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Aluizio Lendl
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E
ENSINO
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
Conselho editorial
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
ALUIZIO LENDL
ANTÔNIO LUCIANO PONTES
(ORGANIZADORES)
TECLIN/UEPB/CNPq
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
CDD 410
Capa: Lucas de França Nário Oliveira
http://www.mentesabertas.com.br/
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ....................................................................................................................................................... 6
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
APRESENTAÇÃO
Aluizio Lendl
Antônio Luciano Pontes
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
INTRODUÇÃO
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
CRENÇAS DE PROFESSORES
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
É possível notar, portanto, o destaque dado por esse autor para o caráter
contextual, interativo e relativamente estável das crenças ao afirmar que elas são
emergentes, isto é, construídas e reconstruídas nos processos de ensino-
aprendizagem, influenciando e sendo influenciadas reciprocamente por tais
processos, uma vez que são também “vistas como social e, portanto, também
cultural e historicamente constituídas através da interação do sujeito com o
contexto” (SILVA, 2007, p. 250). No que lhe diz respeito, Barcelos (2006) aprofunda
a sua compreensão acerca dessa categoria analítica e assume uma postura
convergente com o pensamento de Silva (2007), compreendendo crenças como:
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
as crenças, sob um viés bakhtiniano, podem ser conceituadas como os diferentes modos,
axiologicamente (leia-se ideologicamente) constituídos, de se interpretar o mundo,
refletindo-o e, também, refratando-o. São, portanto, maneiras discursiva e
socioculturalmente situadas de se pensar, viver e sentir o mundo, das quais dialogicamente
nos apropriamos ao participarmos dos infinitos modos em que se dão as relações humanas.
Pelas crenças, expressamos nossas valorações ou juízos de valor, quando enunciamos
(ROCHA, 2010, p. 231-232, grifo nosso).
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
METALEXICOGRAFIA PEDAGÓGICA
O estudo do léxico pode acontecer por vários ângulos, haja vista que “no
âmbito dos estudos linguísticos, tomar o léxico como objeto de estudo linguístico,
não significa uma homogeneidade investigativa” (KRIEGER; WELKER, 2011, p. 444).
Por seu turno, as disciplinas que se encarregam desses estudos são, em especial, a
Lexicologia, a Lexicografia, a Terminologia e, acrescentamos, a Terminografia. Elas
são comumente denominadas de “ciências do léxico” (BIDERMAN, 2001, p. 15) e,
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
No cenário brasileiro, a Lexicografia [...] e a Metalexicografia [...] não são consideradas como
disciplinas na maioria dos cursos de graduação. [...] é uma tarefa que ainda precisa ser
desenvolvida, especialmente para que os professores possam realizar suas atividades
didáticas mais bem capacitados a utilizar dicionários em sala de aula.
o uso restrito a eventuais consultas para sanar dúvidas a respeito da ortografia ou de um uso
semântico em especial não basta, pois seu campo de ação e eficácia é evidente no processo
de aquisição lexical em fase escolar, tendo em vista a riqueza de informações propriamente
lexicais ofertadas, além da variedade de informações gramaticais evidenciadas em cada
verbete. (GOMES, 2007, p. 15).
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
METODOLOGIA
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
RESULTADOS
Neste tópico, expomos uma síntese das crenças sobre o dicionário escolar
infantil. Ressaltamos que essas crenças foram reveladas por meio das falas dos
próprios professores pesquisados:
QUADRO 02: Síntese das crenças de P1 e de P2
Crença Docente
O dicionário Aurélio é um bom dicionário, já que ele está presente em muitas P1
escolas.
O bom dicionário é aquele mais usado na escola desde o ciclo de alfabetização. P2
Os dicionários são diferentes, pois algumas palavras são encontradas em P1
determinados dicionários e em outros não.
Os dicionários são diferentes, uma vez que obras distintas apresentam P1
significados também diferentes de uma mesma palavra.
Os dicionários não são iguais, pois alguns possuem ilustração e outros não. P2
O dicionário é uma obra neutra porque não aborda a opinião de uma pessoa. P1
O dicionário é uma obra neutra porque não veicula ideia preconceituosa. P2
O dicionário é mais destinado a quem tem dificuldades quanto ao significado de P1
palavras.
O dicionário é destinado a quem deseja melhorar a sua escrita. P2
Um bom dicionário não se torna ultrapassado ao longo dos anos. P1
O dicionário usado por alunos de 5º ano pode auxiliá-los nas séries seguintes do P1
ensino fundamental.
O dicionário formado por palavras do cotidiano do aluno é mais adequado para P1
os anos iniciais do ensino fundamental.
Dicionários com poucas palavras são adequados para crianças que não leem com P2
frequência ou que possuem dificuldades de leitura.
Dicionários com pouca ou nenhuma ilustração provocam o desinteresse do P1
aluno.
Dicionários com ilustrações atraem a atenção da criança e despertam o interesse P2
pela leitura.
As imagens presentes no dicionário escolar infantil auxiliam o aluno no P1
entendimento dos significados das palavras.
Não existe um tipo específico de dicionário para os anos iniciais do ensino P2
fundamental, pois são utilizados os dicionários disponíveis na escola e
pertencentes ao aluno.
O dicionário auxilia o aluno quanto ao significado, ortografia das palavras e P1
produção de textos.
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
A partir desses resultados, podemos afirmar que a maioria das crenças dos
participantes de nossa pesquisa convergem com os postulados teórico-
metodológicos da Metalexicografia Pedagógica. Nessas crenças, há o
reconhecimento das diferenças estruturais dos dicionários, do uso desse material
didático para a aprendizagem da ortografia e dos significados das palavras e para o
desenvolvimento da produção textual. Além do mais, os docentes reconhecem a
importância das ilustrações como forma de motivar os estudantes a lerem e a
consultarem o dicionário escolar infantil.
No entanto, torna-se necessário destacar o pensamento de Miccoli (2010, p.
135), quando alerta que as crenças “são verdadeiras para quem nelas acredita,
embora, nem sempre todas sejam valiosas para o processo de ensino e
aprendizagem”. Dentro da perspectiva de posições valorativas que não são valiosas
para o trabalho com o dicionário em sala de aula, podemos inserir as seguintes
crenças do quadro anterior: “O bom dicionário é aquele mais usado na escola desde
o ciclo de alfabetização” (P2); "O dicionário é uma obra neutra porque não aborda a
opinião de uma pessoa” (P1); “O dicionário é uma obra neutra porque não veicula
ideia preconceituosa” (P2); “Um bom dicionário não se torna ultrapassado ao longo
dos anos” (P1); “Não existe um tipo específico de dicionário para os anos iniciais do
ensino fundamental, pois são utilizados os dicionários disponíveis na escola e
pertencentes ao aluno” (P2).
Neste sentido, as crenças supracitadas podem ser vistas como inadequadas,
uma vez que descartam a existência de obras lexicográficas específicas para as
diversas fases da escolarização básica, conforme orienta o PNLD – Dicionários, em
Brasil (2012). Além disso, desconsideram as facetas discursivo-ideológicas desse
material didático, bem como a necessidade de atualização da obra dicionarista
defronte aos novos usos linguísticos que emergem na sociedade ao longo dos anos.
Após essa breve exposição de uma parte dos resultados de nossa pesquisa,
apresentamos, a seguir, algumas considerações finais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
exposto, observamos que a maior parte das posições valorativas dos sujeitos de
nossa pesquisa converge com os postulados da Metalexicografia Pedagógica, o que
evidencia um olhar atento desses professores especialmente para aspectos que
integram a micro e a macroestrutura da obra lexicográfica. Ambos os professores
explicitaram a certeza de os dicionários serem diferentes, partindo do pressuposto
de que algumas palavras e ilustrações são encontradas em determinadas obras e em
outras não, havendo ainda a abordagem de significados diferentes de uma mesma
unidade lexical nos dicionários.
Outro dado relevante foi a forma como os docentes encaram a natureza
multimodal desse material. P1 e P2 apontaram a importância da ilustração para
despertar o interesse dos discentes pela sua leitura e, ainda por cima, P1 reconheceu
o papel desse elemento do material interposto no que diz respeito à elucidação e à
compreensão dos significados das palavras.
A análise dos dados demonstrou, também, que tanto P1 quanto P2 possuem
crenças que consideramos inadequadas a respeito do dicionário escolar infantil. De
um lado, P1 defendeu que a obra lexicográfica não se torna ultrapassada ao longo
dos anos e que ela é neutra, já que não aborda a opinião de uma determinada pessoa.
De outro, P2 deixou claro que acredita na ideia segundo a qual a qualidade de um
dicionário está no fato de ele ser usado na escola desde o ciclo de alfabetização.
Além do mais, o docente defendeu que esse material didático possui
neutralidade e não veicula preconceitos e, inclusive, desconsiderou a existência de
uma obra dicionarista específica para o público consulente dos anos iniciais do
ensino fundamental, salientando que, em sala de aula, são utilizados os dicionários
disponíveis na escola ou os pertencentes ao aluno.
Neste sentido, as referidas posições valorativas de P1 e de P2 são
inadequadas por três motivos básicos: 1 - por descartarem a existência de
dicionários específicos para as diversas etapas da educação básica, como orienta a
taxonomia do PNLD – Dicionários, em Brasil (2012); 2 - por desconsiderarem os
aspectos discursivo-ideológicos da obra dicionarista; 3 - porque marginalizam ou
ignoram a necessidade de atualização da obra dicionarista ante os novos usos
linguísticos que emergem historicamente na sociedade.
Esperamos, portanto, que o presente tenha contribuído para o avanço das
discussões realizadas no âmbito da Metalexicografia Pedagógica, e que a sua leitura
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
inquiete seus possíveis leitores, contribuindo para a sua formação docente dentro
dessa área de estudos ainda pouco explorada na academia. Por fim, defendemos a
pertinência do desenvolvimento de outros estudos que deem continuidade à
discussão iniciada em nossa pesquisa de doutorado e apresentada sumariamente
neste trabalho.
REFERÊNCIAS
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Cássia da Silva
Leandro Lopes Soares
INTRODUÇÃO
A literatura é a porta para novos caminhos. É a partir dela que podemos viajar
para diferentes lugares, épocas, culturas e para um mundo de magias e descobertas,
tudo isso sem sair do sofá de casa ou da carteira da sala de aula. Além de servir para
deleite, a literatura é muito cobrada durante toda a nossa vida escolar,
principalmente em preparação para vestibulares e, também, para o Exame Nacional
do Ensino Médio (ENEM), que é o foco principal do nosso trabalho.
A literatura faz parte da vida do ser humano, desde os primórdios, quando os
homens das cavernas pintavam as paredes daqueles lugares. Os desenhos eram
como um livro de história, era uma forma de expressão. Cosson (2014, p. 11) destaca
que “[...] a literatura faz parte das comunidades humanas desde tempos imemoriais
são testemunhos os mitos cosmogônicos”, ou seja, a literatura está presente no
nosso dia a dia, mesmo que não tenhamos percebido.
Além disso, podemos dizer que a leitura literária, em si, é uma das habilidades
cognitivas mais importantes na vida do ser humano. Quando o aluno passa a ler
textos literários, seja literatura brasileira ou estrangeira, ele começa a conhecer
outros mundos, outras culturas, desse modo, a leitura literária não servirá apenas
para deleite, mas também para a sua formação enquanto sujeito social.
Corroborando com isso, Cosson (2006, p. 17) afirmou que “A literatura nos
diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E
isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada.” A literatura
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
incentiva a nossa imaginação, nos leva para outros lugares, nos impõe a vontade de
querer ir além das nossas limitações.
Exposto tudo isto, chegamos às seguintes questões de pesquisa: Como a
literatura está sendo abordada no Ensino Médio? O que poderia facilitar o estudo de
textos literários em sala de aula, principalmente voltado para a prova do ENEM?
Como unir literatura e multimodalidade numa proposta didático-pedagógica para o
Ensino Médio?
Partindo dessas questões, este trabalho tem como objetivo discutir sobre
como a leitura literária se insere nas aulas do Ensino Médio, principalmente no
ENEM, e como esta pode interferir na vida escolar do discente. Objetivamos,
também, apresentar, neste trabalho, uma metodologia que chamaremos de “Mala de
leitura – ENEM”1 a partir de uma lista dos autores mais cobrados na última edição
do ENEM, já que a literatura é amplamente discutida neste exame.
1
Mala de leitura: Sobre essa proposta, maiores informações podem ser encontradas no
Trabalho de Conclusão de Curso da acadêmica do Curso de Letras da URCA/Missão Velha,
Antônia Candido de Souza, Intitulado: “O ESTÍMULO À LEITURA LITERÁRIA: DO ENSINO
MÉDIO PARA CASA” (2018).
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
[...] o ensino atual de literatura na escola é reflexo de uma mudança ocorrida nas
universidades, em que a forma de ensinar está centrada nos estudos literários, com precisão
na análise do sentido das obras, levando em conta a abordagem interna e externa do texto.
Nesse sentido, percebemos a grande dificuldade que os professores têm em levar para a sala
de aula aquilo que aprenderam nos cursos de Letras, nas aulas de Literatura. O
desprendimento de técnicas e teorias se sobressai, deixando o texto à margem, causando,
inclusive, o desinteresse dos estudantes pela leitura e, consequentemente, pela Literatura.
O ensino médio, que não se dirige aos especialistas em literatura, mas a todos, não pode ter
o mesmo alvo; o que se destina a todos é a literatura, não os estudos literários; é preciso
então ensinar aquela e não estes últimos (...) O professor do ensino médio fica encarregado
de uma das mais árduas tarefas: interiorizar o que aprendeu na universidade, mas, em vez
de ensiná-lo, fazer com que esses conceitos e técnicas se transformem numa ferramenta
invisível. Isso não seria pedir a esse professor um esforço excessivo, do qual apenas os
mestres serão capazes? Não nos espantemos depois se ele não conseguir realizá-lo a
contento.
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MULTIMODALIDADE E ENSINO
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As tecnologias vêm influenciando a forma como as pessoas têm interagido com o mundo que
as cercam e os avanços tecnológicos vêm tornando as formas de comunicação mais rápidas
e multimodais. E essas características têm se refletido nos textos, que se tornaram cada vez
mais multissemióticos, ou seja, formados por linguagens variadas, constituídos por palavras,
imagens, cores, sons, gestos, entre outros, que se integram na constituição do sentido.
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CONCLUSÃO
De acordo com o que observamos em salas de aula, - como professores de
Língua Portuguesa e Literatura - nas leituras dos autores estudados e na última
prova de língua portuguesa do ENEM, podemos concluir que é muito importante
trabalhar com os alunos da comunidade escolar as principais obras e os principais
autores da literatura usando-se da interpretação multimodal, para que haja o
envolvimento dos alunos na busca pela aprendizagem e pelo prazer da leitura.
Ainda ressaltamos que um dos maiores papéis do professor é o de
incentivador da leitura, por isso a didática planejada desse docente é de suma
importância no ato da docência, pois pode rever formas para que o aluno participe
da aula, possa interagir, dialogar e compreender melhor tudo o que está sendo
ensinado.
E pensando nisso - numa metodologia didática para o ensino da literatura
com vista à interpretação multimodal - apresentamos nesse trabalho o projeto “Mala
de Literatura - ENEM” que propõe desenvolver a leitura literária dentro e fora da
escola, enfocando principalmente, como público-alvo, alunos que estão cursando o
terceiro ano do Ensino Médio, pois sabemos que é comum o estudo da literatura
nessas turmas ser voltado quase que exclusivamente para o ENEM.
Por fim, todo o trabalho, aqui exposto, nos leva à seguinte reflexão: o
estudante tem que entender que a capacidade de ler significa, sobretudo, a condição
de compreender um mundo que vai se mostrando cada vez maior e mais
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REFERÊNCIAS
COLOMER, Teresa. Andar entre livros: a leitura literária na escola. Trad. Laura
Sandroni. São Paulo: Global, 2007.
COSSON, Rildo. Letramento Literário teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2006.
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INTRODUÇÃO
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Pode-se dizer que há vários conceitos dados ao metadiscurso que estarão relacionados à
linha de abordagem adotada pelos autores. Para Crismore (1990, p. 92), metadiscurso
significa o “discurso sobre o discurso”. Já Hyland (1998, p. 441) diz que “o metadiscurso
auxilia na compreensão da maneira como os autores organizam seus argumentos e como
constroem suas relações com seus leitores”. Hyland discorre afirmando que este processo
diz respeito “aqueles aspectos de um texto que explicitamente se referem à organização do
discurso ou da atitude do escritor em relação ou ao conteúdo ou ao leitor”. Tanto para um
como para o outro o metadiscurso promove ao leitor a possibilidade de organizar, classificar,
interpretar e avaliar a informação posta num determinado contexto.
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
Diz respeito à consciência do escritor de uma audiência participativa e as formas que ele ou
ela pretende acomodar seus prováveis conhecimentos, interesses, expectativas retóricas e
capacidades de processamento. O propósito do escritor aqui é de dar forma e restringir um
texto para atender às necessidades de leitores particulares, estabelecendo argumentos para
que eles recuperem interpretações e metas preferenciais do escritor. O uso de recursos desta
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Transições 8
Marcadores de 1
enquadramento
Interativa
Marcadores endofóricos 6
Evidenciadores 3
Códigos de glosa 8
Atenuadores 1
Intensificadores 3
Marcadores de atitude 8
Interacional
Automenção 0
Marcadores de 0
engajamento
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
Transições C4
Marcadores de
C4
enquadramento
Interativa
Marcadores endofóricos C4
Evidenciadores C3
Códigos de glosa C3
Atenuadores C3
Intensificadores C3
Marcadores de atitude C3
Interacional
Automenção -
Marcadores de
-
engajamento
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A inter-ação pela linguagem. 11 ed. São Paulo:
Contexto, 2015.
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
Aluizio Lendl
Antônio Luciano Pontes
Introdução
Biderman (1984) já nos alertou que para a elaboração de um dicionário a
equipe de dicionaristas deve possuir certas qualidades e virtudes e operar segundo
procedimentos hoje padronizados. Precisa conhecer bem a sua língua materna e ter
uma ampla leitura do seu patrimônio literário e cultural de todas as épocas, no caso
de idioma de longa tradição cultural, como é o caso do português.
As observações da autora até hoje são muito pertinentes, pois a organização
interna dos dicionários é engessada, diferindo, talvez, apenas nas informações
tipográficas de um dicionário para outro. Sabe-se que a estrutura interna de um
dicionário precisa seguir uma megaestrutura, macroestrutura, médioestrutura e
microestrutura. Cada um desses campos estruturais estabelece as especificidades
de um dicionário.
Com base nessa compreensão, este texto se restringe em compreender a
organização microestrutural de um verbete. A microestrutura compreende a
entrada do verbete – isto é, o título do verbete –, que é seguido de sua definição, a
mais clara e objetiva possível.
Entretanto, na esteira das transformações semióticas deste século, os
dicionários reuniram novos aspectos tipográficos, tais com cores, imagens, sons e
links. Esses recursos, portanto, não parecem ter sido previstos pela metalexicografia.
Sendo de forte relevância a iniciativa de estudos que busquem traçar padrões para
as obras com esses novos planos.
Partindo desse pressuposto, este trabalho busca contribuir com aquela área
de estudos, explorando como dicionários ilustrados e eletrônicos organizam sua
microestrutura, a fim de promover a compreensão do verbete. Para tanto,
fundamentamos o estudo na Gramática do Design Visual, a partir da metafunção
representacional, cujo objetivo é compreender a natureza do evento comunicativo.
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
(i) Um lema;
(ii) Uma ou mais indicações sobre flexão, quando é o caso;
(iii) Uma definição;
(iv) Uma ou mais indicações de domínios do discurso a que palavra pertence;
(v) Uma ou mais abonações.
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Além dessas cinco definições, Pontes (2009, p. 27) elenca quatro traços
fundamentais sobre o dicionário, ou seja, oferece características macrodefinidoras:
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Fonte: visualdictionaryonline.com.
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Campos
temáticos
Fonte: visualdictionaryonline.com
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Fonte: visualdictionaryonline.com.
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
categoria todo é o próprio globo terrestre. Desse modo, a figura relaciona parte, as
projeções do globo, ao todo, a exibição do planeta em si.
Além dessa classificação inicial, aquilo que chamamos de todo e parte,
especificamos como portador e atributivo possessivo. Assim, às formas de
projeção da parte e as projeções de parte do globo terrestre chamamos de atributivo
possessivo, enquanto o todo, o globo terrestre, determinamos de portador. Nesse
sentido, observe, no recorte ampliado, na Figura 3, como esses elementos ficam
categorizados.
Portador - Atributivo
todo possessivo -
parte
Fonte: visualdictionaryonline.com
Estruturado
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
Portador -
Atributivo
todo
possessivo -
parte
Estruturado
Fonte: visualdictionaryonline.com
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
Conclusões
Este capítulo se ocupou em discutir aspectos acerca da organização
composicional interna dos verbetes ilustrados do dicionário visual online Merrian-
Webster. Isso posto, procuramos embasar esta investigação a partir da Teoria da
Multimodalidade, a partir da Gramática do Design Visual, de Kress e van Leeuwen
(2006). Para nos fundamentar sobre lexicografia, visitamos as obras de Pontes
(2009), Welker (2004) e outros comentadores.
Para tanto, os resultados evidenciados destacam que a definição verbal e a
definição imagética apresentam relação de coesão e coerência intersemiótica
indispensável para a construção do sentido do verbete. Isso nos faz pensar que as
representações conceituais analíticas, da Gramática do Design Visual, apresenta-se
como função importante para o consulente, por se dispor a apresentar de forma
sistemática os elementos verbo-imagéticos e seus componetes fundamentais.
Por fim, pensamos que a discussão que estabelecemos entre
multimodalidade e lexicografia é muito rica, porém tem sido pouco explorada. Os
resultados mostraram que fazer esse tipo de investigação é relevante,
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
REFERÊNCIAS
CALLOW, J. The shape of text to come: how image and text work. Australia: PETAA,
2013.
COROA, M. L. Para que serve um dicionário? In: CARVALHO, O. L. S.; BAGNO, M. (org.)
Dicionários escolares: políticas, formas e usos. São Paulo: Parábola Editorial, 2011.
p. 61- 72.
ILARI, R.; CUNHA LIMA, M. L. Algumas ideias avulsas sobre aquisição do léxico. In:
CARVALHO, O. L. S.; BAGNO, M. (org.) Dicionários escolares: políticas, formas e
usos. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. p. 13-60.
JEWITT, C. Multimodal methods for researching digital technologies. In: PRICE, S.;
JEWITT, C.; BROWN, B. (Ed.). The Sage Handbook of Digital Technology
Research. London: Sage, 2013. p. 250-265.
KRESS, G.; van LEEUWEN, T. Reading Images: the grammar of visual design. 2. ed.
London and New York: Routledge, [1996] 2006.
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
INTRODUÇÃO
“Uma imagem vale mais que mil palavras”. A expressão popular de autoria do
filósofo chinês Confúcio transmite a ideia do poder das imagens na comunicação. O uso de
imagens com intuito comunicativo está interligado com a própria história da humanidade,
desde a pré-história até a contemporaneidade (DIONÍSIO, 2011; BARBOSA, 2017).
Textos multimodais nos cercam diariamente através da internet, das mídias, dos
livros, dentre os mais variados suportes que constituem a vida moderna e que utilizam, além
de textos verbais, cores, formas, imagens, sons e movimentos para transmitir informações
e efetivar a comunicação social. Assim, imagem e palavra estão cada vez mais próximas,
principalmente com o surgimento de novas tecnologias. No entanto, o letramento visual,
que possibilita a compreensão e interpretação dos textos multimodais, cresce timidamente
diante da necessidade social. A comunicação visual é, segundo Kress e van Leeuwen (2006,
p. 03), “mais e mais crucial no domínio da comunicação pública” e o letramento visual é
“uma questão de sobrevivência”.
Com o propósito de contribuir para o letramento visual, demonstrando que a
imagem contribui para a construção de sentido e que também obedece a regras
composicionais tanto quanto o texto verbal, Kress e van Leeuwen (2006) propõem a
Gramática do design visual. Os autores buscaram compreender as possibilidades dadas por
códigos semióticos visuais, como sendo uma metodologia para a análise dos textos
multimodais, a partir das metafunções da Gramática Sistêmico Funcional (GSF) de Halliday
(1978), que tem como objetivo principal entender as funções da linguagem verbal. Dessa
forma, Kress e van Leeuwen (2006) expandiram-na para a linguagem visual, entendendo
que esta linguagem também pode se constituir de regras (NOGUEIRA, 2016).
Diante da era tecnológica em que estamos inseridos, a importância de compreender
e interpretar imagens e textos multimodais é inquestionável. Dessa forma, o objetivo deste
trabalho é analisar, segundo a Gramática do design visual (GDV), um panfleto distribuído em
uma escola de idiomas em alusão ao dia internacional da mulher*¹, texto considerado
multimodal por “seu sentido ser compreendido através de mais de um recurso semiótico”,
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
isto é, por integrar linguagem verbal e visual (KRESS; van LEEUWEN, 2006, p.177). Para
tanto, aplicaremos os critérios e as metafunções estabelecidos pela GDV para a
interpretação e compreensão da imagem que compõe o objeto de análise. Temos como
propósito investigar se a teoria apresentada de fato auxilia na compreensão do texto
multimodal em questão.
SEMIÓTICA SOCIAL
Os estudos semióticos são considerados recentes, seus precursores, os Formalistas
Russos, iniciaram as investigações sobre os modos não linguísticos da comunicação na
década de 1930. As pesquisas e investigações se desenvolveram e trouxeram contribuições,
além de diferentes perspectivas relacionadas ao signo, não apenas o linguístico, mas
também em áreas como a Fotografia, Música, Cinema, Artes Visuais, entre outras, para o
entendimento de interações sociais com bases comunicativas , consideradas mutáveis
de acordo com o interesse de quem as utiliza (RIBEIRO, 2013).
O trabalho de Michael Halliday em Language as social semiotics (1978) representa
um texto seminal que orientou significativamente o campo da Semiótica Social. Em seu
trabalho, Halliday defende a ideia de que a escolha dos recursos semióticos utilizados para
a comunicação não ocorre de forma arbitrária, pelo contrário, os recursos são selecionados
pelos usuários a partir do modo como são utilizados nas diversas interações sociais.
Analisar um texto, segundo a perspectiva da Semiótica Social, implica considerar o
contexto no qual o texto está inserido, uma vez que essa teoria entende a língua como fato
social. Segundo Halliday (1978), a língua é um sistema composto por diferentes potenciais
de produção de significado, em que aquele que se comunica dispõe de escolhas linguísticas
influenciadas por um contexto social e cultural . Hodge e Kress (1988) definem a teoria
da Semiótica Social como a ciência que estuda a vida dos signos em sociedade, analisando,
dessa forma, como os significados são produzidos e interpretados, e como os sistemas são
moldados por interesses sociais, ideologias e diferentes formas de comunicação
(NOGUEIRA, 2016).
Fortemente influenciada pela Linguística Sistêmico-Funcional de Michael Halliday,
a Teoria da Semiótica Social estuda os diversos modos semióticos – semiótica da imagem,
semiótica do texto, semiótica da música, etc. – com o propósito de compreender como eles
atuam na construção de significados estando dispostos em um mesmo evento comunicativo,
caracterizando o fenômeno da multimodalidade. Apesar de reconhecer que cada modo
possui suas particularidades, assim como similaridades com outros modos, a teoria procura
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
MULTIMODALIDADE
A multimodalidade, campo de aplicação teórico da Semiótica Social, vem ganhando
destaque nas pesquisas brasileiras. Apesar de ser uma área de estudos relativamente
recente, esta vem despertando interesse de diversos pesquisadores que veem as distintas
formas de comunicação como um campo fértil para os mais variados estudos.
Postulada por Kress e van Leeuwen (2006), a Teoria da Multimodalidade defende a
ideia de que múltiplos recursos semióticos interagem entre si com o propósito de
construírem novos significados. Segundo a teoria, todo texto é multimodal. Além do texto
verbal, elementos como imagens, cores, tipografia e até mesmo o suporte, como por
exemplo, o tipo de papel em que o texto foi escrito, influenciam diretamente na mensagem
que está sendo recebida pelo leitor (BRASIL, 2015). Jewitt (2010) define multimodalidade
como
(...) uma abordagem que compreende a comunicação e representação como algo que
vai além da língua, uma vez que envolvem uma gama ampla de diversas formas de
comunicação que as pessoas usam – imagens, gestos, olhar, postura – e suas relações
entre elas (JEWITT, 2010, p. 14 apud NOGUEIRA, 2016, p. 26-27).
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
signos elaborados a partir de recursos semióticos multimodais são como discursos sociais
(NOGUEIRA, 2016).
Segundo Nogueira (2016), a abordagem multimodal busca compreender a
articulação dos diversos modos semióticos utilizados em contextos sociais concretos, nas
práticas sociais com o objetivo de se comunicar. Para a multimodalidade, a maioria dos
textos envolve textos escritos, cores, imagens, enquadramento, escolhas lexicais, elementos
gráficos e sonoros, com predominância de um ou outro modo, conforme a finalidade da
comunicação. Kress e van Leeuwen (2006) defendem a importância que as imagens
assumiram na comunicação social e ressaltam a importância do letramento direcionado
para os mais diversos modos de comunicação.
LETRAMENTO VISUAL
Como abordado anteriormente, os elementos visuais estão cada dia mais presentes
e influentes no meio social, uma vez que já fazem parte do contexto comunicacional
moderno como um todo. Com o advento da tecnologia, o uso de cores, traços, formas,
movimentos, dentre outros recursos que vão muito além do texto verbal, tornaram-se
comuns, exigindo, dessa forma, uma capacidade de interpretação e compreensão que
ultrapassam as habilidades de escrita, de leitura e de fala desenvolvidas no ambiente
escolar.
Diante desse contexto, nasce a necessidade pedagógica de proporcionar aos alunos
letramentos que os tornem capazes de ver, ler, criticar, interpretar, compreender e criar
textos visuais. Dessa forma, o letramento visual torna-se uma necessidade social que cresce
a cada dia, a cada novo suporte tecnológico que utiliza uma nova forma de comunicação.
De acordo com Serafini (2010), o letramento visual é a habilidade de acessar,
analisar, avaliar e comunicar informação em qualquer uma das várias formas que envolvem
o processamento cognitivo da imagem visual. Stokes (2002) define o letramento visual
como a competência para ler, interpretar e compreender a informação apresentada nas
imagens. A partir das definições de estudiosos da área, constatamos que o letramento visual
não se trata de uma capacidade de decodificação da imagem, ou seja, uma leitura em nível
superficial, mas de interpretação e compreensão das informações, inclusive implícitas,
nessas imagens que, semelhante aos textos verbais, são carregadas de sentidos ideológicos.
Tomar as imagens como meros adornos dos textos na atualidade demonstraria uma falta de
letramento visual nessa perspectiva (SILVEIRA, 2015).
Um dos aparatos teórico-metodológico que contribui de forma eficaz com o letramento
visual é a Gramática do design visual (GDV) proposta por Kress e van Leeuwen (2006).
Somos cientes de que análises verbo-visuais não se restringem à GDV, no entanto,
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
partes (ALMEIDA, 2008). Essa relação pode ser denominada como estruturada, se houver
descrição sobre suas partes, ou desestruturada, quando não se especifica a relação entre a
parte e o todo.
Em relação ao último ponto do processo conceitual, os processos simbólicos
ocorrem quando se estabelece a identidade do participante por meio de atributos tais como
tamanho, escolha da cor, da iluminação, dentre outros. Nesse processo, considera-se a
relação entre o portador e seus atributos, sendo o atributivo aquele em que o atributo do
participante é salientado, ao passo que no sugestivo, “o significado simbólico advém do
próprio portador” (ALMEIDA, 2009, p. 181).
Os modos pelos quais a linguagem visual estabelece relações com o leitor são
explorados através da metafunção interativa. Essas relações podem ser realizadas por
recursos visuais tais como contato, distância social, atitude e modalidade. O primeiro
recurso diz respeito ao contato do olhar entre o participante representado e o leitor. Quando
há um vetor da linha do olhar daquele em direção a este, dizemos que se estabelece uma
relação de demanda; mas se não existe esse vetor ocorre uma relação de oferta, havendo
uma “oferta de informação” (JEWITT; OYAMA, 2001, p. 146).
No que diz respeito à distância social, considera-se a proximidade ou distância entre
participante representado e o leitor, indicando uma relação que varia de impessoalidade até
um maior nível de intimidade. Participantes são retratados em plano fechado (cabeça e
ombro são visíveis), em plano médio (participante mostrado até o joelho) ou em plano
aberto (todo o corpo é exibido). Segundo Almeida (2008, p. 20), “o enquadramento mais
próximo, em plano fechado, representa o participante de forma íntima [...] e à medida que
vai ampliando, torna-se mais distante”, ou seja, mais impessoal.
Perspectiva, ou ponto de vista, indica o ângulo em que se mostra o participante. O
ângulo frontal, em que participante olha diretamente para o leitor, sugere uma ideia de
envolvimento entre ambos, o ângulo oblíquo, participante retratado de perfil, indica uma
sensação de desligamento, de alheamento do mundo. Situações em que o participante é
retratado na vertical apontam relações de poder, sendo que: ângulo alto indica poder do
leitor sobre o participante; ângulo ocular, relação igualitária de poder e, por fim, ângulo
baixo, o qual indica que o participante detém o poder em relação ao leitor.
Já a modalidade “tem relação com o valor de verdade, das afirmações a respeito do
mundo, que são exibidos [nas imagens]” (ALMEIDA, 2008, p. 22) e para se obter essa
realidade são empregados mecanismos como cor, contextualização, iluminação e brilho.
Com relação à classificação, as modalidades podem ser naturalistas, quando há maior
congruência entre imagem e realidade; sensorial, pois se provoca um impacto sensorial no
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
leitor; científica (tecnológica) e abstrata, sendo essas baseadas em “como os objetos são
retratados de forma a estabelecer inter-relações de equivalência” (ALMEIDA, 2009, p. 184).
A metafunção composicional é responsável pela estrutura e pelo layout dos textos,
bem como pela articulação dos elementos que compõem a imagem para formar um todo
coeso e coerente (JEWITT; OYAMA, 2001). Essa função explora a relação entre os elementos
da imagem, visando descrever como eles se organizam em uma estrutura visual; para isso,
detém-se no valor informativo, na saliência e na estruturação dos elementos da composição
(ALMEIDA, 2008, 2009).
Com relação ao valor informativo, o lugar dos elementos informativos está de
acordo com seu valor funcional ligado às várias zonas do layout do texto visual, ou seja,
refere-se à posição que determinados elementos têm em relação aos outros na imagem:
áreas como esquerda/ direita (novo/ dado), topo/ base (ideal/ real) e centro/margem
(centralização). A saliência refere-se à maior ou menor ênfase dada a um elemento no
campo visual através de tipografia, cores mais vivas, contraste, superposição, tamanho,
dentre outros.
Já a estruturação diz respeito à conexão ou não de elementos na composição visual.
Caso a delimitação desses elementos, que pode ser feita por meio de linhas, cores, elementos
simbólicos, dentre outros, seja bem definida, indicando claramente onde se finaliza um e se
inicia outro, existe o que Kress e van Leeuwen (2006) denominam estruturação forte; ao
passo que a estruturação fraca ocorre quando os elementos estão “interligados em um fluxo
contínuo, através de cores e formas semelhantes” (ALMEIDA, 2009, p. 187).
Após esse breve levantamento teórico, na seção seguinte, analisaremos uma peça
publicitária: o panfleto, a partir das metafunções postuladas pela Gramática do design visual.
Nosso objeto de análise é um panfleto (figura 1), texto multimodal constituído por
linguagem verbal e visual, que foi distribuído em uma escola de idiomas em alusão ao dia
internacional da mulher. Sua escolha se justifica por esse exemplar conter elementos
verbais e não verbais que dialogam entre si, além de seu conteúdo abordar temas relevantes
na atual conjuntura sociocultural brasileira: o empoderamento da mulher e a mobilidade
urbana.
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Figura 2 - Processo de ação não transacional. Identificação de ator e vetor. Meta não
está dentro dos limites da imagem
Ator
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escrita na cor rosa: “Uma homenagem do Instituto Poliglota às mulheres do todo o mundo”.
No centro da imagem encontra-se uma mulher pedalando de vestido, esse é o núcleo da
informação, ao passo que os carros e todos os outros elementos ao fundo estão em posição
marginal, subordinados ao núcleo, conforme representado na figura 3.
Informação
ideal
Margem Centro
Informação
real
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verbalmente a imagem expressa no panfleto, uma vez que, na imagem, apresenta-se uma
mulher de vestido pedalando uma bicicleta em meio a um grande fluxo de automóveis, e, ao
observarmos a imagem, como nos sugere o título do panfleto, a mulher representada
realmente parece está se sentindo especial e autoconfiante.
O texto abordado no panfleto procura desconstruir a ideia de que a bicicleta, vista
socialmente como um transporte masculino, não se encaixa no “frágil” universo feminino.
Assim, o título, a imagem e o texto verbal que compõem o panfleto estão interligados e
corroboram para a mesma ideia: o empoderamento feminino, conforme indicado no trecho
“[...] pedalar de vestido provoca uma sensação de empoderamento e ao mesmo tempo de
afirmação de nossa feminilidade numa atividade que em nossa sociedade até pouco tempo
era quase exclusiva para homens”.
Dessa forma, o texto incentiva as mulheres a utilizarem a bicicleta como uma forma
de enfrentar os preconceitos advindos de uma sociedade masculinizada, em que a mulher
deve se restringir a atividades do lar. O texto também sugere que as mulheres tomem a
iniciativa de andar de bicicleta para incentivar esta prática em detrimento da
supervalorização dos veículos automotores que congestionam as grandes cidades, pois
andar de bicicleta de vestido representa “um enfrentamento a esse mundo masculinizado e
um desafio a mentalidade predominante nas grandes cidades, que prioriza os veículos
automotores”.
Como argumento final, presente no trecho “Mulheres, andar de bicicleta faz bem à
alma e afina a cintura. De vestido fica ainda mais estiloso. Então, no 8 de Março, vamos todas
pedalar de vestido”, depreende-se do texto o quanto essa prática faz bem para a saúde e
proporciona um bem estar emocional, além de convidar as mulheres a andarem de bicicleta
utilizando vestido, o que simboliza uma luta contra os preceitos machista que gravitam em
nossa sociedade.
Por fim, ao se analisar o panfleto em questão, constatamos que as metafunções
representacional, interativa e composicional, de fato, auxiliam o leitor na compreensão das
informações, conduzindo-o a um posicionamento mais crítico em relação a textos
multimodais, visto que os elementos que compõem a linguagem não verbal, juntamente com
a verbal, têm um propósito comunicativo assim como carregam consigo discursos
ideológicos.
Conclusão
O letramento visual tornou-se uma necessidade social diante da gama de
possibilidades de recursos comunicacionais que dispomos. O letramento verbo-textual já
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
não é suficiente para suprir a demanda de informações a que estamos sujeitos. Nesse
contexto, a importância do letramento direcionado aos recursos visuais dispensa
comentários.
A partir da análise realizada no presente estudo, constatamos que a Gramática do
design visual (GDV), proposta por Kress e van Leeuwen, é um rico suporte teórico-
metodológico para a análise e compreensão de textos multimodais. Com base nas
metafunções propostas pela teoria, é possível realizar um estudo acerca dos elementos que
compõem uma imagem, permitindo, dessa forma, uma ampla compreensão do objeto em
análise.
Como ressaltam os autores, as imagens também são regidas por regras, cada
elemento desempenha um papel significativo na construção do todo. Utilizar a GDV como
instrumento pedagógico, para o letramento visual, é uma forma de alavancar os estudos e
pesquisas em torno dos elementos imagéticos que nos rodeiam, assim como, configura-se
como importante material didático para os estudos das imagens no âmbito escolar.
REFERÊNCIAS
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
HODGE, Robert; KRESS, Gunther.Social Semiotics. In: Social semiotics. Ithaca, N. Y.: Cornell
University Press, 1988, p. 1-12.
JEWITT, Carey; OYAMA, Rumiko. Visual meaning: a social semiotic approach. In: van
LEEUWEN, Theo; JEWITT, Carey (eds). Handbook of visual analysis. London, Thousand
Oaks, New Delhi: Sage Publications, 2001, p. 134-156.
KRESS, Gunther; van LEEUWEN, Theo. Reading images: the grammar of visual design. 2ed.
London/New York: Routledge, [1996] 2006.
SERAFINI, Frank. Reading modal texts: perceptual, structural and ideological perspectives.
Children’s Literature in Education. v. 41, p.85-104, 2010.
Notas:
* O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001 – e com o apoio da Fundação Cearense de
Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP).
*¹ Esse material também está disponível no perfil institucional no original está junto da escola em uma
rede social.
https://www.facebook.com/instituto.poliglota.7/photos/a.136915676721736.1073741828.1368943700572
00/278118812601421/?type=3&theater) Acesso em 15 janeiro 2018.
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INTRODUÇÃO
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Semiótica Social
A Semiótica Social mobiliza recursos específicos para realizar tipos
específicos de trabalho semiótico. O processamento desses recursos é possível de
ser observado se considerarmos questões que abranjam não somente o modo como
se configuram, mas as demais razões que os atravessam contextualmente:
La Semiótica Social (Halliday 1978) y la Gramática de las Imágenes (Kress e Van
Leewen 1996) nos ofrecen herramientas teórico-metodológicas para abordar el
análisis de diversos discursos visuales. Estos discursos se concepptualizam como
prácticas sociales, y reflejam las formas em que los creadores de significado
seleccionam discursos, géneros, médios e modos para combinarlosen la creación de
significados (KRESS, 2010).
METÁFORAS VISUAIS
As metáforas visuais são possíveis porque as imagens significam. A
construção de sentidos possíveis para os textos cuja composição se estabeleceu a
partir da presença de uma linguagem multimodal híbrida, ampliando as
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Multimodalidade
Conforme afirmam Kress e Van Leeuwen (2006), o cenário semiótico da
comunicação visual tem passado por efetivas transformações. Essas mudanças têm
gerado efeitos nas formas e características do novo modo de escrever textos, que
estão se tornando cada vez mais multimodais, textos nos quais coexistem mais de
um modo semiótico (visual, sonoro, gestual e outros). As imagens não devem ser
apenas identificadas, mas lidas e interpretadas para que possamos compreender a
totalidade composicional e para que depreendamos quais são as representações
discursivas produzidas por esses arranjos.
A Gramática do Design Visual (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006) foi aquela que
estabeleceu parâmetros para a apreensão do caráter multissemiótico dos textos da
contemporaneidade, a fim de perceber como os efeitos de sentido e a manipulação
ideológica ocorre nos sistemas de imagens de uma determinada cultura. Os autores
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Multiletramentos
O letramento é constitutivo de práticas de leitura e escrita e, assim,
processos pertencentes às práticas sociais - que resultam em produtos humanos,
marcados pela história e pela cultura - e delineamos esta pesquisa, focalizando os
letramentos e, principalmente, os multiletramentos como uma necessidade da
contemporaneidade. Assim, podemos entender, segundo Lima (2013, p. 47)
que há, a partir da inserção da necessidade de contemplar os multiletramentos
demandados na contemporaneidade como superação ou atualização dos estudos
sobre os letramentos:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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______. Show me: principles for assessing students visual literacy. The Reading
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______. Analysing Discourse: textual analysis for social research. London and New
York: Routledge, 2003.
______. Multimodality, “reading”, and “writing” for the 21st Century. In: Discourse:
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______; VAN LEEUWEN, T. Reading images: the grammar of visual design. London
and New York: Routledge, 1996, 2006.
LIMA, Ana Maria Pereira. Práticas de letramentos e inclusão digital na aula de língua
portuguesa, 2013. 293f. Tese (Doutorado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação
em Linguística, UFC, Fortaleza, 2013.
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INTRODUÇÃO
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para a análise e que possa ser retomado na conclusão. O tratamento das implicações
práticas dos resultados é ainda apontado pelas autoras como um aspecto a ser
contemplado na conclusão. Nesse movimento é pertinente ainda a indicação de
lacunas que podem ser exploradas em pesquisas posteriores.
Na sequência, trataremos da progressão textual, no âmbito da Linguística
Textual.
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por “A coluna vermelha fica com o governo.” constitui o tema do enunciado em análise,
enquanto o segundo, iniciado pelo articulador enunciativo ou inicia uma contraposição
em relação à proposição presente no tema.
Do conjunto de articuladores meta-enunciativos destacamos os atenuadores,
apresentados por Koch (2006, 2015), como os recursos que funcionam na perspectiva de
garantir a preservação das faces. Esses recursos são amplamente adotados para garantir a
modalização dos enunciados, a exemplo do que ocorre no exemplo 27, transcrito a seguir:
“(27) No meu modesto modo de entender, creio que deveríamos refletir um pouco mais
sobre essa questão.” (KOCH, 2015, p.136)
Observamos nesse enunciado a modalização atenuadora adotada pelo locutor ao
classificar como modesto seu processo de compreensão individual, seguido pelo convite
ao interlocutor para ampliar o processo de reflexão acerca do tema em discussão. Essa
estratégia favorece não só a manutenção das relações de respeito ao direito de expressão,
como também contribuem com o fortalecimento e interação dos interlocutores.
Na sequência, trataremos das categorias do metadiscurso, e de parte das
subcategorias, que serão exploradas na presente pesquisa.
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conjunto de construções atenuadoras, pois apresenta uma nova construção, sem assumir
um caráter impositivo.
No Artigo 1: da área de Letras, o último parágrafo da unidade retórica conclusão
foi marcado pela presença de atenuador prototípico, conforme evidenciamos no seguinte
fragmento: “Espera-se que este trabalho possa motivar novos estudos [...]”. (PONTES;
JESUS, 2017, p. 320) A indicação da lacuna que possibilita a realização de novas
pesquisas está marcada no recorte acima pelo marcador atenuador “pode”, que se
caracteriza pela apresentação de uma possibilidade, no conjunto de variáveis
possíveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O mapeamento das ocorrências dos passos obrigatórios nas unidades
retóricas introdução e conclusão no artigo 1: da área de Letras, e no Artigo 2: da área
de Economia evidencia que os pesquisadores realizam suas produções científicas
em conformidade com as orientações de pesquisadores da área de produção
acadêmica, a exemplo das proposições apresentadas por Motta-Roth e Hendges
(2010), discutidas nessa pesquisa .
Os pontos de conexão entre categorias da Linguística Textual e do
Metadiscurso evidenciam que essas áreas referendam pesquisas voltadas à
construção de sentido, com base em realizações da língua, materializadas nos textos.
Em se tratando da categoria articuladores discursivo-argumentativos, observamos
que essa dialoga semanticamente com a categoria marcadores de transição, do
metadiscurso, já que ambas propiciam a articulação entre partes do texto.
Outra conexão entre as categorias das referidas teorias se materializa por
meio dos atenuadores, cuja denominação coincide nas duas teorias adotadas como
âncoras na seção de análise, nas quais se observa função semelhante, pois em ambos
os campos teóricos, funcionam como recursos que possibilitam a preservação das
faces dos interlocutores.
Pesquisas futuras podem mapear pontos de conexão entre outras categorias
da Linguística Textual e do Metadiscurso que constituem as demais unidades
retóricas do artigo científico, adotadas como referentes no processo de construção
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REFERÊNCIAS
KOCH, I. G. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2006.__________
Introdução à linguística textual: trajetória e grandes temas. São Paulo: Contexto,
2015.
LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 2007.
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
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Uma série de pesquisas, por muito tempo, afirmou que a língua seria a
representação quase real das coisas. Com Mondada e Dubois (2003, p. 17),
entendemos que a língua era estudada como “um sistema de etiquetas que se
ajustam mais ou menos bem às coisas”. As pesquisas sobre esta temática
apresentavam uma perspectiva da língua enquanto representação clara e
transparente, ou seja, estável, na qual cada signo linguístico se ajusta às coisas no
mundo. Nesse sentido, Mondada e Dubois (2003) afirmam ser uma utopia pensar a
língua nesta perspectiva, pois existe uma instabilidade na língua, e esta não é apenas
um sistema de representação das palavras em relação às coisas. As autoras têm uma
visão de língua mais complexa e, com isto, decidem não observar a língua a partir da
concepção clássica da referência, mas sim como um processo de referenciação.
Sob esta nova perspectiva da referenciação, Mondada e Dubois (2003), a
partir dos estudos sociocognitivos interacionistas, apontam que existe um problema
em mapear a língua em relação às coisas, que a língua não é um sistema estável, mas
sim que existe uma instabilidade na língua e que os sentidos são construídos a partir
das situações sociodiscursivas entre os sujeitos históricos e sociais. Dessa forma,
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tendo a língua em uma perspectiva instável, Mondada e Dubois (2003, p. 19) citam
que não é relevante “perguntar como [...] os estados do mundo são representados
de modo adequado, mas de se buscar como as atividades humanas, cognitivas e
linguísticas, estruturam e dão sentido ao mundo”.
Desse modo, na abordagem da referenciação, existe uma preocupação em
estudar como os sentidos das coisas no mundo ocorrem por meio de atividades
cognitivas humanas, que se apresentam mediante os signos linguísticos, mas que o
sentido dado ao mundo não depende apenas do aparato linguístico, pois, muitas
vezes, o contexto sócio-histórico e cultural é quem é fundamental para que se
atribuam sentidos aos diversos textos que circulam na sociedade, ou seja, as
palavras, imagens e cores têm diversas significações, dependendo da atividade
discursiva humana em determinado contexto social. Podemos entender com Koch
(2004) que os signos linguísticos estão à disposição do sujeito em qualquer situação
comunicativa. No entanto, no decorrer da interação verbal, é possível que o
enunciador precise sair do conteúdo simplesmente semântico para que seu
interlocutor atribua sentido àquele signo, naquela situação comunicativa. Desse
modo, nos estudos da referenciação, uma palavra vai além do seu sentido semântico,
pois ela se modifica dependendo do contexto em que ela for inserida e, muitas vezes,
para entendermos a verdadeira significação daquela palavra, naquele contexto,
precisamos estar inseridos no contexto em que está ocorrendo a interação verbal,
ou buscar nossos conhecimentos de mundo.
Dessa forma, Koch (2002, p. 209) afirma que “a referenciação constitui uma
atividade discursiva”; ela acontece no momento em que o texto ocorre independente
dele se manifestar de forma verbal ou não verbal. Cavalcante (2011) também trata
da instabilidade da língua em relação ao uso dos processos referenciais, afirmando
que “nem os elementos do discurso nem as entidades do mundo têm uma
segmentação já pronta, dada a priori; os referentes, ou objetos de discursos, são
categorias cognitivas apresentam uma instabilidade inerente a eles” (CAVALCANTE,
2011, p. 26). A autora reforça a ideia da instabilidade dos referentes e que o sentido
da linguagem em um discurso não depende das palavras representando coisas, mas
sim dos falantes que categorizam e recategorizam os objetos em situações diversas
no mundo.
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nomes referentes ao mesmo gênero, ou seja, que designam a mesma coisa e, por
último, as retomadas por descrições nominais, que ocorrem porque, ao invés de
utilizar a palavra, é apresentada a sua descrição dependente do contexto.
Em uma análise prévia, foi possível detectar, nos vinte e dois textos, cento e
setenta e três ocorrências de referenciação anafórica, sendo que noventa nos textos
dos alunos do ensino médio e oitenta e três nos textos dos alunos do ensino
fundamental. Nos textos dos alunos do ensino fundamental, notamos duas anáforas
indiretas e oitenta e uma anáforas diretas, uma vez que as anáforas diretas dividem-
se em: quarenta anáforas pronominais, dezoito anáforas por sinonímia ou
parassinonímia, vinte e duas anáforas por repetição total e três por repetição
parcial. Em relação às ocorrências nos textos dos alunos do ensino médio,
encontramos vinte e duas anáforas indiretas e sessenta e oito anáforas diretas. As
anáforas diretas foram divididas em: vinte e seis anáforas pronominais, vinte
anáforas por sinonímia ou parassinonímia, vinte por repetição total e duas por
repetição parcial.
Dessa forma, separamos as ocorrências com mais regularidade nos textos
para apresentarmos nossas discussões, utilizando treze exemplos: sete de textos do
ensino fundamental e seis de produções textuais do ensino médio e, assim,
tentarmos explicar o porquê desses resultados e como eles influenciam no sentido
e na adequação contextual no gênero artigo de opinião.
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“Algumas crianças são estrupadas 3e as vezes morrem com quem menos espera elas são
manipuladas pelo agressor, são muitas as crianças violentadas o “maniaco” oferecem coisas
para eles, marcam um encontro e dão presentes, quando ganham a confiança dela abusa a
coitado de uma maneira cruel. elas tem medo de contar aos pais, pois ficam
envergonhados”.
2
Os textos escritos por alunos do ensino fundamental são todos da temática “Abuso sexual de crianças
e adolescentes”.
3
Os exemplos se encontram escritos conforme o original.
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
disse que vem para festa”. No entanto, na escrita, precisamos entender que existem
especificações a serem seguidas no momento da construção do texto, e uma delas
seria retirar o excesso de retomadas anafóricas e selecionar os referentes utilizados
na produção textual. Nesse sentido, entendemos que o aluno alcançará este
entendimento com orientações adequadas do professor sobre os aspectos da
referenciação nos momentos das aulas de produção textual.
A seguir, na mesma ocorrência, temos uma tentativa de retomada por
sinonímia através do termo “coitado” que retomaria o termo “crianças”. No entanto,
percebemos duas inadequações; a primeira, mais uma vez, em relação ao gênero,
uma vez que se está retomando “crianças”, deveria estar no feminino, e a segunda
em relação ao número, pois também deveria estar no plural. Por último, nesta
ocorrência, temos uma retomada por anáfora pronominal, pelo termo “ela”, mas,
apesar de Koch (2004) a considerar como uma anáfora pronominal, temos uma
visão diferente deste tipo de ocorrência, pois como esta anáfora já foi usada
anteriormente, passamos a considerá-la como uma repetição total e não mais como
uma anáfora pronominal. Poderíamos explicar que, nesse caso, o aluno ainda não
apreendeu os conteúdos gramaticais em relação ao gênero e número, a fim de aplicá-
los de forma adequada às suas produções textuais, com a consciência de que seu
texto terá um leitor, e de que todas as informações devem estar colocadas de forma
coerente para o bom entendimento do seu texto.
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“[...] a pessoa abusada não denuncie o violentador e também pode ser considerado como
fatos acontecidos sem o querer da vítima. O abuso tem a acontecido muito no mundo e vem
aumentando ao longo do tempo. Mas não se torna tão visível pelo fato da vítima se sentir
envergonhada diante da sociedade, além disso, ainda se torna um crime silencioso. [...]
Podem acontecer vários outras formas que possam deixar a vítima enganda e passar a
deixar levar pelas palavras do enganador [...] a maioria dos agressores são os próprios
familiares e amigos que já sabem como manipular a vítima”.
Neste caso, temos uma ocorrência em que foram transcritos alguns trechos
de parágrafos do texto. A intenção é observarmos como o aluno do ensino
fundamental opta pelo uso constante da repetição total, quando utiliza, por três
vezes, o termo “vítima”, retomando o mesmo referente citado anteriormente no
decorrer do texto.
Nesta ocorrência, continuaremos comprovando a hipótese já preanunciada
de que as dificuldades com o sentido e a adequação contextual estão presentes nos
textos dos alunos do ensino fundamental devido ao muito tempo disponibilizado ao
ensino de gramática e ao pouco tempo dispensado com aulas de produção textual
na disciplina de Língua Portuguesa, na qual estes conteúdos poderiam ser
abordados. Com podemos ver na fala de Antunes (2009, p. 120), na qual afirma que
“os professores, com algumas exceções usam os texto dos alunos produzidos nas
aulas de produção textual apenas para mostrar regras relacionadas a conteúdos
gramaticais, sem levar em considerações os conteúdos referentes a construção do
sentido global do texto”. Com a citação da autora, percebemos que muitos
professores privilegiam o ensino de gramática e as aulas de produções textuais são
apenas pretexto para o ensino de gramática. Ainda com Antunes (2009, p. 120),
temos a sugestão que “a aula não pare nas terminologias, nas classificações” e que
“o estudo do texto [...] conduzirá forçosamente o professor a explorar categorias
gramaticais”, ou seja, existe uma preocupação em relação à forma como o ensino de
texto está sendo conduzido na sala de aula, pois muitos aspectos não têm recebido
a devida importância nas aulas de produção textual, e podemos constatar que a
referenciação anafórica é um destes.
Nesse sentido, ao analisarmos a ocorrência acima, concordamos com
Antunes (2009) quando diz que, nas aulas de produção textual, o aluno não tem a
oportunidade de ser orientado e revisar seus textos, ou seja, consequentemente, não
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
“O abuso sexual com crianças e adolescentes está sendo muito comum no Brasil. Esse tipo
de coisa acontece diariamente em todo o mundo. Esse fato acontece muito com crianças e
adolescentes porque eles são inofensivos e não tem defesa pra evitar isso”.
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
No entanto, estes são textos de alunos do 9º ano do ensino fundamental, que estão
seguindo para seus últimos três anos de estudos. Assim, a maturidade para construir
os seus textos usando mais os recursos como estes observados no exemplo acima já
deveria ser recorrente nos textos dos concluintes do ensino fundamental.
A referenciação anafórica por parassinonímia é muito útil na construção do
sentido e adequação textual, mas é possível apontar que este recurso é pouco usado
por estes alunos, pois eles usam mais as retomadas por sinônimos, e o fato de terem
dezoito ocorrências expressas no texto explica-se porque, em muitos casos, os
alunos simplesmente usam o termo “vítima” para retomar “crianças ou
adolescentes”. No entanto, foram poucos os casos de descrição nominal encontrados
nas produções textuais, sendo que destas dezoito ocorrências, apenas sete são por
descrição nominal.
Portanto, como explicação para esta ocorrência, entendemos que os alunos
no 9º ano ainda trazem muitos traços da oralidade para a escrita e que estes traços
podem ser corrigidos através de um trabalho orientado pelo professor, pois os
estudos de Marcuschi (2001) afirmam que o aluno quando adquire a escrita, ele se
torna bimodal, ou seja, ele agora possui a modalidade oral e a escrita. Nesse sentido,
é função do professor orientar o aluno a distinguir estas duas modalidades nos
diversos gêneros textuais produzidos em sala de aula, e o artigo de opinião é um dos
gêneros textuais em que estas modalidades devem estar bem distintas, pois o que
deve prevalecer é a modalidade escrita. Assim, podemos interpretar, também, que o
fato destes textos serem de alunos do 9º ano começa a revelar que os recursos da
referenciação anafórica não têm tido o seu espaço devido nas aulas de produção de
texto, pois percebemos que existe uma falta de reflexão do aluno sobre seu texto,
uma vez que trazem traços da oralidade para a escrita, com também o uso dos
recursos referenciais são os previsíveis, por exemplo, a anáfora pronominal com os
pronomes “ele” ou “ela”, a repetição total do termo e o uso de sinônimos, como
“crianças” por “adolescentes” ou “crianças e adolescentes” por “vítimas”, ou seja,
termos simples de serem usados em relação à temática discutida no artigo de
opinião.
Outra prova que o conteúdo da referenciação não é uma prática de ensino é
o fato dos alunos apresentarem dificuldades em usar de forma adequada os
conceitos de gênero e número, nos seus textos, em alguns momentos que retomam
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
o referente, uma vez que inadequações como estas deixam o texto com problemas,
pois tiram o seu sentido e adequação, certamente, prejudicando o entendimento por
parte do leitor.
A seguir, discutiremos as ocorrências de referenciação anafórica em textos
de alunos do ensino médio.
“Esses jovens quando cometem um crime [...] eles são encaminhados para uma instituição
educativa, onde eles vão cumpri muitas tarefas socioeducativas, onde eles cumprem a pena
de acordo com a infração”.
Neste trecho, o aluno usa três anáforas pronominais com o pronome pessoal
no plural “eles” para retomar o termo “jovens”. Dessa forma, como já afirmamos na
análise dos textos do ensino fundamental, este é um uso inadequado da
referenciação anafórica, pois prejudica a adequação textual, uma vez que
percebemos, neste trecho, o referente posto de forma desnecessária para a
construção do sentido, pois a aplicação de apenas uma retomada anafórica seria o
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Todos os textos do ensino médio têm o mesmo título, no caso, “Maioridade Penal”.
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
“Muito se fala na redução da maioridade penal no Brasil, na qual será reduzido para 16
anos a idade penal dos jovens. Mas será que a redução da maioridade resolveria o número
de crimes por esses jovens? A redução da maioridade penal pode sim reduzir a quantidade
de crimes cometidos por esses jovens. [...] Mesmo que a maioridade penal seja reduzida
muitos jovens continuam cometendo atos criminais. No Brasil a lei é muito fraca em relação
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a punição aos jovens criminalistas , pois muitas das vezes não ela não pune severamente os
jovens pelos seus atos [...] Certamente irão paga por seus crimes em presídios, onde não se
tem estrutura qualificada e seguras para esses jovens [...] pois só assim os jovens que serão
punidos pelos seus atos cumpriram suas penas”.
Podemos observar que o aluno usa o termo “Maioridade penal” de forma total
como referente, no entanto, o que mais impressiona é que este autor usa a retomada
anafórica do termo “jovens” por seis vezes no seu texto, sem se preocupar em
realizar nenhuma recategorização, seja a partir de pronomes, ou mesmo por
sinonímia ou parassinonímia.
Uma explicação para as ocorrências nestes trechos seria a falta de informação
sobre a temática, uma vez que, para recategorizar o referente e colocar mais
informação no texto, o autor precisa conhecer bem sobre o que se está escrevendo.
Outra explicação poderia ser, como já vimos acima com Antunes (2009), o pouco
tempo dispensado pelos docentes ao trabalho adequado com a produção textual em
sala de aula, no qual os aspectos da referenciação estariam inseridos, deixando os
pré-vestibulandos ou candidatos a concursos despreparados nesta área e, assim,
estes discentes, ao saírem do ensino básico, sentirão dificuldades em serem
aprovados nestes tipos de seleções.
Os dados também nos direcionam para a possibilidade de que o professor da
disciplina de Língua Portuguesa não está levando as contribuições da Linguística
Textual para as aulas de produção textual, pois as produções dos alunos do ensino
fundamental são semelhantes às dos discentes do ensino médio, assim, podemos
entender que o texto enquanto processo ainda não é muito trabalhado na sala de
aula porque este seria um caminho para o aluno crescer enquanto produtor textual.
Veremos a comprovação desta hipótese quando formos comparar as produções nos
dois níveis de ensino.
A seguir, discutiremos o uso das anáforas por sinonímia ou parassinonímia
nestas mesmas produções textuais.
Para finalizar a análise dos textos dos alunos do 3º ano do ensino médio,
apresentaremos as ocorrências com alguns exemplos de anáfora por sinonímia ou
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
parassinonímia, sendo também uma das categorias de análise apontadas por Koch
(2004).
“A maioridade penal no Brasil vem sendo nos últimos meses um problema de grande
questionamento social, a qual, trata-se de pequenos infratores que age na sociedade como
se fossem indivíduos responsáveis pelos seus próprios atos”.
“A redução da maioridade penal é um tema que está sendo discutido em todo o país, pelo
fato dos jovens estarem cometendo crimes. Precisamos ajudar esses adolescentes que são
o futuro do nosso Brasil. [...]”. Neste exemplo, o aluno o referente anafórico “Brasil” para
retomar “país”, como também retoma a palavra “jovens” com o termo “adolescentes””.
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
simples para se referir a “jovens” no texto, por isto que os alunos os usam tanto em
suas produções textuais.
A seguir, apresentaremos uma comparação entre os textos produzidos nos
dois níveis de ensino, com o objetivo de explicitar uma explicação para as diferenças
e semelhanças encontradas nas produções textuais destes alunos.
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
pelos alunos do ensino fundamental. Isso prova que, se as aulas de produção textual
tivessem um espaço semelhante ao que a gramática tem, os discentes também
cresceriam enquanto produtores de textos.
Seguindo nossa comparação, ao nos direcionarmos às anáforas por repetição
total, percebemos que esse tipo de retomada foi também recorrente nos dois níveis
de ensino, e com um número alto de ocorrências. Dessa forma, entendemos que
pouco existe, nos alunos, uma consciência de se preocuparem em recategorizar o
termo ou, ao menos, usá-lo apenas de forma parcial. Assim, percebemos que esta
dificuldade se estende desde o nível fundamental até o médio. Uma explicação seria
o pouco trabalho com esses conteúdos em sala de aula em relação a outros, no caso,
a gramática, já que os alunos crescem no uso dos conceitos gramaticais nos seus
textos, mas na construção do sentido, não evoluem.
Por fim, temos a comparação sobre as anáforas por sinonímia ou
parassinonímia que apresentaram o mesmo número de ocorrências nos dois níveis
de ensino. Estas anáforas são usadas pelos autores como forma de recategorização,
para que eles não repitam muitas vezes o mesmo termo no texto. No entanto,
analisando a temática, observamos nos dois níveis que os sinônimos usados foram
sempre os mesmos, por exemplo, na temática dos textos do ensino fundamental
sobre “abuso sexual”, os alunos usavam com muita frequência os termos “vítima” e
“inocente” como expressões referenciais de “crianças”. A mesma situação ocorre nos
textos dos alunos do ensino médio que tem como temática “A maioridade penal”,
nos quais os alunos usam diversas vezes a palavra “adolescentes” como expressões
referenciais de “jovens”. Assim, com o autor usando os mesmo termos como
sinônimo no corpo do seu texto fica exposto que o número de sinônimos não afirma
que o texto está com os referentes recategorizados, e com uma boa construção do
sentido do texto, como também mais informativo, mas sim, com pouca informação e
com sua progressão temática prejudicada.
No que diz respeito às anáforas por sinonímia ou parassinonímia com
descrição nominal, percebemos nos textos do ensino fundamental apenas sete, e
cinco nos textos do ensino médio. Com esta análise, poderíamos explicar que os
autores têm pouco domínio deste recurso que, utilizado de forma adequada, faz um
gênero, por exemplo, o artigo de opinião, ficar com sua progressão temática mais
sistematizada devido à recategorização através de frases, como também contribui
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
REFERÊNCIAS
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MULTIMODALIDADE, METADISCURSO E ENSINO
______. (2008). O texto e a construção dos sentidos. 9 ed., São Paulo: Contexto, 2008.
______. (2008). As tramas do texto. São Paulo: Nova Fronteira, 2008.
______. (2006). Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2006.
KOCH, I.V. & TRAVAGLIA, L.C. (2002). A coerência textual. São Paulo: Contexto, 2002.
KOCH, I. G. V; MORATO, E. M.; BENTES, A. C. (2005). (orgs). Referenciação e discurso.
São Paulo: Contexto, 2005.
MARCUSCHI, L. A. (2010). Da fala para a escrita: atividade de retextualização. São
Paulo: Cortez, 2001.
______. (2008). Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo:
Parábola Editorial, 2008.
______. (1983). Linguística do Texto: o que é e como se faz. São Paulo: Parábola
Editorial, 2012.
MONDADA, L; DUBOIS, D. (2003). Construção dos objetos de discurso e
categorização: uma abordagem dos processos de referenciação. In: CAVALCANTE,
M. M.; RODRIGUES, B. B.; CIULLA, A. (orgs). Referenciação. São Paulo: Contexto,
2003. p. 17-52. (Coleção clássicos da lingüística).
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SOBRE OS AUTORES
ALUIZIO LENDL
(Aluizio Lendl Bezerra)
Doutor e mestre em Letras pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
(PPGL/UERN), é professor substituto de Linguística da Universidade Estadual do
Ceará (UECE/FECLI). É integrante do grupo Lexicografia, Terminologia e Ensino
(LETENS – CNPq/UECE) e pesquisa os fenômenos da Multimodalidade em diferentes
textos.
E-mail: aluizio.lendlbezerra@uece.br / lendl.b3@gmail.com
CÁSSIA DA SILVA
Doutoranda em Letras pelo Programa de Pós-Graduação em Letras – PPGL da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.
E-mail: cassia_silv@hotmail.com
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contato@mentesabertas.com.br
MentesAbertas.Com.Br
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