Você está na página 1de 17

1

APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO: considerações a respeito


do benefício mais controverso do sistema previdenciário brasileiro 1

Luan Josino Medeiros2


Esp. Kelly Kercy Nogueira Silva3

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo tecer considerações a respeito do benefício da


Aposentadoria por tempo de contribuição: suas características e implicações para o
equilíbrio financeiro atuarial previdenciário, dentro da manutenção de suas regras
atuais. Discutiu-se a necessidade de reformatação de seu regramento, e a proposta
neste sentido feita dentro da “reforma” do sistema previdenciário brasileiro, mudança
que poderia acarretar sensíveis mudanças na aplicação e gozo de diversos dos
benefícios previdenciários hoje em voga, em especial da Aposentadoria por Tempo
de Contribuição (anteriormente: por tempo de serviço), objeto desta pesquisa. O
exame da temática passou por breve histórico e evolução do sistema de seguridade,
bem como do benefício, até os presentes dias, quando se debate sua completa
restruturação, visto nunca ter exigido a estudada prestação o computo da idade de
seu beneficiário, pois, até o momento, necessário se faz, apenas, o cumprimento do
fator contributivo para o seu gozo. Entra-se, então, através de considerações
doutrinárias, no âmago da discussão, discutindo-se um dos mais consistentes
argumentos trazidos em prol da reestruturação do benefício, assentando-se na falta
de seu respectivo “risco social”, fator crítico e ensejador de todas as demais
prestações previdenciárias existentes no Brasil: a implementação de uma idade
mínima para o seu gozo.

1
Artigo apresentado à Universidade Potiguar – UNP como requisito obrigatório à obtenção do título de
Pós-Graduado em Direito Previdenciário, atividade componente da disciplina Trabalho de Conclusão
de Curso, grade 2017.2.
2
Graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Funcionário público na
mesma instituição. E-mail: lj_basspd@hotmail.com
3
Orientadora. Professora na Universidade Potiguar - UNP. Coordenadora e Professora da Pós-
Graduação em Direito Previdenciário da Universidade Potiguar – UNP. Advogada. Especialista em
Direito Tributário pela Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. Especialista em Direito do
Trabalho. E-mail: kellykercy@hotmail.com
2

Palavras-chave: aposentadoria por tempo de contribuição; reforma da previdência;


risco social; idade mínima;

1 INTRODUÇÃO

Tendo abertura de seus debates sido marcados para o primeiro semestre do


ano de 2018 (dois mil e dezoito), a “reforma da previdência” prenunciava grandes
transformações no sistema de Seguridade Social do Brasil.

Em um de seus principais e mais controvertidos eixos estava a Aposentadoria


por Tempo de Contribuição e a proposta de alteração em suas bases. Tendo em vista
a falta de uma idade mínima para o seu gozo, bastando ao seu beneficiário a
integralização de suas prestações, discutia-se a incorporação deste marco temporal,
sobre a justificativa de inclusão de um “risco social” (idade avançada) para que, então,
tal prestação pudesse se igualar às demais componentes do sistema previdenciário
brasileiro, haja vista todas essas possuírem seu respectivo risco social para o qual
servem garantia ou atenuante.

A justificativa para a eleição da presente temática se fundamenta,


essencialmente, no considerável alcance que tal medida poderia obter, mediante sua
aprovação, impactando sobremaneira toda sistema social brasileiro, a médio e longo
prazo.

Ainda, uma pretensa mudança (tão repentina, e não sistemática) nas regras
da Aposentadoria por Tempo de Contribuição seria uma decisão que, até mesmo na
presença de uma regra de transição, se não estudada e aplicada com acuidade
(mantido direcionamento dado pela PEC 287/16), acabaria por atingir sensivelmente
o planejamento financeiro-familiar de todos os brasileiros em idade para o trabalho,
bem como outros impactos.

Contudo, mesmo diante das hipóteses levantadas pela futura “reforma” em


relação ao benefício da Aposentadoria por Tempo de Contribuição, dentro das
alegações de dureza e intransigência de suas hipóteses legais, mostra-se, de acordo
com a doutrina, inquestionável a necessidade de reformulação de seu regramento
para adequar-se aos demais benefícios, atendendo algum tipo de risco social,
melhorando consequentemente a saúde financeira de todo sistema.
3

Dentro de uma perspectiva geral do tema, objetivando-o, procura-se nesta


pesquisa o levantamento das possíveis motivações e consequências de uma reforma
no regramento da Aposentadoria por Tempo de Contribuição, bem como as
expectativas de tal mudança.

Usou-se durante todo o trabalho o método descritivo, dentro de uma


abordagem qualitativa, em que, além para além legislação, foram consultados livros,
artigos científicos (estudo bibliográfico), jurisprudência dos tribunais, além de diversos
dados técnicos levantados em meio aos portais oficiais de informação do governo.

2 DA EVOLUÇÃO DA PROTEÇÃO ESTATAL

Primeiro, observa-se que a estruturação e a evolução histórica do Estado para


o modelo o qual se conhece nos dias atuais (Contemporâneo) é a gênese do direito
protecional do trabalhador, evoluído das discussões a respeito das reais atribuições
daquele, saindo de interventor para garantidor da sociedade.

Assim, o resguardo e o socorro ao indivíduo contra as ocorrências da vida que


lhe trouxessem qualquer tipo de embaraço ou mesmo impossibilidade de sustento por
suas próprias forças, deveria estar incluído entre as funções do Estado. No Brasil, tal
tutela estatal estaria amadurecida, então, no surgimento do Sistema de Seguridade
Social, inaugurado com a Constituição de 1988, onde se encontra a Previdência
Social, ponto específico a ser estudado aqui.

Contudo, como se observa na história, a proteção dos indivíduos contra os


infortúnios da vida nem sempre esteve no ponto de interesse estatal. Apenas na
atualidade (a partir do final do século XIX), o tema ganharia atenção necessária para
constar da ordem jurídica dos diversos Estados.

De acordo com Lazzari e Castro (2017), “até o século XVIII não havia a
sistematização de qualquer forma de prestação estatal”. Segundo os mesmos, o
Estado não se via obrigado, nem mesmo compelido ao dever assistencial frente ao
4
seu povo e os mais necessitados, permanecendo assim até fins do século XIX).

4
De acordo, ainda, com Lazzari e Castro (2017), mesmo diante da realidade registrada até século XVIII
e meados do XIX, existia uma espécie de “exceção histórica” observada na Inglaterra, denominada
4

Contudo, com a evolução estatal para a contemporaneidade, sobretudo após


o aparecimento das Constituições Mexicana de 1917 e de Weimar, de 1919, cada vez
mais despontava e consolidava-se o papel do Estado protetivo e defendente, com a
nítida noção da proteção social como dever frente a sociedade e aos necessitados,
chegando aos atuais modelos de seguro social e assistência social presentes no
mundo.

Com isso, chegamos a dois dos conceitos mais relevantes para o


enfrentamento da temática ora em estudo: “Solidariedade” e “Seguro Social”. O
primeiro estaria ligado a uma ideia de “todos contribuindo para todos” (no caso do
Brasil, contribuintes ou não do sistema, a depender de cada ramo da Seguridade); já
o segundo sugeriria uma “cotização” em prol de uma coletividade (mas dentro de um
sistema protetivo “mais restrito”, por assim dizer), pois abarcaria uma parcela
contribuinte da sociedade, o que, por si só, não retiraria seu caráter também solidário,
visto estarem contribuindo um sistema e não para si mesmo.

Assim, há de se observar, com expectativa, que o Estado, não sendo mais o


mesmo de outrora, toma para si agora não só as obrigações concretas e legais de um
sistema constitucional (repartição de poderes, constituição escrita, repartição estatal,
escolha de governantes etc.), mas também as de cunho “mais abstrato”, diretamente
ligadas aos desejos de uma nação mais prospera (justiça, fraternidade, paz, equidade,
bem-estar), contribuindo decisivamente a Seguridade Social para esta missão.

3 DAS PRESTAÇÕES PREVIDENCIÁRIAS: BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS

Para além das singelas considerações à respeito da evolução histórica do


sistema protecional mundial, espelhada de igual forma no Brasil, com sua lógica de
Seguridade Social, esculpida na Constituição Federal; abrindo mão, porém, de uma
completa e metódica pesquisa da sistemática prestacional do país (passando por
todas as espécies de benefícios e serviços), preferiu-se, pela brevidade do trabalho,
chegar tão logo a exposição da principal matize deste estudo (pode-se dizer, até, de
todo o sistema): os benefícios previdenciários.

“Poor Law”, que, editada em 1601, instituía uma contribuição obrigatória para fins sociais, com nítido
caráter assistencial.
5

Tais prestações podem ser lembradas, sem nenhum esforço, como as mais
importantes do complexo assecuratório brasileiro (partindo-se de um ponto de vista
“utilitarista”), pois representariam a “vitrine” ou até mesmo a essência de todo sistema:
o porquê de toda lógica e logística previdenciária existirem como tal. Constituiriam o
principal ponto de lembrança do homem médio quando da reflexão de sua finitude
frente aos riscos sociais os quais estaria exposto, tendo sempre em mente o seu
direito a uma efetiva proteção estatal, mesmo que nunca tenham contribuído para
tanto (pois, como se sabe, a previdência social é contributiva).

Com base nisso, o benefício previdenciário se constituiria em uma obrigação


de pagar quantia certa (diferente dos serviços, que são obrigações de fazer), assim o
seu beneficiário tenha cumprido com as condições legais para a sua concessão.
(AMADO, 2017). Ainda, tais prestações abarcariam não somente os seus instituidores
diretos, como também seus dependentes e até estes, somente, em alguns casos
(pensão por morte e auxílio reclusão), preenchidas e respeitadas, sempre, seus
requisitos legais.

Dentro de uma variável significante de classificações doutrinárias, teríamos,


ainda, aquelas que dividem e classificam os benefícios previdenciários em
programáveis e não programáveis, sendo aqueles pertencentes a um universo
limitado de eventos, previsíveis pela lógica temporal, como a morte e a idade
avançada; e estes representados por benefícios cobertores de eventos fortuitos,
infortúnios completamente fora de qualquer programação razoável, como o acidente
e a invalidez.

Evidenciando mais ainda sua importância, como explicam Lazzari e Castro


(2017), o direito ao benefício previdenciário seria também indisponível, irrenunciável
e imprescritível. Assim explicam os professores:

Como se trata de direito indisponível, a prestação previdenciária não pode


ser objeto de renúncia, visto esta como intenção manifesta de nada receber
do ente previdenciário.
Também decorre da irrenunciabilidade a conclusão de que o direito ao
benefício previdenciário é imprescritível, sendo atingidas pela prescrição
somente as parcelas, mas não o direito em si; é dizer, a eventual inércia do
beneficiário apenas repercute sobre as parcelas que eram devidas antes do
marco prescricional (cinco anos), mantido o direito ao pagamento dos valores
devidos dentro do período imprescrito. (LAZZARI; CASTRO, 2017. P. 119).
(Grifos nossos)
6

Dessa forma, percebe-se a importância dos ora estudados instrumentos


prestacionais, visto que, cercados de garantias e características, aperfeiçoam a face
da expressão garantidora do Estado (parte da estrutura dos direitos fundamentais de
segunda geração) onde este tem o dever, não só de idealização, mas também
concretização de uma estrutura de vida digna para a sociedade.

4 O RISCO SOCIAL

De acordo com a doutrina previdenciária, para cada risco laboral ou natural


existente, o qual o trabalhador possa estar exposto (pelo simples fluir da sua vida),
podendo causar diminuição ou supressão completa de sua capacidade laborativa,
haveria uma prestação previdenciária correspondente.

Assim, a sociedade seria sempre a responsável pelos riscos da atividade


profissional desempenhada por seus membros, haja vista usufruir dos ganhos e da
produção advindas desta, o que transformaria nosso sistema numa espécie de híbrido
entre seguro social junto a responsabilidade subjetiva do empregador com base na
culpa contratual (CASTRO; LAZZARI, 2017).

O conceito de risco social pode ser entendido pela noção de solidariedade


estampada na Constituição (Art. 3º, I)5, sentido este que dá sustento a todo corpo
normativo previdenciário. Sobre isso explicam Castro e Lazzari (2017):

Segundo essa teoria, hoje predominante, é da sociedade a


responsabilidade, materializada mediante políticas públicas, pela
manutenção daqueles indivíduos que, em função de terem exercido seu
labor, tenham se inabilitado para prover meios de subsistência. Ou seja,
não se cogita, em regra, da responsabilidade do tomador dos serviços do
obreiro pela renda necessária à provisão das necessidades do indivíduo
incapacitado. Evidentemente, em caso de dolo ou culpa do empregador,
existe uma responsabilidade concorrente, que é de natureza civil, de reparar
os danos causados. (LAZZARI; CASTRO, 2017. P. 46) (Grifos nossos)

Assim, a solidariedade sócio-constitucional haveria de se materializar sempre


que um membro da sociedade, trabalhador ou não (prestações assistenciais e

5
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma
sociedade livre, justa e solidária (grifos nossos).
7

dependentes), necessitasse de auxilio por advento de alguma fragilidade em sua


capacidade laborativa, devendo a sociedade, através de gerência governamental,
estar sempre pronta ao socorro, pois sua (e não do estado), teoricamente, seria a
responsabilidade, haja vista a atividade profissional desempenhada por cada membro
da coletividade, e sua produção, aproveitar a todos.

Em atenção a essa leitura do conceito de risco social, quando enfrentado pelo


trabalhador, a doutrina e jurisprudência apontariam, novamente, para o Princípio da
Indisponibilidade dos Benefícios Previdenciários, visto que estes, constituindo-se em
provisão importante e necessária, teriam nítido e incontroverso caráter alimentar.
Sobre isso, explica Amado (2017):

Comumente, os benefícios da Previdência Social objetivam substituir a


renda das pessoas quando verificado em concreto um risco social
previsto em lei como sua hipótese de concessão, tendo nítida natureza
alimentar.
Dessa forma, cuida-se, em regra, de direito indisponível, não sendo alvo da
prescrição do fundo do direito (apenas poderá ocorrer o lustro prescricional
progressivo de algumas parcelas mensais) nem podendo ser alienado,
penhorado ou renunciado (salvo de houver alguma outra concessão melhor
para o beneficiário). (AMADO; 2017, p. 265) (Grifos Nossos)

Delineia-se, assim, de forma inequívoca, a importância das prestações sociais


para o trabalhador; não podendo por ele, sequer, serem renunciadas, pois,
constituindo verba alimentícia, tornam-se vitais para a sua sobrevivência e
desenvolvimento dentro da sociedade. E a aposentadoria (junto a pensão por morte),
prestação previdenciária por excelência, seria a que melhor cumpriria este papel de
indispensabilidade, porquanto substitui, em caráter permanente, toda a verba
remuneratória do trabalho, ou mesmo de seus dependentes, quando do fim da vida
laboral de seu beneficiário.

5 A APOSENTARORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO

A Aposentadoria por Tempo de Contribuição é o benefício previdenciário


devido ao trabalhador que comprovar o efetivo ou presumido recolhimento de sua
contribuição durante o período demarcado na legislação (trinta anos para mulheres e
8

trinta cinco anos para homens, e demais variações – professores, deficientes). Seu
regramento se encontra na Lei 8.213/91 (com a nomenclatura, ainda, de
Aposentadoria por tempo de serviço), a partir do artigo 52 e demais.6

No passado (tanto quanto agora), tal benefício, chamado aposentadoria por


tempo de serviço, não requeria nenhum tipo de contribuição para a sua fruição,
bastando para o seu gozo, apenas, a comprovação de exercício em serviço
remunerado.7 Tal situação veio a tornar-se, por óbvio, insustentável; evoluindo-se
para o modelo atual, com exigência de quantidade mínima de arrecadação
previdenciária, seja de forma real ou presumida (art. 25, II da Lei 8.213/91) 8

Mesmo a mudança de nomenclatura (de “tempo de serviço” para “tempo de


contribuição”) possuiu significação, apontando a necessidade de mudança da
sistemática do benefício para um formato mais equilibrado e sensato (do ponto de
vista financeiro, principalmente), com a correspondente equivalência entre prestação
e custeio do sistema. Assim aponta Ibrahim (2007):

O objetivo desta mudança foi adotar, de forma definitiva, o aspecto


contributivo no regime previdenciário.
Sempre foi comum em nossa previdência social a contagem de períodos de
trabalho ou estudo como tempo de serviço, mesmo quando o segurado não
efetuava qualquer contribuição para o sistema. Tais situações não são
compatíveis com um regime previdenciário de natureza contributiva que
busca o equilíbrio financeiro e atuarial (art. 201, Caput, CRFB/88).
(IBRAHIM, 2007, p. 513). (Grifos nossos)

Deixando de lado (pela brevidade da pesquisa) as disposições mais técnicas


a respeito do benefício, observa-se que tal aposentadoria não é devida a todos os
beneficiários da previdência, indistintamente, já que o segurado especial, contribuindo
de forma diferenciada, através do recolhimento efetivo de contribuição (Art. 60, § 4º

6
Art. 52. A aposentadoria por tempo de serviço será devida, cumprida a carência exigida nesta Lei, ao
segurado que completar 25 (vinte e cinco) anos de serviço, se do sexo feminino, ou 30 (trinta) anos, se
do sexo masculino.
7
Segundo Amado (2017), “no Brasil, durante curto espaço de tempo, a antiga aposentadoria por tempo
de serviço demandou a idade mínima de 55 anos de idade para a sua concessão, quando surgiu a Lei
3.807/60 (Lei Orgânica da Previdência Social - artigo 32), requisito revogado pela Lei 4.130/62”.
8
Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social depende
dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26: II - aposentadoria por idade,
aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial: 180 contribuições mensais.
9

Decreto 3.048/99)9, precisa comprovar também seus recolhimentos (normalmente


seria necessário apenas a comprovação do tempo trabalhado).

Ainda, tendo considerado desgastante, por vários motivos, o trabalho e a


jornada do docente, ponderou o legislador pela diminuição, em cinco anos, de sua
contribuição, restando aos professores as carências de trinta e vinte cinco anos, para
homens e mulheres, respectivamente; retirando, assim, cinco anos de suas faixas de
idade.10 Contudo, em que pese antes da Emenda nº 20/90 a regra ser indistinta para
todo e qualquer professor, após esta os professores universitários foram excluídos da
benesse, tendo que contribuir pela regra geral do benefício, restando para os demais
a necessidade de comprovação de exercício efetivo das funções, exclusivamente, nos
ensinos fundamental e médio (Art. 56, § 1º da Decreto 3.048/99).11

Também é possível, a partir da Lei 13.183 de 2015, que o beneficiário faça


jus a integralidade do benefício em estudo, se, em contra-partida, atingir a pontuação
necessária entre idade e tempo de contribuição, perfazendo 85 anos, mulher, e 95, se
homem. Com tal possibilidade aberta, é possível aos segurados se aposentar sem a
utilização do Fator Previdenciário, desde que perfaça o tempo completo de
contribuição (30 ou 35 anos, mulher ou homem) que, junto à idade, resultará em 85
ou 95 pontos, mulher ou homem. A retrocitada lei prevê, ainda, o aumento dessas
idades em “um ponto” por intervalo de dois anos, começando em 2018 até o ano de
2026. Apesar das várias discussões a respeito da benignidade da alteração legislativa,
a doutrina parece apontar para aceitação positiva da medida, fazendo com que o
beneficiário receba integralmente seu benefício.

Contudo, dentro do estudo da Aposentadoria por Tempo de Contribuição,


nenhum tema é mais discutido que as implicações do Fator Previdenciário, forma de
cálculo adotada pela Lei 9.876/99, que leva em consideração o tempo de contribuição,

9
Art. 60 (...) § 4º O segurado especial que contribui na forma do § 2º do art. 200 somente fará jus à
aposentadoria por idade, tempo de contribuição e especial após o cumprimento da carência exigida
para estes benefícios, não sendo considerado como período de carência o tempo de atividade rural
não contributivo.
10
Art. 56. O professor, após 30 (trinta) anos, e a professora, após 25 (vinte e cinco) anos de efetivo
exercício em funções de magistério poderão aposentar-se por tempo de serviço, com renda mensal
correspondente a 100% (cem por cento) do salário-de-benefício, observado o disposto na Seção III
deste Capítulo.
11
Art. 56. (...) § 1º A aposentadoria por tempo de contribuição do professor que comprove,
exclusivamente, tempo de efetivo exercício em função de magistério na educação infantil, no ensino
fundamental ou no ensino médio, será devida ao professor aos trinta anos de contribuição e à
professora aos vinte e cinco anos de contribuição.
10

a expectativa de sobrevida e a idade do segurado (art. 29, § 7º da Lei 8.213/91).12


Segundo a doutrina e o próprio governo, através de justificativa legislativa, a adoção
do novo cálculo reduziria efetivamente as despesas com o pagamento de
aposentarias por tempo de contribuição, impedindo segurados com idade abaixo do
esperado (onerando por mais tempo a previdência) de se aposentar, eliminando,
assim, o déficit previdenciário e conseguindo equilíbrio nas contas públicas (LAZZARI;
CASTRO, 2017).

O cálculo pelo fator previdenciário é, em regra, obrigatório para a


aposentadoria por tempo de contribuição. Contudo, a partir da Lei 13.183 de 2015, há
possibilidade da sua não aplicação pela regra 85/95, explicada anteriormente. Tal
obrigatoriedade vigorou em resposta problemas enfrentados outrora com segurados
se aposentando em idades precoces, onerando por muito tempo a previdência social.

O instituto é deveras controverso, sendo considerado por muitos como


“enérgico” frente ao grande recálculo que promove na renda do benefício, reduzindo
em grande parte das vezes o valor final da aposentadoria. Contudo, há quem o
defenda, levantando sua importância frente ao equilíbrio atuarial do sistema
previdenciário, inibindo aposentarias precoces (AMADO, 2017).

6 OS PROBLEMAS E DISCUSSÕES A RESPEITO DA APOSENTADORIA POR


TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO

Uma das principais (e mais controversa) características do benefício da


aposentadoria por tempo de contribuição é a ausência de condição temporal para o
seu gozo (desnecessidade de idade mínima). Dessa forma, basta que seu beneficiário
implemente todas as parcelas necessárias à carência para ter direito ao benefício,
pelo menos no Regime Geral (RGPS). Assim explica Amado (2017):

Ao contrário do que ocorreu nos Regimes Próprios de Previdência Social com


o advento da promulgação da Emenda 20/98, no RGPS continua sendo
possível a concessão de aposentadoria sem a exigência de idade

12
Art. 29, § 7º O fator previdenciário será calculado considerando-se a idade, a expectativa de
sobrevida e o tempo de contribuição do segurado ao se aposentar, segundo a fórmula constante do
Anexo desta Lei.
11

mínima do segurado, a exemplo da aposentadoria por tempo de


contribuição, vez que não restou aprovada a reforma constitucional integral
pretendida no final dos anos 90. (AMADO, 2017, 609) (Grifos nossos)

Assim, a Emenda 20/98, além de outras coisas, tinha o intuito de aprovar uma
idade mínima para as aposentadorias por tempo de contribuição dos regimes geral e
próprios da previdência social; tentativa parcialmente frustrada, já que não se
conseguiu aprovação para o primeiro, fato que, segundo a doutrina, influenciou
decisivamente na criação do Fator Previdenciário, fórmula encontrada para frear a
grande quantidade de aposentadorias de pessoas com pouca idade, de acordo com a
atuária previdenciária.

Dentre inúmeros argumentos contrários a manutenção do benefício, defende-


se a extinção (ou reformulação) da prestação com base no argumento da “falta de risco
social” real a ser coberto, já que o simples adimplemento das parcelas da carência não
significaria, necessariamente, incapacidade ou debilidade para o trabalho. Por outro
lado, segundo Ibrahim (2007), para aqueles que defendem a antítese daquele
posicionamento, tal benefício “permitiria uma renovação mais rápida do mercado de
trabalho, o que pode ser útil em épocas de desemprego acentuado”.

Ao que parece, grande parte da doutrina efetivamente critica a posição do


legislador pela continuidade do benefício sem uma idade mínima para o gozo, como
praticado nos regimes próprios de previdência. Ibrahim (2017) exemplifica muito bem
esta ala da doutrina:

Entendo que este benefício, em sua atual configuração, não se coaduna com
a lógica protetiva, pois permite a aposentação em idades muito inferiores
ao que se poderia rotular de idade avançada. Ainda que o pagamento
tenha sido feito por anos a fio, a previdência pública não é poupança, mas
sim seguro social, no sentido de atender à clientela protegida no advento
de algum sinistro impeditivo de obtenção da remuneração. Para piorar,
este benefício acaba por gerar uma solidariedade às avessas no sistema
previdenciário, pois somente as classes mais abastadas conseguem obtê-lo,
em razão das dificuldades de comprovação de longos períodos de
contribuição. (IBRAHIM, 2007, p. 514). (Grifos nossos)

Nesse sentido, nada justificaria um benefício baseado apenas em contribuição


para o sistema previdenciário, sem que seu beneficiário esteja fragilizado física ou
socialmente (doenças estigmatizantes). Segundo as atuais regras de carência do
12

benefício (art. 25, II da Lei 8.213/91)13, 180 prestações são necessárias para que o
trabalhador tenha direito ao pedido desta aposentadoria, perfazendo apenas 15 anos
de contribuição para a previdência.

Exemplificando, mesmo que seu benefício seja corroído pelos cálculos do


Fator Previdenciário, uma pessoa que tenha conseguindo contribuir por 15 anos
ininterruptos (totalizando as 180 prestações da carência) e chegue a se aposentar aos
35 anos de idade, com o mínimo, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), oneraria os fundos previdenciários por, pelo menos,
mais 40 anos14; situação que preocupa, pois inexiste contrapartida financeira razoável
para cobrir todo esse período.

Ainda, robustecendo o ponto de vista assinalado acima, grande parte


daqueles que conseguem a jubilação, segundo dados da Confederação Nacional de
Dirigentes Lojistas (CNDL), continuam trabalhando15, o que demonstraria total falta de
justificativa social, pois, por melhor das justificativas (necessidade financeira, prazer
no labor, etc.), não haveria risco social a ser combatido. Amado (2017) explica:

Inexiste idade mínima para a concessão de aposentadoria por tempo de


contribuição no Brasil, sendo fato jurídico raro no Direito Comparado. É
preciso urgentemente a aprovação de uma idade mínima para a concessão
deste benefício, pois em muitos casos inexiste risco social a ser tutelado,
pois os segurados prosseguem trabalhando (AMADO, 2017, p. 422).

E, em seguida, reforça:

A aposentadoria por tempo de contribuição que, em regra, será deferida ao


homem com 35 anos de contribuição e à mulher com 30 anos de contribuição,
observada a carência de 180 contribuições mensais, é um benefício que
ameaça o equilíbrio financeiro e atuarial do sistema previdenciário, haja
vista a possibilidade de os segurados se aposentarem muito cedo,
inclusive abaixo dos cinquenta anos de idade.

Inclusive, nessas aposentações precoces, prega-se que inexiste risco


social a ser coberto, pois antes dos sessenta anos de idade o segurado

13
Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social depende
dos seguintes períodos de carência, ressalvado o disposto no art. 26: II - aposentadoria por idade,
aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial: 180 contribuições mensais.
14
Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta quinta-feira (01),
revela que a expectativa de vida do brasileiro nascido em 2015 aumentou e passou a ser de 75,5 anos.
Em 2014, era de 75,2 anos. Disponível em <http://www.brasil.gov.br/governo/2016/12/expectativa-de-
vida-no-brasil-sobe-para-75-5-anos-em-2015>. Acesso em: 22.03.2018.
15
Disponível em: < http://www.cndl.org.br/noticia/um-terco-dos-aposentados-acima-de-60-anos-ainda-
trabalha/>
13

ainda não é sequer considerado idoso, havendo casos em que se percebe


a aposentadoria por mais anos do que se verteu contribuições
previdenciárias.

Esse fato é agravado com a maior expectativa de vida que


progressivamente vem sendo alcançada diante das melhores condições
sociais, que chegou à média de 73 anos de idade em 2008, girando em torno
de 69 anos de idade para os homens e de 77 para as mulheres.

Diante desse preocupante quadro previdenciário, a Lei 9.876/99, publicada


em 29.11.1999, instituiu o fator previdenciário, agora previsto no artigo 29, da
Lei 8.213/91, que objetiva inibir aposentadorias precoces, sendo obrigatório
no cálculo da aposentadoria por tempo de contribuição e facultativo
para a definição da renda mensal inicial da aposentadoria por idade".
(AMADO, 2017; p. 609) (grifos nossos).

Neste sentido, parece patente a necessidade, em harmonia com a doutrina


majoritária, da instituição de um requisito temporal para aquisição do direito a
aposentadoria por tempo de contribuição, semelhante ao que foi instituído pela
Emenda 20/98 para os regimes próprios de previdência (já na época tendo sido
proposto tal mudança).

Tal necessidade voltou a ser discutida e levantada recentemente dentro dos


debates da “Reforma da Previdência” que, dentre outras medidas, pretendia o
estabelecimento de uma idade mínima para o requerimento do benefício. Amado
(2017), mais uma vez, acena para a necessidade de mudança nas regras atuais:

É certamente necessária uma reforma previdenciária - a exemplo da


inserção de idade mínima para a aposentadoria no Regime Geral de
Previdência Social, pois as atuais regras são insustentáveis e praticamente
inexiste em todo o mundo a concessão de aposentadoria desprovida da
exigência de idade mínima.

Contudo, ao que parece, as mudanças propostas pela reforma, sobretudo as


referentes ao benefício em estudo16, foram consideradas severas para a realidade
brasileira, fazendo com que seu projeto (PEC 287/16) fosse retirado da pauta de
votações do Poder Legislativo para o ano de 2018 (até o momento de fechamento
deste trabalho).

16
Fora proposta uma idade mínima de 65 anos para homens e 63 para mulheres, com a contribuição
mínima de 25 anos (aumento de15). Havia a previsão de aumento de um ano a cada certo período na
idade mínima para o benefício, entre outras coisas.
14

Assim, pelo menos por enquanto, a aposentadoria por tempo de contribuição


continuará com sua atual formatação, sem a necessidade de uma idade mínima para
sua fruição, fato que se mostra preocupante, pois, mesmo com todos os “artifícios
legais” para o estímulo à aposentadorias com idades mais elevadas, 15 anos de
contribuição (180 parcelas) são suficientes para o seu pedido, nada obstando que seu
beneficiário passe décadas (até mais tempo do que efetivamente contribuiu) onerando
os cofres previdenciários, o que, obviamente, não é bom para a saúde financeira do
Estado.

7 CONCLUSÃO

Concluiu-se dessa pesquisa que, apesar da importância e imprescindibilidade


do benefício da Aposentadoria por tempo de contribuição no atual modelo da
previdência social brasileiro, dentro do Regime Geral, este merece uma urgente e
pontual reformulação no seu regramento, visto não encontrar paralelo no direito
comparado, nem mesmo dentro do sistema pátrio, visto que até seu similar dentro dos
Regime Próprio de Previdência possui uma idade limite para o seu gozo.

Como apresentado, a doutrina majoritária brasileira aponta precisamente dois


caminhos para o benefício estudado: sua extinção ou reformulação para que o mesmo
consiga atender ao pré-requisito básico de todos demais benefícios previdenciários:
fazer frente a um risco social.

A proposta de agregação de uma idade mínima para fruição do benefício já


havia sido apresentada em 1998, através da Emenda nº 20, não restando prospera.
Já em 2016, com a PEC 287, nova tentativa no mesmo sentido foi feita, restando
também, até o momento, fracassada; o que significa a manutenção das regras atuais
do benefício até abertura de novos debates no sentido.

Apesar dos mais diversos contratempos e pontos controvertidos a respeito de


uma “reforma” robusta dentro do Sistema Previdenciário brasileiro, em especial no
benefício em estudo, a doutrina e atuária previdenciária apontam veementemente
para a reformulação da presente aposentadoria, equilibrando-a financeiramente e
aproximando-a à sistemática dos demais benefícios, dentro de um conceito de
contrapartida financeira, sob exigência de um maior tempo de contribuição, a fim de
15

evitar, mesmo diante do Fator Previdenciário ainda em voga, aposentadorias precoces


e, mais importante, a permanência da prestação sem um risco social “plausível”,
evitando, assim, que a aposentadoria por tempo de contribuição seja visto com
poupança ou cota particular, em sentido oposto ao proposto pela previdência social
brasileira.
16

RETIREMENT AGREEMENT: considerations regarding the most controversial


benefit of the Brazilian pension system

ABSTRACT

The purpose of this study is to consider the benefits of Retirement for contribution time:
its characteristics and implications for the social security actuarial balance, within the
maintenance of its current rules. The need to reformulate its regulations was
discussed, and the proposal in this sense made within the "reform" of the Brazilian
social security system, a change that could lead to significant changes in the
application and enjoyment of several of the current social security benefits, especially
Retirement by Contribution Time (previously: by time of service), object of this
research. The examination of the thematic has undergone a brief history and evolution
of the security system, as well as of the benefit, until the present days, when its
complete restructuring is debated, since never it has demanded the studied benefit the
calculation of the age of its beneficiary, because, until the moment, necessary, is only
the fulfillment of the contributory factor for their enjoyment. We then enter into doctrinal
considerations at the heart of the discussion, discussing one of the most consistent
arguments brought in favor of the restructuring of the benefit, based on the lack of their
respective "social risk", a critical factor and a source of all other social security benefits
existing in Brazil: the implementation of a minimum age for their enjoyment.

Keywords: retirement by contribution time; pension reform; social risk, minimum age;
17

REFERÊNCIAS

Livros
AMADO, Frederico. Curso de Direito e Processo Previdenciário. 9. ed. Salvador:
Juspodvim, 2017.
AMADO, Frederico. Sinopse de Direito Previdenciário. 8. ed. Salvador:
Juspodvim, 2017. (Sinopses para Concursos).
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 9. ed. Niterói: Impetus,
2007.
LAZZARI, João Batista; CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito
Previdenciário. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.

Legislação
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15
Mar. 2018.
BRASIL. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Brasília, DF, jul 1991. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212cons.htm>. Acesso em: 19 Mar.
2018.
BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Brasília, DF, jul 1991. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L8213cons.htm>. Acesso em: 19 Mar.
2018
BRASIL. Decreto nº 3.048 de 06 de maio de 1999. Brasília. DF. Mai 1999.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048compilado.htm>;
Acesso em: 20 Mar 2018

Sítios eletrônicos
Portal Brasil. Expectativa de vida no Brasil sobe para 75,5 anos em 2015.
Brasília. 2016. Governo Federal. Disponível em
<http://www.brasil.gov.br/governo/2016/12/expectativa-de-vida-no-brasil-sobe-para-
75-5-anos-em-2015>. Acesso em: 22.03.2018.

Você também pode gostar