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2) O delito de concussão exige para seu aperfeiçoamento típico a exigência por parte de
funcionário público em razão da função de vantagem indevida para si ou para terceiro.
O núcleo da conduta é exigir, que implica uma solicitação com algum nível de
constrangimento em face do particular. Esse constrangimento pode consistir, por
exemplo, na ameaça de multa ou outra penalidade administrativa ou mesmo uma
insinuação genérica de algum mal ao extraneus. Faz-se necessário sublinhar a
necessidade de ligação entre o ato de exigir e a função do agente, para que se configure
uma violação do especial dever de probidade do agente público.
A grande controvérsia ocorre quando o funcionário público emprega violência
ou grave ameaça como modo de exigir a vantagem indevida. Surge aí o conflito
aparente de normas com o delito de extorsão. Um primeiro critério de diferenciação é
natureza da vantagem exigida: caso a vantagem seja não-patrimonial, não se poderá
cogitar da extorsão, cujo tipo faz referência expressa a vantagem econômica. Já a
concussão, por se tratar de crime contra a Administração Pública, objetiva tutelar a
probidade do agente público, de modo que se consuma com a exigência de qualquer
espécie de vantagem (moral, sexual, etc.). Entretanto, como no mais das vezes a
concussão também ocorre em relação a vantagem pecuniária, devem-se aprofundar os
critérios de distinção.
Todavia, há outra razão que justifica a ocorrência da extorsão na maior parte dos
casos em que há dúvida entre as figuras típicas. A concussão exige que o ato de
exigência guarde relação com a função do agente público e suas atribuições legais. Ora,
no mais das vezes, os funcionários não podem empregar violência ou grave ameaça (que
não compreende a simples multa administrativa) sem incorrerem em teratológico abuso
de suas funções. Mesmo membros da força policial só estão autorizados ao emprego da
força em situações bastante delimitadas, fora das quais haverá o delito de extorsão puro
e simples.
Assim, o constrangimento por esses meios só perfará a concussão nas
excepcionais hipóteses em que a atividade pública pode, se praticada tendenciosamente,
gerar violência ou grave ameaça ao particular. Ilustrativamente, cogita-se do magistrado
que ameaça denegar habeas corpus e manter o particular indevidamente no cárcere ou o
médico público que ameaça aplicar tratamento mortífero ao usuário do serviço público
de saúde.