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CAPITULO I

1. Introdução
Os abusos sexuais cometidos contra menores não são problemas recentes. Ao longo de vários
anos, essas condutas abusivas contra crianças foram analisadas de forma ainda muito precária,
porém, apesar de todos esses estudos sob consequências devastadoras que os crimes dessa
natureza acarretam no desenvolvimento dos menores

A complexidade de produzir provas em casos de abuso sexual de menores no meio familiar,


se da, muitas vezes pelo silêncio da vitima, que sofreu o abuso por um parente próximo, e em
ouros casos, pelo próprio medo da família em denunciar um de seus membros e vir a sofrer as
consequências que essa atitude ira trazer. Duma análise feita pela (Maia, 2012) sobre abusos
sexuais perpetuados contra menores, evidência que uma grande parcela desses abusos é
cometida por adultos que são membros directos da família da vítima, em manifestações que
podem ser de cunho sexual e exploração sexual.

Por outro lado, para fazer face ao panorama do abuso sexual dos menores no meio intra-
familiar, “o acesso ao direito e a justiça constitui um direito humano consagrado em vários
instrumentos jurídicos internacionais, com destaque na Lei que protege o Direito da Criança
n.º 7/2007, de 9 de Julho, cujo artigo n.º 1 esclarece ter com objectivo a promoção da criança
e visa reforçar, estender, promover e proteger os direitos da criança, na Carta Africana dos
direitos e o bem-estar da criança e de mais legislações de protecção da mesma.

Tendo em conta a situação criminal que o país enfrenta, sobretudo atentas as novas formas e
modos operativos levado a cabo pelas entidades responsável no atendimento das vítimas no
sentido de garantir da melhor forma a protecção dos menores, pretendemos, com o presente
trabalho, reflectir e trazer à discussão pública as várias matérias implicadas no tema: “abuso
sexual de menores no meio intra-familiar na cidade da beira’’. Assim, é de admitir que,
através destes movimentos sociais, os menores passarão a ter um tratamento diferente dos
seus familiares, uma vez que se trata de pessoas mais vulneráveis que têm sofrido práticas
criminosas intoleráveis no seio das famílias.

Quanto a estrutura, o presente trabalho compreende quarto capítulos, incluindo o presente que
é o capítulo introdutório, onde faz-se uma abordagem inicial para se determinar o porquê do
assunto escolhido, assim como a viabilidade do estudo.

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No que tange ao segundo capítulo consta a fundamentação do tema escolhido como objecto
de pesquisa, baseado em alguns autores especialistas que outrora abordaram sobre o assunto.
Já no terceiro capítulo será apresentado as metodologias empregues nesta pesquisa.

No quarto capítulo serão analisados e interpretados os dados colhidos a partir dos métodos de
recolha de dados e por fim, no quinto capítulo onde caberá ao autor finalizar esta pesquisa
com as considerações finais, e deverá conter uma análise final sobre os objectivos da
pesquisa.

1.1. Justificativa
A questão da violação sexual contra crianças em Moçambique tem sido visto sob várias
vertentes desde o particular até o judicial, isto é, desde ao facto de que a violação ocorre em
ambiente familiar até ao momento em que o caso é levado a barra da justiça. Portanto a
compilação desta monografia científica foi originada durante o período da experiência de
estágio na Procuradoria Provincial da República-Sofala e Serviço Nacional de Investigação
Criminal (Sernic), em que minha experiência foi em atendimento com crianças, adolescentes
e famílias e isto, só aumentou a expectativa de discutir a temática no período da conclusão do
curso.

A partir dessas experiências surgiu o interesse de conhecer melhor o tema e construir um


trabalho no objectivo de contribuir com breves reflexões e principalmente conhecer quais são
as medidas de enfrentamento da problemática que os profissionais da política da assistência
social, saúde, educação, além da área jurídica utilizam no atendimento às crianças e
adolescentes em situação da vítima, na perspectiva de garantia e efectivação de direitos da
criança na cidade da Beira

No âmbito social, a pesquisa justifica-se na medida em que, afecta a sociedade a assimilar os


problemas que a apoquentam principalmente no que tange a dilemas inerentes a violência
sexual e a denunciar esse tipo de acto. No prisma académico o estudo é crucial, pois atiça aos
demais académicos a pesquisarem sobre os procedimentos legais levados a cabo pelas
entidades responsáveis no atendimento das crianças vitimadas pelo abuso sexual.

E por fim, no que diz respeito as políticas públicas, o estudo é fundamental, pois auxilia as
entidades responsáveis no atendimento da mesmas a desenharem estratégias específicas para
mitigar situações do abuso sexual não só no âmbito familiar mas sim, no geral.

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1.2. Problematização
O abuso sexual de menores é um dos problemas graves em que a sociedade contemporânea
Moçambicana tem enfrentado em quase todas as provinciais. É um dos crimes que não
conhece fronteiras, nem obedece os princípios ou leis. (Fumo, 2016) salienta que o abuso
sexual dos menores ocorre em diferentes meios e ambientes sociais, nomeadamente na
família. Porem, a Lei Moçambicana Sobre Direitos da família Lei n.º 22/2019 do artigo 3 cujo
objectivo versa nos princípios da especial protecção da criança e da igualdade de direitos e
deveres dos seus membros e dos cônjuges entre si.

Portanto, ao se articular que a vítima é menor de idade, e que sofre esse tipo de abuso no
próprio seio familiar o panorama torna-se ainda mais preocupante, pois justamente aqueles
que têm a obrigação de proteger as crianças são os próprios agressores.

Segundo alguns estudos realizado por (Furniss, 1993, citado por Habizang, 2005) tanto na
área de psicologia quanto em áreas que concernem o estudo do abuso sexual infantil, como a
jurídica, comprovam que o maior índice de casos de crianças vítimas da violência sexual
sucede na residência das mesmas, sendo elas abusadas por indivíduos que se mantém em uma
relação por terem amor e confiança para com o abusador.

Conforme o (Ministério da Educação, 2004) aponta que existem alguns aspectos que
contribuem para o abuso sexual de menores, como os aspectos culturais, que incluem o
incesto, o qual vem sendo praticado desde a antiguidade em diversas culturas mesmo sendo
proibido em um grande número de sociedades, e a pedofilia que com a difusão das redes de
comunicação tem cada vez mais identificado membros familiares que tem como objecto de
prazer as crianças e existem também, aspectos jurídico-legais que mesmo estando voltados
para a protecção da criança, muitas vezes, pecam no funcionamento dos sistemas de direitos
da criança.

A doutrina da criança estipulada na Lei n.º1/2018 do artigo 47º dispõe que “as crianças têm
direito à protecção e aos cuidados necessários ao seu bem-estar” e de outros diplomas
legislativos internacionais como a Convenção Internacional sobre os Direitos das Crianças e a
Carta Africana sobre os Direitos e Bem-estar das Crianças, que decretam como crianças todas
as pessoas menores de 18 anos. Assim sendo, o artigo 202.º da Lei nº 24/2019, qualifica o
crime de abuso dos menores, estabelecendo uma moldura penal mais rigorosa, por examinar
mais opressivo este crime quando praticado pela família é punido com a pena de prisão de 16
a 20 anos.

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Assim, estas legislações orientam a aplicação do Direito de maneira o consagrar efectiva
protecção dos menores, em todos os aspectos. Isso abrange, por exemplo, o auxílio às
famílias, a tutela colectiva das crianças, e a previsão de condutas consideradas como crimes
quando realizadas contra esses sujeitos. Dessa forma, n.º1 do artigo 47.º da CRM 2004,
estabelece instrumentos jurídicos que visam a real protecção das crianças.

No entanto, nos dias actuais há presença de melhores esforços na mitigação das situações
inerentes, como é o caso da criação de gabinete, a promoção e o apoio a instituições que
trabalham em coordenação com os serviços específicos de atendimento dos casos de abuso
sexual dos menores, (Fumo, 2016).

Diante disto, coloca-se a seguinte questão:

Ate que ponto os procedimentos legais são levados a cabo pelas entidades responsáveis no
atendimento das crianças vitimadas pelo abuso sexual intra-familiar na cidade da Beira?

1.3. Objectivo

1.3.1. O objectivo geral


 Analisar os procedimentos que os profissionais da política da assistência social, e a
área jurídica, implementam para o atendimento de menores vítimas do abuso sexual
no meio intra-familiar.

1.3.2. Objectivos específicos


 Identificar os factores socioculturais que favorecem a ocorrência da violência sexual
contra menores no meio intra-familiar em Moçambique.
 Explicar os procedimentos legais previstos e aplicáveis na tramitação de abuso sexual
de menores no meio intra-familiar.
 Situar a sociedade civil no papel importante do combate a este tipo de prática.

1.4. Hipóteses
Hipótese Principal

 Existe ou não um esforço, por parte das entidades moçambicanas, em prevenir e


reprimir o fenómeno do abuso sexual de menores no meio intra-familiar na cidade da
beira.

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Hipótese Secundaria

 São adaptados, em geral, os procedimentos conjecturados e levados a cabo pelas


entidades responsáveis pelo atendimento à de menores vítimas do abuso sexual no
seio da família.

1.5. Delimitação do estudo


Segundo (Gil, 2004) a delimitação de tema, é a definição pela qual o enfoque do tema
será explicado no desenvolvimento da pesquisa.
Diante disso, o tema foi limitado ao abuso sexual de menores intra-familiar, por ser a mais
frequente e a mais danosa ao menor, uma vez que ele espera e tem direito ao amor e à
protecção no seio família
Por este motivo que o presente estudo decorreu na cidade da Beira, Província de Sofala,
particularmente ao gabinete de atendimento a família e menor vitima de violência domestica,
Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) e o centro de atendimento dos
menores vítimas do abuso sexual no 6º Bairro Esturro. É de ressaltar que o período em análise
foi de (2019-2021), facto pelo que os gabinetes de atendimento das vítimas ter registado em
2019 altas taxa dos menores vítimas do abuso sexual.

Em fim, a pesquisa sustenta-se na base dos pressupostos da teoria do Apego (TA)


(BOWLBY, 2002, 2004a, 2004b). Seu modelo de apego defende a ideia de que um indivíduo
desenvolve desde o início de sua infância é envolvido pela maneira como seus cuidadores
primários o percebem e o investem emocionalmente, bem como está envolvido aos factores
de temperamento e genética. Porem, a pesquisa sustentou-se também à luz do Código Penal
em vigor, a Lei da Família, a Constituição da República de Moçambique e a Lei 7/2008 de 9
de Julho, que aprova a Lei de Promoção e Protecção dos Direitos da Criança bem como ao
nível das convenções ratificadas por Moçambique.

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CAPITULO II

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Contextualização do tema

Desde da antiguidade, várias crianças advêm dos abusos sexual nas suas próprias famílias, ou
seja, em um local onde deveriam receber carinho, atenção e principalmente respeito, são
afligidas pela pessoa na qual colocaram sua confiança e sua vida, e agora, é a causa do seu
abatimento e sofrimento Fumo (2012). Tais vítimas passam anos ou mesmo suas vidas
acautelando um segredo que só lhes causam mal, não tendo coragem ou até mesmo o espaço
para revelar ao que tiveram que se submeter. E os abusadores acabam por sair ilesos nestas
situações.

Salienta-se que factos como esses abrangem todo tipo de família no mundo, não tendo
preferência por raça, cultura ou classe social, apenas são repetidas ao longo da história em um
ciclo que parece não ter fim. Esta problemática foi salientada por Rangel (2001) e Sanderson
(2005), em que realçaram que diferentes pesquisas feitas em torno do tema, obtiveram
resultados, os quais comprovam a prática de abuso sexual dos menores dentro da família não
se prende a fronteiras geográficas ou culturais, podendo ocorrer em todas as culturas,
comunidades e classes. Ainda na mesma linhagem de pensamento, Sanderson (2005)
complementa ainda que o perigo de se admitir que o abuso só acontece em algumas
comunidades apenas é o que contribuiu para seu andamento, pois se ignora a realidade do
problema. É importante voltar a atenção para o fato de que as histórias se repetem da mesma
maneira, e em famílias de históricos distintos, o que mostra que o que perpetua é um segredo,
um mito familiar, que se passa de geração em geração, e por consequência disso, faz com que
as vitimas ou mesmo a família não denunciem as autoridades competentes.

Em Moçambique, o abuso sexual intra-familiar dos menores não tem limite de condição
social, origem ou religião. No nosso Paiss manifesta-se de várias maneiras e, em muitos
casos, também está ligada à tradição, à cultura e à forma como a criança e o membro da
família se relacionam.

Para fazer face ao panorama do abuso sexual intra-familiar dos menores, “o acesso ao direito
e a justiça constitui um direito humano consagrado em vários instrumentos jurídicos
internacionais, com destaque para a Declaração Universal dos Direitos Humanos proclamada
em 1948 pela Organização das Nações Unidas e a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos

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Povos adoptada em 1981. Tendo em conta a situação criminal que o país enfrenta, sobretudo
atentas as novas formas e modus operandi levado a cabo pelos agentes dos crimes, como
também a intervenção das autoridades no sentido de garantir da melhor forma a protecção das
vítimas Fumo (2016).

Nesse contexto, o estado deparou-se com a necessidade de intervir de uma forma especial,
identificando como o maior obstáculo ao sucesso do regime jurídico - criminal ora criado o
fato de abuso sexual contra menores se tratar uma questão estrutural da sociedade, baseada
nas relações de poder por vezes do violador sobre os menores.

Por outro lado, o abuso sexual da criança deve ser visto tanto como uma questão dos direitos
da criança quanto um problema de saúde e de saúde mental, isto é, quando se refere aos
direitos da criança, ao longo dos anos foi sendo construído e discutido melhores maneiras de
se estabelecer e firmar os direitos fundamentais das mesmas, por meio de uma gama de leis
para que assim fosse possível manter sua dignidade e respeito. Desta forma, é criado a Lei nº
7/2008 que aprova a lei de promoção e protecção dos direitos da criança.

E mais adiante, artigo 1, relatando que “ (…) a protecção da criança e visa reforçar,
estender, promover e proteger os direitos da criança, (...) ”. Diante de tal preocupação com os
direitos que as crianças têm na sociedade actual, é que acaba por emergir os problemas que
elas enfrentam durante seus primeiros anos de vida, pois se passa a discutir mais sobre os
temas infantis, e com isso incondicionalmente vem à tona as questões de abuso sexual por ser
uma das maiores violações dos direitos da criança.

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Definição e Teoria dos Conceitos

Criança

Nos termos da lei 7/2008 de 9 de Julho, Lei de Protecção e Promoção dos direitos da Criança,
considera-se criança “toda a pessoa menor de dezoito anos de idade”. Este aspecto é
corroborado pela Convenção dos Direitos da Criança Adoptada pela Assembleia Geral nas
Nações Unidas em 20 de Novembro de 1989, ao referir que “criança é todo o ser humano
menor de 18 anos, salvo se, nos termos da lei que lhe for aplicável, atingir a maioridade mais
cedo”.

Em outras palavras perpetua-se que conceito de criança é atribuído a pessoa que seja menor
de dezoito anos, exceptuando-se os que, por força da lei do seu país, o atribua a maioridade
com idade inferior a dezoito anos.
Entretanto, Moçambique enquadra-se nos países que consideram crianças os menores de
dezoito anos, sendo-lhe assim aplicável o previsto na Convenção dos Direitos da criança
acima mencionado.
Elasticidade do conceito do abuso sexual de menores

Furniss (1993, citado em oliveira 2012) considera o abuso sexual de menores como uma
síndrome de segredo em relação à vítima e seus familiares e de adição no que tange ao autor.
Em consonância ao foco de discussão da pesquisa, no contexto interno, o legislador ordinário
estabeleceu um conceito legal sobre o abuso sexual de menores como qualquer conduta que
configure a corrupção de menores, o atentado de violência de menores e o estupro.

Assim sendo, Sanderson (2005, p. 15) avalia que o abuso sexual de menores

(…) tem uma natureza social, pois é influenciado pela cultura e pelo tempo histórico em que
ocorre, o que acaba por culminar em uma dificuldade de se estabelecer uma definição aceita
universalmente. Diante do contexto, histórico-cultural que se observa nos dias actuais, o abuso
sexual pode ser definido, por meio do ambiente de sua ocorrência, podendo ser fora da família
ou dentro do grupo familiar, intra-familiar.

Não obstante as teorias existentes sobre o fenómeno do abuso sexual de menores e a


perspectiva do d autor acima, em outras palavras, o abuso sexual de menores pode ser
definido como o envolvimento de crianças e adolescentes em actividades sexuais seja fora ou
dentro da família que não compreendem em sua totalidade e com as quais não estão aptos a

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concordar. Desse modo, o abuso sexual da criança configura-se como uma relação que viola
as regras sociais e familiares de nossa cultura.

Vale salientar que o abuso sexual intra-familiar de menores pode variar de contactos que
envolvem a penetração ou não a actos em que não há contacto sexual como assédio sexual,
voyeurismo, exibicionismo, abuso sexual verbal, telefonemas obscenos e pornografia
(Ministério da Educação, 2004).

Uma outra definição dada por Azevedo (1995, citado em Ferrari & Vecina, 2002) está calcada
no facto da autora declarar que qualquer tipo de violência que ocorra no âmbito familiar, seja
ela física sexual ou psicológica, é um acto de omissão praticado pelos pais (parentes ou
responsáveis) contra os menores de idade. Esses molde de abuso demonstram para a autora,
uma infracção de poder por parte do adulto e bem como uma crucificação da infância da
criança, onde se nega os direitos das crianças e negam a capacidade de serem examinados
como sujeitos e pessoas em condição especial de desenvolvimento. Mais adiante, as mesmas
autoras mantêm a postura enfatizando que quando sucede o abuso sexual a criança é
negligenciada, sendo suas indispensabilidades básicas postergadas e até mesmo esquecidas,
sendo elas constantemente humilhadas e aviltadas com palavras.

O abuso sexual contra menores no meio intra-familiar em Moçambique

O abuso sexual de crianças são violações sérias dos Direitos Humanos e dos Direitos das
Crianças, compromete que esta se possa desenvolver física, mental, moral, espiritual e
socialmente de forma saudável e harmoniosa, coíbe a sua liberdade, dignidade e o seu direito
ao amor, protecção e segurança. O acto tornou-se, nos últimos anos, matéria de saúde pública
pelas graves implicações que pode ter na saúde física e mental das vítimas/sobreviventes e das
suas famílias.

Em Moçambique, nos últimos anos, foram realizados vários estudos que demonstram uma
incidência significativa de várias formas de abuso sexual contra crianças no país. São ainda
comuns, o abuso sexual e exploração sexual, privação e negligência, particularmente quando
as crianças são do sexo feminino (raparigas).

Constata-se que também em Moçambique, Estima-se que a maioria das das raparigas em
Moçambique tenha sido vítima abuso sexual em algum momento no porprio seio familiar o
que resulta em muitos casos de gravidez pré maturos, alta incidência de abandono escolar e no

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actual aumento significativo do número de casos de infecções sexualmente transmissíveis,
HIV/SIDA entre o sexo feminino, particularmente raparigas menores de 18 anos.

Família e suas funções

Quando aborda-se sobre o abuso sexual intra-familiar de menores, é indispensável que se


busque compreender como é essa família em que os indivíduos estão inseridos, para que
assim se possa, de certa forma, tentar entender como se relacionam essas pessoas, e o que faz
com que essa dinâmica do abuso se perpetue. Precedentemente, porém, é necessário
compreender as significações de família, para que assim se possua uma óptica de como é o
núcleo familiar de uma família em que ocorre o abuso sexual infantil.

De uma forma genérica a família é descrita por Ferrari e Vecina (2002), como uma
constituição de diferentes indivíduos que partilham ocorrências históricas, culturais, sociais e
afectivas, sendo assim ela é tanto uma emitente quanto receptora de eventos culturais e
ocorrência históricas por meio de uma correspondência única, o que origina uma dinâmica
específica. Na Lei n.º 22/2019, de 29 de Dezembro legislador cuidou de consagrar
expressamente o conceito da família no artigo 2 e 3. A família é a comunidade de membros
ligados entre si pelo parentesco, casamento, afinidade e adopção. É ainda reconhecida como
entidade familiar, para efeitos patrimoniais, a união singular, estável, livre e notória entre
um homem e uma mulher.

Para alem disso, no que se refere ao posicionamento e papel da família em relação à criança,

Ministério da Educação (2004, p. 23) cita o Art.227:

É dever da família (...) assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

Assim sendo, a família tem, como uma de suas obrigações, manter protegidos seus membros e
exercer as demais funções a ela relacionadas. Por outro lado a CRM (2018) consagra no artigo
47 sobre o direito da criança, cingindo que as crianças têm direito a protecção e aos cuidados
necessários ao seu bem-estar. Porém quando esse grupo falha com seu papel social de
proteger os sujeitos e de transmitir os valores culturais, Ferrari e Vecina (2002) afirmam que
ela fracassou no cumprimento de suas funções. Tal declaração remete ao que sobrevém em
uma família, na qual existe o abuso sexual de menores, pois na meio em que a criança deveria

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se sentir segura e amparada, ela acaba não recebendo os devidos cuidados que sua família
deveria lhe oferecer e fica diante de um mundo de riscos e intranquilidades.

Factores envolventes na dinâmica do abuso sexual de menores no meio intra-familiar

A conjuntura do abuso, em que as crianças são usadas para a satisfação de desejos e das
necessidades dos adultos dentro de sua própria família, intensamente ocorre por meio do uso
da força, mas o que vagamente se nota é um jogo sedutor que ocorre, levando a uma
manipulação da criança que pode durar anos, sem que a criança consiga falar sobre o assunto
ou pedir ajuda Sevene (2016, pp. 25-26).

Pelo contrário, Ferrari e Vecina (2002) chamam atenção na postura sedutora da criança como
um factor desencadeante do abuso intra-familiar não deve ser considerada como uma causa
plausível do início e bem como do desenrolar do abuso, pôs a criança é o sujeito envolvido
nesse jogo patológico, e ela não tem a capacidade de maquinar e planejar toda uma trama
familiar de vitimização.

Os autores acima acrescenta que, a maneira pela qual o abusador abrange a criança e
particularmente os demais membros da família, faz com que ele possa legitimar sua actuação
sem que os indivíduos que compõem o núcleo familiar o possam perceber sobre qualquer
caso, pois seu jogo de sedução conquista a todos.

Seugndo Williams e Finkelhor (1990, citado em Sevene 2016, p. 21), em seus estudos
realizados com pais abusadores, identificam cinco tipos de pais incestuosos. “os primeiros
seriam os sexualmente preocupados, em seguida os que regridem à adolescência, outros
seriam os que buscam um instrumento de auto-satisfação, os emocionalmente dependentes e
os vingativos raivosos”. Assim sendo, varias são as explicações dos pais abusador dos seus
filhos/as sexualmente. Entretanto, o que não se pode negar é que todos, independente de seus
motivos iniciais, extrapolam as relações afectivas que existe entre pais e filhos, criando um
relacionamento doentio e destrutivo para a criança.

Cardin, Mochi e Bannach (2011) salientam que a Síndrome da Adaptação da Criança Vítima
de Abuso Sexual, esta liga ao segredo, ou seja, a criança não é incutida ou avisada sobre os
perigos de ser abusada no seio familiar, até porque o próprio educador pode ser o abusador.
Por essa razão, quando a criança é abusada sexualmente dentro da sua família, ocorrem em
segredo. Porque segundo o autor acima, as ameaças e promessas de segurança mantêm o
menor vinculado a esse pacto de silêncio, sendo que dificilmente revelará o que está
ocorrendo, a menos que encontre alguém com quem se sinta seguro para delatar os abusos
sofridos.
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“Em Moçambique o abuso sexual de menores intra-familiar é mais susceptível à famílias com
relações assimétricas e hierárquicas, nas quais a proximidade caracteriza a relação e
intensifica o impacto na vítima, sendo o incesto 1 a forma certamente mais conhecida (sevene
2016, p. 35) ”. Pode-se, então, dizer que os assuntos de família ficam em família? Tratando-se
do abuso sexual de menores, na maioria dos casos, sim. Primeiro, porque o ambiente mais
recorrente é a própria residência do agressor/vítima e segundo, devido à síndrome do
segredo2.

A proximidade, factor que marca a dinâmica do abuso sexual intra-familiar, é também nutrida
pela relação de confiança, diz Almeida (2005). Devido ao jogo de sedução do agressor ou pela
carga afectiva exercida, o menor entrega a confiança neste o que auxilia a sua acção. Oliveira
(2012) salienta que essa particular nutre o acordo imposto e selado do segredo que é reforçado
pela ameaça tanto à integridade física à vítima quanto à integridade física de alguém de
grande afecto da criança.

Por conseguinte, a demasia dos sentimentos contrários, que envolve a sedução, os afectos e as
ameaças podem levar a criança a um estado de confusão mental com o qual desencadeia o
medo, a fúria, o prazer, a culpa, o desamparo, a ansiedade, o isolamento, a fraca vinculação e
até a ideação suicida Siqueira et all (2010). É presumivelmente essa confusão mental que
ocasiona um conjunto de reacções geralmente relacionado ao abuso sexual.

Análise legislativa sobre o abuso sexual intra-familiar dos menores em Moçambique

O abuso sexual contra menores em Moçambique é um fenómeno de longa data, mas apesar
disso não deixa de ser um fenómeno actual. Em 1924 a Sociedade das Nações queixou-se aos
Estados membros para o emprego da Declaração de Genebra, efectuada na base de numa
proposição de Declaração dos Direitos da Criança pelo Conselho da União Internacional de
Protecção à Infância (Save the Children International Union). Com esta preocupação, deu-se
origem à criação, em 1946, do Fundo de Emergência das Nações Unidas para as Crianças
(UNICEF) Albuquerque, (2000).

É certo que em todas organizações e país democraticamente estatuído prevalece o princípio da


dignidade da pessoa humana, sendo “que os povos das Nações Unidas (NU) reafirmaram, no
1
Incesto é a relação proibida com tabu implícito entre pessoas do mesmo grupo de parentesco cultural ou legal
entre as quais não é aceite a relação de matrimónio (walker, 1980, citado em monge e olmo.
2
Segundo Krom (2000), os segredos muitas vezes estão imbuídos de assegurar informações que são ocultas ou
partilhadas de formas diferentes entre as pessoas. Os segredos familiares, com isso, assumem o papel de
formador de alianças entre as pessoas por várias gerações, sempre visando a manutenção e o sigilo das
informações.

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seu artigo 25 nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na
igualdade de direitos entre homem e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e
melhores condições de vida em uma liberdade ampla.

Apesar da cultura legislativa nesta matéria seja recente no ordenamento jurídico


Moçambicano, a autora fará uma breve análise dos instrumentos legais aceites para a
prevenção e repressão deste fenómeno que há muito vem assolando a camada as menores de
idade, sobretudo quanto ao ato do abuso sexual intra-familiar dos menores em Moçambique.

O Código Penal de Moçambique é por excelência o instrumento legal que congrega a matéria
de do abuso sexual em todas as suas vertentes quando a lei especial assim nada diz, sendo este
código muito recente, os seus efeitos jurídicos e de acordo com a recepção do público-alvo,
ainda são duvidosos para a sua eficácia.

O Código Penal em vigor em Moçambique afere o abuso sexual contra menores como crime
público. Pôs no Título I (crimes contra as pessoas), no Capítulo VII (Crimes Contra a
Liberdade Sexual) e na secção II (Atentado contra o pudor, estupro voluntário e violação) se
nomeiam os contextos em que é criminalizada a violação de direitos das crianças. No actual
Código Penal aprovado pela Lei n.º 35/2014 de 31 de Dezembro, foram introduzidas ainda
propostas que procuram eliminar alguns dos aspectos mais obsoletos do antigo código civil,
como é o caso do artigo 202, em que consagra-se que quem tiver trato sexual com menor de
doze anos é punido com a pena de prisão de 16 a 20 anos.

Assim, pelo artigo 203, apenas se considera crime público, com uma condenação prevista
entre os 8 e os 12 anos de prisão maior, se a criança tiver idade inferior a doze anos, pois,
segundo o legislador, existe incapacidade para dar o consentimento, quaisquer que sejam as
circunstâncias em que a violação foi cometida.

Pelo contrário, o artigo 18 da Constituição 2004, estabelece que os tratados e convenções


internacionais, uma vez aprovados, vigoram na ordem jurídica nacional. Tal é o caso da
Convenção Internacional dos Direitos das Crianças e a Carta Africana sobre os Direitos e
Bem-estar das Crianças.

No entanto, no Código Penal aprovado, algumas disposições relativas a protecção das


crianças violam os princípios acima apresentados, como é o caso do artigo acima apresentado
do código penal (o artigo 219) em que estabelece a moldura penal mais pesada, por considerar
mais gravoso o crime de violação de menor quando praticado contra crianças. Entretanto, a

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infelicidade deste artigo consiste em considerar crianças apenas os menores de 12 anos, em
violação às disposições da Lei n.º 7/2008 de 9 de Julho, que aprova a Lei de Promoção da
Protecção dos Direitos das Crianças e das Convenções acima referidas, que consideram
crianças os menores de 18 anos.

Ainda, o artigo 220 do Código Penal apesar de dar importância a outras formas de violência
sexual contra menores, peca por só proteger as crianças até aos 16 anos, ficando novamente
excluídos os menores até os 18 anos.

Como se pode ver, no concernente a protecção dos direitos da criança, o Código Penal
moçambicano viola de forma clara a Constituição da República e os diplomas legais
internacionais sobre a protecção das crianças, protegendo somente as crianças menores de 16
anos, sendo excluídos os menores de 18 ano. Assim, apear de termos a consciência de que
esta lei vem tipificar o crime de do abuso sexual contra menores como crime público,
oferendo às vítimas a protecção e apoio, como também estabelece parâmetros e
reconhecimento que é tarefa do Estado garantir o apoio às vítimas Abreu (2012). Portanto,
também deixa algumas lacunas em que pensamos que esta disposição é discriminatória não só
em função do género (homem e mulher), mas também discriminatória em termos de direitos
das crianças, ou seja, protege apenas uma parte deste grupo vulnerável deixando de fora
outras crianças.

Em suma, a existência desta lei3 veio melhorar de uma forma geral a prevenção dos abusos
sexuais contra menores, seja no meio familiar tanto como na sociedade moçambicana e
também deixou uma vulnerabilidade em algumas crianças, apesar de que no espaço jurídico -
constitucional protege a vítima, dando-lhe uma segurança de que a justiça deve ser feita e os
culpados devem ser punidos. Como a própria lei refere, casos da morte da vítima não é
objecto da presente lei.

Legislação Complementar

Com as três principais leis para a protecção da criança firmadas em 2008, Moçambique
transforma-se em um dos países de África com um quadro jurídico-legal, de protecção da
criança. Trata se da Lei de Promoção e Protecção dos Direitos da Criança, a Lei de Prevenção
e Combate ao Tráfico de Pessoas e a Lei da Organização Tutelar de Menores, vêm fortificar e
atenuar as lacunas presentes no quadro jurídico moçambicano, que constituíam a criança
3
Lei de Revisão do Código Penal e revoga o artigo 2 do Decreto-Lei n.º 182/74, de 2 de Maio e o Código Penal
aprovado pela Lei n.º 35/2014 de 31 de Dezembro.

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numa situação de vulnerabilidade. No entanto, mediante as três leis acima enumeradas, a
pesquisa ira dar mais ênfase a Lei de Promoção e Protecção dos Direitos da Criança porque
esta vai ao encontro da problemática.

Lei de Promoção e Protecção dos Direitos da Criança

A Lei de promoção e protecção dos direitos da criança (Lei nº 7/2008 de 9 de Julho), no seu
artigo 1, estatui que, a tal lei, tem por objecto a protecção da criança e visa fortalecer,
prorrogar, promover e proteger os direitos da criança, tal como se pasma na constituição da
República, na Convenção sobre os Direitos da Criança, na Carta Africana sobre os Direitos e
o Bem-estar da Criança e demais legislação de protecção a criança.

De acordo com o artigo 3 da Lei acima citada, tem-se definido a criança como toda a pessoa
menor de 18 anos de idade e diante disto, de acordo com esta Lei, a criança goza de todos
Direitos Fundamentais, inerentes a pessoa humana, assegurando-lhes todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes preservar o crescimento físico, mental, moral, espiritual, e social, em
condições de autonomia e de decência.

Este conceito de criança é também estabelecido nos demais diplomas internacionais de


protecção dos direitos da criança, tal como na Convenção sobre o Direito da Criança, Carta
Africana sobre os Direitos e o Bem-Estar da Criança e demais legislação de protecção à
criança. Assim, relativamente ao tratamento negligente, discriminatório, violento e cruel. o
artigo 63 da Lei 7/2008 de Julho consagra que o Estado deve adoptar medidas legislativas e
administrativas para proteger a criança contra todas as formas de exploração e abuso sexual,
impedindo, nomeadamente:

a) que a criança seja Incitada ou coagida pelos pais, tutor, família de acolhimento,
representante legal ou terceira pessoa a dedicar-se a actividade sexual ilícita;
b) a exploração dá criança em actividade de prostituição ou outras práticas sexuais
ilícitas;
c) a exploração da criança em espectáculos ou materiais de pornografia;
d) que a criança seja usada em actos de pedofilia.

Com a provação desta lei houve necessidade de elevar as boas práticas dos tribunais e todas
instituições envolvidos no tratamento dos crimes de abuso sexual contra menores. Pelo que
passão, “necessariamente por uma correcta recolha e rigorosa apreciação das penas,

15
adequadas subsunção jurídica dos fatos e ponderada determinação da medida judicial da pena
Macaringue (2014).

Outro instrumento paralelo à lei a protecção da criança é a Lei n.º 1/2018: Lei da Revisão da
Constituição da Republica de Moçambique, aplicada segundo a realidade sociocultural
moçambicana. No n.º 1 do seu artigo 47 da Constituição 2004 estabelece que as crianças têm
direito à protecção e aos cuidados necessários ao seu bem-estar. O n.º 3 do mesmo artigo
acrescenta que todos os actos relativos às crianças, quer praticados por entidades públicas ou
privadas, devem ter em conta o superior interesse da criança. É nosso entender que isso se
estenda aos actos legislativos.

Atendimento das vítimas do abuso sexual

No que diz respeito ao atendimento dos menores vítimas de abuso sexual no meio intra-
familiar em Moçambique o artigo 20 da Lei n.º 7/2008 de 9 de Julho, estabelece que os casos
em que há suspeita ou confirmação de maus tratos, abuso ou violência contra a criança,
devem ser obrigatoriamente comunicados à autoridade policial mais próxima, sem prejuízo de
outras providências legais.

Manita, Ribeiro, e Peixoto, (2009) sustentam que os crimes do abuso sexual devem ser
denunciados à polícia, para que se possam levar a cabo todos os procederes imprescindíveis
para deliberar o problema, mas para a resolução do problema ocorrer de forma mais eficaz, é
necessário que a vítima tenha noção do tipo de processo em que se vai envolver. Para tal, é
imperativo que lhe seja prestado um atendimento adequado e que seja feito um posterior
encaminhamento para a rede de instituições de apoio.

Devido à complexidade do crime de abuso sexual efectuado pela própria família, as suas
vítimas necesitam de um tratamento peculiar por parte das forças de segurança e, como tal,
cada vez mais, se tem evolucionado no sentido de fazer com que a vítima se sinta da melhor
forma possível, diminuindo os constrangimentos a que pode estar sujeita quando se desloca
junto de uma força policial para denunciar o crime de que foi alvo Abreu (2012).

Assim sendo, quem proceder ao atendimento da vítima, de acordo com Manita, Ribeiro, e
Peixoto (2009, citado por Abreu 2012, p. 32) “[…] deverá adoptar uma atitude positiva,
empática e adequada, deverá tentar tranquilizar a vítima e validar as suas tomadas de decisão,
sem subestimar nem banalizar os factos relatados.

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Encaminhamento das Vitimas

Após a vítima ser atendida pela entidade das forças de segurança, esta tem necessidades de
vária ordem que devem ser supridas e, como tal, a mesma deve ser encaminhada para serviços
especializados (gabinete de atendimento a menores vitimas de violência) que a ajudem na
resolução dos seus problemas.

Assim, é indispensável que os profissionais especializados tenham informação de todos os


recursos disponíveis na sua zona de acção, bem como, devem estar cientes do modo de
funcionamento das várias instituições às quais podem recorrer (Nações Unidas, 2003).

Para superar a situação pela qual passou, a vítima pode necessitar de apoio psicológico, social
ou financeiro, por isso, deve ser encaminhada para os serviços que a podem ajudar no
processo de superação. Instituições como centro de atendimento dos menores vítimas do
abuso sexual. Também as vítimas são encaminhadas para instituições/entidades de apoio
adequadas e competentes, na área da saúde (psicologia, hospitais, instituto de medicina legal)
e da segurança social fumo (2016).

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CAPITULO III

METODOLOGIA DE PESQUISA

Segundo (Lakatos & Marconi 2003, apud Mubarak, 2020), metodologia é “um conjunto das
actividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o
objectivo - conhecimentos válidos e verdadeiro, traçando o caminho a ser seguido, detectando
erros e auxiliando as decisões do cientista”..

Abordagem metodológica
De acordo com a visão da sua natureza trata-se de uma pesquisa qualitativa. Nestes termos,
para realização deste trabalho utilizaremos métodos qualitativos dado que pesquisa qualitativa
tem o ambiente natural como fonte directa de dados. No entanto, o estudo de casos
qualitativos “caracteriza-se pelo seu carácter descritivo, indutivo, particular e a sua natureza
heurística pode levar à compreensão do próprio estudo.
Pesquisa Bibliográfica

Segundo Marconi e Lakatos (2003, citado em apud Mubarak, 2020), a pesquisa bibliográfica
é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material acessível para o público bem
geral.

Este é o primeiro passo que a pesquisa teve como suporte, buscando obras diferentes que
abordam sobre à análise jurídica do conteúdo da bibliografia recolhida que corresponda ao
objecto de estudo do presente trabalho, atenta à legislação inerente ao Direito moçambicano
como também a do direito internacional público.

Procedimentos: Técnicas de recolha dos dados           


Constituem procedimentos: Pesquisa do campo, entrevista, questionário.

De acordo com Vergara (2019, p. 45), a pesquisa de campo “é feita no local onde ocorre ou
ocorreu um determinado fenómeno, havendo nestes elementos que permitam explicá-lo,
sendo os dados colectados por intermédio de entrevistas, questionários, testes ou observação
participativa.”

A entrevista

A entrevista foi a técnica qualitativa de recolha de dados seleccionada para efectuar a presente
pesqueisa, uma vez que a sua grande vantagem em relação a outras técnicas qualitativas é o
facto de permitir a captação imediata e corrente da informação que se deseja (Lüdke e André,
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1986, cit. por Oliveira, 2008). Visto que se procurou analisar os abusadores intra-familiares
em relação, principalmente, a experiências de abuso sexual na infância e distorções
cognitivas. Portanto, a entrevista foi o método mais adequado para chegar a uma mais
aprofundada análise destas complexas variáveis e influência que poderão ter na conduta
sexualmente abusiva.

Procedeu-se também em específico, o empregue da entrevista semi-estruturada por


proporcionar mais liberdade e flexibilidade ao entrevistador e entrevistado ao permitir que se
elabore um guião semi-estruturado, no qual constam tópicos/perguntas previamente
elaborados, mas ao qual se pode fazer modificações/remoções/adições durante a entrevista
(Duarte, 2004).

Inquérito

De acordo com Mubarak, (2020: 47), o questionário é um instrumento de colecta de dados,


constituído por uma série de perguntas ordenadas que devem ser respondidas por escrito e
sem a presença do pesquisador. Neste contexto, elaborou-se algumas fichas onde os dados
possíveis de obter foram então colhidos, na sua totalidade, para a ficha final. Esta ficha
permitiu caracterizar (por vezes ainda que sumariamente) as vítimas, os abusadores, o facto
criminoso (tipo e circunstâncias) e o consentimento prestado.

População e amostra
Para a concretização deste desta pesquisa, foram necessários cerca de 30 participantes,
obtidos por meio de um método de amostragem não probabilístico, por conveniência.
Tratando-se de um estudo de cariz qualitativo, a amostra é mais reduzida do que em estudos
quantitativos. Os participantes foram alguns julgados e condenados por abuso sexual de
crianças de acordo com os termos do artigo 179º do Código Penal (Lei n.º 24/2019). Desses
30 participantes, 10 foram abusadores sexuais intra-familiares (que tenham ofendido contra
criança da sua família biológica ou adoptiva). A pesquisa tomou como amostra 5 profissionais
que intervém directamente nos casos de abuso sexual de menores, a fim de compreender
como são atendidas as vítimas do abuso sexual. A pesquisa também trabalhou com 7
membros do gabinete da PRM a fim de compreender ate que ponto é tomado as medidas de
acordo com o código penal actual. E por fim, a pesquisa num universo de 30 crianças a
pesquisa trabalhou com uma amostra de 8 crianças vítimas do abuso sexual com seu próprio
familiar.

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