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Icaro Emmanuel Pipino

INEFICÁCIA DA RESSOCIALIZAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL


BRASILEIRO

CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO


ARAÇATUBA
2019
Icaro Emmanuel Pipino

INEFICÁCIA DA RESSOCIALIZAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL


BRASILEIRO

Trabalho de conclusão de Curso apresentado como


requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em
Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário
Toledo, sob orientação do Prof. Renato Alexandre da Silva
Freitas.

CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO


ARAÇATUBA
2019
Icaro Emmanuel Pipino

INEFICÁCIA DA RESSOCIALIZAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL


BRASILEIRO

Trabalho de conclusão de Curso apresentado como


requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em
Direito à Banca Examinadora do Centro Universitário
Toledo, sob orientação do Prof. Renato Alexandre da Silva
Freitas.

Aprovado em ____de ______________de ______

BANCA EXAMINADORA

Centro Universitário Toledo


A todos aqueles que me motivaram e continuaram ao meu lado em
todos os momentos da minha vida.
AGRADECIMENTOS

Antes de tudo gostaria de elucidar meu mais profundo sentimento de gratidão à mulher
responsável por todos os meus méritos e conquistas, minha mãe, que sempre se manteve ao
meu lado mesmo quando a coragem e esperança não mais faziam parte do meu ser. Da mesma
forma gostaria de agradecer ao meu pai por todo o esforço e perseverança que manteve,
sempre acreditando que um dia eu alcançaria meus objetivos. A meus irmãos que mesmo em
suas distancias sempre mostraram apoio integral a mim.
Imperioso salientar meus sentimentos de gratidão ao meu ilustre mestre orientador
Renato Alexandre da Silva Freitas, um homem ao qual irei me espelhar eternamente em vida
profissional, muito obrigado por despender de seu tempo me auxiliando na elaboração desta
pesquisa, sempre mostrando estar disposto a dividir comigo seu vasto conhecimento.
Aos meus amigos que me acompanharam por toda essa jornada, sempre me
aconselhando de suas mais diversas maneiras, e sempre me proporcionando inúmeros motivos
para não desistir, obrigado por todo amor por vocês emanado.
“Eu levanto a minha voz, não para que eu possa gritar, mas para que
aqueles sem voz possam ser ouvidos, não é possível prosperar quando
metade das pessoas ficam para trás”. Yousafzai, Malala.
RESUMO

De forma sucinta e clara a pesquisa tem como objetivo abordar o instituto jurídico da pena e
sua real função dentro da sociedade, abordando desde os primórdios aos tempos atuais suas
mudanças quando ao entendimento de pena e seu significado. Utilizando de autores de
renomado nome no meio jurídico, para finalmente desmitificar a ressocialização e como sua
ineficácia reflete diretamente no âmbito social.
Palavras-chave: Direio Penal; Ineficácia; Pena.
ABSTRACT

In a succinct and clear way the research has as objective to approach the legal institute of the
pen and its real function within the society, approaching from the beginnings to the present
times its changes when the understanding of pen and its meaning. Using authors of renowned
name in the legal environment, to finally demystify resocialization and how its ineffectiveness
reflects directly in the social scope.

Keywords: Criminal Law; Ineffectiveness; Criminal Penalty.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 09
I Evolução histórica da pena ...................................................................................................... 11
1.1. Conceito de pena .................................................................................................................... 11
1.1.2. Vingança privada .................................................................................................................. 11
1.1.3. Vingança divina .................................................................................................................... 12
1.1.4. Vingança pública .................................................................................................................. 13
1.2. A pena e sua finalidade ......................................................................................................... 13
1.2.1. Principais teorias da finalidade da pena .............................................................................. 14
1.2.2. Teoria absoluta ..................................................................................................................... 14
1.2.3. Teoria relativa ....................................................................................................................... 15
1.2.4. Teoria da prevenção geral..................................................................................................... 15
1.2.5. Teoria mista (brasil).............................................................................................................. 17
1.2.6. Finalidade da pena na lei de execução penal ........................................................................ 17
1.3. Sistemas Prisionais ................................................................................................................ 18
1.3.1 Sistema de Filadélfia ou Pensilvânico ................................................................................... 18
1.3.2 Sistema Auburniano .............................................................................................................. 20
1.3.3 Sistema Progressivo............................................................................................................... 21
1.3.4 Sistema Progressivo Brasileiro .............................................................................................. 22
II Sistema de execução penal brasileiro...................................................................................... 24
2.1. Breve introdução à lei de execução penal ............................................................................ 24
2.1.2. Natureza jurídica da execução penal .................................................................................... 24
2.1.3. O objeto da execução penal .................................................................................................. 25
2.2. Princípios relativos à execução penal .................................................................................. 27
2.2.1. Devido processo legal ........................................................................................................... 27
2.2.2. Isonomia ou igualdade .......................................................................................................... 28
2.2.3. Humanidade .......................................................................................................................... 29
2.2.4. Jurisdicionalidade ................................................................................................................. 30
2.2.5. Proporcionalidade ................................................................................................................. 31
2.2.6. Individualização da pena ...................................................................................................... 32
2.2.7. Intranscendência ................................................................................................................... 33
2.3. Unidades Prisionais Brasileiras ............................................................................................ 34
2.3.1. Penitenciárias ........................................................................................................................ 34
2.3.2. Colônias agrícolas, industriais e similares ............................................................................ 35
2.3.3. Casa do Albergado ............................................................................................................... 35
2.3.4. Cadeia Pública ...................................................................................................................... 36
III A Ineficácia da ressocialização no sistema prisional ........................................................... 37
3.1 Conceito de Ineficácia ............................................................................................................ 37
3.1.1 Diferença entre ineficácia e ineficiência ............................................................................... 38
3.1.2 Ineficácia ou ineficiência legislativa ..................................................................................... 38
3.1.3 Ineficácia ou ineficiência do ente estatal e seus agentes ....................................................... 39
3.2 O caos no sistema prisional brasileiro .................................................................................. 40
3.2.1 Impacto da prisão na saúde mental dos presos ...................................................................... 42
3.2.2 Formas de buscar a ressocialização ....................................................................................... 43
3.2.3 Medidas necessárias para a ressocialização .......................................................................... 44
Considerações finais ..................................................................................................................... 47
Referências .................................................................................................................................... 51
9

INTRODUÇÃO

A problemática que se pauta essa pesquisa é uma analise quanto aos atos do Estado na
condução do sistema prisional.
Utilizando de uma ordem cronológica, vislumbramos como a sociedade foi se
moldando quanto ao instituto da pena e sua função, onde nos primórdios da vida social e antes
mesmo existência do ente estatal, já havia um conceito de pena, porém apenas como função
de represália, sendo uma expressão do instinto humano quanto a um mal eminente.
Com a evolução da sociedade novamente o conceito foi se moldando, onde passou a
buscar não penas a represália, punição, mas sim uma maneira de reeducar o sujeito infrator,
de modo que este não volte a delinquir.
Com evolução nas conquistas dos direitos humanos e o entendimento quanto as
necessidades do homem para manutenção de sua dignidade, uma série de prerrogativas de
direitos e princípios foram elaborados, para buscar a efetiva ressocialização do preso.
Assim, o entendimento quanto à ressocialização, prioritariamente se pauta em manter
a dignidade da pessoa humana daqueles que estão presos, aplicando a máxima de que o
Estado sendo possuidor do poder de sanção, ou seja, poder de vedar o direito de liberdade dos
membros da sociedade, então o Estado tem o dever de manter todos direito expressos em
nossa Constituição Federal, bem como respeitar os Tratados de Direitos Humanos e seguir a
estrita aplicação de nossa Lei de Execução Penal.
Assim, foram analisados os atos do Estado quanto detentor do poder de sanção, para
que possamos distinguir se ocorre em nosso âmbito prisional uma ineficácia legislativa ou a
ineficácia decorre do agente estatal na má aplicação da legislação.
Com base em pesquisas, fica claro que a ineficácia da ressocialização em nosso
sistema prisional decorre da má conduta do Estado, uma vez que nossa Constituição Federal
da ampla defesa aos direitos do preso, bem como na legislação especial penal o legislador
deixou expresso que a função da pena não é meramente punitiva.
A grande maioria dentro dos presídios se faz de membros da parte mais frágil e
sociedade, constituída por negros e pobres, ou seja, grande parcela dentro das unidades
prisionais é resultado de uma sociedade exclusiva e racista.
Sendo o Estado responsável pela grande demanda dentro dos presídios, uma vez que
desampara os membros da sociedade desde a primeira fase de suas vidas.
10

Ocorre que de forma intrínseca na sociedade Brasileira existe uma visão de que a pena
privativa de liberdade possua exclusivamente a função punitiva, mas muito além de uma
questão meramente punitiva há uma questão social pautada na ressocialização do sujeito, afim
de que este não volte a praticar atos delituosos após a reclusão.
De maneira sucinta podemos dizer que o sistema prisional brasileiro possui dois
grandes pilares, sendo eles a punição e a ressocialização, porém um grande déficit assola este
sistema quando falamos da ressocialização desses sujeitos, devido a um ente estatal falho e
despreparado.
11

I EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PENA

Desde o começo das sociedades está presente o instituto da pena. Com base em uma
ordem cronológica, foi elaborado neste capítulo uma pesquisa a fim de decifrar o conceito de
pena e como este foi se moldando com a evolução da sociedade, desde de sua primeira fase
como represália, ou seja, instinto natural do homem quanto a um mal eminente que lhe ocorra
até a criação do Estado onde seja o possuidor do poder de sanção e aplicação da pena perante
os membros da sociedade.

1.1 Conceito de Pena

A pena de forma sucinta pode ser conceituada como uma sanção aplicada pelo Estado
em face daquele que não observa o exposto em seu regimento social, ou seja, em face daquele
que infringe o seu código.
Desde o início das sociedades é utilizado esse instituto, no começo por um instinto
natural do homem-médio como uma forma repressão aqueles que lhe oferecessem perigo, de
forma que na idade média já fora utilizado como método de manutenção e repressão social.
Com o passar dos anos o homem foi evoluindo e com o ele a sociedade, sendo criada a
figura do ente estatal, este sendo o detentor do poder de sanção.
Atualmente o Direito deu ao referido instituto uma função de repressão educativa, ou
seja, punir, porém muito além de uma mera ação punitiva, deve o Estado atuar com medidas
socioeducativas, a fim de conseguir a ressocialização desses indivíduos, de modo que os
mesmos não voltem a delinquir.

1.1.2 Vingança Privada

Vingança privada tem seu início na origem das sociedades, não necessariamente se
pautava em uma forma de sanção a ser aplicada, mas sim no instinto natural do homem, assim
12

sendo uma forma de defesa e represália contra aqueles que de alguma forma lhe apresentavam
risco ou dano.
Embasada apenas na represália de um mal iminente, não possuindo um critério ou
regulamentação, o homem começou a ser um mal em si mesmo.
Uma vez que não se possuía uma proporcionalidade entre o mal sofrido e o ato de
vingança a ser feito como represália, os membros sociedade passaram a se dizimar em nome
da vingança.
Com intuito de evitar o extermínio da sociedade foi criado uma das maneiras mais
primitivas e arcaicas do principio da proporcionalidade, conhecido como a lei de talião da
qual se encontra o termo “olho por olho” e “dente por dente”, que mesmo de forma retrógada
apresenta uma maneira de evitar os excessos da referida vingança. (CARVALHO, 2017).
Com o decorrer dos anos, uma nova concepção quanto ao tema da pena foi se
consolidando, está ligada diretamente a conceitos divinos. O ser humano deixou de aplicar a
pena por si só e começou a utilizar uma suposta divindade que teria o poder de sancionar e
aplicar o devido “castigo” aqueles que de algum modo cometessem atos que não fossem
condizentes com a ética moral perante os membros da sociedade na época.

1.1.3 Vingança Divina

O começo das civilizações é pautado em uma soberania divina, onde não se tinha um
Estado soberano, mas sim uma divindade donde dela advinha as supostas sanções para
aqueles que não seguiam seu dizeres.
Embasada apenas em repressão essa sanção era baseada na “ira” divina, assim os
membros da sociedade se adequavam aos dizeres da divindade a fim de evitar sua “ira”
perante os mesmos.
Por não haver um código ou pessoa propriamente dita, as sanções eram aplicadas pelos
sacerdotes da época, que eram considerados como interlocutores das divindades. Assim,
conforme João Farias Junior:

determinados povos da Antiguidade cultivavam a crença de que a violação da boa


convivência ofendia a divindade e que a sua cólera fazia recair a desgraça sobre
todos, todavia, se houvesse uma reação, uma vingança contra o ofensor, equivalente
à ofensa, a divindade depunha a sua ira, voltava a ser propícia e a dispensar de novo
a sua proteção a todos. Surgiu então a figura do juiz que, representando o povo
13

perante a divindade, passou, a exercitar a justiça retributiva, como modo de expiação


da culpa e conseqüência aplacamento da irada divindade. (2001, p. 24.)

Durante todo esse período mencionado, as sanções divinas como assim podemos
chamar foram necessárias para a manutenção da vida em sociedade, porém por não haver uma
forma propriamente dita de sanção os soberanos ou sacerdotes da época aplicavam as supostas
medidas da divindade com base em seu interesse pessoal.

1.1.4 Vingança Pública

Ocorreu o início da referida vingança pública com o surgimento do Estado no papel de


soberano, um terceiro com poder de interferir e sancionar as lides presentes entre os
indivíduos à sociedade. Assim sendo o Estado o detentor do Jus Puniendi, este devia sanar os
conflitos e delegar quais autoridades estavam competentes para punir (MASSOM, 2009,
p.46).
Uma vez que o Estado, terceiro sem interesse dentro das lides e agindo de forma
imparcial, não necessitam mais os ofendidos recorrem as próprias forças para reprimir ofensa
sofrida.
Mesmo sendo uma forma de clara de evitar os excessos e tendendo a manter a
sociedade em sua integridade, não havia na época nenhuma forma de defesa para o acusado
nem ao menos um sistema de processo legal que garantisse direitos ao acusado.
Com base no disseminado acima, podemos agora partir para o ponto de onde se
concretiza efetivamente o instituto da pena e qual sua real finalidade perante a sociedade,
agora que há a figura do Estado sendo detentor do poder de sanção.

1.2 A Pena e sua Finalidade

Conforme as sociedades foram evoluindo o instituto da pena foi se moldando


conforme essa evolução, imprescritível que em decorrência destas mudanças o instituto da
pena deixou de ser apenas uma represália por parte do ente estatal, assim passando a ser uma
maneira de manutenção da vivencia em sociedade.
14

No Brasil hoje a pena possui duas grandes finalidades, sendo elas a punição e a
ressocialização, de modo que o Estado em seu papel de soberania deve estabelecer medidas
para que essas finalidades ocorram de maneira adequada.

1.2.1 Principais teorias da finalidade da pena

Uma grande incógnita assolava o exercício do poder punitivo pelo Estado, assim
gerando uma necessidade teórica e filosófica para de fato racionalizar esse poder inerente ao
Estado. Com base no exposto podemos afirmar que essas teorias legitimam o poder do
Estado, fundamentando o Jus Puniendi, sendo imprescritível para manutenção da sociedade.
As teorias que legitimadoras se dividem em ABSOLUTAS e RELATIVAS, a primeira
se baseia no ponto da represália e retribuição do mal causado, considerando a pena uma
retribuição daquilo que foi cometido, de modo que a segunda considera a pena uma forma de
manutenção do convívio em sociedade, considerando-a como uma maneira de prevenção a
novos delitos.
Embasados nesses dois preceitos ocorreu a subdivisão das teorias como a teoria da
prevenção geral positiva e negativa e a teoria da prevenção especial em sua forma positiva e
negativa.

1.2.2 Teoria Absoluta (retribuição)

A teoria absoluta foi gerida na época medieval, durante os Estados Absolutistas


(BITENCOURT, 1993, p.100). Seu eixo principal é fixado na retribuição, ou seja, a pena
possui primordialmente a função punitiva contra o mal praticado pelo sujeito infrator.
Não possui assim nenhuma função ou intenção social, sendo apenas a maneira do
Estado Absolutista punir o delinquente e manter sua soberania. O Estado absolutista não
buscava a individualização do infrator como sujeito da sociedade ou relacionava a punição a
ser sofrida ao mal que cometeu.
15

Bem como não possuía medidas a fim de evitar que o mesmo voltasse a delinquir, de
modo que o único e real interesse era a demonstração de soberania e poder do Estado perante
todos.
Com o passar dos tempos foi se moldando a ideia do Estado quanto o instituto da
pena, de modo que foi se criando uma nova corrente filosófica que ia contra a corrente da
teoria absoluta, sendo chamada de teoria relativa que será disciplinada no tópico a seguir.

1.2.3 Teoria Relativa (prevenção)

A teoria relativa, possui vertente totalmente oposta ao tópico referente a Teoria


Absoluta à cima descrita. Chamada de teoria relativa faz de seu eixo a prevenção, ou seja,
busca de maneiras sociais a prevenção de outra infração por parte daquele que acaba de ser
punido. Essa teoria elaborada com base no Estado Social deixa a pena de possuir uma função
meramente punitiva para ser utilizada como algo útil dentro da sociedade. Neste contexto
dispõe Luigi Ferrajoli.

A concepção da pena enquanto meio, em vez de como fim ou valor, representa o


traço comum de todas as doutrinas relativas ou utilitaristas, desde aquelas da
emenda e da defesa social àquelas da intimidação geral, daquelas da neutralização
do delinquente àquelas da integração de outros cidadãos. (2006, p. 240)

Desse modo, podemos dizer que a teoria relativa pensa em um futuro, buscando pela
prevenção de novos atos infratores, agindo de forma direta na individualidade do infrator.
Em decorrência da evolução do Direito em relação ao instituto jurídico da pena, uma
nova vertente foi se consolidando, está conhecida como teoria da prevenção geral que possui
seu eixo no controle social, conforme disseminado no tópico a seguir.

1.2.4 Teoria da prevenção geral

O grande criador dessa teoria foi o jurista alemão Anselm Von Feuerbach, que
sintetizava a necessidade da pena ir além de uma mera retribuição, devendo ser utilizada
16

como meio de controle social, utilizando-se da psicologia da pena para intimidar a sociedade,
com a pretensão de evitar novos delitos.
Diante a teoria, Antônio Henrique Graciano Suxberger conclui seu entendimento da
seguinte maneira:

A teoria da prevenção geral ou cai na utilização do medo como forma de controle


social, com o qual se chega num Estado de terror e na transformação dos indivíduos
em animais, ou na suposição de uma racionalidade absoluta do homem no juízo de
ponderação entre as condutas que poderá eleger, na sua capacidade de motivação,
tão ficcional como a idéia de livre arbítrio, ou, por último, cai na teoria do bem
social ou da utilidade pública, que tão-somente acoberta os interesses em jogo: uma
determinada socialização das contradições e dos conflitos de uma democracia
imperfeita (2006, p. 116)

De forma sucinta pode-se afirmar que duas grandes pilastras mantem a ideia da teoria,
sendo uma a coação psicológica por intermédio do Estado em face da sociedade e a outra o
entendimento do homem médio quanto o que se faz ou não impróprio.
Francisco de Assis Toledo ressalta a incógnita que se criou entorno da teoria,
suscitando:
Se, de um lado, não se deve generalizar a eficacia do caráter intimidativo-
pedagogico da pena, pela simples existencia da cominação legal, de outro, parece-
nos igualmente irrealistico deixar de admitir que a prevenção geral do crime, por
meio da elaboracao dos tipos e da cominacao das penas, e algo, do ponto de vista do
Estado e do individuo, bem mais concreto do que meros artigos de lei colocados
sobre o papel. (1994, p.45).

Dessarte, que a teoria geral foi subdivida em geral negativa e positiva, de modo em
que a primeira se baseia na coação daqueles que ainda não cometeram o ato delituoso e a
segunda se pautando em utilizar a pena como uma maneira de criar novos valores e ideais
dentro da sociedade.
A partir deste ponto uma nova corrente se fortaleceu, conhecida como Teoria Mista
por buscar um equilíbrio entre os pontos positivos das teorias absoluta e relativa. O Brasil
adotou a Teoria Mista para elaborar seu sistema de execução penal.
Assim no tópico a seguir será descrito como o legislador penal brasileiro se adequou a
Teoria Mista para elaborar um sistema que utilizasse o instituto da pena como uma ferramenta
capaz de reeducar aqueles indivíduos que de algum modo infringiram a lei, utilizando a pena
como uma ferramenta de controle social.
17

Utilizando a represália devido ao ato criminoso realizado pelo sujeito, porém buscando
uma forma de ressocializar e reeducar o indivíduo para sua volta ao âmbito social de uma
maneira digna.

1.2.5 Teoria Mista (Brasil)

Buscando um equilíbrio entre as teorias absoluta e relativa, utilizando de


características positivas de ambos os lados e de mesma forma excluindo as negativas, surgiu a
teoria mista, atualmente adotada no Brasil. Neste diapasão narra Bitencourt:

Em resumo, as teorias unificadoras aceitam retribuição e o principio da


culpabilidade como critérios limitadores da intervenção da pena como sanção
jurídico-penal. A pena não pode, pois, ir além da responsabilidade decorrente do
fato praticado. (2010, p. 113)

A referida teoria, diferente das demais não possui um eixo fixo, ou seja, houve uma
pluralização das funções da pena, sem que houvesse uma preponderância dentre as mesmas,
assim uma não prevalecerá a outra, mas sim devem ser atendidas em conjunto.
De modo que podemos afirmar que na teoria mista ainda consiste a função punitiva,
porém com uma grande preocupação social, pautada na reintegração do apenado no meio
social.

1.2.6 Finalidade da pena na lei de execução penal

Com fulcro na própria letra da lei podemos afirmar que a referia se propôs a limitar os
poderes e deveres do Estado, quando em sua face de soberania aplicar sanções penais aos
membros da sociedade, como exposto no art. 1º da lei, Nº 7.210, de 11 de Julho de 1984,
“Art. 1º (Lei nº 7.210/84) “A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de
sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do
condenado e do internado”.
18

Assim, deixando o legislador de forma clara a aplicação da Teoria Mista no instituto


da execução penal, onde deverá o Estado dar enfoque não apenas a sanção, mas também na
readaptação do internado ao convívio em sociedade.
Diante o expresso, temos uma base para entender o funcionamento do sistema
prisional e sua evolução, a seguir foi elaborada uma breve pesquisa em ordem cronológica
com findo de demonstrar desde o primeiro sistema prisional presente na sociedade, suas
especificações e diretrizes e como esses sistemas forma se moldando com o decorrer dos anos,
até chegarmos ao sistema prisional que hoje é adotado pelo Brasil.

1.3 Sistemas Prisionais

Conforme descrito anteriormente o instituto jurídico da pena existe desde os


primórdios, e conforme a evolução do homem, estes foram se organizando como sociedade e
acabou por dar origem ao Estado, figura dentro da sociedade com o poder de organização e
sanção.
Assim, consequentemente foi se elaborando teorias religiosas e filosóficas para
explicar a real finalidade da pena e seus reflexos na sociedade, diante dessas teorias foi se
criando os primeiros sistemas prisionais.

1.3.1 Sistema de Filadélfia ou Pensilvânico

O sistema de Filadélfia ou Pensilvânico foi o precursor dos sistemas prisionais, tendo


sua origem no ano de 1970, nos Estados Unidos, segundo Bitencourt (2010, p.146). O sistema
possuía o isolamento como principal ferramenta de sanção, sendo permitido ao recluso apenas
inconstantes passeios pelo pátio e sendo-lhe vedado todo o qualquer contato com o exterior ao
prédio prisional.
Vale dizer que o sistema de Filadélfia advinha da teoria religiosa de castigo, onde o
recluso só tinha como conteúdo literário a bíblia para que assim conseguisse observar o
pecado e sua condenação.
Bitencourt nesse sentido discorre:
19

Com a devida pressão popular iniciado pelos líderes do movimento dos quacres, as
autoridades se viram na necessidade de instituir um sistema de prisões, no qual o
isolamento em uma cela, a oração e a abstinência total de bebidas alcoólicas
deveriam criar os meios para salvar tantas criaturas infelizes. (2010, p.146)

Inicialmente não era aplicado a todos o isolamento, sendo reservado para aqueles que
apresentassem mais risco a sociedade com base no ato delituoso que cometeram e no senso de
periculosidade captado no entendimento pessoal do respectivo diretor da penitenciária.
Mesmo com altíssimo grau de rigorosidade o sistema não se desenvolveu,
apresentando enorme retrocesso e aumento expressivo da população carcerária, levando ao
seu fracasso, fazendo assim que fosse necessário a criação de mais duas prisões, a
Penitenciária ocidental em Pittsburgh, esta construída em 1818, e a segunda construída em
1829, chamada de Penitenciária Oriental.
Na Penitenciária Ocidental foi aplicado o sistema de isolamento absoluto, não
podendo o recluso praticar atividades laborativas nem mesmo dentro de sua cela, porém se
tornou inviável.
Assim a Penitenciária Oriental optou-se pelo isolamento individual, podendo o recluso
praticar atividades laborativas dentro da cela, porém não foi o suficiente para resolver a
problemática do isolamento.
Nesse diapasão narra Bitencourt (2010, p. 147), “Mesmo após a autorização do
trabalho nas celas, não se diminuiu o problema do isolamento, pois na maioria das vezes era
sem sentido e tedioso. Por outro lado, nem sempre este trabalho na cela pôde ser realizado”.
Diante o exposto nota-se que no referido sistema não havia um intuito de reinserção do
ou melhoria de vida do sujeito delinquente, sendo utilizado pelo Estado apenas como
instrumento de dominação social, porém este ainda utilizado como modelo para outro tipo de
relações sociais.
Após o fracasso do sistema de Filadélfia foi necessário à criação de novos sistemas,
com intuito de suprir os defeitos e carências causados pelo isolamento absoluto, um desses
novos sistemas é o sistema Auburniano que será relatado a seguir.
20

1.3.2. Sistema Auburniano

A construção da prisão de Auburn ocorreu no ano de 1816, sendo destinado parte do


prédio prisional ao isolamento, porém no de 1821 em decorrência de uma ordem interna os
reclusos foram divididos em três categorias, assim afirma Bitencourt (2010, p.148).
Sendo uma ala destinada à reincidentes ou que causassem grande perigo a sociedade,
estes em isolamento absoluto, outra ala para aqueles que não porém que cometeram crime de
menor potencial ofensivo, estes enviados ao isolamento apenas 3 vezes na semana e possuíam
autorização para atividade laborativa.
A ultima categoria era destinada aqueles que davam maior indício de serem corrigidos,
a estes sendo imposto apenas o isolamento noturno, possuindo autorização para o trabalho
durante o dia junto com os demais reclusos, ou enviados ao isolamento individual apenas 1
dia na semana.
Porém novamente o confinamento solitário resultou em fracasso, relata nesse aspecto
Bitencourt (2010, p;148), “Essa experiência de estrito confinamento resultou em grande
fracasso: de oitenta prisioneiros em isolamento total contínuo, com duas exceções, os demais
resultaram mortos, enlouqueceram ou alcançaram o perdão”.
Diante os resultados foi elaborada uma comissão legislativa no ano de 1824 com findo
de investigar a situação ocorrente da penitenciária, assim chegou ao entendimento de que
deveria ser abandonado o sistema de confinamento solitário, assim sendo permitido a
atividade laborativa em comum entre os reclusos, mantendo o confinamento solitário apenas
durante a noite.
O Sistema pretendia demonstrar o conceito ideal de sociedade, pautado em ideologia
religiosa e pedagógica, onde o silencio e meditação, eram utilizados como forma de evitar a
contaminação dos reclusos com os demais, porém sofreu fortes críticas pelo uso de castigos
demasiadamente violentos, como forma de integrar o recluso ao trabalho.
Valendo ainda salientar que o referido sistema tinha como proposta a manutenção do
presídio com o trabalho dos reclusos, porém ocorreu uma disputa com os sindicatos dos
trabalhadores que se opunham ao trabalho dentro da penitenciária, uma vez que este era mais
barato assim possuindo vantagem sobre o trabalho livre.
Uma vez fixado a lide entre os sindicatos e o Sistema Auburn e com fortes críticas
quanto aos castigos aplicados o sistema veio ao fracasso, dando espaço para que um novo
sistema fosse criado, este a ser conhecido como sistema progressivo.
21

1.3.3. Sistema Progressivo

O sistema progressivo se faz por um aperfeiçoamento dos sistemas Filadélfico e


Auburniano, onde utilizam era utilizado um método de três fases para avaliar a terapêutica
penal, assim avaliando o recluso ao decorrer das fases.
A primeira fase seguia o sistema Filadelfico mantendo o recluso em isolamento celular
diurno e noturno, podendo a ele ser submetido ao trabalho obrigatório, porém na segunda fase
o recluso podia trabalhar em conjunto durante o dia, mas em isolamento durante a noite.
Durante essa fase era aplicada como terapêutica penal a distribuição de vales ou
marcas, sendo dividias como a prova, a terceira, a segunda e a primeira.
Mediante a averiguação da contagem de marcas ou vales que o respectivo recluso
possuía era feito sua progressão, essas marcas ou vales eram distribuídos com base no
trabalho e comportamento pessoal do recluso com o passar dos dias.
Assim, Henrique Viana Bandeira de Moraes discorre:

O sistema progressivo introduzia uma relativa indeterminação no


tempo de cumprimento da pena privativa de liberdade imposta, na
medida em que permitia que a duração prevista na sentença fosse
reduzida, dependendo do bom desempenho do preso no trabalho e da
sua conduta carcerária. O seu maior mérito, contudo, talvez tenha sido
o fato de buscar incentivar o senso de responsabilidade dos
condenados, colocando em suas mãos o maior ou menor cumprimento
das suas penas.

A partir do século XIX o sistema progressivo se difundiu mundo a fora com diversas
peculiaridades, uma vez que indubitavelmente o sistema preconizava pela volta do recluso ao
convívio social, dando a estes a oportunidade de aprender uma função para que tivessem uma
vida honesta após a reclusão.
Vale ainda salientar que o sistema progressivo foi de suma importância para a
individualização do sistema de execução penal.
22

1.3.4. Sistema Progressivo Brasileiro

No Brasil é adotado como sistema prisional o sistema progressivo, porém com


ressalvas com devido ao contexto interno do país. Assim conforme o código penal vigente,
existe no Brasil 3 regimes de cumprimento de penas privativas de liberdade sendo eles:

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou


aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de
transferência a regime fechado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - Considera-se: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou
média;
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou
estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento
adequado.
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma
progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e
ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: (Redação dada pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em
regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não
exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos,
poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
§ 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com
observância dos critérios previstos no art. 59 deste Código. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 4o O condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de
regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à
devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais. (Incluído pela
Lei nº 10.763, de 12.11.2003)

Quando falamos do regime de progressão no sistema brasileiro é necessário estar


atento a dois requisitos para o apenado, sendo eles objetivos e subjetivos, apenas com esses
requisitos ele poderá utilizar da progressão.
Segundo a Lei de Execução Penal, nº 7.210/1984 os requisitos objetivos são elencados
da seguinte maneira: “Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma
progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz,
quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior”.
Já os requisitos subjetivos serão auferidos segundo a Lei de Execução Penal, Nº
7.210/1984, da seguinte maneira, “e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado
pelo diretor do estabelecimento, respeitado as normas que vedam a progressão”.
23

Imperioso salientar que as regras de progressão no sistema brasileiro divergem quanto


a crimes de natureza comum e hedionda, de modo que com a lei regulamentadora de nº
8.072/1990, que de forma expressa elenca que será necessário o cumprimento de pelo menos
2/5 da pena se for réu primário e 3/5 em caso de reincidentes para alcançarem o direito a
progressão do regime.
No capítulo e em seus tópicos a seguir disseminados, será descrito o funcionamento no
Brasil do sistema prisional e suas especificações, bem como será analisada de forma mais
aprofundada a lei de número 7.210/1984 conhecida no âmbito jurídico nacional como LEP
(Lei de Execução Penal).
Bem como será descrito os princípios inerentes ao sistema de execução penal, de onde
os mesmos advêm e a importância de sua aplicação, não apenas na demanda jurisdicional,
mas também no cumprimento da pena, uma vez que os referidos princípios estão presentes em
nossa Constituição Federal de 1988.
Vale salientar que será descriminada a importância dos Tratados De Direitos Humanos
e como influenciaram diretamente na elaboração de nosso sistema prisional.
24

II SISTEMA DE EXECUÇÃO PENAL BRASILEIRO

Para ser fixado um entendimento e elencar os parâmetros necessários para aplicação e


funcionamento do instituto da execução penal no Brasil, será elaborada uma breve pesquisa
com findo de pautar qual a sua natureza jurídica, seu objeto, bem como os princípios
fundamentais que a regem.

2.1 Breve introdução a Lei de Execução Penal

A lei nº 7.210, de 11 de Julho de 1984, nomeada por Lei de Execução Penal,


popularmente conhecida pela sigla LEP, vem com intuito de limitar e objetivar os poderes e
deveres do Estado quanto ao tema da execução penal, como pode se ver em seu artigo 1º:
Mesmo com a existência de diversos atos normativos é clara a preponderância da Lei
de execução Penal no sistema normativo da execução penal, como podemos ver em seu artigo
2º, Nº 7.210, de 11 de Julho de 1984, “Art. 2º “A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da
Justiça ordinária, em todo o Território Nacional, será exercida, no processo de execução, na
conformidade desta Lei e do Código de Processo Penal”.
Conforme o exposto só poderá ser aplicada alguma sanção penal em conformidade
com a lei de execução penal e o código penal vigente, ou seja, sua preponderância se torna
inegável dentro do sistema normativo de execução penal.

2.1.2 Natureza jurídica da Execução penal

Quando nos pautamos na fixação da natureza jurídica de algum instituto, sempre


encontramos grandes opostos, ou seja, duas grandes divergências doutrinárias quanto ao
instituto, e uma terceira corrente, por muitos é chamada de conciliatória ou híbrida, que busca
pontos positivos de ambos os lados, excluindo os negativos, com a finalidade de firmar um
entendimento mais amplo e seguro quanto à natureza do instituto.
25

Ao dissertar sobre a natureza jurídica da execução penal, Ada Pellegrini Grinover


afirma a intervenção do Direito Administrativo, mesmo sendo de suma importância e
prevalência o Direito Penal e Processual Penal.

Na verdade não se nega que a execução penal é uma atividade complexa, que se
desenvolve, entrosadamente, nos planos jurisdicional e administrativo. Nem se
desconhece que dessa atividade participam dois Poderes estaduais: o Judiciário e o
Executivo, por intermédio, respectivamente, dos órgãos jurisdicionais e dos
estabelecimentos penais (1987, p.7)

Com base no exposto pela autora, pode se ver que seu entendimento quando a natureza
da pena está fixada na terceira corrente, conhecida como híbrida.
Mister salientar o exposto nos motivos da lei de execução penal em seu artigo 16º a
seguir:

16º A aplicação dos princípios e regras do Direito Processual Penal constitui


corolário lógico da interação existente entre o direito de execução das penas e das
medidas de segurança e os demais ramos do ordenamento jurídico, principalmente o
que regulam em caráter fundamental ou complementar os problemas postos pela
execução.

Nesse mesmo entendimento frisa Guilherme Nucci quanto à natureza do instituto da


execução penal

Cuida-se da atividade jurisdicional, voltada a tornar efetiva a pretensão punitiva do


Estado, em associação à atividade administrativa, fornecedora dos meios materiais
para tanto. Portanto, trata-se de processo jurídico-administrativo. (Qual a natureza
da execução penal no Brasil?, 2015)

Diante o exposto verifica-se que a execução penal possui duas naturezas jurídicas,
uma que cabe ao Estado que administra os estabelecimentos penais e a outra que cabe ao
Judiciário que se responsabiliza por questões penais e processuais.

2.1.3 Objeto da execução penal

O Objeto da execução penal assim como a natureza do instituto se divide, de modo


que não há um objeto específico, mas sim um conjunto de fatores que devem a ser
26

observados. A afirmativa esta que pode ser vista já no 1º art. da lei, Nº 7.210, de 11 de Julho
de 1984, “Art.1º: A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou
decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e
do internado”.
Diante o exposto podemos de forma sucinta dizer que a execução penal possui dois
objetivos, sendo uma a aplicação propriamente dita da sanção penal, e a outra o dever do
Estado em proporcionar a ressocialização do sujeito que veio a sofrer a sanção.
Nesse aspecto Falconi afirma:

reinserção social é um instituto do Direito Penal, que se insere no espaço próprio da


Política Criminal (pós-cárcere), voltada para a reintrodução do ex-convicto no
contexto social, visando a criar um modus vivendi entre este e a sociedade. Não é
preciso que o reinserido se curve, apenas que aceite limitações mínimas, o mesmo se
cobrando da sociedade em que ele reingressa. Daí em diante, espera-se a diminuição
da reincidência e do preconceito, tanto de uma parte como de outra. Reitere-se:
coexistência pacífica (1998, p.122)

Diante o narrado, verifica-se que o aspecto da ressocialização deve ser visto pelo
aspecto humano, dando aquele que sofreu a represália o direito de ser reinserido na sociedade,
bem como deve ser analisada por um aspecto social onde aquele que se encontra interno deve
ser preparado para a reinserção em sociedade, ou seja, preparar o sujeito para ser um elemento
produtivo na sociedade.
Para autores como Mirabete a pena tomou-se por um lado mais humano, não se
fixando apenas no sujeito passivo da execução penal, mas como forma de defesa social.
(2006, p. 28)
Uma vez que o instituto da pena tomou-se por um lado mais humano, deixando de ter
única e exclusivamente uma função punitiva foi necessário que uma série de princípios
fossem utilizados para garantir direitos aos reclusos.
Estes princípios são de suma importância para que aqueles que se encontram sob a
tutela estatal não percam sua humanidade e sejam tratados de forma igualitária perante o
manto da justiça.
Muitos desses princípios emanam da Declaração Universal dos Direitos Humanos,
1948, de onde o legislador brasileiro buscou fundamentação para aplicar no nosso sistema
jurídico uma forma mais humanitária na aplicação da pena.
27

A seguir será elencado uma série desses princípios que auxiliaram o legislador na
elaboração de nossas leis, buscando a melhor maneira de conquistar a ressocialização dos
reclusos.

2.2 Princípios relativos à execução penal

Como salientado acima, mesmo que a natureza da execução penal seja híbrida, ou seja,
possua casos meramente administrativos, a lei de execução penal, nº 7.210, 1984, em seu
artigo 2º estabelece os casos de jurisdição penal dos juízes ou tribunais de justiça, conforme
exposto a seguir, “Art. 2º A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça ordinária, em
todo o Território Nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade desta
Lei e do Código de Processo Penal”.
De modo a ser imperioso salientar a necessidade dos princípios dentro da execução
penal, estes comumente invocados para evitar casos de abusos de poder dentro do antro
jurisdicional do Estado.

2.2.1 Devido processo legal

Considerado como um princípio orientador dos demais, o princípio da legalidade esta


diretamente vinculado ao processo, uma vez que não haverá crime sem lei anterior que o
defina.
Neste aspecto, Guilherme de Souza Nucci declina:

O devido processo legal guarda suas raízes no princípio da legalidade, garantindo ao


indivíduo que somente seja processado e punido se houver lei penal anterior
definindo determinada conduta como crime, cominando-lhe pena. Além disso,
modernamente, representa a união de todos os princípios penais e processuais
penais, indicativo da regularidade ímpar do processo criminal. (2014, p. 63).

Ainda imperioso salientar que o referido princípio tem função de restringir os poderes
tanto na esfera jurisdicional como administrativa, podendo o magistrado ou administração
pública só impor sanção com base na letra da lei.
28

Nesse sentindo afirma Alexis Couto de Brito (2018), “O principio da legalidade


garante que tanto o juiz como autoridade administrativa concorrerão para com as finalidades
da pena, garantindo direitos e distribuindo deveres em conformidade”.
Imperioso dizer que o magistrado não poderá utilizar apenas de discricionariedade no
embasamento de sua decisão, uma vez que esta diverge de ser humano para ser humano,
conforme seu entendimento quanto à vida e sua base religiosa e filosófica. Assim, o que para
um pode ser de extrema relevância e importância poderá não ter o mesmo valor para outro.
Desse modo, Alexis Couto de Brito conclui o entendimento da seguinte forma quanto
a restrição dos poderes do magistrado:

Não pode o magistrado utilizar-se de sua suposta discricionariedade para restringir


ou negar um benefício ou direito com base em entendimentos princípios sobre a
finalidade do instituto ou sobre merecimento do beneficiário, pois quando se tem em
mente que a execução tem como sujeito principal e razão de ser a pessoa presa, é por
esta que se deve pautas as conclusões do magistrado.(2018, p)

Assim conforme o exposto, podemos concluir que o princípio da legalidade é essencial


para que seja dado ao indivíduo infrator uma justa aplicação de justiça, evitando que ocorra
uma sanção penal baseada apenas em entendimento próprio do magistrado, gerando uma
enorme insegurança jurídica.
O princípio da legalidade possui ligação direta com o princípio da isonomia ou
igualdade que também busca pela igualdade entre os membros da sociedade, ou seja, uma
justa aplicação da sanção penal, não podendo o magistrado aplica-la de maneira
preconceituosa, levando em conta, por exemplo, questões sociais, conforme será disseminado
no tópico a seguir.

2.2.2 Isonomia ou Igualdade

O princípio da isonomia ou igualdade, como próprio nome diz, está ligado ao respeito
e a não distinção dos indivíduos da sociedade, seja por classe social, raça, cor ou religião.
Assim, devem todos ser tratados de maneira igual perante o manto da justiça.
O referido princípio tem como fonte a própria carta magna, que em seu artigo 5º,
caput, expõe:
29

Art.5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes.

Imperioso salientar que o princípio da isonomia está presente no ordenamento jurídico


brasileiro desde a carta constitucional de 1934, que em seu artigo 113º, caput e parágrafo 1º,
expõem o seguinte:

Art 113º - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a


inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança
individual e à propriedade, nos termos seguintes:
1) Todos são iguais perante a lei. Não haverá privilégios, nem distinções, por motivo
de nascimento, sexo, raça, profissões próprias ou dos pais, classe social, riqueza,
crenças religiosas ou idéias políticas.

Uma vez que estamos falando de uma questão primordial para que a justiça possua sua
real e concreta função executada, é de suma importância que o princípio da igualdade seja
exaltado e respeitado. Com base nesse entendimento a Organização das Nações Unidas
(ONU) em sua declaração universal dos direitos humanos, do ano de 1948, declarou em seu
artigo 1º, “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade”.
Com base no exposto podemos dizer que o referido princípio não possui caráter
meramente jurisdicional, mas sim possui seu efeito em todas as esferas do direito, sendo visto
por muitos como o símbolo da democracia.
Indubitavelmente uma das maiores premissas da democracia está apregoada a
igualdade de seus membros, não os diferindo por cor, raça ou classe social.
Deste modo, podemos dizer que a democracia está ligada não somente aos direitos e
deveres do homem como indivíduo na sociedade, mas sim em manter que sua humanidade,
esta entendida como conjunto de atos que o ser humano possui perante a si e ao próximo.

2.2.3 Humanidade

O princípio da humanidade encontra-se intrínseco dentro do homem, pois este advém


de sua natureza Nota-se que é natural do homem uma repulsa por critérios que se baseiam em
30

violência e degradação do seu próprio ser ou firam diretamente a dignidade da pessoa


humana.
Desse modo podemos salientar que os critérios utilizados para sanções devem se
atentar ao entendimento atual referente aos direitos humanos.
Atentando-se a esses critérios, estabeleceu a carta constitucional em seu artigo 5º,
inciso XLVII, “não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos
do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis”.
Mister salientar a presença do principio da humanidade na declaração universal dos
direitos humanos, de 1948, que em seu artigo 5º expôs, “Artigo V - Ninguém será submetido
à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”.
Neste aspecto reafirma Bitencourt:

A proscrição de penas cruéis e infamantes, a proibição de tortura e maus-tratos nos


interrogatórios policiais e a obrigação imposta ao Estado de dotar sua infraestrutura
carcerária de meios e recursos que impeçam a degradação e a dessocialização dos
condenados são corolários do princípio de humanidade. (Tratado de Direito Penal, p.
47, 2010)

Com base no exposto, temos a afirmativa do referido princípio, podendo assim


concluir a efetiva necessidade da humanização da pena quanto aos parâmetros para sua
aplicação, devendo o Estado como soberano, garantir à inviolabilidade da dignidade da pessoa
humana.
Diante o exposto podemos vislumbrar que existe uma presente relação jurídica entre o
ente estatal e o indivíduo, e assim para que ocorra uma sanção perante ao indivíduo, está
deverá decorrer de uma demanda jurisdicional, prerrogativa que advém do princípio da
jurisdicionalidade que será disseminado no tópico a seguir.

2.2.4 Jurisdicionalidade

Como já disciplinado, a natureza da pena se divide em administrativa e jurídica,


conforme entendimento doutrinário e jurisprudencial, porém conforme o exposto no artigo 2º,
da lei de execução penal, deixa o legislador sua veemência quando a natureza jurisdicional da
execução penal.
31

O princípio da jurisdicionalidade está previsto no art.5º, LXI, da Constituição Federal


de 1988, “Art. 5º, LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou
crime propriamente militar, definidos em lei”.
Assim, nota-se a presente relação jurídica entre Estado e indivíduo, ambos possuindo
direitos e deveres dentro do conflito aparente, e por sua vez em se tratando de uma relação
jurídica essa para ser dirimida deverá demandar de uma intervenção jurisdicional.

2.2.5 Proporcionalidade

Diante interpretação literal do nome do princípio a ser disciplinado, este se refere a


aplicação de sanção penal condizente com o ato praticado pelo infrator, ou seja, não poderá
ser aplicada sanção maior que aquilo exposto em lei, devendo o magistrado na aplicação da
pena se atentar a medida da culpa do autor. Visando o princípio evitar os excessos na
aplicação da pena.
Goulart, conclui o entendimento da seguinte maneira:

Se a pena é retribuição, se ela é, expiação pelo crime praticado, deveria daí ser
necessário, no momento da execução, ter presentes as diversas personalidades dos
réus e as diversas espécies de crime. [...] a retribuição não pode ser considerada
abstratamente, mas deve encontrar sua efetivação nas diversas modalidades de
execução, atendendo-se a concepções éticas e respeitando a personalidade do
condenado, que não deverá ser colocado junto a outros que lhe sejam
substancialmente diversos (1994, p.108)

Elencado o caráter de retribuição da pena, está deverá ser condizente com o ato
cometido pelo agente, ou seja, deverá haver um equilíbrio entre o fator gerador e pena.
De mesmo modo afirma Bitencourt:

Com base no princípio da proporcionalidade é que se pode afirmar que um sistema


penal somente estará justificado quando a soma das violências – crimes, vinganças e
punições arbitrárias – que ele pode prevenir for superior à das violências
constituídas pelas penas que cominar. (Tratado de direito penal, 2010, p.58)

Diante o exposto fica claro que o Estado tem como obrigação o dever de garantir que a
pena cominada ao individuo seja compatível com o crime que este tenha cometido, assim
32

seguindo a linha de raciocínio a pena deverá ser individual e compatível com a personalidade
de cada individuo.
A individualização da pena é de suma importância para garantia não apenas de uma
sanção justa, mas também como garantia de outros princípios como o da igualdade e
proporcionalidade.

2.2.6 Individualização da pena

Assim como os outros princípios já descritos, o princípio da individualização possui


um importante papel dentro do ordenamento jurídico. De modo a fazer com que a lei regule e
individualize a pena, como previsto na letra do artigo 5º, inciso XLVI, da Constituição
Federal.
Destarte que a pena deverá ser aplicada conforme a personalidade e antecedentes
daquele que fora condenado, devendo receber tratamento penitenciário adequado. Nesse
aspecto, afirma Alexis Couto de Brito

Embora a execução deva tornar efetivas as determinações da sentença, o destino do


condenado é muito mais definido pela execução do que pela própria sentença. É
durante a execução que se procura definir a personalidade do condenado, o que
conduz ao encurtamento ou prorrogação do prazo de restrição da liberdade
(Execução penal, 2018).

Podemos concluir que a individualização, deverá ser aplicada como uma forma de
particularizar a pena a ser aplicada.
Mister salientar que a individualização da pena se segmenta em três etapas, sendo elas
a da cominação, aplicação da pena e execução, reafirmando o pensamento dispõe o princípio
da instranscendência que só poderá ser parte na demanda jurisdicional aquele indivíduo que
fez parte na ação criminosa.
33

2.2.7 Intranscendência

Intranscendência é um termo jurídico que em sua síntese enuncia que só poderá ser
parte de ação criminal aquele que figurou na efetivação do ato delituoso.
O legislador constitucional reafirmou o entendimento da intranscendência da pena em
seu artigo 5º, inciso XLV, exposto a seguir:

XLV- nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de


reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
patrimônio transferido;

Neste aspecto, afirma Alexis Couto de Brito

A personalidade justifica-se pela fundamentação da aplicação de uma pena a um


indivíduo. Somente diante da culpabilidade é que o autor de uma conduta típica e
ilícita receberá a reprovação pelo fato cometido. A culpabilidade é individual e
intransferível, não sendo permitida sua compensação nem diante de violações
mútuas. (Execução penal, 2018)

O instituto jurídico da pena pode ser definido como uma sanção aplicada pelo Estado
em face de um agente infrator, assim sendo só poderá ser dirigida ao agente que cometeu o
ato elencado como delituoso no ordenamento jurídico. Desta forma se torna intransmissível a
pena da pessoa condenada.
Como dissecado acima todos os princípios, deveram ser observados e aplicados
durante a aplicação da sanção pelo Estado de modo que este consiga a reinserção do indivíduo
que se encontra recluso ao ambiente social, porém ocorre uma falta de preparo Estatal para
aplicação desses princípios.
Assim, poderemos dar andamento a pesquisa, adentrando agora na vida dos presos
após a sentença penal que restringe a liberdade dos indivíduos, os enviando para as unidades
prisionais. No capítulo a seguir será descrito as unidades prisionais brasileiras e como é feito a
distribuição dos presos conforme a pena a ele cominada.
34

2.3 Unidades Prisionais Brasileiras

Conforme expresso anteriormente o sistema brasileiro de execução penal utiliza do


sistema progressista, assim foi elaborado dentro do sistema diversas unidades prisionais para
que os reclusos sejam destinados conforme o ato delituoso que tenha cometido.
Com base no texto de nossa Constituição Federal de 1988 cabe a união, Estados e
Distrito Federal legislar quanto ao tema penitenciário, assim dispõe a carta magna “art. 24.
Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I- direito
tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico”.
De acordo com dados disponibilizados no site do Conselho Nacional do Ministério
Público, 2018, a taxa de ocupação dos presídios brasileiros é de 175% (cento e setenta e cinco
por cento), considerando que há no país um total de 1.456 unidades prisionais. No Brasil de
acordo os últimos dados disponibilizados pelo INFOPEN população carcerária está por volta
de 726 mil presos.
A primeira unidade prisional a ser estudada serão as penitenciárias, núcleos destinados
aos condenados a cumprimento de pena em regime fechado, conforme será expresso no tópico
a seguir.

2.3.1 Penitenciárias

Conforme o art.87 da Lei 7.210/1984, as penitenciárias são destinadas ao condenado a


reclusão em regime fechado, podendo ser estes reclusos provisórios. Com base no sistema
penitenciário aplicado no Brasil o regime ao qual se destina as penitenciárias se faz o mais
rígido.
Hoje existem 4 (quatro) penitenciárias federais no Brasil destinadas a indivíduos de
maior periculosidade a segurança pública, sendo localizadas em Catanduvas (PR), Porto
Velho (RO), Mossoró (RN) e Campo Grande (MS)
35

2.3.2 Colônias agrícolas, industriais e similares

Diferente das penitenciárias as Colônias são destinadas aqueles que iram cumprir a
pena no regime semiaberto, onde estes poderão praticar atividades laborativas que serão
contadas para diminuição da pena.
Além da diferenciação quanto ao regime existem outros aspectos que divergem as
colônias para as penitenciárias, conforme expresso na lei de execução penal, nº 7.210/1984,
em seu art. 92, dispõe:

Art. 92. O condenado poderá ser alojado em compartimento coletivo, observados os


requisitos da letra a, do parágrafo único, do artigo 88, desta Lei.
Parágrafo único. São também requisitos básicos das dependências coletivas:
a) a seleção adequada dos presos;
b) o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de individualização da
pena.

Desta forma podemos ver que o legislador optou por um formato mais brando de
aplicação da pena. Conforme descrito anteriormente os presos deveram ser divididos
conforme a pela a ele cominada, no próximo tópico será relatado a unidade prisional
designada para aqueles que iram cumprir a pena em regime aberto ou que devido a progressão
alcançaram o direito de usufruir de um regime mais brando, este no caso sendo o regime
aberto.

2.3.3 Casa do Albergado

A casa do Albergado é terceiro estabelecimento prisional previsto na Lei de Execução


Penal, destinada aos condenados que estão a cumprir a pena em regime aberto.
Uma dos aspectos que mais divergem dos outros estabelecimentos prisionais é que o
legislador deixou expresso na letra da lei que as casas do albergado não devem criam
obstáculos físicos contra a fuga do apenado, assim previsto no art. 94, da lei 7.210/1984.
Vale ainda salientar que em cada região deverá haver pelo menos uma casa do
Albergado, conforme art. 95 da lei já supracitada, assim dispondo:
36

Art. 95. Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do Albergado, a qual deverá
conter, além dos aposentos para acomodar os presos, local adequado para cursos e
palestras.
Parágrafo único. O estabelecimento terá instalações para os serviços de fiscalização
e orientação dos condenados.

Nesse sentido expressa Bruno André Blume:

Evidentemente, os presos em casas do albergado devem ser indivíduos com bom


comportamento e que ofereçam pouco ou nenhum risco à sociedade. Outro requisito
é que estejam trabalhando e que voltem de noite para o estabelecimento. O
condenado precisa, acima de tudo, ter grande senso de responsabilidade. (Politize,
2017)

Assim, podemos dizer que conforme o expresso na letra da lei pelo legislador penal
houve uma real preocupação quanto a maneira de tratamento dos reclusos, devendo ser
analisado o crime que foi prático, o que acarreta diretamente no regime de pena a ser
cumprido e qual estabelecimento penitenciário ele será mantido.
De mesmo modo foi criado uma unidade prisional específica para aqueles que ainda
não foram condenados, ou seja, aqueles que se encontram presos apenas provisoriamente, esta
unidade prisional é conhecida como cadeia pública e será vislumbrada no tópico a seguir.

2.3.4 Cadeia Pública

Outra espécie de estabelecimento prisional são as cadeias públicas, destinadas aos


presos provisórios, devendo cada comarcar possuir pelo menos 1 (uma) para resguardar o
interesse da Administração da Justiça Criminal e a permanência do preso em local próximo ao
seu meio social e familiar, conforme expresso no art. 103, da lei 7.210/1984.
Como dissemina nesse capítulo existe mais de uma espécie de estabelecimento o
prisional, onde se destinam os condenados ou presos provisórios conforme o regime de
cumprimento da pena, porém mesmo havendo essa diferenciação um grande déficit assola o
sistema prisional, assim gerando a ineficácia da ressocialização. No próximo capítulo será
elaborado uma pesquisa com escopo de descobrir de onde advém a ineficácia do sistema.
37

III A INEFICÁCIA DA RESSOCIALIZAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL

A ineficácia da ressocialização do interno se pauta em vários fatores distintos, estes


podendo ser advindos da própria má administração do ente estatal tanto em sua forma de
executor quanto legislador, dessa maneira o capítulo a seguir procura constatar esses fatores e
de onde estes advêm.
É de notório saber social que a ineficácia da ressocialização dos presos no Brasil não
decorre de um fato isolado, mas sim de uma decorrência de fatores que em grande escala
geram a falência do instituto da pena no Brasil, uma vez que está previsto em nossa legislação
que o referido instituto tem como pilar de sustentação dois aspectos, sendo eles a represália ao
ato criminoso, porém a ressocialização do preso ao âmbito social.

3.1 Conceito de Ineficácia

A palavra ineficácia possui sua origem no latim “Inefficaz.acis”, podendo ser definida
como aquilo que se tornou sem eficácia, inoperante, não atingiu o efeito esperado, expresso
no dicionário da seguinte forma:

Sem eficácia; que não pode ser eficaz; ineficiente.


Que não causa o efeito esperado; inoperante.
Que não produz resultado(s); estéril.
Que não é conveniente; impróprio.

Assim, com base no exposto podemos dizer que é exatamente o que ocorre dentro do
sistema prisional Brasileiro, o sistema não possui eficácia dentro daquilo que se propôs a
fazer.
Com base no entendimento quanto à origem da palavra, devemos avançar para uma
analise quanto ao sistema de execução penal para definirmos se ocorre uma ineficácia
legislativa ou se trata de uma falta de preparo do Estado na manutenção e aplicação de
medidas necessárias para alcançar o objetivo final de ressocialização do recluso.
38

3.1.1 Diferença entre Ineficácia e Ineficiência

Nesse aspecto, deve-se entender a diferença de significados entre as palavras


Ineficiência e Ineficácia para que assim possamos dissecar os fatores da não ressocialização
do interno, deste modo com base no dicionário a palavra ineficácia possui efeito de algo que
não possui efeito e se tornou inoperante, destarte que a Ineficiência diz respeito a falta de
eficiência, imprestabilidade.
É de suma importância a diferenciação dessas palavras para que possamos entender se
ocorre a falta de uma legislação eficaz ou se o Estado se tornou ineficiente na aplicação da
legislação.
Assim no capítulo posterior iremos declinar a legislação vigente atualmente e os atos
do Estado como detentor do poder de sanção.

3.1.2 Ineficácia ou ineficiência legislativa

O instituto jurídico da pena possui vasta base legislativa para sua aplicação, possuindo
assim de maneira clara todo seu organograma expresso na legislação, desde sua função dentro
da sociedade bem como a maneira que deverá ser aplicada pelo ente Estatal.
No Brasil o sistema jurídico da pena é baseado na Lei de execução penal (LEP), esta
que prevê direitos e deveres do interno bem como o deveres do Estado na aplicação de
sanções e manutenção de direitos e garantias fundamentais do interno enquanto recluso.
Destarte que o nosso sistema prisional possui amplo amparo legislativo, que busca não
somente a aplicação da lei como forma de sanção, mas sim como uma ferramenta social de
com finalidade de buscar a ressocialização do recluso, se baseando na efetiva reinserção do
sujeito que cometeu o ato delituoso a vida em sociedade.
Assim, na própria letra da lei de execução penal, carta magna e Pacto de São José da
Costa Rica, fica claro interesse do legislador quanto a referida volta daquele que cometeu o
ato delituoso a vida em sociedade. Logo, podemos afirmar que o instituto jurídico da pena
possui grande amparo legislativo, com direitos e deveres expressos e bem elencados, assim
sendo não ocorre a ineficiência da legislação, mas sim sua ineficácia devido a sua não
concretização no âmbito real.
39

3.1.3 Ineficácia ou ineficiência do ente estatal e seus agentes

Possui o Estado o dever de aplicar sanções aqueles que de algum modo infringem seu
código penal, ou seja, cometam algum ato que ali elencado seja passível de sanções, sejam
elas pena de multa ou reclusão.
Uma vez que o Estado pega para si o poder de dominância quanto ao referido instituto
esse tem o dever de além da mera aplicação da sanção garantir ao sujeito que cometeu o ato
delituoso uma séria de direitos e garantias, estas previstas no sistema legislativo, assim
quando o Estado não cumpre esse papel ele falha em sua função.
O instituto jurídico da pena como já dissertado acima possui vasta legislação, onde são
baseados não apenas a aplicação da pena, mas também todos os princípios de dignidade da
pessoa humana que deverão ser observados e garantidos ao interno.
Podemos utilizar como exemplo desse comentário o art. 88, “a”, da lei 7.210/1984 que
dispõe:

Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório,
aparelho sanitário e lavatório.
Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular:
a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e
condicionamento térmico adequado à existência humana;

Assim, parece claro que ocorre atualmente no sistema prisional a ineficiência do


Estado como aplicador da lei.
Nesse sentido Bruno André Blume disserta:

grande parte dos estabelecimentos não possuem todas as condições previstas em lei.
51% das unidades não possuem módulos de saúde; 42% não possuem espaço para
educação; e 70% não contam com oficinas de trabalho. Esses serviços deveriam
estar presentes em todas as unidades, de acordo com a lei. (Politize, 2017)

Devemos ainda nos atentar ao caso de superlotação, onde de acordo com o Infopen no
ano de 2014 havia uma média de 250 mil presos em regime fechado para apenas 164 mil
vagas e uma média de 90 mil presos em regime semiaberto enquanto o número de vagas é de
apenas 67 mil. Assim se tornando possível a aplicação do disposto na Lei de Execução Penal,
como salubridade, celas individuais, bem como muitos dos presos em regime semiaberto
permanecem nas penitenciárias devido à falta de vagas no regime semiaberto.
40

Nesse diapasão Mariel Muraro dispõe:

Verifica-se, portanto, que o Brasil tem aplicado a pena de prisão sempre como
alternativa primária para a resolução de conflitos penais, verificando-se um aumento
gradativo desproporcional em descompasso com o crescimento populacional.
(Jusbrasil, 2017).

Diante a pesquisa elaborada pelo INFOPEN no ano de 2014 pode-se notar a completa
falta de preparo Estatal para gerir o sistema prisional.
Conforme o exposto podemos afirmar que o Estado vem deixando de realizar o que
está previsto na legislação, concretizando assim a ineficácia da ressocialização.
O sistema prisional vem enfrentando um grande déficit, deixando de ter uma função
social de ressocialização e passando a possuir novamente apenas uma função punitiva, de
forma degradante o Estado permanece inerte quanto a este fato, se tornando indubitável o
descaso quanto à manutenção de uma vida digna e quanto ao resguardo dos direitos dos
presos enquanto permanecem sob o manto do sistema prisional.

3.2 O caos no sistema prisional brasileiro

O Brasil possui a terceira maior população carcerária do mundo, ficando atrás apenas
dos Estados Unidos e China. Pesquisas elaboradas pelo levantamento nacional de informações
penitenciárias (INFOPEN) do ano de 2017 a população carcerária no Brasil era de 726 mil
presos, porém segundo o mesmo elaborador da pesquisa o número de vagas no Brasil é de
368.049.
Neste mesmo diapasão o Conselho Nacional de Justiça em nova pesquisa do ano de
2018 disseminou, “A taxa de ocupação dos presídios brasileiros é de 175%, considerado o
total de 1.456 estabelecimentos penais no País. Na região Norte, por exemplo, os presídios
recebem quase três vezes mais do que podem suportar”.
Com base no exposto acima podemos ver com clareza o colapso do sistema
penitenciário, uma vez que este não tem suporte para o elevado número de presos, havendo
uma média de 2 (dois) presos para cada vaga, ocorrendo assim uma degradação gradual do
sistema em sua decorrência a degradação daqueles que estão por ele sendo ministrados, desde
41

um alojando de forma completamente desumana e sem qualquer estrutura de saneamento


básico até mesmo a falta de uma alimentação de qualidade.
Vale salientar que dos números já expostos 40% são de presos provisórios, ou seja,
que ainda aguardam julgamento. Mesmo sem uma sentença passam por todo esse período
traumático e desumano do sistema prisional brasileiro.
Devido ao grande número de presos e a falta de preparo estatal para lidar com a
situação, uma maré de males os assola, dentre muito deles a saúde dos presos, conforme
pesquisa elaborado pelo INFOPEN e descrita de forma sucinta pelo professor Rômulo de
Andrade Moreira a seguir exposta:

diz respeito às doenças sexualmente transmissíveis. A incidência do vírus da AIDS é


138 vezes maior do que a constatada na população geral. Em 2015, a proporção nas
carceragens da doença foi de 2.189,9 casos para cem mil detentos, enquanto em
geral foi de 15,8 para cem mil habitantes. Observa-se que neste aspecto, somente
52% das prisões enviaram dados ao Ministério da Justiça. (Justificando, 2018)

Diante o exposto se faz vergonhosa a atuação do Estado como detentor do poder de


sanção, deixando de aplicar requisitos mínimos para sobrevivência de qualquer indivíduo da
sociedade.
De suma importância ainda devemos nos atentar ao grande número de mulheres que se
encontram em cárcere, com base na pesquisa elaborada pela World Female Imprisonment
List, no ano de 2014 a população feminina dentro dos presídios brasileiros era de 37.380 mil,
demonstrando um crescimento significativo do número de mulheres em situação de cárcere.
Com base na última atualização feita pelo INFOPEN o número de mulheres gestantes
era de 399 no ano de 2018, levando em conta que não foram recolhidas informações de todos
os estabelecimentos prisionais. Devemos analisar friamente a situação dessas mulheres,
muitas não possuem o mínimo de instrução necessária para lidar com a gestação, se tornando
ainda mais difícil devido ao caos em que as mesmas se encontram. Da mesma forma que
ocorre em penitenciárias exclusivas para homens, as penitenciárias femininas sofrem com a
má administração do ente estatal, deixando que estas mulheres que muitas vezes gestantes não
tenham acesso a um acompanhamento médico de qualidade, saneamento básico e uma
alimentação saudável que auxilie na formação do feto.
Vivemos em uma sociedade completamente exclusiva, com o poder do Estado sendo
repressivo apenas para os menos desfavorecidos, nesse aspecto afirma Rômulo de Andrade
Moreira:
42

O nosso sistema carcerário está repleto de pobres e isto não é, evidentemente, uma
“mera coincidência”. Ao contrário: o sistema penal, repressivo por sua própria
natureza, atinge tão-somente a classe pobre da sociedade. Sua eficácia se restringe,
infelizmente, a ela. As exceções que conhecemos apenas confirmam a regra.
(Justificando, 2018)

Essa realidade é apenas o reflexo de nossa economia e cultura empobrecida e racismo


estrutural entranhado em nossa sociedade. Quando não se tem acesso à lazer, cultura,
educação, higiene, muitos optam por tentar uma forma mais fácil de ganhar seu sustento e
muitas vezes o sustento de sua família, muitos carentes de afeto familiar encontram no mundo
do crime “super-heróis” para se espelharem, é fato que maioria dentro dos estabelecimentos
prisionais são negros e periféricos, como também é fato que estes são os primeiros a
receberem de frente o preconceito e falta de oportunidade, sendo assolados de forma cruel
pela sociedade, estigmatizados e marcados como alvos.
A igualdade pregada pelo Estado se torna uma falácia quando nos deparamos com a
realidade da sociedade e como a falta de fatores básicos pode atuar diretamente na vida dos
indivíduos. Uma vez reclusos, se deparam com uma situação completamente traumática,
causando muitas vezes danos irreversíveis em sua saúde mental, causando efeito contrário ao
interesse da lei de execução penal, dificultando ainda mais a reinserção dos reclusos a vida em
sociedade de maneira digna.

3.2.1 Impacto da prisão na saúde mental dos presos

Uma vez que o Estado não corresponde com sua função perante aqueles que estão sob
sua custódia, deixando de garantir a dignidade e direitos humanitários de seus reclusos, calha
em um impacto direto na saúde mental destes.
Quando se encontra em um local sem o mínimo necessário de salubridade, sanidade
básica, espaço adequados para realizar atividades pessoais, acaba por gerar um grande nível
de estresse nesses indivíduos, ocasionando assim inúmeras discussões por motivos muitas
vezes que poderiam ser completamente banais fora do estabelecimento prisional.
Imperioso salientar que o número de depressão entre esses indivíduos se torna cada
vez maior, em uma pesquisa realizada por uma dupla de graduandas em psicologia e uma
dupla de doutores em psicologia eles afirmam:
43

No que diz respeito aos níveis de depressão, segundo a Escala Beck, prevaleceram
os níveis moderado e grave entre os apenados do Presídio comum, e entre os
internados no Hospital de Custódia o nível moderado foi o maior (68%). Esses
níveis de depressão foram compreendidos pela ausência de atenção em saúde mental
na instituição comum, diferente do existente entre os apenados do hospital de
custódia, uma vez que esses são medicados. Os indicadores da depressão, tais como
a irritabilidade, a tristeza e a insônia tiveram índices altos em ambos os grupos,
enquanto que o menor indicador foi a ideação suicida. (Depressão por detrás das
grades, 2015)

Assim podemos ver que a problemática da depressão vem crescendo assiduamente no


âmbito prisional. Nesse diapasão Rômulo de Andrade Moreira dispõe:

Também ficou comprovado empiricamente que os presos têm quatro vezes mais
chances de cometer suicídio do que a população brasileira total. No ano de 2015,
foram anotados 5,5 suicídios para cada cem mil habitantes, ao passo que atrás das
grades a taxa foi de 22,2 para cada cem mil detentos. Oitenta e oito por cento dos
presos não estão envolvidos em qualquer atividade educacional, como ensino
escolar e atividades complementares. Já em relação a trabalho, dentro e fora das
cadeias, a fatia que fica alheia é de 85%. (Justificando, 2018)

Os números são alarmantes, devendo ser analisados friamente pelo ente estatal afim de
se buscar uma maneira de reverter os números, aplicando não uma sanção penal mais branda,
mas sim aplicação justa da pena conforme previsto na lei de execução penal e nos tratados de
direitos humanos em que o Brasil se faz pertencente.

3.2.2 Formas de buscar a ressocialização

Como já declinado exaustivamente nos capítulos anteriores é dever do Estado


trabalhar na reinserção do recluso para o âmbito social. Desde a declaração universal dos
direitos humanos, da ONU, 1948, os direitos humanos vêm buscando pela seguridade da
dignidade da pessoa humana, independente do ato que o homem médio venha a cometer.
A declaração universal dos direitos humanos, 1948, deixa expresso em seu artigo 1º,
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de
razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”.
Assim, o ente estatal começou a buscar maneiras de garantir esses direitos aos
reclusos, uma delas foi a criação de centros especializados na ressocialização do recluso,
conhecidos como CR (centro de ressocialização), centros como o referido permitem que o
44

sujeito tenha oportunidade de aprender uma função laborativa, terminar os estudos, possuem
acesso a cultura como aulas de músicas e entretenimento, dando ao mesmo a oportunidade de
ter contato com fatores sociais que talvez não tiveram acesso quando em liberdade, muitas
vezes por questões sociais de onde ele emanava.
Vale dizer que quando o recluso possui contato com essas ferramentas de reeducação
os índices de reincidência caem drasticamente. Nesse diapasão Benigno Núñez Novo dispõe:

A educação prisional favorece a reintegração do indivíduo na sociedade. É preciso


desenvolver programas educacionais no sistema penitenciário que visem alfabetizar
e construir a cidadania dos presos. A conscientização deve ser uma das práxis para a
transformação do mundo dos presos, pois através da ação-reflexão é que
formaremos novos cidadãos. Cabe ao poder público e a sociedade em geral se
preocuparem e se comprometerem com a educação. (Jus.com, 2018)

Vale ressaltar que quando o Estado esse faz ausente, existe um vácuo de poder. O
Estado sendo detentor do poder, este deve manter todos os direitos inerentes aqueles que
guarnecem perante seu manto.

3.2.3 Medidas necessárias para a ressocialização

O estado possui base legislativa para trabalhar essas medidas, uma vez que grande
maioria já está presente no texto da Lei de execução Penal, bem como estão presentes em
nossa Constituição Federal, porém como já supracitado o Estado deixa de observar esses
aspectos de suma importância para manutenção da dignidade de pessoa humana daqueles que
se encontram reclusos.
Nesse contexto, reafirma o legislador penal descrevendo de forma sucinta os direitos
dos presos no art. 41 da Lei de Execução Penal a seguir exposto:

Art. 41 - Constituem direitos do preso:


I - alimentação suficiente e vestuário;
II - atribuição de trabalho e sua remuneração;
III - Previdência Social;
IV - constituição de pecúlio;
V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a
recreação;
VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas
anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena;
VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa;
VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo;
IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;
45

X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;


XI - chamamento nominal;
XII - igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da
pena;
XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento;
XIV - representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito;
XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e
de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.
XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da
responsabilidade da autoridade judiciária competente. (Incluído pela Lei nº 10.713,
de 2003)
Parágrafo único. Os direitos previstos nos incisos V, X e XV poderão ser suspensos
ou restringidos mediante ato motivado do diretor do estabelecimento.

Além do previsto na legislação o Estado deveria possuir medidas próprias para efetivar
a ressocialização do sujeito delinquente, como a utilização de medidas alternativas da pena.
Estudos apontam que uma das formas mais eficazes de ressocialização está presente na
educação, podendo assim o ente estatal fornecer aqueles que possuem interesse, aulas da
grade curricular básica para que reclusos consigam terminar seus estudos enquanto presos.
Outra maneira de conseguir alçar vôos maiores aos reclusos seria fornecer o contato
com cultura, a arte possui peso imensurável na vida de muitos, devendo o Estado fornecer a
chance desse contato para aqueles que muitas vezes por circunstancias alheias a sua vontade
não puderam o ter.
Aulas de pintura, música, sessões e oficinas de cinema e teatro podem diminuir o nível
de estresse dentro dos estabelecimentos prisionais em níveis extraordinários.
Devemos ainda salientar a importância de programas de qualificação profissional, que
atinge diretamente o futuro dos reclusos após o cumprimento da pena, qualificação essa que
podem ir do cultivo de hortas até atividades como marcenaria e confecção das mais diversas
áreas, criando assim uma expectativa de vida digna para o recluso, dando ao mesmo uma real
oportunidade de reintegração a sociedade. Neste aspecto dispõe Roberto Célio:

Cerca de 85% dos reeducandos são passíveis de recuperação. Se eles tiverem


condições básicas de sobrevivência, se tiverem acesso à educação, trabalho, esporte,
lazer, espiritualidade e cultura, a chance de recuperação é muito maior. (A redação,
2012)

Faz necessário que o Estado exerça o mínimo de sua função para garantir aqueles que
estão sob sua custódia tenham a oportunidade de retornar a vida em sociedade da melhor
maneira possível, devemos analisar a falta de amparo estatal que atinge a vida da grande
maioria da população carcerária antes mesmo de ingressarem no sistema prisional.
46

Diante o exposto podemos constatar que o maior gerador da população carcerária é o


próprio Estado, atuando de forma repressiva em cima daqueles que por ele já eram
desamparados e por muitas vezes ingressaram no mundo do crime na procura de uma suposta
vida melhor.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa de conclusão de curso foi elaborada utilizando-se de uma ordem


cronológica, com intuito de desmitificar quais os fatos geradores da ineficácia da
ressocialização no sistema prisional brasileiro. Buscando assim decifrar o conceito de pena e
como este foi se moldando com a evolução do homem médio, até a criação das sociedades.
O instituto de pena se faz presente na vida do homem antes mesmo da formação de
sociedades organizadas, de modo que o homem médio utilizava do instituto como modo de
represália, ou seja, seu instinto natural quanto a um mal que lhe ocorra.
Nos primórdios das sociedades o instituto foi se moldando conforme o entendimento
atual do homem quanto a vida em grupos sociais, passando de uma vingança privada para a
vingança divina, esta embasada diretamente pela religião, advindo a punição da “ira” dos
seres supremos, ou seja, deuses que eram enaltecidos na época.
Porém, novamente foi se moldando, até a criação do Estado, figura soberana, detentor
do mais alto poder dentro da sociedade e apenas este teria o poder de sanção perante os
membros da sociedade, assim ficando incumbida a ele a decisão quanto a pena que seria
cominada ao individuo que praticasse algum ato criminoso.
Assim, a pena possuía não apenas uma função de represália, mas sim uma forma de
controle social pelo ente estatal, desta ideia resultou uma série de teorias ao tema, passando da
teoria absoluta, pautada única e exclusivamente na demonstração de soberania do Estado, para
a teoria relativa que buscava não apenas a punição, mas sim a prevenção, ou seja, buscava
através de atividades sociais reeducar aqueles que se encontravam presos, para que assim não
voltassem a delinquir. Porém, ambas as teorias possuíam pontos negativos, assim foi
necessário a elaboração de uma nova teoria, está chamada de Teoria Mista, buscando a junção
dos pontos positivos de cada teoria e de mesma forma excluindo os pontos negativos.
No Brasil foi adotada a Teoria Mista, assim nosso legislador optou pela utilização da
pena não apenas como punição, mas também uma forma de reeducar o preso, tentando dar a
este a oportunidade de retornar a sociedade e conquistar novamente uma vida digna.
Destarte que com a referida escolha do legislador brasileiro pela Teoria Mista, foi
necessário que nosso sistema prisional se adequasse de maneira a garantir que os dois pontos
principais de finalidade da pena fossem executados. Correntes filosóficas e religiosas por
muito tempo foram utilizadas como base na elaboração dos sistemas prisionais, como
exemplo de corrente fortemente religiosa temos o sistema prisional de Filadélfia, que aplicava
48

o isolamento celular, tendo como direito de leitura apenas da bíblia para que assim
conseguisse observar seu pecado e condenação. O referido sistema foi a falência, sendo
necessário a elaboração de um novo sistema prisional, dando início ao Sistema Auburniano,
que se pautava e uma ideologia religiosa e pedagógica, utilizando de meios como meditação,
acreditando que era necessário demonstrar um conceito ideal de sociedade, porém o sistema
também veio a falência.
O terceiro sistema conhecido como Progressivo optou por uma junção dos sistemas
anteriormente descritos, porém com suas especificações próprias, proporcionando aos presos
a oportunidade de aprender uma atividade laborativa para que tivessem a oportunidade de
ingressar ao meio de trabalhar após o término da prisão, bem como o preso era avaliado
durante o tempo na prisão, havendo a progressão do regime de cumprimento da pena com
base em seu comportamento. No Brasil foi adotado o Sistema Progressivo, porém com
ressalvas devido ao contexto interno do país.
No ano de 1984, foi criada a Lei de Execução Penal, Nº 7.210, popularmente
conhecida no âmbito jurídico como (LEP), nela estão descritos todos os direitos e deveres do
Estado e dos indivíduos nessa relação jurídica da execução penal, deixando de forma expressa
que é dever do Estado a manter o mínimo necessário para garantia da dignidade de seus
presos, com observância de uma série de princípios que deveram ser utilizados desde o início
da demanda jurisdicional como o princípio do devido processo legal, proporcionalidade,
intranscendência, até o fim da demanda que se dá com o cumprimento da pena, devendo o
Estado resguardar pela integridade física, dos seus tutelados.
Como descrito acima dois grandes pilares baseiam a finalidade da pena no sistema
prisional brasileiro, sendo eles a punição e a ressocialização, porém para que a ressocialização
seja atingida é necessário que o Estado aplique medidas capazes de mudar a estrutura
psicológica do preso, demonstrando ao mesmo que é possível a vida fora do mundo do crime.
Porém devido à clara falta de preparo Estatal ocorre atualmente em nosso sistema
prisional a ineficácia direta da ressocialização, uma vez que não há aplicação correta daquilo
que está expresso em nossa legislação de execução penal, nem mesmo sendo garantido aos
presos os princípios inerentes a pessoa humana expressos em nossa constituição federal.
Com base nas pesquisas elaboradas se torna impossível vislumbrar um real interesse
do Estado na ressocialização do preso, uma vez que é de senso comum que quando se vive em
condições completamente desumanas, sem higiene, saúde, cultura e alimentação básica de
qualidade se tornando impossível conquistar a ressocialização, muitos chegam a denominar o
sistema prisional brasileiro como depósitos de seres humanos.
49

Vale salientar que a grande maioria dentro dos presídios se faz de membros da parte
mais frágil e desfavorecida da sociedade, constituída por negros e pobres, que desde muito
cedo conhecem o dessabor da falta de oportunidade e desigualdade social, resultados de uma
sociedade exclusiva e possuidora de um racismo entranhado na estrutura social.
Muitos desses indivíduos encontraram no mundo do crime uma alternativa para atingir
uma vida melhor.
Assim, podemos concluir que o Estado é responsável pela grande demanda dentro dos
presídios, uma vez que desampara os membros da sociedade desde a primeira fase de suas
vidas, lhes negando oportunidades e direitos fundamentais que garantem a dignidade da
pessoa humana, não dando a estes muitas vertentes para conquistas uma vida digna. A falta de
oportunidade, educação de qualidade, alimentação, moradia, saúde, cultura e lazer atingem
diretamente nas escolhas do ser humano dentro da sociedade.
Uma vez que o Estado não possui competência para garantir uma vida digna a todos os
membros da sociedade, fica claro que este também não manterá o necessário para aqueles que
se encontram sob sua tutela, os mantendo de forma desumana em unidades prisionais sem a
menor estrutura necessária para abriga-los, o Brasil é terceiro país com maior número de
presos no mundo, porém não possui capacidade para alojar tantos indivíduos, ocorrendo assim
a superlotação de unidades prisionais, ferindo diretamente os direitos humanos.
Imperioso salientar que devido à incompetência do Estado na manutenção do sistema
prisional é tão alarmante que centenas de presos que devido à progressão da pena deveriam
cumprir o restante da mesma em regime aberto ou semiaberto não podem gozar do direito
devido a falta de vagas nas unidades prisionais destinadas ao cumprimento desses regimes.
A prisão no Brasil atualmente além de não ser capaz de gerar a ressocialização tem a
capacidade de piorar o psicológico da maioria dos indivíduos. Pesquisas apontam que o
contato com as unidades brasileiras de prisão geram traumas graves na vida desses indivíduos,
causando estresse em níveis alarmantes, fato gerador de grande parcela das discussões dentro
dos presídios, muitas dessas levando a morte, bem como as pesquisas apontam o alto nível de
depressão dos presos, acarretando até mesmo no suicídio dentro das penitenciárias.
Uma série de medidas devem ser tomadas com teor de urgência pelo Estado, não para
que se busque somente a ressocialização, mas para que possa ser garantido a dignidade da
pessoa humana desses presos.
O Brasil atualmente mais prende do que solta, assim como medida de amenizar o
sistema prisional e desafoga-lo o Estado deveria rever os casos concretos, analisando se
50

realmente se faz necessário o envio desses indivíduos as unidades prisionais, aplicando aos
mesmos medidas alternativas de pena.
Uma vez que não se faz possível a aplicação de medidas alternativas de aplicação da
pena, o Estado deve conceder aos presos uma existência digna, sistema de baixo custo como
educação, alimentação, saúde, cultura e lazer são de extrema importância para que seja
atendida a ressocialização da pena, bem como atividades laborativas com findo de dar a estes
indivíduos uma oportunidade no mercado de trabalho quando retornarem ao âmbito social,
assim conquistando uma vida digna.
Diante ao exposto no decorrer desta pesquisa, concluo que a Ineficácia da
ressocialização no Sistema Prisional brasileiro indubitavelmente é de responsabilidade do
Estado, devido à falta de competência do mesmo para mantê-lo.
51

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