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CURSO DE DIREITO
PORTO ALEGRE
2022
CENTRO UNIVERSITÁRIO FADERGS
CURSO DE DIREITO
PORTO ALEGRE
2022
Benefício de Prestação Continuada - (BPC)
Resumo
Abstract
The present paper discusses the social and individual rights guaranteed in the Federal
Constitution of 1988, in instituting and ensuring rights related to health, social security and
social assistance, observing the social policies of assistance instituted to confront the poverty
that affects the lower and disadvantaged classes, promoting the universalization of social and
human rights to the reach of all who need them, regulated through the Organic Law of Social
Assistance No. 8.742 of 1993. The article made use of ample bibliographical research,
adopting the exploratory and explanatory research method, based on the Federal Constitution,
Laws, Decrees, Ordinances, Normative Instructions, court decisions, jurisprudential research
5
from the STF and STJ. Data was also collected from articles, books and published works
related to the theme in order to explain diverse understandings, opinions and interpretations
on the methodology of analysis and concepts that guide the LOAS, its changes over the years
adapting to the development of society. The methodical and restrictive understanding of the
IN SS in the analysis and validation of the necessary requirements for the application of the
law, especially in what concerns the miserability, per capita income in the family group,
verifying that there was a great evolution coming from the jurisprudential understanding,
building new concepts of "vulnerability", bringing changes and expanding the form of
operationalization of BPC.
Introdução
de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei, não devendo haver distinção entre
brasileiros e estrangeiros.
Nesse sentido, o Ministro Marco Aurélio (p. 6/11), através de seu voto em Recurso
Extraordinário 587970 do STF assentou:
A ideia maior de solidariedade social foi alçada à condição de princípio pela Lei
Fundamental. Observem a ninguém ter sido oferecida a escolha de nascer nesta
quadra e nesta sociedade, mas estamos todos unidos na construção de propósito
comum. O estrangeiro residente no País, inserido na comunidade, participa do
esforço mútuo. Esse laço de irmandade, fruto, para alguns, do fortuito e, para outros,
do destino, faz-nos, de algum modo, responsáveis pelo bem de todos, inclusive
daqueles que adotaram o Brasil como novo lar e fundaram seus alicerces pessoais e
sociais nesta terra. Desde a criação da nação brasileira, a presença do estrangeiro no
País foi incentivada e tolerada, não sendo coerente com a história estabelecer
diferenciação tão somente pela nacionalidade, especialmente quando a dignidade
está em cheque em momento de fragilidade do ser humano – idade avançada ou
algum tipo de deficiência.” “Esse é o sentido de solidariedade estampado no artigo
3º, inciso I, do Diploma Maior, objetivo fundamental da República.
Assim, a Suprema Corte Brasileira, por unanimidade, apreciou o Tema 173, fixando
a tese que os estrangeiros residentes no país, são beneficiários da assistência social desde que
atendidos os requisitos constitucionais e legais, entendo, portanto, de que é legal o estrangeiro
residente no país receber o benefício assistencial.
Promulgada a Lei Orgânica da Assistência Social nº 8.742 em 07 de dezembro de
1993, inicialmente regulamentada pelo Decreto nº 1.744 de 1995, após revogado pelo Decreto
nº 6.214, de 2007, prevendo então o seu requerimento a partir de 01 de janeiro de 1996,
vejamos: Art. 37. Os benefícios de prestação continuada serão concedidos, a partir da
publicação desta lei, gradualmente e no máximo em até: I - 12 (doze) meses, para os
portadores de deficiência; II - 18 (dezoito) meses, para os idosos; Art. 40. O benefício de
prestação continuada devido ao idoso e à pessoa portadora de deficiência, criado pela Lei nº
8.742, de 1993, somente poderá ser requerido a partir de 1º de janeiro de 1996.
Verifica-se que, o acesso ao direito constitucionalmente garantido, somente pode ser
alcançado, de fato, a partir do ano de 1996, três anos após a edição da lei orgânica. Ao longo
dos anos que se sucederam, o benefício sofreu aprimoramentos e foi se adequando aos
sistemas governamentais, possibilitando a aplicabilidade plena e imediata, atenuando, assim, a
desigualdade social, positivada nos artigos 6º, 194, e 203 da Constituição Federal.
1
(II PLANO DECENAL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (2016/2026) - “Proteção Social para todos/as os/as
brasileiros/as”, p. 5)
2
(II PLANO DECENAL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL (2016/2026) “Proteção Social para todos/as os/as
brasileiros/as”, p. 7)
12
Art. 21. O benefício de prestação continuada deve ser revisto a cada 2 (dois)
anos para avaliação da continuidade das condições que lhe deram origem.
(Vide Lei nº 9.720, de 30.11.1998); § 1º O pagamento do benefício cessa no
momento em que forem superadas as condições referidas no caput, ou em
caso de morte do beneficiário. § 2º O benefício será cancelado quando se
constatar irregularidade na sua concessão ou utilização. § 3o O
desenvolvimento das capacidades cognitivas, motoras ou educacionais e a
realização de atividades não remuneradas de habilitação e reabilitação, entre
outras, não constituem motivo de suspensão ou cessação do benefício da
pessoa com deficiência. (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011); § 4o A
cessação do benefício de prestação continuada concedido à pessoa com
deficiência, inclusive em razão do seu ingresso no mercado de trabalho, não
impede nova concessão do benefício, desde que atendidos os requisitos
definidos em regulamento.(Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011); § 4º A
cessação do benefício de prestação continuada concedido à pessoa com
deficiência não impede nova concessão do benefício, desde que atendidos os
requisitos definidos em regulamento. (Redação dada pela Lei nº 12.470, de
2011); § 5º O beneficiário em gozo de benefício de prestação continuada
concedido judicial ou administrativamente poderá ser convocado para
avaliação das condições que ensejaram sua concessão ou manutenção,
sendo-lhe exigida a presença dos requisitos previstos nesta Lei e no
regulamento. (Incluído pela Lei nº 14.176, de 2021).
Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento a longo prazo, e
que a torna reclusa da sociedade de forma plena e efetiva, causando-a desigualdade social,
artigo 20, § 2º da Lei nº 8.742/1993 e artigo 2º da Lei nº 13.146 de 2015 - Inclusão da Pessoa
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com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Art. 20, § 2o: Para efeito de concessão
do benefício de prestação continuada, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem
impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
Para fins de comprovação de tal deficiência/incapacidade, ficará sujeito a avaliação
pericial e avaliação social/biopsicossocial realizado por médicos peritos e assistentes sociais
do Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS, quanto a deficiência e grau de
impedimento de longo prazo, sendo esse prazo de 02 (dois anos), que perdura e perdurará por
mais de dois anos.3
A deficiência, por sua vez, deve ser analisada conforme a CIF- Classificação
Internacional de Funcionalidades, Incapacidade e Saúde, emitida pela Organização Mundial
da Saúde- OMS, uma vez que, apresenta uma metodologia de análise da incapacidade e da
funcionalidade por intermédio de uma intrínseca relação entre diversos fatores, como por
exemplo, ambientais e pessoais e não somente análise acerca da capacidade laborativa.
Atualmente, é consenso o entendimento de que deficiência não é doença e nem deve
ser confundida com a palavra incapacidade. As deficiências podem ser parte ou uma
expressão de uma condição de saúde, mas não indicam necessariamente a presença de uma
doença ou que o indivíduo deve ser considerado doente (CIF, 20034).
Quanto ao termo “incapacidade”, denota um estado negativo de funcionamento da
pessoa em função do ambiente humano e físico inadequado ou inacessível, e não um tipo de
3
Art. 20-B. Na avaliação de outros elementos probatórios da condição de miserabilidade e da situação de
vulnerabilidade de que trata o § 11 do art. 20 desta Lei, serão considerados os seguintes aspectos para ampliação
do critério de aferição da renda familiar mensal per capita de que trata o § 11-A do referido artigo: (Vigência)
(Vide)
I – o grau da deficiência;
II –a dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas da vida diária; e
III – o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata o § 3º do art. 20 desta Lei
exclusivamente com gastos médicos, com tratamentos de saúde, com fraldas, com alimentos especiais e
com medicamentos do idoso ou da pessoa com deficiência não disponibilizados gratuitamente pelo SUS,
ou com serviços não prestados pelo Suas, desde que comprovadamente necessários à preservação da
saúde e da vida.
§ 1º A ampliação de que trata o caput deste artigo ocorrerá na forma de escalas graduais, definidas em
regulamento.
§ 2º Aplicam-se à pessoa com deficiência os elementos constantes dos incisos I e III do caput deste artigo,
e à pessoa idosa os constantes dos incisos II e III do caput deste artigo.
§ 3º O grau da deficiência de que trata o inciso I do caput deste artigo será aferido por meio de
instrumento de avaliação biopsicossocial, observados os termos dos §§ 1º e 2º do art. 2º da Lei nº 13.146, de 6
de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), e do § 6º do art. 20 e do art. 40-B desta Lei. (Lei
14.176/2021)
4
Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - Organização Mundial da Saúde.
http://www.periciamedicadf.com.br/cif2/cif_portugues.pdf
15
condição. Por exemplo, a incapacidade de uma pessoa cega para ler textos que não estejam em
braile; a incapacidade de uma pessoa com baixa visão para ler textos impressos em letras
miúdas; a incapacidade de uma pessoa em cadeira de rodas para subir escadarias; a
incapacidade de uma pessoa com deficiência intelectual para entender explicações complexas;
a incapacidade de uma pessoa surda para captar ruídos e falas. Configura-se, assim, a situação
de “desvantagem” imposta às pessoas com deficiência através daqueles fatores ambientais que
não constituem barreiras para as pessoas sem deficiência (SASSAKI, 2004).
Com os avanços no campo das ciências e o fortalecimento dos movimentos sociais de
pessoas com deficiência, novos conceitos e concepções foram definidos e acatados pelos
órgãos internacionais e nacionais, na perspectiva da compreensão de que, a “deficiência não
está na pessoa como um problema a ser curado, e sim na interação com a sociedade, que pode,
por meio de barreiras que são impostas às pessoas com deficiência, agravar uma determinada
limitação funcional” (SDH, 2014, p.27).
Discorrendo sobre o dispositivo da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência há o reconhecimento de que a deficiência é um conceito resultante da interação
com as barreiras existentes, conforme dispõe o modelo social. Em relação ao direito à
educação, assinala que deverá servir para lembrar a todos que: a) pouco se sabe sobre as
capacidades de pessoas com deficiência, inclusive a intelectual; b) quanto mais lhes for
garantida a igualdade de oportunidades, maior a chance de desenvolverem seu potencial; c)
quanto mais adaptado for o ambiente e as pessoas que o compõem para a interação com
as deficiências, menos significativas serão as limitações que delas decorrem (GUGEL,
2007).
Assim, nesse mesmo contexto vislumbrando a quebra de tais barreiras, pode-se falar
também sobre o auxílio inclusão de que trata a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto
da Pessoa com Deficiência), regulamentada especificamente com advento da Lei 14.176 de
2021, que tem o propósito de inclusão da pessoa com deficiência, tendo direito à igualdade de
oportunidades como todos, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária observando
as regras de acessibilidades, recursos para adaptação razoável no ambiente de trabalho.
Já, o professor Ilídio das Neves ensina que, portadores de deficiência são aqueles que
“por motivo de lesão, deformidade ou doença congênita” estejam em qualquer das seguintes
situações: a) necessitem de atendimento específico de natureza pedagógica ou terapêutica;
frequentem, estejam internados ou em condições de frequência ou internamento em
estabelecimento de educação especial; b) possuam uma redução permanente de capacidade
física, motora, orgânica, sensorial ou intelectual susceptível de os impossibilitar de proverem
16
Há de falar que mesmo diante de alterações sofridas no decorrer dos anos com fatores
sociais e econômicos, a LOAS manteve o critério em questão da renda per capita de ¼ do
salário mínimo vigente por membros do grupo familiar, não receber outros benefícios do
INSS, estar devidamente inscrito no Cadastro Único - CadÚnico, conforme a Lei nº
13.846/2019, que instituiu o Programa Especial de Análise e Revisão com indício de
irregularidade dos benefícios ativos há muitos anos, a fim de se adequarem à nova sistemática,
e, para novas concessões estarem de acordo com novos parâmetros.
O CadÚnico é um instrumento de coleta, processamento, sistematização e
disseminação de informações, com a finalidade de realizar a identificação e a caracterização
5
AC 5008810-35.2017.4.04.7112 - TRF 4 - QUINTA TURMA, Relator OSNI CARDOSO FILHO
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socioeconômica das famílias de baixa renda que residem no território nacional. Sua definição
é dada pelo Decreto Federal nº 6.135, de 26 de junho de 2007, onde era facultado a utilização
do CadÚnico na operacionalização do BPC sofrendo alterações de regulamento pelo Decreto
nº 8.805, de 7 de julho de 2016, e revogado em sua integralidade pelo Decreto nº 11.016, de
29 de março de 2022.
Servindo como meio de acesso às famílias e indivíduos de baixa renda que precisam
ser alcançadas e integralizadas pelos programas sociais do Governo Federal, programas esses
disponíveis e destinados a esse público, e também utilizado para a formulação, a
implementação, o monitoramento e a avaliação de políticas públicas, nos âmbitos federal,
estadual, municipal e distrital, com vistas à análise de alternativas de políticas públicas para a
superação da situação de vulnerabilidade econômica e social. (Decreto nº 11.016, 2022).
Com objetivo de servir como base de dados para acesso aos programas sociais e
definir parâmetros de família de baixa renda e distinguir a renda per capita de um determinado
grupo familiar, o artigo 5º, do Decreto nº 11.016/2022 traz as seguintes definições sobre
família: I - família - a unidade composta por um ou mais indivíduos que contribuam para o
rendimento ou tenham suas despesas atendidas pela unidade familiar e que sejam moradores
em um mesmo domicílio; II - família de baixa renda - família com renda familiar mensal per
capita de até meio salário mínimo; III - domicílio - local que serve de moradia à família; IV -
responsável pela unidade familiar - pessoa responsável por prestar as informações ao
CadÚnico em nome da família, que pode ser: a) responsável familiar - indivíduo membro da
família, morador do domicílio, com idade mínima de dezesseis anos e, preferencialmente, do
sexo feminino; ou b) representante legal - indivíduo não membro da família e que não seja
morador do domicílio, legalmente responsável por pessoas menores de dezesseis anos ou
incapazes e responsável por prestar as informações ao CadÚnico, quando não houver morador
caracterizado como responsável familiar.
Como definição de renda per capita do grupo familiar pré-estabelecido na
organização da Assistência Social, também traz inovação em considerar a renda per capita de
¼ do salário-mínimo para até meio salário mínimo, fazendo assim consonância com as
inovações agregadas à LOAS.
É importante ressaltar que a LOAS (Lei 8.742/1993), veda acumulação do Benefício
Assistencial com outros benefícios do âmbito da seguridade social ou outro regime, como
auxílio doença, aposentadorias, auxílio reclusão, pensão por morte, seguro desemprego,
dentre outros, sendo apenas excluído do cálculo da renda per capita, o recebimento de
benefício de mesma espécie concedido a outro membro do grupo familiar, previsão constante
18
no Art. 20, §14, §15 da LOAS (Lei 8.742/1993), ambos incluídos pela Lei nº 13.982 de 2020,
em que dispõe sobre parâmetros adicionais de caracterização da situação de vulnerabilidade
social para fins de elegibilidade ao benefício de prestação continuada (BPC).
O advento da Lei nº 14.176 de 22 de junho de 2021, trouxe alterações à Lei nº 8.742,
de 7 de dezembro de 1993, a fim de estabelecer um novo critério de análise da renda familiar
per capita ampliando o limite para até ½ salário-mínimo, in verbis, Art. 20, § 11-A: O
regulamento de que trata o § 11 deste artigo poderá ampliar o limite de renda mensal familiar
per capita previsto no § 3º deste artigo para até 1/2 (meio) salário-mínimo, observado o
disposto no art. 20-B que traz o seguinte:
Art. 20-B.Na avaliação de outros elementos probatórios da condição de
miserabilidade e da situação de vulnerabilidade de que trata o § 11 do art. 20
desta Lei, serão considerados os seguintes aspectos para ampliação do
critério de aferição da renda familiar mensal per capita de que trata o § 11-A
do referido artigo:
(...) III – o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata o
§ 3º do art. 20 desta Lei exclusivamente com gastos médicos, com
tratamentos de saúde, com fraldas, com alimentos especiais e com
medicamentos do idoso ou da pessoa com deficiência não disponibilizados
gratuitamente pelo SUS, ou com serviços não prestados pelo Suas, desde que
comprovadamente necessários à preservação da saúde e da vida.
§ 4º O valor referente ao comprometimento do orçamento do núcleo
familiar com gastos de que trata o inciso III do caput deste artigo será
definido em ato conjunto do Ministério da Cidadania, da Secretaria Especial
de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia e do INSS, a partir de
valores médios dos gastos realizados pelas famílias exclusivamente com
essas finalidades, facultada ao interessado a possibilidade de comprovação,
conforme critérios definidos em regulamento, de que os gastos efetivos
ultrapassam os valores médios.
Art. 34. Aos idosos, a partir de 65 (sessenta e cinco) anos, que não possuam meios
para prover sua subsistência, nem de tê-la provida por sua família, é assegurado o
benefício mensal de 1 (um) salário-mínimo, nos termos da Lei Orgânica da
Assistência Social - LOAS.
Parágrafo único. O benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos
do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a
que se refere a LOAS.
O normativo já deixa explicitamente claro que o valor recebido por idoso a título de
benefício de prestação continuada, não deve fazer parte da renda da família de que trata o art.
20, § 3º, da Lei 8.742/1993. Isso porque a renda mínima se destina exclusivamente, à sua
manutenção, protegendo-o da situação de vulnerabilidade social.
Nessa mesma linha, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou, no dia 18 de abril
de 2013, a inconstitucionalidade do parágrafo 3º do artigo 20 da Lei Orgânica da Assistência
Social (Lei n. 8.742/1993) que prevê como critério para a concessão de benefício a idosos ou
deficientes a renda familiar mensal per capita inferior a ¼ do salário mínimo, por considerar
6
REsp 1.112.557/MG, sob o rito dos recursos repetitivos (art. 543-C do CPC).[...](AgRg no REsp 1514461/SP,
Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/04/2016, DJe 24/05/2016.
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que esse critério está defasado para caracterizar a situação de miserabilidade, devendo ser
analisado o caso concreto.
O Ministro Gilmar Mendes na Reclamação 4374/ PE, ao relatar sobre a
inconstitucionalidade e omissão legislativa ao critério do parágrafo 3º do artigo 20 da LOAS,
explana que foi adotado com base na equação econômico-financeira baseado no
desenvolvimento econômico da época, e a economia brasileira mudou nos últimos 20 anos. ,as
que a inflação foi controlada, tornando possível a melhor distribuição de renda. (Rc 4.374. PE,
p. 36).7
Assim, proporcionaram que fossem modificados também os critérios para a
concessão de benefícios previdenciários e assistenciais que podem ser “mais generosos” que o
parâmetro de 1/4 do salário-mínimo mencionado no § 3º do art. 20 acima referido.
O Relator esclareceu que, atualmente, os programas de assistência social no Brasil
utilizam o valor de 1/2 salário-mínimo como referencial econômico para a concessão de
benefícios. Ele ressaltou que este é um indicador bastante razoável e que, portanto, o critério
de 1/4 do salário-mínimo utilizado pela LOAS está completamente defasado e inadequado
para aferir a miserabilidade das famílias.8
Nesta mesma senda, a professora Juliana Cardoso Ribeiro Bastos, assevera que, para
que todos possam ter as condições mínimas almejadas, faz-se necessária a intervenção do
Estado na prestação de determinados direitos tidos por essenciais, como a assistência social, já
que se relegar ao próprio sistema social não se terá o alcance necessário para que todos
possam usufruir dos referidos direitos (BASTOS, 2013).
Por meio do Informativo 669, o STF na decisão com tema relativo ao benefício de
prestação continuada – Recursos Extraordinários 567.985/MT e 580.963/PR, ambos decididos
em 2012, registrou:
O dever estatal de entregar um conjunto de prestações básicas necessárias à
sobrevivência individual. Asseverou que o constituinte o instituirá no artigo 6º da
CF/88, no qual compelir-se-ia aos Poderes Públicos a realização de políticas a
remediar, ainda que minimamente, a situação de miséria dos desamparados. (...).
A proteção aos idosos aqui tem nítido caráter assistencial. Não havendo assim
distinção constitucional entre vulneráveis (idosos e deficientes) e, mesmo assim, não há
norma na Lei Orgânica da Assistência Social a garantir às pessoas com deficiência o mesmo
amparo que o parágrafo único do art. 34 da Lei nº 10.741/2003 garante aos idosos.
Desse modo, à luz dos princípios da isonomia e da dignidade humana, faz-se
necessário aplicar a analogia a fim de que o parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso
integre também o sistema de proteção à pessoa com deficiência, para assegurar que o
benefício previdenciário de caráter assistencial, no valor de um salário mínimo, pois não
evidenciada a Corte Constitucional justificativa plausível para o discrímen.
Também há de se falar dos novos critérios de análise da renda per capita, trazidos na
Lei nº 14.176 de 22 de junho de 2021, onde traz a regulamentação dos parâmetros adicionais
de caracterização da situação de miserabilidade e de vulnerabilidade social, computando
gastos que comprometem o orçamento do grupo familiar:
9
MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número
2208287.Supremo Tribunal Federal Voto - MIN. MARCO AURÉLIO Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de
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Considerações Finais
Assim, as pessoas que já tiveram seu direito violado, diante da Assistência Social e
da universalização da oferta da Proteção Social Especial, para todo e qualquer cidadão, poderá
exigir sua inclusão aos programas e projetos socioassistenciais, observando o
desenvolvimento, avanço e crescimento das políticas sociais, para proteção e defesa dos
direitos e dignidade da pessoa humana.
Em conclusão às pesquisas realizadas para o artigo, dentro do tema abrangido, é
possível ver o quão importante é o papel do Estado na vida dos brasileiros.
Desde a promulgação da CF de 88, é evidente que há uma preocupação do Estado em
permitir que todos vivam com dignidade, principalmente os que se encontram em situação de
vulnerabilidade, conceituando-os e trazendo assim, os direitos e garantias fundamentais que
não abrangem apenas as garantias e direitos individuais, mas também os direitos sociais.
Sem a garantia dos direitos sociais o princípio fundamental da Constituição Federal
não seria efetivo, a partir de então começou a instituir leis específicas para amparar e trazer
uma proteção maior àqueles que não tem acesso a uma vida digna, não despendem de renda
própria, reduzindo assim a desigualdade social.
Por mais que seja apenas um salário-mínimo, o valor do BPC, faz toda a diferença
auferido por quem não tem como prover sua própria subsistência.
O que mais chama atenção é os relatos dos entendimentos pacificados do judiciário,
que mesmo reconhecendo que tal valor do benefício acaba por devassar com constante
crescimento da inflação, o mesmo é suficiente para manter o grupo familiar.
Desta forma, considerando todas as colocações que envolvem a concessão do
benefício assistencial, entrelaçando aos direitos sociais e assistenciais, que tem por finalidade
eliminar por completo as desigualdades sociais e econômicas, em meu ponto vista, entendo
que, apenas apazigua tal situação, trazendo apenas a satisfação do beneficiário em ter seu
poder de compra, garantindo o mínimo possível para subsistência, mas não é suficiente para
manter uma família, ainda há muitos avanços a serem trazidos para erradicação total da
pobreza.
Referências
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. – 28. ed. rev., atual. – São
Paulo: Malheiros, 2007, p. 286-287.
SASSE, Cintia. Recordista em desigualdade, país estuda alternativas para ajudar os mais
pobres. Agência Senado Notícias, mar. 2021. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2021/03/recordista-em-desigualdade-pais-e
studa-alternativas-para-ajudar-os-mais-pobres. Acesso em: 07 nov. 2021.
SASSAKI, Romeu Kazumi. Deficiência mental ou deficiência intelectual. S. l., dez. 2004.
SDH. 2014 - Secretaria dos Direitos Humanos - Convenção sobre Direitos das Pessoas com
Deficiência, 2014, p. 27. Disponível em:
http://www.ampid.org.br/v1/wp-content/uploads/2014/08/convencao-sdpcd-novos-comentario
s.pdf. Acesso em: 02 jun. 2022.