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CERS

Carreiras Jurídicas

DIREITO
PREVIDENCIÁRIO
CAPÍTULO 1
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você que
está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do nosso

CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte nas
revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas, razão
pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o capítulo
03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada no

estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso, nem
todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

1
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para os concursos de Carreiras Jurídicas. Preparamos todo esse


material para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade,
garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de forma inteligente.

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,

pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo


completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a

estrutura do PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada

capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para

a gente!

O que você vai encontrar aqui?

● Recorrência da disciplina e de cada assunto dentro dela

● Questões comentadas

● Questão desafio para aprendizagem proativa

● Jurisprudência comentada

2
● Indicação da legislação compilada para leitura

● Quadro sinótico para revisão

● Mapa mental para fixação

Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar a
sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que um
objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o
estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF!

Bons estudos 

3
SOBRE ESTA DISCIPLINA

Daremos, agora, início ao estudo da disciplina de Direito Previdenciário. A matéria


apresenta grandes conexões com o Direito Público de maneira geral, demandando do aluno a

leitura atenta do texto constitucional, bem como de leis esparsas.

Trata-se de matéria muito cobrada nos certames para o ingresso na magistratura federal
e na advocacia pública de todos os entes federativos. Compreender satisfatoriamente o Direito
Previdenciário será fundamental para que o aluno garanta pontos valiosos em prova. E isto é
algo simples de se alcançar.

Afinal, além de não ter conteúdo muito extenso, o Direito Previdenciário apresenta uma
lógica e base legal sólida, que facilitam bastante o estudo. Por fim, não é exagero, mas os

assuntos são super interessantes e corriqueiros, ainda mais no período de crise econômica e
previdenciária que vivenciamos hoje. Por isso, convidamos você, querido aluno, a mergulhar no

estudo do direito previdenciário! Vamos juntos!

Veja abaixo como se dá a distribuição macro da recorrência dessa disciplina:

4
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA

A partir da análise das últimas provas da carreira de Titular de serviços de Notas e de Registros,

verificou-se que a disciplina de Direito Penal possui grande recorrência. Através destes dados, identificou-
se quais os temas mais cobrados na disciplina de Direito Penal.

3% 1% 2%
5%
7%

17%

65%

RGPS - Lei n° 8.213/1991

Seguridade social

Da assistência social

Regime Geral da Previdência Social - RGPS

Previdência Complementar (Lei Complementar nº 109/2001)

Seguridade Social do Servidor Público

TEMAS RECORRÊNCI
A
5
RGPS - Lei n° 8.213/1991 
Seguridade social 
Da assistência social 
Regime Geral da Previdência Social - RGPS 
Previdência Complementar (Lei Complementar nº 109/2001) 
Seguridade Social do Servidor Público 
Lei nº 12.618/2012 (Regime de Previdência Complementar para os

Servidores Públicos Federais)
Dos regimes de previdência social existentes 
Lei Complementar nº 108/2001 
Impactos da Lei nº 13.467/2017 na Previdência Social 

6
Assim, os assuntos de Direito Previdenciário estão distribuídos da seguinte forma:

CAPÍTULOS

Capítulo 1 (você está aqui!) – Da Seguridade Social 

Capítulo 2 – Da Previdência Social: Regimes Previdenciários e



Aspectos da Lei 8.212/91
Capítulo 3 – Dos Segurados e dos Contribuintes do Regime Geral de

Previdência Social
Capítulo 4 – Das Contribuições ao Regime Geral de Previdência Social 
Capítulo 5 – Do salário de contribuição 
Capítulo 6 – Das Prestações em geral do Regime Geral de Previdência

Social
Capítulo 7 – Do Regime Próprio de Previdência Social 
Capítulo 8 – Da Previdência Complementar 
Capítulo 9 – Da Previdência Complementar dos Servidores Públicos

Federais e Impactos da Lei nº 13.467/2017 na Previdência Social

7
SOBRE ESTE CAPÍTULO

O presente capítulo vai tratar sobre a Seguridade Social, pois, apesar de nossa matéria ser
Direito Previdenciário, é essencial iniciarmos o estudo da disciplina compreendendo sua base
constitucional e os acontecimentos históricos que viabilizaram a configuração atual do tema.
Por ser disciplinado expressamente na CF/88, o assunto também é cobrado em muitos editais
na disciplina de Direito Constitucional.

Vale destacar que se trata de conteúdo muito relevante para todas as carreiras jurídicas, em
especial os concursos da Advocacia Pública, da Magistratura Federal e da Defensoria Pública,
tanto federal, quanto estadual. Em relação a Defensoria Pública e a Magistratura Federal, tenha
atenção redobrada quando se falar nos princípios constitucionais da Seguridade e em benefícios
assistenciais, especialmente o Benefício de Prestação Continuada – BPC.

Ao estudar a Seguridade Social, fique bem atento aos princípios que regem o tema e para
as diferenças entre os subsistemas da Saúde, Assistência Social e Previdência Social. Uma forma
de estudo bem legal é você ler os dispositivos constitucionais pertinentes ao assunto pelo site
do planalto, onde também é possível acessar a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
relativa a cada dispositivo.

No mais, trata-se de assunto relativamente curto, sem grandes dificuldades ou divergências


jurisprudenciais, mas em relação ao qual a memorização da Constituição trará grande vantagem
em prova.

Vamos, juntos, conhecer esse assunto maravilhoso e a disciplina linda iniciada aqui!

8
SUMÁRIO

DIREITO PREVIDENCIÁRIO ................................................................................................................... 11

Capítulo 1 ................................................................................................................................................ 11

1. Seguridade Social: Conceitos e Princípios ................................................................................ 11

1.1 Aspectos Introdutórios .......................................................................................................................................................11

1.1.1 Surgimento da Previdência e da Seguridade Social .............................................................................................11

1.1.2 Breve histórico da Seguridade Social no Brasil .......................................................................................................14

1.2 Seguridade Social na CF/88 .............................................................................................................................................16

1.2.1 Saúde ..........................................................................................................................................................................................19

1.2.2 Assistência social ...................................................................................................................................................................24

1.2.3 Previdência social ..................................................................................................................................................................28

1.3 Princípios da Seguridade Social .....................................................................................................................................31

1.3.1 Universalidade da cobertura e do atendimento .....................................................................................................32

1.3.2 Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais ...................33

1.3.3 Seletividade e Distributividade na prestação dos benefícios e serviços ......................................................33

1.3.4 Irredutibilidade do valor dos benefícios .....................................................................................................................35

1.3.5 Equidade na forma de participação no custeio ......................................................................................................38

1.3.6 Diversidade da base de financiamento .......................................................................................................................39

1.3.7 Precedência da fonte de custeio....................................................................................................................................40

1.3.8 Caráter democrático e descentralizado da administração .................................................................................42

1.3.9 Gestão Quadripartite ...........................................................................................................................................................42

1.3.10 Anterioridade nonagesimal ou mitigada ....................................................................................................................43

1.3.11 Princípio da solidariedade .................................................................................................................................................44

1.3.12 Orçamento Diferenciado ....................................................................................................................................................46

9
QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 49

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 53

GABARITO ............................................................................................................................................... 65

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 66

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 67

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 69

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 70

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 74

10
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Capítulo 1

Querido aluno, seja bem-vindo ao nosso curso de Direito Previdenciário!

Neste primeiro capítulo, vamos estudar a história, os conceitos, os princípios e subsistemas


da seguridade social. Trata-se de tema retirado diretamente da Constituição Federal de 1988.

Iniciaremos nosso estudo, explorando o histórico da Previdência e da Seguridade Social no


mundo e no Brasil, até chegarmos ao regramento constitucional vigente hoje. A partir disso,
estudaremos os aspectos mais importantes que a CF/88 traz sobre o assunto.

Vamos juntos!

1. Seguridade Social: Conceitos e Princípios

1.1 Aspectos Introdutórios

1.1.1 Surgimento da Previdência e da Seguridade Social

Caro aluno, embora o histórico da seguridade social seja, por vezes, um tema considerado
pouco recorrente, por cautela e para lhe possibilitar um aprendizado mais completo – e,
inclusive, facilitar, mais adiante, a compreensão das reformas previdenciárias – optamos por
detalhar esse assunto aqui. Vamos iniciar trazendo um panorama da assistência e previdência
social pelo mundo.

Previdência Social é um termo oriundo do latim pre videre, significando a busca pela
antecipação das contingências sociais e a composição delas1, para impedir a indigência social.

1
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 2013. P.287.
11
Inicialmente, não existia muita distinção entre previdência e assistência. Desta maneira, a
previdência social pode ter a sua história dividida em quatro principais fases, a experimental, a
de consolidação, a de expansão e a de redefinição2.

1)Experimental 2)Consolidação

3)Expansão 4)Redefinição

O primeiro momento histórico aqui estudado remete ao modelo inaugurado por Otto von
Bismarck na Alemanha em 18833, centrado na capitalização individual dos segurados do sistema,
à semelhança de um seguro individual4. Houve, ainda, nesta época, outras iniciativas legislativas
em sentido semelhante por toda a Europa, a exemplo da Lei de Reparação a Acidentes de
Trabalho, promulgada em 1907 na Inglaterra5.

2
CRUZ, Paulo Márcio. Poder, Política, Ideologia e Estado Contemporâneo. Florianópolis: Diploma Legal,
2001. P.231.

3
CAMPOS, Marcelo Barroso Lima Brito de. Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores Públicos.
Curitiba: Juruá, 2012. p.34.

4
AFONSO, Luís Eduardo. Uma estimativa dos aspectos distributivos da Previdência Social no Brasil. São
Paulo: Tese de Doutorado em Economia da USP, 2003. P.23.

5
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. São Paulo:
Conceito Editorial, 2011. P.42.
12
Na fase de consolidação, segundo momento do histórico aqui relacionado, verifica-se a
constitucionalização de direitos sociais e políticos, com destaque para a Constituição Mexicana
de 1917, seguida pela Constituição de Weimar, de 1919.

A expansão da Previdência Social, terceira etapa aqui estudada, deu-se após a Segunda
Guerra Mundial, quando ganharam espaço as ideias do economista inglês John Maynard Keynes,
que apregoava a necessidade de uma maior intervenção do Estado, a fim de assegurar a melhor
distribuição de renda6. As propostas de Keynes foram aprofundadas na Inglaterra em 1944, com
o Plano Beveridge, responsável por instituir um regime de repartição em que toda a sociedade
contribui para a criação de um fundo previdenciário único, do qual são retiradas as prestações
para aqueles que venham a ser atingidos por alguma das hipóteses de risco social, assim
previstas na lei7.

Em decorrência deste processo, surgiram duas formas fundamentais de proteção social, uma
firmada na ideia de capitalização individual, o modelo bismarckiano, e outra respaldada na
repartição entre toda a sociedade dos custos previdenciários, o beveridgeano.

A Previdência desenvolveu-se, então, como mecanismo de proteção individual e social,


refletindo o propósito estatal de tornar mais efetivo o amparo aos administrados, evitando-se a
necessidade de reparar danos futuros mais custosos8. Todo este desenvolvimento histórico
retrata, por isso, uma mudança nas preocupações do Estado, que foi assumindo compromissos
sociais.

De modo simultâneo à ampliação da previdência social enquanto atividade de incumbência


essencialmente estatal, as crises econômicas, o decréscimo demográfico, a automação e o

6
CRUZ, Paulo Márcio. Poder, Política, Ideologia e Estado Contemporâneo. Florianópolis: Diploma Legal,
2001. P.233.

7
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. São Paulo:
Conceito Editorial, 2011. P.44.

8
IBRAHIM, Fábio Zambitte. A previdência social como direito fundamental. Disponível em: <
http://www.impetus.com.br/noticia/download/21/a-previdencia-social-como-direito-fundamental>. Acesso em: 23
Out.2016. P.11.
13
aumento nos gastos públicos9 acenderam os questionamentos sobre os papéis assumidos pelo
Estado nos sistemas públicos de previdência. Eis aí a crise que conduziu à fase atualmente
vivenciada: a necessidade de redefinição da Previdência Social.

1.1.2 Breve histórico da Seguridade Social no Brasil

Primeiramente, guarde que, no Brasil, em movimento semelhante ao ocorrido no mundo


inteiro, conforme vimos no tópico anterior, as primeiras formas de proteção social possuíam
caráter beneficente e assistencial. Algumas delas datam, inclusive, do período colonial. Desta
forma, as primeiras espécies de aposentadoria foram, em grande parte, concedidas sem
vinculação alguma a qualquer contribuição prévia e eram voltadas ao funcionalismo público do
Brasil. Assim ocorreu na Constituição de 1891, que previu aposentadoria por invalidez aos
servidores públicos.

Segundo Carlos Alberto Lazzari, as normas de previdência social indicam uma tendência
existente desde o Império, segundo a qual a extensão de benefícios, no Brasil, parte sempre de
uma categoria para a coletividade, e inicia-se no serviço público para depois se estender aos
trabalhadores da iniciativa privada10.

A doutrina majoritária aponta que apenas em 1917, com a Lei Eloy Chaves, responsável por
criar as Caixas de Aposentadorias e Pensões nas empresas de estradas de ferro existentes, houve
o primeiro marco da Previdência Social no Brasil.

A Constituição de 1934 foi a primeira a prever a forma tripartite de custeio: contribuição dos
empregadores, dos trabalhadores e do Poder Público. Em seguida, a Constituição de 1937 não
trouxe grandes inovações, mas se destacou por ter usado, pela primeira vez, a expressão ``seguro
social``. Tenha atenção a isso, porque o assunto já foi cobrado por uma questão da CEBRASPE.
Inclusive, o histórico da seguridade social no Brasil já foi cobrado em provas de concursos para
a Defensoria Pública.

9
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. São Paulo:
Conceito Editorial, 2011. P.44.
10
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. P.101.
14
A Constituição de 1946 trouxe normas sobre previdência no capítulo dos Direitos Sociais,
obrigando, a partir de então, o empregador a manter seguro de acidentes de trabalho. Foi a
primeira tentativa de sistematização constitucional de normas de âmbito social e a primeira
Constituição brasileira a empregar a expressão “previdência social”.

Em 1965, Emenda Constitucional estabeleceu o princípio da precedência da fonte de custeio


em relação à criação ou majoração de benefícios. Logo depois, em 1967, foram unificados os
Institutos de Aposentadorias e Pensões, criando-se o Instituto Nacional de Previdência Social.
Abrindo um comentário aqui: quem de nós nunca ouviu os mais velhos chamando o atual INSS
de INPS? Está aí a explicação!

A Constituição de 1967 criou o seguro-desemprego, regulamentando-o com o nome de


``auxílio-desemprego``. Ainda neste mesmo ano, foi incorporado à Previdência Social o Seguro
de Acidentes de Trabalho. Por fim, a EC 01/69 ou Constituição de 1969 não inovou em matéria
previdenciária.

Como veremos em breve, a Constituição de 1988 detalhou e aumentou o sistema brasileiro


de Seguridade Social. O que antes era denominado, genericamente, de ``Previdência Social`` foi
agora dividido em três vertentes: Assistência Social, Previdência Social e Saúde. Porém, não custa
mencionar que, mesmo antes da atual Constituição, já existiam esforços no sentido de transferir
recursos da Previdência Social para o então Sistema Único Descentralizado de Saúde.

Guarde, ainda, a relação entre a evolução da seguridade social e as gerações de direitos


fundamentais/ expansão dos direitos fundamentais, tema estudado em Direito Constitucional,
pois isso pode ser extremamente útil em uma prova, sobretudo discursiva. Inclusive, atualmente,
a seguridade social ostenta, no Brasil, caráter de direito fundamental de segunda e terceira
dimensões, pois apresenta natureza prestacional positiva (segunda dimensão) – ou seja, implica
na atuação positiva do Estado – e coletiva (terceira dimensão), por ser direito coletivo11.

Tenha em mente, também, que a seguridade social, desde suas origens, busca proteger a
pessoa contra os riscos sociais, a exemplo da morte, do desemprego, da doença, dentre outros.
Então, ao estudar a seguridade social e especialmente os benefícios do direito previdenciário,

11
AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopses para Concursos. Vol.27. Salvador: Juspodivm, 2018.
P.24.

15
lembre-se de questionar qual o risco social cuja proteção está sendo buscada. Isso vai facilitar
bastante o aprendizado.

Por fim, trouxemos o quadrinho seguinte pra você entender melhor a evolução histórica aqui
estudada:

Diploma Legislativo Principal Contribuição


Constituição de 1891 Aposentadoria por invalidez aos servidores públicos;
Lei Eloy Chaves de Criou as Caixas de Aposentadorias e Pensões nas empresas de
1917 estradas de ferro existentes;
Primeira a prever a forma tripartite de custeio: contribuição dos
Constituição de 1934
empregadores, dos trabalhadores e do Poder Público;
Constituição de 1937 Usado, pela primeira vez, a expressão ``seguro social``;
Primeira tentativa de sistematização constitucional e primeira vez
Constituição de 1946 em que uma Constituição brasileira utilizou a expressão
``previdência social``.
Emenda Constitucional Estabeleceu o princípio da precedência da fonte de custeio em
de 1965 relação à criação ou majoração de benefícios;
Criou o seguro-desemprego, com o nome de ``auxílio-
Constituição de 1967
desemprego``;
EC 01/69 ou
Não inovou em matéria previdenciária;
Constituição de 1969
Detalhou e aumentou o sistema brasileiro de Seguridade Social,
Constituição de 1988
dividindo-o em Assistência Social, Previdência Social e Saúde.

1.2 Seguridade Social na CF/88

Por ser um instituto tão importante, o conceito de Seguridade Social é dado pela própria
Constituição, observe:

16
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa
dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde,
à previdência e à assistência social.

Dessa forma, a Seguridade Social consiste num conjunto de ações integradas que têm a
finalidade de assegurar os seguintes direitos:

● Saúde

● Previdência

● Assistência Social

A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a instituir no Brasil o sistema da seguridade


social, que significa segurança social, englobando as ações na área da previdência social, da
assistência social e da saúde pública, e que contará com um orçamento específico na lei
orçamentária anual.

Enquanto a saúde e a assistência social são subsistemas não contributivos, a previdência


social é um subsistema contributivo.

Inclusive, para aprofundarmos mais um pouco o tema do custeio da seguridade social, Pedro
Lenza lembra que o STF interpretou de maneira ampla a destinação do dever de custeio da
seguridade social, o que torna necessário distinguir a imunidade prevista no art. 155, § 3.º, da
CF/8812.

A redação anterior à dada pela EC n. 33/2001 estabelecia: “À exceção dos impostos de


que tratam o inciso II do caput deste artigo e o art. 153, I e II, nenhum outro tributo poderá
incidir sobre operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de
petróleo, combustíveis e minerais do Pais”. Posteriormente, a mencionada Emenda
Constitucional estabeleceu que nenhum imposto poderia incidir neste caso.

Diante desta mudança de redação, muitos passaram a defender que, antes da EC n. 33/2001,
a imunidade constitucional incluiria também as contribuições para o financiamento da
seguridade social.

12
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2016. P.1412.
17
Todavia, o STF entendeu de forma diversa. Para a Corte, o referido art. 155, § 3.º deve ser
harmonizado com o art. 195, caput, consoante a ementa abaixo expressou:

“‘COFINS. PIS. Distribuidoras de derivados de petróleo, mineradores, distribuidoras de


energia elétrica e executoras de serviços de telecomunicações. O Supremo Tribunal
Federal (sessão do dia 1.º-7-99), concluindo o julgamento dos Recursos Extraordinários
ns. 205.355 (Ag.Rg); 227.832; 230.337; e 233.807, Rel. Min. Carlos Velloso, abrangendo as
contribuições representadas pela COFINS, pelo PIS e pelo FINSOCIAL sobre as operações
relativas a energia elétrica, a serviços de telecomunicações, e a derivados de petróleo,
combustíveis e minerais, entendeu que, sendo elas contribuições sociais sobre o
faturamento das empresas, destinadas ao financiamento da seguridade social, nos termos
do art. 195, caput, da Constituição Federal, não lhes é aplicável a imunidade prevista no
art. 155, § 3.º, da Lei Maior’ (RE 224.964, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em 9-11-99,
DJ, 04.02.2000). No mesmo sentido: RE 144.971-DF” (RE 230.337, Rel. Min. Carlos Velloso,
j. 1.º.07.1999, DJ de 28.06.2002).

Nessa linha, o STF editou o seu enunciado 659, nos seguintes termos: “É legítima a cobrança
da COFINS, do PIS e do FINSOCIAL sobre as operações relativas a energia elétrica, serviços de
telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do país”.

Por fim, vale a pena chamar a sua atenção para um ponto relevante e, de quebra, fazer um
link com Direito Constitucional: note que, em regra, caberá privativamente à União legislar sobre
seguridade social. Mas, será concorrente entre as entidades políticas a competência para legislar
sobre previdência social, proteção e defesa da saúde, dos portadores de deficiência, da infância
e juventude.

Esses três direitos acima citados – saúde, assistência social e previdência - são, na verdade,
as espécies do gênero “seguridade social”. Vamos estudar os detalhes gerais de cada uma dessas
espécies agora. Ainda, precisamos destacar que o presente assunto já foi cobrado em provas
de magistratura federal e em provas de procuradorias estaduais.

18
1.2.1 Saúde

De acordo com o artigo 196 da Constituição, a saúde é um direito de todos e um dever do


Estado. Isso significa que qualquer pessoa, rica ou pobre, pode fazer uso do sistema de saúde
público brasileiro, independentemente de ter contribuído ou não com o custeio da Seguridade
Social.

Iremos tratar da assistência social a seguir, mas, desde já, observe que, enquanto a saúde
será prestada a todos, indistintamente, a assistência social será disponibilizada a quem dela
necessitar. Esse detalhe importa muito em provas!

A incidência do princípio da solidariedade revela-se muito intensa no referente ao direito à


saúde, quanto ao SUS. Por isso, o STF já fixou a inconstitucionalidade da diferença de classes –
a saber, o pagamento por acomodações melhores – no SUS13.

De acordo com Frederico Amado, ``a saúde pública consiste no dever fundamental as
medidas preventivas ou curativas de enfermidades, sendo dever estatal presta-las
adequadamente a todos, tendo a natureza jurídica de serviço público gratuito, pois prestada
diretamente pelo Poder Público ou por delegatários habilitados por contrato ou convênio, de
maneira complementar, quando o setor público não tiver estrutura para dar cobertura a toda a
população``14.

Diante do caráter de direito social da saúde, ressalta-se, ainda, que a Suprema Corte brasileira
já decidiu pela possibilidade de o Poder Judiciário obrigar o Estado a manter quantidade mínima
de medicamentos em estoque15.

13
STF. Plenário. RE 581488/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/12/2015 (repercussão geral) (Info 810).
14
AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopses para Concursos. Vol.27. Salvador: Juspodivm, 2018. P.76.
15
STF. 1ª Turma. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25/6/2014 (Info 752).
19
O Supremo Tribunal Federal, ao analisar o RE 393.175/RS, em 2006, fixou importante
precedente sobre o direito em tela, nos seguintes termos:

O caráter programático da regra inscrita no art. 196 da Carta Política - que tem por
destinatários todos os entes políticos que compõem, no plano institucional, a organização
federativa do Estado brasileiro (JOSÉ CRETELLA JÚNIOR, "Comentários à Constituição de
1988", vol. VIII/4332-4334, item n. 181, 1993, Forense Universitária) - não pode converter-
se em promessa constitucional inconseqüente, sob pena de o Poder Público, fraudando
justas expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir, de maneira ilegítima, o
cumprimento de seu impostergável dever, por um gesto irresponsável de infidelidade
governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do Estado.

Nesse contexto, incide, sobre o Poder Público, a gravíssima obrigação de tornar efetivas
as prestações de saúde, incumbindo-lhe promover, em favor das pessoas e das
comunidades, medidas - preventivas e de recuperação -, que, fundadas em políticas
públicas idôneas, tenham por finalidade viabilizar e dar concreção ao que prescreve, em
seu art. 196, a Constituição da República.

O sentido de fundamentalidade do direito à saúde - que representa, no contexto da


evolução histórica dos direitos básicos da pessoa humana, uma das expressões mais
relevantes das liberdades reais ou concretas - impõe ao Poder Público um dever de
prestação positiva que somente se terá por cumprido, pelas instâncias governamentais,
quando estas adotarem providências destinadas a promover, em plenitude, a satisfação
efetiva da determinação ordenada pelo texto constitucional.

Vê-se, desse modo, que, mais do que a simples positivação dos direitos sociais - que
traduz estágio necessário ao processo de sua afirmação constitucional e que atua como
pressuposto indispensável à sua eficácia jurídica (JOSÉ AFONSO DA SILVA, "Poder
Constituinte e Poder Popular", p. 199, itens ns. 20/21, 2000, Malheiros) -, recai, sobre o
Estado, inafastável vínculo institucional consistente em conferir real efetividade a tais
prerrogativas básicas, em ordem a permitir, às pessoas, nos casos de injustificável
inadimplemento da obrigação estatal, que tenham elas acesso a um sistema organizado
de garantias instrumentalmente vinculadas à realização, por parte das entidades
governamentais, da tarefa que lhes impôs a própria Constituição.

20
Os serviços de saúde são de relevância pública e, como tais, são regulamentados, fiscalizados
e controlados pelo Poder Público. E a execução, professor? A execução dos serviços de saúde
não precisa ser feita necessariamente pelo Poder Público, observe:

CF Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder
Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por
pessoa física ou jurídica de direito privado.

A execução, como visto, pode ser feita:

● Diretamente pelo Poder Público

● Por terceiros

● Por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado

A participação de particulares e empresas no âmbito da saúde é permitida. Neste ponto,


fique atento, pois, fazendo um link com o Direito Administrativo, a saúde consiste em serviço
público não exclusivo (ver referência Matheus Carvalho). Inclusive, há precedentes do STF no
sentido de ser o direito à saúde prestação de obrigação solidária entre Estados, Distrito Federal,
Municípios e União. Trazendo uma distinção a este entendimento, em julgado recente, de 2019,
o, o STF já estabeleceu que as ações que demandem o fornecimento de medicamentos sem
registro na ANVISA deverão ser propostas necessariamente em face da União16.

No entanto, existem alguns detalhes que precisam ser observados, especialmente as


vedações trazidas pelo art.199 da CF/88:

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§ 1º - As instituições privadas poderão participar de forma complementar do sistema


único de saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito público ou
convênio, tendo preferência as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos.

§ 2º É vedada a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções às


instituições privadas com fins lucrativos.

16
Vide: STF. Plenário. RE 855178 ED/SE, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2019
(Info 941).
21
§ 3º É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na
assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei.

§ 4º A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos,


tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como
a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo
tipo de comercialização.

As ações e os serviços de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e


constituem um sistema único. As diretrizes seguidas por esse sistema são as seguintes:

● Descentralização

● Atendimento integral

● Participação da comunidade

Para complementar a presente exposição, leia atentamente o seguinte dispositivo:

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos
da lei:

I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde


e participar da produção de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos,
hemoderivados e outros insumos;

II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do


trabalhador;

III - ordenar a formação de recursos humanos na área de saúde;

IV - participar da formulação da política e da execução das ações de saneamento básico;

V - incrementar, em sua área de atuação, o desenvolvimento científico e tecnológico e a


inovação;

VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu teor nutricional,


bem como bebidas e águas para consumo humano;

VII - participar do controle e fiscalização da produção, transporte, guarda e utilização de


substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;

VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

22
Em tempo, fique atento para a EC 86/2015, que estabeleceu em 15% o percentual mínimo a
ser investido pela União em ações e serviços públicos de saúde, tendo criado regra de transição,
segundo a qual o percentual de investimentos cresceu de 2016 a 2020. Assim, o percentual de
investimento em 2016, ano subsequente a promulgação da emenda, foi 13,2%, passando para
13,7%, 14,1%, 14,5%, até chegar em 15%, em 2020.

O diploma legislativo responsável por disciplinar a saúde foi a Lei 8.080/90, cujo art.7º
estabelece os princípios regentes do direito. Vejamos:

Art. 7º As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou


conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo
com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos
seguintes princípios:

I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;

II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações


e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em
todos os níveis de complexidade do sistema;

III - preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral;

IV - igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer


espécie;

V - direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;

VI - divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua


utilização pelo usuário;

VII - utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de


recursos e a orientação programática;

VIII - participação da comunidade;

IX - descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de


governo:

a) ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;

b) regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;

X - integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento


básico;
23
XI - conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência
à saúde da população;

XII - capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e

XIII - organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins
idênticos.

XIV – organização de atendimento público específico e especializado para mulheres e


vítimas de violência doméstica em geral, que garanta, entre outros, atendimento,
acompanhamento psicológico e cirurgias plásticas reparadoras, em conformidade com
a Lei nº 12.845, de 1º de agosto de 2013.

1.2.2 Assistência social

O subsistema em estudo foi disciplinado nos artigos 203 e 204 da CF/88, bem como na Lei
Federal 8.742/93. Relembre que, no mundo inteiro, especialmente no Estado Liberal, as medidas
assistencialistas precederam a criação dos sistemas previdenciários. Desta maneira, em sua
gênese, as medidas assistencialistas tinham caráter de liberalidades, ``presentes`` dos governos.
Com o decurso da história, essa ideia mudou e a assistência social ganhou o aspecto de direito
subjetivo dos necessitados, configurando direito social de execução obrigatória pelo Estado17.

De acordo com o artigo 203 da Constituição, a Assistência Social é prestada a quem dela
necessitar. Essa espécie da Seguridade Social, então, diferentemente da saúde, não é oferecida
a todos os cidadãos, mas apenas a uma parcela deles: os necessitados.

O referido artigo ainda esclarece uma característica importante da Assistência Social: a


ausência de contribuição. Para ter acesso a algum benefício assistencial, o cidadão não precisa
ter contribuído para o sistema. Nesse ponto, a assistência social se assemelha à saúde. Todavia,
existe uma distinção digna de nota (porque extremamente recorrente em provas) entre os dois
subsistemas: a assistência social será prestada a quem dela necessitar; por outro lado, a saúde
será prestada a todos, indistintamente.

17
AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopses para Concursos. Vol.27. Salvador: Juspodivm, 2018. P. 39.
24
Os objetivos da Assistência Social também estão listados no artigo 203 da Constituição. Por
serem muito cobrados em prova, é importante dar bastante atenção.

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente
de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;

III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;

IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de


sua integração à vida comunitária;

V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de


deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção
ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Esquematizando:

Desta maneira, você precisa saber:

● Que o orçamento da Assistência Social é composto por recursos da Seguridade


Social e de outras fontes.

25
● Que as diretrizes da Assistência Social consistem na descentralização político-
administrativa e na participação da população.

Guarde que essa garantia constitucional de um salário mínimo mensal aos idosos e às
pessoas com deficiência que não tenham meios de prover a própria subsistência ou de tê-la
provida por sua família motivou o surgimento do Benefício de Prestação Continuada –
BPC/LOAS, também chamado Amparo Assistencial, Benefício Assistencial ou simplesmente LOAS.

A prestação em debate foi disciplinada pelos arts. 20 a 21-A da Lei 8.742/93 e pelo art .34
da Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso). Inclusive, o Estatuto do Idoso reduziu a idade mínima
para o recebimento do benefício para 65 anos de idade.

Sobre o BPC/LOAS, vale, também, ressaltar dois precedentes recentes, um do STJ e outro do
STF. Assim, de acordo com o STJ, no Recurso Especial 1.404.019-SP, a LOAS não exige a
incapacidade absoluta do segurado para a concessão do benefício. A decisão amparou-se no
caráter solidário e não contributivo da Assistência Social.

A decisão do STF, em segundo lugar, deu-se em sede de repercussão geral, no Recurso


Extraordinário 587.970/SP, ocasião na qual a Corte entendeu que o estrangeiro residente no
Brasil também faria jus ao BPC-LOAS. Para o Supremo, isso deve ocorrer, porque o benefício
garante a assistência aos desamparados, verdadeiro direito fundamental.

Ressaltamos que a tendência da jurisprudência do STF e do STJ consiste em interpretar


extensivamente os critérios para a obtenção do BPC. Neste sentido, temos entendimento de
ambas as Cortes no sentido de não ser absoluta a exigência de renda de ¼ do salário mínimo

26
por integrante da unidade familiar, para que o necessitado obtenha o benefício, apesar de ser
esta a fração exigida pelo parágrafo terceiro do art. 20 da Lei 8.742/9318.

A dispensa de ¼ do salário mínimo por cabeça foi positivada em 2020, com a Lei 13.982/20.
Tal dispensa incluiu, na verdade, uma ampliação do requisito da renda per capita para ½ do
salário mínimo e vai viger para o período de calamidade pública ocasionada pela COVID-19, até
31 de dezembro de 2020. O mencionado diploma legislativo inseriu, ainda, os parágrafos catorze
e quinze ao art.20 da Lei 8.742/93:

§ 14. O benefício de prestação continuada ou o benefício previdenciário no valor de até


1 (um) salário-mínimo concedido a idoso acima de 65 (sessenta e cinco) anos de idade
ou pessoa com deficiência não será computado, para fins de concessão do benefício de
prestação continuada a outro idoso ou pessoa com deficiência da mesma família, no
cálculo da renda a que se refere o § 3º deste artigo.

§ 15. O benefício de prestação continuada será devido a mais de um membro da mesma


família enquanto atendidos os requisitos exigidos nesta Lei.

Finalmente, recorde que a Lei 13.846/2019 trouxe uma novidade o parágrafo 12 do art.20 da
Lei 8.742/93. Vejamos:

§ 12. São requisitos para a concessão, a manutenção e a revisão do benefício as inscrições


no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e no Cadastro Único para Programas Sociais do
Governo Federal - Cadastro Único, conforme previsto em regulamento.

Os princípios e as diretrizes da assistência social foram trazidos nos artigos 4º e 5º da Lei


8.742/93. Vejamos:

Art. 4º A assistência social rege-se pelos seguintes princípios:

I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de


rentabilidade econômica;

18
Para mais informações, vale a leitura: https://www.dizerodireito.com.br/2020/04/lei-139822020-alteracoes-no-
beneficio.html#:~:text=O%20art.,Assistencial%E2%80%9D%20ou%20%E2%80%9CLOAS%E2%80%9D.&text=Desde
%20que%20comprove%20n%C3%A3o%20possuir,la%20provida%20por%20sua%20fam%C3%ADlia.

27
II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação
assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;

III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios


e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se
qualquer comprovação vexatória de necessidade;

IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer


natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais;

V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais,


bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão.

Art. 5º A organização da assistência social tem como base as seguintes diretrizes:

I - descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os


Municípios, e comando único das ações em cada esfera de governo;

II - participação da população, por meio de organizações representativas, na


formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis;

III - primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência


social em cada esfera de governo.

1.2.3 Previdência social

Apenas a União poderá legislar sobre previdência social, exceto no que concerne ao regime
de previdência dos servidores públicos efetivos dos estados , do Distrito Federal e dos
municípios, que poderão editar normas jurídicas para instituí-los e discipliná-los, observadas as
normas gerais editadas pela União e as já postas pela própria Constituição.

28
De acordo com Alberto Lazzari, o direito às prestações da Previdência Social foi consagrado
no rol dos Direitos Sociais, como um direito fundamental, decorrente do direito à segurança 19.

Vale ressaltar, ainda, que o direito à previdência é irrenunciável, tanto pelo segurado, quanto
por seus beneficiários. Fique atento a isso! Afinal, são informações super relevantes tanto para
uma prova objetiva, quanto para uma resposta aberta em provas de concursos.

Por fim, o direito aqui estudado não vai ser perdido pelo decurso do tempo. Aqui, prescrição
e decadência apenas atingem direitos ao recebimento de prestações, mas não alcançam o fundo
do direito. Assim já decidiu o STF:

O direito à previdência social constitui direito fundamental e, uma vez implementados os


pressupostos de sua aquisição, não deve ser afetado pelo decurso do tempo. Como
consequência, inexiste prazo decadencial para a concessão inicial do benefício
previdenciário. É legítima, todavia, a instituição de prazo decadencial de dez anos para a
revisão de benefício já concedido, com fundamento no princípio da segurança jurídica,
no interesse em evitar a eternização dos litígios e na busca de equilíbrio financeiro e
atuarial para o sistema previdenciário. O prazo decadencial de dez anos, instituído pela
MP 1.523, de 28-6-1997, tem como termo inicial o dia 1º-8-1997, por força de disposição
nela expressamente prevista. Tal regra incide, inclusive, sobre benefícios concedidos
anteriormente, sem que isso importe em retroatividade vedada pela Constituição. Inexiste
direito adquirido a regime jurídico não sujeito a decadência. [RE 626.489, rel. min. Roberto
Barroso, j. 16-10-2013, P, DJE de 23-9-2014, Tema 313.]

A título de informação, destaque-se que os estados, o DF e os municípios também poderão


editar normas jurídicas acerca da previdência complementar dos seus servidores públicos.
Contudo, entende-se que apenas a União possui competência para legislar sobre a previdência.

19
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. LAZZARI, Joao Batista. Manual de Direito Previdenciário. Rio de Janeiro:
Forense, 2020. P.240.
29
A Previdência Social, ao contrário das demais espécies da Seguridade Social, possui um
caráter contributivo, ou seja, somente aqueles que contribuem podem ter acesso às prestações
previdenciárias (benefícios e serviços). Fora isso, a filiação à Previdência é obrigatória. Todas as
pessoas que pratiquem alguma atividade remunerada serão obrigatoriamente filiadas ao regime
geral de Previdência Social.

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:

I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e


idade avançada; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;

III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;

IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;

V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e


dependentes, observado o disposto no § 2º.

Trataremos das demais disposições constitucionais sobre a Previdência ao longo dos


capítulos seguintes deste curso.

Por fim, importa adiantar aqui a existência de dois sistemas previdenciários no Brasil
atualmente: um público, mantido prioritariamente pelo Estado, para a iniciativa privada e para
os servidores públicos, e outro complementar ou privado, que pode contar com recursos
públicos, mas onde tais recursos não podem ser majoritários.

30
Regime Geral de
Previdência
Social - RGPS
Pública
Regime Próprio
Previdência
de Previdência
Social no Brasil
Social - RPPS
Privada ou
Complementar

1.3 Princípios da Seguridade Social

Os princípios aplicáveis à Seguridade Social estão previstos no parágrafo único do artigo 194
da Constituição. Essa previsão expressa não exclui outros princípios que, embora não estejam
listados no artigo 194, são perfeitamente aplicáveis à Seguridade Social.

CF Art. 194 Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a
seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

I - universalidade da cobertura e do atendimento;

II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;

III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;

IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;

V - eqüidade na forma de participação no custeio;

VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis


específicas para cada área, as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde,

31
previdência e assistência social, preservado o caráter contributivo da previdência social;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão


quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados
e do Governo nos órgãos colegiados.

1.3.1 Universalidade da cobertura e do atendimento

O princípio definido no inciso I do artigo 194 representa, na verdade, dois princípios. Fala-
se, por isso, em universalidade objetiva e subjetiva. De acordo com Frederico Amado, a vertente
subjetiva deste princípio determina que a seguridade social alcance o maior número possível de
pessoas que necessitem de cobertura, enquanto a objetiva compele o legislador e o
administrador a adotarem as medidas possíveis para cobrir o maior número de riscos sociais20.

Assim, a universalidade defendida pelo princípio precisa ocorrer na “cobertura” e no


“atendimento”.

● Universalidade da cobertura: a Seguridade Social precisa cobrir o maior número


possível de riscos sociais – infortúnios aos quais as pessoas podem estar sujeitas.
São exemplos de riscos sociais: maternidade, doença e morte.

● Universalidade do atendimento: a Seguridade Social precisa atender todas as


pessoas, independente de sua condição social ou financeira.

A partir desses conceitos, responda: existe universalidade em todas as três áreas da


Seguridade? Não!

20
AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopses para Concursos. Vol.27. Salvador: Juspodivm, 2018.
P.28
32
Somente podemos falar em universalidade de atendimento e de cobertura na Saúde, pois,
todos os brasileiros e estrangeiros, independente da doença ou da condição social, têm direito
de ser atendido no sistema público de saúde, ainda que nunca tenha contribuído com o sistema.

No caso da previdência social, que é regime contributivo de filiação obrigatória para os que
exercem atividade remunerada lícita, essa universalidade é subjetiva, pois se refere apenas ao
sujeito da relação jurídica previdenciária, seja ele segurado ou seu dependente. Fala-se, ainda,
em universalidade mitigada neste caso.

1.3.2 Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às


populações urbanas e rurais

O princípio da uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas


e rurais objetiva, simplesmente, evitar qualquer privilégio dado às populações urbanas em
detrimento da população rural. Esse princípio, então, garante que todos os riscos cobertos para
a população urbana serão igualmente cobertos para a população rural – uniformidade. Além
disso, também garante a equivalência. Em regra, portanto, o valor pecuniário recebido por todos
e a qualidade do serviço precisam ser iguais.

Guarde que, enquanto os benefícios envolvem obrigações de ``dar`` por parte do Estado, os
serviços envolvem obrigações de ``fazer``.

Qualquer diferenciação entre os benefícios e serviços entre essas classes deve estar prevista
no próprio texto constitucional e fundada na proporcionalidade.

1.3.3 Seletividade e Distributividade na prestação dos benefícios


e serviços

Esse princípio serve para limitar o da universalidade, sendo interessante dividi-lo em duas
partes:

33
● Seletividade: o legislador precisará selecionar as prestações previdenciárias a
serem ofertadas à população, levando em consideração os riscos sociais cobertos
pela Seguridade. Essas prestações podem ser melhor visualizadas a partir da leitura
do artigo 201 da Constituição. Nesse dispositivo, o Constituinte listou os benefícios
e serviços ofertados pela Previdência, observe:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdência
Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:

I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e


idade avançada;

II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;

III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;

IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;

V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e


dependentes, observado o disposto no § 2º.

● Distributividade: as prestações previdenciárias (benefícios e serviços) ofertadas pela


Seguridade garantem a efetiva distribuição de renda e, por consequência, diminuem
as desigualdades sociais. A distributividade pode ser constatada na Assistência Social,
uma vez que ela se destina à parcela da população diretamente necessitada.

Assim, enquanto a seletividade seleciona as prestações oferecidas (você pergunta: o quê?), a


distributividade envolve as pessoas beneficiadas pela seguridade social (você pergunta: a
quem?).

34
1.3.4 Irredutibilidade do valor dos benefícios

O princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios decorre da segurança jurídica 21.

Ele apresenta uma complexidade a mais em relação aos outros princípios da seguridade
social, porque sua compreensão depende da interpretação conjunta do texto constitucional e
da jurisprudência do STF.

De acordo com a Constituição, os benefícios da Previdência Social, por serem irredutíveis,


precisam ter o seu valor real preservado. Isso significa que o valor do benefício precisará ser
reajustado de acordo com o índice inflacionário para evitar uma perda no poder aquisitivo.

CF Art. 201 § 4º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em


caráter permanente, o valor real, conforme critérios definidos em lei.

Imagine que João recebe um benefício da Previdência Social no valor de R$ 1.000,00 e que
o percentual inflacionário do período foi de 5%. Para garantir a preservação do valor real do
benefício de João, será necessário reajustá-lo para R$ 1.050,00. Do contrário, se não houver o
reajuste, é como se o benefício de João tivesse sido reduzido, pois, diante da inflação de 5%,
João não conseguirá usar os mil reais da mesma forma.

Até agora, vimos que o princípio da irredutibilidade do valor dos benefícios, quando aplicado
à Previdência Social, obriga o reajuste do valor de acordo com o índice inflacionário do período,
de modo a preservar o seu valor real.

Mas, e se o índice inflacionário for negativo? E se tiver ocorrido a chamada “deflação”? O


STJ já se manifestou sobre o tema, veja:

21
AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopses para Concursos. Vol.27. Salvador: Juspodivm,
2018. P.32
35
1. A correção monetária nada mais é do que um mecanismo de manutenção do poder
aquisitivo da moeda, não devendo representar, consequentemente, por si só, nem
um plus nem um minus em sua substância. Corrigir o valor nominal da obrigação
representa, portanto, manter, no tempo, o seu poder de compra original, alterado pelas
oscilações inflacionárias positivas e negativas ocorridas no período. Atualizar a obrigação
levando em conta apenas oscilações positivas importaria distorcer a realidade econômica
produzindo um resultado que não representa a simples manutenção do primitivo poder
aquisitivo, mas um indevido acréscimo no valor real. Nessa linha, estabelece o Manual de
Orientação de Procedimento de Cálculos aprovado pelo Conselho da Justiça Federal que,
não havendo decisão judicial em contrário, "os índices negativos de correção monetária
(deflação) serão considerados no cálculo de atualização", com a ressalva de que, se,
no cálculo final, "a atualização implicar redução do principal, deve prevalecer o valor
nominal".

Dessa forma, o índice inflacionário negativo pode e deve ser utilizado no cálculo de
atualização dos benefícios. Mas, caso o resultado desse cálculo importe na redução do valor
nominal do benefício, deve-se preservar o valor nominal, ou seja, deve-se manter o benefício
no valor nominal até então vigente.

Esse princípio também é aplicado aos benefícios da Seguridade Social?

Segundo o STF, os benefícios da Seguridade Social também são irredutíveis, assim como os
da Previdência. Mas, essa irredutibilidade não assegura a preservação do valor real dos
benefícios, mas apenas o valor nominal.

Vamos usar o mesmo exemplo citado anteriormente, ok?

Se o benefício recebido por João for da Seguridade Social, o reajuste não será obrigatório,
pois, de acordo com o entendimento do STF, como o valor nominal do benefício (R$ 1.000,00)
não foi reduzido, não há que se falar em violação do princípio da irredutibilidade do valor dos
benefícios.

Em síntese, os benefícios da saúde pública e da assistência social são apenas protegidos por
uma irredutibilidade nominal, ao passo que os benefícios pagos pela previdência social gozam
de uma irredutibilidade material, pois precisam ser reajustados anualmente pelo índice legal.

36
Na prova realizada pelo CESPE para o cargo de Advogado da União em 2015, foi cobrado o
seguinte:

No que diz respeito à seguridade social, julgue o item a seguir:

Conforme a jurisprudência do STF, a irredutibilidade do valor dos benefícios é garantida


constitucionalmente, seja para assegurar o valor nominal, seja para assegurar o valor real
dos benefícios, independentemente dos critérios de reajuste fixados pelo legislador
ordinário.

O item foi dado como ERRADO. Já que a questão não especificou se se trata de
benefícios da previdência social, temos o posicionamento consagrado da jurisprudência, com
base na Constituição Federal, no sentido de não ser assegurado o valor real dos benefícios
das demais vertentes da seguridade social.

Cabe mencionar que a irredutibilidade do valor dos benefícios não será na mesma proporção
do salário mínimo. Isto fica evidenciado na parte final do inciso IV, do art. 7º, da CF:

Art. 7, IV, CF – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a
suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação,
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos
que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim.

No ponto em destaque, importa ressaltar, ainda, o disposto na súmula vinculante 04 do


STF, que estabelece: ``Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser
usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado,
nem ser substituído por decisão judicial``.

37
Para você não confundir nenhuma informação deste tópico (inclusive, porque o assunto já foi
cobrado na prova de Procurador do Estado do Piauí, em 2014), veja o seguinte esqueminha:

Irredutibilidade do valor
dos benefícios

Previdência Social Saúde Pública e


Assistência Social

Irredutibilidade real e
nominal.
Se houver deflação, Apenas irredutibilidade
assegura-se a nominal
irredutibilidade nominal

1.3.5 Equidade na forma de participação no custeio

O princípio da equidade na forma de participação no custeio tem como objetivo garantir a


igualdade e a justiça no custeio da Seguridade Social. Mas, como é possível cumprir esse
objetivo? Tratando igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida das suas
desigualdades.

38
Por isso que esse princípio da seguridade está muito relacionado ao princípio da isonomia
e a seu consectário mais famoso, o princípio da capacidade contributiva22.

Bem, existem várias formas criadas pelo legislador para efetivar esse princípio. Uma dessas
formas é a contribuição progressiva dos segurados (8%, 9% e 11%): aqueles que ganham mais
e, portanto, têm mais capacidade contributiva terão uma alíquota maior incidindo sobre o seu
salário de contribuição. Em contrapartida, os que ganham menos terão uma alíquota menor.

Outra maneira para a efetivação do presente princípio consiste em majorar a contribuição


das atividades com maior risco.

1.3.6 Diversidade da base de financiamento

O princípio da diversidade da base de financiamento tem o objetivo de diversificar as fontes


de custeio da Seguridade. A diversidade evita que a Seguridade dependa financeiramente
apenas de uma fonte e, por consequência, evita que problemas pontuais nessa fonte
comprometam a vitalidade do sistema previdenciário.

A Constituição, seguindo esse princípio, instituiu várias fontes de custeio para a Seguridade,
veja:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes


sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer


título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício;

b) a receita ou o faturamento;

c) o lucro;

22
AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopses para Concursos. Vol.27. Salvador: Juspodivm, 2018.
P.33.

39
II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, podendo ser adotadas
alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição, não incidindo
contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo Regime Geral de Previdência
Social; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

III - sobre a receita de concursos de prognósticos.

IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

De modo a garantir a plena manutenção da Seguridade, a União ainda poderá estabelecer


outras fontes de custeio além das previstas no artigo 195 da CF:

CF Art. 195 § 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção
ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I.

Em 2019, com a promulgação da Emenda Constitucional nº. 103, alterou-se a redação do


inciso VI que trata do princípio da diversidade da base do financiamento.

VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis


específicas para cada área, as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde,
previdência e assistência social, preservado o caráter contributivo da previdência social;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)

O que o legislador derivado quis, com essa alteração, foi garantir uma maior transparência
das receitas e das despesas. A partir de agora, deve-se identificar a área da Seguridade para a
qual o dinheiro está sendo destinado.

Esse princípio não se confunde com o princípio da precedência da fonte de custeio, que
determina que nenhum benefício ou serviço da seguridade social pode ser criado, majorado ou
estendido sem a correspondente fonte de custeio total. Ele não pode ser excepcionado nem em
hipóteses excepcionais e somente diz respeito à seguridade social financiada por toda a
sociedade, sendo alheio às entidades de previdência privada. Por fim, frise-se que quando o
benefício da seguridade social for previsto na própria CF/88, não terá aplicação esse princípio.

1.3.7 Precedência da fonte de custeio

40
O princípio em foco, também chamado de Princípio da Preexistência, Contrapartida ou
Antecedência da Fonte de Custeio, encontra-se previsto no artigo 195, §5o, da Constituição
Federal, nos seguintes termos,

"nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou


estendido sem a correspondente fonte de custeio total".

Desta forma, antes de criar um novo benefício da seguridade social ou majorar ou estender
os já existentes, deverá o ato de criação indicar expressamente a fonte de custeio respectiva,
através da indicação da dotação orçamentária, a fim de ser resguardado o equilíbrio entre as
despesas e as receitas públicas. O princípio em estudo não poderá ser excepcionado nem em
hipóteses anormais, pois a Constituição é taxativa 23.

No entanto, tenha muita atenção para o seguinte detalhe: quando o benefício for criado
pela própria Constituição, não será necessária a prévia fonte de custeio. Assim já entendeu o
STF:

"Inexigibilidade, por outro lado, da observância. do artigo 195, § 5o, da Constituição


Federal, quando o benefício é criado diretamente pela Constituição" (RE 220.742, de
03.03.1998). "Considerada a redação do artigo 40 da Constituição Federal antes da EC
20/98, em vigor na data do falecimento da servidora, que não faz remissão ao regime
geral da previdência social, impossível a invocação tanto do texto do artigo 195, § 5o-
exigência de fonte de custeio para a instituição de benefício-, quanto o do art. 201, V"
(RE 385.397 AgR, de 29.06.2007).

23
AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopses para Concursos. Vol.27. Salvador: Juspodivm,
2018. P.38.
41
Antes de criar um novo
Precedência da benefício da seguridade RESSALVA: Quando o
social ou majorar ou benefício for criado
fonte de custeio estender os já existentes, o
pela própria
ato de criação deve indicar
expressamente a fonte de Constituição
custeio respectiva

1.3.8 Caráter democrático e descentralizado da administração

A Seguridade Social não pode ser administrada exclusivamente pelo Poder Público. Esse
princípio, ora em estudo, garante a gestão democrática e descentralizada da Seguridade por
meio da gestão quadripartite, ou seja, uma gestão composta por representantes dos
trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo.

O maior exemplo da gestão democrática e descentralização da Seguridade está no Conselho


Nacional de Previdência Social (CNPS). Afinal, compõem esse conselho 6 representantes do
governo federal e 9 representantes da sociedade civil – 3 aposentados, 3 trabalhadores, 3
empregadores.

1.3.9 Gestão Quadripartite

A gestão da seguridade social será quadripartite, de índole democrática e descentralizada,


consoante o art.194, parágrafo único, inciso VII da Constituição Federal.

42
A doutrina aponta que esse princípio resulta também do art.10 da Constituição. Como
exemplo, podemos citar a composição do Conselho Nacional de Previdência, que estudaremos
nos próximos capítulos. Vale ressaltar, entretanto, que os aposentados apenas integram o
Conselho Nacional de Previdência, mas não os demais conselhos dos outros subsistemas da
Seguridade Social

1.3.10 Anterioridade nonagesimal ou mitigada

A Seguridade Social precisa de recursos financeiros para exercer suas atividades, certo? A
maior parte desses recursos advém das receitas derivadas, das receitas obtidas a partir dos
contribuintes. Para evitar que o contribuinte seja surpreendido com novas contribuições sociais,
criou-se o princípio da anterioridade nonagesimal ou mitigada.

CF Art. 195 § 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas
após decorridos noventa dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou
modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".

O Estado, então, é livre para instituir ou modificar contribuições sociais. Mas, precisará
esperar o prazo mínimo de 90 dias para começar a exigi-las. Afinal, o contribuinte precisa ter
um prazo para se planejar financeiramente.

A ressalva feita no final no §5º significa que as contribuições sociais não precisam observar
o princípio da anterioridade. Assim, caso uma nova contribuição seja instituída em abril, o Estado
não precisará aguardar até o 1º dia do exercício seguinte (princípio da anterioridade) para
começar a exigi-la. Precisará, apenas, aguardar o prazo de 90 dias (princípio da anterioridade
nonagesimal), a contar da instituição.

43
Não incide sobre as
Anual contribuições sociais
da Seguridade Social
Anterioridade
Nonagesimal ou Incide sobre as
Mitigada ou contribuições sociais
Noventena da Seguridade Social

1.3.11 Princípio da solidariedade

O principal objetivo do princípio da solidariedade é reduzir as desigualdades sociais. Para


atingi-lo, a legislação previdenciária, ao instituir contribuições para a Seguridade Social, impõe
àqueles que têm mais capacidade contributiva um valor maior, pois isso ajuda a manter o
sistema previdenciário e os benefícios e os serviços aos mais necessitados – aqueles que têm
menos capacidade contributiva.

Fazendo um link com o Direito Constitucional, relembre que a solidariedade constitui um


dos objetivos da República Federativa do Brasil, consoante o art.3º, inciso I, da CF/88, ``construir
uma sociedade livre, justa e solidária``.

CF Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

O sistema da Seguridade Social é, portanto, solidário: todos contribuem para o sistema e


não para si individualmente. Todavia, a solidariedade em estudo não se origina apenas da
repartição dos custos, mas traz uma outra face da mesma moeda, a socialização dos riscos.
Neste sentido, conforme aponta Frederico Amado, o Princípio da Solidariedade justifica o fato
jurígeno de um segurado que começou a trabalhar poder se aposentar no mesmo dia, mesmo

44
sem ter vertido ainda nenhuma contribuição ao sistema, desde que após a filiação seja
acometido de infortúnio que o torne inválido de maneira definitiva para o trabalho em geral 24.

Solidariedade

Repartição Socialização
dos custos dos riscos

Princípio da solidariedade e direito a desaposentação: o que isso tem a ver?

Em 2016, surgiu uma discussão bem acirrada no STF sobre o suposto direito à

desaposentação. Ao analisar o tema, a Corte decidiu, em sede de repercussão geral, com base
no princípio da solidariedade e na ausência de previsão legal sobre o direito em tela, que não

seria possível a desaposentação no direito brasileiro.

24
AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopses para Concursos. Vol.27. Salvador: Juspodivm,
2018. P.37.
45
No âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar
benefícios e vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à
“desaposentação”, sendo constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991.

STF. Plenário. RE 381367/RS, RE 661256/SC e RE 827833/SC, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli,
julgados em 26 e 27/10/2016 (repercussão geral) (Info 845).

Mais tarde, em 2020, a questão chegou de outra forma para o STF. Questionava-se, na

ocasião, sobre o direito à reaposentação. É que, para os aposentados os quais se aclamavam


possuidores do direito em tela, a decisão em repercussão geral da Suprema Corte não incluiria

a reaposentação. No entanto, ao apreciar a questão, o Supremo firmou que o direito à


reaposentação também não seria possível no ordenamento jurídico brasileiro.

No âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar
benefícios e vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito
à desaposentação, sendo constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/91.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.334.488-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/03/2019
(recurso repetitivo) (Info 649).

Trouxemos esse assunto, para que você, aluno, faca de cara um link com o princípio da
solidariedade. Todavia, a temática será melhor detalhada nos próximos capítulos de nosso curso.

1.3.12 Orçamento Diferenciado

O princípio aqui desenvolvido não se encontra expressamente no capítulo da Seguridade


Social, mas sim no das Finanças Públicas. Desta forma, o artigo 165, parágrafo 5º da Constituição
prevê:

§ 5º A lei orçamentária anual compreenderá:

I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, órgãos e entidades
da administração direta e indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público;

II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente,


detenha a maioria do capital social com direito a voto;

46
III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela
vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações
instituídos e mantidos pelo Poder Público.

Assim, o assunto aqui abordado importa em um link com o Direito Constitucional e com
o Direito Financeiro. Portanto, a Lei Orçamentária Anual (LOA) vai compreender três espécies de
orçamento, dos quais um será especialmente destinado à seguridade social. Ademais, ao estudar
Direito Financeiro, fique bem atento, porque existem várias normas relativas ao tema da
seguridade social nas leis desta disciplina25.

Finalmente, o art.195 da CF/88 complementa o art. 195 e também versa sobre o


financiamento da seguridade social, tema que será mais detalhado nos próximos capítulos.

Guarde o seguinte esquema, para você nunca errar em prova:

25
AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopses para Concursos. Vol.27. Salvador: Juspodivm, 2018.
P. 40.
47
Orçamento Fiscal

LOA Orçamento de
Investimento
Orçamento da
Seguridade Social

48
QUADRO SINÓPTICO

DA SEGURIDADE SOCIAL

A doutrina aponta que as fases do desenvolvimento

histórico da Seguridade Social/ da Previdência Social são as


seguintes:
FASES DA
1) Experimental;
SEGURIDADE
SOCIAL NO MUNDO 2) Consolidação;

3) Expansão;

4) Redefinição.

Para você guardar bem esse assunto, repetimos aqui o

cronograma já trazido no tópico deste assunto no presente


capítulo:

● Constituição de 1891 – Assegurou a aposentadoria

por invalidez aos servidores públicos;


PREVIDÊNCIA
● Lei Eloy Chaves de 1917 - Criou as Caixas de
SOCIAL NO BRASIL
Aposentadorias e Pensões nas empresas de estradas

de ferro existentes;

● Constituição de 1934 – Primeira a prever a forma


tripartite de custeio: contribuição dos empregadores,

dos trabalhadores e do Poder Público

49
● Constituição de 1937 – Usado, pela primeira vez, a

expressão ``seguro social``;

● Constituição de 1946 – Primeira tentativa de


sistematização constitucional e primeira vez em que

uma Constituição brasileira utilizou a expressão


``previdência social``.

● Emenda Constitucional de 1965 – Estabeleceu o

princípio da precedência da fonte de custeio em


relação a criação ou majoração de benefícios;

● Constituição de 1967 – Criou o seguro-desemprego,

com o nome de ``auxílio-desemprego``;

● EC 01/69 ou Constituição de 1969 – Não inovou em


matéria previdenciária;

● Constituição de 1988 – Detalhou e aumentou o

sistema brasileiro de Seguridade Social, dividindo-o


em Assistência Social, Previdência Social e Saúde.

Vide art.193 da CF/88.

Grande novidade da Constituição de 1988: a divisão da


SEGURIDADE
Seguridade Social em três subsistemas, a assistência, a
SOCIAL
saúde e a previdência social.

Aprofundamento das garantias fundamentais.

ASSISTÊNCIA Subsistema não contributivo da Seguridade Social.

SOCIAL Vide arts. 203 e 204 da CF/88 e Lei 8.742/93.

50
Com a CF/88, a assistência social passou a trazer a noção

de que não consiste em mera liberalidade do Estado, mas


em direito social, de prestação obrigatória, por parte do
Poder Público, a quem necessitar.

Vide arts. 196 a 200 da CF/88.

SAÚDE Subsistema que vai ser prestado a todos, indistintamente.

Serviço público não exclusivo de Estado.

Vide arts. 201 e 202 da CF/88.

Subsistema contributivo da Seguridade Social.


PREVIDÊNCIA
Existência da previdência pública, que abrange o Regime
SOCIAL
Geral de Previdência Social (RGPS) e do Regime Próprio de

Previdência Social, e da previdência privada ou


complementar, aberta à iniciativa privada.

A Constituição de 1988 lista princípios plenamente


aplicáveis a todos os subsistemas da Seguridade Social. São

eles:

1) Universalidade da cobertura e do atendimento;


PRINCIPIOS DA

SEGURIDADE 2) Uniformidade e equivalência dos benefícios e


SOCIAL serviços às populações urbanas e rurais;

3) Seletividade e distributividade na prestação dos

benefícios e serviços;

4) Irredutibilidade do valor dos benefícios;

51
5) Equidade na forma de participação no custeio;

6) Diversidade da base de financiamento;

7) Caráter democrático e descentralizado da

administração, mediante gestão quadripartite, com


participação dos trabalhadores, dos empregadores,

dos aposentados e do governo nos órgãos


colegiados;

8) Anterioridade nonagesimal ou mitigada;

9) Solidariedade;

10) Orçamento diferenciado.

52
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(CEBRASPE – Procurador do Ministério Público de Contas do Pará – 2019) Assinale a opção


que indica o princípio da seguridade social que justifica a adoção do sistema de repartição, da
filiação obrigatória à previdência social e que possibilita a concessão de benefícios sem a
imposição de carência.

A) equidade na forma de participação no custeio

B) universalidade da cobertura e do atendimento

C) caráter democrático e descentralizado da administração

D) princípio da solidariedade

E) diversidade da base de financiamento

Comentário:

A alternativa correta é letra ``d``. Já vimos ao longo de nosso estudo que o princípio da
solidariedade significa a repartição dos custos e dos riscos sociais entre toda a sociedade.
Inclusive, na explicação deste princípio, abordamos a possibilidade de ser concedido benefício
previdenciário a pessoa que se acidentou no primeiro dia de trabalho, sem nunca antes ter
contribuído para o sistema, com base no princípio da solidariedade. De igual modo, também
com base no princípio em tela, é que se concede benefício assistencial aos indigentes, por
exemplo.

Explicada a alternativa correta, analisemos os erros das demais:

53
B) O princípio da equidade na forma de participação no custeio envolve a
contribuição na medida das possibilidades de cada um, não se enquadrando ao
comando do enunciado.

C) A universalidade da cobertura e do atendimento envolve a máxima cobertura a ser


conferida pela seguridade social ao maior número de pessoas.

D) O caráter democrático e descentralizado da administração está envolvido com a


forma de organização da seguridade social.

E) ALTERNATIVA CORRETA.

F) A diversidade da base de financiamento abarca o proposito de se diversificarem as


fontes financiadoras da seguridade social.

Questão 2

(FCC – Procurador do Estado do Amapá – 2018) Quanto ao conceito, princípios e organização


da seguridade social, conforme previsão na Constituição Federal,

A) a diversidade da base de financiamento e a irredutibilidade do valor dos benefícios são


objetivos a serem alcançados pelo poder público na organização da seguridade social.

B) a gestão administrativa deve ser tripartite, com participação dos trabalhadores, dos
empregadores e do Governo nos órgãos colegiados.

C) a seguridade social está assentada no binômio que engloba o conjunto de ações de iniciativa
do poder público e da sociedade, destinado a assegurar direitos restritos à previdência e à
assistência social.

D) a universalidade do atendimento não se constitui em objetivo da seguridade social, na


medida em que o seguro social fornece proteção apenas para certas categorias de pessoas não
amparando toda a sociedade.

E) a uniformidade dos benefícios significa que o valor da renda mensal dos benefícios deve ser
igual, e não equivalente, entre populações urbanas e rurais.

54
Comentário:

A alternativa correta é letra ``a``, porque corresponde aos incisos IV e VI do parágrafo único
do art.194 da CF/88.

As demais alternativas encontram-se erradas, porque:

A) Alternativa correta.

B) A gestão vai ser quadripartite, de acordo com o art. 194, parágrafo único, inciso VII, da CF/88.

C) De acordo com o caput do art.194, a seguridade social engloba ações relacionadas aos
setores da previdência social, assistência social e saúde. Ademais, ela não compreende um
binômio, mas um conjunto de ações integradas.

D) A universalidade significa justamente o oposto do que a questão aborda!

E) A uniformidade, contrariamente ao afirmado pela assertiva, não significa absoluta igualdade,


mas equivalência!

Questão 3

(CEBRASPE – Procurador do Estado de Pernambuco – 2018) Conforme a doutrina, o

princípio previdenciário que representa o sistema de repartição da seguridade social e garante


a prestação de benefícios e serviços independentemente do aporte individual das

contribuições sociais é o princípio da

A) uniformidade da base de financiamento.

B) seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços.

C) solidariedade.

D) equidade na forma de participação no custeio.

55
E) diversidade da base de financiamento.

Comentário:

A assertiva correta é a letra ``c``. Observe que, mais uma vez, exploramos o princípio da
solidariedade. Ele é um queridinho das bancas, especialmente da CEBRASPE. Portanto, guarde
bem o conceito do princípio em tela, pois ele certamente será explorado em provas futuras.

As demais alternativas encontram-se erradas, porque nenhuma delas se enquadra no conceito


fornecido pelo enunciado. Vejamos:

A) O princípio não é a uniformidade na base de financiamento, mas sim diversidade.


Ele significa que a seguridade social deve primar pela diversificação de suas fontes
financiadoras.

B) A seletividade e a distributividade na prestação dos benefícios e serviços consiste,


conforme já estudamos, na escolha dos riscos e das pessoas contemplados
prioritariamente pela seguridade social.

C) Alternativa correta.

D) A equidade na forma de participação e do custeio visa a efetivar o princípio da


isonomia na seguridade social. Significa que a participação no custeio será
proporcional à capacidade contributiva.

E) Este princípio consagra o esforço para que a seguridade social possua distintas
fontes, assegurando, assim, a viabilidade do sistema.

Questão 4

(CEBRASPE – Defensor Público do Estado de Alagoas – 2017) No que se refere à organização


e aos princípios da seguridade social, julgue os itens a seguir.

56
I A assistência social integra o conjunto de direitos sociais assegurados aos necessitados e as
ações atinentes à seguridade social.

II A equidade na forma de participação do custeio veda a utilização de alíquotas de contribuições


diferenciadas para aqueles que contribuem para o sistema.

III A universalidade de cobertura preconizada pelo ordenamento jurídico vigente limita a


proteção social àqueles que contribuem para o sistema.

IV A seguridade social é financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, mediante
recursos provenientes das contribuições sociais e dos orçamentos da União, dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios.

Estão certos apenas os itens:

A) I e III.

B) I e IV.

C) II e III.

D) II e IV.

E) III e IV.

Comentário:

A assertiva correta é a letra ``b``. Vejamos os itens individualmente:

I. O item encontra-se correto, pois corresponde ao art. 203 da CF, que dispõe o
seguinte: `` A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por
objetivos: (...)``.

II. Errado! Conforme já estudado neste capítulo do nosso curso, o princípio da


equidade implica justamente no contrário. Ou seja, por força dele, justificam-se
alíquotas de contribuição diferenciadas, com base na capacidade contributiva.

57
III. Errado! O princípio da universalidade significa a maior cobertura ao maior
número de segurados, dentro das possibilidades do sistema.

IV. Correto, pois corresponde ao art.195 da CF/88:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e
indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:

§ 9º. As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas
ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva
de mão-de-obra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho.

Questão 5

(CEBRASPE – Procurador do Estado de Sergipe – 2017) O princípio que, norteando a CF


quanto à seguridade social, tem extrema relevância para o cumprimento dos objetivos
constitucionais de bem-estar e justiça social, por eleger as contingências sociais a serem
acobertadas e os requisitos para a garantia da distribuição de renda, é o princípio da

A) diversidade da base de financiamento.

B) universalidade da cobertura e do atendimento.

C) uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços prestados às populações urbanas e


rurais.

D) seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços.

E) equidade na forma de participação no custeio.

Comentário:

58
A assertiva correta é a letra ``d``. Afinal, a seletividade e distributividade na prestação dos
benefícios e serviços significa justamente a escolha das contingências a serem protegidas,
juntamente com os indivíduos alvo de proteção. As demais alternativas encontram-se erradas,
porque tratam de princípios distintos e já abordados ao longo deste capítulo, bem como nas
explicações das questões anteriores. Observe a recorrência de questões explorando os princípios
da seguridade social e estude bem o tema, pra não perder pontos importantes em prova!

Questão 6

(MPT – Procurador do Ministério Público do Trabalho – 2018) Sobre o sistema de seguridade


social adotado na Constituição da República, analise as proposições abaixo:

I - Saúde, previdência social e assistência social são os pilares do sistema de seguridade social.

II - A aplicação dos critérios da uniformidade e da equivalência dos benefícios e serviços está


sujeita a distinções, conforme sejam destinatárias populações urbanas ou rurais.

III - O acesso aos programas de saúde pública deve seguir os princípios da universalidade e da
gratuidade do atendimento.

IV- A concessão dos benefícios de previdência e de assistência social estão sujeitos a carência
e são devidos na medida da contribuição do beneficiário.

Assinale a alternativa CORRETA:

A) Apenas as assertivas I e II estão corretas.

B) Apenas as assertivas I e III estão corretas.

C) Apenas as assertivas III e IV estão corretas.

D) Todas as assertivas estão corretas.

E) Não respondida.

59
Comentário:

A assertiva correta é a letra ``B``. Vejamos os itens da questão, um por um:

I. Assertiva correta, pois corresponde ao art. 204 da CF/88.

II. Errado! No caso, incide justamente o princípio da equivalência dos benefícios e


serviços às populações urbanas e rurais.

III. Correto! Já vimos anteriormente que a saúde é totalmente desvinculada de qualquer


contribuição individual por parte dos segurados e gratuita, de acordo com o art.198
da CF/88.

IV. Errado! De fato, a previdência social é contributiva e seus benefícios, em regra,


condicionam-se a uma carência. Ocorre que a assistência social é desvinculada de
qualquer contribuição, conforme preceitua o art.203 da CF/88.

Questão 7

(CEBRASPE – Procurador do Estado do Amazonas – 2016) A respeito do surgimento e da


evolução da seguridade social, julgue o item a seguir.

A Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de Weimar de 1919, ao constitucionalizar um


conjunto de direitos sociais, colocando-os no mesmo plano dos direitos civis, marcaram o início
da fase de consolidação da seguridade social.

Comentário:

A assertiva encontra-se correta! Estudamos no início do capítulo as fases de evolução da


seguridade social, que são as seguintes:

60
1)Experimental 2)Consolidação 3) Expansão 4) Redefinição

Neste sentido, a fase experimental surgiu na Alemanha, com Otto Von Bismarck, em 1883. A
fase de consolidação corresponde justamente ao momento das Constituições Mexicana de 1917

e de Weimar, de 1919. Após a Segunda Guerra Mundial, veio a fase de expansão e a doutrina
aponta que hoje vivenciamos a fase de redefinição. Portanto, a assertiva está certa!

Questão 8

(CEBRASPE – Defensor Público Federal – 2017) Acerca da seguridade social no Brasil, de sua
evolução histórica e de seus princípios, julgue o item a seguir.

A Lei Eloy Chaves, de 1923, foi um marco na legislação previdenciária no Brasil, pois unificou os
diversos institutos de aposentadoria e criou o INPS.

Comentário:

A assertiva é equivocada! Já estudamos no início deste capítulo que a Lei Eloy Chaves apenas
tratava sobre caixa de aposentadoria e pensão dos empregados das empresas de estradas de
ferro. A criação do INPS ocorreu bem depois, apenas em 1967.

Questão 9

61
(FCC – Defensor Público do Estado do Espírito Santo – 2016) No Brasil, após a Constituição
de 1988, houve uma profunda mudança na forma de disciplinar a seguridade social, um

panorama normativo que compreende a

A) previdência que contará apenas com a contribuição dos a ela vinculados, a saúde que contará
com o esforço da sociedade e a assistência social que é fruto do esforço do terceiro setor.

B) aposentadoria a todos que atingirem 60 anos de idade, se homens e 50 anos de idade, se


mulheres, a saúde aos vinculados ao INSS e a assistência aos hipossuficientes.

C) previdência aos contribuintes, a saúde para todos e a assistência social a quem dela necessitar.

D) saúde de todos, apenas no que se restringe ao atendimento básico, a previdência paga a


todos que não tiverem emprego e a assistência social, que é um atendimento multidisciplinar,
desde que não importe no pagamento de qualquer valor em moeda.

E) previdência como modelo contributivo e filiação facultativa, a assistência social como


programa dirigido a todos, como é, também, a saúde.

Comentário:

A assertiva correta é a letra “c”, pois corresponde aos artigos 196, 201 e 203 da CF/88.

As demais alternativas encontram-se erradas, porque:

A) A assistência social não será financiada pelo terceiro setor, mas por recursos de toda a
sociedade e será prestada a quem dela necessitar.

B) Tudo nessa assertiva está errado! Primeiramente, veremos ao longo do nosso estudo que
a aposentadoria não vai ser concedida apenas com base na idade no regime geral de
previdência social, mas, em regra, vai levar em conta a idade e o tempo de contribuição.
A saúde será prestada a todos, consoante o art. 196 da CF.

C) Assertiva correta.

62
D) Em primeiro plano, a saúde não abarca apenas o atendimento básico. A previdência social
não se restringe a quem tem emprego e os benefícios de assistência social podem
implicar em pagamento de valores, a exemplo do que ocorre com o Benefício de
Prestação Continuada – BPC.

Questão 10

(FCC – Procurador do Estado de Mato Grosso – 2016) A Constituição Federal do Brasil e a


legislação infraconstitucional que dispõe sobre planos de benefícios e custeio da previdência
social preveem, como princípio básico da seguridade social,

A) uniformidade e equivalência dos benefícios entre as populações urbanas e rurais, podendo


haver diferenciação entre os serviços dessas populações criada por meio de lei complementar
com objetivo de adequar os serviços às características regionais de cada atividade.

B) universalidade na prestação dos benefícios e serviços, considerado o caráter seletivo e


distributivo na cobertura e no atendimento.

C) preexistência do custeio em relação ao benefício ou serviço para que haja previsão anterior
da fonte de recursos que financiará a criação ou ampliação de qualquer benefício ou serviço da
previdência pública.

D) caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão conjunta tripartite


da comunidade, composta de representantes do governo, dos trabalhadores e dos empresários
nos órgãos colegiados.

E) solidariedade, também denominado universalidade de cobertura, que prevê não haver um


único tipo de benefício ou serviço, mas diversos, que são concedidos e mantidos de forma
seletiva observando a necessidade de cada contribuinte.

Comentário:

63
Antes de mais nada, precisamos ressaltar que esta foi uma questão muito problemática, em
virtude de sua redação. No entanto, vocês precisam estar preparados para o enfrentamento
deste tipo de pergunta em prova.

Desta maneira, a assertiva correta é a letra ``c``.

As demais alternativas encontram-se erradas, porque:

A) Não pode haver a diferenciação preceituada pelo enunciado.

B) O princípio consiste na universalidade da cobertura e do atendimento, e não dos


benefícios e serviços.

C) Correta. Houve críticas ao enunciado, pois o nome correto do princípio é princípio da


precedência da fonte de custeio. Todavia, esta assertiva era a menos errada, devendo ser
assinalada como gabarito da questão.

D) A gestão conjunta aqui descrita será quadripartite, contando, também, com a participação
dos aposentados nos órgãos colegiados, conforme estabelece o art.194 da CF/88, no
inciso VII de seu parágrafo único.

E) O princípio da solidariedade (veja mais uma vez aqui o queridinho das bancas) implica
na repartição dos custos e dos riscos sociais. Ele não se confunde com o princípio da
universalidade, segundo o qual a abrangência da seguridade deve ser a maior possível.
Por fim, a escolha dos benefícios a serem concedidos e das pessoas alvo de proteção
corresponde aos princípios da seletividade e da distributividade.

64
GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 - A

Questão 3 - C

Questão 4 - B

Questão 5 - D

Questão 6 - B

Questão 7 - CERTO

Questão 8 - ERRADO

Questão 9 - C

Questão 10 - C

65
QUESTÃO DESAFIO

Dentre os princípios informadores da Seguridade Social, destacam-


se se os princípios da 'universalidade da cobertura e do
atendimento' e da 'seletividade e distributividade na prestação dos
benefícios e serviços'. Quanto ao primeiro, apresente o âmbito de
abrangência do princípio em suas vertentes subjetiva e objetiva e,
para o segundo, esclareça como funciona o princípio enquanto
limitador da universalidade da Seguridade Social.

Responda em até 5 linhas

66
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

O princípio da universalidade, na vertente subjetiva, destaca que a Seguridade Social alcance

o máximo de pessoas; na objetiva compele o legislador adotar medidas para cobrir o maior
número de riscos sociais. A seletividade lastreia a escolha do legislador nos benefícios

conforme as necessidades sociais

⮚ Princípio da Universalidade. Subjetiva. Objetiva.

A Seguridade Social deverá atender a todos os necessitados, especialmente através da

assistência social e da saúde pública, que são gratuitas, pois independente do pagamento de
contribuição direta dos usuários. Já a Previdência, terá a sua universalidade limitada em
decorrência de sua necessária contributividade.

O princípio da universalidade da cobertura e do atendimento visa conferir a maior


abrangência possível às ações da Seguridade Social no Brasil, de modo englobar não apenas os
nacionais, mas também os estrangeiros residentes, ou até mesmo os não residentes, a depender

da situação concreta, a exemplo das ações indispensáveis de saúde.

A vertente subjetiva deste princípio determina que a Seguridade Social alcance o maior
número possível de pessoas que necessitem de cobertura, ao passo que a objetiva compele o

legislador e o administrador adotarem as medidas possíveis para cobrir o maior número de


riscos sociais. (AMADO, Frederico; Direito Previdenciário; 6 ed.; Salvador: Ed. Juspodivm; 2015; p.

26)

EMENTA Agravo regimental no agravo de instrumento. Cofins. Pessoa Jurídica sem


empregados. Conceito amplo de empregador, em prestígio à universalidade da cobertura.
Conceito de referibilidade mitigado pelo princípio da solidariedade social. 1. O conceito
de empregador que se extrai da legislação previdenciária deve comportar flexibilização
com relação ao conceito trabalhista, de modo que compreenda o maior universo possível.
2. A solidariedade social e a universalidade na cobertura respaldam as interpretações

67
extensivas em favor do recolhimento e mitigam a referibilidade das exações que mantêm
a seguridade social. 3. Agravo regimental não provido. (STF: AI 764794 AgR)

⮚ Seletividade. Escolha do legislador. Necessidade Social

A seletividade deverá lastrear a escolha feita pelo legislador dos benefícios e serviços
integrantes da Seguridade Social, bem como os requisitos para sua concessão, conforme as

necessidades sociais e a disponibilidade de recursos orçamentários, funcionando como limitador


da universalidade da Seguridade Social. (GARCIA; Gustavo Filipe Barbosa; Manual de Direito

Previdenciário; ed. 4; Ed. Juspodivm: Salvador; 2020)

Como não há possibilidade financeira de se cobrir todos os eventos desejados, deverão


ser selecionados para cobertura os riscos sociais mais relevantes, visando a melhor utilização

administrativa dos recursos, conforme o interesse público.

Por seu turno, a distributividade coloca a Seguridade Social com sistema realizador da
justiça social, consectário do princípio da isonomia, sendo instrumento de desconcentração de

riquezas, pois devem ser agraciados com as prestações da Seguridade Social especialmente os
mais necessitados. (AMADO, Frederico; Direito Previdenciário; 6 ed.; Salvador: Ed. Juspodivm;
2015; p. 28)

Os Tribunais Superiores já se manifestaram no sentido de afastar a inconstitucionalidade


na exação em comento, firmando o entendimento no sentido de que a previsão acerca da
repercussão dos ganhos habituais dos empregados nos benefícios previdenciários, conforme

consta do art. 201, § 11, da Constituição Federal, não restou desatendida, já que deve ser
examinada de forma harmônica com o contido no art. 194, parágrafo único, inciso III, da Carta,

que prevê como objetivo da Seguridade Social a seletividade e distributividade na prestação


dos benefícios e serviços. De igual modo, tem sido afastada a suposta contrariedade aos arts.

195, § 4º, e 154, inciso I, ambos da Constituição Federal, tendo em conta que a contribuição de
que ora se trata encontra acolhida no enunciado do art. 195, inciso II, da CF/88, deixando de

constituir, assim, nova fonte de custeio da Seguridade Social. (STF: RE 1171729)

68
LEGISLAÇÃO COMPILADA

HISTÓRICO E PRINCÍPIOS

⮚ CF/88: Art. 165, §5º.

⮚ CF/88: Arts. 194 a 204.

⮚ Lei 8.742/93: Arts. 4º, 5º, 20 a 21-A.

⮚ Súmula Vinculante n. 04

“Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de
cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial”.

69
JURISPRUDÊNCIA

HISTÓRICO E PRINCÍPIOS

⮚ RE 636.941/RS

A seguridade social prevista no art. 194 da CF/1988 compreende a previdência, a saúde e a assistência
social, destacando-se que as duas últimas não estão vinculadas a qualquer tipo de contraprestação
por parte dos seus usuários, a teor dos arts. 196 e 203, ambos da CF/1988. [RE 636.941, rel. min. Luiz
Fux, j. 13-2-2014, P, DJE de 4-4-2014, Tema 432.]

Comentários:

O julgado acima é extremamente interessante e relevante para fins de provas. Na


oportunidade, o STF apreciou o art.195, parágrafo 7º da CF/88, em conjunto com a
regulamentação trazida pelo art.55 da Lei 8.212/91.

Em suma, a Suprema Corte iniciou seu julgamento, fixando que o art.195, parágrafo 7º da
CF/88, embora não inserido na parte da Constituição que versa sobre normas tributárias,
caracteriza-se como verdadeira imunidade constitucional, ao isentar de contribuição para a
seguridade social as entidades beneficentes de assistência social desprovidas de fins lucrativos.
Sendo assim, para que a entidade faça jus ao gozo da imunidade, ela deve atender aos requisitos
do art.14 do CTN.

A Corte estabeleceu que as normas do CTN, recebido pela ordem constitucional vigente
como lei complementar, fixam, neste caso, apenas as diretrizes gerais, ou os aspectos objetivos,
para o gozo da imunidade, em atenção ao art.146 da CF/88. Contudo, nada impede que outros
requisitos para o gozo da imunidade sejam fixados por lei ordinária, no caso, o art.55 da Lei
8.212/91, sendo constitucional o estabelecimento de limites formais ou subjetivos pelo referido
diploma, não havendo, no caso, restrição desproporcional ao gozo da imunidade em estudo.

Para chegar à conclusão ora delineada, a Suprema Corte analisou a razão de ser da
imunidade em discussão.

70
Segundo o STF, a Seguridade Social, nos termos hoje conhecidos, foi novidade trazida pela
Constituição de 1988, a qual trouxe três subsistemas, a saúde, a previdência e a assistência
social, marcados pelo princípio da solidariedade. Contudo, de acordo com o Supremo, a
assistência social seria o subsistema em que o princípio da solidariedade incidiria mais
enfaticamente, porque ausente, neste caso, qualquer espécie de contraprestação pelo segurado.

Eis a razão pela qual, neste caso, a imunidade do art.195, parágrafo 7º da CF/88 estaria
restrita a este subsistema, aplicando-se ao dispositivo, por analogia, o art.150, VI, da CF/88.
Neste ponto do julgado, o Tribunal ressaltou que o CTN fala de assistência social, sem a precisão
de entendê-la como subsistema da Seguridade Social, divisão realizada apenas em 1988, mas
ausente nas ordens constitucionais anteriores. Assim, a Corte ressalta que a imunidade deve ser
interpretada, na CF/88 e no CTN, como extensiva apenas às entidades de assistência social.

Ademais, o uso, pelo constituinte de 1988, da palavra isenção representou mera imprecisão
incapaz de retirar o caráter de imunidade da norma aqui analisada.

⮚ RE 587.970/SP

Os estrangeiros residentes no País são beneficiários da assistência social prevista no art. 203, V, da
Constituição Federal, uma vez atendidos os requisitos constitucionais e legais. STF. Plenário. RE
587970/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19 e 20/4/2017 (repercussão geral) (Info 861).

Comentários:

O julgado em apreço tem extrema importância em provas, inclusive porque se trata de


decisão proferida em sede de repercussão geral pelo STF.

Na ocasião, a Corte entendeu pela extensão do BPC/LOAS aos estrangeiros residentes no


Brasil, pois ele seria uma expressão dos princípios da solidariedade e da erradicação da pobreza,
elencados no art. 3º, I e III, do Texto Constitucional. Assim, configuraria uma forma de garantir
assistência aos desamparados (art. 6º, caput, da CF/88). Por essa razão, possui natureza
jurídica de direito fundamental.

Ainda no mesmo julgado, o STF entendeu pela divisão do princípio da dignidade da pessoa
humana em três aspectos: valor intrínseco, autonomia e valor comunitário. No caso, o último

71
aspecto – o de valor comunitário – seria o principal alicerce da extensão do BPC aos estrangeiros
residentes no Brasil. Somado a isso, haveria ainda o silêncio supostamente eloquente da CF/88,
a qual apenas assegura que a assistência social será prestada a quem dela necessitar, e da
legislação infraconstitucional que regula o tema.

Atenção aqui, pois este julgado foi cobrado na prova da DPU, realizada em 2015 pelo
CEBRASPE.

⮚ REsp 1.404.019/SP

A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) não exige incapacidade absoluta de pessoa com deficiência
para concessão do Benefício de Prestação Continuada. STJ. 1ª Turma. REsp 1.404.019-SP, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/6/2017 (Info 608).

Comentários:

O fundamento do presente julgado foi basicamente a redação do art.20, § 2º da Lei


8.742/93, pois este dispositivo se vale do conceito de pessoa com deficiência trazido pelo
Estatuto da Pessoa com Deficiência. Tal definição não exige incapacidade absoluta para o
enquadramento como pessoa com deficiência e consiste no seguinte:

Art. 20 (...)

§ 2º Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada, considera-se pessoa

com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,

intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir

sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais

pessoas. (Redação dada pela Lei nº 13.146/2015)

Portanto, aplicando regras básicas de hermenêutica jurídica, o STJ decidiu ser impossível
ao intérprete restringir o que o legislador não delimitou. Assim, dispensou a incapacidade
absoluta para fins de obtenção do benefício.

72
MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AFONSO, Luís Eduardo. Uma estimativa dos aspectos distributivos da Previdência Social no
Brasil. São Paulo: Tese de Doutorado em Economia da USP, 2003.

AMADO, Frederico. Direito Previdenciário. Coleção Sinopses para Concursos. Vol.27. Salvador:
Juspodivm, 2018.

CAMPOS, Marcelo Barroso Lima Brito de. Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores
Públicos. Curitiba: Juruá, 2012.

CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário.
São Paulo: Conceito Editorial, 2011.

CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário.
Rio de Janeiro: Forense, 2020.

CRUZ, Paulo Márcio. Poder, Política, Ideologia e Estado Contemporâneo. Florianópolis:


Diploma Legal, 2001.

IBRAHIM, Fábio Zambitte. A previdência social como direito fundamental. Disponível em: <
http://www.impetus.com.br/noticia/download/21/a-previdencia-social-como-direito-

fundamental>. Acesso em: 23 Out. 2016.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2016.

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. São Paulo: Atlas, 2013.

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