Como noticia o texto indicado para debate, o regime jurídico do Direito Previdenciário brasileiro pode dividir-se amplamente em três etapas: (i) instituição obrigatória de Caixas de Aposentadoria e Pensões no âmbito de cada empresa, administrada por um conselho formado por empregados e empregadores; (ii) unificação dos subsistemas previdenciários em um órgão público, que adota critérios jurídicos uniformes (chamados pejorativamente pela autora de ‘discurso tecnicista’) para concessão dos benefícios conforme a categoria profissional; e (iii) incorporação de todas as categorias de trabalhadores no sistema previdenciário.
Em relação à categorização dos direitos previdenciários nesses diferentes
momentos históricos, faz-se necessário especificar o critério de classificação pertinente. Pretende-se analisar a dicotomia Direito Público-Direito Privado e a classificação conforme a estrutura normativa da posição jurídica, notadamente as categorias de direitos de defesa e de direito a algo.
Quanto à primeira divisão, o regime previdenciário parece ter se transformado,
de norma jusprivatística para juspublicista. Isso porque o instituto das CAPs consistia em uma imposição cogente acessória a uma relação jurídica de Direito Privado, a relação de emprego, que se perfaz com a pactuação de um contrato de trabalho. O fato de haver derrogação da liberdade contratual para a imposição da obrigação previdenciária não contraria os princípios desse ramo do Direito, mormente quando se reconhece uma desigualdade juridicamente relevante entre as partes da relação jurídica, o trabalhador e seu empregador. Na sequência, entretanto, os direitos previdenciários passaram a ser exercidos em face do Estado, sujeitando-se a um regime de Direito Público, em que prevalece a legalidade. Essa passagem é retratada pela autora como uma transição da esfera profissional para a política, como forma de melhor satisfazer o objetivo de manutenção das relações de produção capitalistas.
Em segundo lugar, não houve alteração da natureza jurídica dos direitos
subjetivos destinados a satisfazer as finalidades assistenciais da previdência. Essa estrutura normativa implica o direito a uma prestação pecuniária após, grosso modo, uma contraprestação periódica prestada antecipadamente. Trata-se de uma lógica de equivalência, em que se acentua o caráter geracional do equilíbrio entre fluxos de caixa. Já é assente que os chamados direitos sociais não podem ser confundidos com aqueles direitos que demandam atuação do ente político, uma vez que diversos direitos de defesa também impõem condutas para o Estado, notadamente a construção de um aparelho policial e judicial para repressão de agressões a esses direitos.
A exigência de uma equivalência, de fato, põe em dúvida a colocação dos
direitos previdenciários como puramente assistenciais ou calcados na solidariedade social, na medida em que se busca estabelecer um sinalagma semelhante àquele das prestações privadas. Trata-se de tema que demanda maior compreensão das regras de concessão de benefícios do Direito brasileiro para averiguar eventuais exceções a essa equivalência e sua relevância diante do sistema como um todo.
Artigos (Por Rodrigo Gonçalves Alves – OAB/RJ 132.866) e A Falácia do Jus Postulandi e os Honorários de Advogado na Justiça do Trabalho sobretudo em tempos de Processo Judicial eletrônico (Não sei a autoria).
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