Você está na página 1de 66

UNIVERSIDADE LUEJI A'NKONDE – ULAN

FACULDADE DE DIREITO – DUNDO

A DUPLA NATUREZA JURÍDICA DO CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO


ANGOLANO

Autores:

Denísia Bernardete Txala António


Paulo Cacunhi Bembelegi

Dundo, 2023
UNIVERSIDADE LUEJI A'NKONDE – ULAN
FACULDADE DE DIREITO – DUNDO

A DUPLA NATUREZA JURÍDICA DO CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO


ANGOLANO

Monografia apresentada à Faculdade de


Direito da Universidade LuejiA´Nkonde,
como requisito parcial para a obtenção do
grau académico de Licenciados em
Direito.

Autores:
Denísia Bernardete Txala António
Paulo Cacunhi Bembelegi

Orientador: Adelino Chipema Alexandre Sozinho, Lic.

Dundo, 2023
DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho


científico aos nossos pais. Sua grande
força foi a mola propulsora que permitiu o
nosso avanço, mesmo durante os
momentos mais difíceis. Tendo-nos
servido como fonte de inspiração ao longo
da nossa formação, contribuído financeira
e emocionalmente para a concretização
dos nossos sonhos.

Vale in Pace, Professor Pedro


Calala.
In Memorian, Rosa Muleleno,
Cristina Pascoal, Upale, Luís Cacunhi.

I
AGRADECIMENTO

Agradecemos primeiramente
a Deus Todo Poderoso, que permitiu que
tudo isso acontecesse ao longo das
nossas vidas, e não somente nestes anos
como formandos, mas em todos os
momentos. É o maior mestre que alguém
pode conhecer.
Ao nosso orientador, Dr.
Adelino Chipema Alexandre Sozinho,
que conduziu o trabalho com paciência e
dedicação, sempre disponível a
compartilhar todo o seu vasto
conhecimento;
Somos gratos aos nossos
pais, por nos incentivarem e acreditarem
em nós, sobretudo na superação de
obstáculos que a vida nos impôs.
Agradecemos à classe
docente, por nos proporcionar o
conhecimento não apenas racional, mas a
manifestação do carácter e a efectividade
da educação no processo de formação
profissional, por tanto que se dedicaram a
nós, não somente por nos terem
ensinado, mas por nos terem feito
aprender.
Aos nossos familiares, amigos e
colegas, muito obrigado.

II
RESUMO

O presente trabalho aborda a problemática da natureza do


contencioso tributário angolano, uma vez que ele se apresenta em duas
perspectivas, nomeadamente, num primeiro momento apresenta-se com a
natureza administrativa e noutro momento com a natureza judicial. Assim
procuramos descrever as consequências que esta dupla natureza de
contencioso impõe na esfera do contribuinte, bem como procuramos trazer as
possíveis soluções para minimizar o impacto negativo que esta opção
legislativa pode causar aos contribuintes.

Palavras-chaves: Contencioso tributário, Natureza jurídica, Ordenamente


jurídico angolano.

III
ABSTRACT

The present work approaches the problematic of the nature of the


Angolan tax litigation, since it presents itself in two perspectives, namely, in a
first moment it presents itself with the administrative nature and another
moment with the judicial nature. Thus, we seek to describe the consequences
that this dual nature of litigation imposes on the taxpayer, as well as we seek to
bring possible solutions to minimize the negative impact that this legislative
option can cause to taxpayers.

Keywords: Tax litigation, Legal nature, Angolan legal system.

IV
ABREVIATURA

ADG – Administração Geral Tributária

al. - alínea

ampl - ampliada

art.º artigo

arts.- artigos

actual - actualizada

C. Civ. - Código Civil

CA - Constituição de Angola

CGT – Código Geral Tributário

Cfr - Confrontar

CPT – Código de Processo Tributário

LBPS – Lei de Base de Proteção Social

ed. - edição.

Ibidem – anterior

IVA – Imposto de Valor Acrescentado

IRT- Imposto de Rendimento de Trablho

no. - Número

pág. - página

segts - Seguintes

ver. - vide

vol. - volume
V
INDÍCE

DEDICATÓRIA ............................................................................................................................ I
AGRADECIMENTO ................................................................................................................... II
RESUMO .................................................................................................................................... III
ABSTRACT ................................................................................................................................ IV
ABREVIATURA........................................................................................................................... V
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 1
Objecto De Estudo ................................................................................................................ 2
Objectivo Geral ................................................................................................................... 2
Objectivos específicos ....................................................................................................... 2
Perguntas científicas: ......................................................................................................... 3
Tarefas científicas .............................................................................................................. 3
Metodologia ......................................................................................................................... 3
CAPITULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA - DIREITO TRIBUTÁRIO .......................... 4
1.1. Noção de Direito Tributário ................................................................................... 4
1.2. Imposto..................................................................................................................... 5
1.2.1. Classificação dos impostos ............................................................................... 7
1.2.2. Impostos sobre os rendimentos ....................................................................... 7
1.2.3. Impostos sobre o património............................................................................. 7
1.2.4. Imposto sobre o consumo ................................................................................. 8
1.2.5. Critério de classificação dos impostos ............................................................ 8
1.2.5.1. Segundo regime legal e económico ................................................................. 8
1.2.5.2. Segundo a frequência de pagamento, ........................................................... 8
1.2.5.3. Segundo a situação do contribuinte................................................................ 9
1.2.5.5. Segundo a entidade a que se destina o imposto ........................................ 10
1.3. Taxa ........................................................................................................................ 10
1.3.1. Pressupostos.................................................................................................... 11
1.3.2. Prestação de um serviço público ................................................................... 11
1.3.3. Utilização do domínio público ......................................................................... 11
1.3.4. Remoção de um limite jurídico ...................................................................... 12
1.4. Contribuições especiais ....................................................................................... 12
1.5. Relação Jurídica Tributária ................................................................................ 13
1.5.1. Características Essenciais ............................................................................. 14
1.6. Elementos Estruturantes ..................................................................................... 15
1.7. Sujeitos................................................................................................................... 16
1.8. Objecto ................................................................................................................... 17
1.9. Facto ...................................................................................................................... 18
1.10. Garantia ............................................................................................................. 18
CAPITULO Il: NATUREZA JURÍDICA DO CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO ANGOLANO
..................................................................................................................................................... 20
2.1. Contencioso Tributário ......................................................................................... 20
2.1.1. Fontes do Contencioso Tributário Angolano ................................................ 20
2.2. Natureza Jurídica do Contencioso Tributário Angolano ................................. 21
2.3.1. Transgressões Tributárias .............................................................................. 25
2.4. Noção de Procedimento Tributário ................................................................... 25
2.4.1. Os Sujeitos do Procedimento Tributário ....................................................... 26
2.4.2. A Administração Geral Tributária ................................................................... 26
2.4.4. Os Sujeitos Passivos ....................................................................................... 27
2.4.5. As Fases do Procedimento ............................................................................. 28
2.4.6. Início do Procedimento Tributário .................................................................. 28
2.4.6. Instrução do Procedimento Tributário ........................................................... 28
2.4.6. Decisão ou Conclusão do Procedimento Tributário .................................... 28
2.5. Noção de Processo Tributário ............................................................................ 29
2.5.1. Finalidades do Processo Tributário ............................................................... 30
2.5.2. Tipos de Processos Tributários ...................................................................... 30
2.6. Processo de Transgressão Tributária ............................................................... 31
2.6.1. Tipos de Transgressões Tributárias .............................................................. 31
2.6.2. Sujeitos do Processo de Transgressão Tributária ...................................... 32
2.6.3. Arguido ............................................................................................................... 32
2.6.4. As Fases do Processo Tributário ................................................................... 32
2.6.4.1. Iniciativa............................................................................................................. 33
2.6.4.2. Instrução ............................................................................................................ 34
2.6.4.3. Acusação e Defesa.......................................................................................... 34
2.6.4.4. Acusação no Processo Tributário ....................................................................... 35
2.6.4.5. Defesa no Processo Tributário............................................................................ 35
2.6.4.6. Decisão no Processo Tributário..................................................................... 35
2.6.4.8. Execução da Decisão no Processo Tributário ............................................ 36
2.7. Garantias do Contribuinte no Processo de Transgressão ................................ 37
2.7. Impugnação do Contencioso Tributário ............................................................ 38
2.8. Causa e Consequência da Adopção da Dupla Natureza Jurídica do
Contencioso Tributário Angolano ................................................................................... 39
CAPÍTULO III: ANÁLISE PERCENTUAL E CÁLCULOS MATEMÁTICOS,
PROCESSAMENTO DOS RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS .............................. 43
3.1. Processo de Recolha e Análise dos Resultados ............................................ 43
3.2. População e Amostra:.......................................................................................... 43
3.3. Análise e Interpretação dos Resultados ........................................................... 44
3.3.1 Caracterização dos participantes............................................................................. 44
3.3.2. Análise de Percepção de Resultados Quantitativos ................................... 45
3.3.3.1. Nível de Análise, Resultados das Questões do Inquérito ......................... 45
CONCLUSÕES ......................................................................................................................... 48
SUGESTÕES ............................................................................................................................ 50
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 51
SITES CONSULTADOS .......................................................................................................... 53
LEGISLAÇÕE ........................................................................................................................... 53
ANEXO 1 ................................................................................................................................... 54
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como foco de abordagem “A Dupla Natureza


Jurídica do Contencioso Tributário Angolano”. Augura-se, como é de práxis, fazer-se
uma reflexão voltada à natureza jurídica do contencioso tributário angolano,
expondo, de maneira crítica e sintética, a sua estrutura funcional.

A palavra Contencioso pressupõe um conflito de interesse entre duas


ou mais partes que levam à discussão da legalidade de determinados actos, ou
apuramento de responsabilidades, perante órgãos independentes e imparciais com
competências para proferir decisões tendentes à conversão em caso julgado1.

A natureza do contencioso tributário é essencialmente administrativa


fiscal ou aduaneira e jurisdicional, pressupondo que quando existir um determinado
litígio entre Administração Geral Tributária e o contribuinte que possui capacidade
passiva, seja da competência da Administração Geral Tributária ter a iniciativa
procedimental e processual tributária (art.82.º, 88.º e 203.º CGT) e aplicar as devidas
sanções ao contribuinte (art.205.º CGT). Verifica-se aqui uma natureza
administrativa fiscal ou aduaneira, quando Administração Geral Tributária tiver a
iniciativa procedimental tributária e a natureza jurisdicional, quando aplica as
sanções jurídicas, ou seja, uma pena.

Estamos em crer de que o contencioso tributário angolano deveria


adoptar uma natureza administrativa fiscal ou aduaneira, no sentido que este tenha
simplesmente a iniciativa procedimental e processual tributária (art.82.º, 88.º e 203.º
CGT), isto é, instruir os processos, deixando a natureza jurisdicional (art.205.º CGT)
aos tribunais que são órgãos independentes para administrar a justiça, de maneiras
que haja imparcialidade e separação de poderes, como forma de garantir a certeza e
segurança jurídica por parte dos contribuintes, evitando, deste modo, conflito de
interesse. Porquanto, Administração Geral Tributária aplica sanções ao contribuinte,
tendo em conta o seu interesse e nunca o interesse do contribuinte e, nessas
situações, pressupõe os conflitos de interesse das partes.

1
FERNANDES, Dinas – Contencioso Tributário do Processo nos Tribunais Tributário, Editora Coimbra, 2015, p. 135.

1
Administração Geral Tributária é parte activa da relação tributário, ao
passo que o contribuinte é parte passiva desta mesma relação (art.28.º CGT). Não é
correcto, em termos práticos, que o sujeito com capacidade activa da relação
jurídica tributária tenha a iniciativa procedimental tributária e é o mesmo sujeito
activo que vai aplicar as devidas sanções ao sujeito passivo.

Para que venha existir total independência imparcial, justiça, segurança


jurídica, de modos a evitar o conflito de interesse que a AGT tem contra o sujeito
passivo, passa necessariamente na retirada da natureza jurisdicional à
Administração Geral Tributária e passando essa natureza aos tribunais de jurisdição
comum ou na criação do Tribunal Tributário, que será um órgão independente
munido de condições para tomar as devidas decisões com base as provas
apresentadas pelas partes com interesse no caso. Assim, caberá a Administração
Geral Tributária ter simplesmente a natureza administrativa fiscal ou aduaneira.

Problema Científico

Como contribuir para o estabelecimento de um sistema de contencioso


tributário capaz de garantir a equidade entre Administração Geral Tributária e o
contribuinte, na ordem jurídica angolana?

Objecto De Estudo
O objecto de estudo para esta investigação é o Direito Fiscal
concretamente o Código Geral Tributário.

Campo de Acção

Toda e qualquer investigação têm que incidir sobre uma determinada


área, com vista a ter um estudo mais aprofundado, sendo assim, o nosso campo de
acção incide sobre a dupla natureza jurídica do contencioso tributário angolano.

Objectivo Geral
Propor um sistema de Contencioso Tributário Angolano capaz de
garantir a equidade entre Administração Geral Tributária e contribuinte.
Objectivos específicos

1. Identificar as consequências da adopção da actual natureza jurídica;


2. Determinar tipos e formas de procedimento tributário;
2
3. Propor um órgão independente para dirimir os conflitos entre AGT e
contribuinte.

Perguntas científicas:
1. Qual é fundamento da existência da natureza jurídica administrativa fiscal ou
aduaneira e judicial?
2. Qual é o fundamento da existência do contencioso tributário angolano?
3. Como garantir a equidade no contencioso tributário?
4. Quais são as garantias dos contribuintes no contencioso tributário?
5. São eficazes as garantias dos contribuintes?

Tarefas científicas
1. Determinação dos fundamentos da não existência da equidade no
contencioso tributário;
2. Estudar e analisar as causas que estão na base da adopção da natureza
jurídica administrativa fiscal ou aduaneira e judicial do contencioso tributário;
3. Adopção de mecanismos para estabelecimento de equidade no contencioso
tributário;
4. Descrição das consequências da actual natureza jurídica do contencioso
tributário angolano.

Metodologia

Quanto aos instrumentos utilizados na colecta de dados foram os


seguintes: questionário estruturado, o método dedutivo que se resumiu no facto de
que o desfecho da questão está subentendido à preferência e vai do universal ao
particular. Tivemos, também, como base de recolha de dados bibliográficos e a
prática. Estes últimos foram necessários porque por intermédio deles conseguimos
conceptualizar e definir os elementos descritos no trabalho. Recorrendo, deste
modo, a teses, livros, dissertações, artigos, sites e websites na internet para que
pudéssemos obter livros para o enriquecimento da nossa pesquisa.

3
CAPITULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA - DIREITO TRIBUTÁRIO
1.1. Noção de Direito Tributário

O Direito tributário é conjunto sistemático de normas jurídicas que tem


por objecto os tributos, sendo que, para efeitos do CGT, entendem-se por tributo
“todas as prestações patrimoniais, pecuniárias ou susceptíveis de avaliação
pecuniária, sem carácter de sanção, impostas pelo Estado ou outras entidades de
direito ou concessionárias de serviços públicos, com vista à satisfação das
necessidades colectivas e à prossecução do interesse público”2.

Saldanha Sanches e João Taborda da Gama entendem que, “ Tributos


são, em termos latus, as receitas cobradas pelo Estado ou por outros entes públicos
para satisfação das necessidades públicas, sem função sancionatória 3.”

Concordamos com as duas definições supracitadas, porque a palavra


tributo agrupa-se em três figuras distintas: os impostos, as taxas, e as contribuições
especiais.

O legislador angolano utiliza o conceito “tributo” como categoria mais


ampla para designar as receitas coactivas do Estado que não tenham fins
sancionatórias referindo as taxas (artigo 165.º, n.º 1 e alínea o), e artigo 88.º da
Constituição da República de Angola de 2010 e as contribuições especiais (artigo
165.º, n. º1 e alínea o). Na Lei do Orçamento Geral do Estado Lei n.º 9/97, de 17 de
Outubro), no n.º 2 do seu artigo 6.º, define o tributo como “A receita derivada
instituída pelo Estado compreendendo os impostos, as taxas, e contribuições (…)”. A
tripartição pode ser considerada uma questão pacífica.

Em termos tipológicos, os tributos desdobram-se em impostos, taxas e


contribuições especiais, art.º 3.º, n.º4 CGT4:

 “Os impostos são tributos com natureza unilateral, não


constitui a contrapartida de qualquer prestação individualizada do Estado e
demais ente públicos”, art.º 3.º, n.º5 CGT 5. Os contribuintes não podem exigir
ao Estado que é representado pela Administração Geral Tributária uma

2Art.º
2.º, n.º 1, alínea z) do CGT.
3
SALDANHA, Sanches e JOÃO, Taborda da Gama, Manual de Direito Fiscal Angolano, 1ª edição, Editora Wolters Kluwer
Portugal, 2010, p. 4.
4
ROCHA, Joaquim Freita, Contencioso Tributário Angolano, 1ª edição, editora EDUM, 2019, p. 5.
5
Ibidem
4
contraprestação no acto do pagamento do imposto. Simplesmente devem
tributar o imposto correspondente;
 “As taxas são tributos que constituem contraprestações
pecuniárias, exigidas por entidades públicas”, art.º 3.º, n.º7 CGT 6 . O
pagamento de uma determinada taxa, em princípio, pressupõe sempre uma
contraprestação que o sujeito vai obter ao pagar a taxa;
 As contribuições especiais assumem natureza múltipla e
podem desdobrar-se em contribuições de melhoria (as quais assentam à
obtenção pelo sujeito passivo de benefícios ou aumentos de valor dos seus
bens em resultado de obras públicas ou da criação e ampliação de serviços
públicos), contribuições de maior desgaste (que assentam no especial
desgaste de bens públicos ocasionado pelo exercício de uma actividade), art.º
3.º, n.º6 al a) e b) CGT7.

1.2. Imposto

“Imposto é uma prestação pecuniária, singular ou reiterada, que não


apresenta conexão com qualquer contraprestação retributiva específica, exigida por
uma entidade pública a uma outra entidade (sujeito passivo), utilizada exclusiva ou
principalmente para cobertura de despesas públicas8.”

Podemos definir imposto em três elementos: elemento objectivo,


elemento subjectivo e elemento teleológico ou finalista9.

Objectivamente, o imposto é uma prestação pecuniária, unilateral,


definitiva e coactiva10.

Imposto é uma prestação pecuniária, ou seja, dar dinheiro, porque o


pagamento do imposto deve incidir sobre o dinheiro, o contribuinte ao pagar o seu
imposto deve fazê-lo com dinheiro. Administração Geral Tributária não aceita o
pagamento do imposto de uma coisa diferente que não seja dinheiro11.

6
ROCHA, Joaquim Freita, Contencioso Tributário Angolano, 1ª edição, Editora EDUM, 2019, p. 6.
7
. Ibidem.
8
SALDANHA, Sanches e JOÃO, Taborda da Gama, Manual de Direito Fiscal Angolano, 1ª edição, Editora Wolter, 2010, p. 16.
9
NABAIS, José Casalta, Resumo de Direito Fiscal, 4ª edição, p. 3.
10
Ibidem.
11
V. Art. º 55. º do CGT.
5
Para Marcos Cesar Pavani Parolin, “A prestação pecuniária pressupõe
que obrigação de pagamento de tributo é de dar dinheiro, cumprida em moeda – dar
pecúnia. Entende-se por moeda o pagamento em dinheiro ou através de qualquer
outra forma que implique a transferência do numerário aos cofres públicos, como
cheque, ordem de pagamento à vista ou mesmo por meios electrónicos”12.

Imposto é uma prestação unilateral porque aos contribuintes não


podem exigir ao Estado que é representado pela Administração Geral Tributária uma
contraprestação no acto do pagamento do imposto. No entanto, devem pagar o
imposto correspondente sem receberem nada em troca.

Imposto é uma prestação definitiva, pois quando o contribuinte


efectuar o pagamento de um determinado imposto e verificar-se que o sujeito
passivo pagou um montante a mais que deveria, o sujeito fica isento de exigir
reembolso dos mesmos montantes. O que sucede em situações equivalentes é a
geração de uma dívida da qual o contribuinte torna-se credor porque tem um crédito
junto à AGT e este, por sua vez, torna-se devedor. Na eventualidade de o
contribuinte querer pagar um determinado imposto à AGT, haverá um desconto ao
montante que deve ao contribuinte para pagamento do imposto.

Imposto é uma prestação coactiva na medida em que o seu


pagamento é feito de forma obrigatório. O não pagamento de um determinado
imposto a carrecta consigo consequências jurídicas por parte da entidade
competente.

Para Marcos Cesar Pavani Parolin “O tributo é uma obrigação, uma


imposição, um encargo, um dever do sujeito passivo para com sujeito activo. Trata-
se de um vínculo abstracto de conteúdo patrimonial pelo qual alguém, o sujeito
passivo, está adstrito a dar, a fazer, não fazer ou a suportar algo em relação a
outrem, sujeito activo”13.

Subjectivamente, o imposto é uma prestação com as características


objectivas acima referidas, exigidas aos detentores (individuais ou colectivos) de
capacidade contributiva a favor de entidade que exerçam funções públicas14. No que

12
PAROLIN, Marcos Cesar Pavani, Teoria e Prática de Direito Tributário, 1ª edição, Editora Visão Jurídica e Habermam, p. 40
13
Ibidem.
14
Idem.
6
se refere a subjectivos, o imposto é cobrado de forma coerciva aos contribuintes
individuais e colectivos que tenham capacidade tributária a favor do Estado. O
Estado, por sua vez, exige aos contribuintes o pagamento do imposto
correspondente.

Teleologicamente, o imposto é exigido pelas entidades que exerçam


funções públicas para a realização ou satisfação das necessidades públicas 15 .
Administração Geral Tributária cobra os impostos aos contribuintes para satisfação
das necessidades públicas.

1.2.1. Classificação dos impostos

Na sua classificação, tradicionalmente, os impostos manifestam da


seguinte forma:

Impostos sobre os rendimentos;

Impostos sobre o património;

Imposto sobre o consumo16.

1.2.2. Impostos sobre os rendimentos

Impostos sobre os rendimentos são aqueles que incidem sobre os


rendimentos obtidos durante um determinado correspondente período a título de
contribuição para actividade produtiva (a título de salários, juros, rendas ou lucros)17.
No nosso ordenamento jurídico, são impostos sobre o rendimento, o imposto de
rendimento do trabalho, imposto de selo, imposto de contratos de compra e venda,
entre outros impostos afins.

1.2.3. Impostos sobre o património


Impostos sobre o património é aquele que incidem sobre a titularidade
ou a transmissão de valores pecuniários líquidos (valores activos), ou seja, são
aqueles que ocorrem sobre um determinado património 18 . Recaem sobre os
impostos de património, o imposto predial, imposto sobre veículos e motorizados e
entre outros impostos existentes.

15
NABAIS, José Casalta, Resumo de Direito Fiscal, 4ª edição, p. 3.
16
Ibidem, p. 63.
17
. NABAIS, José Casalta, Direito Fiscal, 5ª edição, Editora Almedina, 2009, p. 63.
18
Ibidem, p. 64.
7
1.2.4. Imposto sobre o consumo

Imposto sobre o consumo são aqueles que incidem sobre o consumo


de um determinado bem. Neste caso, estamos a falar do imposto de valor
acrescentado e entre outros impostos de consumo existente.

1.2.5. Critério de classificação dos impostos

Diversos são os critérios que têm servido de base para classificação


dos impostos. Neste caso, podemos apontar os seguintes critérios:

1.2.5.1. Segundo regime legal e económico, impostos podem serem:

Impostos directos são aqueles que atingindo manifestações imediatas


da capacidade contributiva, têm por pressuposto a própria existência uma pessoa,
do património ou do rendimento 19 . Nos impostos directos não existem a
possibilidade de custo económico do imposto ser repassado para outro sujeito que
não seja o próprio contribuinte.

Impostos indirectos são aqueles que atingindo manifestações


mediatas da capacidade contributiva20. O contribuinte é um sujeito de facto e não de
direito, porque os encargos económicos do imposto pesam sobre o património de
um terceiro elemento, como acontece com IVA.

O CGT faz corresponder os impostos directos aos impostos sobre


rendimentos nos termos do artigo 11.º, ao passo que, os impostos indirectos aos
impostos sobre o consumo nos termos do 12.º.

1.2.5.2. Segundo a frequência de pagamento, impostos podem serem:


Imposto periódico é aquele que tem por base o facto tributário um
elemento temporal que tende a manter-se e reiterar-se 21 . Existem neste tipo de
imposto carácter estável e duradouro, é o que acontece com os impostos sobre o
rendimento, relativamente ao IRT que é pago periodicamente.

Imposto de obrigação única são aqueles que o seu pagamento não é


feito de forma reiterada e estável, mas sim, verifica-se uma única vez a sua

19
NABAIS, José Casalta, Direito Fiscal, 5ª edição, Editora Almedina, 2009, p. 63
20
Ibidem
21
Idem, p. 52.
8
tributação22.

1.2.5.3. Segundo a situação do contribuinte, impostos podem serem:

Impostos reais são aqueles que se atingem em matéria colectável


objectivamente determinada, fazendo-se abstracção, portanto da concreta situação
económica, como acontece no IVA e IRT 23 . Este tipo de imposto não tem em
consideração a situação pessoal ou concreta do contribuinte, simplesmente recai
sobre a matéria colectável.

Impostos pessoais são aqueles que para sua tributação tem que ter
em conta a situação económica e social do contribuinte, isto é, são estabelecidos em
função das condições sociais do contribuinte24. As deduções dos impostos são feitas
tendo em consideração o agregado familiar e as despesas sociais como por
exemplo: educação, saúde, contribuições sociais, etc.

1.2.5.4. Segundo a forma de determinação dos impostos, impostos podem


serem:

Impostos de quota fixa são aqueles que a lei já determina qual o


montante a pagar, ou seja, o montante da colecta consta da própria lei25. Exemplo:
imposto de selo sobre os contratos, esse tipo de imposto é fixo, porque a lei
determinou qual é o montante a pagar.

Impostos de quota variável são aqueles que o montante a pagar


varia em função da matéria colectável, que podem ser impostos proporcionais,
progressivos, regressivos e degressivos.

Impostos proporcionais são os impostos de taxa fixa, os impostos


que não se alteram em função da matéria colectável. Exemplo: Imposto industrial,
este tipo de imposto, a sua taxa é fixa e não se altera.

Impostos progressivos são aqueles em que a taxa aplicável vai


aumentando à medida que se eleva o valor da matéria colectável. Exemplo: Imposto
sobre o rendimento concretamente no imposto de rendimento de trabalho por conta
de outrem, quanto for maior rendimento, maior será o imposto a paga;

22
NABAIS, José Casalta, Direito Fiscal, 5ª edição, Editora Almedina, 2009, p. 64.
23
Ibidem, p. 56
24
Idem, p.54.
25
Idem, p. 56.
9
Impostos regressivos são aqueles em que a taxa aplicável diminui à
medida que aumenta o valor da matéria colectável, isto acontece por causa das
politicas de incentivos de importação de um determinado bem, quanto maior for a
quantidade reduz-se a taxa aduaneira.

Impostos degressivos são aqueles que se caracterizam pelo facto de


a taxa descer com diminuição da matéria colectável, é o que acontece com IRT
quando a matéria colectável for menor a taxa também baixa 26.

1.2.5.5. Segundo a entidade a que se destina o imposto, os impostos podem serem:

Impostos estaduais, aquele em que o sujeito activo ou entidade a que


o imposto se destina é a Administração Directa do Estado (art.º 13.º, n. º2 CGT).

Impostos Locais, Aqueles em que a capacidade tributária activa recai


para Administração Indirecta do Estado (art.º 13.º, n. º3 CGT)

1.3. Taxa

Para além dos impostos, as entidades públicas cobram também as


taxas para a satisfação das necessidades colectivas. Taxa clássica na definição de
Alberto Xavier são receitas tributárias que têm “carácter sinalagmático, não
unilateral, o qual por seu turno deriva funcionalmente da natureza do facto
constitutivo das obrigações em que se traduzem e que consiste ou na prestação de
uma actividade pública ou, na utilização de bens do domínio público ou na remoção
de um limite jurídico à actividade dos particulares”27.

O Código Geral Tributário angolano define a taxa como sendo, “tributos


que constituam contraprestação pecuniária ou avaliável em dinheiro, exigidas por
entidades públicas, em regime de direito público, em virtude da prestação
individualizada, concreta e efectiva de um serviço público, da utilização de um bem
do domínio público ou da remoção de um limite ou obstáculo jurídico ao exercício de
uma actividade”28.

26
NABAIS, José Casalta, Direito Fiscal, 5ª edição, Editora Almedina, 2009, p. 56.
27
XAVIER, Alberto, Manual de Direito Fiscal, 1ª edição, Editora Lisboa, 1981, p. 42.
28
Art. º 3. º, n. º 7 do CGT.
10
Na definição de taxa podemos distinguir um aspecto estrutural (a
bilateralidade ou sinalagmaticidade) e, em consequência, os pressupostos para sua
cobrança.

A sinalagmaticidade só poderá ter lugar quando se trate de qualquer


bem que seja divisível, ou seja, que possa ser prestado em qualquer unidade
individualizada. Não basta que a receita obtida por meio da taxa seja usada na
cobertura de despesas respeitantes ao mesmo grupo de habitantes. Terá de haver
uma mais estreita correlação entre o destinatário do encargo financeiro e
beneficiário da despesa pública para que possamos estar perante uma taxa.

1.3.1. Pressupostos

Os pressupostos para criação de taxa correspondem a um conjunto de


circunstância recortada pela doutrina e pelo legislador que podem estar incluídas na
decisão normativa (em sentido material) que crie cada taxa ou conjunto de taxa.

1.3.2. Prestação de um serviço público

Uma das situações apontadas para cobrança de taxa é a prestação de


um serviço público de um modo individual a um determinado sujeito passivo singular
ou colectivo. Em virtude da constatação em relação a certos serviços, pode haver
uma quantificação do custo da sua prestação individualizável e que essa prestação
cria um benefício. Há serviços públicos, no caso, das actividades notariais e
registais, no caso da educação e da justiça ou mera passagem de uma certidão. Por
exemplo, para que uma sociedade comercial seja constituída e passa desenvolver a
sua actividade em Angola, deverá ser paga as correspondentes taxas notariais e
registais29.

1.3.3. Utilização do domínio público

Nesta categoria integram-se quantias cobradas pela utilização de (ou


acesso a) bens tão diversos como uma ponte, uma entrada, uma garagem, um
monumento ou subsolo. Em todos os casos, será desejável que se analise a
utilização benéfica pretendida pelo particular e os custos que essa utilização pode

29
NABAIS, José Casalta, O Dever Fundamental de Pagar Impostos, Contributo para a Compressão Constitucional do Estado
Fiscal Contemporâneo, Editora Coimbra, 1998, p. 260.
11
implicar para o ente público directamente (através de um maior desgaste do bem
provocado por essa utilização privada)30.

1.3.4. Remoção de um limite jurídico

A remoção de um limite jurídico é sujeita a justificações tradicionais


para a cobrança de taxa. No ordenamento jurídico angolano encontramos uma série
de taxas de licença com expressão muito significativa para as empresas,
nomeadamente para investidores estrangeiros31.

1.4. Contribuições especiais

Para Sousa Franco, as contribuições especiais são aquelas que visam


satisfazer uma necessidade específica32.

Em nosso entender, as contribuições especiais são receitas


consignadas à satisfação de fins concretos por oposição aos fins gerais do Estado.
A estas receitas falta a generalidade de afectação como característica do imposto e
são afectas a fins especiais prosseguidos por entidades autónomas (exemplo:
Instituto Nacional de Segurança Nacional).

O Código Geral Tributário angolano determina duas modalidades de


contribuições especiais:

a) “As contribuições de melhoria e de maior desgaste que


assentem, respectivamente, na obtenção pelo sujeito passivo de benefícios
ou aumento de valores dos seus bens em resultados de obras públicas ou de
criação e ampliação de serviços públicos ou no especial desgaste de bens
públicos ocasionado pelo exercício de uma actividade”33.
b) “As contribuições financeiras constituídas por prestações
pecuniárias e coactivas de natureza parafiscal exigida por uma entidade
pública, para compensação de prestações provocadas ou aproveitadas por
determinado grupo e, presumivelmente, provocadas ou aproveitadas por um
sujeito passivo que nele se integre”34.

30
SALDANHA, Sanches e JOÃO, Taborda da Gama, Manual de Direito Fiscal Angolano, 1ª edição, Editora Wolters Kluwer
Portugal, 2010, p. 34.
31
Ibidem, p. 36.
32
FRANCO, Sousa, Finanças Públicas e Direito Financeiro, 2ª edição, Editora Coimbra, 1992, p. 73.
33
Art. º 3. º, n. º 6, al a) do CGT.
34
Art. º 3. º, n. º 6, al b) do CGT.
12
A primeira modalidade de contribuições especiais tem que ver com as
Taxas de Circulação e Fiscalização. Esta contribuição é devida pelos proprietários
dos veículos automóveis e motociclos. Existem diversos tipos de selos cujo valor é
fixado anualmente pelo Ministério das Finanças. Este valor tem em conta o tipo de
veículos e, consequentemente, o desgaste que provocam nas vias, razão pela qual
existem selos de circulação de veículos ligeiros, veículos pesados e motociclos.

A segunda modalidade de contribuições especiais tem a ver com as


contribuições para Segurança Social.

As contribuições para Segurança Social são obrigatórias e incidem


sobre os rendimentos do trabalho e que se destina a financiar o sistema de
segurança social.

A Lei de Base de Protecção Social (Lei n.º 7/04 de 15 de outubro)


prevê três níveis de protecção, dos quais passamos a citar:

a) Protecção social de base;


b) Protecção social obrigatória;
c) Protecção social complementar.

A primeira tem que ver com objectivos de solidariedade social, sendo


financiado pelos impostos e abrangem todos os que se encontrem em situações de
falta ou diminuição de meios de subsistência35.

A segunda é obrigatória e de carácter contributiva, abrangem todos


trabalhadores por conta própria e por conta de outrem36.

A terceira é facultativa assenta na lógica de reforçar a cobertura


fornecida no âmbito dos regimes integrados na protecção social obrigatória 37.

1.5. Relação Jurídica Tributária


Relação jurídica tributária é vínculo existente entre contribuinte individual
ou colectivo com Administração Geral Tributária. O vínculo existente entre sujeito
passivo e sujeito activo manifesta-se através do facto tributário. O facto tributário em

35
Artigo 4.º da LBPS
36
Artigo 10.º da LBPS
37
Artigo 27.º da LBPS
13
termos sucinto é a origem da tributação, ou seja, a incidência de um determinado
tributo.

A relação jurídica tributária constitui-se ou tem a sua génese com a


verificação dos factos que definem a incidência do respectivo tributo a pagar na
Administração Geral Tributária38.

1.5.1. Características Essenciais

Em termos teóricos, podemos afirmar-se que a relação jurídica


tributária é um nexo de natureza jurídica que se estabelece entre o credor de um
tributo, grande parte das vezes o Estado e um devedor, genericamente designado
por contribuinte39.

Trata-se de uma relação jurídica de natureza obrigacional, com eficácia


inter partes, na medida em que as posições jurídicas das partes em causa apenas
podem ser oponíveis entre os sujeitos que integram a própria relação sem qualquer
possibilidade de projecção de efeitos erga omnes. Significa isto que o credor
tributário, em princípio, apenas pode exigir àquele contribuinte o cumprimento das
prestações que integram aquela relação jurídica (v.g., o pagamento do tributo),
apenas em relação a ele, podendo opor os seus direitos de credor.

A principal e a mais visível consequência da consideração do interesse


público como o fim único que subjaz ao nascimento e estabelecimento de uma
relação jurídica tributária é a caracterização desta como uma relação de natureza
pública, subordinada aos princípios e regras de Direito público e no âmbito do qual
um dos sujeitos actua munido de Ius imperii40.

Características:

 O carácter ex lege (legal) da relação tributária, o que significa que esta


é criada pelo Direito e que necessita da norma jurídica para se constituir e
desenvolver41. A relação jurídica tributária é carácter público, porque existem
normas do Direito Público que regula a mesma relação, neste caso, estamos
a falar de Código Geral Tributário, Código do Processo Tributário e Código de

38
Art.º 24.º do CGT.
39
ROCHA, Joaquim Freita, Contencioso Tributário Angolano, 1ª edição, Editora EDUM, 2019, p. 6.
40
Ibidem.
41
Idem.
14
Execução Fiscal (todos esses códigos enumerados aqui integram no ramo do
Direito Público)
 A indisponibilidade dos direitos que integram essa mesma
relação são intransmissíveis inter-vivos (isto é, a Administração Geral
Tributária e os contribuintes não podem fazer acordos com a finalidade de os
transferir ou alienar a terceiros)42. Existindo uma relação jurídica tributária em
que configura o contribuinte como devedor e AGT como credor. Podem estes
transferir essa relação para os terceiros através da assunção, sub-rogação ou
alienar a mesma.
 A irrenunciabilidade desses direitos implica que o sujeito
activo não pode abdicar do cumprimento das várias prestações ou recusá-las,
proibindo-se especificamente às reduções do montante da dívida e aos
perdões fiscais por via administrativa, bem como as dilações de prazos ou
moratórias43. Administração Geral Tributária não pode recusar ou abdicar dos
direitos que lhe confere, mormente à prestação do imposto e entre outros ou
reduzir a dívida sem causa justificativa e conceder perdões fiscais.
 Privilégio de execução prévia dos actos administrativos
que, em princípio, gozam de uma presunção de legalidade e podem, do
mesmo modo, produzir de imediato os seus efeitos. Administração Geral
Tributária pode, dentro dos limites da lei, executar o cumprimento de um
determinado crédito tributário sem antes ter uma prévia autorização do
Tribunal para o efeito porque goza de privilégio de execução prévia.

1.6. Elementos Estruturantes

Elementos estruturantes são os componentes que fazem parte de uma


terminada relação jurídica.

Apesar disso, a relação jurídica tributária também está composto pelos


seus componentes que suportam essa relação jurídica tributária. Os elementos
estruturantes são quatro: sujeito, objecto, facto e garantia44.

42
Art.º 44.º CGT.
43
Art.º 61.º CGT.
44
SILVA, Carlos Alberto B. Burity, Teoria Geral do Direito Civil, 2ª edição, Editora FDUAN, 2014, p. 216.
15
1.7. Sujeitos

O conceito que está nesta matéria é o de personalidade tributária, o


qual consiste na susceptibilidade de ser sujeito de relações jurídicas tributárias (art.
º28.º do CGT). É um conceito muito abrangente, nele se integram diversos tipos de
pessoas (consoante os tributos em questão), como pessoas singulares, pessoas
colectivas, pessoas nacionais, pessoas estrangeiras, pessoas residentes, pessoas
não residentes, pessoas maiores, pessoas menores, etc.

Distinção do sujeito activo do sujeito passivo:

O sujeito activo da relação jurídica tributária é a entidade que ao abrigo


de normas do Direito Público seja titular do direito de exigir o cumprimento da
obrigação tributária a que o sujeito passivo está adstrito45.

De outra sorte, o sujeito passivo são as pessoas singulares ou


colectivas, as sociedades irregulares, os sócios das sociedades civis não
constituídas sob a forma comercial e os membros dos patrimónios autónomos,
incluindo a herança indivisa e a herança jacente ou das organizações de facto, bem
como outras entidades que está adstrita ao cumprimento das obrigações tributárias
(principal e acessórias) 46 . Posto que em termos amplos se possa utilizar a
denominação de “devedor” talvez seja preferível evitá-la, atendendo a natureza não
pecuniária de algumas das prestações concretas (por exemplo, entrega de
declarações ou emissão de uma factura).

Por consequência, existem algumas figuras que podem ser


confundidas com sujeito passivo. Importa identificar todo um conjunto de outras
pessoas inerentes a referida relação pessoal e directa, com o facto tributário vão,
ainda assim, por motivos diversos, serem chamadas ao cumprimento de obrigações
tributárias. Neste subgrupo, há três categorias importantes a distinguir:

Os substitutos tributários, naquelas situações em que por imposição


legal, o tributo “é exigido à pessoa diversa do contribuinte efectivo”, normalmente por
via da retenção na fonte47.

45
Art. º 28. º, n. º2 CGT.
46
Art. º 28. º, n. º4 CGT.
47
Art. º 45. º CGT.
16
Os sucessores tributários, nos casos de morte do sujeito passivo
directo, sendo chamado o sucessor mortis causa para pagamento das dívidas do
sujeito passivo (a partir das forças da herança)48.

Os responsáveis tributários, quando um terceiro responde (sempre


com base na lei e a título subsidiário) pelas dívidas de um contribuinte faltoso
(devedor originário)49.

1.8. Objecto
Objecto é o «quid» sobre o qual incidem os poderes do seu titular
activo, de modo que a satisfação do interesse corresponde ao aspecto funcional do
direito, exige a subordinação de um bem ao poder do titular do direito. Esse bem que
constitui o ponto de incidência do direito.
São objecto da relação tributária:
 Crédito e a dívida tributária, crédito tributário são direito subjectivo público de o
credor tributário exigir do devedor o cumprimento das obrigações tributárias,
contanto que dívida tributária compreende o conjunto de prestações tributárias,
incluindo acréscimos legais a que o sujeito ou outro responsável tributário se
encontre adstrito a efectuar a favor do Estado no âmbito de uma relação jurídica
tributária;
 Juros compensatórios, os juros contados dia-a-dia que visam compensar o
Estado pelos atrasos na liquidação de imposto por facto imputáveis ao
contribuinte50;
 Juros indemnizatórios, os juros contados dia-a-dia que visam compensar o
contribuinte por erro de liquidação imputável à Administração Tributária do
qual resulte pagamento de dívida tributária em momento superior ao
legalmente devido51;
 Juros de mora, os juros devidos pelo atraso no pagamento do imposto ou
outros encargos tributários52;
O objecto de qualquer relação jurídica pode ser perspectivado em dois
sentidos diferentes, como se pode ver:

48
Artigos 42. º e 43. º CGT.
49
Artigos º 47. º e ss CGT.
50
Artigo 51. º CGT
51 Artigo 53. º CGT
52 Artigo 52. º CGT
17
O objecto imediato que é constituído pelo conjunto de direitos e
vinculações que integram a relação jurídica. Não obstante, entende-se por objecto
imediato o comportamento do próprio credor, isto é, a prestação, o acto de entrega
da coisa.

Entende-se, também, por objecto mediato, a coisa ou o quid (a


quantia em dinheiro que se deve pagar, o documento que se deve entregar, etc.) —
sobre o qual incidem esses direitos e vinculações.

1.9. Facto

Facto é todo acontecimento humano ou acto natural juridicamente


relevante53.

Concernente ao facto da relação jurídica tributária deve distinguir-se


aquela realidade ou circunstância que está na base do seu nascimento ou
surgimento para o mundo do Direito (facto constitutivo) e aquela que está na base
do seu desaparecimento ou extinção (facto extintivo)54.

O facto constitutivo da relação tributária é um facto complexo cuja


ocorrência faz desencadear o nascimento desta, ou seja, faz nascer uma relação
jurídica tributária e consequentemente um crédito tributário ou dívida tributária.

O facto extintivo da relação tributária será aquela ocorrência que terá


como principal efeito jurídico a extinção das obrigações tributárias que integram a
relação jurídica tributária.

1.10. Garantia

Garantia é o conjunto de providências coercivas posto à disposição do


titular activo de uma relação jurídica para obter a satisfação do seu direito lesado por
sujeito que lesou ou ameaça lesar do seu direito55.

A garantia da relação jurídica tributária engloba os meios que


asseguram o direito do credor e que permitem a efectivação da cobrança. Trata-se

53
SILVA, Carlos Alberto B. Burity, Teoria Geral do Direito Civil, 2ª edição, Editora FDUAN, 2014, p. 238.
54
ROCHA, Joaquim Freita, Contencioso Tributário Angolano, 1ª edição, Editora EDUM, 2019, p. 14.
55
SILVA, Carlos Alberto B. Burity, Teoria Geral do Direito Civil, 2ª edição, Editora FDUAN, 2014, p. 242.
18
de assegurar que em caso de incumprimento o sujeito activo não veja defraudadas
as suas expectativas relativas à percepção da quantia tributária56.

Apraz-nos diferenciar a garantia geral e as garantias especiais, a


primeira significando todo o património do devedor e as segundas abrangendo quer
outros patrimónios que se juntam àquele em caso de insuficiência, quer outros bens
ou conjuntos de bens determinados.

Nas hipóteses em que o património insuficiente do devedor principal se


junta o património de outra pessoa ou entidade (por exemplo, o património do
administrador ou gerente de uma sociedade acrescido ao património esta última)
reserva-se a designação como se viu de responsável tributário, encontrando-se aqui
um cruzamento dogmático entre as dimensões do sujeito e da garantia da relação
jurídica tributária57.

56
ROCHA, Joaquim Freita, Contencioso Tributário Angolano, 1ª edição, Editora EDUM, 2019, p. 16.
57
Arts.º 64.º, n.º1, al c) CGT
19
CAPITULO Il: NATUREZA JURÍDICA DO CONTENCIOSO TRIBUTÁRIO ANGOLANO
2.1. Contencioso Tributário

A palavra Contencioso pressupõe um conflito de interesses, entre duas


ou mais partes que leva à discussão da legalidade de determinados actos tributários,
ou para apuramento de responsabilidades perante órgãos independentes e
imparciais com competência para proferirem decisões tendentes a converter-se em
caso julgado58.

A expressão contencioso refere-se ao conjunto de instrumentos, meios,


procedimentos e processos que permitam a aplicação das normas tributárias ao
caso em concreto, tendo por referência a um determinado sujeito tributário (pessoa
singular ou sociedade)59.

Neste âmbito, é possível identificar-se Direito tributário processual


como sendo o conjunto de normas jurídicas que regulam a aplicação tributária ao
caso em concreto, envolvendo quer a aplicação por parte da Administração
Tributária para a qual se reserva a designação de procedimento, quer a aplicação
por parte dos órgãos jurisdicionais ou tribunais para os quais se reserva a
designação de processo60.

2.1.1. Fontes do Contencioso Tributário Angolano

As fontes do contencioso tributário angolano ou do Direito tributário


processual angolano, de um modo genérico e aproximativo são as seguintes:

 As normas constitucionais que disciplinam a criação e


aplicação dos tributos e a actividade administrativa e jurisdicional (Os
impostos são criados por lei, é da competência da Assembleia da República
que determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos
contribuintes)61;
 O Código geral tributário;
 O Código do processo tributário;
 O Código das execuções fiscais;

58
CAETANO, Marcelo, Dicionário de Conceitos e Princípios jurídicos –Direito Constitucional, 2ª edição,1979, p. 392.
59
ROCHA, Joaquim Freita, Contencioso Tributário Angolano, 1ª edição, Editora EDUM, 2019, p. 17.
60
Ibidem.
61
Art. º 102. º, n. º1 CRA.
20
 As normas de Direito internacional;
 As normas regulamentares provenientes em matéria
tributária pelas entidades não legislativas no uso de poderes de Direito
Público e sempre subordinadas à lei prévia.

2.2. Natureza Jurídica do Contencioso Tributário Angolano

Tal como já o dissemos anteriormente, a natureza do contencioso


tributário angolano é essencialmente administrativa fiscal ou aduaneira e
jurisdicional, pressupondo que quando existir um determinado litígio entre
Administração Geral Tributária e o contribuinte que possui capacidade passiva, seja
da competência da Administração Geral Tributária ter a iniciativa procedimental e
processual tributária (art.82.º, 88.º e 203.º CGT) e aplicar as devidas sanções ao
contribuinte (art.205.º CGT). Verifica-se aqui uma natureza administrativa fiscal ou
aduaneira quando Administração Geral Tributária tiver a iniciativa procedimental e
processual tributária e a natureza jurisdicional, quando aplica as sanções jurídicas,
ou seja, uma pena.

Temos a ciência de que o legislador angolano atribui determinados


poderes à Administração Geral Tribunal com base aos argumentos supra, sendo
esta figura a parte activa da relação jurídico-tributário e um determinado leque de
poder restrito ao contribuinte que figura como sujeito passivo.

Portanto, a natureza jurídica do contencioso tributário angolano é


bipolar, ou seja, é dupla, por inerência de a Administração Geral Tributária possuir a
iniciativa procedimental e processual e excepcionalmente esse poder emergir do
contribuinte nos termos do artigo 82.º e 203.º CGT. No entanto, estes factos
procedimental e processual constituem uma natureza administrativa. É natureza
administrativa porque no decorrer do próprio processo da Administração Geral
Tributária vai praticar actos meramente administrativos.

Entende-se por actos administrativos como sendo toda manifestação


de vontade expedida no exercício da função administrativa, com carácter infra legal,
consistente na emissão de comando complementar a lei, com finalidade de produzir
efeitos jurídicos 62. Compreende-se, igualmente, por processo como sequência de
actos destinados à justa composição, por um órgão de autoridade imparcial (o
62
MAZZA, Alexandre, Manual de Direito Administrativo, Editora Saraiva, 6 edição, 2015, p. 253.
21
tribunal), de um conflito de interesse ou litígio 63. Para tal efeito, Grandão Ramos
entende que “Processo é um conjunto de actos, estreitamente dependentes uns dos
outros, que se ordenam e encadeiam de uma forma dinâmica com vista à realização
do determinado fim”64.

Os actos que Administração Geral Tributária pratica são actos com


uma natureza administrativa e que os mesmos consubstanciam em um determinado
processo. Assim, é necessário que os mesmos estejam previstos na lei para sua
materialização no determinado caso concreto.

A outra natureza que levantamos é a natureza jurisdicional,


compreendemos que Administração Geral Tributária possui também a natureza
judicial, pelo facto de decidir sobre um determinado processo que é instruído pela
mesma entidade. Deste modo, a natureza judicial consiste no poder jurisdicional.

Na visão de Ana Prata, o “poder jurisdicional é o poder de julgar, de


proferir uma decisão acerca de um litígio submetido pelas partes à apreciação do
órgão de jurisdição”65.

Contudo, Administração Geral Tributária instrui o processo e, no


entanto, submete-o a si própria para a sua apreciação, ou seja, para decidir a parte
do processo do qual é interessada. Dito isto, a outra parte, neste caso, o contribuinte
(sujeito passivo) fica numa posição não privilegiada, porque quem vai instruir o
processo é outra parte, no caso, a Administração Geral Tributária (sujeito activo).
Vê-se que a maioria das decisões que Administração Geral Tributária poder tomar é
para o seu próprio interesse. Isso convém por muitas vezes, porquanto ela é a
detentora da iniciativa procedimental ou processual. Por consequência, o objectivo
desta iniciativa é aplicação das multas que, no entanto, possam claramente
salvaguardar os seus próprios interesses em detrimento ao contribuinte.

Ana Prata entende que o poder é o elemento do direito subjectivo: são


as disponibilidades de meios conferidos ao titular daquele para alcançar o fim que a
ordem jurídica protege com a atribuição do direito66.

63
PRATA, Ana, Dicionario Jurídico, Editora Almedina, 5 edição, 2006, p.1131.
64
RAMOS, Vasco António Grandão, Direito Processual Penal, Noções Fundamentais, Editora Escola Editoras, 2012, p. 157.
65
PRATA, Ana, Dicionario Jurídico, Editora Almedina, 5 edição, 2006, página 1074.
66
Ibidem.
22
A relação estabelecida entre Administração Geral Tributária e o
contribuinte é de total desequilíbro, uma vez que se trata de uma relação legal de
caráter vertical, na qual o contribuinte se encontra num plano de subordinação e a
Administração Geral Tributária num plano superior por estar munida de ius imperi, ou
seja, detém o poder de autoridade pública que acarreta o privilégio de execução,
podendo, assim, autoexecutar as suas decisões sem a intervenção directa e
imediata dos órgãos judicias.

Para se alcançar um sistema tributário capaz de garantir a equidade


entre a Administração Geral Tributária e o contribuinte, na ordem jurídica angolana,
é necessário que o poder jurisdicional seja transferido para os tribunais de jurisdição
comuns, concretamente na Sala de Contencioso Administrativo, Fiscal e Aduaneiro
porque, em nosso entender, os tribunais comuns são órgãos autónomos sem
nenhum interesse na relação em que figura Administração Geral Tributária como
sujeito activo e o contribuinte como sujeito passivo. O Tribunal claramente ao decidir
sobre um litígio entre Administração Geral Tributária e o contribuinte, não vai velar
pelo seu próprio interesse, mas sim, pelo interesse das partes e com base nas
provas apresentadas pelas mesmas. Como se pode constatar no que a Ana Prata
defende “poder jurisdicional é o poder de julgar, de proferir uma decisão acerca de
um litígio submetido pelas partes à apreciação do órgão de jurisdição”67.

É necessário também o estabelecimento de um sistema de contencioso


tributário capaz de garantir a equidade entre Administração Geral Tributária, no
ordenamento jurídico angolano, a implementação jurisdicionalização das penas
fiscais.

Jurisdicionalização das penas fiscais é destinado a dirimir os conflitos


em matéria de tributação. Entretanto, apresenta-se como inseparável das soluções
que se têm atribuído aos Estados de Direitos. E resulta da própria teoria de
separação de poderes do Estado, formulada pelo Mostesquieu, por inspiração
britânica. Em obediência a estas exigências, o contencioso tributário tem que ter a
natureza administrativa e a natureza jurisdicional é atribuída aos tribunais para
dirimir os conflitos por via jurisdicional68.

67
PRATA, Ana, Dicionario Jurídico, Editora Almedina, 5 edição, 2006, página 1074.
68
MARTÍNEZ, Soares, Direito Fiscal, Editora Almedina e Coimbra, 2000, p. 404.
23
Jurisdicionalização das penas fiscais, de harmonia com princípio <nulla
poena sine indício> também as penas fiscais deverão ser aplicadas, exclusivamente,
por via judicial. Com efeito, aquele princípio implica independência, garantia de
imparcialidade na aplicação das penas; assim como certa forma de processo, que
permita uma correcta e precisa acusação, a qual o arguido disponha de meios
adequados de defesa. Tal exigência encontra actualmente projecção no texto do
art.11.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem, que presume inocente toda
a pessoa acusada de um acto delituoso, até que a sua culpabilidade fique
legalmente provada no decurso de um processo público, em que todas as garantias
necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. Nesta base, dificilmente se poderá
admitir que as penas fiscais sejam aplicadas por Chefe da Repartição Fiscal; pois a
este, pela natureza das suas funções, não pode exigir-se independência e
imparcialidade. Não são independentes porque funcionários hierarquizados,
subordinados aos seus superiores, às respectivas ordens e instrução. Também não
são imparciais, porque lhes cabe acautelar os interesses fiscais do Estado, na luta
que este tem de travar quotidianamente com os contribuintes remissos e
fraudulentos.

A transferência do poder jurisdicional a um órgão autônomo, parece-


nos oferecer todas as garantias de imparcialidade e independência, neste caso, o
órgão para o efeito seria os tribunais de jurisdição comuns, concretamente nos
tribunais da Comarca, na Sala de Contencioso Administrativo, Fiscal e Aduaneiro69,
esse tribunal parece perfeitamente conciliável com a independência e a
imparcialidade dos juízes.

2.3. As Infracções Tributárias

No nosso ordenamento jurídico, não existe um regime autônomo das


infracções tributarias, vem regulados no Código Geral Tributário e na legislação
específica que institui determinado tributo. O artigo 144.º do CGT conceitua as
infracções tributárias como sendo todo o acto típico, ilicíto, e culposo descrito e
declarado punível por acto acto normativo anterior à sua prática.

Vamos analisar o preceito normativo.

69
Art. 43.º, n.º 1, al (f LOSOFTJC
24
a) Acto Típico

As infracções tributárias obedecem o princípio da tapicidade, é


necessário que haja uma lei anterior à prática de determinado acto que o considere
censurável à luz do Direito, pois, não é Administração Geral Tributária que decide
que comportamento, seja activo ou omissivo, do contribuinte vai corresponder a uma
infracção tributária. É fundamental que a lei o declare expressamente como tal, em
obediência ao princípio da legalidade fiscal70.

b) Ilícito

Um acto ou comportamento é ilícito quando a lei o declare como tal71.


Assim, todo o comportamento que anda em sentido contrário à prescrição legal é
considerado ilícito.

c) Culposa e Negligente

A penalização dos contribuintes incumpridores de disposição legal, é


fundamental que se tenha em atenção a culpabilidade, pois só é conduta culposa
quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou deligência ordinária,
ou especial, a que está obrigado perante as circusntâncias, não prevê o resultado
que podia prever ou, prevendo-o supõe levianamente que não realizaria ou que
poderia evitá-lo72.

2.3.1. Transgressões Tributárias

Diferente dos crimes tributários, nas transgressões tributárias não há


pena de prisão, e também aqui a culpa não é condição de punibilidade, basta a
negligência. O agente infractor está sujeito unicamente a uma pena de multa quando
a prática da infracção não resulte em crime73. Isto resulta do artigo 197.º do CGT.

2.4. Noção de Procedimento Tributário

“O procedimento tributário pode ser definido como um conjunto de


actos, provenientes de actores jurídico-tributários distintos, relativamente autónomos

70
DONGE, Wilson Angostinho, Apontamento do Procedimento e Processo Tributário Angolano, 1ª edição, Editora Almedina,
2022, p. 258.
71
Ibidem, p. 257.
72
Idem.
73
Idem.
25
e organizados sequencialmente, direccionados à produção de um determinado
resultado, do qual são instrumentais”.74

A partir desta noção, facilmente se pode concluir de que um


procedimento nunca pode ser constituído por um único acto, mas por vários deles e
que o acto final de uma cadeia procedimental, pois o acto administrativo ou o acto
tributário não se confunde com o procedimento propriamente dito .

O procedimento tributário está intimamente ligado ao procedimento


administrativo, todavia, distinguem-se pelo facto de o procedimento tributário versar
exclusivamente sobre matéria Fiscal e Aduaneira, e a sua disciplina vir regulada na
Legislação fiscal.

Em termos jurídicos, o procedimento é contrário do processo, valendo


aqui um critério orgânico para os distinguir: o procedimento será a forma típica de
exteriorização da vontade do poder administrativo, enquanto o processo será a
forma típica de exteriorização de vontade do poder jurisdicional. Por outras palavras,
o procedimento tributário será o conjunto de actos concretizadores exteriorizadores
da vontade dos agentes administrativo-tributários (na sua globalidade denominados
como “administração tributária”, “administração fiscal”, “fazenda pública”, “fisco”,
etc.),e o processo tributário será o conjunto de actos concretizadores e
exteriorizadores da vontade dos agentes jurisdicionais tributários (tribunais
tributários)75.

2.4.1. Os Sujeitos do Procedimento Tributário

Foi citado que no procedimento vários agentes ou sujeitos podem ter


intervenção.

2.4.2. A Administração Geral Tributária

Administração Tributária a Direcção Nacional dos Impostos, o Serviço


Nacional das Alfândegas ou entidade que as venha substituir, bem como outras
entidades que nos termos da Constituição ou da Lei exerçam competências

74ROCHA, Joaquim Freita, Contencioso Tributário Angolano, 1ª edição, Editora EDUM, 2019, p. 19.
75Ibidem.
26
administrativas relativas a impostos e a outras prestações tributárias por elas
administradas76.

Administração Geral Tributária prossegue interesse público (ao


contrário dos contribuintes), a actuação da AGT deve estar revestida de poder
protector especial que lhe permita actuar de um modo mais célere e seguro. No
quadro desse poder, podem destacar-se, a título meramente exemplificativo, as
seguintes prerrogativas:

 Os meios de actução da Administração Geral Tributária,


na prática, gozam frequentemente de um privilégio (benefício de execução
prévia), pois os meios impugnatórios interpostos pelos contribuintes não têm
efeito suspensivo (a não ser que prestem garantia adequada, ou dela esteja
exonerado)77;
 Os seus créditos gozam em determinadas circunstâncias
de privilégio ou preferência no pagamento relativamente a outras, ou seja,
AGT pode determinar o pagamento de uma determinada dívida;
 As suas certidões de dívida consideram-se título
executivo, não necessitando de recorrer ao tribunal para obter uma sentença
declaratória para executar o devedor;
 As suas dívidas podem ser cobradas através de um
processo de execução especial, distinto do aplicável às dívidas comuns
(processo de execução fiscal).

Administração Geral Tributária tem um conjunto de poderes, deixando


o contribuinte numa condição muito desfavorável, é necessário que se encontre um
ponto de equilíbrio, ou seja, a equidade entre Administração Geral Tributária e o
contribuinte, como forma de manter a relação jurídico-tributária saudável. O excesso
de poder que a AGT detém faz com que o contribuinte esteja em total desequilíbrio
em caso de um litígio.

2.4.4. Os Sujeitos Passivos

No procedimento tributário requer ainda que se considere, além da


administração, outro sujeito que intervém, neste caso, o contribuinte.

76Assim, art.º 1.º, n.º 2 do CGT


77 Art. º 66. º, n. º 2 do CGT.
27
2.4.5. As Fases do Procedimento
O procedimento tributário corresponde a uma sequência de actos
tendentes a alcançar uma decisão ou à pratica de um acto tributário, pressupondo a
existência de várias fases que se consubstanciam no seu início,a instrução, e
conclusão78.

2.4.6. Início do Procedimento Tributário


Nos termos do artigo 81.º do CGT, a inciativa do procedimento
tributário ou a intervenção no procedimento tributário já instaurado depende da
invocação pelo titular de direito ou interesse. Isto quer significar que qualquer um
dos lados da relação (activa ou passiva) detém a legitimidade para impulsionar o
inicio de um procedimento tributário, todavia, não será em todos os procedimentos
tributários previstos na lei em que o legislador admite que o lado passivo disponha
da iniciativa para impulsionar o início do procedimento tributário.

2.4.6. Instrução do Procedimento Tributário


Nesta fase do procedimento, Administração Geral Tributária lança mão
aos meios disponíveis para o apuramente da verdade material e tomada de uma
decisão que se apresenta o mais aproximadamente possível da realidade tributária
do contribuinte e que se atenda às exigência da justiça fiscal previstas no n.º1 do
artigo 4.º do CGT.

2.4.6. Decisão ou Conclusão do Procedimento Tributário


A decisão visa o encerramento do procedimento tributário, ou seja, põe
termo à fase instrutória, resultando na prática de um acto tributário. Nesta fase a
Administração Geral Tributária dá conhecer ao contribuinte ou ao seu representante
as conclusões deduzidas ao longo do procedimento tributário, que tenham resultado
ou não no apuramento adicional de tributo, fundamentando com os elementos
factuais e legais de que se serviu para tomar tal decisão, fazendo sempre referência
aos meios de defesa a que o contibuinte dispõe79.

78
DONGE, Wilson Angostinho, Apontamento do Procedimento e Processo Tributário Angolano, 1ª edição, Editora Almedina,
2022, p. 48.
79
Ibidem, p. 58
28
2.5. Noção de Processo Tributário

Processo tributário corresponde ao conjunto de meios judiciais que o


legislador põe à disposição dos contribuintes para que possam fazer valer em juízo
os seus interesses legalmente, indicando os actos a serem praticados pela as partes
processuais, bem como as formas e formalidades obrigatórias a serem observadas
na pratica destes actos80.

Processo é uma sequência de actos jurídicos destinados à justa


composição de um litígio praticado por um órgão imparcial de autoridade (o
tribunal)81.

Conforme salienta Lebre de Freitas “Todo o processo tem na sua base


um conflito de interesse e visa a sua composição. Mas esta composição não pode
fazer-se arbitrariamente. Sentença de mérito constitui um meio de tutela dos direitos
subjectivos e é realizando esta tutela que os tribunais compõem os litígios que lhes
são submetidos”82.

Em regra, a distinção entre processo e procedimento resulta


meramente de um critério orgânico: o processo será a forma típica de exteriorização
de vontade do poder jurisdicional, sendo que o procedimento será a forma típica de
exteriorização da vontade do poder administrativo (sob a forma de actos
administrativos, em regra). , Ao
longo da nossa abordagem, havemos de apresentar a existência de uma excepção
dessa regra. Nos processos de transgressões tributárias, a sua instrução até à
decisão final é da competência da Administração Geral Tributária83.

Na nossa percepção, julgamos não ser justa a excepção da regra, por


se tratar de um processo jurisdicional. Ora, seria correcto que o processo de
transgressões tributárias fosse tratado pelo poder jurisdicional, para evitar os
conflitos de interesse, a falta de equidade, a imparcialidade por parte do órgão que
vai instruir o processo e, consequentemente, vai decidir sobre o mesmo processo.

80
DONGE, Wilson Agostinho, Apontamento do Procedimento e Processo Tributário Angolano, 1ª edição, Editora Almedina,
2022, p. 169.
81
PENHA, Rui, Sumário das aulas ministradas ao IV Curso de Formação para Magistrados e
Defensores Públicos, 2012, p. 1.
82
FREITAS, Lebre, Introdução ao Processo Civil, 1ª edição, Editora Coimbra, 1996, p. 36.
83
Artigos 203.º e 205.º CGT.
29
Por isso mesmo é necessário que os processos de transgressões
tributários sejam decididos por órgão autônomo sem interesse na relação jurídico-
tributária, cabendo simplesmente a Administração Geral Tributária instruir o
processo e submeter o mesmo ao órgão independente para poder decidir de acordo
com as provas que as partes vão apresentar.

2.5.1. Finalidades do Processo Tributário

Joaquim Freita Rocha aponta duas teses da finalidade do processo


tributário: a primeira é a chamada “tese subjectivista” e a segunda “tese objectivista”.

A primeira determina os esquemas organizatórios e formais de justiça


tributária, tendo esta como finalidade essencial à protecção do interesse público
juridicamente considerado e de certos valores ou bens jurídicos valiosos, tais como
a legalidade da actuação dos agentes da Administração Geral Tributária, a justiça
tributária em sentido substantivo ou material (reconduzida à ideia de igualdade
tributária), a correcta execução da política orçamental pública, a estabilidade
financeira do Estado, entre outros;

A segunda defende a finalidade que preside à justiça tributária que é a


tutela ou protecção das posições jurídicas subjectivas dos contribuintes e outros
obrigados tributários, evitando que os seus direitos fundamentais sejam violados ou
restringidos ilegal ou inconstitucionalmente84.

2.5.2. Tipos de Processos Tributários

O Código Geral Tributário e Código de Processo Tributário trazem um


leque de tipos de processos tributário, que são:

 Processo de Infracções Tributárias (Processo de


Crimes Tributários e Processo de Transgressões Tributárias)85;
 Processo de impugnação judicial;86
 Processo de execução fiscal;
 Processo para reconhecimento de direito ou
interesse legítimo em matéria tributária87;

84
ROCHA, Joaquim Freita, Contencioso Tributário Angolano, 1ª edição, Editora EDUM, 2019, p. 68.
85
Capítulo V, secção I e II, CGT.
86
Art.º 58.º do CPT
87
Art.º 89.º do CPT.
30
 A acção condenatória à realização de prestações
materiais88;
 Processo de intimação da administração tributária à
prestação de informações89;
 Acção para autorização de acesso ao domicílio do
contribuinte e a elementos abrangidos por dever de segredo90;
 Acção cautelar.

A nossa abordagem será voltada ao Processo de Infracções


Tributárias, concrectamente o Processo de Transgressão Tributária para expormos
os problemas de conflitos de interesses, a falta de equidade e de segurança jurídica,
apresentando, deste modo, as respectivas soluções.

2.6. Processo de Transgressão Tributária

Estamos diante da transgressão tributária quando existe a violação das


Leis Tributárias por parte do contribuinte, desde que não constitua crime tributário 91.

Porém, nem toda violação das leis tributárias configura transgressão


tributária porque existem algumas violações que configuram crimes tributários.

2.6.1. Tipos de Transgressões Tributárias

Os tipos de transgressões tributárias previstos no Código Geral


Tributário são:

1. Não entrega negligente de prestação92;


2. Não entrega de documento93;
3. Falta da exibição pública de documento
comprovativo do pagamento do tributo94;
4. Responsabilidade dos peritos contabilistas e
auditores95;

88
Art.º 90.º do CPT.
89
Art.º 94.º do CPT.
90
Art. º 106. º CGT.
91
Art. º 206. º CGT.
92
Art. º 197.º CGT
93
Art. º 198. º CGT
94
Art. º 200. º CGT
95
Art. º 201.º CGT
31
5. Incumprimento de outros deveres acessórios96.

A lei é clara e determina quais são as transgressões tributárias, no


entanto não deixa qualquer evidência quanto à tipificação das transgressões
tributária.

2.6.2. Sujeitos do Processo de Transgressão Tributária

A prior debruçamo-nos sobre os sujeitos, sendo eles são as partes que


configuram uma determinada relação jurídico-tributária, cabendo a cada sujeito
ocupar a sua posição nessa relação.

2.6.3. Arguido

Ganha a qualidade de arguido o contribuinte que recair sobre ele a


suspeita, denúncia, notícia ou participação de ter cometido a transgressão
tributária97.

São arguidos, as seguintes figuras:

a) As pessoas colectivas;
b) As pessoas singulares;
c) As sociedades irregulares;

Todavia, figura de arguido é entendida no sentido abrangente porque


estamos diante de uma infracção. No Direito Tributário, ganha a qualidade de
arguido quem está diante de uma infracção, quer seja um crime tributário, quer
sejam transgressões tributárias.

2.6.4. As Fases do Processo Tributário

Afirmamos que o processo tributário consiste numa série de actos


integrados numa sequência ordenada previamente determinada, torna-se necessário
que procuremos averiguar quais as respectivas fases ou etapas.

Vamos identificar as fases do processo de transgressão tributária


determinada pela lei.

As fases do processo de transgressão tributária são:

96
Art. º 202.º CGT
97
Art. º 211.º CGT
32
Iniciativa;

Instrução;

Acusação e Defesa;

Decisão e Execução da Decisão.

2.6.4.1. Iniciativa

A iniciativa é do sujeito tributário ou qualquer obrigado tributário ou


entidade referida no artigo 17.º do CPT, a quem um acto da Administração Tributária
ofenda os direitos ou interesse legalmente protegidos, no domínio do procedimento
tributário.

Para se obter um processo de transgressão tributária, naturalmente, é


necessário o impulso procedimental, a denominada “fase da iniciativa”. Trata-se
daquele momento em que o actor do processo inicia a sua caminhada em direção à
prática de um ou mais actos conclusivos ou final que fixará de uma forma última,
determinados efeitos jurídicos. Em processo de transgressão tributária, “a iniciativa
do processo de transgressão depende do Chefe da Repartição Fiscal ou serviços
equiparados98.

A iniciativa do processo de transgressão tributária é baseada no auto


de notícia, participação e denúncia99.

Vigora no processo de transgressão tributária, o princípio do inquisitório


apresenta-se como oposto do princípio do dispositivo, sendo que, nas relação
civilistas, o impulso processual, bem como o sucesso e andamento do processo, são
matéria inseridas no poder/ direito de disposição das partes litigantes. Em matéria de
processo tributário, o poder de dispositivo está subtraído ou limitado para o sujeito
para o sujeito passivo por força do inquisitório que vem conferir à Administração
Tributária, por ser titular o titular do direito de exigir o crédito tributário, que possa
lançar ao seu poder investigativo100.

98
Art. º 203. º CGT.
99
Art. º 206. º CGT.
100
DONGE, Wilson Agostinho, Apontamento do Procedimento e Processo Tributário Angolano, 1ª edição, Editora Almedina,
2022, p. 25.
33
2.6.4.2. Instrução

Após iniciativa do processo de transgressão tributária, surge a fase


sobre a qual o Chefe da Repartição Fiscal ou do serviço equiparado, não apenas
carrear para o processo os elementos probatórios necessários, mas igualmente fixar
os interesses a valorar, em ordem a uma adequada decisão. Nesta fase, muitos
actos poderão ser praticados e de natureza muito diversa, desde a exibição de
documentos, a actos de inspecção, visitas a locais determinados, emissão de actos
consultivos como pareceres, informações, etc101.

A instrução é dispensada quando é baseada no auto de notícia, ficando


assim, por realizar reunião posterior de elemento complementar que o actuante não
tenha conseguido obter no momento do seu levantamento (artigo 207.º n.º 2, CGT) e
o prazo para conclusão da instrução é de 30 dias, nos termos do artigo 209.º do
CGT.

No âmbito da instrução vigora o princípio do contraditório, este princípio


é corolário do Estado Democrático de Direito e está intimamente ligado ao ideário de
justiça. Este princípio vaticina que sobre ninguém pode ser proferida qualquer
decisão sem que lhe seja dada a possibilidade de se pronunciar sobre os factos que
lhe sejam imputados, ou seja, se alguém é acusado de ter praticado uma infracção
tributária, antes da prolação da decisão final, importa de se chame o presumível
infractor para prestar declarações e só depois do cumprimento deste pressuposto se
pode chegar a uma decisão final102.

2.6.4.3. Acusação e Defesa

A terceira fase do processo de transgressão tributária é a fase de


acusação e defesa, é nesta fase em que o chefe da Repartição Fiscal ou do serviço
equiparado vai formular a acusação dos factos que pesa ao arguido e cabendo ao
arguido defender-se das acusações.

101
Art. º 208. º n. º 1 e 2 CGT.
102
DONGE, Wilson Agostinho, Apontamento do Procedimento e Processo Tributário Angolano, 1ª edição, Editora Almedina,
2022, p. 28.

34
2.6.4.4. Acusação no Processo Tributário

Recebido e completado o levantamento do auto de notícia, o Chefe da


Repartição Fiscal ou serviços equiparados devem sumariamente proceder à
acusação do arguido. Na eventualidade de não existir auto de notícia, a acusação é
baseada na instrução, na acusação devem constar os factos constitutivos da
transgressão indicada da norma aplicável103.

2.6.4.5. Defesa no Processo Tributário

O arguido é obrigado a deduzir a defesa dentro de 20 dias e pode


oferecer provas que possam inocentá-lo, mormente provas documentais, arrolar e
apresentar testemunhas ou oferecer outros meios de prova104. O arguido não pode
arrolar e apresentar mais 3 (três) testemunhas por cada infração e cabendo aos
Chefes da Repartição Fiscal ou serviço, equiparar e decidir se há necessidade para
inquirir as testemunhas105.

As provas devem ser apresentadas ou produzidas na Repartição Fiscal


competente ou serviços equiparados para a instrução, nos termos do artigo 213.º
CGT e se o arguido não apresentar qualquer prova. Findo o prazo, o Chefe da
Repartição Fiscal competente, deve decidir sobre a multa (artigo 214.º CGT).

Porém, a lei deve permitir que arguido possa constituir um advogado


para poder o representar e resolver as questões técnicas. Quanto à constituição ou
não do advogado, nas transgressões tributárias a lei é omissa.

2.6.4.6. Decisão no Processo Tributário

A decisão a ser proferida pela Administração Geral Tributária deve ser


observado o princípio da proporcionalidade, apela à proibição do excesso, isto é, a
uma certa ponderação quanto ao meio e o fim a atingir, obrigando a adopção de
actos adequados e necessários de aos objectivos a alcançar, não sendo admissível
medidas que produzam mais inconvenientes do que benefícios para os
contribuintes. A relação entre o Contribuinte e a Administração Geral Tributária

103
Art. º 210. º CGT.
104
Art. º 211. º CGT.
105
Art. º 212. º CGT.
35
impõe uma actuação adequada, ponderada e proporcional dos interesses em
causa106.

A decisão é veredicto da instrução que a Administração Geral


Tributária instrui, é o mesmo que vai proferir a decisão nos termos do artigo
205.ºCGT.

A decisão proferida pela Administração Geral Tributária constitui caso


julgado107, a mesma decisão constitui também um título executivo para executar o
arguido108

Não obstante ao que se referenciou acima, julgamos que a questão de


considerar o contribuinte que praticar um facto típico se configura transgressão e o
contribuinte que praticar um acto se configura crime tributário como arguido e depois
as decisões serem tomadas por órgão diferentes, para nós suscinta, muitos
problemas. Se os contribuintes violam as leis tributárias, qual é necessidade de os
crimes tributários serem decididos no órgão independente e as transgressões
tributárias as suas decisões são proferidas pelo órgão que instrui o processo.

Portanto, a natureza do contencioso tributária é bipolar, no sentido de


existir um lado da natureza administrativo que consiste em ter a iniciativa
procedimental e processual tributária, na medida em que a instrução do próprio
processo é subjacente a fases como anteriormente debruçámos. Compete a
Administração Geral Tributária, e a natureza judicial a aplicação de uma pena.

Administração Tributária deve se abster de usar de forma arbitrária a


sua posição privilegiada de autoridade pública, estando, assim, obrigado a
responder às pretensões dos contribuintes que lhe são dirigidas no âmbito do
processo tributário que lhes digam respeito, dentro dos prazos prescritos na lei,

2.6.4.8. Execução da Decisão no Processo Tributário

A execução constitui uma das subfases da tramitação processual no


processo de transgressão tributária, consiste em executar a sentença proferida pela

106
DONGE, Wilson Agostinho, Apontamento do Procedimento e Processo Tributário Angolano, 1ª edição, Editora Almedina,
2022, p. 39.
107
Art. º 2115. º CGT.
108
Art. º 216. º CGT.
36
Administração Geral Tributária. A execução da decisão é feita nos termos do Código
da Execução Tributária109.

2.7. Garantias do Contribuinte no Processo de Transgressão

Segundo Freitas Do Amaral, “são os meios criados pela ordem jurídica


com a finalidade de evitar ou sancionar as violações do direito objectivo, as ofensas
dos direitos subjectivos ou dos interesses legítimos dos particulares, ou o demérito
da acção administrativa, por parte da Administração Pública”110.

Já João Caupers define as garantias como “meios jurídicos de defesa


dos particulares contra a administração pública”111. Do mesmo modo, Pedro Kinanga
dos Santos define que as garantias “são o mecanismo intimamente ligado às
pretensões de defesa dos contribuintes, por força da sua própria natureza e da
finalidade que a lei lhe atribui, defendem os direitos subjectivos e interesses
legítimos dos contribuintes, pois actividade prosseguida pela Administração tributária
é susceptível de lesar ou ameaçar direitos e legítimos interesses”112.

As garantias dos contribuintes são um conjunto de instrumentos


jurídicos versados à defesa dos contribuintes diante da actividade da Administração
Geral Tributária com efeitos perniciosos para os contribuintes.

As garantias podem assumir duas naturezas distintas: as garantias de


natureza administrativa e a natureza jurisdicional. As garantias de natureza
administrativa são aquelas em que a resolução das questões é pedida à própria
Administração Geral Tributária, ao contrário às garantias de natureza jurídica, são
aqueles que correm tramites nos tribunais e cabendo a estes decidirem sobre os
recursos que são submetidos113.

Concernente as garantias de natureza administrativa, conforme foi


referido anteriormente no procedimento tributário, tencionamos abordar somente as
garantias de natureza jurisdicional, porque são as garantias que ainda não foram
expressos.

109
Art. º 216. º CGT.
110
AMARAL, Diogo Freitas, Curso de Direito Administrativo, Volume II, Editoras Coimbra e Almedina, 2012, p .747
111
CAUPERS, João, Introdução ao Direito Administrativo, Editora Âncora, 9.ª edição, p. 263.
112
DOS ANTOS, Pedro Kinanga, As Garantias dos Contribuintes no Ordenamento Jurídico Angolano, (dissertação de
mestrado) disponível no repositorium.sdum.uminho.pt, 2014, p. 67.
113NABAIS, José Casalta, Direito Fiscal, editora Coimbra, 7ª edição, 2015, p. 379.

37
Nesta fase, o foco está atribuído à organização e às ferramentas que a
jurisdição tributária dispõe ao alcance do contribuinte para os seus direitos.

Todas acções que visam garantir os direitos dos contribuintes violados


são interpostos na jurisdição tributária.

A jurisdição tributária compreende todas as questões de natureza fiscal


e aduaneira que forem enviadas à ordem judicial da sala do Contencioso
Administrativo, Fiscal e Aduaneiro114. Tal entendimento resulta da leitura do art.18.º
CPT e do art. 219.ºdo CRA.

Jurisdição fiscal integra a ordem jurisdicional comum, que são os


tribunais comuns, assim, fazem parte dos tribunais comuns:

 Tribunais de Comarcas que têm a sala do Contencioso


Administrativo, Fiscal e Aduaneiro115;
 Tribunal Supremo - que é a instância superior de recurso
dos litígios quando são resolvidos em primeira instância pelos Tribunais de
Comarcas116.

2.7. Impugnação do Contencioso Tributário

Vamos destacar os meios de impugnação do contencioso tributário à


disposição dos contribuintes para poderem reaver os seus direitos violados pela
Administração Geral Tributária. Neste caso, vamos destacar o meio de impugnação
do contencioso tributário:

 Impugnação das multas aplicadas em processo de


transgressão fiscal117.

Como o próprio nome indica, a impugnação das multas aplicadas em


processo de transgressão fiscal tem por fim a contestação em juízo das multas
aplicadas injustificadamente pela Administração Tributária.

Para o efeito, o meio de impugnação a ser utilizado é o recurso


ordinário e impulso processual para interpor a impugnação das multas aplicadas em

114DOS ANTOS, Pedro Kinanga, As Garantias dos Contribuintes no Ordenamento Jurídico Angolano, (dissertação de mestrado)
disponível no repositorium.sdum.uminho.pt, 2014, p. 93.
115Cfr. art. 18.º, CPT.
116Cfr. Art.21.º n.º 3, al. b), da lei 13/11 de 18 de Março, Lei Orgânica do Tribunal Supremo, art.18.º n.º 4 al. a) do CPT.

117
Art. 103.º, CPT.
38
processo de transgressão fiscal é do contribuinte, dentro do prazo de 15 dias, este
deve apresentar a certidão do despacho que aplicou a sanção e as provas
documentais que entender convenientes 118 . Ao contribuinte é permitido arrolar
testemunhas no máximo três depois disso, o tribunal vai notificar AGT para deduzir
provas contrárias e pode juntar novas provas. Finda a apresentação das provas o
tribunal pode lavrar a sentença. No caso, se o tribunal entender que há necessidade
de se produzir novas provas, deve fazê-lo realizando outra audiência de
julgamento119.

O processo de impugnação aqui referido não se confunda com a


impugnação no sentido literal da palavra em sede do processo judicial comum, em
que o réu, para se defender dos factos deduzidos pelo autor na petição inicial, os
impugna nos termos do artigo 487.º do CPC, sendo certo que, em sede do processo
tributário, o réu também pode lançar mão à impugnação enquanto meio de defesa.
No entanto, não é deste impugnação que iremos aqui tratar. O processo de judicial
apresenta-se efetivamente como um meio processual em que o autor, deparando
com um acto tributário que entende ser violador dos seus direitos ou interesse
legítimos, propõe uma acção judicial de impugnação do referido acto tributário.

Audiência de julgamento inicia-se com interrogatório das


testemunhas, seguidamente são ouvidas as partes e o Ministério Público, depois
disso o juiz deve lavrar a sentença por escrito. Deste modo são notificadas
pessoalmente às partes e ao Ministério120.

2.8. Causa e Consequência da Adopção da Dupla Natureza Jurídica do


Contencioso Tributário Angolano

Para Soares Martínez, a causa da adopção da natureza administrativa


e a jurisdicional reside ao facto de se acautelar os interesses fiscais do Estado
contra os contribuintes, pois os interesses fiscais do Estado estão acima dos
interesses dos contribuintes121.

A consequência da adopção da actual natureza jurídica do contencioso


tributário é a falta de segurança jurídica e equidade.

118
Art. 103.º, CPT
119
Art. 103.º, e 107º,CPT
120
Art. 104.º, CPT
121
MARTÍNEZ, Soares, Direito Fiscal, Editoras Almedina e Coimbra, 2000, p. 376.
39
A seguraça jurídica constitui é valore que o Direito quer garantir.

A segurança jurídica confere aos contribuintes a confiança que lhes


permite planificar a defesa dos seus interessee, conforme as normas jurídicas em
vigor122.

Segurança jurídica consiste num princípio fundamental do Direito e que


supõe um mínimo de certeza, previsibilidade e estabilidade das normas jurídicas
para que as pessoas possam ver garantias e continuidade das relações jurídicas
onde estão vinculados e calcular as consequências dos actos por elas praticados,
confiando que as decisões que incidem sobre esses actos e relações tenham os
efeitos estipulados nas normas que os regem123.

Administração Geral Tributária deve tomar as suas decisões


observando a lei e os princípios da justiça e razoabilidade, de acordo com este
princípio a Administração Geral deve tratar de forma justa todos os contribuintes e
rejeitar soluções manifestamente desproporcionais ou incompatíveis com o direito,
nomeadamente em termos de interpretação das normas e de valorização do
exercicío da função administrativa e jurisdicional, que ponham em causa os direitos
e interesses legalmente protegidos dos contribuintes124.

Equidade (do Latim aequitate), significa igualdade; imparcialidade;


justiça125.

Segundo Aristóteles, A equidade é sinónimo de justiça do caso


concreto, querendo isto significar que, na aplicação da lei, devem atender-se às
condições concreta de cada caso126.

Chama-se juízo de equidade àquele que o julgador formula para


resolver o litígio de acordo com um critéiro de justiça. Julgar segundo a equidade
significa, pois, dar a um conflito a solução que se entende ser mais justa, atendendo
apenas às características da situação127.

122
ANDRADE, Manuel, Teoria Geral da Relação Jurídica, Editora Coimbra, 1ª edição, 1994, p.147.
123
Dre.pt/dre/lexionario/termo/segurança-juridica. Consultado 14/07/2022, as 00:20.
124
DONGE, Wilson Agostinho, Apontamento do Procedimento e Processo Tributário Angolano, 1ª edição, Editora Almedina,
2022, p. 40.
125
TAVARES, António, Diconário Português, 5ª edição, Editora Plural Editoras, 2012, p. 40.
126
ISABEL, Rocha, CARLOS, José Batalhão e LUÍS, Aragão, Introdução ao Direito, Editora Porto Editora, 1ª edição, 2012, p.
46.
127
PRATA, Ana, Dicionario Jurídico, Editora Almedina, 5ª edição, 2006, p.1139.
40
A equidade tem, consequentemente, conteúdo indeterminado, variável,
de acordo com as concepções de justiça dominantes em cada sociedade e em cada
momento histórico. Independentemente da questão de saber se é fonte de fonte de
direito, ela pode constituir um critério de correção na aplicação do direito
constituído128.

Em relação as decisões proferidas pela Administração Geral, não


garante ao contribuinte uma certa segurança jurídica, na medida em que este
presume que a decisão foi proferida no estrito interesse da Administração Geral
Tributária e não no interesse das partes que figura na relação jurídico-tributário e
não há imparcialidade nesta decisão. Mas existem casos excepcionais que a
decisão proferida pela Administração Geral Tributária favorece o contribuinte.

A Igualdade pressupõe oportunidade a ambas as partes. As partes


devem ter as mesmas oportunidades e armas para a defesa dos seus interesses
legítimos. No contencioso tributário não há igualdade entre as partes, pelo facto da
relação estabelecida entre Administração Geral Tributária e o contribuinte encontra-
se em total desequilíbro, uma vez que se trata de uma relação legal de caráter
vertical, na qual o contribuinte se encontra num plano de subordinação e a
AdministraçãoGeral Tributária num plano superior por estar munida de ius imperi, ou
seja, detém o poder de autoridade pública que acarreta o privilégio de execução,
podendo, assim, autoexecutar as suas decisões sem a intervenção directa e
imediata dos órgãos judicias.

A imparcialidade pressupõe a existência de critérios de justiça e


inseção na averiguação dos factos tributários e de verdade no apuramento da
situação tributária dos contribuintes, através da utilização de critério uniformes de
modo a reforçar a confiança dos contribuintes na Administração Tributária 129. Nesta
base, dificilmente se poderá admitir que as penas fiscais sejam aplicadas por Chefe
da Repartição Fiscal; pois a este, pela natureza das suas funções, não pode exigir-
se independência e imparcialidade. Não são independentes porque funcionários
hierarquizados, subordinados aos seus superiores, às respectivas ordens e
instrução. Também não são imparciais, porque lhes cabe acautelar os interesses

128
PRATA, Ana, Dicionario Jurídico, Editora Almedina, 5ª edição, 2006, p.1139.
129
MARTINS, Jesuíno Alcantara, Contencioso Tributário, 2016, p. 11.
41
fiscais do Estado, na luta que este tem de travar quotidianamente com os
contribuintes remissos e fraudulentos130.

130
MARTÍNEZ, Soares, Direito Fiscal, Editoras Almedina e Coimbra, 2000, p. 375.
42
CAPÍTULO III: ANÁLISE PERCENTUAL E CÁLCULOS MATEMÁTICOS,
PROCESSAMENTO DOS RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS

Este capítulo faz jus à análise e interpretação dos dados baseados nas
informações colectadas. Em conformidade com os objectivos que nos propusemos a
alcançar, estamos em crer de que foi possível obter resultados de que desejávamos,
pesembora não tenha sido na íntegra. Por outro, dizer também que os métodos
aplicados durante a nossa pesquisa surtiram efeitos positivos. Isso permitiu-nos
construir abordagens sustentáveis a respeito da temática e obtermos uma
percepção ampla no que se refere à problemática. Porquanto, o procedimento ao
tratamento dos dados através do estudo que demonstra o processo de comparação
numa análise quantitativa, das questões e dos resultados é o que se segue.

3.1. Processo de Recolha e Análise dos Resultados

A fase da recolha de dados decorreu no mês de setembro de 2022, no


município do Chitato.

Para auxiliar a percepção do tema, utilizamos questionário sequencial,


seguido de perguntas fechadas, que alimentaram o levantamento de dados para a
arquitectura do presente estudo.

3.2. População e Amostra:

Na presente investigação, define-se como população o universo de


participantes. E a amostra é uma porção ou parcela, convenientemente
seleccionada do universo (população); É um subconjunto do universo. De forma
intencional seleccionámos o município do Chitato com o universo de 100 pessoas,
dentre elas 10 Técnico da AGT, 6 estudantes da Faculdade de Economia, 78
contribuintes e 6 estudantes da Faculdade de Direito que correspondem a 100%. Em
forma de amostra seleccionámos 50 pessoas. Destes, 6% estudantes da Faculdade
de Economia, 6% estudantes da Faculdade de Direito, 10% Técnicos da AGT e 78%
contribuintes.

A entrega e a recepção dos questionários foram efectuadas no prazo


razoável. Quanto ao retorno, obtivemos resultado total dos mesmos, com uma série
de questões que foram analisadas e levadas em consideração.

43
Gráfico 1- Distribuição dos questionário

100% 100%
Entrega
Retorno

O gráfico acima demonstra a entrega e retorno dos questionários por


parte dos inquiridos que possibilitaram a reflexão profunda dos objectivos propostos.

3.3. Análise e Interpretação dos Resultados


3.3.1 Caracterização dos participantes

Os inquiridos responderam as questões relacionadas as habilitações


literárias. Tendo havido respostas de 25% optando por Outras, 50% graduação, 5%
pós-graduação, finalmente 20 % Técnico Médio.

Gráfico 2 - Distribuição percentual das


habilitações literária

5%

20% 25%
Outras
Graduação
Técnico Médio
50%
Pós-graduação

Quanto ao género dos inquiridos, inferimos que 20 são femininos,


representando 40% e 30 são masculino com 60%, com idades que correspondiam
entre 25 e 60 anos.

44
Gráfico 3 - Distribuição dos
inquiridos quanto ao género

40% Homens

60% Mulher

3.3.2. Análise de Percepção de Resultados Quantitativos

Para analisamos e apurar as percepções, utilizamos análise de


resultados dos inquéritos e aplicou-se uma escala de avaliação de 5 graus, onde se
fez a descrição dos resultados, utilizando perguntas fechadas, cabendo, deste
modo, ao inquirido responder Sim ou Não.

3.3.3.1. Nível de Análise, Resultados das Questões do Inquérito

Resultado relativo à questão 1: Na qualidade de contribuinte, alguma


vez já foi aberto contra si um processo de contencioso? Relativamente à resposta
desta questão, foi-nos possível fazer inferências de que 35 inquiridos já foram alvos
de algum processo contencioso, tendo respondido Sim, resultando numa cifra de
70%, enquanto que 15 pessoas responderam que Não com 30%.

Gráfico 4 - Questão n°1

30%
Sim
Não
70%

Resultado relativo à questão 2: A decisão proferida nesse processo de


contencioso tributário foi-lhe favorável? Quanto a essa questão, podemos inferir que
dos 35 inqueridos, 30 responderam que Sim com 86% e 5 responderam que Não
com 14%.
45
Gráfico 5 - Questão n° 2

14%

Sim
Não

86%

Resultado relativo à questão 3: Considera que existem conflitos de


interesses por parte da Administração Geral Tributária em relação ao contribuinte no
contencioso tributário? Nesta questão, podemos inferir 50 inquiridos, 45
responderam que Sim com 90% e 5 responderam que Não com 10%.

Gráfico 6 - Questão n° 3
10%

Sim
Não

90%

Resultado relativo à questão 4: Como considera as decisões da


Administração Geral no âmbito de processo de contencioso tributário? Das
informações obtidas através desta questão, 10 pessoas mostraram-nos que as
decisões da AGT com relação ao processo contencioso têm sido justas com 20%,
sendo que 15 responderam que são injustas com 30% e 25 responderam que
algumas são justas, outras injustas com 50%.

46
Gráfico 7 - Questão n° 4

20%
Justas

Injustas
50%

algumas justa,
30% outras injusta

Resultado relativo à questão 5: Considera que para estabelecimento de


um sistema de contencioso tributário capaz de garantir a equidade entre
Administração Geral Tributária e o contribuinte, na ordem jurídica angolana, as
decisões devem ser proferidas por um órgão autónomo? Conseguimos inferir que 45
inquiridos responderam ao grau de Sim com 90% e 5 responderam ao grau de Não
com 10%.

Gráfico 8 - Questão n° 5

10%

Sim
Não
90%

47
CONCLUSÕES

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise


profunda sobre o sistema fiscal voltado à satisfação das necessidades financeiras do
Estado e de outras entidades públicas. Portanto, a existência do tributo implica
impostos, taxas e contribuições especiais tributárias. Esta relação de receptor e de
pagador de tributos, assenta-se na relação jurídica tributária que, tendo na sua
génese o facto tributário, como motivador de tensões, incompreensões e de
conflitualidade entre a Administração Geral Tributária e os contribuintes.

Ora, as decisões proferidas pela Administração Geral Tributária no,


âmbito do procedimento tributário e do processo tributário, não garantem ao
contribuinte a certeza jurídica, pelo facto de as decisões proferidas não
representarem imparcialidade e a independência. Portanto, é urgente a
implementação da jurisdicionalização das penas fiscais no ordenamento jurídico
angolano. Com a implementação da jurisdicionalização, vai existir a equidade entre
Administração Geral Tributária e o contribuinte, porque só assim as decisões serão
proferidas por um órgão independente e sem interesse directo na relação jurídico-
tributário.

Dessa forma, entende-se que as garantias que a lei põe à disposição


do contribuinte são ineficazes, na medida em que não são dotadas de efeitos
suspensivos, mas sim, com efeito meramente devolutivo, causando assim
constrangimento de várias ordens ao contribuinte. Tendo as garantias efeito
meramente devolutivo, o contribuinte mesmo despoletando uma das garantias
contra Administração Geral Tributária é obrigado a cumprir as decisões proferidas
pela Administração Geral Tributária. Na eventualidade de se poder confirmar que o
contribuinte tenha razão à obrigação cumprida, simplesmente gera divida tributária
porque a Administração Geral Tributária não efectua o reembolso dos valores
monetários que o contribuinte fez pagamento resultante da condenação.

Com a realização a este estudo, foi-nos possível identificar que de


facto existe conflito de interesse por parte da Administração Geral Tributária em
relação aos contribuintes, as suas decisões proferidas no âmbito do contencioso
tributário são para salvaguardar os seus próprios interesses e deixando o
48
contribuinte numa posição não favorável num determinado caso concrecto. Muitas
vezes as decisões proferidas por este órgão são injustas para o contribuinte,
portanto, para estabelecimento de um sistema de contencioso tributário capaz de
garantir a equidade entre Administração Geral Tributária e o contribuinte, na ordem
jurídica angolana, é necessário que as decisões sobre contencioso tributário sejam
proferidas por um órgão autónomo e de preferência o Tribunal da primeira instância.

Para terminar, conseguimos alcançar os objectivos traçados para o


presente estudo. Através do inquérito, foi possível provar que existe, de facto, dupla
natureza jurídica do contencioso tributário angolano. Logo, a Administração Geral
Tributária tem exercido dupla natureza jurídica, uma administrativa e a outra
jurisdicional e as consequências da actual natureza jurídica do contencioso é a falta
de garantia da certeza jurídica na relação jurídico-tributária.

49
SUGESTÕES

Considerando oportuno a abordagem desta temática intitulada “A Dupla


Natureza Jurídica do Contencioso Tributário Angolano” e a utilidade prática do
contencioso tributário angolano, apresentamos como sugestão as seguintes:

 A implementação da jurisdicionalização das penas fiscais como forma de


estabelecimento de um sistema de contencioso tributário angolano, capaz de
garantir equidade entre Administração Geral Tributário e o Contribuinte, no
ordenamento jurídico angolano;
 A especialização dos juízes neste ramo, de maneiras a darem o tratamento
específico às questões que são submetidas aos particulares e pela
Administração Geral Tributária.

50
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

AMARAL, Diogo Freitas, Curso de Direito Administrativo, Volume II,


editoras Coimbra e Almedina, 2012.

ANDRADE, Manuel, Teoria Geral da Relação Jurídica, 1ª edição,


Editora Coimbra, 1994.

BIRRIEL, Daniella Cunha, Metodologias,1991.

BRUYNE, Paulo, Dinamica da Pesquisa em Ciencias Sociais, Editora


Francisco, 2012.

CAETANO, Marcelo, Dicionário de Conceitos e Princípios jurídicos –


Direito Constitucional, 2ª edição,1979.

CACHIMBOMBO, Hermengildo, Manual dos Recursos no Direito


Processual Civil Angolano, 2 ª edição, editora Casa das Ideias, 2011.

CAUPERS, JOÃO, Introdução ao Direito Administrativo, editora Âncora,


9.ª edição.

DOS ANTOS, Pedro Kinanga, As Garantias dos Contribuintes no


Ordenamento Jurídico Angolano, (dissertação de mestrado) disponível no
repositorium.sdum.uminho.pt , 2014.

DONGE, Wilson Angostinho, Apontamento do Procedimento e


Processo Tributário Angolano, 1ª edição, Editora Almedina, 2022.

FERNANDES, Dinas – Contencioso Tributário do Processo nos


Tribunais Tributário, Editora Coimbra, 2015.

FRANCO, Sousa, Finanças Públicas e Direito Financeiro, 2ª edição,


editora Coimbra, 1992.

FREITAS, Lebre, Introdução ao Processo Civil, 1ª edição, editora


Coimbra, 1996.

ISABEL, Rocha, CARLOS, José Batalhão e LUÍS, Aragão, Introdução


ao Direito, 1ª edição, Editora Porto Editora, 2012.

MARTÍNEZ, Soares, Direito Fiscal, editoras Almedina e Coimbra, 2000.


51
MARCONI, Maria de Andrade e LACATOS, Eva Maria, fundamentos de
Metodologia Cientifica, 5ª edição, Editora Atlas

MAZZA, Alexandre, Manual de Direito Administrativo, editora Saraiva, 6


edição, 2015.

NABAIS, José Casalta, Resumo de Direito Fiscal, 4ª edição.

NABAIS, José Casalta, Direito Fiscal, 5ª edição, editora Almedina,


2009.

NABAIS, José Casalta, O Dever Fundamental de Pgar Impostos,


Contributo para a Compressão Constituicional do Estado Fiscal Comtemporâneo,
editora Coimbra, 1998.

NETO, Serena Cabrita, Introdução ao Processo Tributário, editora


Tomas, 2004.

PAROLIN, Marcos Cesar Pavani, Teoria e Prática de Direito


Tributário,1ª edição, editora Visão Jurídica e Habermam.

PRATA, Ana, Dicionario Jurídico, editora Almedina, 5 edição, 2006.

PENHA, Rui, Sumário das aulas ministradas ao IV Curso de Formação


para Magistrados eDefensores Públicos, 2012.

RAMOS, Vasco António Grandão, Direito Processual Penal, Noções


Fundamentais, editora Escola Editoras.

RIBEIRO, Nuno Miguel Cerdeira, O Controlo Jurisdicional Dos Actos da


Administração Tributária, 2012.

ROCHA, Joaquim Freita, Contencioso Tributário Angolano, 1ª edição,


editora EDUM, 2019.

SALDANHA, Sanches e JOÃO, Taborda da Gama, Manual de Direito


Fiscal Angolano, 1ª edição, editora Wolters Kluwer Portugal, 2010.

SILVA, Carlos Alberto B. Burity, Teoria Geral do Direito Civil, 2ª edição,


editora FDUAN, 2014.

XAVIER, Alberto, Manual de Direito Fiscal, 1ª edição, editora Lisboa,


1981.
52
SITES CONSULTADOS

Dre.pt/dre/lexionario/termo/segurança-juridica. Consultado 14/07/2022,


as 00:20.

Vademecumbrasil.com.br/palavra/certeza-jurídica. Consultado
14/07/2022, as 01:20.

LEGISLAÇÕE

Código Geral Tributário (Lei n.º 21/14, de 22 de Outubro)

Código do Processo Tributário (Lei n.º 22/14, de 5 de Dezembro)

Constituição da República de Angola

Lei Base de Protecção Social ((Lei n.º 7/04, de 15 de Outubro)

Lei Orgânica Sobre o Organização e Funcionamento Dos Tribunais da


Jurisdição Comum (Lei n.º 2/15, de 2 de Fevereiro).

53
ANEXO 1

UNIVERSIDADE LUEJI A'NKONDE– ULAN


FACULDADE DE DIREITO – DUNDO

O presente questionário, realizado no âmbito de uma monografia em Direito, subordinado ao


tema “ADupla Natureza Jurídica do Contencioso Tributário Angolano”, cuja pesquisa é
desenvolvida por dois estudantes finalistas do curso de Direito da FDULAN – Faculdade de
Direito da Universidade Lueji A'nkonde e tem objectivos meramente académicos.

Preencha com X os quadros que corresponderem com a sua visão em relação as perguntas
formuladas.

Dados gerais

Idade______ sexo________ estado civil_________ habilitações literárias_____


1 Na qualidade de contribuinte, alguma vez já foi aberto contra si um processo de
contencioso tributário?
Sim
Não
2 A decisão proferida nesse processo de contencioso tributário foi-lhe favorável?
Sim
Não
3 Considera que existam conflitos de interesses por parte da Administração Geral
Tributária em relação ao contribuinte no contencioso tributário?
Sim
Não
4 Como considera as decisões da Administração Geral Tributária no âmbito de
processo de contencioso tributário?
Justas

54
Injustas
Algumas justas, outras injustas
5 Considera que para estabelecimento de um sistema de contencioso tributário capaz
de garantir a equidade entre Administração Geral Tributária e o contribuinte, na
ordem jurídica angolana, as decisões devem ser proferidas por um órgão autônomo?
Sim
Não

55

Você também pode gostar