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ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO MARANHÃO – ESA/MA

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – OAB/MA


PÓS-GRADUAÇÃO EM ADVOCACIA TRABALHISTA E
PREVIDENCIÁRIA

AUTOR

OS ASPECTOS JURIDICOS DA DESAPOSENTADORIA NO BRASIL

São Luís - MA
2023
AUTOR

OS ASPECTOS JURIDICOS DA DESAPOSENTADORIA NO BRASIL

Artigo Científico apresentado como requisito


parcial à obtenção do título de especialista em
Advocacia Trabalhista e Previdenciária.

Orientadora:

São Luís - MA
2023
OS ASPECTOS JURIDICOS DA DESAPOSENTADORIA NO BRASIL

Aluno*1

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar os aspectos jurídicos relacionados à


desaposentadoria no contexto brasileiro. Busca-se compreender as implicações legais desse
fenômeno, destacando suas nuances e desafios frente ao sistema previdenciário vigente. A
pesquisa adota uma abordagem jurídica, fundamentada na análise de legislação
previdenciária, jurisprudência e doutrina pertinente. Além disso, são considerados casos
práticos de desaposentadoria, proporcionando uma visão mais abrangente e aplicada da
matéria. A metodologia inclui ainda a revisão da evolução normativa relacionada à
previdência social no Brasil. Espera-se que os resultados evidenciem as possibilidades e
limitações da desaposentadoria no âmbito jurídico brasileiro. Pretende-se identificar
precedentes relevantes, esclarecer interpretações legais controversas e apontar eventuais
lacunas normativas. A pesquisa visa contribuir para o entendimento mais aprofundado desse
fenômeno previdenciário, fornecendo subsídios para debates acadêmicos e aprimoramento da
legislação. Ao término da análise, espera-se apresentar uma conclusão fundamentada nos
resultados obtidos. Serão discutidos os desafios enfrentados pelos segurados que buscam a
desaposentadoria, bem como possíveis perspectivas para o desenvolvimento futuro dessa
temática no ordenamento jurídico brasileiro. A conclusão buscará consolidar os achados da
pesquisa, apontando para a importância de uma abordagem equilibrada e justa diante das
demandas previdenciárias, contribuindo assim para o aprimoramento do sistema de proteção
social no país.

Palavras-chave: Desaposentadoria, aspectos jurídicos, sistema previdenciário, legislação


previdenciária, jurisprudência, doutrina.

1 INTRODUÇÃO

O sistema previdenciário brasileiro tem sido objeto de constantes debates e


transformações, refletindo a dinâmica social e econômica do país. No contexto desse cenário,
um tema que tem ganhado relevância é a desaposentadoria, uma questão que envolve aspectos
jurídicos complexos e desafia as estruturas tradicionais do sistema previdenciário.
A desaposentadoria refere-se ao processo pelo qual um indivíduo que já se aposentou
busca renunciar ao benefício atual e requerer uma nova aposentadoria, com base em
contribuições adicionais realizadas após a aposentadoria inicial. Este fenômeno, embora não
tenha uma regulamentação específica na legislação previdenciária brasileira, tem sido objeto
de análise e discussão nos tribunais, gerando posicionamentos diversos e despertando a
atenção da sociedade para as implicações jurídicas envolvidas.

1 * Autor do artigo
Neste contexto, é essencial explorar os fundamentos legais que embasam a
desaposentadoria, considerando as normativas previdenciárias em vigor e as decisões judiciais
que moldam essa temática. Além disso, é crucial examinar como as mudanças legislativas e
os precedentes judiciais têm impactado a possibilidade de renúncia ao benefício
previdenciário e a busca por uma aposentadoria mais vantajosa.
Ao adentrar nos aspectos jurídicos da desaposentadoria, é possível compreender as
complexidades e os desafios que cercam esse tema, avaliando suas implicações para os
aposentados e para o próprio sistema previdenciário brasileiro. Esta análise proporcionará
insights valiosos sobre a evolução e a aplicação da legislação previdenciária, contribuindo
para uma compreensão mais abrangente das questões legais relacionadas à desaposentadoria
no Brasil.
A metodologia adotada nesta revisão é fundamentada em uma abordagem sistemática
de revisão bibliográfica, envolvendo a seleção criteriosa de estudos científicos, relatórios
epidemiológicos e documentos oficiais. A análise abrange períodos recentes, assegurando que
as informações mais recentes e relevantes sejam incorporadas. A intenção é fornecer uma
visão atualizada e abrangente, alicerçada em dados científicos sólidos.
O trabalho foi realizado a partir de uma pesquisa bibliográfica-qualitativa e descritiva,
abrangendo uma bibliografia já tornada pública em relação ao tema em estudo (GIL, 2002, p.
44).
O objetivo geral a que se propõe este trabalho é analisar de forma abrangente os
aspectos jurídicos envolvidos na desaposentadoria no Brasil, investigando as lacunas
normativas, os precedentes judiciais e as implicações para os beneficiários do sistema
previdenciário. Busca-se, assim, proporcionar uma compreensão aprofundada dessa temática
complexa, explorando as nuances legais que permeiam a desaposentadoria.
A temática é altamente pertinente diante das transformações no sistema previdenciário
brasileiro e das demandas crescentes por revisões e ajustes nos benefícios previdenciários. A
discussão sobre desaposentadoria torna-se crucial para abordar lacunas e ambiguidades no
cenário legal, contribuindo para uma reflexão aprimorada sobre a justiça e equidade no
sistema.
Assim, este trabalho se propõe a examinar os fundamentos legais da desaposentadoria,
analisar as diferentes abordagens adotadas pelos tribunais em casos similares, e considerar as
possíveis lacunas ou ambiguidades nas normativas previdenciárias vigentes. Além disso,
pretende-se avaliar as implicações práticas da desaposentadoria tanto para os indivíduos
quanto para a estabilidade do sistema previdenciário como um todo.
As hipóteses que foram aventadas incluem a possibilidade de interpretações
divergentes por parte dos tribunais, a existência de lacunas normativas que podem influenciar
as decisões judiciais e a variabilidade nas vantagens financeiras obtidas pelos beneficiários
que buscam a desaposentadoria. Essas hipóteses fornecerão um arcabouço teórico para a
análise detalhada ao longo do trabalho.
Por fim, espera-se que este trabalho contribua para a construção de um entendimento
mais sólido sobre a desaposentadoria no contexto jurídico brasileiro. Ao fornecer insights
aprofundados sobre as implicações legais e práticas desse fenômeno, busca-se enriquecer o
debate sobre a evolução do sistema previdenciário e seu impacto na vida dos beneficiários,
bem como propor reflexões que possam influenciar futuras decisões legislativas e judiciais.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Aspectos Constitucionais da Desaposentadoria

O conceito de desaposentação, embora apresente nuances distintas entre diversos


doutrinadores, demonstra similaridades fundamentais, sendo as divergências
predominantemente de natureza literária e interpretativa. Essa terminologia refere-se a um
fenômeno jurídico relacionado à renúncia ou reversão de aposentadoria por parte de um
segurado da Previdência Social.
De acordo com Ibrahim (2015):
A desaposentação, no contexto previdenciário, refere-se à capacidade do segurado
de abdicar de sua aposentadoria com o intuito de buscar um benefício mais
vantajoso, seja no âmbito do Regime Geral de Previdência Social ou no Regime
Próprio de Previdência Social. Essa prática envolve a utilização do tempo de
contribuição já realizado pelo segurado. O principal objetivo da desaposentação é
aprimorar a condição financeira do aposentado, possibilitando a busca por um
benefício mais adequado às suas necessidades e circunstâncias.

Esse autor foi pioneiro ao abordar de maneira abrangente o conceito da desaposentação,


destacando sua viabilidade mesmo entre regimes previdenciários distintos. Ele argumentou
que o instituto não se limita apenas à busca por um benefício mais vantajoso no mesmo
regime, mas pode também englobar a transição do Regime Geral da Previdência Social
(RGPS) para um Regime Próprio da Previdência Social (RPPS) e vice-versa.
Segundo a visão de Castro e Lazzari (2010, p. 44), a desaposentação é caracterizada
pelo "retorno à atividade remunerada com a revogação da aposentadoria por vontade do
titular, com o propósito de aproveitar o tempo de filiação para contagem em direção a uma
nova aposentadoria, seja no mesmo regime previdenciário ou em outro".
Já para o professor Wladimir Novaes Martinez (2015):
Consiste na abdicação das prestações mensais da aposentadoria, sem prejudicar o
tempo de serviço ou de contribuição, elementos intrinsecamente irrenunciáveis. Essa
renúncia pode ou não ser seguida pelo retorno ao trabalho, sendo que deve ser
restituído o montante necessário do ponto de vista atuarial para preservar o
equilíbrio financeiro dos regimes previdenciários envolvidos. Isso ocorre mediante a
utilização do período anterior, seja no mesmo regime de Previdência Social ou em
outro, sempre que a condição do segurado se aprimorar, sem causar prejuízos a
terceiros.

No cenário abordado, a desaposentação é compreendida como a abdicação de um direito


já consolidado, com o intuito de alcançar um benefício financeiramente mais vantajoso,
considerando as contribuições feitas pelo aposentado após sua aposentadoria inicial. É
importante ressaltar que a desaposentação se diferencia do pedido de revisão do cálculo do
benefício.
As advogadas Adriana Bramante de Castro Ladenthin e Viviane Masotti trazem uma
diferenciação:
[...]A revisão de aposentadoria visa corrigir ou reformar uma situação jurídica já
estabelecida. Em contraste, a desaposentação busca desfazer essa condição jurídica
preexistente para estabelecer uma nova de forma autônoma. Enquanto a revisão de
aposentadoria tem o propósito de elevar o valor do benefício recebido, corrigindo
eventuais erros materiais ou jurídicos ocorridos no processo de concessão ou
manutenção do benefício (LADENTHIN; MASOTTI, 2014).

Conforme Martinez (2015, p. 258):

A revisão de benefício pressupõe um equívoco material ou formal na instrução da


concessão ou por ocasião dos reajustes; a transformação não exige volta ao trabalho
nem eventual restituição. A desaposentação parte da regularidade, legalidade e
legitimidade da concessão inicial da primeira aposentadoria.

A revisão de cálculo implica que, no prazo decadencial de dez anos, o beneficiário


insatisfeito com o montante da renda mensal inicial ou mantida pode, mediante apresentação
de evidências e argumentos adequados, solicitar a reavaliação do cálculo pelo órgão
responsável pelo benefício. Assim, essas são ações e requerimentos distintos.
Modalidades adotadas

De acordo com Ladenthin e Masotti (2014), quatro situações possíveis para a adoção do
processo de desaposentação são identificadas:
a) Quando um segurado conquista a aposentadoria, retorna ao trabalho e é obrigado
a contribuir devido a uma alteração na legislação. Nesse cenário, as contribuições
realizadas após a aposentadoria podem aumentar a renda mensal inicial do
benefício, desde que os valores sejam mantidos de maneira semelhante ou superior
aos contribuídos no momento da jubilação.
b) No caso em que um segurado solicita a renúncia da aposentadoria por tempo de
contribuição proporcional para, posteriormente, buscar uma aposentadoria integral,
utilizando as contribuições feitas após a primeira aposentadoria.
c) Quando um aposentado pelo regime geral de previdência social obtém aprovação
em concurso público para um cargo efetivo. Para obter uma nova aposentadoria no
regime dos servidores públicos, seria necessário renunciar ao tempo de contribuição
utilizado na primeira aposentadoria, para que ele seja averbado no Regime Próprio
de Previdência Social (RPPS).
d) No caso de um servidor público do Regime Próprio de Previdência Social, ele
poderia renunciar à sua aposentadoria para incluir o tempo de contribuição no
regime geral de previdência social, por meio da contagem recíproca.

2.2 Aspectos Jurídicos


A oportunidade de aumento no benefício de aposentadoria da Previdência Social,
decorrente de um novo período de atividade laboral com contribuição, foi originalmente
contemplada no art. 12 da Lei nº 5.890/1973, conforme destacado por Martinez (2015). Esse
dispositivo normativo tratava da suspensão da aposentadoria para aqueles aposentados que
retornassem ao trabalho, passando a receber 50% da renda mensal.
Em consonância com essa regulamentação, uma vez encerrada a atividade laboral,
o benefício de aposentadoria seria restabelecido com um acréscimo de 5% ao ano, até atingir
o limite máximo de dez anos. Importante ressaltar que, a partir desse período decenal, a volta
ao trabalho ficava proibida de maneira indiscriminada. Contudo, esse dispositivo foi revogado
pela Lei nº 6.210, de 1975.
No contexto dos aspectos jurídicos da desaposentação no Brasil, essa evolução
normativa inicial destaca-se como um precedente que evidencia o reconhecimento, em
determinado momento, da possibilidade de revisão e majoração do benefício previdenciário
mediante novas contribuições após a aposentadoria. Apesar da revogação desse dispositivo
específico, a discussão sobre a desaposentação, como busca por benefício mais vantajoso após
a aposentadoria, demonstra a constante evolução e adaptação das normas previdenciárias no
país (MARTINEZ, 2015).
Embora o dispositivo anterior tenha antecipado a possibilidade de aumentar o benefício
de aposentadoria, a origem normativa da autorização para cancelar o benefício de
aposentadoria atual em busca de um benefício mais vantajoso financeiramente, conforme
apontado por Martinez (2015), teve início com a aposentadoria do juiz classista estabelecida
no art. 9º da Lei nº 6.903/1981, que estabelece o seguinte:
"Ao servidor inativo do Tesouro Nacional ou da Previdência Social que estiver no
exercício do cargo de Juiz Temporário e que tenha direito à aposentadoria nos
termos desta Lei, é permitido optar pelo benefício que for mais favorável, com o
cancelamento daquele excluído pela opção." (BRASIL, 1981).

A referida legislação específica, estabelecida no art. 9º da Lei nº 6.903/1981, foi revogada


pela Lei nº 9.528/1997. Após essa revogação, não se contemplava legalmente a possibilidade
de um aposentado renunciar ao seu benefício previdenciário em vigor para buscar outra
prestação mais vantajosa financeiramente, exceto nos casos expressamente autorizados por
lei.
Em 1987, o professor Wladimir Novaes Martinez abordou pela primeira vez esse tema no
Suplemento Trabalhista nº 4 da editora LTr de São Paulo, por meio do artigo intitulado
"Renúncia e irreversibilidade dos benefícios previdenciários". Foi nesse momento que se
originou o conceito e o termo "desaposentação", utilizado para descrever a ação de desfazer o
benefício mantido em busca de uma nova aposentadoria (MARTINEZ, 2015). O professor
passou a ser reconhecido como o pioneiro e "pai" da desaposentação nesse contexto.
Em 1988, o professor Wladimir Novaes Martinez revisitou o tema com o artigo intitulado
"Reversibilidade da prestação previdenciária", publicado no Repertório de Jurisprudência IOB
nº 14/88, em São Paulo. Nesse trabalho, ele sustentou a irreversibilidade do direito como uma
salvaguarda para o segurado, não para a instituição previdenciária. No referido artigo,
Martinez reiterou a viabilidade da desaposentação ao ponderar sobre os denominados "piores
meses para a aposentação". Ele destacou que tais períodos poderiam resultar em uma Renda
Mensal Inicial (RMI) até 40% superior à do mês anterior, devido aos elevados índices
mensais de inflação (MARTINEZ, 2015).
Esses períodos considerados desfavoráveis para a aposentação foram o ponto de origem
para a concepção de um instituto técnico inovador, posteriormente denominado
desaposentação. Nesse contexto, a desaposentação foi percebida como uma solução legítima
para remediar essa situação, como afirmado por (MARTINEZ, 2015, p. 90).
Em suas obras "Subsídios para um modelo de previdência social" e "A Seguridade
Social na Constituição Federal", ambas publicadas em 1992, Martinez sustentou a viabilidade
da desaposentação, desde que observados prazos e regras estabelecidos por lei. Apesar da
irreversibilidade inicial na concessão dos benefícios, o autor argumentou que, conforme a
vontade do titular, a desaposentação permanecia como uma possibilidade, desde que
obedecendo a determinados períodos e normativas legais. Dessa forma, concedia-se ao
interessado a oportunidade de uma nova concessão, mesmo quando havia a deliberada
intenção de aprimorar o valor do benefício (MARTINEZ, 2015, p. 28).
Com o término do pecúlio previdenciário em 15/04/1994, houve um aumento
significativo no interesse de acadêmicos e aposentados em relação à desaposentação, visto
como uma maneira de compensar a extinção desse benefício. A partir da data mencionada, os
especialistas perceberam a importância de ponderar sobre o destino das contribuições feitas
por aqueles que se aposentaram, mas continuaram trabalhando e contribuindo (MARTINEZ,
2015, p. 281).
O pecúlio constituía um benefício calculado com base nas contribuições efetuadas
após a aposentação. Era uma única prestação paga pelo Instituto Nacional do Seguro Social,
equivalente à devolução do montante que o segurado havia contribuído a título de
contribuição previdenciária. A extinção do abono de permanência em serviço no Regime
Geral de Previdência Social também incitou reflexões sobre a viabilidade da desaposentação
no contexto jurídico brasileiro, como mencionado por (MARTINEZ, 2015, p. 281).
O abono representava uma contrapartida para o trabalhador que já preenchia os
requisitos para a aposentadoria, mas optava por permanecer em atividade sem solicitá-la,
correspondendo a 25% do valor da aposentadoria a que teria direito.
Com a extinção desses dois benefícios em 1994, a redação atual da Lei 8.213/91
(Plano de Benefícios da Previdência Social - PBPS) estipula que, mesmo estando aposentado,
o trabalhador que continua ou retorna à atividade remunerada é obrigado a contribuir para o
sistema previdenciário (art. 11, § 3º). No entanto, ele só terá direito ao salário-família e à
reabilitação profissional (art. 18, § 2º).
A partir de 1999, com a introdução parcial do fator previdenciário, a discussão em
torno da desaposentação ressurgiu entre os estudiosos. Esse interesse foi impulsionado cinco
anos depois, quando a Lei nº 9.876/99 passou a ter eficácia plena, conforme destacado por
(MARTINEZ, 2015, p. 90).

Conforme Rocha e Baltazar Jr. (2011, p. 317):


A introdução do fator previdenciário teve como propósito incentivar os segurados a
prolongarem sua permanência no mercado de trabalho, postergando o momento da
aposentadoria. Essa medida visava mitigar os efeitos redutores resultantes da
aplicação do coeficiente atuarial no cálculo dos benefícios previdenciários. Além
disso, o tempo de contribuição representa uma das variáveis consideradas na
formulação do fator previdenciário.

O Fator Previdenciário foi concebido para ser obrigatoriamente aplicado às


aposentadorias por tempo de contribuição e, opcionalmente, às aposentadorias por idade.
Trata-se de uma fórmula utilizada no cálculo do salário de benefício, onde a média dos
salários de contribuição, considerados a partir de julho de 1994, é multiplicada por esse fator.
Esse cálculo leva em conta o tempo de contribuição, a idade na data da aposentadoria e o
prazo médio estimado para o pagamento do benefício, ou seja, a expectativa de sobrevida do
segurado, conforme dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
A intenção do Fator Previdenciário era adiar o pedido de aposentadoria por parte dos
segurados. No entanto, na prática, observou-se que essa medida levou alguns trabalhadores
desempregados e com dificuldades financeiras a optarem por solicitar a aposentadoria por
tempo de contribuição, resultando em uma renda mensal inicial inferior (MARTINEZ, 2015).
A vantagem financeira proporcionada pela desaposentação em comparação com a
aplicação do fator previdenciário residia na capacidade de realizar um cálculo mais
atualizado, considerando uma idade mais avançada, um tempo de contribuição maior e uma
expectativa de vida menor. Isso resultava em um aumento na renda mensal da aposentadoria.
Diante dessas transformações, a tese da desaposentação ganhou destaque ao longo dos anos
como uma forma de compensação, visando mitigar possíveis perdas orçamentárias dos
aposentados, especialmente em idade avançada, quando mais necessitam.
A questão despertou o interesse de políticos e parlamentares, levando à elaboração de
alguns projetos de lei buscando regulamentar o tema. Em 2002, o Congresso Nacional
recebeu o Projeto de Lei nº 7.154-C, de autoria do deputado federal Inaldo Leitão. O objetivo
desse projeto era a alteração do Plano de Benefícios da Previdência Social (PBPS), incluindo
um parágrafo único no art. 94 da Lei nº 8.213/91, que propunha o seguinte teor:
"As aposentadorias por tempo de contribuição e especial concedidas pela
Previdência Social, conforme estabelecido em lei, poderão, a qualquer momento, ser
renunciadas pelo beneficiário, garantindo a contagem do tempo de contribuição que
serviu de base para a concessão do benefício."

Em 2003, a questão da constitucionalidade da desaposentação foi levantada no


Supremo Tribunal Federal através do Recurso Extraordinário nº 381.367, cuja relatoria ficou
a cargo do ministro Marco Aurélio. Esse recurso reconhecia o direito à desaposentação. Na
perspectiva do ministro, assim como o trabalhador aposentado que retorna à atividade assume
o ônus de contribuir, a previdência social tem o dever, em contrapartida, de garantir-lhe
benefícios adequados, considerando as novas contribuições realizadas. O julgamento teve
início apenas em 2010 e foi interrompido por um pedido de vista do ministro Dias Toffoli.
Em 2007, o Projeto de Lei 2.682/2007, de autoria do deputado Cléber Verde (PRB-
MA), propôs a possibilidade de os aposentados que continuassem trabalhando e contribuindo
para o INSS trocarem seu benefício atual por outro de valor superior. Entretanto, o Relator na
comissão, deputado Zeca Dirceu (PT-PR), emitiu um parecer de inadequação e
incompatibilidade do projeto, argumentando que sua implementação resultaria em um
aumento nos gastos da Previdência Social, para os quais não havia previsão orçamentária.

2.3 Entendimento do INSS sobre o Assunto:

A questão da desaposentação, que envolve a possibilidade de um aposentado renunciar


ao benefício atual para buscar uma aposentadoria mais vantajosa financeiramente, tem sido
objeto de interesse e debate em diversos setores, incluindo o Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS). O entendimento do INSS sobre esse tema tem sido delineado por meio de
diretrizes específicas, normativas internas, posicionamentos e critérios utilizados ao analisar
solicitações de desaposentação.
O INSS, como órgão responsável pela concessão e gestão dos benefícios previdenciários
no Brasil, adota uma abordagem técnica e jurídica ao lidar com pedidos de desaposentação. A
investigação das diretrizes do INSS revela que o Instituto busca equilibrar os interesses do
segurado com a sustentabilidade do sistema previdenciário.
As normativas internas do INSS desempenham um papel crucial na definição de como o
Instituto interpreta e aplica as regras relacionadas à desaposentação. Essas normativas
abrangem aspectos como a análise das contribuições feitas após a aposentadoria, a revisão do
cálculo do benefício e a consideração de critérios como idade, tempo de contribuição e
expectativa de vida do segurado.

Os posicionamentos do INSS sobre a desaposentação refletem a complexidade do tema


e a necessidade de considerar os impactos financeiros para o sistema previdenciário como um
todo. O Instituto busca manter uma abordagem consistente e justa, ao mesmo tempo em que
atende às demandas dos segurados que buscam uma melhoria em seus benefícios.
Os critérios utilizados pelo INSS ao avaliar os pedidos de desaposentação incluem a
observação rigorosa das normativas legais vigentes, o respeito aos princípios da legalidade e
da equidade, além da análise cuidadosa dos elementos que fundamentam a solicitação do
segurado. A avaliação considera não apenas o benefício financeiro imediato, mas também os
impactos de longo prazo para o sistema previdenciário.
Em suma, o entendimento do INSS sobre a desaposentação é moldado por uma
combinação de diretrizes específicas, normativas internas, posicionamentos institucionais e
critérios técnico-jurídicos. Essa abordagem reflete a busca por um equilíbrio entre as
aspirações individuais dos segurados e a sustentabilidade do sistema previdenciário,
garantindo uma análise justa e transparente dos pedidos de desaposentação.

2.4 Efeitos da Desaposentadoria:

A aposentadoria é um direito garantido a todos os trabalhadores, embora em muitos


casos o benefício concedido possa ser insuficiente para cobrir todas as despesas essenciais do
beneficiário. Por essa razão, alguns aposentados optam por retornar ao mercado de trabalho
para complementar sua renda. No entanto, ao retomar a atividade laboral, o trabalhador é
novamente inserido no sistema previdenciário, conforme estipulado no §4º do artigo 12 da Lei
8212/91. Isso implica em novas contribuições ao sistema previdenciário, possibilitando, em
alguns casos, a revisão ou readequação do benefício previdenciário anteriormente concedido.

O §4º do artigo 12 da Lei 8212/91 estabelece que o indivíduo aposentado


pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS), ao engajar-se ou retornar
às atividades cobertas por este regime, é considerado segurado obrigatório
para essa atividade. Nesse contexto, ele está sujeito às contribuições
previstas por esta legislação, com o propósito de financiar a Seguridade
Social.

No entanto, em contraste com o período anterior à concessão do benefício


previdenciário da aposentadoria, o contribuinte que opta por permanecer ou retornar à
atividade sujeita ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS) não terá direito a qualquer
prestação da Previdência Social, como explicitado no §2º do artigo 18 da Lei 8.213/91. Esse
dispositivo ressalta que o aposentado pelo RGPS que continua ativo ou retorna à atividade não
receberá benefícios previdenciários, exceto pelo salário-família e reabilitação profissional
quando empregado (MARTINEZ, 2008, p. 22).
Vale ressaltar que o instituto do Pecúlio, que anteriormente possibilitava ao
aposentado o levantamento total das contribuições feitas durante o exercício de atividade após
a aposentadoria, foi extinto pelas Leis 8.870/94 e 9.129/05. Nesse contexto, observa-se que ao
aposentado não é devido mais nenhuma contraprestação previdenciária.
É relevante destacar que o debate sobre desaposentadoria surgiu na década de 1990,
quando muitos trabalhadores já estavam há bastante tempo no mercado de trabalho. Isso
resultou em aposentadorias prematuras, e, dado o status "jovem" desses aposentados, não foi
incomum vê-los retornando ao mercado de trabalho. Essa dinâmica contribuiu para a
discussão sobre os efeitos e implicações da desaposentadoria no cenário previdenciário.
Ao retornar ao mercado de trabalho e percebendo a situação na qual contribuía para o
sistema previdenciário, mas sem a perspectiva de restituição das contribuições realizadas,
muitos recorreram às palavras de Wladimir Novaes Martinez, uma figura proeminente na
doutrina brasileira e um dos pioneiros no desenvolvimento do conceito de desaposentação.
Ele argumentava que a aposentadoria é um ato administrativo formal, cuja concessão
demanda uma iniciativa por parte do Instituto Nacional para a contemplação do benefício. Sob
essa perspectiva, Martinez defendia que, se a vontade do trabalhador fosse ter um ato perfeito
em conformidade com seus interesses, seria possível, teoricamente, que o interessado
desistisse de seu benefício previdenciário já concedido. Posteriormente, ele poderia apresentar
um novo requerimento, sob a forma de um novo ato administrativo, buscando a concessão de
um benefício mais vantajoso.
Essa teoria da desaposentação, apresentada por Martinez, surge como uma resposta à
busca por melhores condições previdenciárias por parte dos aposentados que retornam ao
trabalho. A ideia central é a possibilidade de renunciar ao benefício inicial para pleitear uma
aposentadoria mais favorável, considerando as novas contribuições realizadas durante o
retorno ao mercado de trabalho. Essa abordagem reflete os esforços de indivíduos em
maximizar seus benefícios previdenciários diante das limitações do sistema (MARTINEZ,
2008, p. 28).
Seguindo a linha de raciocínio, ao explorar a citação de Maria Elisa Palomine Bonato
(2013, p. 26) sobre a perspectiva de Fábio Zambitte Ibrahim, conforme apresentada em sua
obra "Desaposentação – O caminho para uma melhor aposentadoria", publicada em 2005,
destaca-se a visão de que a aposentadoria se configura como uma renúncia ao benefício já
adquirido. Essa renúncia é realizada com o propósito de, ao longo do tempo de contribuição
subsequente, alcançar uma melhoria no status financeiro do aposentado.
Essencialmente, Ibrahim sugere que a aposentadoria não deve ser encarada como um
estado fixo e imutável, mas sim como um processo dinâmico. Ao renunciar ao benefício
inicial, o aposentado busca otimizar seu status financeiro, considerando o acréscimo no tempo
de contribuição e as contribuições adicionais realizadas durante o retorno ao mercado de
trabalho. Essa abordagem reflete a busca por uma melhor adequação dos benefícios
previdenciários às necessidades econômicas em constante evolução do indivíduo aposentado,
conectando-se, assim, com os efeitos práticos e as implicações da desaposentadoria
(BONATO, 2013, p. 26 apud. IBRAHIM, 2005, p. 25).
No entanto, a desaposentação vai além de uma simples renúncia, caracterizando-se,
na verdade, como uma "renúncia parcial". Nesse contexto, o segurado renuncia apenas ao
recebimento das prestações previdenciárias devidas, enquanto o tempo de serviço previamente
computado continua a ser considerado. Esse período de serviço acumulado se soma às novas
contribuições derivadas do retorno à atividade, visando a obtenção de um novo benefício mais
vantajoso. Odair Raposo Simões, em sua obra brilhante intitulada "A Desaposentação sob a
Ótica do Direito Atual", destaca três correntes predominantes no estudo do instituto da
desaposentação: (i) uma corrente favorável que não requer a restituição dos valores recebidos
na primeira aposentadoria à Previdência; (ii) uma corrente favorável que preconiza a
necessária devolução desses valores; e (iii) uma corrente desfavorável à desaposentação. Cada
perspectiva reflete abordagens distintas em relação aos efeitos financeiros e legais da busca
por um benefício mais vantajoso após o retorno ao trabalho. (SIMÕES, 2013, p. 24).
Essencialmente, Ibrahim sugere que a aposentadoria não deve ser encarada como um
estado fixo e imutável, mas sim como um processo dinâmico. Ao renunciar ao benefício
inicial, o aposentado busca otimizar seu status financeiro, considerando o acréscimo no tempo
de contribuição e as contribuições adicionais realizadas durante o retorno ao mercado de
trabalho. Essa abordagem reflete a busca por uma melhor adequação dos benefícios
previdenciários às necessidades econômicas em constante evolução do indivíduo aposentado,
conectando-se, assim, com os efeitos práticos e as implicações da desaposentadoria.
Porém, a desaposentação está longe da simples renúncia, sendo esta sim, uma
“renúncia parcial” pois o segurado somente vai renúncia o recebimento das prestações
devidas, todavia o tempo de serviço continuaria sendo computado para que esta se some a
novas contribuições, derivadas de seu retorno à atividade, auferir novo benefício mais
vantajoso.
Odair Raposo Simões, brilhantemente trouxe ao mundo sua obra “A Desaposentação
sob a Ótica do Direito Atual”, onde aponta três são as correntes predominantes sobre o estudo
do instituto da desaposentação, sendo estas: (i) A corrente favorável sem que seja preciso
restituir os valores percebidos na primeira aposentadoria a Previdência; (ii) A favorável com
necessária devolução dos referidos valores; e, (iii) a desfavorável à desaposentação .
reescrever
No entanto, a desaposentação vai além de uma simples renúncia, caracterizando-se,
na verdade, como uma "renúncia parcial". Nesse contexto, o segurado renuncia apenas ao
recebimento das prestações previdenciárias devidas, enquanto o tempo de serviço previamente
computado continua a ser considerado. Esse período de serviço acumulado se soma às novas
contribuições derivadas do retorno à atividade, visando a obtenção de um novo benefício mais
vantajoso.
Odair Raposo Simões, em sua obra brilhante intitulada "A Desaposentação sob a
Ótica do Direito Atual", destaca três correntes predominantes no estudo do instituto da
desaposentação: (i) uma corrente favorável que não requer a restituição dos valores recebidos
na primeira aposentadoria à Previdência; (ii) uma corrente favorável que preconiza a
necessária devolução desses valores; e (iii) uma corrente desfavorável à desaposentação. Cada
perspectiva reflete abordagens distintas em relação aos efeitos financeiros e legais da busca
por um benefício mais vantajoso após o retorno ao trabalho.
Como adeptos da primeira corrente, da qual o segurado não faria jus a restituição dos
valores percebidos do primeiro benefício previdenciário, conforme cita o autor Simões, são:
Fábio Zambitte Ibrahim, João Batista Lazzari e Carlos Alberto Pereira de Castro,
resumidamente a base de suas argumentações pautam-se em que não houve irregularidade na
concessão do benefício, não há que se falar em restituição dos valores recebidos pelo jubilado.
Na segunda corrente, conforme exemplifica o brilhante autor encontramos os
doutrinadores Wladimir Novaes Martinez, pai do instituto e de Hermes Arrais Alencar, que
afirmavam que a desaposentação só poderia ocorrer após a restituição dos valores recebidos
pela primeira concessão, já que para eles a não devolução acarretaria desequilíbrio do
orçamento da Previdência Social.
Na terceira linha de pensamento acompanhando a doutrina de Lorena de Mello
Rezende Colnago (COLNAGO apud SIMÕES, 2013), observa-se que o provimento da
desaposentação caracteriza fático enriquecimento ilícito do segurado, e nesta linha firma-se o
presente estudo, onde passaremos a apontar os obstáculos reais à sua concessão e
principalmente ao julgado do Recurso Extraordinário, que obteve repercussão geral.
Desde então, o instituto tornou-se pauta entre doutrinadores e juristas, os quais
contribuíram e ainda hoje contribuem, sobre o qual até tempos atrás pairava-se a incerteza
quanto a real possibilidade de aplicação deste instituto.
Tanto é que através do Recurso Extraordinário nº 661.256, chegou ao Supremo
Tribunal Federal e teve reconhecida a sua repercussão geral. Milhares de ações judiciais
foram suspensas até o julgamento do referido recurso, que ocorreu em 27 de outubro de 2016.
Ante todo o exposto, passaremos a analisar a viabilidade do instituto desaposentação
à luz dos novos entendimentos jurídicos emergidos, procedimentos e todo demais que cerca o
tema, para que ao final, reste-se demonstrado que apesar de toda a discussão que se arrastou
durante anos, o instituto em si é inviável em nosso ordenamento jurídico.
Os defensores da primeira corrente, incluindo Fábio Zambitte Ibrahim, João Batista
Lazzari e Carlos Alberto Pereira de Castro, argumentam que o segurado, ao buscar a
desaposentação, não tem a obrigação de restituir os valores recebidos do primeiro benefício
previdenciário. Essa corrente baseia-se na ausência de irregularidades na concessão inicial do
benefício, eliminando assim a necessidade de devolução por parte do jubilado.
Já os adeptos da segunda corrente, representados por doutrinadores como Wladimir
Novaes Martinez e Hermes Arrais Alencar, defendem que a desaposentação só deveria
ocorrer após a restituição dos valores recebidos na primeira concessão. Para eles, a não
devolução desses valores acarretaria um desequilíbrio no orçamento da Previdência Social.
Na terceira linha de pensamento, em consonância com a doutrina de Lorena de Mello
Rezende Colnago, destaca-se a visão de que o provimento da desaposentação caracteriza um
enriquecimento ilícito por parte do segurado. Este estudo se alinha a essa perspectiva,
apontando obstáculos reais à concessão do instituto, especialmente considerando o julgado do
Recurso Extraordinário que obteve repercussão geral.
O instituto da desaposentação tornou-se um tema amplamente discutido entre
doutrinadores e juristas, gerando incertezas quanto à sua aplicação. O Recurso Extraordinário
nº 661.256, ao chegar ao Supremo Tribunal Federal, teve sua repercussão geral reconhecida,
resultando na suspensão de milhares de ações judiciais até o julgamento, que ocorreu em 27
de outubro de 2016. Diante desse contexto, a análise da viabilidade da desaposentação à luz
dos novos entendimentos jurídicos e procedimentos torna-se crucial. Ao final, busca-se
demonstrar que, apesar das discussões prolongadas, o instituto em si é inviável em nosso
ordenamento jurídico, especialmente quando considerados os efeitos práticos e legais
relacionados à desaposentadoria (COLNAGO apud SIMÕES, 2013).
Como adeptos da primeira corrente, da qual o segurado não faria jus a restituição dos
valores percebidos do primeiro benefício previdenciário, conforme cita o autor Simões, são:
Fábio Zambitte Ibrahim, João Batista Lazzari e Carlos Alberto Pereira de Castro,
resumidamente a base de suas argumentações pautam-se em que não houve irregularidade na
concessão do benefício, não há que se falar em restituição dos valores recebidos pelo jubilado.
Na segunda corrente, conforme exemplifica o brilhante autor encontramos os
doutrinadores Wladimir Novaes Martinez, pai do instituto e de Hermes Arrais Alencar, que
afirmavam que a desaposentação só poderia ocorrer após a restituição dos valores recebidos
pela primeira concessão, já que para eles a não devolução acarretaria desequilíbrio do
orçamento da Previdência Social.

2.5 Projeto de Lei 299/2023:

A proposta apresentada no Senado, Projeto de Lei 299/2023, busca assegurar o direito


de desfazer a aposentadoria, permitindo aos beneficiários a inclusão de novas contribuições
previdenciárias após a concessão do primeiro benefício, visando obter um valor maior. O
autor do projeto, o senador Paulo Paim (PT-RS), destaca a necessidade da medida ao afirmar
que muitos aposentados continuam a trabalhar devido aos valores insuficientes dos benefícios
previdenciários.
A ideia por trás da proposta parece ser abordar a questão dos baixos valores de
aposentadoria que levam os beneficiários a procurar formas adicionais de renda. Permitir a
desaposentadoria, ao incluir novas contribuições, poderia potencialmente aumentar o
montante recebido mensalmente, melhorando a qualidade de vida dos aposentados.
Contudo, é importante analisar criticamente o Projeto de Lei 299/2023. Em termos
positivos, a proposta pode ser vista como uma tentativa de flexibilizar o sistema
previdenciário, adaptando-se à realidade dos beneficiários que buscam uma melhoria
financeira. Isso pode ser particularmente relevante em contextos nos quais a inflação e outros
fatores econômicos diminuíram o poder de compra dos benefícios previdenciários ao longo do
tempo.
Por outro lado, algumas questões críticas merecem atenção. A possibilidade de
desaposentadoria levanta questões sobre a sustentabilidade financeira do sistema
previdenciário, uma vez que a inclusão de novas contribuições pode impactar os recursos
disponíveis para atender a todos os beneficiários. Além disso, é necessário considerar como
essa medida afetaria a equidade no acesso aos benefícios previdenciários, uma vez que nem
todos os aposentados podem ter a oportunidade de desfazer sua aposentadoria.
Outro ponto a ser considerado é o potencial impacto nas finanças pessoais dos
aposentados que optarem por desaposentadoria. Embora a intenção seja melhorar a situação
financeira, há o risco de que algumas pessoas possam enfrentar dificuldades financeiras ao
comprometerem parte de sua renda atual em troca de um benefício futuro potencialmente
maior.
Em resumo, o Projeto de Lei 299/2023 apresenta uma proposta interessante para lidar
com os desafios enfrentados pelos aposentados, mas sua implementação exige uma cuidadosa
consideração dos impactos financeiros, equidade e sustentabilidade do sistema previdenciário

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No desenrolar desta análise acerca dos aspectos jurídicos da desaposentadoria no


Brasil, foi possível constatar a complexidade e a relevância deste tema no contexto
previdenciário contemporâneo. A ausência de uma regulamentação específica, aliada às
transformações sociais e econômicas, tem suscitado debates intensos e uma série de
questionamentos sobre a validade e a viabilidade da desaposentadoria.
Ao longo deste trabalho, exploramos os fundamentos legais que envolvem a
desaposentadoria, considerando as normativas previdenciárias vigentes e as decisões judiciais
que moldam esse cenário. As hipóteses aventadas revelaram-se pertinentes, evidenciando a
diversidade de interpretações nos tribunais e as lacunas normativas que permeiam o tema.
A análise das implicações práticas da desaposentadoria para os beneficiários
demonstrou a importância de se compreender as variações nas vantagens financeiras e o
impacto dessa decisão na estabilidade do sistema previdenciário como um todo.
Contudo, ressalta-se a necessidade de um olhar atento para o constante dinamismo do
sistema previdenciário e a possibilidade de mudanças legislativas que possam influenciar as
conclusões aqui apresentadas. A evolução desse tema dependerá não apenas da atuação do
Poder Judiciário, mas também das decisões políticas e legislativas que moldarão o futuro do
sistema previdenciário brasileiro.
Em suma, espera-se que este trabalho tenha contribuído para ampliar a compreensão
sobre os desafios jurídicos da desaposentadoria, oferecendo subsídios para a reflexão crítica
sobre as lacunas normativas, as possíveis reformulações legislativas e as implicações práticas
dessa temática para os cidadãos brasileiros. O debate em torno da desaposentadoria
permanece aberto, e cabe à sociedade, aos juristas e aos legisladores buscar soluções que
promovam a justiça e a equidade no âmbito previdenciário.
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