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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA XXXXª VARA CÍVEL DO FORO DA COMARCA DE PORTO

BELO - SC

Processo autuado sob o nº XXXX

JUCELIO, já qualificado nos autos da AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR
DANOS PELO RITO COMUM, de número em epígrafe, que move em face de JUAREAZ, vem, por seu procurador,
inconformado com a sentença proferida às fls. XXXX, IMPROCEDENTE interpor RECURSO DE APELAÇÃO nos
termos do artigo 1009 do Código de Processo Civil, pelas razões que seguem acostadas.

Requer que intime o recorrido para que ofereça as contrarrazões no prazo de 15 dias conforme disposto
no artigo 1003 §5º do Código Processo Civil.

Após os trâmites legais, sejam os autos encaminhados ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Santa
Catarina, esperando-se que o recurso, uma vez conhecido e processado na forma da lei, seja
integralmente provido.

Outrossim, que nos termos do art. 1007 do CPC, foram recolhidos o porte de remessa e retorno e o devido
preparo, o que se comprova pela guia devidamente quitada.

Termos em que, pede


deferimento.

XXXX, 28 de março de 2023


Nome e assinatura do advogado
Inscrição na OAB
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA.

APELANTE: JUCELIO
APELADO: JUAREZ
ORIGEM: processo n° XXXX, Juízo da XXXX Vara Cível da Comarca de Porto Belo - SC

RAZÕES DE APELAÇÃO

EGRÉGIO TRIBUNAL
ILUSTRES DESEMBARGADORES

Nos termos do art. 1.012 do CPC, requer seja o presente recurso conhecido e recebido nos efeitos suspensivo e
devolutivo.
Requer ainda que, que seja reconhecida a tempestividade do recurso e os demais requisitos de admissibilidade.

1. DOS FATOS

O apelante ajuizou ação de OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO PELOS DANOS
CAUSADOS em seu terreno em virtude da construção de um toldo realizado pelo apelado em sua propriedade.
Ademais, pleiteou a produção de prova testemunhal, documental e pericial.
Recebida a inicial, o doutor magistrado da X Vara Cível da Comarca de Porto Belo, determinou a
citação do réu, o qual sua defesa apresentou tempestivamente contestação, secundando a necessidade de
produção de prova pericial e testemunhal.
Ao sanar os autos, o eminente magistrado indeferiu o pedido de produção de prova pericial e
testemunhal por entender que os documentos já juntados nos aos autos eram suficientes, concedendo as partes
prazo para razões finais. Por fim, proferiu sentença julgando improcedente a ação, por entender que o apelado
detém o direito de construir o que for necessário em sua propriedade, negando, ainda, a indenização pleiteada
pelo apelante, diante da ausência de provas dos danos alegados.
Entretanto, como será demonstrado adiante, a sentença merece ser reformada.

2. RAZÕES PARA REFORMA

Conforme previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal de 1988, "a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito". Nesse sentido, é imprescindível que sejam
devidamente analisadas as razões demonstradas a seguir.
a DO INDEFERIMENTO DE PRODUÇÃO DE PROVAS TESTEMUNHAL E PÉRICIA
Uma das justificativas adotadas na sentença se diz respeito à ausência de provas dos danos causados
ao terreno. Todavia, convém salientar que o apelante requereu expressamente a produção de prova testemunhal,
tendo tal requerimento sido reiterado pelo apelado em sua contestação, entretanto, tal pedido foi indeferido pelo
magistrado sob a alegação de que os documentos constantes dos autos eram suficientes para a solução da lide.
Contudo, no que tange ao indeferimento de produção de provas é necessário observar no Código de
Processo Civil vigente em seu art. 370, Parágrafo único, onde descreve acerca dos motivos para indeferimento de
produção de prova.

Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias
ao julgamento do mérito.
Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente
protelatórias.

Nesse sentido, constata-se que, em regra geral, o indeferimento de produção de prova deve ocorrer
somente nos casos em que a prova requerida for considerada irrelevante, impertinente ou meramente
protelatória. Motivos nos qual não se enquadram no caso, uma vez que o único meio de resolução da lide é por
produção de provas para que se demonstre o dano causado.
Ainda no Código de Processo Civil vigente observamos aos requisitos para admissibilidade de prova
testemunhal:

Art. 442. A prova testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei de modo diverso.
Art. 443. O juiz indeferirá a inquirição de testemunhas sobre fatos:
I - já provados por documento ou confissão da parte;
II - que só por documento ou por exame pericial puderem ser provados.

Diante do exposto, verifica-se que o presente caso não se enquadra nas hipóteses de indeferimento
de prova previstas em lei, sendo, portanto, indispensável a produção da prova testemunhal, já requerida pelas
partes, para tratar acerca da construção do toldo pelo apelado.
No que se trata da produção de prova pericial observamos o Código de Processo Civil vigente em seu
Art. 464, parágrafo primeiro:

Art. 464. A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação.


§ 1º O juiz indeferirá a perícia quando:
I - a prova do fato não depender de conhecimento especial de técnico;
II - for desnecessária em vista de outras provas produzidas;
III - a verificação for impraticável.

Constata-se, assim, que as hipóteses de indeferimento previstas em lei não se aplicam ao presente
caso, tendo em vista que para Marcus Vinicius Rios Gonçalves “prova pericial é o meio adequado para a
comprovação de fatos cuja apuração depende de conhecimentos técnicos, que exigem o auxílio de profissionais
especializados”. (Gonçalves, Marcus Vinícius Rios. Direito processual civil esquematizado. 8. ed. - São Paulo:
Saraiva, 2017. p. 674). Sendo assim, é indispensável a perícia para a confirmação da magnitude dos danos
causados ao terreno do apelante.

b DO DIREITO DE CONSTRUÇÃO DO APELADO


O magistrado, em sua sentença, justifica que o apelado possui o direito de construir em sua
propriedade o que for necessário. No entanto, tal entendimento está em controvérsia com o disposto no Código
Civil vigente, onde se trata dos Direitos de Vizinhança, uma vez que estabelece o art. 1.300 deste código que “O
proprietário construirá de maneira que o seu prédio não despeje águas, diretamente, sobre o prédio vizinho.".
Ainda a corroborar o exposto acima, insta transcrever o entendimento do renomado Paulo Lôbo que
preleciona:

"Seguindo a tradição arquitetônica portuguesa, as casas e sobrados construídos em


áreas centrais das cidades brasileiras eram contíguos ou com recuos estreitos. Daí
que se justifique a permanência da regra do art. 1.300 do Código Civil, segundo a
qual o proprietário construirá de maneira que o seu prédio não despeje águas
diretamente no imóvel vizinho, que se incluía na actio de effusis et dejectis dos
romanos. Ou do Código de Águas (art. 105), de que o proprietário edificará de
maneira que o beiral de seu telhado não despeje sobre o prédio vizinho, deixando
entre este e o beiral, quando por outro modo não o possa evitar, um intervalo de 10
centímetros, quando menos, de modo que as águas se escoem. Quando a
legislação municipal admitir que a edificação possa ir até o limite do terreno, terá
de ser feita de modo a que as águas pluviais, correntes ou servidas não vertam ou
sejam despejadas no imóvel vizinho." (LÔBO, Paulo. Direitos e conflitos de
vizinhança. Revista Brasileira de Direito Civil, volume 1, p. 61-87, jul/set, 2014).

Grifos nossos.
Bem como, constatado na jurisprudência que versa sobre o despejo irregular de água em prédio
vizinho:
CIVIL - DIREITO DE VIZINHANÇA - CONSTRUÇÃO IRREGULAR - DESPEJO DE
ÁGUAS EM PRÉDIO VIZINHO - DANOS - CC/2002, ART. 1.300 Evidenciado
que o descumprimento do disposto no art. 1.300 do Código Civil - "o
proprietário construirá de maneira que o seu prédio não despeje águas,
diretamente, sobre o prédio vizinho" - causou prejuízo ao imóvel lindeiro,
resta configurado o ilícito gerador da obrigação de indenizar os
consequentes danos materiais. (TJSC, Apelação n. 0003849-
28.2008.8.24.0075, de Tubarão, rel. Luiz Cézar Medeiros, Quinta Câmara de
Direito Civil, j. 01-08-2016).

Atribui-se, dessa forma, a responsabilidade ao proprietário do prédio pela construção de sistema


adequado de escoamento das águas da chuva em seu terreno. Uma vez que o seu vizinho possui apenas a
responsabilidade das águas de seu terreno.

3. REQUERIMENTO DE REFORMA

Por todo o exposto, o Apelante requer a esse Egrégio Tribunal de Justiça que o presente recurso de
apelação seja conhecido e em relação ao mérito, lhe seja dado total provimento para que a reforma da sentença
recorrida mediante o deferimento de produção de prova testemunhal e o reconhecimento da responsabilidade
civil do apelado quanto as águas em seu terreno.

Termos em que,
pede deferimento.

XXXX, 28 de março de 2023


Nome e assinatura do advogado
Número de inscrição na OAB

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