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CENTRO UNIVERSITÁRIO FADERGS

CURSO DE DIREITO

MARA BEATRIZ DE VARGAS RAMÃO

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC): DOS REQUISITOS PARA


SUA CONCESSÃO E GARANTIA À LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

PORTO ALEGRE
2022
CENTRO UNIVERSITÁRIO FADERGS

CURSO DE DIREITO

MARA BEATRIZ DE VARGAS RAMÃO

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA - (BPC)

DOS REQUISITOS PARA SUA CONCESSÃO E GARANTIA À LUZ DA


CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Artigo científico de pesquisa apresentado para


a avaliação da disciplina de Trabalho de Curso,
com posterior apresentação à Banca
Examinadora, requisitos para a obtenção do
diploma de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Gustavo Carreires Guiotto

PORTO ALEGRE
2022
Benefício de Prestação Continuada - (BPC)

Dos requisitos para sua concessão e garantia à luz da Constituição Federal

Continuing Payment Benefit - (BPC)

Requirements for granting and guaranteeing it in light of the Federal Constitution

Sumário: Introdução; 1 – O Benefício de Prestação Continuada e a


Constituição Federal de 1988; 2 – O BPC; 3 – Decisão do Supremo
Tribunal de Justiça, Supremo Tribunal Federal e a Lei nº
14.176/2021; 4 – Considerações Finais; 5 – Referências.

Resumo

O presente trabalho discorre acerca dos direitos sociais e individuais garantidos na


Constituição Federal de 1988, em instituir e assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e assistência social, observando as políticas sociais de assistência instituídas para
enfrentamento da pobreza que afeta as classes mais baixas e desfavorecida, promovendo a
universalização dos direitos sociais e humanos ao alcance de todos que necessitam,
regulamentado através da Lei Orgânica de Assistência Social nº 8.742, de 1993. O artigo
utilizou de ampla pesquisa bibliográfica, adotando o método de pesquisa exploratória e
explicativa, com base na Constituição Federal, Leis, Decretos, Portarias, Instruções
Normativas, decisões judiciais, pesquisa jurisprudencial do STF e STJ. Também foram
coletados dados de artigos, livros e obras publicadas relacionadas ao tema para explanar
entendimentos, pareceres e interpretações diversificadas sobre a metodologia de análise e
conceitos que norteiam a LOAS, suas mudanças no decorrer dos anos se adequando ao
desenvolvimento da sociedade. O entendimento metódico e restritivo do INSS na análise e
validação dos requisitos necessários à aplicação da lei, principalmente no que se trata a
miserabilidade, renda per capita no grupo familiar, verificando que houve uma grande
evolução advinda do entendimento jurisprudencial, construindo novos conceito de
vulnerabilidade, trazendo mudanças e expandindo a forma de operacionalização do BPC.

Palavras - chave: Benefício Assistencial. LOAS. Direito Previdenciário. Direitos Sociais.

Abstract

The present paper discusses the social and individual rights guaranteed in the Federal
Constitution of 1988, in instituting and ensuring rights related to health, social security and
social assistance, observing the social policies of assistance instituted to confront the poverty
that affects the lower and disadvantaged classes, promoting the universalization of social and
human rights to the reach of all who need them, regulated through the Organic Law of Social
Assistance No. 8.742 of 1993. The article made use of ample bibliographical research,
adopting the exploratory and explanatory research method, based on the Federal Constitution,
Laws, Decrees, Ordinances, Normative Instructions, court decisions, jurisprudential research
5

from the STF and STJ. Data was also collected from articles, books and published works
related to the theme in order to explain diverse understandings, opinions and interpretations
on the methodology of analysis and concepts that guide the LOAS, its changes over the years
adapting to the development of society. The methodical and restrictive understanding of the
IN SS in the analysis and validation of the necessary requirements for the application of the
law, especially in what concerns the miserability, per capita income in the family group,
verifying that there was a great evolution coming from the jurisprudential understanding,
building new concepts of "vulnerability", bringing changes and expanding the form of
operationalization of BPC.

Keywords: Assistance Benefit. LOAS. Social Security Law. Social rights.

Introdução

A Constituição Federal de 1988 instituiu um Estado Democrático de direito, que busca


definir, assegurar os direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o
desenvolvimento, a igualdade, e a justiça com valores supremos de uma sociedade fraterna,
pluralista e sem preconceitos, tendo como um de seus fundamentos a dignidade da pessoa
humana.
Como grande marco temos então a construção da Seguridade Social, com propósito de
instituir e assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social,
alcançado a conquista e regulamentação através da Lei Orgânica nº 8.742, de 1993.
As definições e objetivos da organização da Assistência Social foram estruturadas para
atender as contingências sociais e promover políticas setoriais ao alcance do bem social
comum dos cidadãos que necessitarem, tal estruturação é dividida em 2 (dois) tipos de
proteção, da proteção básica e da proteção especial, conforme incisos I e II do Art. 6º-A,
incluídos pela Lei nº 12.435, de 2011.
Observa-se que as políticas sociais de assistência são para enfrentamento da pobreza,
que afeta as classes mais baixas e desfavorecidas, prevenindo assim de situações de
vulnerabilidade e risco social, promovendo a universalização dos direitos sociais, que ao
longo dos anos passaram por muitas mudanças.
Assistência Social tem como objetivo a proteção à família, à maternidade, à infância, à
adolescência, à velhice, assim como, a habilitação e reabilitação de pessoas portadoras de
deficiências, promovendo sua integração à vida comunitária, garantindo lhes 1 (um) salário
mínimo mensal àqueles que comprovarem ser idosos com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais,
ou deficientes, e comprovarem não possuir meios de prover seu próprio sustento ou ser
provida por sua família, regulamentado no Art. 2º, Lei nº 8.742 de 93.
6

Nesse contexto, o objetivo do artigo é analisar e dissertar sobre Benefício de Prestação


Continuada ao idoso e ao deficiênte, com base na Lei Orgânica de Assistência Social, nº 8.742
de 7 de dezembro de 1993 e alterações, e dividir-se-á em três capítulos.
O primeiro capítulo abordará o que é o BPC à luz da Constituição Federal, suas
garantias, princípios e estruturação no contexto de Assistência Social, sua vinculação à
garantia constitucional como conjunto de ação maior, os direitos fundamentais de prestação
material, o que vindica o Estado Brasileiro à tutelar sobre os indivíduos a fim de redução das
desigualdades e garantir o mínimo social, a dignidade humana aos que vivem em
vulnerabilidade e risco social.
No segundo capítulo analisará sobre pré-requisitos necessários à concessão, os
destinatários, deficiente e idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, da comprovação da
deficiência/incapacidade, do impedimento a longo prazo, da avaliação pericial e avaliação
social/biopsicossocial realizado por médicos peritos e assistentes sociais do Instituto Nacional
de Seguridade Social - INSS.
A proteção ao deficiente, previsto na Convenção dos Direitos das Pessoas com
Deficiência e Estatuto da Pessoa com Deficiência. Dos critérios para análise em questão da
renda per capita de ¼ do salário mínimo vigente por membros do grupo familiar, da
obrigatoriedade de inscrição no CadÚnico como forma de controle para gerir a
implementação de assistência, integração e apoio aos vulneráveis, e traçar medidas políticas
de assistência social.
E no terceiro capítulo, trará o posicionamento do Judiciário quanto à vulnerabilidade,
miserabilidade e exclusão da renda per capita do grupo familiar e também as alterações
advindas pela Lei nº 14.176 de 22 de junho de 2021, estabelecendo novos critérios de análise
da renda familiar per capita, comprovantes de gastos como prova para abatimento e dedução
de valores, ampliação do limite para até ½ salário mínimo e inclusão dos deficientes no
mercado de trabalho.
O artigo utilizou de ampla pesquisa bibliográfica, adotando o método de pesquisa
exploratória e explicativa, com base na Constituição Federal, Leis, Decretos, Portarias,
Instruções Normativas, decisões judiciais, pesquisa jurisprudencial do STF e STJ, Também
foram coletados dados de artigos, livros e obras publicadas relacionadas ao tema para
explanar entendimentos, pareceres e interpretações diversificadas sobre a metodologia de
análise e conceitos que norteiam a LOAS, e suas mudanças no decorrer dos anos.
Ante ao entendimento restritivo do INSS na análise e validação dos requisitos
necessário à aplicação da lei, principalmente no que se trata a miserabilidade, há de se falar
7

que na grande evolução, advindos do entendimento jurisprudencial e avança da sociedade e


crescimento da miserabilidade, construído a expansão do conceito de “vulnerabilidade”, entre
outras mudanças na operacionalização do BPC.

1. O Benefício de Prestação Continuada e a Constituição Federal de 1988

O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é o único benefício de assistência social


garantido pela Constituição Federal de 1988, presente no artigo 203, inciso V, regulamentado
pela Lei nº 8.742/93 - Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS.
Comumente, o benefício pode ser dividido em dois grupos: Benefício Assistencial ao
Idoso, aos que possuem idade igual ou superior aos 65 (sessenta e cinco) anos, e à Pessoa com
Deficiência.
A construção da assistência social se deu após a promulgação da Constituição
Federal de 1988, fundamentalmente, no artigo 203, incisos I, II, III, IV, V e VI da, norteado
pelo princípio constitucional da solidariedade, expresso no Artigo 3º, I, em que preceitua: I -
construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III -
erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV -
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.
O princípio constitucional da solidariedade está diretamente vinculado à seguridade
social, onde tem por finalidade construir, assistir e proteger todos que dela necessitam,
segundo a juíza federal Ana Cristina Monteiro de Andrade Silva da Vara de Joaçaba-SC
(2016), o princípio constitucional da solidariedade, em termos de Direito Previdenciário,
serve como meio de realização da dignidade da pessoa humana, de modo a atender aos fins da
justiça social.

Quanto ao conteúdo normativo do princípio da solidariedade, há variação quanto aos


seus limites e possibilidades. Ocorre que a proteção social deverá ser ministrada até
debelar a necessidade resultante de uma contingência social, sendo que o dever do
Estado e o direito do indivíduo não abrangem todas as carências nem sua completa
extensão (PINHO, 2007, p. 66).

O disposto no caput do artigo 203, da CF e incisos I e V dispõe que a assistência


social será prestada a quem dela necessitar, sem fazer distinção dos beneficiários,
estabelecendo a garantia de um salário-mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou
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de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei, não devendo haver distinção entre
brasileiros e estrangeiros.
Nesse sentido, o Ministro Marco Aurélio (p. 6/11), através de seu voto em Recurso
Extraordinário 587970 do STF assentou:

A ideia maior de solidariedade social foi alçada à condição de princípio pela Lei
Fundamental. Observem a ninguém ter sido oferecida a escolha de nascer nesta
quadra e nesta sociedade, mas estamos todos unidos na construção de propósito
comum. O estrangeiro residente no País, inserido na comunidade, participa do
esforço mútuo. Esse laço de irmandade, fruto, para alguns, do fortuito e, para outros,
do destino, faz-nos, de algum modo, responsáveis pelo bem de todos, inclusive
daqueles que adotaram o Brasil como novo lar e fundaram seus alicerces pessoais e
sociais nesta terra. Desde a criação da nação brasileira, a presença do estrangeiro no
País foi incentivada e tolerada, não sendo coerente com a história estabelecer
diferenciação tão somente pela nacionalidade, especialmente quando a dignidade
está em cheque em momento de fragilidade do ser humano – idade avançada ou
algum tipo de deficiência.” “Esse é o sentido de solidariedade estampado no artigo
3º, inciso I, do Diploma Maior, objetivo fundamental da República.

Assim, a Suprema Corte Brasileira, por unanimidade, apreciou o Tema 173, fixando
a tese que os estrangeiros residentes no país, são beneficiários da assistência social desde que
atendidos os requisitos constitucionais e legais, entendo, portanto, de que é legal o estrangeiro
residente no país receber o benefício assistencial.
Promulgada a Lei Orgânica da Assistência Social nº 8.742 em 07 de dezembro de
1993, inicialmente regulamentada pelo Decreto nº 1.744 de 1995, após revogado pelo Decreto
nº 6.214, de 2007, prevendo então o seu requerimento a partir de 01 de janeiro de 1996,
vejamos: Art. 37. Os benefícios de prestação continuada serão concedidos, a partir da
publicação desta lei, gradualmente e no máximo em até: I - 12 (doze) meses, para os
portadores de deficiência; II - 18 (dezoito) meses, para os idosos; Art. 40. O benefício de
prestação continuada devido ao idoso e à pessoa portadora de deficiência, criado pela Lei nº
8.742, de 1993, somente poderá ser requerido a partir de 1º de janeiro de 1996.
Verifica-se que, o acesso ao direito constitucionalmente garantido, somente pode ser
alcançado, de fato, a partir do ano de 1996, três anos após a edição da lei orgânica. Ao longo
dos anos que se sucederam, o benefício sofreu aprimoramentos e foi se adequando aos
sistemas governamentais, possibilitando a aplicabilidade plena e imediata, atenuando, assim, a
desigualdade social, positivada nos artigos 6º, 194, e 203 da Constituição Federal.

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,


o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.             (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 2015)
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Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de


iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a
seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
I - universalidade da cobertura e do atendimento;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e
rurais;
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
V - eqüidade na forma de participação no custeio;
VI - diversidade da base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis
específicas para cada área, as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde,
previdência e assistência social, preservado o caráter contributivo da previdência
social;   (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103, de 2019)
VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão
quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos
aposentados e do Governo nos órgãos colegiados.         (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 20, de 1998)
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;
III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;
IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção
de sua integração à vida comunitária;
V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Para Ingo Wolfgang Sarlet, a Constituição de 1988 foi a primeira na história do


constitucionalismo pátrio a prever um título próprio aos princípios fundamentais, o
constituinte deixa de forma clara e inequívoca que o Estado existe em função da pessoa
humana e não ao contrário (SARLET, 2015).
Desse modo, o direito à Assistência Social é um direito fundamental social, fazendo
parte da estrutura fundamental do Estado. O professor Marcelo Tavares (2018), leciona que a
assistência social deve garantir prestações sociais mínimas e gratuitas, ficando a cargo do
Estado prover pessoas necessitadas de condições dignas.
O jurista Alexandre De Morais (2002) pensa da mesma forma, ao pregar que os
direitos sociais, dentre eles a assistência aos desamparados, são direitos fundamentais,
consagrados na Constituição como fundamento do Estado Democrático de Direito, tendo por
finalidade a melhoria de condições de vida dos hipossuficientes, visando à concretização da
igualdade social, sendo de observância obrigatória em um Estado Social de Direito.
A implementação de políticas eficazes para promoção e deslanche da afetividade dos
direitos sociais explícitos na Constituição se faz necessário, e hoje ainda se verificam algumas
dificuldades na melhoria de políticas públicas e medidas concretas de políticas sociais para
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alcance específico de determinada categoria de pessoas da população que precisam ser


alcançadas (DIMOULIS;MARTINS, 2011).
Paulatinamente se concebe a prevalência dos interesses coletivos sobre os individuais
como forma de garantir ideais fundamentalizados, regulados pelas leis e pelos atos
administrativos capazes de definir, executar ou implementar as chamadas políticas públicas de
interesse coletivo (KRELL, 2002).
Também sobre esse contexto, o jurista José Afonso da Silva (2007, p. 286/287),
apresenta o seguinte conceito de direitos sociais:
Assim, podemos dizer que os direitos sociais, como dimensão dos direitos
fundamentais do homem, são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta
ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores
condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a realizar a igualação de
situações sociais desiguais. São, portanto, direitos que se ligam ao direito de
igualdade. Valem como pressupostos do gozo dos direitos individuais na medida em
que criam condições materiais mais propícias ao auferimento da igualdade real, o
que, por sua vez, proporciona condição mais compatível com o exercício efetivo da
liberdade.

Entendendo-se, assim, uma subdivisão dos direitos sociais em direitos a prestações


jurídicas e prestações materiais, sendo o primeiro satisfeito pelo Estado na normatização do
bem jurídico protegido como direito fundamental, e o segundo satisfeito através dos recursos
financeiros para efetiva garantia dos direitos fundamentais.
A assistência social prevista na Constituição Federal vem como conjunto de ações
maior, que são os direitos fundamentais de prestação material, o que vindica o Estado
Brasileiro a tutelar sobre os indivíduos a fim de redução das desigualdades e garantir o
mínimo social, a dignidade humana aos que vivem em vulnerabilidade e risco social.
Ingo Wolfgang Sarlet (2010, p.70), propôs uma conceituação jurídica para a
dignidade da pessoa humana:
Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada
ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do
Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e
deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de
cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais
mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação
ativa corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão dos
demais seres humanos.

Da mesma forma, para o Ministro Luiz Roberto Barroso (2013), a dignidade da


pessoa humana, como atualmente compreendida, se assenta sobre pressuposto de que cada ser
humano possui um valor intrínseco e desfruta de uma posição especial no universo.
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Imputa-se ao Estado o desenvolvimento e a execução de programas, capazes de


suprir as necessidades primárias da sociedade, em especial dos indivíduos que se encontram
em situação de hipossuficiência, marginalidade e carência (CAMPOS, 1994).
Através da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), aprovado pelo Conselho
Nacional De Assistência Social (CNAS), onde se deu a implementação do Sistema Único De
Assistência Social (SUAS), que organiza através um sistema único o controle e cadastro dos
brasileiros a fim de monitorar e prestar serviço social de alcance a todos que de fato precisam,
que com a Lei nº 12.435/2011, tal modelo de gestão foi garantido.
A proposta do SUAS deve, segundo Sposati (2016, p. 05):

a) definir competências, atribuições, fontes e formas de financiamento nas três


esferas de governo bem como a definição de serviços regionais e municipais de
Assistência Social, com participação popular e aprovação dos Conselhos, definindo
competências, atribuições, fonte e formas de financiamento dos três níveis de
governo, acompanhado da implementação de Centros/Unidades Municipais e
regionais de Assistência Social 1

Todo este percurso normativo sustentou, de 2005 a 2011, a implantação do SUAS no


Brasil. Estas conquistas no campo socioassistencial foram incorporadas à Lei Orgânica da
Assistência Social – LOAS (Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993). Este foi, sem dúvida,
mais um marco histórico da política pública de assistência social. Com esta nova Lei, o SUAS
passou a integrar plenamente o escopo da LOAS2 (SPOSATI, 2016).

2. O Benefício de Prestação Continuada

De acordo com a Constituição Federal de 1988, a Assistência Social é dividida em três


pilares fundantes, fazendo parte do Sistema de Seguridade, sendo que todos os brasileiros
custeiam o Sistema de Seguridade, contribuindo por meio de tributos, sendo então repassados
para autarquia federal: a) Previdência (benefícios INSS); b) Saúde (SUS); c) Assistência
Social (benefícios assistenciais).
Vitor Chaves (2013), na sua obra intitulada “O Direito à Assistência Social no Brasil”,
expõe que assistência social não é filantropia ou favor estatal, mas um direito que objetiva
viabilizar de forma justa e imparcial a autonomia individual necessária para o exercício

1
(II PLANO DECENAL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (2016/2026) - “Proteção Social para todos/as os/as
brasileiros/as”, p. 5)
2
(II PLANO DECENAL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (2016/2026) “Proteção Social para todos/as os/as
brasileiros/as”, p. 7)
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qualificado da cidadania de pessoas que, são excluídas materialmente e devem ser


reconhecidas como livres e iguais.
Atualmente o Brasil está entre os 10 (dez) países mais desiguais do mundo, conforme
afirmação do Sociólogo Luis Henrique Paiva - Coordenador de estudos em seguridade social
do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), baseando-se nas informações divulgadas
pelo IBGE, na Síntese de Indicadores Sociais, em entrevista para agência senado, reportagem
de Cíntia Sasse (Publicado em 12/03/21). Assim, podemos ver o quão importante é dispor da
assistência social aos muitos brasileiros que dela dependem para sua manutenção e
sobrevivência (PAIVA, BARTHOLO, SOUZA, ORAIR, SASSE, 2021).
A Organização das Nações Unidas (ONU), orientando através do artigo 22 e 25 da
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, dispõe: Art. 22. Toda a pessoa, como
membro da sociedade, tem direito à segurança social, e pode legitimamente exigir a satisfação
dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à
cooperação internacional, de harmonia com a organização e os recursos de cada país; Art. 25.
Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a
saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à
assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança
no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de
meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.
Assim, a assistência social representa a atuação estatal no sentido de fornecer ao
cidadão, independentemente de contribuição direta aos cofres públicos, serviços e valores
propiciadores da igualdade, mais precisamente no sentido de dignidade humana.
Logo, a assistência não repercute exclusivamente no fornecimento pelo estado de
determinado valor pecuniário, mas na concessão de valores que permitam o acesso
ao mínimo, ou pelo menos serviços que garantam o mínimo ao ser social.
(FOLMANN; SOARES, 2012, p. 18).

Nesse sentido, observa-se que visando à proteção social ao idoso e ao deficiente na


transferência e aplicação não é cumprida como deveria, pois há muitas pessoas que não foram
alcançadas por não enquadramento em um dos requisitos mínimos exigidos pela legislação
que regulamentou tal benesse.
Em conformidade com a Lei Orgânica de Assistência Social nº 8.742 de 1993, o
benefício assistencial ao idoso e ao deficiente não é vitalício, e intransferível, extinguindo-se
com a morte do beneficiário, não deixando assim direito a pensão por morte ou modificação
da situação fática que embasam a concessão do benefício junto ao INSS.
13

Art. 21. O benefício de prestação continuada deve ser revisto a cada 2 (dois)
anos para avaliação da continuidade das condições que lhe deram origem.
(Vide Lei nº 9.720, de 30.11.1998); § 1º O pagamento do benefício cessa no
momento em que forem superadas as condições referidas no caput, ou em
caso de morte do beneficiário. § 2º O benefício será cancelado quando se
constatar irregularidade na sua concessão ou utilização. § 3o O
desenvolvimento das capacidades cognitivas, motoras ou educacionais e a
realização de atividades não remuneradas de habilitação e reabilitação, entre
outras, não constituem motivo de suspensão ou cessação do benefício da
pessoa com deficiência. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011); § 4o A
cessação do benefício de prestação continuada concedido à pessoa com
deficiência, inclusive em razão do seu ingresso no mercado de trabalho, não
impede nova concessão do benefício, desde que atendidos os requisitos
definidos em regulamento.(Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011); § 4º A
cessação do benefício de prestação continuada concedido à pessoa com
deficiência não impede nova concessão do benefício, desde que atendidos os
requisitos definidos em regulamento. (Redação dada pela Lei nº 12.470, de
2011); § 5º O beneficiário em gozo de benefício de prestação continuada
concedido judicial ou administrativamente poderá ser convocado para
avaliação das condições que ensejaram sua concessão ou manutenção,
sendo-lhe exigida a presença dos requisitos previstos nesta Lei e no
regulamento. (Incluído pela Lei nº 14.176, de 2021).

Para acesso ao benefício assistencial, aborda-se os pré-requisitos necessários à sua


concessão, tanto ao deficiente quanto ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, que
comprovam não possuir meios de prover a própria manutenção nem tê-la provida pela sua
própria família, com renda familiar mensal per capita igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do
salário-mínimo, sendo um requisito subjetivo (critério etário ou deficiência) e um requisito
objetivo (hipossuficiência/ miserabilidade).
O primeiro requisito não gera muitas divergências, sendo aplicado de forma quase
unânime. O idoso é aquele que tem sessenta e cinco anos de idade ou mais e o deficiente é
aquele que através de laudo médico pericial e avaliação biopsicossocial ateste algum tipo de
incapacidade que perdura e perdurará por tempo superior a dois anos.
Já o que traz grande repercussão é o requisito da hipossuficiência, também
denominado de critério da miserabilidade, em que é alvo de muitas divergências, sendo que
essas dissensões surgiram desde seu nascimento da legislação e permanecem até os dias
atuais.

2.1 Da comprovação da deficiência

Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento a longo prazo, e
que a torna reclusa da sociedade de forma plena e efetiva, causando-a desigualdade social,
artigo 20, § 2º da Lei nº 8.742/1993 e artigo 2º da Lei nº 13.146 de 2015 - Inclusão da Pessoa
14

com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Art. 20, § 2o: Para efeito de concessão
do benefício de prestação continuada, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem
impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
Para fins de comprovação de tal deficiência/incapacidade, ficará sujeito a avaliação
pericial e avaliação social/biopsicossocial realizado por médicos peritos e assistentes sociais
do Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS, quanto a deficiência e grau de
impedimento de longo prazo, sendo esse prazo de 02 (dois anos), que perdura e perdurará por
mais de dois anos.3
A deficiência, por sua vez, deve ser analisada conforme a CIF- Classificação
Internacional de Funcionalidades, Incapacidade e Saúde, emitida pela Organização Mundial
da Saúde- OMS, uma vez que, apresenta uma metodologia de análise da incapacidade e da
funcionalidade por intermédio de uma intrínseca relação entre diversos fatores, como por
exemplo, ambientais e pessoais e não somente análise acerca da capacidade laborativa.
Atualmente, é consenso o entendimento de que deficiência não é doença e nem deve
ser confundida com a palavra incapacidade. As deficiências podem ser parte ou uma
expressão de uma condição de saúde, mas não indicam necessariamente a presença de uma
doença ou que o indivíduo deve ser considerado doente (CIF, 20034).
Quanto ao termo “incapacidade”, denota um estado negativo de funcionamento da
pessoa em função do ambiente humano e físico inadequado ou inacessível, e não um tipo de

3
Art. 20-B. Na avaliação de outros elementos probatórios da condição de miserabilidade e da situação de
vulnerabilidade de que trata o § 11 do art. 20 desta Lei, serão considerados os seguintes aspectos para ampliação
do critério de aferição da renda familiar mensal per capita de que trata o § 11-A do referido artigo: (Vigência)
(Vide)
I – o grau da deficiência;
II –a dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas da vida diária; e
III – o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata o § 3º do art. 20 desta Lei
exclusivamente com gastos médicos, com tratamentos de saúde, com fraldas, com alimentos especiais e
com medicamentos do idoso ou da pessoa com deficiência não disponibilizados gratuitamente pelo SUS,
ou com serviços não prestados pelo Suas, desde que comprovadamente necessários à preservação da
saúde e da vida.
§ 1º A ampliação de que trata o caput deste artigo ocorrerá na forma de escalas graduais, definidas em
regulamento.
§ 2º Aplicam-se à pessoa com deficiência os elementos constantes dos incisos I e III do caput deste artigo,
e à pessoa idosa os constantes dos incisos II e III do caput deste artigo.
§ 3º O grau da deficiência de que trata o inciso I do caput deste artigo será aferido por meio de
instrumento de avaliação biopsicossocial, observados os termos dos §§ 1º e 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6
de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), e do § 6º do art. 20 e do art. 40-B desta Lei. (Lei
14.176/2021)
4
Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - Organização Mundial da Saúde.
http://www.periciamedicadf.com.br/cif2/cif_portugues.pdf
15

condição. Por exemplo, a incapacidade de uma pessoa cega para ler textos que não estejam em
braile; a incapacidade de uma pessoa com baixa visão para ler textos impressos em letras
miúdas; a incapacidade de uma pessoa em cadeira de rodas para subir escadarias; a
incapacidade de uma pessoa com deficiência intelectual para entender explicações complexas;
a incapacidade de uma pessoa surda para captar ruídos e falas. Configura-se, assim, a situação
de “desvantagem” imposta às pessoas com deficiência através daqueles fatores ambientais que
não constituem barreiras para as pessoas sem deficiência (SASSAKI, 2004).
Com os avanços no campo das ciências e o fortalecimento dos movimentos sociais de
pessoas com deficiência, novos conceitos e concepções foram definidos e acatados pelos
órgãos internacionais e nacionais, na perspectiva da compreensão de que, a “deficiência não
está na pessoa como um problema a ser curado, e sim na interação com a sociedade, que pode,
por meio de barreiras que são impostas às pessoas com deficiência, agravar uma determinada
limitação funcional” (SDH, 2014, p.27).
Discorrendo sobre o dispositivo da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência há o reconhecimento de que a deficiência é um conceito resultante da interação
com as barreiras existentes, conforme dispõe o modelo social. Em relação ao direito à
educação, assinala que deverá servir para lembrar a todos que: a) pouco se sabe sobre as
capacidades de pessoas com deficiência, inclusive a intelectual; b) quanto mais lhes for
garantida a igualdade de oportunidades, maior a chance de desenvolverem seu potencial; c)
quanto mais adaptado for o ambiente e as pessoas que o compõem para a interação com
as deficiências, menos significativas serão as limitações que delas decorrem (GUGEL,
2007).
Assim, nesse mesmo contexto vislumbrando a quebra de tais barreiras, pode-se falar
também sobre o auxílio inclusão de que trata a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto
da Pessoa com Deficiência), regulamentada especificamente com advento da Lei 14.176 de
2021, que tem o propósito de inclusão da pessoa com deficiência, tendo direito à igualdade de
oportunidades como todos, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária observando
as regras de acessibilidades, recursos para adaptação razoável no ambiente de trabalho.
Já, o professor Ilídio das Neves ensina que, portadores de deficiência são aqueles que
“por motivo de lesão, deformidade ou doença congênita” estejam em qualquer das seguintes
situações: a) necessitem de atendimento específico de natureza pedagógica ou terapêutica;
frequentem, estejam internados ou em condições de frequência ou internamento em
estabelecimento de educação especial; b) possuam uma redução permanente de capacidade
física, motora, orgânica, sensorial ou intelectual susceptível de os impossibilitar de proverem
16

normalmente à sua subsistência ao atingirem a idade de exercício de atividade profissional


(NEVES, 1996).
O Decreto nº 6.949 de 2009, promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de
março de 2007, onde reafirma em preâmbulo: c) a universalidade, a indivisibilidade, a
interdependência e a inter-relação de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais,
bem como a necessidade de garantir que todas as pessoas com deficiência os exerçam
plenamente, sem discriminação; e) Reconhecendo que a deficiência é um conceito em
evolução e que a deficiência resulta da interação entre pessoas com deficiência e as barreiras
devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas
na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas; f) Reconhecendo a
importância dos princípios e das diretrizes de política, contidos no Programa de Ação Mundial
para as Pessoas Deficientes e nas Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas
com Deficiência, para influenciar a promoção, a formulação e a avaliação de políticas, planos,
programas e ações em níveis nacional, regional e internacional para possibilitar maior
igualdade de oportunidades para pessoas com deficiência.
A jurisprudência, está pacificada no sentido de que o beneficiário não precisa
efetivamente possuir uma deficiência, visto que o impedimento a longo prazo também pode
ser reconhecido para o enquadramento e deferimento da benesse, tendo em vista que podem
obstruir a participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas, (AC 5008810-35.2017.4.04.7112 - TRF 4). 5

2.2 Da renda per capita

Há de falar que mesmo diante de alterações sofridas no decorrer dos anos com fatores
sociais e econômicos, a LOAS manteve o critério em questão da renda per capita de ¼ do
salário mínimo vigente por membros do grupo familiar, não receber outros benefícios do
INSS, estar devidamente inscrito no Cadastro Único - CadÚnico, conforme a Lei nº
13.846/2019, que instituiu o Programa Especial de Análise e Revisão com indício de
irregularidade dos benefícios ativos há muitos anos, a fim de se adequarem à nova sistemática,
e, para novas concessões estarem de acordo com novos parâmetros.
O CadÚnico é um instrumento de coleta, processamento, sistematização e
disseminação de informações, com a finalidade de realizar a identificação e a caracterização
5
AC 5008810-35.2017.4.04.7112 - TRF 4 - QUINTA TURMA, Relator OSNI CARDOSO FILHO
17

socioeconômica das famílias de baixa renda que residem no território nacional. Sua definição
é dada pelo Decreto Federal nº 6.135, de 26 de junho de 2007, onde era facultado a utilização
do CadÚnico na operacionalização do BPC sofrendo alterações de regulamento pelo Decreto
nº 8.805, de 7 de julho de 2016, e revogado em sua integralidade pelo Decreto nº 11.016, de
29 de março de 2022.
Servindo como meio de acesso às famílias e indivíduos de baixa renda que precisam
ser alcançadas e integralizadas pelos programas sociais do Governo Federal, programas esses
disponíveis e destinados a esse público, e também utilizado para a formulação, a
implementação, o monitoramento e a avaliação de políticas públicas, nos âmbitos federal,
estadual, municipal e distrital, com vistas à análise de alternativas de políticas públicas para a
superação da situação de vulnerabilidade econômica e social. (Decreto nº 11.016, 2022).
Com objetivo de servir como base de dados para acesso aos programas sociais e
definir parâmetros de família de baixa renda e distinguir a renda per capita de um determinado
grupo familiar, o artigo 5º, do Decreto nº 11.016/2022 traz as seguintes definições sobre
família: I - família - a unidade composta por um ou mais indivíduos que contribuam para o
rendimento ou tenham suas despesas atendidas pela unidade familiar e que sejam moradores
em um mesmo domicílio; II - família de baixa renda - família com renda familiar mensal per
capita de até meio salário mínimo; III - domicílio - local que serve de moradia à família; IV -
responsável pela unidade familiar - pessoa responsável por prestar as informações ao
CadÚnico em nome da família, que pode ser: a) responsável familiar - indivíduo membro da
família, morador do domicílio, com idade mínima de dezesseis anos e, preferencialmente, do
sexo feminino; ou b) representante legal - indivíduo não membro da família e que não seja
morador do domicílio, legalmente responsável por pessoas menores de dezesseis anos ou
incapazes e responsável por prestar as informações ao CadÚnico, quando não houver morador
caracterizado como responsável familiar.
Como definição de renda per capita do grupo familiar pré-estabelecido na
organização da Assistência Social, também traz inovação em considerar a renda per capita de
¼ do salário-mínimo para até meio salário mínimo, fazendo assim consonância com as
inovações agregadas à LOAS.
É importante ressaltar que a LOAS (Lei 8.742/1993), veda acumulação do Benefício
Assistencial com outros benefícios do âmbito da seguridade social ou outro regime, como
auxílio doença, aposentadorias, auxílio reclusão, pensão por morte, seguro desemprego,
dentre outros, sendo apenas excluído do cálculo da renda per capita, o recebimento de
benefício de mesma espécie concedido a outro membro do grupo familiar, previsão constante
18

no Art. 20, §14, §15 da LOAS (Lei 8.742/1993), ambos incluídos pela Lei nº 13.982 de 2020,
em que dispõe sobre parâmetros adicionais de caracterização da situação de vulnerabilidade
social para fins de elegibilidade ao benefício de prestação continuada (BPC).
O advento da Lei nº 14.176 de 22 de junho de 2021, trouxe alterações à Lei nº 8.742,
de 7 de dezembro de 1993, a fim de estabelecer um novo critério de análise da renda familiar
per capita ampliando o limite para até ½ salário-mínimo, in verbis, Art. 20, § 11-A: O
regulamento de que trata o § 11 deste artigo poderá ampliar o limite de renda mensal familiar
per capita previsto no § 3º deste artigo para até 1/2 (meio) salário-mínimo, observado o
disposto no art. 20-B que traz o seguinte:
Art. 20-B.Na avaliação de outros elementos probatórios da condição de
miserabilidade e da situação de vulnerabilidade de que trata o § 11 do art. 20
desta Lei, serão considerados os seguintes aspectos para ampliação do
critério de aferição da renda familiar mensal per capita de que trata o § 11-A
do referido artigo:
(...) III – o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata o
§ 3º do art. 20 desta Lei exclusivamente com gastos médicos, com
tratamentos de saúde, com fraldas, com alimentos especiais e com
medicamentos do idoso ou da pessoa com deficiência não disponibilizados
gratuitamente pelo SUS, ou com serviços não prestados pelo Suas, desde que
comprovadamente necessários à preservação da saúde e da vida.
§ 4º O valor referente ao comprometimento do orçamento do núcleo
familiar com gastos de que trata o inciso III do caput deste artigo será
definido em ato conjunto do Ministério da Cidadania, da Secretaria Especial
de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia e do INSS, a partir de
valores médios dos gastos realizados pelas famílias exclusivamente com
essas finalidades, facultada ao interessado a possibilidade de comprovação,
conforme critérios definidos em regulamento, de que os gastos efetivos
ultrapassam os valores médios.

No que se trata aos critérios de comprometimento do orçamento do núcleo familiar


com os devidos gastos não disponibilizados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde e
pelo Sistema Único de Assistência Social foi definido em conjunto com o Ministério da
Cidadania conforme Portaria Conjunta/MC/MTP/INSS nº 14, de 7 de outubro de 2021, em
sua tabela tabela 1. do anexo I - Descontos SUS - inciso I do § 4º do art. 8º, os seguintes
valores passíveis de abatimento, a serem aplicados uma única vez, para cada categoria, no
valor médio do respectivo gasto:
a) Medicamentos – desconto de R$ 40 (quarenta reais); b) Consultas e
tratamentos médicos não disponibilizados pelo SUS – desconto de R$ 81
(oitenta e um reais); c) Serviços não disponibilizados pelo SUAS
(Centro-Dia) - desconto de R$ 29 (vinte e nove reais); d) Fraldas – desconto
de R$ 89 (oitenta e nove reais); e) Alimentação especial – desconto de R$
109 (cento e nove reais).
19

Usando como referencial de tal aplicação de valores, pesquisa realizada pelo


Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE em Pesquisa de Orçamento Familiar
(POF), correspondente ao biênio de 2017-2018 e publicada no ano de 2019.
Ainda, a portaria traz as seguintes observações:
Trata-se dos valores médios de referência, para dedução máxima por
categoria, conforme § 5º do art. 8º desta Portaria, ressalvada a possibilidade
de dedução de valores superiores, conforme § 6º do art. 8º desta Portaria. 2.
Os valores serão atualizados em janeiro de cada ano de acordo com a
variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulada no
ano anterior, apurado pelo IBGE. 3. Para a Tabela 1, os valores apurados pela
POF foram atualizados monetariamente pela variação do INPC acumulada
entre fevereiro de 2018 e dezembro de 2020, uma vez que a data de
referência fixada para a compilação, análise e apresentação dos resultados da
POF 2017-2018 foi 15 de janeiro de 2018. 4. Para a Tabela 2, o valor
dedutível foi apurado a partir do cofinanciamento federal per capita
destinado para o Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com
Deficiência, Idosas e suas Famílias (Centro-Dia) prestado pelo SUAS. 5. O
detalhamento da metodologia de cálculo encontra-se em nota técnica da
Secretaria Nacional de Assistência Social do Ministério da Cidadania e da
Secretaria de Previdência da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho
do Ministério da Economia, que serão objeto de ampla divulgação. 6.
Sempre que necessário, a apuração dos valores poderá ser revista, com
divulgação da versão atualizada da metodologia.

Portanto, a Lei nº 14.176 de 22 de junho de 2021 veio trazendo inovações, inserindo


em seu contexto um entendimento já pacificado no STF e STJ quanto à ampliação do critério
da renda per capita, como também valores passíveis de deduções nesse cálculo, quando da
análise.

3. Decisão do Supremo Tribunal de Justiça, Supremo Tribunal Federal e a Lei nº


14.176/2021

Atualmente a jurisprudência do STJ é firme no sentido de que tal dispositivo legal


traduz uma presunção absoluta de miserabilidade quando a renda familiar for inferior a ¼ de
salário-mínimo, devendo ser comprovada por qualquer meio de prova admitido em direito nos
demais casos, isto é, quando a renda familiar per capita for superior a ¼ do salário mínimo.
Nesse sentido, a jurisprudência diz que a limitação do valor da renda per capita
familiar não deve ser considerada a única forma de provar que a pessoa não possui outros
meios para prover a própria manutenção ou tê-la provida por sua família, pois é apenas um
20

elemento objetivo para aferir a necessidade, ou seja, presume-se absoluta a miserabilidade


quando demonstrada a renda per capita inferior a 1/4 do salário-mínimo.6
Nesta mesma senda, é importante trazer à baila, Recurso Repetitivo (ART. 543-C DO
CPC E RES. 8/2008-STJ). TEMA 640. O informativo 572, em que trata o contexto da renda
per capita, na possibilidade do recebimento de benefício assistencial por mais de um membro
do mesmo grupo familiar por se tratar pessoas “vulneráveis”.
O estatuto do idoso traz que o benefício já concedido a qualquer membro da família
nos termos do caput não será computado para os fins de cálculo da renda per capita, enquanto
o estatuto da pessoa com deficiência não traz tal previsão, assim, veremos relatório da Tese
Jurídica, onde a renda per capita em caso de concessão do benefício ao deficiente deve ser
analisada por analogia:
Aplica-se o parágrafo único do artigo 34 do Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741/03),
por analogia, a pedido de benefício assistencial feito por pessoa com deficiência a
fim de que benefício previdenciário recebido por idoso, no valor de um salário
mínimo, não seja computado no cálculo da renda per capita prevista no artigo 20, §
3º, da Lei n. 8.742/93". (REsp 1355052 / SP).

O relator Min. Benedito Gonçalves, trata da proteção ao idoso e ao deficiente por


intermédio da concessão do benefício assistencial, por serem considerados vulneráveis, e a
constituição não faz distinção entre essas duas classes de vulneráveis sociais.
O art. 34 do Estatuto do Idoso, por sua vez, dispõe:

Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios
para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o
benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS.
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos
do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a
que se refere a LOAS.

O normativo já deixa explicitamente claro que o valor recebido por idoso a título de
benefício de prestação continuada, não deve fazer parte da renda da família de que trata o art.
20, § 3º, da Lei 8.742/1993. Isso porque a renda mínima se destina exclusivamente, à sua
manutenção, protegendo-o da situação de vulnerabilidade social.
Nessa mesma linha, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou, no dia 18 de abril
de 2013, a inconstitucionalidade do parágrafo 3º do artigo 20 da Lei Orgânica da Assistência
Social (Lei n. 8.742/1993) que prevê como critério para a concessão de benefício a idosos ou
deficientes a renda familiar mensal per capita inferior a ¼ do salário mínimo, por considerar

6
REsp 1.112.557/MG, sob o rito dos recursos repetitivos (art. 543-C do CPC).[...](AgRg no REsp 1514461/SP,
Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/04/2016, DJe 24/05/2016.
21

que esse critério está defasado para caracterizar a situação de miserabilidade, devendo ser
analisado o caso concreto.
O Ministro Gilmar Mendes na Reclamação 4374/ PE, ao relatar sobre a
inconstitucionalidade e omissão legislativa ao critério do parágrafo 3º do artigo 20 da LOAS,
explana que foi adotado com base na equação econômico-financeira baseado no
desenvolvimento econômico da época, e a economia brasileira mudou nos últimos 20 anos. ,as
que a inflação foi controlada, tornando possível a melhor distribuição de renda. (Rc 4.374. PE,
p. 36).7
Assim, proporcionaram que fossem modificados também os critérios para a
concessão de benefícios previdenciários e assistenciais que podem ser “mais generosos” que o
parâmetro de 1/4 do salário-mínimo mencionado no § 3º do art. 20 acima referido.
O Relator esclareceu que, atualmente, os programas de assistência social no Brasil
utilizam o valor de 1/2 salário-mínimo como referencial econômico para a concessão de
benefícios. Ele ressaltou que este é um indicador bastante razoável e que, portanto, o critério
de 1/4 do salário-mínimo utilizado pela LOAS está completamente defasado e inadequado
para aferir a miserabilidade das famílias.8
Nesta mesma senda, a professora Juliana Cardoso Ribeiro Bastos, assevera que, para
que todos possam ter as condições mínimas almejadas, faz-se necessária a intervenção do
Estado na prestação de determinados direitos tidos por essenciais, como a assistência social, já
que se relegar ao próprio sistema social não se terá o alcance necessário para que todos
possam usufruir dos referidos direitos (BASTOS, 2013).
Por meio do Informativo 669, o STF na decisão com tema relativo ao benefício de
prestação continuada – Recursos Extraordinários 567.985/MT e 580.963/PR, ambos decididos
em 2012, registrou:
O dever estatal de entregar um conjunto de prestações básicas necessárias à
sobrevivência individual. Asseverou que o constituinte o instituirá no artigo 6º da
CF/88, no qual compelir-se-ia aos Poderes Públicos a realização de políticas a
remediar, ainda que minimamente, a situação de miséria dos desamparados. (...).

Dentro deste mesmo contexto, a assistente social e secretária do Ministério de


Desenvolvimento Social, Ana Lígia Gomes entende que, “o BPC encontra sua identidade na
proteção básica, pois visa garantir aos seus beneficiários o direito à convivência familiar e
comunitária, bem como, o trabalho social com suas famílias, contribuindo para o atendimento
7
https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/24806757/reclamacao-rcl-4374-pe-stf
8
STF. Plenário. RE 567985/MT e RE 580963/PR, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgados em 17 e
18/4/2013 (Info 702).
22

de suas necessidades e para o desenvolvimento de suas capacidades e de sua autonomia”


(GOMES, 2005).
No julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 132, o
relator Ministro Ayres Britto (2001, p.12), diz:
O Estado existe para auxiliar os indivíduos na realização dos respectivos projetos
pessoais de vida, que traduzem o livre e pleno desenvolvimento da personalidade.
(…) A dignidade da vida requer a possibilidade de concretização de metas e
projetos. Daí se fala em dano existencial quando o Estado manieta o cidadão nesse
aspecto.9

A proteção aos idosos aqui tem nítido caráter assistencial. Não havendo assim
distinção constitucional entre vulneráveis (idosos e deficientes) e, mesmo assim, não há
norma na Lei Orgânica da Assistência Social a garantir às pessoas com deficiência o mesmo
amparo que o parágrafo único do art. 34 da Lei nº 10.741/2003 garante aos idosos.
Desse modo, à luz dos princípios da isonomia e da dignidade humana, faz-se
necessário aplicar a analogia a fim de que o parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso
integre também o sistema de proteção à pessoa com deficiência, para assegurar que o
benefício previdenciário de caráter assistencial, no valor de um salário mínimo, pois não
evidenciada a Corte Constitucional justificativa plausível para o discrímen.
Também há de se falar dos novos critérios de análise da renda per capita, trazidos na
Lei nº 14.176 de 22 de junho de 2021, onde traz a regulamentação dos parâmetros adicionais
de caracterização da situação de miserabilidade e de vulnerabilidade social, computando
gastos que comprometem o orçamento do grupo familiar:

Art. 20-B: Na avaliação de outros elementos probatórios da condição de


miserabilidade e da situação de vulnerabilidade de que trata o § 11 do art. 20 desta
Lei, serão considerados os seguintes aspectos para ampliação do critério de aferição
da renda familiar mensal per capita de que trata o § 11-A do referido artigo:
I – o grau da deficiência;
II – a dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas da vida
diária; e
III – o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata o § 3º do art.
20 desta Lei exclusivamente com gastos médicos, com tratamentos de saúde, com
fraldas, com alimentos especiais e com medicamentos do idoso ou da pessoa com
deficiência não disponibilizados gratuitamente pelo SUS, ou com serviços não
prestados pelo Suas, desde que comprovadamente necessários à preservação da
saúde e da vida.

9
MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número
2208287.Supremo Tribunal Federal Voto - MIN. MARCO AURÉLIO Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de
107
23

Observando que os incisos I (grau de deficiência) e III (comprometimento do


orçamento do núcleo familiar) aplica-se à pessoa deficiente, e os incisos II (dependência de
terceiros) e III (comprometimento do orçamento do núcleo familiar) aplica-se à pessoa idosa.
Com tal consideração de que os gastos que comprometem o orçamento do grupo
familiar são comprovadamente necessários à preservação da saúde e da vida, se a renda do
grupo familiar ultrapassar, poderá ser feito o devido abatimento, não havendo empecilho em
sua concessão.

Considerações Finais

Com propósito de reduzir a desigualdade social e garantir o mínimo possível a


dignidade humana e aos que vivem em vulnerabilidade e risco social, o Estado Brasileiro tem
avançado, especificamente na organização assistencial através de um conjunto de ações de
prestação material dos direitos fundamentais, prestados aos cidadãos que necessitam,
independente de verterem contribuições como forma de garantir o seu direito.
A responsabilidade pública, em disponibilizar benefícios e programas sociais, será
gerido, sob os princípios da descentralização e democratização, e vem aprimorando-se no
decorrer dos anos.
O BPC como discorrido têm em sua essencialidade caráter puramente assistencial,
sendo a verdadeira política pública inerente ao campo dos direitos fundamentais, com uma
parcela significativa do estado em propiciar o mínimo necessário aos que se encontram em
situações vulnerabilidade econômica, tendo o básico para que não padecem independente de
sua contraprestação, assim o estado cumpre o seu dever de proteção e amparo social da
dignidade da pessoa humana.
Importa, que o estado está em busca de servir, assistir e garantir a dignidade da
pessoa humana, prevista no art. 1º, inciso III, da Constituição Federal, e, a Previdência Social,
levando em conta a importância de sua operacionalização enquanto organização pública
prestadora de serviços previdenciários.
A implementação de políticas eficazes para promoção e deslanche da afetividade dos
direitos sociais explícitos na Constituição se faz necessário, e hoje ainda se verificam algumas
dificuldades na melhoria de políticas públicas e medidas concretas de políticas sociais para
alcance específico de determinada categoria de pessoas da população que precisam ser
alcançadas (DIMOULIS; MARTINS, 2011).
24

Assim, as pessoas que já tiveram seu direito violado, diante da Assistência Social e
da universalização da oferta da Proteção Social Especial, para todo e qualquer cidadão, poderá
exigir sua inclusão aos programas e projetos socioassistenciais, observando o
desenvolvimento, avanço e crescimento das políticas sociais, para proteção e defesa dos
direitos e dignidade da pessoa humana.
Em conclusão às pesquisas realizadas para o artigo, dentro do tema abrangido, é
possível ver o quão importante é o papel do Estado na vida dos brasileiros.
Desde a promulgação da CF de 88, é evidente que há uma preocupação do Estado em
permitir que todos vivam com dignidade, principalmente os que se encontram em situação de
vulnerabilidade, conceituando-os e trazendo assim, os direitos e garantias fundamentais que
não abrangem apenas as garantias e direitos individuais, mas também os direitos sociais.
Sem a garantia dos direitos sociais o princípio fundamental da Constituição Federal
não seria efetivo, a partir de então começou a instituir leis específicas para amparar e trazer
uma proteção maior àqueles que não tem acesso a uma vida digna, não despendem de renda
própria, reduzindo assim a desigualdade social.
Por mais que seja apenas um salário-mínimo, o valor do BPC, faz toda a diferença
auferido por quem não tem como prover sua própria subsistência.
O que mais chama atenção é os relatos dos entendimentos pacificados do judiciário,
que mesmo reconhecendo que tal valor do benefício acaba por devassar com constante
crescimento da inflação, o mesmo é suficiente para manter o grupo familiar.
Desta forma, considerando todas as colocações que envolvem a concessão do
benefício assistencial, entrelaçando aos direitos sociais e assistenciais, que tem por finalidade
eliminar por completo as desigualdades sociais e econômicas, em meu ponto vista, entendo
que, apenas apazigua tal situação, trazendo apenas a satisfação do beneficiário em ter seu
poder de compra, garantindo o mínimo possível para subsistência, mas não é suficiente para
manter uma família, ainda há muitos avanços a serem trazidos para erradicação total da
pobreza.

Referências

BASTOS, Juliana C. R. . Panorama e concretização da Assistência Social. Revista de


Direito Constitucional e Internacional , v. 83, p. 211, abr. 2013

BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito contemporâneo: a


construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial. 1ª reimpressão. Belo
Horizonte: Fórum, 2013, p 14.
25

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,


DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em: 01
jun. 2022.

BRASIL. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe Sobre A Organização Da


Assistência Social e dá outras providências.Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm. Acesso em: 01 jun. 2022.

BRASIL. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional


sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em
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