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A NATUREZA PEDAGÓGICA DO SALÁRIO-FAMÍLIA E SUAS

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS PARA O SUS, SEGURADO,


EMPREGADOR E INSS

Iris Soier do Nascimento de Andrade


Pós-graduada em Direito Material e Processual do Trabalho na Faculdade de Direito Milton Campos.
Pós-graduada em Advocacia Cível pela Escola Superior de Advocacia (ESA – OAB/MG). Graduada
em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos (2015). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa e
Estudos em Direito do Trabalho RED - Retrabalhando o Direito, da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais. Integrante da Oficina de Estudos Avançados: As interfaces entre o Processo Civil e o
Processo do Trabalho - IPCPT. Advogada.
irissoier@hotmail.com

Isabela Árabe Figueiró de Lourdes


Pós-Graduada em Direito Material e Processual do Trabalho na Faculdade de Direito Milton Campos.
Graduada em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos (2017). Advogada.
isabelaarabe@hotmail.com

Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar o instituto do Salário-Famíla,


benefício previdenciário pago pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ao
segurado de baixa renda, expondo seu conceito, natureza, características e
requisitos para manutenção. Ainda, tratará da sua natureza pedagógica e
implicações para o INSS, SUS, segurado e empregador, bem como a forma como se
manifesta no ordenamento jurídico brasileiro. Por fim, tratará ainda da legislação
referente ao benefício, sua forma de aplicação e efetividade.
Palavras-chave: Salário-família. Benefício Previdenciário. Art. 7º, XII, CF. Art. 201,
IV, CF. Súmula 344, TST.

1 INTRODUÇÃO
A Declaração Universal de Direitos Humanos, de 1948, estabelece que “todo
homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe
assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade
humana e a que acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social”.
Corroborando com esse entendimento, o ordenamento jurídico brasileiro busca
formas de representar mecanismos para efetivação da Justiça Social, por meio da
concessão de Direitos Fundamentais que propiciarão o acesso a uma vida digna
para as pessoas.
Nesse cenário, seguridade social se mostra como peça fundamental para a
preservação de direitos humanos, com a consequente proteção da dignidade
humana.
Dentre os direitos contemplados tem-se o benefício previdenciário do salário-
família, pago pelo INSS ao trabalhador de baixa renda, em razão de seus
dependentes.

1
Dessa forma, analisar-se-á no presente trabalho o instituto do salário-família,
seu conceito, natureza jurídica, requisitos para sua concessão, sua cessação e a
forma de pagamento. Ainda, será feita uma breve reflexão acerca da natureza
pedagógica do benefício e suas implicações para o INSS, o Sistema Único de Saúde
– SUS, o segurado e o empregador.

2. OBJETIVOS
O objetivo do presente estudo é analisar o instituto do salário-família, seu
conceito, natureza jurídica, requisitos para sua concessão, sua cessação e a forma
de pagamento. Ainda, será feita uma breve reflexão acerca da natureza pedagógica
do benefício e suas implicações para o INSS, o Sistema Único de Saúde – SUS, o
segurado e o empregador, trazendo dados oficiais acerca do tema.

3. MÉTODOS
A metodologia utilizada no presente artigo será a pesquisa bibliográfica,
utilizando-se como método de abordagem o dedutivo, na medida em que da leitura
dos livros e artigos selecionados pode-se extrair conceitos que auxiliam na melhor
compreensão dos institutos estudados.
Os autores selecionados, a legislação consultada, bem como os artigos lidos,
são facilmente encontrados nas bibliotecas jurídicas, tanto físicas, quanto virtuais e
na rede mundial de computadores, o que facilita a interação do leitor com o tema,
caso deseje.
Para se alcançar o objetivo proposto foi realizada ampla pesquisa bibliográfica,
por meio da consulta de livros, periódicos, artigos em sítios eletrônicos, bem como a
legislação correspondente ao tema selecionado.
Como método de procedimento, adotou-se inicialmente o histórico, posto que
foi realizado um estudo do aparecimento dos métodos alternativos no ordenamento
brasileiro. Após, aplicou-se o método comparativo, a fim de avaliar se os autores
selecionados estavam em consonância de ideias, sendo possível o amplo
aproveitamento de seu conteúdo.
Após a leitura de todo o material de forma geral, foi realizada uma leitura mais
seletiva, seccionando itens essenciais para o desenvolvimento do estudo. Logo, foi
conferida a confiabilidade das fontes mencionada nos artigos constante em
periódicos e sites da rede mundial de computadores, a fim de conferir maior
confiabilidade ao trabalho.
Em conjunto com o passo anterior, realizada uma pesquisa na legislação, a fim
de extrair as regras, princípios e requisitos do instituto objeto do presente estudo,
bem como regras e princípios estabelecidos pelo próprio INSS.

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4. DESENVOLVIMENTO
4.1 Salário-Família
4.1.1 Histórico
O salário-família foi instituído no Brasil pela Lei nº 4.266, de 3 de outubro de
1963, e regulamentado pelo Decreto nº 53.153, de 12 de dezembro de 1963,
visando dar cumprimento ao preceituado no Artigo 1571, I da Constituição Federal de
1946.
O benefício surgiu com a finalidade de assegurar aos trabalhadores, por ela
abrangidos, quotas pecuniárias destinadas a auxiliá-los no sustento e educação dos
filhos, observadas as condições e limites estabelecidos nos termos do regulamento.
O benefício seria devido a todo empregado que regido pela Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), qualquer que fosse a sua remuneração, e pago sob a forma
de uma quota percentual, calculada sobre o valor do salário-mínimo local, por filho
menor de qualquer condição, até 14 anos de idade. O decreto estabelecia também,
que se consideram filhos de qualquer condição os legítimos, legitimados, ilegítimos e
adotivos, nos termos da legislação civil vigente, sendo o benefício estendido aos
dependentes do trabalhador pelo art. 158, II2, da Constituição de 1967.
A Lei nº 5.559 de 11 de dezembro de 1968, por sua vez, estendeu o salário
família aos filhos inválidos de qualquer idade, informando que os aposentados por
invalidez e velhice também teriam direito ao benefício.
Posteriormente, a Constituição de 1988 concede o salário família não só ao
trabalhador urbano, mas também ao rural para os seus dependentes, conforme
disposto no artigo 7º, XII3. Além disso, observou-se no artigo 201, IV da CF/88 outra
alteração que especificava a ajuda aos dependentes dos segurados de baixa renda.
A Emenda constitucional nº 20/98 deu nova redação ao inciso XII do artigo 7º,
e VI do artigo 2014 da Constituição, que passaram a estabelecer que o salário
família é pago apenas em razão do dependente do trabalhador de baixa renda,
criando então mais um requisito para a concessão do benefício.
A Lei nº 8.213 de 24 de junho de 1991, revogou tacitamente a lei n° 4.266/63, e
passou a regular inteiramente a matéria de salário-família em seus artigos 65 a 70. A
nova lei dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social e dá outras
providências, regulando, assim, todos os benefícios previdenciários.

1
Art. 157. A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão aos seguintes preceitos,
além de outros que visem à melhoria da condição dos trabalhadores:
I – salário-mínimo capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, as necessidades
normais do trabalhador e de sua família;
2
Art. 158. A Constituição assegura aos trabalhadores os seguintes direitos, além de outros que, nos
termos da lei, visem à melhoria de sua condição social:
II – salário-família aos dependentes do trabalhador;
3
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua
condição social:
XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei;
4
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e
de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e
atenderá, nos termos da lei, a:
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda;
3
Por fim, o Decreto nº 3.048 de maio de 1999, que aprova o Regulamento da
Previdência Social (RPS), complementa as determinações da Lei nº 8.213/91, em
seus artigos 81 a 92.
Desta forma, hoje, o salário-família encontra-se regulamentado em três
dispositivos legais, quais sejam: Artigo 7º, XII CF/88, artigos 65 ao 70 da lei nº
8.213/91, e artigos 81 a 92 do decreto nº 3.048/99.

4.1.2 Conceito
Partindo da análise histórica do salário-família, passamos a entender o seu
conceito e seu propósito. O salário-família é um benefício previdenciário pago pelo
INSS, ao empregado de baixa renda em razão de seus dependentes, conforme
estabelecido em lei.
O INSS define o salário-família5 como: “Valor pago ao empregado de baixa
renda, inclusive o doméstico, e ao trabalhador avulso, de acordo com o número de
filhos. ”
Observa-se, contudo, que não é apenas o número de filhos que determina o
pagamento do benefício, uma vez que os equiparados também devem ser
analisados para a concessão do benefício.
Para Sergio Pinto Martins, a definição de Salário família é um pouco mais
ampla, conceituando o benefício da seguinte forma: “Salário-Família é o benefício
previdenciário pago pelo INSS em razão do dependente do trabalhador de baixa
renda, na forma da lei.(2016, p. 552)”
Passada a análise conceitual passamos ao exame das condições que
englobam este conceito.

4.1.3 Beneficiários
Atualmente os beneficiários do salário-família são os trabalhadores urbano,
rural, avulso e doméstico.
O trabalhador urbano é contemplado pelo salário-família desde o surgimento
do benefício com a lei nº 4.266/63, visto que só era concedido ao empregado regido
pela CLT.
Ao trabalhador rural, o salário-família passou a ser devido após a entrada em
vigor da Lei nº 8.213/91, uma vez que com a Constituição Federal de 1988
trabalhadores urbanos e rurais passaram a ter seus direitos dispostos no artigo 7º do
referido diploma. Desta forma, a Súmula 344 do TST reviu, a já existente Súmula
277 do TST, entendendo que a partir da edição da lei o benefício seria devido
também ao trabalhador rural. Veja-se o que dispõem as Súmulas:

“Súmula 227 - O salário-família somente é devido aos trabalhadores


urbanos, não alcançando os rurais, ainda que prestem serviços, no campo,
à empresa agroindustrial.”

5
Disponível em: < https://www.inss.gov.br/beneficios/salario-familia/>
4
“Súmula 344 - O salário-família é devido aos trabalhadores rurais, somente
após a vigência da Lei 8.213/91.”

Ainda, no que concerne ao trabalhador avulso, a Constituição Federal de 1988


garante em seu artigo 7º, XXXIV6, igualdade de direitos entre o trabalhador com
vínculo de empregatício permanente e o trabalhador avulso. Assim ele também faz
jus ao salário-família, percebendo o valor integral do benefício independentemente
do número de dias trabalhados no mês.
Por fim, ao trabalhador doméstico é devido o salário-família, uma vez que o
parágrafo único7 do artigo 7º da Constituição Federal, faz remissão ao inciso XII do
mesmo artigo, garantindo assim o salário família aos domésticos.

4.1.4 Situação de baixa renda e valor do benefício


Outro ponto que deve ser analisado é a situação de baixa renda do
beneficiário. A restrição do benefício aos segurados de baixa renda foi
implementada pela Emenda Constitucional nº 20/98, ocorre que, a definição deste
segurado deveria ter sido feita por lei, o que não ocorreu.
Hoje, para que o trabalhador tenha direito a cota por dependentes, a sua
remuneração mensal deverá estar dentro dos limites estabelecidos por Portaria
Ministerial. Esta Portaria, além de estabelecer os limites da remuneração para o
recebimento do benefício, também estabelece o valor da cota do correspondente
ao salário de contribuição.
Cabe ressaltar que se considera remuneração mensal do segurado o valor do
respectivo salário de contribuição, ainda que resultante da soma dos salários de
contribuição correspondentes a atividades simultâneas. Caso o valor da
remuneração mensal ultrapasse a faixa máxima, o trabalhador não terá direito ao
benefício.
Com o fim meramente exemplificativo, colaciona-se abaixo a tabela extraída do
site do INSS, com os valores das faixas de remuneração e valor do benefício nos
últimos 10 (dez) anos:

6
XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o
trabalhador avulso
7
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos
nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e
XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento
das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas
peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à
previdência social.
5
Figura 1
Fonte: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

Destaca-se, também, quanto ao pagamento, que caso ambos os pais


satisfaçam os requisitos para o benefício, ambos terão direito ao benefício.
Entretanto, no que concerne ao pagamento para ambos os pais, a lei prevê
hipóteses em que o pagamento seria indevido, conforme disposto no artigo 87 do
Decreto 3048/99:

“Art.87. Tendo havido divórcio, separação judicial ou de fato dos pais, ou em


caso de abandono legalmente caracterizado ou perda do pátrio-poder, o
salário-família passará a ser pago diretamente àquele a cujo cargo ficar o
sustento do menor, ou a outra pessoa, se houver determinação judicial
nesse sentido. ”

6
Cumpre ressaltar, que nos casos de divórcio, separação judicial ou de fato dos
pais, o pagamento do benefício permanece, porém, é destinado diretamente ao
responsável legal pelo dependente.
Havendo guarda compartilhada, o salário família deve ser pago a ambos os
pais, pois o sustento do menor incumbe a eles.

4.1.5 Dependentes
Cabe analisar ainda, os dependentes, a quem os beneficiários estão
vinculados, devendo-se observar dois fatores principais: o grau de parentesco e a
idade.
Consideram-se dependentes os filhos do segurado, os filhos adotivos (por força
do artigo 227, § 6º8 da CF/88), o enteado e o menor que estejam sob a tutela deste,
desde que comprovada a dependência econômica.
Não há número limite de dependentes para a concessão do salário-família,
contudo, o mesmo deve possuir até 14 (quatorze) anos de idade, ou se inválido,
qualquer idade.
É necessária a apresentação da certidão de nascimento de cada dependente e
caderneta de vacinação ou equivalente para aqueles com até 6 (seis) anos de idade
e comprovação de frequência escolar daqueles de 7 (sete) a 14 (quatorze) anos.
Para a renovação do benefício, a carteira de vacinação deve ser apresentada
anualmente, e a frequência escolar deve ser comprovada a cada seis meses,
conforme idade da criança.
Em uma breve análise dos documentos requeridos, podemos observar um
interesse de bem-estar e cuidado para com o menor uma vez que a concessão do
benefício está diretamente ligada à manutenção da saúde, por meio da manutenção
dos cartões de vacinação em dia, e da educação, visto que para manutenção do
benefício o segurado deverá comprovar a frequência escolar do menor.
Quanto ao filho ou equiparado inválido, a invalidez deverá ser verificada por
exame médico pericial, nos termos do art. 859 do Decreto nº 3.048/99.
Em caso de invalidez, caso o filho ou equiparado recupere a capacidade, os
pais são responsáveis de comunicar ao INSS.

4.1.6 Início e Cessação do Pagamento

8
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
(...)
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
9
Art. 85. A invalidez do filho ou equiparado maior de quatorze anos de idade deve ser verificada em
exame médico-pericial a cargo da previdência social.
7
O salário-família deve ser requerido pelo segurado ao INSS. Para a concessão
do benefício, o cidadão deve apresentar documento de identificação com foto e o
número do CPF, termo de responsabilidade disponibilizado pelo próprio INSS,
certidão de nascimento de cada dependente, caderneta de vacinação ou
equivalente, dos dependentes de até 6 anos de idade, comprovação de frequência
escolar dos dependentes de 7 a 14 anos de idade, requerimento 10 de salário-família
disponibilizado pelo INSS.
Após deferida a concessão do salário-família, o benefício terá início a partir do
momento em que o empregado apresentar a certidão de nascimento de seus filhos
ou da documentação concernente ao equiparado e ao inválido.
Ainda, conforme já exposto, para a manutenção do benefício será necessário a
apresentação do atestado de vacinação, para crianças até seis anos, bem como da
comprovação semestral de frequência escolar, para as crianças a partir de sete
anos.
O empregado doméstico, para concessão do benefício, deverá apresentar
apenas a certidão de nascimento, nos termos do parágrafo único do artigo 6711, da
Lei 8.213/91.
O direito ao benefício do salário família cessará nas hipóteses estabelecidas
pelo artigo 88 da mesma lei, conforme observa-se:

Art.88. O direito ao salário-família cessa automaticamente:


I - por morte do filho ou equiparado, a contar do mês seguinte ao do óbito;
II - quando o filho ou equiparado completar quatorze anos de idade, salvo
se inválido, a contar do mês seguinte ao da data do aniversário;
III - pela recuperação da capacidade do filho ou equiparado inválido, a
contar do mês seguinte ao da cessação da incapacidade; ou
IV - pelo desemprego do segurado.

Veja-se que o supramencionado artigo traz um rol de hipóteses para a


cessação do pagamento do benefício. Entretanto, caso o segurado beneficiário
deixe de apresentar a carteira de vacinação dos dependentes de até 6 (seis) anos
de idade ou a comprovação de frequência escolar dos dependentes entre 7 (sete) a
14 (quatorze) anos, o benefício será suspenso, voltando a ser fornecido quando a
situação for regularizada.

4.1.7 Natureza Jurídica do Salário-Família


Não obstante à denominação do benefício, a natureza jurídica do salário família
não é de salário, visto que não guarda relação direta com a figura trabalhista da
10
Requisito exigido apenas para processos de aposentadoria ou quando não solicitado no
requerimento de benefício por incapacidade
11
Art. 67. O pagamento do salário-família é condicionado à apresentação da certidão de nascimento
do filho ou da documentação relativa ao equiparado ou ao inválido, e à apresentação anual de
atestado de vacinação obrigatória e de comprovação de freqüência à escola do filho ou equiparado,
nos termos do regulamento.
Parágrafo único. O empregado doméstico deve apresentar apenas a certidão de nascimento referida
no caput.
8
contraprestação paga ao empregado pelo empregador, em virtude de serviço
prestado.
O salário-família trata-se de benefício previdenciário pago, mensalmente, pelo
regime geral de Previdência Social ao trabalhador de baixa renda, não integrando o
salário do empregado para nenhum fim.

4.2 Natureza pedagógica do salário-família e suas implicações para o INSS, o


sus, segurado e empregador
Conforme sabe-se, o Ordenamento Jurídico instituído pela Constituição Federal
de 1988 busca a proteção da dignidade da pessoa humana, com o reconhecimento
e proteção de direitos fundamentais, dentre eles a seguridade social.
Conforme bem pontua Dimitri Brandi de abreu (2016, p. 184), “apesar de todas
as deficiências conhecidas, o sistema previdenciário brasileiro consegue ser um
mecanismo eficaz de proteção social dos idosos, tendo sido efetivo na redução da
pobreza das camadas mais velhas da população”.
Entretanto, não obstante a criação ao longo dos anos de institutos assistenciais
como o extinto bolsa escola e o bolsa família, o sistema de seguridade social ainda é
carente de soluções quando o assunto é a proteção das crianças provenientes de
famílias de baixa renda.
Ocorre que, a instituição do salário-família, em alguma medida, pode aparecer
como um dos fatores para dar início a solução dessa questão, na medida em que
pode auxiliar na vacinação e manutenção das crianças menores de 14 (quatorze)
anos na escola, podendo vir a gerar impactos diretos para o próprio INSS e para o
SUS.
A natureza pedagógica do instituto é clara, na medida em que o Estado, por
meio da exigência da carteira de vacinação e do comprovante de frequência escolar
para renovação do benefício, garante que as crianças estarão vacinadas e
frequentes na escola.
Analisando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,
observa-se que o número de crianças maiores de 4 anos nas escolas vem
crescendo ao longo dos anos, podendo o benefício, em conjunto com outros fatores
envolvidos, ter tido uma influência positiva para esses resultados.
Em 2012, o número total de crianças matriculadas nas escolas, entre 4 e 14
anos eram de aproximadamente 59.146, permanecendo essa média estável também
nos anos de 2013, 2014 e 2015, conforme se observa das figuras abaixo.

9
Figura 2
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios 2012-2013.

Figura 3
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios 2012-2013.

Figura 4
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios 2013-2014.

10
Figura 5
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios 2014-2015.

A manutenção dessas crianças na escola, além de impactar na taxa de


alfabetização nacional, pode vir acompanhada de outros consectários indiretos como
o afastamento das crianças da violência e das drogas, bem como o acesso à
alimentação adequada, pelo menos uma vez no dia.
Ainda, a exigência do cartão de vacinação traz efeitos tanto para a saúde das
crianças, dependentes do segurado beneficiário do salário-família, quanto para o
empregador e para o SUS, visto que a vacinação é a forma mais segura de
prevenção de doenças graves que podem até levar à morte.
Em nosso país, por exemplo, a poliomielite e a varíola foram erradicadas com a
utilização de vacinas. Em 2016, o Brasil havia conseguido erradicar o sarampo, mas
os surtos recentes preocupam o Ministério da Saúde12.
Para a saúde dos menores de 14 (quatorze) anos, o impacto é claro, visto que
os programas de vacinação oferecidos pelo SUS podem evitar doenças como
Hepatite A, sarampo, caxumba, rubéola, HPV, dentre várias outras, garantindo mais
saúde à nova geração.
A promoção da saúde por meio da vacinação adequada pode vir a desonerar o
próprio Sistema Único de Saúde, posto que não haverá necessidade de tratar
doenças para as quais se tenha oferta de vacina, gerando menos gastos com
médicos e medicamentos, bem como reduzindo o fluxo de pessoas nas Unidades de
Pronto Atendimento - UPA.
Não bastasse isso, pode vir a gerar uma redução de gastos para o próprio
INSS, posto que a vacinação adequada pode vir a reduzir o número de cidadãos
contemplados com benefícios previdenciários em razão doenças graves e até
mesmo por invalidez13.
Ainda, para aumentar e garantir uma maior proteção aos brasileiros, os
Ministérios da Saúde e da Educação firmaram uma parceria com o objetivo de
ampliar a vacinação em crianças e adolescentes, informando que as escolas vão

12
Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/noticias/saude/2018/07/responsabilidade-social-vacinacao-
previne-epidemias-de-doencas-graves>
13
A poliomielite, por exemplo, pode trazer sequelas irreversíveis, podendo vir a deixar o cidadão
inapto para o trabalho.
11
atuar junto com as equipes de atenção básica para atualizar a caderneta dos
estudantes14. Ou seja, criança frequente na escola é criança vacinada.
Além disso, a manutenção das crianças vacinadas e frequentes na escola gera
impactos para o empregador, na medida em que os pais precisam se ausentar cada
vez menos para cuidar de seus filhos ou levá-los ao médico.
Por outro lado, no que diz respeito ao pagamento do salário-família, embora
seja um benefício pago pelo INSS, é repassado ao empregado por seu empregador,
quando do recebimento do salário.
A logística estabelecida para pagamento do benefício, bem como os requisitos
para sua concessão e manutenção, quais sejam apresentação anual do atestado de
vacinação obrigatória e da apresentação de comprovação semestral de frequência à
escola do filho ou equiparado, integra a empresa na sistemática constitucional de
proteção dos direitos humanos.
Assim, tem-se que o Estado, em conjunto com o INSS, garante a preservação
dos direitos humanos, visando uma vida mais digna aos trabalhadores.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme exposto no presente trabalho, o salário-família trata-se de benefício
previdenciário pago ao empregado de baixa renda, inclusive o doméstico e o avulso,
em razão de seus dependentes, sendo regulamentado em três dispositivos legais,
quais sejam: o artigo 7º, XII CF/88, artigos 65 ao 70 da lei nº 8.213/91, e artigos 81 a
92 do decreto nº 3.048/99.
Para a concessão do benefício, o cidadão deve apresentar documento de
identificação com foto e o número do CPF, termo de responsabilidade
disponibilizado pelo próprio INSS, certidão de nascimento de cada dependente,
caderneta de vacinação ou equivalente, dos dependentes de até 6 anos de idade,
comprovação de frequência escolar dos dependentes de 7 a 14 anos de idade,
requerimento de salário-família disponibilizado pelo INSS, com exceção do
empregado doméstico, que deverá apresentar apenas a certidão de nascimento, nos
termos do parágrafo único do artigo 67 , da Lei 8.213/91.
Embora o benefício seja concedido em valor monetário relativamente baixo,
tem importante papel na satisfação de um dos objetivos da República, que é a
garantia de uma vida digna, justa e solidária.
Isso porque, na medida em que o INSS estabelece como requisito para
manutenção do benefício a comprovação de vacinação e de frequência escolar dos
dependentes do segurado, garante não só o subsídio de caráter alimentar, mas
também o acesso à saúde e à educação.
Ainda, ao transferir a responsabilidade de repasse do benefício para o
empregador, no caso de segurado empregado, integra a empresa na sistemática de
proteção dos direitos humanos.

14
Disponível em: http://www.blog.saude.gov.br/index.php/promocao-da-saude/52477-saiba-mais-
sobre-a-importancia-da-vacinacao-oferecida-pelo-sus
12
6 REFERÊNCIAS

ABREU, Dimitri Brandi de. A previdência social como instrumento de


intervenção do Estado brasileiro na economia. Luís Fernando Massonetto:
Orientador. São Paulo, 2016. Tese (doutorado). Universidade de São Paulo, 2016.

ALVARENGA, Rúbia Zanotelli de. O Salário Família e a Proteção Social ao


Trabalhador. Disponível em: <http://investidura.com.br/biblioteca-
juridica/artigos/previdenciario/3520-o-salario-familia-e-a-protecao-social-ao-
trabalhador>. Acesso em: 18 nov. 2018.

BRASIL. Constituição (1946). Constituição da República Federativa do Brasil, 1946.

BRASIL. Constituição (1967). Constituição da República Federativa do Brasil, 1967.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.

BRASIL. Lei .º 4.266, de 3 de outubro de 1963. Institui o salário família do


trabalhador. Disponível em:> http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4266.htm>.

BRASIL, Decreto nº 53.153 de 12 de dezembro de 1963. Aprova o Regulamento


do Salário-Família do Trabalhador.

BRASIL, Lei nº 8.213 de 24 de junho de 1991. Dispõe sobre os Planos de


Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8213cons.htm.

BRASIL, Lei nº 5.559 de 11 de dezembro de 1968. Estende o direito ao salário-


família instituído pela Lei nº 4.266, de 3 de outubro de 1963, e dá outras
providências.

BRASIL, Decreto nº 3.048 de maio de 1999. Aprova o Regulamento da Previdência


Social, e dá outras providências.

FERREIRA, Lauro Cesar Mazetto. Seguridade Social e Direitos Humanos. São


Paulo: LTr, 2008

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