece ainda o (número 1 do artigo 496º do CC) que a indemnização deve também
atender os danos não patrimoniais.

Destarte, violar estes direitos fundamentais dá ao suspeito lesado o direito de exigir com
que se repare os danos morais causados.

No ordenamento jurídico Moçambicano o suspeito costuma a ser demasiadamente


exposto nos programas televisivos, e antes do julgamento ocorrer assistimos estas
exposições, consequentemente provoca revolta e condenação da própria sociedade, mas
estes crimes de violação da privacidade não são indemnizados e muitas das vezes os
mesmos desconhecem a garantia que lhes protege.

7. Conclusão e recomendações

Ao longo deste estudo que tem como tema análise do princípio da presunção de inocência
por parte dos órgãos de comunicação social, neste contexto foi possível satisfazer os
objectivos idealizados, onde verificamos que o direito de imagem do suspeito deve ser
salvaguardado, pois, é um direito constitucional que de forma alguma deve ser violado,
conforme preconiza o art 41º mesmo diploma legal, de salientar que o direito a
informação (vide o art 48º) é fundamental bem como o princípio da presunção de
inocência (vide o art 59º) e quando os dois colidem o princípio da presunção de inocência
prevalece em detrimento ao direito à informação, pois, é de maior valor. Neste caso o
direito a informação sofrerá uma restrição para salvaguardar os direitos fundamentais de
maior valor tais como a honra, imagem etc. Verificamos também que quando o suspeito
é exposto pelos órgãos de comunicação social como sujeito activo de um determinado
crime, a sociedade o tem como criminoso mesmo que seja absolvido no final do processo

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e consequentemente renega-se a sua ressocialização na medida em que as relações
interpessoais deste, com a sociedade são carregadas de uma notável desconfiança. Por
outro lado temos os agentes da ordem e segurança pública que além de garantir a ordem,
segurança e tranquilidade publica têm o papel de conscientizar a sociedade a não aderir a
práticas criminais, por vezes usam os órgãos de comunicação social como um veículo
ideal para disseminar esta informação e vezes sem conta acabam ferindo o princípio da
presunção de inocência.

A exposição dos suspeitos deve ocorrer quando se julgue necessário, ou seja por um bem
maior que o judiciário pode permitir que haja tal exposição, demostramos também as
consequências que podem advir da exposição dos suspeitos bem como o acto da
responsabilidade civil que visa a reparação dos danos morais causados pelos órgãos de
comunicação social.

Em termos de resultados concluiu-se que os motivos que influenciam na violação do


princípio da presunção de inocência dos visados pelos órgãos de comunicação social estão
no facto destes quererem ganhar maior audiência mesmo que tal postura ponha em causa
os direitos destes, nesta senda o MP tem desenvolvido estratégias para desencorajar estas
actuações por parte dos órgãos de comunicação social, que ao nosso ver não são eficazes
pois esta prática tem ganhado proporções alarmantes aliado ao facto das pessoas visadas
não serem ressarcidas conforme estabelecem as normas jurídicas

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7.1. Recomendações

 Formação especializada dos recursos humanos da Administração da Justiça em


matérias de protecção e responsabilização nos casos de violação, dos direitos dos
suspeitos.

 Implementação de estratégias tais como, palestras, divulgação massiva da lei que


visam estancar a actuação antijurídica por parte dos órgãos de comunicação social.

 Criar mecanismos que visam conscientizar a sociedade para que estes participem
os actos ilícitos nos órgãos de administração da justiça em detrimento dos órgãos
de comunicação social.

 Responsabilização efectiva de todas entidades em especial os órgãos de


comunicação social, pela violação do direitos a imagem, acompanhada de justa
indemnização a favor dos suspeitos.

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8. Referências Bibliográficas

8.1 legislação Codigo civil

Lei nº34̸2014 de 31 de dezembro (Direito a informação)

Lei n°, 25̸2019 de 25 de Dezembro (código de processo penal)

Lei nº, 1̸2018 de 12 de Junho (constituição da república)

8.2 Manuais
Almeida, D.S & Gomes, F.L. (2013). Populismo penal midiático. São paulo
Bahury, A.M. (2019). Principio da presunção de inocência

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Científica

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Declaração universal dos direitos humanos (1948)

Convenção americana dos direitos humanos (1978)

Univopari. (2016) Revista de Direito

Pág. 31
Pág. 32
Anexo. I

Guião de Entrevistas
1. Como é que o MP protege os Direitos dos suspeitos perante a imprensa na exibição
das imagens destes?

2. Quais são os constrangimentos que o MP enfrenta para combater este acto


perpetuado pela imprensa?

3. Qual é a limitação que o MP têm dado a imprensa no exercício das suas


actividades para salvaguardarem os direitos dos suspeitos?

4. Até que ponto a imprensa fere as garantias constitucionais dos suspeitos na


divulgação das imagens?

5. Até que ponto a liberdade de informação excessiva fere o princípio da presunção


de inocência dos suspeitos?

6. Como é que o MP fiscaliza a legalidade perante a actuação da imprensa?

7. Que consequências podem advir pelo excesso da actuação da imprensa que colide
com a presunção de inocência dos suspeitos?

8. Qual é a solução adoptada pelo MP para limitar a imprensa na produção de


imagens e informações sobre os suspeitos?

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